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A qualidade de vida do idoso e o seu bem-estar social

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE

Escola Superior de Educação e Comunicação

A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO E O SEU

BEM-ESTAR SOCIAL

Joana Mafalda Amaral Vieira da Silva

Mestrado em Educação Social

Orientado pela Professor Doutora Joaquina Castillo e

Professor Doutor António Fragoso de Almeida

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Agradecimentos

Ao dar início a este meu trabalho, não queria deixar de registar algumas palavras de agradecimento a todos aqueles que, de uma forma mais ou menos intensa, marcaram o meu percurso e me ajudaram a alcançar este meu objetivo.

É pena que as palavras sejam tão áridas para retratar a dimensão de certos sentimentos que nos assolam em momentos importantes da nossa vida, como é este.

Gostaria de agradecer a todos aqueles que ao longo do caminho se fizeram presentes através do apoio, estímulo, motivação, conselhos, sugestões, nomeadamente, aos amigos, colegas, professores e alunos, cuja lista de nomes seria demasiado extensa para apresentar aqui. Bem hajam todos. Os amigos da caminhada, os que me ensinaram a interpretar o mundo, os que criticaram com o intento da construção, os que me deram alento nos momentos de desânimo e cansaço e todos os que acreditaram em mim.

Assim…

Ao director de curso do mestrado em Educação Social António Fragoso pela sua presença constante e compreensiva, bem como, pela sua imprescindível orientação teórica e cientifica.

À minha orientadora Joaquina Castillo pela disponibilidade e compreensão que teve comigo durante o tempo de realização deste trabalho escrito.

Ás minhas colegas de Mestrado pela amizade, confiança e pela coragem que sempre me deram.

Não posso esquecer, dos idosos pelo carinho com que se disponibilizaram em partilhar as suas experiências de vida, com alegria e satisfação, e a quem devo os dados que possibilitaram a execução desta tese de mestrado, pois sem eles não era possível a realização deste trabalho.

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A toda a minha família, colegas de trabalho, mas em especial aos meus pais, que estiveram sempre comigo a apoiarem-me neste trajeto de estudos e por terem feito sacrifícios em ajudar-me, de facto, a levar até ao fim esta tarefa.

Por fim, um agradecimento muito especial ao meu marido, pela presença consubstanciada em companheirismo genuíno, pela paciência, por nunca ter deixado de acreditar na concretização deste trabalho, estimular sem nunca vacilar, e também por apoiar e ajudar em tarefas concretas num verdadeiro trabalho de equipa.

A todos Estes e Aqueles que involuntariamente não referi,

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Viagem

Aparelhei o barco da ilusão E reforcei a fé de marinheiro. Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

(Só nos é concedida Esta vida Que temos; E é nela que é preciso

Procurar O velho paraíso Que perdemos.)

Prestes, larguei a vela E disse adeus ao cais, à paz tolhida.

Desmedida, A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação Numa errante e alada sepultura... Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura, O que importa é partir, não é chegar.

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Abreviaturas e Siglas

AD - Atividades diárias

ADI - Apoio Domiciliário Integrado AFI - Acolhimento Familiar de Idosos

ATEI - Acolhimentos Temporários de Emergência para Idosos BES - Bem-estar subjetivo

CAT - Centro de Acolhimento Temporário CC - Centros de Convívio

CD - Centros de Dia

CSIA – Centro Social Interparoquial de Abrantes CN - Centros de Noite

HDL - Colesterol

INE - Instituto Nacional de Estatística

I.P.S.S. – Instituição Particular de Solidariedade Social I.P.S.S.’s. – Instituições Particulares de Solidariedade Sociais NA - Afetividade negativa

OMS - Organização Mundial de Saúde ONU - Organização das Nações Unidas PA - Afetividade positiva

PNSPI - Plano Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas PNUD - Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento QV - qualidade de vida

QVRS - Qualidade de Vida Relacionada à Saúde SAD - Serviços de Apoio Domiciliário

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Índice

Abreviaturas E Siglas ... IV Resumo ... VIII

Introdução ... 1

Introdução ... 2

Problemática E Justificação Do Tema ... 2

Pertinência Do Tema ... 4

Objetivos ... 5

Estrutura Do Trabalho ... 6

Capítulo I ... 8

1 Envelhecimento Populacional ... 9

2 Conceito De Velhice Ou Idoso ... 12

2.1. Abordagem Multidisciplinar Do Processo De Envelhecimento ... 15

2.1.1. Aspetos Biofisiológicos ... 16

2.1.2. Aspetos Psicológicos: ... 17

2.1.3. Aspetos Sociais: ... 19

3 “Velhos Reformados” Ou “Velhos E Reformados ... 21

4 Consequências Do Envelhecimento ... 24

5 Envelhecimento Como Situação De Crise ... 26

5.1 A Solidão Como Consequência Da Velhice ... 28

Capítulo Ii ... 32

1 Qualidade De Vida: Conceito ... 33

1.1 Impacto Da Aposentação Antecipada Na Qualidade De Vida ... 34

1.2 Impacto Dos Seus Problemas Biopsicossociais Na Qualidade De Vida ... 34

1.3 Autonomia / Dependência / Independência Do Idoso E Qualidade De Vida .. ... 39

1.4 Família, Trocas Intergeracionais E Solidariedade Formal ... 42

2 Gerontotecnologia ... 46

2.1 Redes De Solidariedade ... 48

2.2 Impacto Das Redes De Solidariedade Informais ... 49

2.2.1 A Família ... 49

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2.2.3 Impacto Das Redes De Solidariedade Formais: Seu Papel E Importância... 53

2.2.4 Ambiente Da Ipss: Sua Influencia No Comportamento Do Idoso ... 56

2.2.4.1 Centro De Dia ... 58

Capitulo Iii – Estudo Empírico ... 62

1 Metodologia ... 63

1.1 Método: Estudo De Caso ... 66

1.1.1 Procedimentos ... 68

1.1.1.1 Técnicas De Observação E Recolha De Dados ... 68

2 Caraterização Do Espaço Do Estudo ... 73

2.1. Geográfica ... 73

2.2. Ocioeconómica ... 74

3. Caracterização Da População Em Estudo ... 76

3.1. Caracterização Dos Entrevistados ... 76

3.1. Caracterização Dos Inquiridos ... 77

Capitulo Iv – Resultados ... 80

1. Apoio De Solidariedade Formal ... 81

1.1. Estado De Saúde Geral ... 82

1.1.1. Percepção Do Seu Estado Físico ... 84

1.1.1.1. Percepção De Independência/Autonomia ... 86

1.2. Aspectos Sociais E A Qualidade De Vida ... 89

1.3. Percepção Sobre A Sua Qualidade De Vida ... 90

Conclusões ... 93

Referências ... 97

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Índice de Mapa

Mapa 1 –Concelho de Abrantes ... 73

Índice de Gráficos Gráfico 1. Índice de envelhecimento europeu ... 10

Gráfico 2. Estrutura da população residente em Portugal por grupos etários em 1981, 1991, 2001, 2011 ... 12

Gráfico 3. Caracterização dos entrevistados por faixa etária (n=10) ... 76

Índice de Quadros Quadro 1. Ciclos da Vida ... 18

Índice de Tabelas Tabela 1. Índice de envelhecimento segundo os censos de 2011 ... 74

