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2 Gerontotecnologia

2.2 Impacto Das Redes De Solidariedade Informais

2.2.1 A Família

A família tem sido ao longo dos tempos um espaço de socialização e de suporte emocional bastante significativo para os seus elementos. É o núcleo central do desenvolvimento ético, afetivo e cognitivo, onde é proporcionado aos seus membros um contexto de socialização conducente à construção de uma existência própria. É um espaço privilegiado de construção social da realidade em que, através da relação entre os seus membros, os factos do quotidiano individual recebem o seu significado

A investigação tem realçado a importância que as redes informais têm vindo a assumir no contexto da dependência em idades avançadas, em grande parte devido à congregação de factores demográficos, políticos e sociais (Scheneider et al., 1999; Martín, Paúl & Roncon, 2000;; Garrett, 2005; Melo, 2005; Lage, 2005; Martín, 2005; Ribeiro, 2005; Sotto Mayor et al., 2006; Sequeira, 2007). A família, sobretudo para a população idosa, constitui um recurso de impacto fundamental a ser acionado. Vai contribuir para satisfazer a necessidade de pertença significava para a identidade da população idosa, no momento de crise, reativando suportes afetivos ou simplesmente proporcionando apoio e ajuda necessárias, numa altura em que há agravamento de vulnerabilidade (Sotto Mayor et al., 2006; Sequeira, 2007).

A família continua, assim a assumir um papel muito importante na vida dos indivíduos mais idosos, pois no entender de Pimentel (2000), funciona ao nível normativo como um quadro de referência. Segundo esta autora, a família é vista como um elemento estável numa sociedade em mutação, transmite normas de conduta que facilitam a integração no meio; garantem um suporte moral em situações críticas, geram estabilidade emocional e criam um sentimento de pertença; e, garantem a realização de serviços.

Neste sentido, é no seio da família que se procura a satisfação das necessidades materiais e afetivas básicas. Contudo, hoje em dia, dado todo um conjunto de fatores ligados aos fenómenos de industrialização – urbanização, bem como, às próprias modificações de cariz social, muitas das funções que, anteriormente eram da “responsabilidade” da família perderam-se e/ou simplesmente sofreram modificações.

É inequívoco, que no contexto das sociedades (pós) modernas as famílias têm revelado novas características, disposições, atitudes e essas alterações têm induzido a novos comportamentos face ao apoio na velhice, sendo atualmente um dos fatores de maior pressão para a necessidade de repensar o lugar que o idoso ocupa no seu seio.

A respeito Fernando Maia (1993), diz-nos que o modelo dominante da família tradicional tem sofrido varias alterações com a crescente entrada da mulher no mercado de trabalho. Na família tradicional o homem tinha a responsabilidade de prover, o sustento da família, e a mulher as tarefas da vida doméstica e cuidadora dos filhos e dos familiares idosos. Nos dias de hoje os papéis dentro da família divergem, e lentamente deu-se o desaparecimento progressivo da família tradicional surgindo a família nuclear. Segundo Vasconcelos (2002) a responsabilidade feminina pela construção e reprodução

das entreajudas familiares, como as “praticantes da solidariedade”, apesar de inevitável pelas mudanças sociais, perpetua a culpabilização das mulheres pelo descomprometimento familiar na prestação de cuidados.

O crescimento vertiginoso da mobilidade populacional eliminou a interação e a convivência entre pais e filhos e avós e netos, aumentando a distância física entre os membros de cada família (Nazareth, 1982). A família apesar de se manter como um meio de contactos e interações, tem cada vez mais dificuldade em assegurar satisfatoriamente as funções de apoio aos seus idosos, que lhes estavam tradicionalmente atribuídas. A estrutura da família, funções e papeis a serem alterados/transformados, o que faz com que a prestação das necessidades aos seus idosos a nível físico (alimentação, higiene), psíquico (autoestima, afeto) e social (identificação, relação) não possa ser totalmente cumprida.

Segundo Pimentel e Albuquerqre (2010, p.254) a revalorização da solidariedade informal

“só pode compreender-se no quadro das mutações profundas nos mecanismos de proteção e na lógica inerente ao sistema de bem-estar atual. A diversificação e complexidade dos riscos na sociedade contemporânea, as transformações na esfera do trabalho e do tempo livre, a necessidade e exigência de participação e iniciativa por parte dos cidadãos, sob uma ótica de maior responsabilidade e implicação na construção do bem-estar individual e coletivo abriram, na verdade, novas potencialidades subjacentes ao terceiro setor, e, em particular, ao incremento das solidariedades informais”.

De salientar que estas instituições formais de solidariedade não pretendem, de modo algum substituir o papel da família, mas sim serem um complemento a esse mesmo papel. Isto supõe que deve existir articulação efetiva entre os vários serviços prestados pela Instituição e a família, de modo, a que haja uma resposta, a mais adequada possível às necessidades do idoso. “As famílias que cuidam dos seus elementos mais velhos têm cada vez mais recursos à sua disposição, podendo contar com apoios formais mais ou menos abrangentes e regulares. Os mais conhecidos e utilizados são os que asseguram o desempenho de tarefas específicas do quotidiano do idoso, como a higiene, alimentação, mobilização, cuidados de enfermagem, entre

e começam a surgir serviços que visam promover o seu bem-estar e atenuar o desgaste provocado pelas funções que desempenham.” (Pimentel e Albuquerqre (2010, p.261).

“A sustentabilidade do idoso (…) em contexto familiar é assegurada pela rede social e pelo apoio social, que se interligam e cooperam no trabalho de parceria (Araújo, Paul e Martins, 2010. p.47). Pressupõe-se, então, uma co-responsabilização entre agentes formais e agentes informais, uma vez que a filosofia de base apela à complementaridade e não à substituição. Até porque a família continua a ter um papel importantíssimo no que diz respeito ao apoio instrumental que pode prestar aos seus idosos.