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Avaliação farmacognóstica das sumidades floridas de Prunella sp, adulterante comercial do alecrim europeu Rosmarinus officinalis

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Academic year: 2021

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Avaliação farmacognóstica das sumidades floridas de Prunella sp,

adulterante comercial do alecrim europeu Rosmarinus officinalis

L. Czekalski1, K.S.M. Mourão1 e L.C. Marques2 1

Departamento de Biologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil 2

Mestrado Profissional em Farmácia, Universidade Bandeirante, São Paulo, SP, Brasil

Resumo

Realizou-se investigação de espécie vegetal empregada como adulterante do alecrim europeu

Rosmarinus officinalis. Produtos comerciais adquiridos de farmácias confirmaram tal substituição, e

amostra de fornecedor atacadista apresenta esse material como Lantana microphylla M. ou de

Baccharis dracunculifolia DC. Empregando-se técnicas botânicas e farmacognósticas realizou-se a avaliação organoléptica, macro e microscópica bem como a avaliação físico-química e fitoquímica preliminar das amostras do adulterante. Os dados microscópicos mostraram folhas pequenas, glabras, margem lisa, ápice mucronado e base acuneada; flores sésseis na axila de brácteas pequenas, reunidas em inflorescências terminais do tipo espiga; flor diclamídea, hermafrodita, pentâmera; cálice gamossépalo e corola gamopétala labiada com dentes irregulares, ambos com pêlos; androceu formado por 4 estames epipétalos e didínamos com filete com pequena porção livre; gineceu com ovário súpero, bicarpelar, bilocular, estigma lateral e estilete ginobásico. Tais características identificam o material como da família Lamiaceae, gênero Prunella. Em termos físico-químicos as cinzas para a droga foram determinadas como máximo 12% e de mínimo 5% de teor de extrativos aquoso. Os testes fitoquímicos preliminares apontaram à presença na droga adulterante das classes de flavonóides, taninos, esteróides/triterpenos, saponinas, alcalóides e óleos essenciais; em termos quantitativos obteve-se um índice de espuma menor que 100 e 2,4% de óleos essenciais pelo método da hidrodestilação. Esse conjunto de dados caracteriza essa droga vegetal e permite sua diferenciação da droga oficial.

Palavras-chave: drogas vegetais; farmacognosia; controle de qualidade; alecrim; Prunella;

Rosmarinus;

Introdução

O uso de plantas como medicinais é uma das tradições mais antigas do ser humano. Em algum ponto de sua história, todas as sociedades se renderam às propriedades curativas das ervas provavelmente pela facilidade de obtenção, mas certamente também por sua eficácia e segurança, triada pela experimentação ao longo dos séculos (1).

Nas últimas décadas a comunidade científica vem ampliando gradativamente as pesquisas em relação ao potencial das plantas. Ao mesmo tempo, o interesse pela ecologia, assim como uma procura cada vez maior pelas terapias alternativas faz com que a divulgação dos resultados dessas pesquisas tenha uma repercussão muito maior do que anteriormente (2).

Há quem cultive ou colha pessoalmente as plantas que utiliza. Entretanto, o mais comum é a compra dos fitoterápicos ou partes das plantas em estabelecimentos comerciais. O número de farmácias que vendem chás e outros produtos, como cápsulas, extratos, tinturas e xaropes é cada vez maior. A maioria dos produtos é comercializada a partir de plantas secas, que são consumidas sob as formas de infuso e decocto, principalmente, seguidas de formas líquidas como tinturas e extratos fluidos.

Correspondência para:

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Nesse contexto, tem sido comum a detecção de problemas de qualidade nos produtos comerciais ofertados à população em todo o país. Assim, vários autores e grupos de pesquisa têm apontado a ocorrência, no mercado brasileiro, de diversos problemas de qualidade, desde problemas de identidade, teor de princípios ativos até presença de sujidades e contaminação microbiana (3,4,5,6).