Tabela 2. Índice de longevidade segundo os censos de 2011 ... 74

Tabela 3. Caracterização sociodemografica da amostra ... 77

Tabela 4. Caracterização da amostra segundo a situação socioeconómica ... 78

Tabela 5. Caracterização da amostra segundo a situação face à reforma ... 79

Tabela 6. Caracterização da amostra segundo a situação face à reforma ... 81

Tabela 7. Problemas de Saúde ... 82

Tabela 8. Percepção do estado geral de saúde ... 83

Tabela 9. Analise de conteúdo das entrevistas (n=10) ... 83

Tabela 10. Percepção do estado físico ... 84

Tabela 11. Prática de exercício ... 85

Tabela 12. Percepção de autonomia ... 86

Tabela 13. Percepção do estado físico e autonomia ... 87

Tabela 14. Autonomia e qualidade de vida ... 88

Tabela 15. Percepção da sua autonomia ... 88

Tabela 16. Autonomia e trabalho ... 89

Tabela 17. Vida social e qualidade de vida ... 89

Tabela 18. Vida social e qualidade de vida ... 90

Tabela 19. Factores que influenciam a qualidade de vida ... 91

Tabela 20. Factores que influenciam a qualidade de vida ... 91

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RESUMO

Verifica-se hoje um crescimento da taxa de longevidade, e o número de pessoas que atinge a terceira idade tende a aumentar, devido ao desenvolvimento da medicina neste século. Com o crescimento desta população, aumenta a atividades de lazer e ainda há muito a ser feito para que a terceira idade se constitua a faixa etária privilegiada para a vivência do seu lazer. A inversão da pirâmide etária na segunda metade do século XX acarreta um novo fenómeno: o envelhecimento demográfico (Nazareth, 2009). Neste sentido, a sociedade civil tende a organizar-se para criar respostas, entre elas os lares de idosos. Estes emergem inicialmente como “depósitos”, os chamados asilos para velhos. Embora ainda hoje, haja mudanças que encaminham e exigem das instituições uma maior Qualidade de Vida (QV) para os idosos.

Desta preocupação nasce o interesse desta investigação em avaliar a QV e o bem-estar social dos idosos numa instituição social, com o objetivo principal de conhecer a opinião da população idosa com idade igual ou superior a 65 anos individualmente e em grupo, a oito idosos homens e mulheres, de um estudo feito numa instituição social “CSIA” das valências de apoio domiciliário e centro de convívio, sobre a sua qualidade de vida de uma maneira geral. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório e descritivo.

Os principais resultados indicam que: para alguns dos idosos desta instituição é motivador a parte da qualidade de vida, o estar ocupado, conviver com outros idosos, e participar em atividades de grupo e tarefas do seu dia a dia. Os idosos que estão no centro de convívio, apresentam uma maior capacidade, vitalidade, porque estão mais ativos e assim conseguem ter um a maior qualidade de vida e bem-estar social, do que os outros que permanecem mais nas suas casas isolados, com pouco apoio da família, e com uma maior dependência, apresentando uma saúde mental e um bem-estar bio-psico-social inferior aos outros, porque também existe aquelas situações os seus problemas de saúde não os deixam participar tão ativamente nas rotinas ou atividades do seu dia a dia.

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SUMMARY

There is now a growth rate of human longevity. The number of people reaching old ages tend to increase due to the development of medicine in this century. With this population growth, increase leisure activities, which means that there is still much to be done to the elderly age group is constituted privileged to experience your leisure.

The inversion of the age pyramid in the second half of the twentieth century brings a new phenomenon: the aging population (Nazareth, 2009). In this sense, civil society tends to organize itself to create responses, including elderly homes. These emerge initially as "deposits", so-called old asylums. While today, there are changes that require forward and institutions a greater quality of life (QOL) for the elderly.

This concern makes the interest of this investigation to assess QOL and well-being of older people in a social institution, with the main objetive of knowing the opinion of the elderly people with and more than 65 years, individually and in groups, of eight elderly men and women, a study of a social institution "CSIA" valences of home support and social center, on their quality of life in general. It is a qualitative, exploratory and descriptive study.

The main results indicate that, for some people of this old institutions is the motivation of the living quality, the fact of being busy, the socialization with other seniors and participation in group activities and daily tasks. The elderly who are living in downtown, have a greater capacity, vitality, because they are more ative and thus able to have an improved quality of life and social welfare, than the others remain more isolated in their homes, with little family support, and a greater dependence, with a mental health and well-being a bio-psycho-social inferior to others, there are also those situations that their health problems do not let them participate actively in its activities or daily routines.

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Introdução

Problemática e justificação do tema

A demografia tem se debruçado sobre o processo de envelhecimento da população, alertando sobre o ritmo acelerado vivido, com o aumento do idoso e com a abrupta redução da base da pirâmide demográfica, representada pela população mais jovem. O envelhecimento pode ser analisado sob duas grandes perspectivas: por si só, refere-se a um processo contínuo de alteração biológica e longevidade dos indivíduos, sendo o culminar do aumento da esperança média de vida. Por outro lado, o envelhecimento demográfico, define-se pelo aumento da proporção das pessoas idosas na população total. (Rosa, 1993; Andrade, 2003, Moreira, 2008)

A preocupação com a gerontologia, prende-se fundamentalmente com o aumento da esperança de vida (Nazareth, 1994, 2000), A demografia populacional revela a existência de uma involução ou inversão da pirâmide populacional com uma tendência dominante da dinâmica das populações dos países desenvolvidos e, que a seu tempo, se refiltira ao nível da população mundial.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e a OMS (2002), os países da Europa do sul apresentarão as mais altas percentagens de pessoas com mais de 65 anos, estimando-se que excedam os 9 mil milhões de habitantes até 2050. Estas organizações alertam que em 2025 existirão 1,2 biliões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os muito idosos (com 80 ou mais anos) atingirão cerca de 406 milhões. Portugal não se encontra à margem deste tendência por exemplo na década de 50, a população portuguesa aumentou 7% (Fernandes, 1997; Andrade, 2009), entre 1960 e 2001. O fenómeno do envelhecimento demográfico em Portugal associa-se a um declínio de 36% nos jovens e um incremento de 140% da população idosa (INE, 2001).

Costa (2002) refere que Portugal e outros países Europeus formam um conjunto de países que, sob o ponto de vista demográfico caracterizam-se por uma baixa fecundidade e mortalidade. As alterações demográficas do último século, que se traduziram na modificação e por vezes inversão das pirâmides etárias, reflectindo o envelhecimento da população, vieram colocar aos governos, as famílias e à sociedade em geral, desafios para os quais não estavam preparados.

Com o aumento da esperança de vida, surge uma maior preocupação com os conceitos de saúde e doença. A OMS definiu saúde como um estado de bem-estar físico, mental e social, não considerando apenas a ausência de doença. Porém, as

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ciências médicas têm tomado como prioridade o estudo da doença em si e de formas de avaliar a sua frequência e intensidade (Orley, Saxena e Herrman, 1998).

Nos últimos anos, as medidas tradicionais de saúde têm-se focado nos indicadores tradicionais como a mortalidade, a morbilidade, tomando como base medidas relativas ao impacto da doença nas actividades diárias e no comportamento, medidas de saúde percebida e medidas relacionadas com a incapacidade funcional. Todas estas medidas acabam por se restringir ao impacto da doença e não à qualidade de vida em si. Com a humanização das ciências humanas e biológicas emerge a necessidade da valorização de parâmetros que sejam mais amplos do que o controlo de sintomas, diminuição da mortalidade ou o aumento da esperança média de vida (Fleck, Leal, Louzada, Xavier, Chachamovich, Vieira, Santos, e Pinzon, 1999).

Perante esses factos importa desenvolver meios para melhor atender às dificuldades do crescente grupo de idosos. Parece que a obtenção de dados de caracterização da qualidade de vida e bem-estar dos idosos, do ponto de vista dos próprios, é um dado que pode ser fundamental para dinamizar medidas adequadas a essa população que permitam o alcançar de um envelhecimento bem sucedido.

