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Educação física escolar e literatura: uma possibilidade de ensinar e aprender boxe no ensino médio

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

DANRLEY ALVES JACINTO

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E LITERATURA: UMA POSSIBILIDADE DE ENSINAR E APRENDER BOXE NO ENSINO MÉDIO

NATAL/RN 2019

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DANRLEY ALVES JACINTO

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E LITERATURA: UMA POSSIBILIDADE DE ENSINAR E APRENDER BOXE NO ENSINO MÉDIO

Trabalho de Conclusão de Curso a ser apresentado ao Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para a obtenção do título de Licenciado em Educação Física.

Orientador: Márcio Romeu Ribas de Oliveira

NATAL/RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Jacinto, Danrley Alves.

Educação física escolar e literatura: uma possibilidade de ensinar e aprender boxe no ensino médio / Danrley Alves Jacinto. - 2019.

31f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Educação Física) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Educação Física. Natal, RN, 2019.

Orientador: Márcio Romeu Ribas de Oliveira.

1. Boxe - TCC. 2. Jack London - TCC. 3. Literatura - TCC. 4. Esportes de combate - TCC. 5. Educação física escolar - TCC. I. Oliveira, Márcio Romeu Ribas de. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 796.83 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

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“Se vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”

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AGRADECIMENTOS

Começo esses agradecimentos citando duas peças fundamentais na minha vida, meus dois porto seguros, dona Delma e Bia (ou meu bem, como costumo chamá-la). A primeira delas aquela me deu a vida, no sentido figurativo e literal, que sempre esteve para mim como a terra prometida esteve para o povo Judeu, aquela que após o falecimento do meu pai, assumiu a responsabilidade de não deixar faltar nada para mim, nem 1 centavo que fosse, seja ele de dinheiro ou de carinho, até o momento em que eu assuma a responsabilidade de não deixar faltar nada para mim e para ela. A você, mamãe, meu mais sincero muito obrigado. A segunda, aquela que assumiu a alcunha de mulher da minha vida, Ana Beatriz, ou Bia como costuma ser chamada por todos, que nas horas fáceis e difíceis permanece impávida, inflexível e inoxidável ao meu lado, me dando forças, sorrisos e razões para seguir caminhando, lutando e planejando nosso futuro, passo a passo. A você, meu bem, meu mais sincero muito obrigado.

Às minhas famílias, Alves e Jacinto, de onde herdei meu bom humor insuportável e meu jeito de me manter forte perante as dificuldades. A vocês, meu mais sincero muito obrigado.

À minha panela querida, Pichini, Ju, Jean, Luquinhas, Joãozão e Joãozinho, que se aventuraram comigo nesses 4 anos de curso, em trabalhos, em provas, em estudos, em conversas na cantina e também nas brigas, pois elas também fazem parte da nossa história, e a elas também devemos os seus devidos créditos. A vocês, meu mais sincero muito obrigado.

Ao meu querido orientador, esse que me acolheu enquanto bolsista, esse que é responsável pelos momentos mais engraçados junto a seu parceiro, prof. Allysson, no Lefem, e que abriu as portas da sua base de pesquisa para que eu pudesse, mesmo sem imaginar, complementar tanto minha formação. A você, Marcin, meu mais sincero muito obrigado.

Ao LEFEM e todos os seus componentes, que me mostraram que o aprender e o estudar nem sempre precisa ser uma obrigação séria, que a diversão e o companheirismo podem fazer parte do processo. Prof. Allyson, Serginho, Antônio, Carlão e os demais, à todos vocês, meu mais sincero muito obrigado.

À minha família do Kung Fu, meu mestre Sihing Flávio Maux, pelos ensinamentos, dentro e fora do tatame, que começou a me guiar no mesmo período que adentrei nessa graduação, e ao final dela, também estará encerrando um ciclo me concedendo a faixa preta. Ao Barbecue Team, como costumamos nos chamar, Fernandos (churrasqueiro e Fernandese), Marcelo, Letícia, Layse, Larissa e Robson, aqueles pelos quais vale a pena acordar cedo

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em um sábado para passar algumas horas da manhã trocando chutes e socos, vocês fazem do cansaço excessivo do treino um momento ímpar. À minha família Lung Fu, meu mais sincero muito obrigado.

Por fim, à todos os professores que fizeram parte da minha formação, direta e indiretamente, do Departamento de Educação Física ou não, cada um escreveu um pedacinho da sua história em mim, e assim aquele que chegou calouro, sai dessa graduação um professor. À todos vocês, meu mais sincero muito obrigado.

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“O passado é história. O futuro é um mistério. Mas o hoje é uma dádiva, por isso se chama presente.”

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RESUMO

A seguinte pesquisa objetivou compreender como os artefatos culturais - em específico a literatura - se relaciona com as questões didáticas e pedagógicas do ensinar e aprender educação física na escola e tendo como aspecto metodológico a estratégia da análise de conteúdo, se atendo às informações presentes no texto e aos respectivos contextos nos quais estavam incluídas, tendo como objeto de estudo a obra “Nocaute - Cinco histórias de boxe” do autor estadunidense Jack London. Foram encontrados, recortados, e analisados alguns trechos da obra em que a prática corporal boxe aparecia, tendo seus fundamentos e conceitos detalhados e que através destes seria possível ensinar e aprender esse esporte em sala de aula, bem como suas influências culturais em relação a mulher no esporte, como o sexo feminino era tratado em relação a essa temática e como avançou no decorrer dos tempos no Brasil, assim como também as relações de imigrantes no esporte e como essa dinâmica se apresenta nos dias atuais e reverberam em outros esportes, como o caso da França e seus dezenove atletas imigrantes presentes no título da Copa do Mundo de 2018 realizada na Rússia. Após aplicação de aulas com reflexões sobre o conto, experimentação prática da modalidade esportiva e encenação do combate ocorrido no livro, bem como depoimentos dos alunos sobre a experiência de usar uma literatura narrativa na Educação Física, pudemos chegar a conclusão que é possível utilizar essa ferramenta para ensino de determinados conteúdos, e a atribuição de sentido na prática se dá através do desenvolvimento e relacionamento na prática docente.