A família Lamiaceae contém muitas espécies que são economicamente importantes, principalmente como medicinais ou como condimentares. É constituída por espécies cujo hábito varia do herbáceo ao arbóreo; os caules são freqüentemente quadrangulares em seções transversais; glicosídios fenólicos e iridóides estão freqüentemente presentes (7). Dentre as espécies da família Lamiaceae de importância medicinal comprovada, destaca-se o alecrim europeu, Rosmarinus officinalis L., originário do Mediterrâneo, introduzido no Brasil à época dos primeiros colonizadores e extremamente cultivado em hortas e jardins de todo o país. Consta de diversas farmacopéias e é utilizado, na medicina popular e na fitoterapia, como estimulante, hipotensor, calmante/sedativo, analgésico, antifebril, colerético/colagogo, antimicrobiano, diurético, sudorífico, emenagogo, com propriedades anti-caspa, cicatrizante dentre outros usos (8).

Algumas referências bibliográficas citam o nome alecrim para espécies do gênero Holocalyx (9); Lainetti e Brito (7) citam os nomes alecrim-bravo e alecrim-do-campo para uma espécie da família Verbenaceae, citando que sua morfologia assemelha-se ao do alecrim oficial. Silva (10) inclui, além da oficial, outra espécie conhecida como alecrim-bravo ou erva-santa, referindo-se a Hypericum laxiusculum; essa espécie também é citada por Pio Corrêa (11), além de apresentar o alecrim-da-praia, Bulbostylis capilaris . Encontra-se, também, na Enciclopédia da Flora Brasileira (12), o alecrim-de-São José, Portulaca oleracea, alecrim-do-campo ou alecrim-de-vassoura, correspondente a Baccharis dracunculifolia e o alecrim ou mio-mio, Baccharis coridifolia.

No Inventário de Plantas Medicinais do Estado da Bahia (13) são citados alecrim-do-campo, alecrim-bravo e alecrim-do-sertão como Lantana microphylla, alecrim-da-serra ou alecrim– do-tabuleiro referindo-se a Dichipetera aromatica, alecrim-de-caboclo Baccharis sylvestris e também alecrim-do-brejo ou alecrim-do-campo, Caconapea gratioloides. Portanto, verifica-se que há diversidade de espécies conhecidas como alecrim, o que provoca confusões entre a espécie oficial e as restantes de caráter mais popular.

Nas farmácias brasileiras vem sendo comercializadas, como alecrim europeu, algumas amostras cuja identidade é duvidosa quando comparadas com Rosmarinus officinalis. Diante destas divergências, elaborou-se a hipótese de que a solicitação a fornecedores de amostras de outras espécies comercializadas como alecrim poderia possibilitar o encontro, dentre elas, de algumas que se assemelhassem às amostras encontradas nas farmácias, permitindo sua investigação e caracterização.

Diante de tal fato, realizou-se estudo morfológico, anatômico, histoquímico e fitoquímico preliminar, compondo o perfil de análise farmacognóstica do material comercializado visando contribuir com a identificação e caracterização da espécie possivelmente utilizada como adulterante, possibilitando dessa forma seu reconhecimento e separação do alecrim europeu, espécie de comprovado efeito medicinal.

Material e métodos

Obtenção do material botânico

O material utilizado constituiu-se de produtos comerciais adquiridos em farmácias do Paraná e de São Paulo, composto de ramos, folhas e flores (sumidades floridas) de alecrim não oficial. Complementarmente obteve-se amostra adquirida de distribuidora de drogas vegetais, localizada em São Paulo. Os produtos de farmácia estavam rotulados como alecrim

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(Rosmarinus officinalis) e como alecrim do norte (Baccharis dracunculifolia); já o lote do distribuidor veio rotulado também como alecrim-do-norte mas identificado como Lantana microphylla Martius.

Analise organoléptica e morfo-anatômica

A avaliação organoléptica foi realizada com o material vegetal seco, conforme se apresenta comercialmente.