As teorias do envelhecimento bem sucedido vêem o sujeito como proativo, regulando a sua qualidade de vida através da definição de objetivos e lutando para os alcançar, acumulando recursos que são úteis na adaptação à mudança e ativamente envolvidos na manutenção do bem-estar. Sendo assim, um envelhecimento bem sucedido é acompanhado de qualidade de vida e bem-estar e deve ser fomentado ao longo dos estados anteriores de desenvolvimento. Ao longo dos anos a área da qualidade de vida tem despertado interesse cientifico, e apesar de ainda não ser consensual o conceito, Ferrans (1990) refere que algumas definições centram-se na capacidade funcional da pessoa, na satisfação ou felicidade, outras na realização de objectivos e outras na capacidade de funcionamento social, tratando-se de um conceito que é interpretado por todos, cada um ao seu modo (McIntyre, 1994).

De acordo com o Grupo da Qualidade de Vida da OMS a QDV é definida como: “a percepção que o indivíduo tem da sua vida, de acordo com o contexto cultural e sistema de valores em que vive, e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito vasto, que é afectado de forma complexa pela saúde física da pessoa, estado psicológico, nível de independência, relações sociais, e pela sua

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Para Castellón (1998, 2003) os indicadores de “qualidade de vida” associados ao envelhecimento são autonomia, actividade, recursos económicos, saúde, habitação, intimidade, segurança, pertença a uma comunidade, relações pessoais, assim sendo, parece que a qualidade de vida na velhice está associada a questões de dependência-autonomia. As dependências observadas nos idosos resultam tanto de alterações biológicas (deficiências ou incapacidade) como de mudanças nas exigências sociais (desvantagens) e, frequentemente, as últimas parecem determinar as primeiras.

Tendo em consideração as projecções das organizações mundiais referente ao incremento da população da terceira idade na próxima década (James e Wink, 2006), a questão da qualidade de vida emerge com peculiar importância, surgindo questões de ordem ética e prática, muitas vezes envolvida a legitimidade e oportunidade de prolongamento da vida dos idosos. Segundo Zagher e Pierezan e Claudino (2009) os idosos são encarados como mais frágeis do ponto de vista físico e mental, o que demanda cuidados de equipas multi-profissionais (Zagher et al., 2009).

Como a qualidade de vida não se determina através de um decreto-lei ou por uma obrigatoriedade, mas, mas sim por múltiplos factores que visam promover o bem-estar físico, psíquico e a percepção individual e colectiva, perguntamo-nos: “que aspectos são percepcionados pelos idosos como preponderantes para a sua qualidade de vida?”, referindo-nos concretamente aos actores principais: a terceira idade. Chegámos, assim, à pergunta de partida, que servirá de tema ao nosso estudo e para a qual iremos tentar encontrar resposta no decorrer da nossa investigação.

Pertinência do tema

A escolha do tema “A qualidade de vida do Idoso e o seu bem-estar Social!” apoiou-se por um lado na vivência pessoal e profissional; por outro lado, por motivações do âmbito científico. O tema de investigação enquadra-se no âmbito da qualidade de vida, procurando entender qual a percepção dos idosos sobre a sua qualidade de vida.

Ao nível científico, verifica-se que a institucionalização provoca grandes e rápidas mudanças no equilíbrio psicofísico do idoso. Scocco, Rapattoni e Fantoni (2006), num estudo longitudinal, concluíram que os idosos quando entravam para uma instituição (lar) sofriam de um declínio físico e mental (prevalência de sintomas de somatização, ansiedade, depressão e psicóticos), e a qualidade de vida era percepcionada como baixa (Scocco, Rapattoni, & Fantoni, 2006), seis meses mais tarde

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verificaram um declínio em três áreas: saúde física, saúde mental e percepção de qualidade de vida; existindo uma taxa de 33% de mortalidade, verificaram que os idosos relataram, também, um grande sentimento de solidão. Estes autores concluíram que a qualidade de vida é mais baixa nos idosos institucionalizados, do que nos idosos que vivem na comunidade, pelo que urge entender os preâmbulos deste processo, procurando colmatar as deficiências ou limitações no processo de institucionalização.

Ao nível pessoal, considero que a importância atribuída por pela percepção dos idosos apoia-se nas representações sociais e tendo em consideração que “(…) uma representação social só adquire foros de verdade e de realidade quando é partilhada. Pois bem, as imagens e as representações veiculadas através do ecrã têm já em si a ideia de consenso, de partilha por uma larga comunidade, o que facilita a adesão conformista.” (Vala & Monteiro, 2006, p.493). As questões de investigação e a motivação para este estudo surgiram como o resultado das minhas inquietações pessoais e profissionais, da minha vivência diária, do saber teórico e prático, onde nos confrontamos com dificuldades inerentes à garantia do bem-estar e qualidade de vida do idoso institucionalizado. No entanto uma qualidade de vida satisfatória requer mais do que a satisfação das necessidades básicas de abrigo, cuidado e alimento. Pelo que se torna pertinente entender qual a importância atribuída ao idoso, a sua qualidade de vida e bem estar social.

Objetivos

Segundo Fortin (1999:100), “O objetivo de um estudo indica o porquê da investigação. É um enunciado declarativo que precisa a orientação da investigação segundo o nível dos conhecimentos estabelecidos no domínio em questão”.

Para este autor, “o objetivo do estudo harmoniza-se com o grau de avanço dos conhecimentos e escreve-se em termos que indicam o tipo de investigação a empreender, ou seja: denominar, descrever fatores, explorar ou examinar relações, predizer, avaliar os efeitos (...)” (Fortin, 1999:100).

Objetivo é sinónimo de meta e de fim. Podem ser divididos em objetivos gerais e objetivos específicos (Vilelas, 2008). O objetivo geral é “Identificar percepção da qualidade de vida e bem-estar social do idoso segundo a visão dos próprios”, por outro lado, deste objetivo derivam os seguintes objetivos específicos:

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 Verificar se atividades socioculturais são encaradas como uma maior valorização pessoal;

 Identificar a percepção do seu estado emocional e a sua integração no centro de dia

Estrutura do Trabalho

No sentido de alcançarmos os objectivos delineados pressupõe-se a divisão deste trabalho em partes. Sendo a primeira reservada ao enquadramento teórico e a segunda à investigação empírica.

O enquadramento teórico é constituído por seis capítulos, que resultam da revisão bibliográfica realizada. O primeiro capítulo, inicia-se com aspectos importantes para compreender melhor a qualidade de vida dos idosos e o seu bem-estar social, seguindo-se de uma breve resenha histórica sobre o processo de envelhecimento da população, a importância e o objectivo da qualidade de vida na fase de envelhecimento, o envelhecimento activo, animação Sócio-Cultural no âmbito da Terceira idade, envelhecimento humano e seus conceitos, e consequências, a solidão nos idosos e suas consequências, e ageism: descriminação por idade no trabalho.

Numa segunda parte, ainda dedicado à fundamentação teórica, vai-se abordar a Autonomia / dependência / independência do idoso, o papel dos idosos nas redes de solidariedade, família, trocas intergeracionais e solidariedade formal, e por último a importância e o papel das instituições particulares de solidariedade social para a população idosa, seu ambiente e sua influência no comportamento, e serviços para idosos

A terceira parte do trabalho, denominada investigação empírica divide-se em vários capítulos fundamentais que englobam: a metodologia adoptada, a conceptualização e objectivos de estudo, as variáveis, o tipo de estudo, as técnicas de recolha de informação que foram as entrevistas.

Na quarta parte inclui a apresentação, análise e sua discussão, ou seja, vou apresentar referências sobre a análise de conteúdo, que neste caso trata-se de uma análise qualitativa e quantitativa (Quali-quanti).

A quinta parte diz respeito às conclusões/sugestões em que realçamos os aspectos mais relevantes desta investigação, retiramos as principais ilações e formulamos algumas sugestões no sentido de uma intervenção mais humana e eficaz com o idoso institucionalizado.

