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Quais as contribuições das brincadeiras para a aprendizagem das crianças de 0 A 3 anos?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CURSO DE PEDAGOGIA POLO DE CURRAIS NOVOS

MARIA DA GUIA ALVES DA SILVA

QUAIS AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS PARA A APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS?

CURRAIS NOVOS - RN 2017

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MARIA DA GUIA ALVES DA SILVA

QUAIS AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS PARA A APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS?

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade a distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de graduado em Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da professora Ms. Vanessa Alessandra Cavalcanti Peixoto.

CURRAIS NOVOS - RN 2017

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RESUMO

O presente artigo científico versa sobre a importância das brincadeiras para as crianças de 0 a 3 anos. O mesmo está pautado nos documentos oficiais do Ministério da Educação e visa definir as concepções de brincadeiras, brinquedos, jogos, lúdico e ludicidade, bem como as aprendizagens das crianças de 0 a 3 anos a partir da teoria vygotskyana. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, baseada nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998), Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), Indicadores de Qualidade na Educação Infantil, (2009), Brinquedos e brincadeiras de creche – manual de orientação pedagógica (2012); fazendo uma reflexão no que descreve Kishimoto (2002), Oliveira (1979) e Vygotsky (1998) quanto a importância do brincar para as crianças no processo de ensino e aprendizagem. Assim, este artigo servirá como subsidio teórico e contribuirá com a prática pedagógica dos professores da educação infantil, especialmente nas creches, de forma significativa para a compreensão da importância das brincadeiras no processo de aprendizagem das crianças de 0 a 3 anos.

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ABSTRACT

The present scientific article deals with the importance of games for children from 0 to 3 years old. The same is based on the official documents of the Ministry of Education and aims to define the conceptions of play, toys, games, playful and playfulness, as well as the learning of children from 0 to 3 years from the Vygotskyan theory. In order to do so, a qualitative bibliographical research based on the National Curriculum Frameworks for Early Childhood Education (1998), National Curriculum Guidelines for Early Childhood Education (2010), Quality Indicators in Early Childhood Education, (2009), Children's Play and Play nursery - pedagogical guidance manual (2012); reflecting Kishimoto (2002), Oliveira (1979) and Vygotsky (1998) on the importance of playing for children in the teaching and learning process. Thus, this article will serve as a theoretical subsidy and will contribute to the pedagogical practice of teachers of early childhood education, especially in kindergartens, in a meaningful way to understand the importance of play in the learning process of children from 0 to 3 years.

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1. Introdução

Acredita-se que o ato de brincar faz parte da vida do ser humano desde o início de sua vida. Portanto, o brincar constitui-se a atividade fundamental no período de desenvolvimento infantil, auxiliando na aprendizagem fazendo com que as crianças criem conceitos, ideias, em que se possam construir, explorar e reinventar os saberes, podendo refletir sobre a realidade e a cultura em que vivem. Assim, pressupõe-se que as instituições de educação infantil devem dar a devida atenção a essa atividade.

É interessante destacar que em todas as concepções teóricas sobre o desenvolvimento e educação da criança pequena e na literatura em geral, a brincadeira aparece como um importante recurso na construção de conhecimentos e desenvolvimento integral. A brincadeira é a atividade que faz parte do cotidiano das crianças, independente do local onde vivem, dos recursos disponíveis, do grupo social e da cultura da qual faça parte, embora muitas crianças desconheçam esse ato devido uma série de fatores, tais como condições precárias, afazeres colegiais, do lar, entre outros que ocupam a maior parte do seu tempo.

A justificativa para a elaboração deste artigo deu-se mediante a necessidade de se compreender qual a importância das brincadeiras para a aprendizagem das crianças de 0 a 3 anos, definindo, para isso, as concepções de brincadeiras, brinquedos, jogos, lúdico e ludicidade.

A fundamentação teórica deste trabalho foi feita por meio de pesquisa bibliográfica à luz de Vygotsky (1979, 987, 2007), Oliveira (1995) e Kishimoto (2011). Nesse contexto, é perceptível à contribuição desse artigo cientifico na construção de um processo de ensino reflexivo que leve o professor da educação infantil a analisar sua prática docente e a buscar conhecimentos para ajudar as crianças de 0 a 3 anos a vencerem seus limites e desenvolver suas potencialidades. Para tanto, é necessário que o professor busque subsídios teóricos que lhe dê suporte na sua prática de forma clara, e o ajude a compreender e agir em sala de aula diante das diversidades e adversidades encontradas no dia a dia da sua prática pedagógica.

