• Nenhum resultado encontrado

A Suinocultura no Brasil e as Tecnologias no Âmbito do Plano ABC.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A Suinocultura no Brasil e as Tecnologias no Âmbito do Plano ABC."

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Comunicado

Técnico

549

ISSN 0100-8862 Versão Eletrônica Novembro, 2017 Concórdia, SC

A Suinocultura no Brasil e as

Tecnologias no Âmbito do

Plano ABC

1 Economista, doutor em Agronegócio, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC

Foto: Jean C.V.B. Souza/Embrapa

Introdução

e metodologia

A Embrapa Suínos e Aves vem buscando alternati-vas para o tratamento dos efluentes da suinocultura desde os anos 1980, culminando no projeto “Tecno-logias para produção e uso de biogás e fertilizantes a partir do tratamento de dejetos animais no âmbito do Plano ABC”, cuja sigla é BiogásFert. Este projeto foi desenvolvido e financiado pela Embrapa1 e Itaipu

Binacional, tendo por objetivo gerar soluções tecno-lógicas para a produção e uso integrados de biogás e biofertilizantes orgânicos e organominerais a partir de dejetos animais nos diferentes sistemas de produção agropecuários, visando estratégias de desenvolvi-mento sustentável com foco em agricultura de baixo carbono.

O objetivo deste Comunicado Técnico é caracterizar a suinocultura nos principais polos produtores no Brasil, destacando a heterogeneidade desse público e, consequentemente, os potenciais segmentos de mercado adotantes dos resultados da rede Biogás-Fert e das soluções tecnológicas preconizadas no âmbito do Plano ABC. Com isso, espera-se subsidiar a tomada de decisão pelos atores da cadeia produti-va da carne suína, fabricantes de equipamentos e fornecedores de insumos e serviços e órgãos públi-cos de pesquisa e fomento. A metodologia emprega-da é de um estudo descritivo que utiliza emprega-dados quan-titativos de fontes secundárias (ABCS, ABEGS, ABPA, Agriness e IBGE) e revisão de literatura, bem como dados qualitativos de uma tipologia de produ-tores (Miele et al., 2014).

Marcelo Miele

1

(2)

Características da suinocultura

indus-trial brasileira

Em 2006, havia mais de 24,4 mil estabelecimentos suinícolas no Brasil com rebanho superior a 100 ca-beças (Miele et al., 2013 adaptado de IBGE, 2012a; 2012b). Em estudo recente, realizado pela Associa-ção Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas (Sebrae), estimaram um total de 17,9 mil es-tabelecimentos suinícolas tecnificados em 2015, compondo a suinocultura industrial brasileira, com um plantel de 1,7 milhão de matrizes, produzindo 39,3 milhões de cabeças e gerando um valor bruto da produção de R$ 16,1 bilhões (MAPEAMENTO..., 2016). A cadeia produtiva se organiza a partir de agroindústrias integradoras, cooperativas (que atuam de forma semelhante às agroindústrias integradoras) e de produtores independentes. A Associação Brasi-leira de Proteína Animal (ABPA) estima que o aloja-mento de matrizes sob alguma forma de governança (contratos de integração em comodato, contratos de compra e venda, cooperativas e mini-integradores) represente aproximadamente 86% do alojamento

to-tal de matrizes na suinocultura industrial brasileira, ficando a produção independente com 14% (ABPA, 2016). Para a ABCS e a Associação Brasileira das Empresas de Genética de Suínos (ABEGS), até 38% do rebanho de matrizes estão alojados em suinocul-tores independentes e 62% nas integrações e coope-rativas (39% e 23%, respectivamente) (MAPEAMEN-TO..., 2016). Além do segmento industrial, há um expressivo contingente de pequenos suinocultures atuando em mercados locais e criatórios de suínos para subsistência, que envolvia em 2006 mais de 1,47 milhão de estabelecimentos agropecuários (Mie-le et al., 2013 adaptado de IBGE, 2012a; 2012b). A região Sul lidera com 91% dos estabelecimentos suinícolas, 60% das matrizes industriais alojadas e 67% dos abates, seguida dos polos tradicionais na região Sudeste e dos polos de expansão na região Centro-Oeste, esta última com crescimento de 530% no volume de abate nos últimos 10 anos. Também há polos de produção no Nordeste e Norte. A locali-zação das principais microrregiões geográficas com rebanho suíno é apresentada na Figura 1.