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Por fim, com as considerações acerca dos limites da investigação, onde descrevemos sumariamente dificuldades e limitações sentidas ao longo do trabalho.

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1 Envelhecimento populacional

“O envelhecimento demográfico é uma realidade nova na história das populações das sociedades industrializadas e as projecções indicam, com alguma certeza que, no mundo civilizado, a tendência para o envelhecimento é acentuada” (Fernandes, 1997: 34). Ao longo de toda a história, os idosos (com idade igual ou superior a 65 anos) nunca representaram mais do que 2 ou 3 porcento da população. Há 150 anos, aproximadamente, essa proporção começou a subir. No mundo desenvolvido de hoje representa quase 15%. No ano 2030 aproximará-se-á de 25%, podendo chegar a 30% em alguns dos países da Europa continental que envelheceram rapidamente.

Esquema 1. A pirâmide demográfica comparativa entre a Europa e Norte de África e este asiático

A realidade do século XXI, espelha-se nos países desenvolvidos cada vez mais envelhecidos e com tendência progressiva de crescimento, relacionada com o grau de industrialização do mundo. As projecções das Nações Unidas para a população mundial referem que a proporção de jovens está a diminuir progressivamente, podendo alcançar os 21% do total da população em 2050, aumentando a ppopulação idosa para 15,6% no mesmo ano (INE, 2002b). O envelhecimento da população é um fenómeno de amplitude mundial, a OMS (Organização Mundial de Saúde) prevê que em 2025

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existirão 1,2 biliões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os muito idosos (com 80 ou mais anos) constituem o grupo etário de maior crescimento (OMS, 2001).

A Europa segue a tendência mundial, apresentando uma estrutura etária cada vez mais envelhecida, “[...] a UE, com 17% de jovens e 16% de idosos, revela-se um espaço particularmente envelhecido a nível mundial” (Rosa, 2000:437), embora seja um espaço heterogéneo, quanto a este fenómeno, revelando disparidades entre os vários países. Portugal é o quinto país menos envelhecido no conjunto dos países da União Europeia (dados de 1996), tendo em conta a percentagem de pessoas idosas na população total (INE, 1999, p.8). Comparando os dados das regiões muito industrializadas com as menos verificamos que as pirâmides demográficas da Europa encontram-se num processo acelerado de inversão, com um numero muito baixo de natalidade contra o aumento brutal dos indivíduos idosos (aproximadamente 75% da população idosa mundial), por outro lado os países com menos industrialização um número elevado de natalidade e jovens adultos e adultos em idade produtiva, e poucos idosos (OMS, 2001; Eurostat/NU/INE, PORDATA, 2010).

Gráfico 1. Índice de envelhecimento1 europeu

Fonte: Eurostat/NU/INE, PORDATA

1 Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos (expressa habitualmente por 100 (10^2) pessoas dos 0 aos 14 anos). (metainformação – INE)

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Entre 1960 e 1998 o envelhecimento da população portuguesa traduziu-se por um decréscimo de 35,1% na população jovem (entre os 0 e os 14 anos) e um incremento de 114,4% da população idosa (65 anos ou mais). De referir que o crescimento não é homogéneo dentro da própria população idosa, pois é o grupo dos 75 e mais anos que cresce segundo taxas superiores. Assim, em 1998 existiriam perto de 600 milhares de pessoas com 75 ou mais anos e cerca de 1.500 milhares com 65 anos ou mais.

Os dados mais recentes de Portugal segundo o INE (2011), revelam que em 2060 residirão em Portugal 271 idosos por cada 100 jovens, mais do dobro do valor projectado para 2009 (116 idosos por cada 100 jovens). As projeções da população, assentes numa ligeira subida da fecundidade, num aumento moderado da esperança de vida e num saldo migratório positivo, indiciam uma estrutura etária envelhecida. Os idosos não cessarão de aumentar em valor absoluto e em importância relativa, prevendo-se que ultrapassem os jovens entre os anos 2010 e 2015. O peso dos idosos atingirá os 18,1% em 2020, enquanto a proporção de jovens diminuirá para 16,1%. Paralelamente assistir-se-á ao aumento da proporção da população com 75 anos ou mais que se elevará a 7,7% em 2020 (contra 5,6% em 1995).

Tal como se verifica na generalidade dos países a população idosa tem, também, em Portugal uma percentagem superior de mulheres. As estimativas de 1998 do INE indicavam que na população com 65 ou mais anos (total: 1.519.010) 59,1% eram mulheres (homens: 621.860; mulheres: 897.150) Em conformidade com os dados dos censos de 2010 verifica-se a manutenção da preponderância das mulheres, 11%, face aos homens, 8%. Paralelamente, a esperança de vida no sexo feminino é superior, verifica-se que as mulheres com 65 anos vivem em média mais 3 anos e meio do que os homens (os homens vivem mais, 14,4 anos, e as mulheres 17,9 anos).

As alterações na estrutura demográfica estão bem patentes na análise comparativa das pirâmides etárias da população residente em Portugal em 31 de Dezembro de 2000 e de 2009, segundo as Estimativas da População Residente do INE. Verifica-se um duplo envelhecimento, representado pelo estreitamento da base e pelo alargamento do topo da pirâmide etária, decorrente, sobretudo, da redução da natalidade e do aumento da longevidade que se tem verificado em Portugal (Nazarthe, 2000; Andrade, 2009). Os dados mais recentes apresentados nos Censos 2011verificou-se um aumentou a população idosa (com 65 anos ou mais), cerca de 19,4%, com maior preponderância das

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Gráfico 2. Estrutura da população residente em Portugal por grupos etários em 1981, 1991, 2001, 2011

Os dados dos censos em Portugal em 1991, revelavam que 97,5% dos idosos vivia em famílias clássicas e 2,5% em lares de idosos (ou em famílias de acolhimento). Entre as famílias que incluíam idosos verificava-se que 15% eram compostas só por idosos e 8% eram idosos sozinhos. Os dados mais recentes do INE (2010) revelam que 60% da população idosa vive só (400 964) ou em companhia exclusiva de pessoas também idosas (804 577), refletindo um fenómeno cuja dimensão aumentou 28%, ao longo da última década, contrastando com a tendência verificada em 1991, na manutenção dos idosos junto as suas famílias.

É importante distinguir os "efeitos da idade" de patologia, algumas pessoas mostram declínio no estado de saúde e nas competências cognitivas precoces, enquanto outras vivem saudáveis até aos 80 anos e mesmo 90 anos. Começa a ser aceite que qualquer declínio precoce provavelmente reflete patologia e não os efeitos da idade. Ou seja, a dependência não é um elemento que caracteriza apenas esta fase da vida.

2 Conceito de velhice ou idoso

Envelhecer é um processo que abrange todos os seres vivos e que evoca um desenvolvimento contínuo, embora mais marcado na última fase da vida e que culmina com a morte. São muitos os autores que têm procurado definir, sob variados pontos de vista, o conceito de velhice. Considerando-a como uma “fase da vida” como “um processo de diminuição gradual da capacidade fisiológica de cada órgão ou sistema, devido a atrofia progressiva dos tecidos” (Reis, 1998, p.1). É o período em que a

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involução dos órgãos começa a ser evidente, e o que interessa, para a sua definição é o estado dos órgãos, é este que marca a verdadeira idade. Porém não podemos considerar a velhice como uma doença, uma vez que esta é sim a comprovação de que houve bastante saúde para a poder atingir. Segundo Fernandes (2002) a sua definição, não pode ser associada a doença ou incapacidade, mas sim de uma menor capacidade orgânica e psíquica, devido ao agravamento dos fenómenos escleróticos e atrofiadores do sistema regulador do organismo humano.