Palavras-chave: Jack London; boxe; literatura; narrativa; esportes de combate; escola

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ABSTRACT

The following research aimed to understand how cultural artifacts - specifically literature - relate to the didactic and pedagogical issues of teaching and learning physical education in school and having as methodological aspect the strategy of content analysis, taking into account the information present in the text. and the respective contexts in which they were included, having as object of study the work "Knockout - Five Boxing Stories" by the American author Jack London. It was found, cut, and analyzed some excerpts of the work in which body boxing practice appeared, having its foundations and concepts detailed and that through these would be possible to teach and learn this sport in the classroom, as well as its cultural influences in relation to women. in sport, how the female gender was treated in relation to this theme and how it has advanced over time in Brazil, as well as the relations of immigrants in sport and how this dynamic is present today and reverberate in other sports, such as France and its nineteen immigrant athletes attending the 2018 World Cup title held in Russia. After applying lessons with reflections on the tale, practical experimentation of the sport and playing the combat that occurred in the book, as well as student testimonials about the experience of using a narrative literature in Physical Education, we could conclude that it is possible to use this tool for teaching certain content, and the attribution of meaning in the practice occurs through the development and relationship in teaching practice.

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SUMÁRIO

1. ADENTRANDO A HISTÓRIA ... 10 1.1 Problemáticas de pesquisa ... 11 1.2 Objetivo geral ... 12 1.3 Objetivos específicos ... 12 1.4 Metodologia ... 12 2. INSPIRAÇÕES LITERÁRIAS ... 15

3. O LEGADO DE JACK LONDON ... 18

4. AS PÁGINAS TOMAM FORMA ... 24

5. CONSIDERAÇÕES NÃO TÃO FINAIS ... 27

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1.

ADENTRANDO A HISTÓRIA

A Educação Física na escola, em seu aspecto histórico, permaneceu sempre muito atrelada ao campo da biologia e da saúde, como por exemplo nos anos em que a finalidade desta era a preparação do corpo do indivíduo para uma possível servidão a pátria, entretanto, desde os anos 1980, ela vem sendo discutida, também, pelo campo das ciências humanas. (COLETIVO DE AUTORES, 1992)

Essas mudanças nas práticas de ensino e aprendizagem da Educação Física na escola são compreendidas como um movimento renovador no campo da educação física. Se no passado as práticas pedagógicas da educação física estavam associadas ao desenvolvimento da aptidão física e da perfeição nas técnicas esportivas, com esses novos modos de pensar o componente curricular, outros aspectos são instituídos no seu fazer pedagógico. Foi pensando nessa nova configuração que a ideia da pesquisa se deu, refletindo sobre possíveis outras formas de se pensar a disciplina nas salas de aula, como forma de abrir novos horizontes e maneiras de se trabalhar a cultura de movimento (KUNZ, 2014).

O profissional de educação física não atua sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha com o esporte em si, não lida com a ginástica em si, não trabalha com o esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento humanos, historicamente definidas como jogo, esporte, dança, luta e ginástica. (DAOLIO, 2004, p. 2 -3).

Partindo desse pensamento, reflexões acerca das possibilidades de utilizar a literatura para ensino da Educação Física emergem como um caminho ainda pouco utilizado, tendo em vista a mudança muito recente nas formas do pensar pedagógico da disciplina, bem como a aplicação prática desse pensamento.

Como justificativa para elaboração deste trabalho, foram pensadas as seguintes situações: pessoal - há muito tempo, desde o início do curso de maneira mais exata, houve desejo da minha parte de trabalhar em conjunto com

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o professor Márcio Romeu por ter sido o professor com quem mais me identifiquei ao ingressar na universidade, e a um ano e meio de concluir a graduação, o mesmo me acolheu enquanto seu bolsista de iniciação científica, então por consideração ao professor e seu ato de acolhimento em relação a mim, decidi adotar nosso projeto de Iniciação Científica - I.C. como meu trabalho de conclusão de curso, ao passo em que o mesmo me permitiu abordar no projeto um pouco das lutas, eixo temático pelo qual muito me interesso e o qual me ajudou a crescer na caminhada enquanto acadêmico; acadêmica - nossa pesquisa, de cunho exploratório , possui poucos trabalhos em território nacional que sigam a mesma linha metodológica, como elucida Botelho (2010) em seus escritos, então, seria uma adição, ainda que de pouco peso por se tratar de uma produção acadêmica advinda da graduação, mas que contribui para a academia e seus próximos trabalhos que tenham o mesmo interesse, bem como a adição de mais uma metodologia possível para as aulas dos nossos colegas de profissão, de modo a contribuir para uma maior variedade didática em sala de aula; social - a contribuição com a leitura talvez seja o que mais se encaixa nessa proposta de justificativa, pois possibilita as literaturas narrativas para sala de aula de modo a fazer com que tenha-se mais um espaço para leitura e discussões dessas narrativas a partir de uma outra perspectiva, pensando o que de cultura de movimento (KUNZ,1994) pode ser retirado e discutido acerca dessas produções literárias.