Fonte: elaborado por Embrapa Suínos e Aves a partir de Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) do IBGE (2014b). Figura 1. Microrregiões de abrangência da suinocultura, em cabeças, 2014.

(3)

A produção de suínos é feita em diferentes sistemas de produção (Figura 2), com predominância dos sis-temas segregados, com a produção de leitões (UPD e UPL) separada das fases de engorda que se utilizam de manejo todos dentro – todos fora, ou all in – all

out. A maioria de suinocultores são terminadores

(UT), seguidos de produtores de leitão desmamados (UPD), produtores em ciclo completo (CC), produto-res de leitões de creche (UPL) e outros sistemas de engorda como os crechários (UC) e wean to finish (WTF) ou creche, crescimento e terminação (Figu-ras 3, 4 e 5). As escalas de produção são em média menores na região Sul do que nas demais regiões (Figura 6), o que está relacionado à maior presença da agricultura familiar (Figura 7).

Além da agricultura familiar, que em 2006 represen-tava 72% dos estabelecimentos suinícolas com mais de 100 cabeças, é crescente a presença de suinocul-tores com mão de obra contratada (parcial ou total),

bem como de empresas agropecuárias com gestão e mão de obra contratadas. Em termos de área para absorção dos dejetos no solo, quase metade dos es-tabelecimentos com mais de 100 suínos em 2006 ti-nha área total de até 20ha e mais um terço com área total acima de 20ha até 50ha, totalizando quase 80% dos estabelecimentos com área igual ou inferior a 50ha (Figura 8). A relação entre rebanho e área in-dica não apenas a capacidade de reciclagem dos de-jetos pela sua aplicação no solo, mas também em grande parte se o produtor é especializado na suino-cultura ou diversifica suas atividades. O grau de ins-trução do responsável pelo estabelecimento suinícola era, em 2006, composto majoritariamente por pes-soas com alfabetização de adultos ou ensino funda-mental incompleto, seguido das pessoas com ensino fundamental ou médio completos ou de técnico agrí-cola (Figura 9). Por fim, predomina a assistência téc-nica das integrações ou das cooperativas (Figura 10).

Fonte: elaborado a partir de informações da Embrapa Suínos e Aves.

Figura 2. Sistemas de produção de suínos com pesos e idades de saída da granja.

CC: Ciclo completo

UPL: Unidade de produção de leitões

UPD: Unidade de produção de leitões desmamados

UT: Unidade de crescimento e terminação

UC: Crechário

CCT (ou WTF): Creche, crescimento e terminação (ou wean to finish em inglês)

CC

100 - 130 kg

150 - 168 dias

100 - 130 kg

150 - 168 dias

100 - 130 kg

150 - 168 dias

100 - 130 kg

150 - 168 dias

UPL

UPD

UPD

UC

UT

UT

CCT (WTF)

5 - 9 kg

21 a 28 dias

21 a 28 dias

5 - 9 kg

20 - 25 kg

63 dias

20 - 25 kg

63 dias

(4)

Fonte: elaborado pelo autor a partir de MAPEAMENTO (2016) com dados de Agriness, ABEGS, Agroceres PIC, ABCS e ABPA. Figura 3. Número de estabelecimentos por sistema de produção, Brasil, 2015.

Fonte: elaborado pelo autor a partir de MAPEAMENTO (2016) com dados de Agriness, ABEGS, Agroceres PIC, ABCS e ABPA.