O presente Artigo está estruturado da seguinte forma: A primeira seção faz introdução ao tema “Quais as contribuições das brincadeiras para a aprendizagem

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das crianças de 0 a 3 anos? Na segunda seção abordamos a importância das brincadeiras para as crianças a partir dos documentos oficiais: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI – volumes I, II e III (1998). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), Brinquedos e brincadeiras de creche – Manuel de Orientação Pedagógica (2012) e Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (2009), na terceira seção falamos sobre as aprendizagens das crianças de 0 a 3 anos a partir da teoria vygotskiana e para finalizar, concluímos com as considerações finais apontando alguns pontos relevantes do trabalho.

2. A importância das brincadeiras para as crianças de 0 a 3 anos a partir de documentos oficiais

Pensar em criança nos faz pensar do ato de brincar. Todos nós já fomos crianças e guardamos em nossa memória algumas lembranças da infância, principalmente das brincadeiras vivenciadas.

O brincar não é uma atividade inata, mas uma atividade social e humana que se constitui através das relações humanas. A criança não nasce sabendo brincar, ela precisa aprender, partindo da observação, imitação, da experiência e da interação com outras pessoas, com objetos e brinquedos para reproduzir ou recriar novas brincadeiras. Desse modo, percebe-se que o brincar é, uma atividade sócio-cultural, que está originada nos valores e hábitos de um determinado grupo social, onde as crianças têm a liberdade de escolher o brinquedo e como elas querem brincar.

O documento “Brinquedos e brincadeiras de creches” (2009) faz uma boa colocação quanto as interações e as brincadeiras, ele diz que ambos são considerados eixos fundamentais para se educar com qualidade. Este mesmo documento ainda diz que o brincar não depende apenas da criança. É nessa vertente que o papel do professor assumi grande importância no processo de aprendizagem das crianças. Estes são, portanto, os mediadores da aprendizagem.

De acordo com Kishimoto (2011) quando brinca, a criança toma certa distância da vida cotidiana, entra no mundo imaginário. É neste ponto que o professor deve atuar como mediador e oportunizar condições favoráveis como um

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espaço adequado, com materiais interessantes e que estimulem a criatividade das crianças.

BRASIL (1998) diz que a qualidade das experiências oferecidas pela educação infantil pode contribuir para o exercício da cidadania. Esta qualidade está embasada em alguns princípios e entre eles está o direito das crianças brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil. Este documento apresenta o brincar como um dos pilares da educação infantil, formando a tríada educar-cuidar-brincar, atividades indissociáveis que apesar de possuírem funções específicas, ambas estão intimamente ligadas. Não podemos esquecer que apesar de ser uma atividade livre, as brincadeiras devem ter, no contexto educacional, intencionalidade pedagógica, cabendo ao professor saber discernir o simples ato de brincar com o brincar como instrumento favorável a aprendizagem e desenvolvimento infantil.

Segundo “Brinquedos e brincadeiras de creches” – Manual de orientação Pedagógica (2012), “o brincar é a coisa mais importante para as crianças, a atividade mais vital, pela qual elas aprendem a dar e receber, a compreender a natureza complexa do ambiente, a solucionar problemas, a relacionar-se com os outros, a ser criativa e imaginativa”. É nesta perspectiva que acreditamos que as brincadeiras têm total importância para as crianças, especialmente as de 0 a 3 anos, as quais é abordagem deste tema.

A Declaração Universal dos Direitos da Criança, no princípio 7, diz que “a criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito” (Portal da Câmara dos Deputados). Dessa forma não resta dúvida de que é dever da sociedade e das autoridades públicas empenhar-se-ão para que este direito seja garantido. Vale ressaltar que foi a partir dessa Declaração que a nossa legislação caminhou dando observância e cumprimento ao que rege a lei dos direitos humanos no que se refere aos direitos das crianças. Foi dessa forma que em 1990, um ano após a consolidação da Declaração Universal dos Direitos da Criança, que o Estatuto da Criança e Adolescente foi instituído em nosso país.