1.1 Problemáticas de pesquisa

Diante do exposto, essas aparições das práticas corporais em literaturas não acadêmicas nos levou aos seguintes questionamentos: É possível utilizar esse tipo de literatura como ferramenta didático-pedagógica nas aulas de Educação Física? Os alunos conseguem perceber a presença e pertinência dessas práticas em suas leituras?

Dessa forma, no decorrer do presente trabalho, apresentaremos essas aparições das práticas corporais presentes na literatura narrativa nacional e internacional, bem como possíveis formas de abordá-las em sala de aula, utilizando a unidade temática “lutas” proposta pela Base Nacional Comum Curricular - BNCC.

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1.2 Objetivo geral

Como objetivo geral da pesquisa, foi elencado “compreender como os artefatos culturais - em específico a literatura - se relaciona com as questões didáticas e pedagógicas do ensinar e aprender educação física na escola”.

1.3 Objetivos específicos

Como objetivos específicos selecionamos “analisar como essas narrativas literárias propõem sentidos às práticas corporais, em específico as lutas, desenvolvidas na escola” e “interpretar quais as possibilidades pedagógicas para as lutas no campo da educação física na escola são possíveis com a incorporação desses saberes à sua prática docente”.

1.4 Metodologia

Na presente pesquisa desenvolvemos um estudo qualitativo, destacado por Gerhardt e Silveira (2009) como um estudo em que não há preocupação com a representatividade numérica, e sim com a compreensão de um grupo social e os fenômenos que os envolvem, que compreende os tipos exploratório e descritiva, já que estamos utilizando de uma ferramenta ainda pouco explorada na Educação Física, bem como estaremos também apresentando a descrição das experiências que tivemos com o uso desse tipo de pedagogia.

A fase de desenvolvimento do método se dividiu em 2 instâncias, já que estamos falando de prospectar contextos de práticas corporais em literaturas narrativas para a partir das informações obtidas desenvolver uma sistematização focada nisso. Na primeira fase, nos empenhamos em analisar e retirar da obra “Nocaute – Cinco Histórias de Boxe” do autor estadunidense Jack London, recortes em que estivesse explícito características dos fundamentos técnico-táticos da modalidade, da sua história e cultura na qual estava inserida, obra essa que foi selecionada pela proximidade por ter no seu conteúdo, práticas similares as quais pratico, por critério de proximidade cotidiana. Na segunda fase, aulas foram sistematizadas e aplicadas para a turma da 2ª série do ensino médio do curso de Edificações do Instituto Federal de Educação, Ciência e

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Tecnologia do Rio Grande do Norte – Campus Natal-Central – IFRN-CNat. A turma em questão tinha presença de 25 a 30 alunos por aula, com idades variando de 15 a 17 anos.

Foram sistematizados 3 blocos de aulas para experimentação da metodologia proposta. As aulas tiveram duração de 90 minutos e ocorreram nos dias 25 de Outubro, 1 e 8 de Novembro do corrente ano, intervenções essas que serão apresentadas e discutidas no decorrer do trabalho. Para as intervenções, utilizei como principal inspiração, o trabalho desenvolvido por Costa Filho (2012), que realizou experiências realizando Educação Física e literatura na escola com turmas do ensino fundamental, aplicando aulas divididas em um momento reflexivo sobre a obra que ele utilizou, um momento de experimentação do tipo de prática corporal em questão e utilizaria e para finalizar, criação de esquetes para encenação do estudado ou criação de jogos novos que envolvessem os fundamentos da modalidade vivenciados em aula.

Para o levantamento dos dados presentes dentro da obra literária escolhida, realizamos uma análise descritiva para destrinchar os elementos referente ao boxe presentes no texto base e o que eles podem representar no seu uso em prol da Educação Física, ou seja, quando Jack London escreve que "Os dois homens abraçados num abraço tenso; ninguém atacava ninguém", fora de um contexto pode não significar nada, mas quando posto em uma situação em que o fenômeno observado é uma modalidade esportiva de combate, tendo o conhecimento específico, podemos aferir que a cena se trata de uma técnica utilizada conhecida como clinch. Dessa forma, os levantamentos iniciais se prosseguiram assim, identificando termos e sequências no texto em que fosse possível aferir propostas semânticas análogas a alguma cultura de movimento (KUNZ, 1994), e que assim fosse possível explorá-los futuramente em um fazer pedagógico.

Concluída a primeira parte de análise de conteúdo, o processo se prosseguiu através de uma pesquisa de campo, caracterizado por Marconi e Lakatos (2003, p.186) como

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[...] aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.

As mesmas autoras apontam que existem duas formas de observação para levantamento de dados em campo, são elas a "observação participante", na qual o pesquisador se coloca numa posição de inserção no grupo a ser pesquisado, seja ele ou não um membro comum dessa população, e a "observação não-participante", essa em que o pesquisador obtém as informações necessárias sem se integrar ao grupo social em questão (MARCONI; LAKATOS, 2003).

O universo amostral da pesquisa se organizou com adolescentes de 15 a 17 anos que estavam cursando o ensino médio, 2º série, e participavam das aulas de Educação Física.

Iniciamos os trabalhos apresentando a obra "Nocaute - Cinco contos de boxe", bem como um de seus contos para leitura e apreciação dos estudantes. Após isso, foi discutido o contexto social em que a prática corporal se insere, as suas características apresentadas no texto e o detalhamento dos aspectos técnicos pertencentes a modalidade esportiva em questão.