Figura 4. Número de estabelecimentos, rebanho de matrizes e número de lugares de engorda, por região, Brasil, 2015. UPD 1.333 8% UPL 837 5% CC 930 5% UC 699 4% WTF 77 <1% UT 13.991 78% Reprodução 3.101 18% 2248 (72%) 14082 (95%) 1025 (59%) 10571 (81%) 412 (13%) 258 (1%) 338 (19%) 754 (5%) 175 (5%) 265 (1%) 230 (13%) 1119 (8%) 266 (8%) 162 (1%) 125 (7%) 513 (3%) 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Produtores em UPD,

UPL e CC (estab.) Produtores em UC,WTF e UT (estab.) UPL e CC (mil cab.)Matrizes em UPD, Lugares de engordaem UC, WTF e UT (mil cab./lote) Sul (PR, RS e SC) Sudeste (MG e SP) Centro-Oeste (GO e MT) Outros

(5)

Fonte: Agriness (2015)

Figura 5. Estabelecimentos com matrizes (UPD, UPL e CC) por sistema de produção e escala de alojamento de matrizes,

Brasil, 2015.

Fonte: elaborado pelo autor a partir de MAPEAMENTO (2016) com dados de Agriness, ABEGS, Agroceres PIC, ABCS e ABPA. Figura 6. Tamanho médio dos estabelecimentos suinícolas por sistema de produção e região, 2015.

43% 27% 30% UPD UPL CC 15% 16% 24% 23% 14% 5% 3% ≤ 200 201 a 300 301 a 500 501 a 1.000 1.001 a 2.000 2.001 a 3.000 > 3.000 555 456 822 1.318 472 2.143 2.036 4.588 4.006 2.651 1.242 4.433 805 685 2.808 4.226 2.668

Brasil Sul (PR, RS e SC) Sudeste (MG e SP) Centro-Oeste (GO e

MT) Outros

(6)

Fonte: elaborado pelo autor a partir de IBGE (2012a; 2012b)

Figura 7. Número de estabelecimentos suinícolas com mais de 100 cabeças alojadas, por tipo social (familiar e não

fami-liar), forma de inserção na cadeia produtiva (integrado e independente) e faixa de alojamento de suínos, 2006.

Fonte: elaborado pelo autor a partir de IBGE (2012a; 2012b)

Figura 8. Número de estabelecimentos suinícolas com mais de 100 cabeças alojadas, por faixa de área total do

estabeleci-mento agropecuário e faixa de alojaestabeleci-mento de suínos, 2006.

4.896 868 163 15 1 5.943 2.711 777 532 188 39 14 4.261 7.554 3.538 492 41 6 11.631 903 994 514 141 15 4 2.571 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% De 101 a

500 De 501 a1.500 De 1.501 a5.000 De 5.001 a15.000 De 15.001 A30.000 30.000 oumais mais de 100Total com cab. Familiar independente Não familiar independente Familiar integrado Não familiar integrado

3.430 1.293 356 57 5 2 5.143 4.143 1.480 286 60 10 5.979 5.266 2.134 450 76 5 3 7.934 2.138 998 396 96 16 3 3.647 476 166 116 31 7 2 798 611 106 97 65 18 8 905 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% De 101 a

500 De 501 a1.500 De 1.501 a5.000 De 5.001 a15.000 De 15.001A 30.000 30.000 oumais de 100 cab.Total acima Abaixo de 10 ha De 10 a 20 ha De 20 a 50 ha De 50 a 200 ha De 200 a 500 ha Acima de 500 ha

(7)

Fonte: elaborado pelo autor a partir de IBGE (2012a; 2012b)

Figura 9. Porcentagem dos estabelecimentos suinícolas com mais de 100 cabeças alojadas, por grau de instrução do

res-ponsável pelo estabelecimento agropecuário e faixa de alojamento de suínos, 2006.

Fonte: elaborado pelo autor a partir de IBGE (2012a; 2012b)

Figura 10. Porcentagem dos estabelecimentos suinícolas com mais de 100 cabeças alojadas, por origem da assistência

técnica e faixa de alojamento de suínos, 2006.