Os estudos morfológicos e anatômicos foram realizados em material hidratado em glicerina e água 1:1, mantidos em geladeira a 16º C durante três dias. Posteriormente o material foi fixado em FAA 50 (14) e a conservação foi feita em etanol 70% (15).

Cortes transversais (C.T.) e longitudinais (C.L.) foram realizados à mão livre, com o auxílio de lâmina de barbear comum e corados com safranina e azul de Astra (16). As lâminas permanentes foram feitas a partir de material incluído em historresina (17). Este material depois de secionado foi corado com azul de toluidina (18).

Testes Histoquímicos

Para os testes histoquímicos, os cortes do material fresco foram submetidos a corantes e reagentes específicos: solução aquosa de cloreto férrico a 10%, para localização de compostos fenólicos, floroglucinol ácido para evidenciar paredes lignificadas (19), Sudan IV para localizar paredes suberificadas, cutinizadas e outros materiais lipídicos; reagentes de Lugol para localização de amido e solução de vermelho de rutênio para evidenciar mucilagem e substâncias pécticas (14).

Ilustrações

Os aspectos morfológicos das estruturas encontradas nos cortes foram observados, descritos e ilustrados, com auxílio de câmara clara, adaptada ao estereomicroscópio Wild. Os aspectos anatômicos das folhas foram observados, descritos e ilustrados a partir de fotomicrografias obtidas pelo programa Image Pro-Plus, versão 4.0 (Media Cybertecnics). As escalas referentes às ilustrações foram obtidas utilizando-se régua milimetrada e lâmina micrométrica, nas mesmas condições ópticas utilizadas para cada caso.

Análise Físico-Química Cinzas totais

Cerca de 3 g do material moído, exatamente pesados, foram colocados em uma cápsula tarada previamente calcinada, resfriada e pesada. Incinera-se o material aumentando gradualmente o calor, não excedendo de 450º C, até que libere todo o carbono; ao final é resfriado e pesado. Se a cinza isenta de carbono não puder ser obtida desta maneira, deve-se esgotar a massa carbonizada com água quente, recolhendo o resíduo em um papel-filtro livre de cinzas, incinerando-se o resíduo e o papel-filtro, adicionando o filtrado, evaporando até secar e incinerando a uma temperatura não superior a 450ºC. Calcula-se a porcentagem de cinza com referência ao material inicial (16).

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Determinação de teor de extrativos (20)

Cerca de 2 g da droga vegetal, exatamente pesados, foram submetidos a refluxo com 100 ml de água destilada, durante 10 minutos. Após resfriamento, o volume da água evaporada foi completado no balão volumétrico de 100 ml. A solução restante foi filtrada por algodão. Em pesa-filtro previamente tarado, foi pesados cerca de 10 g do decoto e evaporados em banho-maria. O resíduo foi colocado em estufa a 105ºC por 2 horas, resfriado em dessecador e pesado. O teor de extrativos foi calculado em massa percentual, pela medida de duas determinações segundo a equação:

T= g x 500/p (%; m/m)

Onde: g=teor de extrativo (g) p= massa da droga (g)

Analise fitoquímica preliminar (21,22) Flavonóides

Evaporar 5 ml do extrato etanólico a 20% em cápsula de porcelana em banho-maria até a secura. Lavar o resíduo com clorofórmio para a eliminação de clorofila, dissolver o mesmo em etanol absoluto e colocar em tubo de ensaio. Adicionar 200 mg de magnésio em pó e 1 ml de HCl concentrado. Deixar reagir durante 15 minutos e observar. Desenvolvimento de coloração rósea ou vermelha indica a presença de glicosídeos flavônicos.