Dando continuidade, destacamos esse aspecto técnico presente na leitura para vivência prática, com o objetivo de experienciar a modalidade e um pouco da sua cultura de movimento (KUNZ, 1994). Em seguida, preparação e execução da releitura de uma cena do conto pelos alunos, como forma de trazer um olhar diferente para o que foi lido, releitura encenada por eles, em que foram adotados outros esportes, ou não, para o ensejo, outras técnicas, enfim, poderiam ser apresentadas possibilidades diferentes daquele mesmo recorte da obra. E por fim um diálogo, fazendo uma retrospectiva do que foi vivenciado, a pertinência do tema desenvolvido e a colaboração para o componente curricular, bem como o olhar desses alunos a respeito da metodologia utilizada, falando um pouco sobre o que eles tinham enxergado a partir das experimentações realizadas.

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2. INSPIRAÇÕES LITERÁRIAS

Pensando a partir do currículo da disciplina, na Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2017), a Educação Física está inserida no grande grupo temático das linguagens, isso implica em dizer que a linguagem precisa ser praticada nessas aulas, faz parte desse trabalho investigar formas mais diversificadas nessas práticas para que esses alunos ampliem suas capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas. No entanto, segundo Kunz (1994), é impossível separar o corpo da mente, visto que o pensar é tão corporal como correr, não podendo, então, serem possibilidades distintas, portanto, sendo negligência de um professor pensar que um jogo tenha de pertencer a uma “cultura corporal” e a leitura de um texto ser pertencente a uma “cultura intelectual”.

Unido a isso, outro autor clássico que corrobora com esse discurso da necessidade de identificar o indivíduo estudante enquanto um ser complexo, indissociável, é o Freire (1989). Na sua obra “Educação de corpo inteiro”, ele expõe inicialmente sua indignação com os padrões atuais que as escolas seguem nesse recorte histórico de quando foi produzido o livro. Padrões esses que muitos ainda se mantêm, retomando o que já foi supracitado, em uma tentativa de se dividir disciplinas que são para “pensar” e outras que são para “praticar”, que seria o caso da Educação Física, indo de encontro mais uma vez às reflexões de Kunz (1994). João Batista Freire, traz ainda suas ideias acerca de uma educação que seja significativa para os alunos, que faça parte do seu cotidiano histórico, cultural e social, não separadamente, mas que os conhecimentos passados sejam, ao mesmo tempo, integrados e significativos para os educandos.

Do ponto de vista de produção sobre o uso da literatura narrativa como instrumento metodológico nas aulas de Educação Física, Rafael Guimarães Botelho é um dos estudiosos que se enveredam por esse caminho. Em uma de suas produções científicas, ele relata sobre pesquisas sobre o tema que fez com autores anglófonos e chegou à conclusão de que apesar de ainda ser um conteúdo ainda pouco estudado no Brasil, ele já era cogitado desde 1950 por

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esses autores (BOTELHO, 2010). Ainda no mesmo trabalho, Botelho (2010) retrata que os aspectos relacionados a cultura de movimento presente nessas literaturas podem ser usados para criação de sequências de combate ou coreográficas, em aulas que a unidade temática seja dança, por exemplo.

Portanto, a partir do que dizem esses autores, pode-se imaginar uma Educação Física integrada à literatura, de modo que novas metodologias de ensino sejam pensadas a partir dessa ótica, o que seria a possível grande incógnita desta temática. Pode-se concordar que existe uma vasta gama de material, e não é necessário ir muito longe, na própria literatura brasileira temos exemplos de autores renomados e que trazem em suas obras situações onde as práticas corporais se fazem presentes, como Jorge Amado, em suas obras “Jubiabá” e “A bola e o goleiro”. Na segunda obra, principalmente, o esporte em foco é o futebol, têm-se várias passagens as quais podem ser destacadas e levadas para sala de aula com o fim de analisá-las e pensar como podem ser trabalhadas no contexto da disciplina. Na literatura estrangeira, tem-se Jack London e Ernest Hemingway que trazem narrativas focadas no esporte de combate Boxe.

Jack London, pertencente ao grupo das literaturas estrangeiras, será o autor que dará vida a esse projeto, a partir de sua obra "Nocaute: Cinco Histórias de Boxe", como citado anteriormente. Nessa narrativa, o autor traz 5 contos com boxeadores como peças chaves das histórias, cada uma com sua peculiaridade, e foco narrativo, tratando de diferentes perspectivas inerentes a esse esporte, desde o início da carreira, até as consequências de seu fim. Dessa forma, entendendo o que é proposto pela BNCC (BRASIL, 2017), quando a mesma fala que Educação Física é o componente curricular que:

tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. (BRASIL, 2017, p. 211).

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Já que tratamos da unidade temática Lutas do mundo proposto pela BNCC (BRASIL, 2017), autores como Barreiro (2005), Alencar et al. (2015) e Rufino e Darido (2012) propõem uma nova organização e acerca desse componente, que seja usada uma abordagem na qual se debata o conteúdo de forma ampla, considerando seus aspectos históricos, culturais e pedagógicos.