68 60 38 23 28 6 63 28 34 46 46 46 33 31 4 6 16 30 26 61 6 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% De 101 a

500 De 501 a1.500 De 1.501 a5.000 De 5.001 a15.000 De 15.001 A30.000 30.000 oumais mais de 100Total com cab. Ensino superior

Ensino fundamental ou médio completos ou técnico agrícola Alfabetização de adultos ou ensino fundamental incompleto

20,5 14,8 11,0 8,5 7,1 9,5 17,9 32,0 26,7 22,3 13,9 21,4 29,4 32,2 41,8 34,0 23,6 12,9 14,3 34,8 15,2 16,7 32,7 54,0 58,6 76,2 17,9 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% De 101 a

500 De 501 a1.500 De 1.501 a5.000 De 5.001 a15.000 De 15.001A 30.000 30.000 oumais mais de 50Total com

(8)

Assim, a suinocultura brasileira é marcada pela hete-rogeneidade, não apenas entre as principais regiões produtoras, mas entre os produtores de uma mesma região, mesma agroindústria, ou mesmo grupo social. No Quadro 1, são apresentados os principais tipos de suinocultores no Brasil, considerando-se o grupo so-cial do produtor, o grau de espeso-cialização ou diversi-ficação com outras atividades agropecuárias (relação com área total) e as principais características da ati-vidade suinícola (sistema e escala de produção e for-ma de inserção na cadeia produtiva) (MIELE et al., 2014).

Os produtores familiares em pequenos estabeleci-mentos agropecuários constituem o grupo mais nu-meroso, que se concentra na região Sul. Geralmente, são integrados a agroindústrias ou cooperativas, com unidades de creche ou terminação ou na produção de leitões. Entre as cooperativas é o grupo social carac-terístico. Ainda persistem pequenos suinocultores in-dependentes em ciclo completo, mas sua participa-ção vem diminuindo desde os anos 1990.

Os produtores que empregam simultaneamente mão de obra familiar e assalariada representam o principal grupo em termos de alojamento de matrizes, com maior escala. Entre esses suinocultores, predomina a produção de leitões integrada com contratos de co-modato ou de compra e venda, mas também vem crescendo o uso de mão de obra contratada em gran-des unidagran-des de terminação, creche e wean to finish. Muitos produtores deste grupo têm origem na agri-cultura familiar.

Outro tipo social são as empresas agropecuárias sob direção de gerentes contratados, uso exclusivo de mão de obra assalariada e disponibilidade de áreas agrícolas. Constituem um pequeno número de esta-belecimentos agropecuários com participação cres-cente no alojamento de matrizes e de suínos em ter-minação. Operam tanto no mercado independente quanto nas integrações, nos mais variados sistemas de criação, mas invariavelmente explorando ganhos de escala. Neste grupo, também estão as unidades centrais das cooperativas que produzem leitões para terminação nos cooperados.

Quadro 1. Tipologia de produtores na suinocultura industrial no Brasil.

Sistema de criação Produtor familiar

Produtor com empregados e empresa agropecuária

Especializado Diversificado Especializado Diversificado

Crechários, terminadores e

wean to finish integrados em

parceria Pequena 250 a 750 cab. UT 800 a 2.000 cab. C ±20 ha Pequena 250 a 750 cab. UT 800 a 2.000 cab. C ±35 ha Pequena < 1.000 cab. UT < 2.000 cab. C >200 ha Grande >1.500 cab. UT >5.000 cab. C >4.000 cab. WTF ±20 ha Grande >10.000 cab. <100 ha Grande >10.000 cab. >500 ha

Produtores de leitões integrados em comodato ou com contrato de compra e venda Pequena ±300 matrizes ±20 ha Pequena ±300 matrizes ±35 ha Pequena ±300 matrizes <100 ha Pequena ±300 matrizes >200 ha Grande >500 matrizes ±20 ha Grande >1.000 matrizes <100 ha Grande >1.000 matrizes >500 ha

Ciclo completo independente

Pequena <100 matrizes ± 20 ha Pequena <300 matrizes <100 ha Pequena <300 matrizes >200 ha Grande >1.000 matrizes <100 ha Grande >1.000 matrizes >500 ha

(9)