Dessa forma, entendemos que o brincar é um fator importante para o desenvolvimento da criança e Vygotsky (2007) atesta essa afirmação quando diz

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que o brincar é uma atividade que estimula a aprendizagem, pois cria uma zona de desenvolvimento proximal1 na criança:

No brinquedo, a criança passa a agir não apenas pela percepção imediata dos objetos. No entender de Vygotsky (2007), é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva que depende de motivações internas, ou seja, as crianças se utilizam das brincadeiras para externar suas emoções, construindo um mundo a seu modo.

“Ao brincar, as crianças podem reconstruir elementos do mundo que as cerca com novos significados, tecer novas relações, desvincular-se dos significados imediatamente perceptíveis e materiais para atribuir-lhes novas significações, imprimir-lhes suas ideias e os conhecimentos que têm sobre si mesma, sobre as outras pessoas, sobre o mundo adulto, sobre lugares distantes e/ou conhecidos.” (BRASIL, 1998, p. 171)

Por inúmeras vezes nos deparamos com uma criança montada num cabo de vassoura, onde para ela este objeto deixa de ser um simples cabo de vassoura e assume o papel de um cavalo, ou ainda, apoiado no chão com os pés e as mãos, a criança imita um cachorro, demonstrando já ter conhecimento da forma habitual do referido animal. A criança também se utiliza de fantasias, objetos e expressões de determinados profissionais, onde no faz de conta, ela vivencia essa realidade.

De acordo com BRASIL (1998), o brincar apresenta-se por meio de várias categorias de experiências que são diferenciadas pelo uso do material ou dos recursos predominantemente implicados. Essas categorias incluem: o movimento e as mudanças da percepção resultantes essencialmente da mobilidade física das crianças; a relação com os objetos e suas propriedades físicas assim como a combinação e associação entre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários níveis de organização a serem utilizados para brincar; os conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e atitudes que se referem à forma como o universo social se constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras, constituindo-se em um recurso fundamental para brincar.

Estas categorias de experiências podem ser agrupadas em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de faz-de-conta ou com papéis, considerada como

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Segundo Vygotsky a Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial.

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atividade fundamental da qual se originam todas as outras; brincar com materiais de construção e brincar com regras.

BRASIL (1998) ainda diz que é nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda que as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas a seus anseios e desejos.

No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação.

Kishimoto (2011) chama-nos a atenção quando diz que o brincar da criança não está somente ancorado no presente, mas também tenta resolver problemas do passado, ao mesmo tempo que se projeto para o futuro.

Encontramos no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL,1998) muitas contribuições as quais vão nortear o ensino da Educação Infantil, entre estas está a orientação de que o ato de educar deva propiciar situações de cuidados e brincadeiras organizadas em função das características infantis, de forma a favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.

É no brincar que a criança aprende coisas que ainda não lhe foi ensinada, criando seus próprios conceitos e agindo conforme sua realidade.

3. Definindo as concepções de brincadeiras, brinquedos, jogos, lúdico e ludicidade

Brincadeiras, brinquedos, jogos, lúdico e ludicidade são termos bastante usados, no campo educacional, especialmente na educação Infantil. Podemos dizer que a brincadeira e o jogo são atividades específicas da infância.

Para uma melhor compreensão acerca da importância do brincar para a aprendizagem das crianças de 0 a 3 anos, se fez necessário a conceituação dos termos: brincadeiras, brinquedos, jogos, lúdico e ludicidade.

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Kishimoto (2011) diz que o brinquedo, enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira, a qual a mesma conceitua como sendo a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras. Para essa autora os brinquedos assumem duas funções: a função lúdica, na qual o brinquedo propicia diversão, prazer e até mesmo desprazer, quando escolhido voluntariamente; e a função educativa, na qual o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão de mundo.

Para Vygotsky (1979), a brincadeira é um mundo ilusório criado pela criança. Segundo esse autor, o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e/ou adultos. Daí a importância da brincadeira o desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

De acordo com BRASIL (2012) a introdução de brinquedos e brincadeiras na creche depende de condições prévias tais como: a aceitação do brincar como direito da criança; a compreensão da importância do brincar para a criança; e a criação de ambientes educativos, especialmente planejados, que ofereçam oportunidades de qualidade para brincadeiras e interações.