Cumarinas

Aqueça o pó do vegetal pulverizado em câmara de microssublimação (os sublimados aparecem sob a forma de gotas incolores ou cristais acidulares na câmara de microssublimação). Dissolva os sublimados obtidos em 0,5 ml de metanol. Lance de 3 a 5 gotas numa folha de papel filtro e espere secar; junte em cima uma gota de solução alcoólica de hidróxido de potássio, cubra a metade da mancha com papel preto e exponha-o às radiações ultravioletas. A metade exposta adquire, pouco a pouco, fluorescência verde, já que aparece ao fim do primeiro minuto. Depois de passado este tempo, descubra a outra metade e verifique que, de início, esta não possui fluorescência, mas também a adquire por idêntica exposição às radiações no ultravioleta.

Antracênicos livres

Colocar cerca de 0,2 g de pó em um tubo de ensaio com 5 ml de éter, agitar por 2 minutos. Deixar em repouso para decantar. Filtrar e transferir para outro tubo de ensaio a camada etérea, já corada de amarelo e, adicionar cerca de 10 ml de amônia diluída e agitar. A camada aquosa separada cora-se de róseo, indicativo de compostos antracênicos livres.

Taninos

Em 2,0 ml do extrato aquoso a 5% (decocto), adicionar 5 ml de solução de cloreto férrico a 1% aquoso. Se ocorrer formação de cor vermelha, indica resultado positivo. Em outro tubo, adicionar em 0,5 ml do extrato aquoso a 5% (decocto), 10 ml de solução de ácido acético a 10% e 5,0 ml de solução de acetato de chumbo a 10%. Se ocorrer a formação de um precipitado esbranquiçado, indica resultado positivo.

Núcleo esteroidal / triterpênico

Colocar, em um tubo de ensaio, 2 ml de um extrato hidroalcoólico (50%) a 10% da droga preparado por turbólise; juntar 1 ml de acetato de chumbo neutro, deixar em repouso por 3 minutos. Em seguida filtrar, recolher o filtrado em ampola de decantação; realizar duas extrações com 10 ml de clorofórmio, recolhendo-se a fração abaixo em cápsula de porcelana,

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levando-se o resíduo em banho-maria. Solubilizar o resíduo com 1 ml de anidrido acético, transferir para um tubo de ensaio (deixar em estante imóvel, sem qualquer agitação) e adicionar lentamente pelas paredes do tubo, gota a gota, 1 ml de ácido sulfúrico concentrado. Observar a formação de um anel na interface (entre o anidrido acético e o ácido sulfúrico). Reação colorida indica teste positivo: coloração vermelha = presença de anel esteroidal; coloração verde= presença de anel triterpênico.

Saponinas

Preparar um extrato aquoso a quente com 2 g da droga pulverizada em 100 ml de água e filtrar. Recolher alíquota desse extrato repassando para tubo de ensaio, agitando o mesmo por 15 segundos vigorosamente. Observa-se a formação de espuma persistente por, no mínimo, 15 minutos e que não desaparece com a adição de duas gotas de ácido clorídrico 2N.

Este teste foi complementado pela determinação do índice de espuma. Cerca de 2 g da droga vegetal, exatamente pesados, foram submetidas a refluxo com 100 ml de água destilada, durante 10 minutos. Após resfriamento, o volume da água evaporada foi completado no balão volumétrico de 100 ml, filtrando-se a solução por algodão. Utilizando-se essa solução, preparou-se uma série de diluições conforme tabela abaixo.

Os tubos devem ter o mesmo diâmetro e a mesma altura. Realizar duas marcações nos tubos, sendo a primeira correspondente ao volume de 10 ml e a segunda igual a 1 cm acima desse nível.

Tubos I II III IV V VI VII VIII IX X

Solução extrativa 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Água destilada 09 08 07 06 05 04 03 02 01 –

Volume total 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10

Procedimento:

Agitar vigorosamente cada tubo, no sentido do seu comprimento, vedando-o com parafilm ou equivalente, durante 15 segundos. Deixar em repouso por 15 minutos. Verificar em seguida, em qual tubo se formou um anel de espuma persistente, de aproximadamente 1 cm de altura. Calcula-se o índice de espuma com base na diluição do tubo onde se formou o anel de espuma persistente de 1cm de altura.