Posicionamento das tecnologias no

âmbito do Plano ABC para os

diferen-tes tipos de suinocultores

A escala e o grau de especialização alteram a relação entre rebanho suíno e área agrícola, sendo, portanto, as características fundamentais que determinam o manejo dos dejetos e a demanda por diferentes tec-nologias no âmbito da rede BiogásFert e do Plano ABC. A partir da tipologia de produtores na suinocul-tura industrial no Brasil (Quadro 1), é possível propor

uma segmentação do mercado para as tecnologias ambientais na suinocultura com base nessas duas características (Figura 11). De forma sucinta, são quatro grupos de produtores, quais sejam: pequena escala e especializado com predominância da agricul-tura familiar; pequena escala e diversificado com pre-sença da agricultura familiar e de produtores com empregados; grande escala especializado; e grande escala diversificado, sendo que nesses dois últimos grupos há presença tanto de produtores com empre-gados quanto de empresas agropecuárias.

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Miele et al. (2014)

Figura 11. Segmentação do mercado para as tecnologias no âmbito da rede BiogásFert e do Plano ABC, a partir da escala

de produção e do grau de especialização dos suinocultores.

A segmentação do mercado a partir dos tipos de pro-dutores e suas características essenciais para o ma-nejo de dejetos (Figura 11) deve ser analisada a par-tir das características das regiões nas quais a ativida-de se ativida-desenvolve. Nesse sentido, é importante con-siderar que a suinocultura brasileira é marcada pela tendência de aumento da participação das granjas de grande porte, e concentração de rebanhos nas prin-cipais regiões produtoras, mesmo naquelas com limi-tação de áreas agrícolas para reciclagem dos dejetos. Entre 2006 e 2016, o crescimento do rebanho suíno

foi superior ao crescimento da área com lavouras em 13 das 15 principais microrregiões produtoras, sendo que 10 microrregiões apresentaram queda na área com lavouras (Tabela 1). Por outro lado, o cresci-mento das áreas com pastagens compensa em parte ou totalmente a redução da área com lavouras2. Ao

contrário da área com lavouras, todas as microrre-giões analisadas expandiram a produção de leite, sendo que apenas cinco microrregiões apresentaram expansão da produção de suínos superior à de leite (Tabela 1).

2 A estatística disponível para a área com pastagens é o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2012a) não existindo um acompanhamento anual como as pes-quisas dos rebanhos e das lavouras. Por isso, sugere-se o uso da produção de leite como um indicador da área de pastagens. Entretanto, a evolução da pro-dução de leite é um indicador parcial da evolução da área com pastagens, tendo em vista o aumento da produtividade (vacas/ha e litros/vaca/dia).

Especializado

Diversificado

Produtor familiar

Produtores

com empregados

Escal

a d

e p

ro

du

çã

o

su

in

íc

ola

Grau de especialização na suinocultura

Pequ

eno

Gra

nd

e

Produtores

familiares

Empresas

agropecuárias

(10)

Tabela 1. Crescimento dos rebanhos e das áreas com lavouras e produção de leite nas 15 principais microrregiões

produto-ras de suínos no Bproduto-rasil, var. % 2016/2006.

Microrregiões com maior rebanho suíno, por UF Aves Suínos Bovinos ordenhadasVacas Prod. de leite* Lavouras

SC (Concórdia, Joaçaba, Chapecó, S. M. Oeste,

Tubarão) -1 -4 37 48 92 -29

PR (Toledo, Francisco Beltrão) 49 167 -4 9 56 8

RS (Lajeado-Estrela, Três Passos, Erechim) 17 73 -5 19 76 -14

MG (Uberlândia, Ponte Nova) 100 59 20 17 41 30

MT e GO (Sudoeste de Goiás, Alto Teles Pires) 182 189 5 4 16 59

Toledo (PR) 105 255 -7 -8 18 15

Alto Teles Pires (MT) 1.079 318 -1 28 48 62

Concórdia (SC) -4 -38 16 35 75 -52

Joaçaba (SC) -2 13 38 16 59 -3

Sudoeste de Goiás (GO) 3 103 6 3 15 54

Chapecó (SC) 9 0 48 66 100 -33

Uberlândia (MG) 111 38 24 23 50 39

Lajeado-Estrela (RS) 4 80 -2 17 60 -32

Tubarão (SC) 36 36 40 28 140 -28

Ponte Nova (MG) -18 90 5 -1 16 -22

São Miguel do Oeste (SC) -28 26 36 55 92 -32

Três Passos (RS) 20 55 -6 15 68 -11

Erechim (RS) 79 83 -6 27 116 -12

Francisco Beltrão (PR) -3 -29 -1 25 119 -8

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) e da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) (IBGE, 2017a; 2017b; 2017c).