Miller (1994) considera o envelhecimento como o conjunto de modificações anatómicas, fisiológicas e psicológicas ligadas à acção dos tempos sobre os seres vivos. Para Bernardo (1994, p.13), a velhice é considerada como a “última idade da vida, cujo início fixamos no sexagésimo ano, mas que pode ser mais ou menos avançada ou retardada, segundo a constituição individual, o género de vida e uma série de outras circunstâncias”. Segundo (Robert, 1995), desde Hipócrates até ao Século das Luzes, a idade de 50 anos foi considerada como a transição da idade adulta para a velhice. Por outras palavras diremos que a velhice não é uma doença, constitui sim uma fase do desenvolvimento da vida, com as suas características próprias resultantes de fenómenos: físicos, biológicos, sociais, culturais, psicológicos, nutricionais, comportamentais, económicos, entre outros.

Segundo Minois (1999), o conceito de velhice por vezes causa calafrios, uma vez que é uma palavra carregada de inquietude, de fraqueza e por vezes de angústia. Um conceito ainda hoje, independentemente das suas causas, a velhice considerada uma realidade temida por todos aqueles que ainda lá não chegaram, negada por outros que se recusam a reconhecer as suas alterações físicas e na maioria das vezes mal vivida pelos idosos. É também desconsiderada, deprezada ou encarada por algumas pessoas como um mal incurável e anunciador de morte (Minois, 1999).

Podemos assim considerar que a velhice é um conceito muito controverso, e difícil de definir com exactidão, uma vez que existem vários autores que a definem de maneira diferente. Para Fernandes (2002, p. 24), esta também pode ser definida segundo três perspectivas diferentes, que são:

 O da idade cronológica – que corresponde à idade oficial, mencionada pelo Bilhete de identidade;

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 O da idade biológica – que corresponde ao estado orgânico e funcional dos diferentes órgãos aparelhos e sistemas, do corpo humano, referido à situação mais frequente observada em cada grupo etário;

 O de estado psicológico – que pode não depender da idade nem do estado orgânico.

Bolander (citado in Sorensen & Luckumann 1998), categorizada os idosos tendo por base a idade cronológica, dividindo a velhice em três subgrupos:

 “O idoso-jovem” entre os 65-74 anos;  “O idoso-médio” entre os 75-84 anos;  “O idoso-velho” acima dos 85anos.

A Organização Mundial da Saúde estabeleceu o início da idade da velhice a partir dos 65 anos, independentemente do estado de saúde ou do aspecto físico. Outros autores tais como Brunner & Suddarth (1990), referem que outros gererontologistas preferem classificar as pessoas de acordo com a idade funcional, que é estabelecida com base na relação com a saúde, independência física e funcionamento social e psicológico. Assim, apesar de existirem várias classificações dos idosos, não é de todo correcto segundo Bolander (citado in Sorensen & Luckumann 1998), classificá-los, uma vez que durante a vida as pessoas tornam-se mais diversas à medida que envelhecem e no final da vida adulta são mais heterogéneas do que em qualquer outro período da vida. Em síntese a velhice que no passado, era um assunto essencialmente privado e familiar, torna-se na actualidade um importante fenómeno social suscitando atenção e preocupação tanto do Estado como das Ciências sociais. Podendo não constituir um problema social na nossa sociedade, o aumento proporcional das pessoas idosas, mas sim uma mais valia, se houvesse outra forma e entender a velhice. É então fundamental que cada organização socioeconómica e cultural seja responsável pelo papel (positivo ou negativo) e imagens dos seus idosos, pois cada sociedade segrega um modelo ideal que impera em cada momento e é desse modelo que depende a imagem da velhice, a sua valorização ou desvalorização.

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2.1. Abordagem multidisciplinar do processo de envelhecimento

O envelhecimento pode ser encarado como um processo dinâmico devido às múltiplas e constantes alterações de carácter morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que vão se reflectindo numa perda progressiva de capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos: Este processo torna o idoso mais passível às agressões intrínsecas e extrínsecas as quais acabam por conduzir o ser humano à morte (Beers et al, 2004; Fonseca, 2005; Netto et al, 1999a; Paúl & Fonseca, 2005). Desta forma, o envelhecimento é um processo de diminuição orgânica e funcional não decorrente de acidente ou doença e que acontece inevitavelmente com o passar do tempo. Ou seja, o envelhecimento não é e si uma doença, embora possa ser agravado ou acelerado por ela (Ermida, 1999a; Laíns, 2000).

Segundo Ermida (1999) os sinais de envelhecimento orgânico e funcional tornam-se evidentes no final da fase de crescimento (20-30 anos) a nível da pele e da microcirculação arterial, visível em alterações retinianas. Refere o autor que as macro-alterações significativas de carácter orgânico e funcional tornam-se perceptivas pelos 40 anos, com particular incidência o aparelho cardio-circulatório e neuro-sensorial. Num processo inevitável e irreversível, a diminuição da autonomia do idoso. Para além de todas as diminuições orgânicas e funcionais, que originam significativas alterações na forma e na composição corporal com o decorrer dos anos, as condições mais relevantes a ter em conta para a sobrevivência do idoso e para a sua qualidade de vida são talvez a diminuição da sua reserva fisiológica e a consequente dificuldade na reposição do seu equilíbrio homoeostático quando alterado.

As alterações a nível do sistema nervoso, o envelhecimento dos neurónios, a diminuição do débito sanguíneo, diminuição da glicose e do transporte de oxigénio e a dimiuição de neuro-mediadores condicionam a lentificação dos processos mentais e as alterações da memória, da atenção e do pensamento. Estas diminuições embora presentes, em condições normais não comprometem significativamente o desempenho do idoso porque se mantêm as capacidades verbais, a orientação, a memória, a inteligência, as emoções, a personalidade (Ermida, 1999a). Segundo o autor, não só a diminuição física e mental são preocupantes mas também as práticas sociais e as restrições económicas que afastam o indivíduo idoso da vida profissional activa,

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originando consequências por vezes devastadoras nos planos familiar e social, que se reflectem no equilíbrio bio-psico-social da pessoa.

Na perspectiva do desenvolvimento humano ocorre uma constante mudança adaptativa e um equilíbrio entre ganhos e perdas, sendo que as perdas aumentam com o envelhecimento (Guimarães, 1997; Neri, 1993, 1995, 2001). Esta ideia admite variabilidade intra-individual e inter-individual, na qual nem todas as mudanças desenvolvimentais estão directamente ligadas a idade, iniciando em diversas épocas da vida humana, diferenciando-se em duração, término e direção. Neri refere que “... a aquisição, a manutenção, o aperfeiçoamento e a extinção dos comportamentos sociais e cognitivos são processos que podem originar-se tanto na infância inicial, como na vida adulta e na velhice” (1993, p. 31).

Na opinião de Ramalho e Dias (2000), o envelhecimento produz uma certa deteriorização psico-bio-social, que geralmente se associa com as doenças crónicas muitas vezes incapacitantes, tornando esta etapa da vida altamente vulnerável. O envelhecimento é o resultado da interacção entre genoma e os factores ambientais que evidencia fases de duração relativamente constantes no tempo e vida do indivíduo. A actividade intelectual associada ao exercício físico, o controlo da doença, a vida social e familiar favoráveis, permitem ao idoso ultrapassar as dificuldades inerentes ao processo de envelhecimento potenciando a manutenção da autonomia e consequentemente da qualidade de vida.