Kishimoto (2011) lista diversos tipos de brincadeiras, a saber: tradicionais, faz de conta, construção, motoras e com regras. Cada uma dessas brincadeiras assume um papel importante na vida da criança, dependendo do contexto a qual esteja inserida.

Para Oliveira (1995), a brincadeira permite que os medos e frustrações sejam revividos, permitindo que a intervenção mediadora seja feita, que as emoções sejam conduzidas e que as relações sejam repensadas sob uma nova ótica. Esse autor ainda aponta outros benefícios do brincar, como, por exemplo, a possibilidade de abrir caminho para melhor preparo para a interação social, melhora a aptidão em desenvolver relacionamentos, beneficia a saúde, ensina a lidar de modo mais pleno com frustrações e permite projetar conteúdos angustiantes, desenvolvendo formas próprias de superar esses conflitos, por meio de uma atividade pura e saudável.

Como mostra BRASIL (1998),

A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação, isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre

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brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada.”

As brincadeiras, que compõem o repertório infantil e que variam conforme a cultura regional, apresentam-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como empinar pipas, jogar bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha etc.

Conforme BRASIL (2010), as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira. Dessa forma, acreditamos que as brincadeiras exerçam um papel preponderante na aprendizagem das crianças.

O brinquedo, por sua vez, é percebido pela sociedade como a essência da infância, o mesmo permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção de conhecimento da criança, a qual estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e entusiasmos, suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades.

Assim, acreditamos que para o brinquedo ter significado para a criança é preciso que tenha pontos de contato com a sua realidade. Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos, podemos avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. É indispensável que a criança se sinta atraída pelo brinquedo, caso contrário, este não passará de algo sem significância em sua vida. A manipulação do brinquedo leva a criança à ação e à representação, a agir e a imaginar.

Vygotsky (1989) chama a atenção para o fato de que para a criança com menos de 3 anos, o brinquedo é coisa muito séria, pois ela não separa a situação imaginária da real. Já na idade escolar, o brincar torna-se uma forma de atividade mais limitada que preenche um papel específico em seu desenvolvimento, tendo um significado diferente do que tem para uma criança da pré-escola.

Segundo Kishimoto (2002), o brinquedo é o suporte da brincadeira, e esta por sua vez é a ação que a criança desempenha ao brincar. Assim podemos concluir que brinquedo e brincadeira estão relacionados diretamente com a criança/sujeito e

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não se confundem com o jogo em si. Segundo Vygotsky (1989), as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade.

Quanto ao jogo, podemos dizer que este sempre fez parte de nossas vidas. Nos tempos passados, o jogo não tinha muita importância e era visto como um passatempo, mas nos tempos atuais o jogo está sendo cada vez mais valorizado. O ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois o homem sempre manifestou uma tendência lúdica, um impulso para o jogo. Temos no jogo uma característica marcante que é a existência de regras. Para Kishimoto (2011), o jogo se caracteriza uma ação voluntária da criança e este só pode ser caracterizado jogo quando escolhido de forma livre e espontânea pela criança, quando isso não acontece, torna-se trabalho ou ensino.

Ao pensarmos em jogo, nos vem logo à mente “competição” enquanto que o termo brincadeira nos traz a ideia de interação. Conceituar o termo jogo não é algo fácil, uma vez que o mesmo assume uma imagem de sentido lhe dada por cada sociedade, um arco e fleche pode ser visto como um brinquedo, apenas, para determinada sociedade, enquanto que para a cultura indígena pode é percebido como instrumento da caça e da pesca, conforme menciona com muita precisão Kishimoto (2011).

Segundo as teorias de Vygotsky (1998), o ser humano se desenvolve a partir do aprendizado, que envolve a interferência direta ou indireta de outros seres humanos, sendo que a mediação faz a diferença, interferindo na relação de aprendizagem da criança e fazendo com que as funções psicológicas superiores se desenvolvam no ser humano. O mesmo cita que o jogo é um instrumento importante para esse desenvolvimento, sendo que os jogos e suas regras criam nos alunos uma zona de desenvolvimento proximal (ZDP), proporcionando desafios e estímulos para a busca de conquistas mais avançadas, ensinando também a separar objetos e significados.