3 Representa a linha de base para a estimativa das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e também deve ser considerada a situação inicial nos estudos de mercado e de avaliação econômica (análise de fluxo de caixa incremental).

A armazenagem dos dejetos em esterqueiras e poste-rior aplicação no solo como biofertilizante com o uso de trator-tanque ou sistemas de fertirrigação é a es-tratégia predominante de manejo dos dejetos da sui-nocultura. As demais estratégias envolvem rotas só-lidas por meio da compostagem e rotas líquidas por meio da biodigestão. Portanto, as boas práticas de recomendação de adubação para aplicação no solo devem ser utilizadas em todas as estratégias de ma-nejo. A compostagem automatizada de dejetos é uma tecnologia que permite o uso do composto orgâ-nico em lavouras próprias ou, quando há necessidade de exportação dos excedentes, sua venda para ter-ceiros. Por sua vez, a biodigestão permite a geração de energia térmica e/ou elétrica a partir do biogás, mas requer o transporte ou tratamento dos efluentes quando o produtor não dispõe de área própria para sua aplicação. Além disso, esta solução tem atraído empresas do setor de energia (eletricidade e gás) e de insumos químicos (gás carbônico). Além da com-postagem e da biodigestão, há um conjunto de prá-ticas e de tecnologias que permitem maior eficiência

no manejo dos dejetos, como as boas práticas para o manejo e uso racional da água e da ração; a adoção de equipamentos para a separação dos dejetos (fases líquida e sólida), bem como tecnologias inovadoras no tratamento de dejetos e efluentes da biodigestão (lagoas de tratamento, sistemas de tratamento como o Sistrates e uso de microalgas). As tecnologias de tratamento devem ser consideradas em situações es-pecíficas, geralmente para grandes suinocultores sem área agrícola para absorver dejetos e localizados em regiões com alta concentração de rebanhos, bem co-mo em regiões com limitações hídricas que deman-dam o reúso dos efluentes. Assim, a adoção das boas práticas associadas às soluções tecnológicas no âmbito do Plano ABC e da rede BiogásFert permite a utilização do máximo valor fertilizante dos dejetos, a redução dos custos com distribuição e, do ponto de vista ambiental, a redução das emissões de GEE e menor impacto sobre os recursos hídricos (KUNZ et. al., 2014; BARROS et al., 2015; BRASIL, 2016; CORRÊA, 2017).

(11)

A partir da segmentação do mercado (Figura 11), das características regionais (Tabela 1) e das principais soluções tecnológicas no âmbito do Plano ABC e da rede BiogásFert (KUNZ et. al., 2014; BARROS et al.,

2015; BRASIL, 2016; CORRÊA, 2017) é possível propor o posicionamento dessas tecnologias (Figura 12).

Especializado

Diversificado

Produtor familiar

Es

cal

a d

e p

ro

du

ção s

ui

col

a

Pe

que

no

G

ra

nde

Grau de especialização na suinocultura

Aplicação de dejeto ou composto em área própria. A biodigestão depende do uso da energia, da miniaturização de equipamentos

ou de redes de coleta.

Biodigestão e aplicação em área própria. A compostagem depende

da atratividade do mercado de fertilizantes orgânicos ou

organominerais. Excedente transportado ou

vendido como composto ou biodigestão com transporte ou

tratamento do excedente. Excedente transportado ou vendido como composto. A biodigestão depende do uso da

energia, da miniaturização de equipamentos ou de redes de

coleta.

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Miele et al. (2014)

Figura 12. Posicionamento das tecnologias no âmbito da rede BiogásFert e do Plano ABC nos diferentes segmentos de

mer-cado, a partir da escala de produção e do grau de especialização dos suinocultores.