Barreiro (2005) expõe a necessidade de renunciar a algumas relutâncias, como a falta de experiência prática, quando o ponto é tratar sobre as lutas, principalmente ao pensar nestas como um patrimônio cultural da humanidade. Além disso, põe também em debate a primordialidade de ressignificar as lutas e suas modalidades esportivas para que possam contribuir com os objetivos educacionais propostos para a Educação Física escolar, o que corrobora com o pensamento de Alencar et al. (2015), ao refletir sobre as lutas estarem negligenciadas e necessitarem de uma sistematização para que essa realidade seja alterada em ambiente escolar.

Em paralelo a isso, Rufino e Darido (2012) objetivam uma aprendizagem significativa em relação ao conteúdo, considerando as subjetividades e empregando sentido as essas práticas, bem como as atitudes críticas que podem estar relacionadas a esse contexto.

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3. O LEGADO DE JACK LONDON

John Griffith Chaney, conhecido pelo pseudônimo de Jack London, autor da obra analisada, foi um romancista que viveu entre os anos de 1876 e 1916 nos quais escreveu cerca de 50 livros de ficção e não ficção. A obra “Nocaute - Cinco histórias de boxe” é uma coletânea de cinco contos escritos por Jack London entre 1905 e 1911, sendo todas elas, até onde se tem conhecimento, de conteúdo fictício, as quais retratam diferentes realidades de lutadores profissionais e amadores de boxe frente a vida. São eles “O jogo (1905)”, “O mexicano (1911)”, “O bife (1909)”, “O benefício da dúvida (1910)” e “A fera do abismo (1911)”. Os dois primeiros contos foram os que serviram de base de onde foram retirados os trechos para as discussões a seguir desenvolvidas.

A partir da leitura, apreciação e análise da obra selecionada, pudemos identificar em todo seu corpo a presença da modalidade esportiva do Boxe, como o próprio título já deixa claro. No entanto, há trechos em que mais do que uma simples alusão a modalidade, foi possível notar características específicas e detalhadamente descritas dessa cultura de movimento (KUNZ, 1994), tanto em seus quesitos técnico-táticos como histórico-culturais.

Iniciando os apontamentos acerca dos aspectos técnico-táticos, as técnicas bases são recorrentemente citadas durante o texto, como por exemplo: socos jab e direto, que são socos retos direcionados a face ou cabeça do oponente. Esses socos aparecem em todos os tipos de esportes de combate em que o foco é a marcação de pontos e/ou invalidação do oponente através desses movimentos. Bem como também são citados o soco cruzado, em que o impacto é desferido na lateral da cabeça, nas têmporas ou na região do queixo, quase sempre com o intuito de invalidar seu oponente através deste, da seguinte forma: “Ponta o acompanhava tão de perto que soltou um cruzado terrível na direção do maxilar desprotegido de Joe” (LONDON, 2013, p.40, grifo do autor). Assim como os socos uppercut ou gancho, soco que tem sua trajetória de baixo para cima buscando acertar o queixo do oponente, como exemplo tem-se no texto a seguinte passagem:

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Os olhos rápidos de Joe perceberam a abertura e ele mandou um soco violento na boca de Ponta, seguido de imediato por outro soco, meio cruzado e meio gancho, na direção do queixo do oponente. (LONDON, 2013, p.43, grifos do autor).

Outras formas de técnicas que senão de ataques, também são citadas no texto, e mesmo detalhadas para aquele que está lendo entender o que está acontecendo, e até, de certa forma, aprender tais movimentos se assim for de sua vontade. Um claro exemplo é a técnica conhecida como clinch, movimentação usada para sustentar o avanço do oponente, ou simplesmente para segurar a luta em um momento de exaustão e ter a chance de descansar por alguns segundos até que o árbitro separe os dois lutadores e reinicie a luta. Esse fundamento é detalhado por uma personagem no seguinte trecho: “Os dois homens estavam enlaçados num abraço tenso; ninguém atacava ninguém. E reconheceu o que Joe tinha descrito para ela como um clinch (LONDON, 2013, p.39).

Em outro trecho na mesma página, mais um fundamento básico das modalidades esportivas de combate (FRANCHINI e VECCHIO, 2011) conhecido como posição de guarda ou simplesmente guarda é apresentado. É um conjunto de técnicas utilizadas para que o atleta tenha liberdade e base tanto para atacar seu adversário da maneira mais letal possível sem abrir mão de sua segurança, quanto para bloquear mais rapidamente em caso de avanço e se movimentar sem colocar em risco o seu equilíbrio, e é descrito pelo narrador da seguinte forma:

O pé esquerdo um pouco adiantado, os joelhos ligeiramente fletidos, ele estava abaixado, com a cabeça bem encaixada entre os ombros que lhe serviam de escudo. Suas mãos estavam postadas diante de si, prontas tanto para atacar quanto para se defender. (LONDON, 2013, p.39).

Em referência a aspectos táticos da modalidade em determinado momento da luta, o narrador descreve uma tática utilizada pelo personagem principal do conto para que através desta ele tenha chance de vencer a luta contra um oponente teoricamente mais forte e com mais vitalidade que ele:

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Raramente tentava encaixar um soco, pois Ponta tinha os olhos rápidos e sabia se defender tão bem quanto atacava, enquanto Joe não tinha a menor chance contra a imensa vitalidade do oponente. Sua chance estava em esperar que toda a energia de Ponta por fim se extinguisse. (LONDON, 2013, p. 41).

Com relação a regras o texto também faz suas descrições para entendimento do leitor, como por exemplo a duração de cada round de luta e o descanso após seu encerramento, como no recorte a seguir:

O gongo soou. Parecia que os dois já lutavam havia pelo menos meia hora, embora, pelo que Joe lhe havia dito, Genevieve soubesse que haviam sido apenas três minutos. Ao som do gongo, os segundos de Joe atravessaram as cordas e o conduziram até seu corner, para o abençoado minuto de descanso. (LONDON, 2013, p.40).