Martinez (2006) afirma que a palavra “lúdico” possui uma associação imediata com os verbetes jogo e brincadeira e que estas duas palavras, por sua vez, se ligam à origem latina jocus da qual também derivou o termo francês joie e o inglês jewel (joia-enfeite-brinquedo) ou a alemã blinkan (gracejar-brinco-enfeite).

O lúdico é visto como recurso da criança para se comunicar e se relacionar com o outro, para compreender a si mesma e as coisas que ocorrem a sua volta de

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modo a contribuir com o seu processo de desenvolvimento. A proposta do lúdico é promover uma alfabetização significativa na prática educacional, é incorporar o conhecimento através das características do conhecimento do mundo. O lúdico promove o rendimento escolar além da construção de conhecimentos, oralidade, pensamento e o sentido, fatores determinantes na educação infantil. Pensando na importância do lúdico para a aprendizagem das crianças, podemos dizer que o lúdico constitui um desenvolvimento global e uma visão de mundo mais real. Por meio das descobertas e da criatividade, a criança pode se expressar, analisar, criticar e transformar a realidade.

O termo ludicidade é por sua vez muito pronunciado no meio educacional, especialmente na educação infantil, porém percebe-se que se fala em ludicidade dando referência ao lúdico, no entanto, sentimos falta de uma definição mais precisa pelos autores estudados acerca deste termo. Contudo, pelas experiências que nos são repassadas no campo acadêmico, sabemos que o termo ludicidade se refere a forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos, através de jogos, música e dança, com o intuito de educar, ensinar, se divertindo e interagindo com os outros. Assim, podemos afirmar que a ludicidade é uma importante ferramenta que auxilia o educador neste tão grande desafio que é ensinar. A ludicidade exige uma predisposição interna, o que não se adquire apenas com a aquisição de conceitos, de conhecimentos, embora estes sejam muito importantes.

Assim, a ludicidade se torna uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. A ludicidade é um aspecto que merece atenção dos pais e educadores, pois é o momento para expressão mais genuína do ser, direito de toda criança para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos. Percebemos, assim, que a ludicidade se tornou uma necessidade do ser humano em qualquer idade, mas principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação integral da criança.

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4. As aprendizagens das crianças de 0 a 3 anos a partir da teoria vigotskiana

É nos três primeiros anos de vida que a criança começa a ter contato com o mundo externo, por meio das pessoas e do ambiente que a cercam.

Infelizmente, sabemos que muitas crianças na idade de 0 a 3 anos ainda vivem privadas de frequentarem uma creche, fator este que pode levar a limitação de um contato mais direto com outras pessoas, que não sejam seus familiares e vizinhança, bem como de conhecer outros ambientes que favoreçam uma melhor aprendizagem por meio da interação.

A Pedagogia, a Sociologia e a Antropologia concebem a criança como um ser social pleno, dotado de capacidade de ação e culturalmente criativo. Isto é, uma concepção de criança como sujeito de direitos, sujeito de história, capaz de tomar decisões e construir hipóteses sobre a vida e sobre as coisas.

Segundo Vygotsky (1987), a criança nasce inserida num meio social, que é a família, e é nela que estabelece as primeiras relações. Sua teoria apoia-se na concepção de um sujeito interativo que elabora seus conhecimentos sobre os objetos, em um processo mediado pelo outro. Para este autor, o desenvolvimento de uma criança se dá como um processo, que é caracterizado pela unidade dos aspectos materiais e mentais, uma unidade do social e do pessoal.

Na concepção de Vygotsky (1987), o homem se produz na e pela linguagem, isto é, na interação com outros sujeitos. Assim, a relação entre homem e mundo é uma relação mediada. Dessa forma, podemos mencionar os elementos de mediação como sendo os signos e os instrumentos. Entre estes instrumentos está o brincar.

Bem sabemos que o desenvolvimento infantil esta pautado na interação com o meio. Segundo Vygotsky (1998), a criança aprende e depois se desenvolve, deste modo, o desenvolvimento de um ser humano se dá pela aquisição/aprendizagem de tudo aquilo que o ser humano construiu socialmente ao longo da história da humanidade.

De acordo com a teoria sociocultural de Vygotsky, as interações são a base para que o indivíduo consiga compreender, por meio da internalização2, as representações mentais de seu grupo social.