Para o primeiro grupo (pequena escala e especializa-do), a estratégia predominante é de transporte do ex-cedente na forma de dejeto bruto ou a venda como composto orgânico. Para o segundo grupo (pequena escala e diversificado), a estratégia predominante é de aplicação dos dejetos ou composto em área pró-pria. Nesses dois grupos com estabelecimentos de pequena escala suinícola (tanto especializados quan-to diversificados), a opção pela biodigestão depende do uso da energia, da miniaturização de equipamen-tos ou de redes de coleta que transportem dejeequipamen-tos ou biogás para centrais de biodigestão.

Para o terceiro grupo (grande escala e especializado), o excedente deve ser transportado, seja por meio da venda ou doação de composto orgânico, seja por meio de efluentes da biodigestão, sendo que neste último caso há também a opção pelo tratamento do efluente líquido, restando apenas o transporte dos lo-dos geralo-dos. Para o quarto grupo (grande escala e di-versificado), a estratégia predominante é a biodiges-tão e aplicação dos efluentes em área própria, sendo

que a opção pela compostagem dependerá da atrati-vidade do mercado de fertilizantes orgânicos ou orga-nominerais, tendo em vista a elevada escala necessá-ria. Como apontado acima, em todos os casos é im-portante seguir as boas práticas de recomendação de adubação para aplicação no solo, mesmo nos casos em que há tratamento devido à geração de lodos. Nesses dois grupos com estabelecimentos especia-lizados (tanto de pequena quanto de grande escala suinícola), os custos e dificuldades com a exportação dos excedentes serão determinados pela concentra-ção regional dos rebanhos e a disponibilidade de áre-as agricultáveis (Tabela 1).

É importante salientar que inovações organizacionais e logísticas na implantação de unidades centrais de biogás, ou compostagem ou mesmo de tratamento, podem ampliar o acesso a essas tecnologias. O mes-mo pode ocorrer a partir de inovações em miniaturi-zação de equipamentos, que pode levar à redução da escala mínima de adoção, sobretudo no biogás.

(12)

Considerações finais

Este documento organiza informações sobre a carac-terização socioeconômica da suinocultura industrial no Brasil para a segmentação do mercado para as tecnologias no âmbito da rede BiogásFert e do Plano ABC e posterior proposta de posicionamento dessas tecnologias. São características fundamentais a es-cala suinícola e o grau de especialização na suinocul-tura ou diversificação com outras atividades agrope-cuárias (sobretudo a agricultura e produção de leite), a concentração regional dos rebanhos e a disponibili-dade de áreas agricultáveis, bem como a escala míni-ma de adoção das diferentes soluções tecnológicas e seus desempenhos (eficiência na produção de fertili-zantes ou energia). Destacam-se as boas práticas de recomendação de adubação para aplicação no solo, a compostagem e a biodigestão.

Referências

ABPA. Tabulações especiais do levantamento

siste-mático da produção de suínos. São Paulo:

Associa-ção Brasileira De Proteína Animal, 2016.

AGRINESS. Melhores da suinocultura agriness. Dis-ponível em: < http://www.melhoresdasuinocultura. com.br/>. Acesso em 21 out. 2016.

BARROS, E. C.; NICOLOSO, R. da S.; HIGARASHI, M. M.; KUNZ, A. Tratamento de dejetos no âmbito

do programa do ABC. Porto Alegre: Secretaria da

Agricultura, Pecuária/RS, 2015. 13 p.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária E Abas-tecimento. Suinocultura de baixa emissão de

carbo-no: tecnologias de produção mais limpa e

aproveita-mento econômico dos resíduos da produção de suí-nos. Brasília, DF: MAPA, 2016.

CORRÊA, J. C. Biogasfert: tecnologias para produção e uso de biogás e fertilizantes a partir do tratamento de dejetos animais no âmbito do plano ABC. Concór-dia: Embrapa Suínos e Aves; Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2016. 63 p.

IBGE. Censo Agropecuário 2006: Brasil, Grandes Re-giões e Unidades da Federação. Segunda apuração. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística, 2012a. 774 p.

IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2017a. Disponível em: < http://www.ibge. gov.br >. Acesso em 05 nov. 2017.

IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2017b. Disponível em: < http://www.ibge. gov.br >. Acesso em 05 nov. 2017.

IBGE. Pesquisa Trimestral do Leite. Rio de Janeiro: IBGE, 2017b. Disponível em: < http://www.ibge. gov.br >. Acesso em 05 nov. 2017.

IBGE. Tabulações especiais do Censo Agropecuário

2006. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de

Geogra-fia e Estatística, 2012b.

KUNZ, A.; HIGARASHI, M. M. ; OLIVEIRA, P. A. Tecnologias para o tratamento de resíduos de ani-mais. In: PALHARES, J. C. P.; GEBLER, L. (Org.).

Gestão ambiental na agropecuária. 1. ed. Brasília,

DF: Embrapa, 2014. v. 2. p. 235-283.

MAPEAMENTO da suinocultura brasileira. Brasília, DF: ABCS, 2016. 186 p. il. color.

MIELE, M.; ALMEIDA, M. M. T. B.; MONTICELLI, C. J.; OLIVEIRA, O. C. de; BOFF, J. A.; PALHARES, J. C. P.; SANDI, A. J.; CARDOSO, L. S. Caracterização

da suinocultura no Brasil a partir do censo agrope-cuário 2006 do IBGE. 2013. Concórdia: Embrapa

Suínos e Aves, 149 p. (Embrapa Suínos e Aves. Documentos, 160).

MIELE, M.; LOPES, L. dos S.; ALMEIDA, M. M. T. B.; MONTICELLI, C. J.; WAQUIL, P. D. Tipologia de suinocultores nas regiões Sul e Centro-Oeste do Bra-sil. e tecnologias agropecuárias. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINIS-TRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 52., 2014. Goiâ-nia, GO. Anais... Goiânia: Sober, 2014. 1 CD-ROM.

(13)

Comunicado Técnico, 549

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Suínos e Aves

Endereço: BR 153, Km 110,

Distrito de Tamanduá, Caixa Postal 321, 89.715-899, Concórdia, SC Fone: 49 3441 0400 Fax: 49 3441 0497 www.embrapa.br/fale-conosco/sac 1ª edição Versão Eletrônica: (2017)

Presidente: Marcelo Miele

Membros: Airton Kunz, Ana Paula A. Bastos, Gilberto S.

Schmidt, Gustavo J.M.M. de Lima e Monalisa L. Pereira

Suplente: Alexandre Matthiensen e Sabrina C. Duarte

Cícero J. Monticelli e Juliano C. Correa

Coordenação editorial: Tânia M.B. Celant Editoração eletrônica: Vivian Fracasso Normalização bibliográfica: Cláudia A. Arrieche Revisão gramatical: Lucas S. Cardoso

Comitê de Publicações

Revisores Técnicos

Referências

Documentos relacionados

Analisar o efeito spillover decorrente da renda do Programa Bolsa Família (PBF) entre as cidades pequenas e médias das regiões Norte e Nordeste do Brasil.. 1.1.2

Proposta alternativa 2: (vide o mapa 2 em anexo).. Além disso, as condições de ingresso para o nível 2 do novo regime passam a ser de 6 anos de escolaridade e habilitações

Há duas divisões específicas sobre as mídias utilizadas neste esforço de guerra utilizados na pesquisa: as histórias em quadrinhos – com sua conceitualização

A anotação que se faz sobre tais normas é que, da forma como estão sendo elaboradas, privilegiam muito mais a manutenção de um sistema de visitação turística que é elitista e

A inscrição do imóvel rural após este prazo implica na perda do direito de manter atividades agropecuárias em áreas rurais consolidadas em APP e Reserva Legal, obrigando

It leverages recently released municipality-level information from Brazil’s 2017 Agricultural Census to describe the evolution of three agricultural practices typically connected

Este seguro prevê e regula a inclusão, automática dos cônjuges dos Segurados Principais que estejam em perfeitas condições de saúde, na qualidade de Segurados

Conclusão: a mor- dida aberta anterior (MAA) foi a alteração oclusal mais prevalente nas crianças, havendo associação estatisticamente signifi cante entre hábitos orais