Alcalóides

Preparou-se 20 ml de um extrato hidroetanólico a 10%. Evaporou-se em banho-maria até obtenção de um resíduo, sob ventilação constante. Dissolveu-se o resíduo com 1 ml de etanol, juntou-se cerca de 10 ml de solução clorídrica a 20% .Transferiu-se a mistura para uma ampola de decantação e alcalinizou-se com solução de amônia até pH 10. Extraiu-se o extrato alcalinizado por três vezes com éter etílico 10 ml de cada vez. Reuniu-se os extratos etéreos, evaporou-se à secura em banho-maria, sob ventilação constante. Adicionou-se ao resíduo 0,5 ml de solução clorídrica 20% até pH de aproximadamente 4,0. Aqueceu-se a mistura ligeiramente.

Após resfriamento, o extrato foi dividido em três partes iguais em tubos de ensaio pequeno e adicionaram-se três a cinco gotas dos reativos de Dragendorff, Valser-Mayer, Wagner, Bertrand e Bouchardat. A precipitação em algum dos tubos é indicativa de reação positiva.

Óleos essenciais - extração por arraste de vapor de água

Colocou-se cerca de 50 g da droga rasurada em um balão de fundo redondo de 1000 ml e adicionou-se 500 ml de água destilada. Empregou-se o aparelho de Clevenger com resfriamento constante, aquecido por manta elétrica. Deixou-se a aparelhagem em

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funcionamento durante 4 horas, contadas a partir do momento em que a água entrar em ebulição. Verificou-se, em pequenos intervalos de tempo, se houve modificação na medida indicada no tubo lateral graduado.

Fez-se a leitura da quantidade de óleo essencial extraído e calculou-se o rendimento diretamente (peso da droga versus volume do óleo – p/v).

Resultados

Caracterização organoléptica

O material corresponde a sumidades floridas, com predominância de folhas, mas também apresentando caules e flores em menor proporção. As folhas são muito pequenas, de cerca de 0,5-1,0 cm de comprimento por 0,2-03, cm de largura; sua coloração é verde-pardacento, de superfície opaca. As flores apresentam-se em inflorescências de 0,7-1,0 cm de comprimento por 0,2-03, cm de largura; presença de brácteas da inflorescência de coloração verde semelhante às folhas e de flores tubulosas de coloração creme.

O material exala um odor aromático forte e marcante, lembrando remotamente às hortelãs, e o sabor é insípido.

Descrição macroscópica

Tanto nas amostras das farmácias quanto da solicitada ao distribuidor de São Paulo, foram encontradas as seguintes estruturas: ramos com filotaxia oposta cruzada (Fig.1-2), folhas grossas aparentemente uninérvias, glabras, com margem lisa, ápice mucronado, base acuneada (Fig.3-5). Flores sésseis, na axila de brácteas pequenas, reunidas em inflorescências terminais do tipo espiga (Fig.6-8). Flor diclamídea, hermafrodita, pentâmera. Cálice gamossépalo e corola gamopétala labiada com dentes irregulares, ambos com pêlos. Androceu formado por 4 estames epipétalos e didínamos com filete possuindo pequena porção livre. Anteras bitecas com deiscência longitudinal. Gineceu com ovário súpero, bicarpelar, bilocular, estigma lateral, estilete ginobásico (Fig. 8-11).

Pela identificação fornecida pela distribuidora paulista, a espécie vegetal da amostra deveria tratar-se de Lantana microphylla Mart. – Verbenaceae ou Baccharis dracunculifolia DC - Compositae, popularmente conhecidas como alecrim-do-norte. Entretanto, pelas descrições acima citadas a espécie foi identificada como Prunella sp, da família Lamiaceae e as características descritas estão de acordo com Bentham (23).

Descrição microscópica da folha de Prunella sp.