2.1.1. Aspetos Biofisiológicos

Segundo Berger e Mailloux-Poirier, “O envelhecimento foi durante muito tempo percebido como um fenómeno patológico relacionado com o desgaste do organismo e as sequelas das doenças da infância e da idade adulta” (Berger e Mailloux- Poirier, 1995: 124-125). O sinal da senescência2 , Segundo Comier e Turdel (1996) é que se trata de um processo natural, que designa uma degenerescência patológica, muitas vezes associada ao envelhecimento, mas que tem origem em disfunções orgânicas (Comier & Trudel, 1986 citados por Berger e Mailloux- Poirier, 1995).

Segundo Bee e Mitchell (citado por António Simões, 1982) o envelhecimento normal envolve mudanças no organismo associadas à idade, que se traduzem por:

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 “a estatura diminui, devido a alterações no tecido conjuntivo, especialmente dos discos interveticais. Diminui igualmente a massa muscular, o peso geral e o peso do cérebro;

 existe uma desaceleração geral das respostas em virtude, nomeadamente, de uma diminuição da velocidade de condução dos impulsos nervosos. Isso vai implicar tempos de reação mais lentos e maior dificuldade em restabelecer a homeostasia, sobretudo em situações de stress;

 idosos encontram maior dificuldade de movimento devido, nomeadamente, à fraqueza óssea e muscular. Desta última resultam, por sua vez, modificações na respiração e no controlo do esfíncter vesical;

 registam-se também mudanças significativas a nível dos órgãos dos sentidos, dos quais são por demais conhecidas as perturbações da visão e audição;

 são de notar igualmente, as modificações das secreções glandulares em geral”.

Em consequência destas modificações operadas no organismo podemos dizer que o envelhecimento é facilmente identificado devido às modificações ocorridas, manifestando-se nas células (modificações morfológicas químicas e enzimáticas) nos órgãos por diminuição do seu peso e nas funções, por perda gradual dos seus mecanismos reguladores (Netto & Ramos, 2005, Kauffman, 2001, Filho & Netto, 2000, Pare & A. La Rue, 1998, Sanz, 2002)

Sendo assim, as dificuldades de adaptação e de comportamento do indivíduo tornam-se mais difíceis e encontram-se alteradas, verificando-se que mais cedo ou mais tarde, estas modificações biológicas atingem todos os indivíduos.No entanto, há que referir que é impossível precisar a idade em que acontecem, pois a velhice não chega exatamente na mesma data e hora para cada indivíduo – é usual deparar com pessoas com a mesma idade apresentando enormes diferenças, quer a nível físico, emocional e/ou mental.

2.1.2. Aspetos Psicológicos:

As mudanças biológicas, referidas no ponto anterior conduzem, por outro lado, a modificações a nível psicológico e social. O envelhecimento psicológico prepara-se e realiza-se ao longo da vida do indivíduo, podendo preceder ou suceder às modificações

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idade que corresponde mais ou menos entre os 40 e os 65 anos. Os indivíduos com mais de 65 anos segundo este autor estão incluídos no 8º estádio que corresponde à idade da velhice.

Quadro 1. Ciclos da Vida

Fonte: Moraes, Moraes & Lima, 2010, p. 70

Apesar de se verificar a impossibilidade de generalização é uma realidade que o envelhecimento, pelas condições anátomo-funcionais da circulação cerebral, provoca prejuízos que gradualmente se vão acentuando nas faculdades psicossensoriais. Existe, de facto um declínio, uma deterioração fisiológica que provoca a redução dos aspetos cognitivos, especialmente na aprendizagem, memória e inteligência. Relativamente à aprendizagem, Botwinick (citado por Simões, 1982) refere que uma parte considerável que foi encarada como deficiência na capacidade de aprender em idades avançadas, foi mais recentemente perspetivado como um problema relacionado com a capacidade de exprimir a informação aprendida. Por outras palavras, grande parte do que se julgou ser deficiente no processo cognitivo interno é atualmente vivenciado como uma dificuldade experimentada pelos idosos em se adaptarem às tarefas e em mostrarem o que sabem.

A memória como um aspeto cognitivo, que também se vai ressentindo das circunstâncias anátomo-funcionais circulatórias, pode ser definida, em termos de material retido num determinado período de tempo.

Investigações realizadas com pessoas idosas, indicam que o declínio da memória curto termo não é característico do envelhecimento: poderão registar-se perdas consideráveis associadas à patologia física ou mental, mas em caos normais, se algum declínio existe, não parece significativo. Sendo assim, as mudanças da mente humana, durante a velhice, não obedecem a uma deterioração desordenada, apresentando-se como um dos sintomas típicos do envelhecimento psíquico: um esquecimento mais acentuado dos factos recentes e, mais firmes recordações antigas. O declínio ao nível da

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inteligência na pessoa idosa, foi inicialmente concebido que “tal como acontece com o organismo sujeito à deterioração inevitável, a partir da idade adulta, assim sucedida inexoravelmente às capacidades intelectuais” (Simões, 1982, p. 75).

O estudo dos processos intelectuais da pessoa idosa é delicado, pela importância assumida pelos hábitos, condicionalismos, constrangimentos, alienações de origem económica e social que, no decorrer do tempo deixam as suas marcas no indivíduo.

Um outro sintoma do envelhecimento psicológico que convém referir é o facto de este se tornar mais lento, tendo repercussão ao nível da própria linguagem, na medida em que este processo decorre de uma forma igualmente lenta, o próprio idoso não se apercebe disso. O enfraquecimento da faculdade de pensar, como já foi referido, é considerado outro sintoma do envelhecimento psíquico, que se traduz na incapacidade de se adaptar a novas ideias e condições.

Por tudo isto, Relvas (1978) refere que o envelhecimento psicológico traz consigo modificações das funções de relação. As alterações percetivas (alteram os órgãos dos sentidos) isolam gradualmente o idoso do seu meio e criam-lhes dificuldades de integração social. Vaz Serra (1982) é da mesma opinião ao afirmar que a nível psicológico, “o idoso está sujeito a diversos fenómenos, nomeadamente da perceção (o que leva a excluir estímulos que surgem no meio ambiente e lhe empobrece a aptidão para perceber as novas relações entre fenómenos), a memória, as experiências passadas são reinterpretadas de uma forma diferente acentuando-se a rigidez do indivíduo, tornando-se psicologicamente dependente”.

Todas estes aspetos ligados ao declínio das faculdades mentais conduzem a uma sensação de insegurança e consequentemente aumento de rigidez e resistência à mudança o que as suas dificuldades de adaptação, conduzindo-se progressivamente ao isolamento (Berger, 1995).

2.1.3. Aspetos Sociais:

“Desde a revolução industrial, no século XIX, até meados do século XX, a velhice era associada à incapacidade para o trabalho e à pobreza, sendo portanto incluída na categoria dos indigentes, cujo apoio se resumia às instituições de beneficência. Os idosos de classes sociais mais favorecidas eram apoiados na esfera doméstica. Assim, não existia a velhice como categoria social autónoma nem uma

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intervenção pública dirigida especificamente à velhice, estando perante o que Guillemard (1980) designou de uma velhice invisível.” (Veloso, 2009. p.12-13)

Na transição da idade adulta para a terceira idade e desta para a quarta idade (idade superior a 85 anos), a pessoa sofre diversas mudanças dentre as quais de carácter biológico, as quais trazem diminuição da capacidade funcional, mas também do ponto de vista psico-social, mudanças de papéis, de status, nas interacções decorrentes entre outros aspectos da reforma (Fragoeiro, 2004). A Representações social da velhice durante várias épocas, baseiam-se numa caracterização de fases da vida, nas quais a da velhice, surge sempre em oposição à juventude: o jovem dotado de um corpo esbelto, com vigor, opõe-se à decadência física do “velho”, expressa nas marcas deixadas pelo tempo no corpo, ou seja, o enrugamento da pele, brancura dos cabelos e das barbas e o curvamento do corpo (Fragoeiro, 2004).