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A construção do conhecimento ocorre primeiro no plano externo e social (com outras pessoas) para depois ocorrer no plano interno e individual. Nesse processo, a sociedade e, principalmente, seus integrantes mais experientes (adultos, em geral, e professores, em particular) são parte fundamental para a estruturação de que e como aprende (MONROE, 2017). Vale salientar que não se adquire conhecimentos apenas com os educadores: na perspectiva da teoria sociocultural desenvolvida por Vygotsky, a aprendizagem é uma atividade conjunta, em que relações colaborativas entre alunos podem e devem ter espaço., porém o professor é o grande orquestrador de todo o processo. Além de ser o sujeito mais experiente, sua interação tem planejamento e intencionalidade educativa.

O vínculo afetivo entre adultos e crianças, por meio do cuidado e da educação, é a base de toda a aprendizagem e da construção da identidade da criança.

5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Durante a construção deste artigo, vimos que o brincar é um instrumento importante para o desenvolvimento da criança, bem como para o seu conhecimento e aprendizagem por favorecer a descoberta, a curiosidade, e auxiliar na concentração, na percepção e na observação, proporcionando ainda o desenvolvimento dos músculos, o crescer, movimenta-se no espaço, descobrindo o seu próprio corpo.

É no brincar que a criança consegue lidar com situações novas e inesperadas, agir de maneira independente, se inserir na cultura e na sociedade, aprende a viver em grupo, enxergar e entender o mundo fora do seu cotidiano. No entanto, a brincadeira torna-se um meio indispensável para o desenvolvimento o aprendizado das crianças, fazendo com que estas se relacionem com o outro, entenda as relações humanas e construa sua própria identidade.

A afinidade da brincadeira infantil com a natureza da própria criança tem reconhecimento histórico, por isso, vem sendo tema de inúmeras pesquisas e estudos ao longo dos anos. É interessante destacar que em todas as concepções teóricas sobre o desenvolvimento e educação da criança pequena e na literatura em geral, a brincadeira aparece como um importante recurso na construção de conhecimentos e desenvolvimento integral. Por essa razão, entendemos que a

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brincadeira deve fazer parte do cotidiano de toda criança, e é aí onde entra o papel da família, da sociedade, da escola como também das bases governamentais, responsáveis pela garantia dos direitos da criança.

Podemos assim dizer que o brincar estimula a criança em várias dimensões: intelectual, social e física. Com a realização deste artigo, percebemos que o professor atuante na educação Infantil necessita cada vez mais de formação continuada de forma a qualificar cada vez mais o seu trabalho, pois bem sabemos que muitos ainda estão presos principalmente a concepção do cuidar, ou ainda, só do educar, deixando de lado este recurso tão rico e importante como é o brincar. Assim, acreditamos que o educador da educação infantil não deve se restringir a aspectos intelectuais e cognitivos, mas também aos aspectos psicológicos, com especial atenção ao afetivo-emocional, pois se uma criança vai bem consigo mesma as chances dela progredir em sua aprendizagem são ainda maiores.

Portanto, temos no brincar o modo que a criança tem de conhecer o mundo que a cerca. É por meio da brincadeira que a criança descobre, aprende e se desenvolve, tanto na escola quanto em casa, na rua, no jardim e, assim por diante.

Este estudo foi de grande valia para a minha formação não somente acadêmica, mas acima de tudo pessoal. Descrever as contribuições das brincadeiras para a aprendizagem das crianças de 0 a 3 anos foi possível mediante a contribuição dada por meio das teorias de Vygotsky, as quais compreendem o brincar como uma atividade social da criança, cuja natureza e origem especifica seriam elementos fundamentais para o desenvolvimento cultural, ou seja, o brincar como compreensão da realidade. Para o autor, o brinquedo é o principal meio de desenvolvimento cultural da criança. Portanto, é no brincar que a criança se comporta, além do seu comportamento habitual, diário, vivenciando desafios e situações novas, inventando e reinventando o universo a sua volta.

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6. REFERÊNCIAS

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Brasil, Ministério da Educação e Cultura. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, volumes I, II, III. Brasília: MEC/SEF, 1998.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Indicadores de qualidade na Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2009.

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KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2002.

___________, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3 Ed. São Paulo: Cortez 1993.

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Referências

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