As folhas são hipoestomáticas (Fig. 14,17). A epiderme, recoberta por cutícula espessa, na face adaxial é múltipla e na abaxial é simples; é constituída por células de formato irregular e com paredes espessas (Fig.12-19). Os tricomas são abundantes e variam de glandulares trapezoidais curtos e longos, glandulares capitados a tectores longos e curtos (Fig.12-19). Em folhas jovens ocorrem tricomas glandulares em ambas as faces e os tectores são raros (Fig. 12). Com o desenvolvimento, os tricomas glandulares restringem-se a face abaxial (Fig. 13-14), já os tectores podem ser observados em ambas as faces (Fig. 14). Os tricomas tectores são unicelulares e pontiagudos (Fig. 14-19), mais longos e eretos na região da nervura central (Fig. 15, 18).

O mesófilo é dorsiventral com parênquima paliçádico clorofiliano constituído por 2-3 camadas de células alongadas, e parênquima lacunoso por 4-5 camadas de células com formato irregular, com o parênquima paliçádico estendendo-se pela nervura central e pela margem foliar (Fig. 13, 14). Na nervura mediana destacam-se o colênquima angular e um único feixe vascular colateral levemente curvado envolvido por uma bainha de células arredondadas (Fig.15); a bainha de feixe das nervuras secundárias apresentam células maiores em relação às células do parênquima lacunoso.

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Análises histoquímicas

Os testes histoquímicos revelaram paredes lignificadas nos elementos traqueais e em fibras do floema na nervura central; amido nas células do parênquima clorofiliano; material lipofílico em abundância em todas as células do parênquima clorofiliano paliçádico e no conteúdo das células secretoras dos tricomas glandulares; paredes cutinizadas e cuticularizadas em todas as células epidérmicas e nas células dos tricomas tectores e glandulares; compostos fenólicos fracamente evidenciados em todas as células do parênquima; pectinas nas paredes das células epidérmicas (inclusive nas células mais internas da epiderme múltipla) e nas células do colênquima da nervura central e margem.

Controle físico-químico e análise fitoquímica preliminar

O resultado obtido com o material de Prunella sp (folhas, flores e caules, como ofertado comercialmente) foi de 12,2%, com o teste realizado em duplicata. Já o teste de teor de extrativos aquoso do material vegetal de Prunella sp após a aplicação da fórmula, foi de 5,0% (mesmo valor para os dois testes).

Em relação aos dados fitoquímicos preliminares, os resultados constam da tabela 1.

Tabela 1- Resultados da abordagem fitoquímica preliminar.

Teste Resultado

Flavonóides +

Cumarinas negativo

Antracênicos livres negativo

Taninos totais +

Esteróides/triterpenos +

Saponinas (teste de espuma) +

Saponinas (índice de espuma) < 100

Alcalóides +

Óleos essenciais

(doseamento por hidrodestilação) 2,43 %

Discussão

Após as avaliações organolépticas, macroscópicas, microscópicas, fisico-químicas e fitoquímicas preliminares pode-se concluir que muitas das amostras comercializadas em farmácias brasileiras não se referem de fato ao alecrim europeu nem às erroneamente identificadas como Lantana microphylla ou Baccharis dracunculifolia, correspondendo de fato a uma espécie do gênero Prunella, da família Lamiaceae. Isso representa uma clara situação de fraude, isto é, o conteúdo do produto é completamente diferente do descrito na rotulagem, com sérios riscos à saúde dos consumidores por completa falta de conhecimento da composição química desse material e de suas propriedades toxicológicas e farmacológicas. Na família Lamiaceae, a morfologia, a distribuição e a freqüência de tricomas glandulares são usadas como características diagnósticas em nível genérico e específico (24). Dois tipos

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principais de tricomas glandulares são freqüentemente descritos, o peltado e o capitado. Em Prunella sp os tricomas peltados não foram observados; já os tricomas glandulares trapezoidais não foram citados em espécies da família estudada.