Para encerramento da luta por contagem, são descritos os termos “knock down” e “knock out”, duas situações em que o lutador se põe ao ir ao chão após um potente ataque de seu oponente como é detalhado em: “Se o joelho ainda estivesse encostado na lona no dez, ele continuaria “down”, caído, e de “knocked down”, derrubado, se tornaria “knocked out”, nocauteado. (LONDON, 2013, p.82)”, com dez o narrador faz alusão à contagem de dez segundos realizada pelo árbitro da luta quando o atleta vai ao chão após um golpe de seu oponente e tem esse tempo para se colocar de pé e mostrar que ainda permanece apto a prosseguir com o combate.

Em seu contexto histórico-cultural, a obra se passa nas primeiras décadas do século XX, entre os anos de 1905 e 1911, nos Estados Unidos da América e retrata uma realidade em que as mulheres eram impedidas de sequer frequentarem os ambientes onde as lutas eram travadas, quando uma personagem precisa se disfarçar de homem para ter a oportunidade de assistir a luta de seu noivo.

Joe cobriu a cabeça de Genevieve com um boné e levantou a gola do sobretudo, que, generosa ao ponto do exagero, encontrou-se com o boné e escondeu completamente seus cabelos. Quando ele abotoou a gola na parte da frente do sobretudo, suas pontas ainda

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ocultaram as faces da moça; o queixo e a boca ficaram enterrados nas profundezas do sobretudo, e um exame mais detido revelava apenas os olhos sombreados e um nariz um pouco mais exposto à claridade. (LONDON, 2013, p.30.)

Em outra passagem, a segregação das mulheres no ambiente pugilista é mais explícita ainda na fala de um personagem quando o mesmo, ao notar a presença de uma mulher em meio a torcida esbraveja: “Quem é você? [...] Uma garota, ora vejam só!” (LONDON, 2013, p. 55), bem como a própria exposição da personagem por se envolver amorosamente com um lutador de boxe e ser exposta pelo jornal por estar em uma arena vestida de homem na fala de sua mãe furiosa com a situação: “Você vai e namorra um lutador! E agorra o seu nome vai sair na jornal! Numa luta… e de roupas de homem! Menina descarrada! (LONDON, 2013, p. 55).

E esse pode ser considerado só um breve exemplo da característica machista presentes nos esportes de combate da época, bem como em outros esportes. Uma clara constatação disso, não muito distante da realidade em que vivemos, quando o esporte começou a ser regularizado no Brasil durante o período histórico conhecido como Estado Novo em que as mulheres não eram permitidas práticas incompatíveis com o corpo feminino, o qual deveria ser gracioso e preparado para a maternidade (CASTELLANI FILHO, 1989).

Goellner (2006) apresenta um ponto de vista mais positivo e esperançoso em relação a inclusão do sexo feminino no ambiente esportivo, fazendo um comparativo do número de atletas brasileiras serem iguais ao de atletas do sexo masculino durante as Olimpíadas de Atenas (2004), ainda que o acesso destas mulheres às práticas esportivas tanto pelo rendimento quanto pelo lazer sejam mais complexas do que seu sexo oposto. A mesma expõe o fato histórico da primeira brasileira em uma prova de natação durante as Olimpíadas de Los Angeles em 1932, a hoje tão homenageada dentro da modalidade Maria Lenk, aos 17 anos. No entanto, assim como Castellani Filho (1989), Silvana Goellner (2006) traz a realidade de como as mulheres começaram a ter acesso ao esporte no território brasileiro, o qual foi por meio das tendências das elites européias, as quais tinham muito gosto pelo hipismo e tênis, os quais as mulheres

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praticavam por serem preferidos das aristocracias e não tirarem a graça da sua feminilidade.

Diminuindo mais a abrangência do contexto, chegando a presença feminina no boxe, Fernandes (2014) em sua análise do filme “Menina de Ouro” do diretor Clint Eastwood, faz apontamentos sobre o filme “Girlfighting” como o primeiro filme em que se retratou a história de uma atleta pugilista do sexo feminino, bem como a importância da primeira película citada ao ganhar 4 oscars em seu ano de exibição, dentre eles o de melhor filme, o que teve importância substancial para as atletas praticantes de boxe e aquelas que tinham a pretensão de se tornar uma, ao mostrar a maneira vencedora e guerreira como a personagem e pugilista Maggie Fitzgerald levava sua vida dentro e fora dos ringues, ao lutar contra todo o preconceito e discriminação por ser uma mulher em um esporte hipoteticamente de homens.

Outro aspecto importante retratado pela obra, é a xenofobia dentro do esporte. Durante um diálogo entre dois lutadores, um nativo dos Estados Unidos e outro imigrante advindo do México, tido como imigrante, durante um cumprimento antes da luta começar, o lutador estadunidense fala os seguintes dizeres para o mexicano: “Seu rato mexicano [...] Vou arrancar a sua pele amarela”, em um ato de total falta de esportividade, de racismo e principalmente de xenofobia.