A construção social do conceito de velhice tem, portanto, por base os valores de cada sociedade, concordantes com a hierarquia de posições sociais dos indivíduos na estrutura económica e social, sistematizadas numa noção de pessoa. Para Debert (1997, p. 122), a “ padronização da infância, adolescência, idade adulta e velhice pode ser pensada como respostas às mudanças estruturais na economia, de vias, sobretudo, à transição de uma economia que tinha como base a unidade doméstica para uma economia baseada no mercado de trabalho”. Com o avanço da tecnologia, originando a mudança do sistema económico, que anteriormente se centrava na família, funcionando esta como unidade de produção, a pessoa idosa deixa de beneficiar da assistência e proteção dos familiares e passa para a “responsabilidade” da comunidade local.

A ideologia dominante do “produtivismo”, decorrente do processo de industrialização, que defende que, “quem não produz é inútil”, e a introdução de novas tecnologias, que diminuíram o valor do saber tradicional e o prestígio dos que transmitem, são fatores que de certa forma, explicam o declínio de «status» da pessoa idosa. No entanto, hoje em dia, a reforma tende a ser cada vez mais tarde passando a velhice a ser simplesmente uma idade social, na medida em que se encontra dependente de critérios económicos e culturais. Este patamar diferencial é marcado pelo aparecimento da reforma a qual segundo Guillemard (1980) é uma forma peculiar de identificarmos a “velhice”, pelo facto comum, entre todos o novo papel de reformado, e associado a um estilo de vida.

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Para Pierre Brasseul, (1981), esse novo estilo de vida é diferente, pois “não se vive a reforma em 1980 como se viveu em 1960. De facto, dois modelos de velhice coexistem hoje: uma velhice activa ao lado da velhice passiva tradicional” (p. 10). A pessoa idosa passa, desta forma, a sentir uma certa perda de «utilidade social» acentuada pela entrada da reforma, que durante algum tempo marcou convencionalmente a entrada na velhice (Veloso, 2009).

Contudo, a reforma é acompanhada pela diminuição dos contactos sociais, perdendo assim o indivíduo as relações de sociabilidade, ficando mais isolado. O fator económico, é pois determinante, mas apenas se relaciona com a organização social em que se inscreve e não encarado de uma forma isolada. Em síntese, a conceção de envelhecimento como um processo de declínio, só possui sentido em abstrato quando referente a um processo natural e biológico do envelhecimento do ciclo de vida, corresponde a uma transformação social que pode competir ou retirar prestígio dos indivíduos.

3 “Velhos Reformados” Ou “Velhos e Reformados

A velhice, como categoria social, pode dizer-se que ficou institucionalmente fechada nas fronteiras de um limiar de idade fixo, cujo acesso é reforçado pela detenção de uma pensão de reforma. Esta definição institucional não tem sido adaptada às transformações sociodemográficas mais recentes, e tem mesmo vindo a ser reforçada com a institucionalização das pré-reformas. Ao passar à categoria de reformado, o "jovem velho" encontra as condições para adquirir as propriedades que são socialmente imputadas à velhice. Perde o estatuto social atribuído a partir do trabalho profissional — a reforma é também uma forma de exclusão social — e adquire o estatuto desvalorizado de "reformado".

A "idade da velhice" (Bourdelais, 1993), tem ultrapassado os limiares convencionais e avançado com o aumento da esperança de vida. Como já foi referenciado, a idade de ser velho, coincide com a idade em que se começam a perder capacidades essenciais e mais tarde pela deterioração do estado geral de saúde, sem que institucionalmente se tenham alterado os limiares convencionados há mais de um século. O aumento da esperança de vida, que continua a progredir, e tem repercussões no próprio conceito de velhice.

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Recentemente, alguns estudos (INE, 1999; Camargos, 2005; Costa, 2006) levados a cabo nesta matéria têm-se debruçado sobre a esperança de vida com e sem incapacidade. O objetivo consiste em avaliar as conquistas quantitativas em anos de vida com saúde, ou seja, sem contrair incapacidades. Os resultados apontam para diferenças importantes entre homens e mulheres. No caso dos homens, tendo em consideração que o limiar de esperança de vida à nascença é inferior ao das mulheres, usufruem de mais elevada esperança de vida sem incapacidade. Este limiar é difícil de ultrapassar e a consciência desse facto tem orientado as investigações para os aspetos diferenciais do aumento da esperança de vida tendo em consideração variáveis mais amplas abrangendo todas as idades, consoante as categorias socioprofissionais e as condições gerais de existência.

Um estudo realizado em 1978, no Canadá, relacionou-se a esperança de vida, com e sem incapacidade, com o rendimento (Robine, 1997). Os investigadores verificaram que, nos escalões mais baixos do rendimento, a esperança de vida sem incapacidade ficava pelos 50 anos, constrastando com os mais elevados onde estes parâmetros subiam até aos 64 anos. Ao nível da esperança de vida à nascença, os primeiros (rendimento mais baixo) sobrevivem até aos 67 anos e os segundos até aos 73 anos. As diferenças são significativas e remetem para a complexidade das estruturas sociais onde os recursos económicos e culturais se distribuem de forma desigual colocando os indivíduos em diferentes posições face à velhice e face à morte.

Verifica-se que os indicadores demográficos generalistas (como é o da esperança de vida à nascença) cujos valores médios têm sofrido grandes alterações, como temos vindo a referir, esconde diferenças e variações bastante maiores quando avaliados no interior das categorias socioprofissionais. As variações médias que apresentámos são ainda assim suficientes para nos levar a questionar a pertinência do limiar de idade fixo, os 65 anos, base da definição de uma categoria estatística de organização da informação, por sua vez reconhecida como categoria social, a das "pessoas idosas". A "idade da reforma", que coincide com a definição institucional da velhice, entre os 65 e 67 anos na maior parte dos países europeus, tem sido objeto de grandes debates políticos entre as diferentes organizações e os governos. Segundo Gaullier (1988) neste cenário, encontramos a existência de uma "idade nova", isto é, emerge uma nova fase intercalar no ciclo de vida, situada entre o fim do trabalho e a velhice propriamente dita. Segundo Paillat (1989), López Jiménez (1993, cit.Tomás, 2001), estas pessoas são “demasiado velhas para

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trabalharem, mas demasiado jovens para serem reformadas”. Tomás (2001), refere que “vários autores denominam o período dos 45 aos 65 anos, a “idade de ninguém”, convertendo o indivíduo a um colectivo anónimo, carente de identidade e submerso num menor interesse social.”

Assim, segundo Gaullier (1988), estabelecem-se novas relações entre trabalho e reforma no final da vida ativa, para Guillemard (1995) destacam-se dois aspetos:

 a forma como o mercado de trabalho e os mecanismos de proteção social interagem,;

 e a forma como estas alterações interferem e determinam a reorganização dos ciclos de vida familiares em ordem à sua adequação às novas realidades .

As novas gerações não só percorrem trajetórias de vida mais longas como passaram a estar expostas a maior diversidade de ocorrências sociodemográficas, que contribuem para transformar a trilogia dos ciclos de vida em "idades móveis" e "tempos incertos" (Gaullier, 1988).

De facto, a reforma é considerada pela sociedade como o ponto de partida “oficial” que conduz à velhice e inclusive muitas vezes assemelha-se e, ou confunde-se com a mesma. A reforma pode ser considerada, segundo Tomás (2001), como um “castigo” ou um Prémio, no entanto a idade da reforma tem-se desvinculado do conceito de idoso ou velhice, o qual está cada vez mais associado às incapacidades e deteriorações que surgem em idades muito avançadas (Ferreira, 2006, Teixeira, 2010).