Em Rosmarinus officinalis L. a literatura refere a presença de hipoderme abaixo da epiderme adaxial (25,26). No presente estudo verificou-se que em Prunella sp. a camada abaixo da epiderme adaxial é também de origem protodérmica (Fig. 12), tratando-se, portanto, de epiderme múltipla, constituindo-se num ponto de diferenciação entre ambas.

Para os ensaios empregados nesse trabalho utilizou-se de alguns métodos farmacopêicos e não farmacopêicos, que podem auxiliar no controle da droga vegetal, divididos em dados físico-químicos e fitofísico-químicos preliminares.

O conteúdo de cinzas totais estabelece a quantidade de substância residual não volátil no processo de incineração. Nas cinzas totais incluem-se tanto as denominadas cinzas fisiológicas como as não fisiológicas e materiais estranhos, sendo um dos fatores mais utilizados na definição do parâmetro de pureza de matérias primas farmacêuticas (27).

Quanto ao teste de cinzas totais, para Rosmarinus officinalis os códigos oficiais estabelecem o valor máximo de 7,0%, constituindo-se num fator bem diferente frente aos 12% obtidos para Prunella.

O conteúdo de substâncias extraíveis ou teor de extrativos determina a quantidade de substâncias com possibilidade de serem extraídas por um determinado solvente, no caso a água quente. Esses dados, no entanto, não indicam que no resíduo se encontram os constituintes ativos, porém estabelece algumas condições para o controle de qualidade da matéria-prima vegetal, de fácil execução (29). O resultado obtido para Prunella, de 5%, pode ser usado com essa finalidade, embora não existam dados oficiais desse parâmetro para Rosmarinus officinalis, dificultando a comparação pretendida.

Os dados obtidos mostram grupos de substâncias que podem ser empregadas na caracterização da matéria-prima e mesmo de produtos acabados, como flavonóides, alcalóides, saponinas, dentre outros. Da mesma forma, os dados negativos podem igualmente servir de parâmetros comparativos de grupos que não caracterizam a espécie.

Rosmarinus officinalis, segundo a literatura, apresenta também flavonóides, taninos, triterpenos, alcalóides e óleos essenciais (2-5%), dificultando sobremaneira sua diferenciação em termos de testes fitoquímicos gerais (26). Por outro lado, a presença de saponinas em Prunella sp e não em Rosmarinus indica um grupo útil nessa separação em termos de controle de qualidade farmacognóstico.

O óleo essencial dessas duas espécies parece ocorrer em valores equivalentes (mais de 2,0%), no entanto a identificação dos constituintes do alecrim-falso Prunella sp ainda não foi realizada e talvez aponte diferenças expressivas em relação ao alecrim oficial.

Assim, de acordo com as técnicas empregadas, observa-se que é possível estabelecer parâmetros mínimos de qualidade para a droga vegetal em estudo. As análises morfo-anatômicas destacam características diferentes entre o material analisado e a planta do gênero Rosmarinus officinalis e as técnicas físico-químicas e as análises fitoquímicas preliminares apontam características próprias para a espécie em estudo que pertence ao gênero Prunella Bentham (Lamiaceae).

Na fitoterapia brasileira não há presença marcante de espécies do gênero Prunella; já em outros países cita-se a presença de Prunella vulgaris como presente na medicina tradicional asiática com ações antimicrobianas, antioxidantes e em queratose herpética (30). Na Coréia, em associação com outros dois ingredientes, Prunella vulgaris compõe medicamento em fase de teste com efeitos antiinflamatórios clinicamente testados (31).

Esta situação representa, portanto, uma clara situação de fraude que precisa ser divulgada para evitar a continuidade da exposição dos consumidores ao consumo dessa espécie ainda não avaliada em termos toxicológicos e farmacológicos.

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Agradecimentos

Ao Curso de Especialização em Botânica de Plantas Medicinais da Universidade Estadual de Maringá.

Referências

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Referências

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