Apesar da distância temporal entre os dias atuais e a época em que a obra está localizada, o tema permanece em pauta. Muito recente, o caso dos atletas franceses descendentes de imigrantes africanos da equipe de futebol, os quais compunham a maior parte dos que começavam os jogos em campo durante a última Copa do Mundo em 2018 realizada na Rússia, e que esses sofriam recorrentemente casos de xenofobia e racismo por estarem “ocupando” os lugares daqueles que tinham sua ascendência totalmente francesa. Oliva (2015) traz nos seus escritos relatos sobre a polêmica envolvendo a Federação Francesa de Futebol - FFF em 2011 quando a imprensa francesa publicou um suposto plano da instituição de limitar o acesso de atletas imigrantes e seus descendentes às equipes de base e profissionais do país, possivelmente atribuindo a estes os fracassos da seleção nas copas de 2002, 2006 e 2010, mesmo após o título da Copa do Mundo de 1998, o qual teve como principais

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atletas Zinedine Zidane, possui ascendência Argelina, Thierry Henry, franco-antilhano e Lilian Thuram, franco-antilhano.

Essa pauta xenofóbica e uma possível culpa por más atuações caiu totalmente por terra quando no ano passado, 2018, a seleção francesa de futebol se sagrou campeã mundial na Copa do Mundo realizada na Rússia com 19 atletas imigrantes dentre os 23 convocados para disputar a competição.

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4. AS PÁGINAS TOMAM FORMA

No dia 25 de outubro de 2019 foram iniciadas as intervenções na turma da 2ª série do ensino médio do curso de Edificações no IFRN - CNat, como comentado anteriormente, sob a tutela do professor Ewerton Vieira. Lembrando que cada um dos encontros aconteceu no intervalo de 2 aulas de Educação Física, com duração total de 90 minutos.

Antes do primeiro encontro, disponibilizamos aos alunos uma cópia digitalizada do conto “O jogo” da obra selecionada, para leitura e discussão de alguns pontos no encontro em sala de aula.

No primeiro dia de intervenções, a aula iniciou-se com a leitura individual e silenciosa durante os 30 primeiros minutos de aula. Encerrado esse tempo, começou-se uma discussão sobre que aspectos técnicos e histórico-culturais a turma pode perceber no que havia lido. Das técnicas, me foi reportado o aparecimento da técnica de clinch, posição de guarda e esquivas e dos golpes jab, direto, cruzado e uppercut. Foi percebido também pela turma o caráter machista que a modalidade possuía na época, no trecho em que uma personagem aparece se vestindo de homem para poder contemplar uma luta de boxe dentro da arena, assim como recomendam Rufino e Darido (2012) sobre levar aos alunos os contextos histórico e cultural das modalidades estudadas. Para finalizar esse encontro, realizamos um jogo pré-desportivo que simulava uma luta de boxe, com 2 lutadores, 2 corners e 1 árbitro, de maneira a vivenciar previamente antes da experimentação prática da modalidade. No jogo, os competidores tinham que marcar 3 pontos no seu adversário, e esse ponto era gerado com um toque no ombro.

No segundo encontro, realizado no dia 01 de novembro, a metodologia adotada foi uma experimentação prática de alguns fundamentos básicos do boxe. Iniciamos com a posição de guarda com movimentação de avanço, recuo e lateral, em seguida vivenciamos os golpes jab, direto, cruzado e uppercut. Feita essa parte de vivência individual, realizamos uma dinâmica de entrada com golpe e recuo com os alunos divididos em duplas alternando esses fundamentos. Após concluído esse conjunto de técnicas, elevamos um pouco mais a

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complexidade dos movimentos, adicionando um bloqueio com contra-ataque, atividade essa em que um da dupla atacava e o outro realizava um bloqueio e contra-atacava utilizando a mão contrária.

Por fim, transformamos o jogo da aula anterior com uma ambiência que retratasse melhor a pressão e empolgação na qual esse esporte está inserido. Todos os alunos ficaram em roda, de braços dados, com 2 alunos em “combate”, devendo acertar toques nos ombros ou no tronco, e eu na posição de árbitro da luta. Esses alunos em volta torciam, provocavam, apostavam, tudo isso tentando representar o ambiente real de combate que eles puderam reconhecer no texto, de forma a tornar essa vivência mais próxima da realidade. Ao final desse encontro, foi sugerida a formação de trios para encenação da luta que acontece no conto em questão, no entanto, como mencionado na metodologia deste trabalho, podendo fazer uma releitura através das outras modalidades as quais a turma vivenciou no bimestre anterior ao atual.

Chegando ao último encontro destinado a vivência desta sistematização de aulas, a turma se reuniu em forma de platéia de maneira a apreciar as interpretações levadas por seus colegas. Ocorreu inicialmente uma falta de participação no compromisso em desenvolver a atividade proposta, no entanto, aqueles que assumiram o compromisso apresentaram um resultado interessante no que diz respeito a aprendizagem do conteúdo proposto, o boxe. Houve apresentações mais formais, demonstrando cada fundamento aprendido na segunda aula, bem como mudança de luta durante a performance, variando do boxe para o taekwondo, para o karate, em seguida para o jiu-jitsu, perpassando e demonstrando o aprendizado obtido por eles com outras modalidades. Bem como houveram apresentações de cunho mais cômico, misturando a realidade encontrada no livro com momentos mais cômicos, ao cair após um soco como se estivesse desmaiando depois de comer uma maçã envenenada e também houveram aqueles que representaram algo mais próximo de um esporte mais espetacularizado como temos o Mixed Martial Arts - MMA presente no Ultimate Fighting Championship - UFC nos dias atuais, com torcida gritando, entrada em ringue de maneira mais performática.