“O novo risco da velhice, a "dependência", transformou-se, nos últimos anos, no grande debate, no maior desafio. A dimensão dos problemas, a sua grande diversidade e a ocorrência crescente de situações trazem para o fórum da discussão os vários agentes envolvidos, que vão desde as famílias, passando por organizações privadas e, por último, o estado enquanto produtor de políticas e principal instância pública de resolução dos problemas sociais” (Fernandes, 2001, p. 4).

Segundo Fernandes as instituições que têm surgido ao longo dos últimos anos e no decurso das políticas sociais de velhice — lares, centros de dia, apoio domiciliário — parecem recursos insuficientes e, em certos casos, mesmo desadequados às exigências e à dimensão do problema.

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4 Consequências do Envelhecimento

As práticas sociais e as restrições económicas afastam a pessoa idosa da vida profissional ativa dando origem, por vezes a consequências inquietantes no plano familiar, profissional e social (Ermida, 1999). Para Levet (1998), o envelhecimento gera grandes inquietações nos indivíduos. Segundo este autor, o psiquismo da pessoa idosa é afetado primeiramente pela perda progressiva dos seus diferentes papéis.

O primeiro papel que desaparece é, normalmente, o dos pais, pois é claro que não há nada de comparável entre as obrigações dos pais de uma criança e de um adulto. Salvo alguns acontecimentos, os pais do adulto não têm mais responsabilidades para com ele, fica somente a dimensão afetiva.

O segundo papel que se abandona é o profissional. A perda deste papel é geralmente acompanhada para alguns, pela perda de outros papéis que com ele estavam articulados: sindical, social e político. O último papel que desaparece é o do cônjuge. A viuvez arrasta com ela a solidão afetiva e sexual.

A personalidade do idoso sofre um “estreitamento de espaço” (Levet, 1998), em primeiro lugar há redução do espaço e da capacidade motora: os percursos das pessoas de idade vão diminuindo: da travessia da cidade passam à volta do quarteirão, depois ao vai e vem dentro de casa. Estas dificuldades motoras alongam as distâncias devido ao aumento do tempo necessário para o percurso; o enfraquecimento muscular torna as coisas tão pesadas que deixam de ser manuseadas.

A reforma, sendo a conquista de um repouso merecido intervém como consequência do envelhecimento, na medida em que a aceleração tecnológica torna obsoletos a maior parte dos conhecimentos dos trabalhadores idosos (Levet, 1998). A saudade da vida profissional importuna muitos indivíduos reformados, particularmente os que tinham tido responsabilidades. A dualidade de sentimentos surge, segundo Levet (1998) é normal ouvir expressões do tipo “Trabalho quando quero; como quero; com quem me convém e sem relação de autoridade”, no entanto nem todos os reformados estão satisfeitos com esta possibilidade, que não atinge evidentemente, senão um número reduzido de indivíduos.

As consequências da evolução demográfica fazem-se sentir nas áreas social e político-económica, devido à diminuição dos ativos e o crescimento dos índices de dependências, na área da saúde, nos comportamentos familiares e em áreas ainda pouco

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evidentes como a dos problemas éticos e jurídicos relacionados com os doentes idosos crónicos.

Afirmam Ramalho e Dias (2000), que um dos principais problemas dos idosos é a solidão. Com o processo de envelhecimento surgem uma série de mudanças nas relações sociais do indivíduo, alterando os seus vínculos afetivos. O idoso sofre perdas, falecimento de entes queridos ou amigos, levando muitas vezes ao isolamento afetivo. Contudo, um grande número de idosos, apesar do seu isolamento afetivo, consegue estabelecer relações profundas com os outros. Tendo em conta as vivências, as mudanças permanentes, o abandono, a falta de expectativa em relação ao futuro, o isolamento, a inutilidade, o aborrecimento e a frustração afetiva, surgem frequentemente situações de fracasso e de desespero existencial dificultando o encontrar do sentido para a vida.

Segundo Ramalho e Dias (2000), o envelhecimento origina muitas vezes uma sensação de “carga” sendo frequente na sociedade atual ver o idoso transferido de filho para filho, sentindo-se inútil e desesperado. Nalguns casos sai da sua residência e é conduzido para um lar de terceira idade, obrigando-o a um processo de adaptação a novas situações, e novas normas de conduta.

No contexto social o idoso é muitas vezes rejeitado por não produzir. Numa sociedade moderna assente na rentabilidade e no lucro, os idosos não sendo produtores mas sim consumidores de bens e serviços, são vistos como improdutivos e caros à sociedade, especialmente quando são dependentes (Grácio, 1999). A sociedade moderna valoriza a juventude e a beleza, por isso afasta os idosos para segundo plano, porque estes se afastam desse modelo (Hasse e Cadete, 1992, cit. Grácio, 1999).

Grácio (1999) refere que sob o ponto de vista psicológico existem mudanças a níveis diferentes. A principal mudança é a função cognitiva que se passa ao nível da memória. No aspeto sensório-motor surge uma acentuada lentidão necessitando de mais tempo e de informações mais repetidas, mas ultrapassam os outros em experiência e em conhecimentos pelo que pode organizar melhor a experiência mental e economizar esforços. A nível da função sexual poderá haver uma diminuição do interesse pela atividade sexual, no entanto até aos 75 anos tal declínio é pouco evidente.

De um modo geral sob o ponto de vista social os idosos vão-se adaptando gradualmente à sua situação através de mecanismos tal como a diminuição da interação

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interesse ao que se passa à sua volta e centrando-se cada vez mais em si próprios e no seu passado. Para Berger (1995), os problemas associados ao envelhecimento biológico fazem parte do processo de adaptação. Embora os efeitos do envelhecimento sejam múltiplos e complexos podem por vezes ser modificados. É preciso reconhecer as principais mudanças associadas ao envelhecimento biológico, a fim de retardar os seus efeitos negativos e evitar as complicações, mantendo uma higiene de vida revitalizante para o organismo.

De acordo com Paul (1996), na abordagem da problemática do envelhecimento há que ponderar sobre os vários fatores ligados às capacidades funcionais do idoso, à qualidade objetiva e adequação do seu ambiente residencial e ao seu bem-estar subjetivo.

5 Envelhecimento como Situação de crise

Para o idoso a adaptação a algo novo representa uma verdadeira crise. Surgindo a crise como resultado de uma falha na socialização e da dificuldade em dar respostas às circunstâncias, na medida em que é precipitada por uma situação que perturba a adaptação anterior e requer novas respostas (Ornelas, 1997). Pelo que se torna necessário que o idoso faça alterações na sua conduta.

Taylor (1992) defende que, quando o idoso, está em “estado de crise”, parece atravessar uma série de fases distintas, todas elas sobrepostas. Ou seja, este atravessa um processo que leva à resolução, ou não, da situação de crise. Por outro lado, Neeb (2000) considera que o idoso que experimenta a crise percorre cinco fases, que denomina como “As cinco fases da crise”:

Inicialmente surge uma primeira fase de pré-crise, em que a pessoa se sente “bem”, declarando um estado de bem estar e negando o nível de stress.

A segunda fase é a do impacto, onde o idoso sente ansiedade, confusão, dificuldade em organizar a sua vida pessoal e apresenta elevados níveis de stress. Tem consciência desta situação, mas nega a gravidade.

Seguidamente surge a crise, que pode prolongar-se por um período variável de tempo, em que o idoso nega que o problema está fora de controlo, suspende ou racionaliza os comportamentos e o stress. Utiliza o mecanismo de defesa de projecção.

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Gráfico 1. Índice de envelhecimento 1  europeu
Gráfico 2. Estrutura da população residente em Portugal por grupos etários em 1981, 1991, 2001,  2011
Tabela 2. Índice de longevidade 4   segundo os censos de 2011
Gráfico 3 – Caracterização dos entrevistados por faixa etária (n=10)
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Referências

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