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Encerradas as apresentações, sentamos todos juntos para discutir uma devolutiva referente a esses três encontros que vivenciamos. Propus o questionamento sobre a impressão dos estudantes sobre o método pelo qual vivenciamos o conteúdo e qual opinião deles sobre a pertinência de vivenciar uma unidade temática da Educação Física através daquela ótica. Obtive respostas sucintas como: “divertido”, “diferente” e “dinâmico”, no entanto, ouvi de dois alunos uma resposta que demonstrou que em algumas daquelas mentes, atingimos os nossos objetivos, foram elas: “o método usado foi impressionante já que o livro e a literatura não fazem parte dos componentes comuns da Educação Física e foi interessante ver que a gente pode aprender assim” e “foi possível perceber que não é preciso estar imerso na prática para aprender sobre um esporte”. Observações essas que iluminaram o fio existente entre a prática docente fomentada pelos estudos realizados durante a confecção deste trabalho e os objetivos elencados ao mesmo, de forma que no decorrer do trabalho, compreendemos e desenvolvemos um ideal de intervenção pedagógica que utilizasse a literatura narrativa como uma ferramenta didático-pedagógica para ensino da Educação Física, incorporamos esse projeto no fazer docente de modo a poder refletir sobre a possibilidade do seu uso e através do retorno dado pelos alunos, pudemos aferir que houve sentido nessa relação literatura-educação física que propusemos ao desenvolver esse trabalho.

De mais a mais, toda a minha experiência para desenvolvimento das regências supracitadas foi embasada e inspirada no que acreditam Barreiro (2005), quando este propõe que as aulas de lutas ou esportes de combate devem ser vivenciadas em sala pelo bem maior do aluno, procurando serem deixadas de lado as inseguranças por não ser praticante ou experiente na modalidade, como é o meu caso. Assim como também discute Gomes et. al (2013) sobre os conteúdos da escola fazerem parte do crescimento e desenvolvimento dos alunos enquanto indivíduos, e ao propor discussões sobre machismo no esporte, principalmente, tema atemporal a ser estudado dentro da Educação Física, acredito que contribui para a formação cidadã desses alunos.

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5. CONSIDERAÇÕES NÃO TÃO FINAIS

Considero então tendo atingido os objetivos pensados, mas não de maneira restrita, pois enquanto um estudo científico, as possibilidades se mantém em aberto, podendo outros pesquisadores darem continuidade aos estudos, estendendo o tipo de estudo a outras modalidades esportivas, bem como também outros níveis de ensino e talvez até pensar esse tipo de metodologia em um projeto para formação de professores, podendo até questionar os resultados aqui encontrados, pois o conhecimento é fluído como um rio, e no decorrer do seu caminho tomar outras formas e outras concepções.

Através do trabalho desenvolvido pudemos vivenciar uma forma diferente do trabalho docente na Educação Física. Tivemos a oportunidade de usar um artefato cultural não comum a disciplina e colher bons frutos acadêmicos e profissionais a partir da experiência tida. Podendo constatar na pele que, intensamente, não estamos vivenciando uma prática corporal apenas se estivermos experimentando-a pelo corpo em movimento estritamente, mas se estamos lendo, pensando e discutindo sobre essa prática e os conteúdos e reflexões que a transpassam, também vivenciaremos ela e aprendendo sobre, assim como aprendemos com as leituras realizadas.

Estar bem engajado com seu contexto de acontecimento, sua história e relevância para os locais onde estão inseridas essas práticas, atribui sentido ao fazer docente, é necessário levar em conta seus contextos histórico e culturais, como forma de ensinar a partir de uma visão ampla do conteúdo, não levando os alunos para uma especificidade desnecessária àquela formação, desconsiderando também o que há de mais importante no legado das experiências, sua história.

Para retomar os objetivos pensados, temos como geral o “compreender como os artefatos culturais - em específico a literatura - se relaciona com as questões didáticas e pedagógicas do ensinar e aprender educação física na escola”, foi percebido que no contexto de sala de aula, usar o livro como ferramenta causou estranheza inicialmente nos alunos, mas também despertou curiosidade ao fazê-los questionarem como o seu uso se relacionaria com as

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aulas de Educação Física. Retomando os objetivos específicos, no primeiro deles, acredito que o sentido se deu a partir do momento em que os alunos realizaram a leitura e perceberam a presença de assuntos pertinentes ao debate da Educação Física e o esporte na escola, seja em uma visão mais técnica, com a presença de golpes da modalidade, bem como em um contexto mais crítico, como a discussão de gênero e a inserção da mulher no esporte. E por último, como uma possibilidade pedagógica para a vivência docente, tem-se o que nós desenvolvemos no decorrer das três aulas, com leitura e discussão, uma prática sobre a modalidade e uma encenação com possível releitura do livro em questão, fazendo com que o eixo central que era a modalidade esportiva contida na obra fosse presente em todas as experiências.

Ademais, este trabalho é só mais uma contribuição para fomentar tal tipo de estudo no Brasil, trazendo outra metodologia diferente da proposta por Costa Filho (2012) de reflexões sobre o texto escolhido, experimentação prática da modalidade e uma intervenção que relacione o objeto e a prática corporal, experiência na qual me espelhei. Por isso, nomeei este último escrito como “Considerações não tão finais”, haja vista que outros virão, outros terão novos olhares sobre o estudo e assim deixarão também a sua contribuição para academia e para a docência na Educação Física, fazendo com que meus últimos apontamentos não seja finais, e sim meio deste caminho, podendo tornar mais florido e frutuoso ainda a estrada que é ser professor de Educação Física.

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