i
Liderança escolar e Autonomia das escolas
Dissertação de Mestrado
Leonor Maria de Sousa Freitas da Silva
Trabalho realizado sob a orientação de:
Prof.ª Doutora Marlene Sousa
Leiria, março, 2017
Mestrado em Ciências da Educação – Gestão, Supervisão e Avaliação Escolar
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS
INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA
ii
Ao Duarte e Dinis, meus filhos, que a vossa vida seja um romance
escrito com paixão e amor. Na qual os sonhos são concretizados.
Ao Joaquim companheiro de vida, impulsionador deste projeto.
Grata pelo apoio.
iii
Agradecimentos
À Né e ao Zé que nunca me deixaram desistir, mesmo quando a vida trazia agruras.
Obrigada por terem acreditado em mim.
À minha amiga Cristina Freitas pelo apoio, ajuda e sobretudo pela a amizade.
À minha orientadora
Prof.ª Doutora Marlene Sousa
pela sua disponibilidade,
entrega, saber e rigor científico, pela inteligente e contínua crítica construtiva Foi
um privilégio partilhar este percurso.
Aos diretores que aceitaram colaborar na realização das entrevistas, pelo seu
contributo e pela forma como me receberam.
Aos meus pais que orgulhosamente me apoiaram nesta caminhada.
A todos os que de forma direta, ou indireta contribuíram para a concretização deste
projeto.
v
Resumo
Este trabalho tem como objetivo a análise do conceito
de liderança escolar correlacionando-o com o de autonomia. Para
tal, faz-se uma breve análise do fenómeno da liderança, da
inteligência emocional, estabelecendo uma relação entre ambas.
Analisa-se, ainda, a autonomia das escolas que, entre vários
aspetos, pretende o reforço das lideranças escolares. Neste
contexto, procurámos perscrutar em que medida a autonomia é
uma realidade conquistada, ou uma retórica governativa, bem
como o enquadramento legal do papel do Diretor escolar, em
diferentes contextos educativos: escolas do ensino público sem
contrato de autonomia, escolas do ensino público com contrato
de autonomia e escolas do ensino particular e cooperativo com
contrato de associação.
A recolha de dados foi feita através de entrevistas
semiestruturadas a diretores de uma escola, de um agrupamento
e de um colégio. Foram tratadas de acordo com a técnica de
análise de conteúdo.
O presente estudo permitiu-nos concluir que a
autonomia, dentro do mesmo sistema educativo, é percecionada
de forma diferente pelos diretores de acordo com os diferentes
vínculos legais que os seus estabelecimentos educativos têm com
a tutela.
Palavras-chave
Liderança, autonomia, diretores escolares, escolas do
ensino público sem contrato de autonomia, escolas do ensino
público com contrato de autonomia e escolas do ensino particular
e cooperativo com contrato de associação.
vi
Abstract
This study aims to analyze the concept of leadership in
school, correlating it with the concept of autonomy. As such, a
brief analysis of the phenomenon of leadership and emotional
intelligence was done, establishing a relationship between both
of them. Not to mention, the analysis of the autonomy of schools,
that within various aspects, aims the reinforcement of the school
leaderships. In this context, we strived to see how the autonomy
is a conquered reality, or a governmental rhetoric, and the legal
framework of the role of the school
Principal, in different types
of schooling contexts: Schools of public education without
autonomy contract, schools of public education with contract of
autonomy and schools of private and cooperative education with
contract of association.
The collection of the data was done through
semi-structured interviews to school principals of public school
education, grouping of schools and internal school. They were
treated accordingly to the technique of content analysis.
The present study allowed us to conclude that the
autonomy, within the same educational system, is perceived
differently by the school principals, accordingly to the various
legal links that their educational establishments have with the
ministry.
Key words
Leadership, autonomy, school principals, schools of
public education without autonomy contract, schools of public
education with contract of autonomy and schools of private and
cooperative education with contract of association.
vii
ÍNDICE GERAL
Índice Geral ... vii
Índice Tabelas ... ix
Introdução ... 1
Capítulo I - Enquadramento teórico: ... 3
1.
Escola como organização ... 5
2.
A Liderança – fenómeno social... 9
3.
Inteligência e inteligência emocional ... 13
3.1.
Emoções e processos de tomada de decisão ... 15
3.2.
Líderes emocionalmente inteligentes ... 16
4.
O papel dos Diretores escolares - Líderes ou gestores? ... 17
5.
Conceito de autonomia ... 21
6.
Referenciais normativo-legais ... 21
6.1. Autonomia escolar- realidade construída ou retórica legislativa? ... 23
6.2. Ensino particular e cooperativo ... 27
6.2.1. Autonomia e escolas com contrato de associação ... 30
7.
Diretores de escola ... 33
Capítulo II - Dados e metodologia de análise ... 37
1.
O método de investigação ... 39
1.1.
Natureza do estudo ... 39
2.
Instrumento de recolha de Dados ... 43
2.1. A entrevista ... 43
2.1.1. Procedimentos metodológicos relativos às entrevistas... 44
2.1.2. Técnica de análise de dados ... 45
CAPÍTULO III - Análise e discussão de resultados ... 49
viii
1.1.
Caracterização dos participantes ... 51
1.2.
Análise dos discursos dos participantes – entrevistas ... 52
1.2.1.
Clima de escola ... 53
1.2.2.
Gestão financeira e administrativa ... 59
1.2.3.
Liderança e gestão ... 64
1.2.4.
Escola autónoma ... 72
CAPÍTULO IV - Conclusões ... 77
1.
Conclusões ... 79
2.
Limitações da investigação e sugestões para investigações futuras ... 87
Bibliografia ... 89
Legislação consultada: ... 94
Anexos ... 95
Anexo I ... 96
Anexo II ... 99
Anexo III ... 101
Anexo IV ... 153
ix
ÍNDICE TABELAS
1
INTRODUÇÃO
A liderança é um tema premente, pois o líder tem um papel nuclear para a melhoria
das organizações. Sendo a escola uma organização que presta serviços educativos e onde
se interrelacionam dinamismos diversos, interessa-nos analisar em que medida os
modelos de liderança, direção e gestão escolares afetam a qualidade das organizações
escolares e podem ser fulcrais para a autonomização das escolas e melhoria da qualidade
educativa. Nas atuais teorias sobre a liderança há um conceito que lhe é indissociável: o
de inteligência emocional. Nesta área considera-se que um líder emocionalmente
inteligente é um líder mais eficaz, sendo que a própria tomada de decisão está
intrinsecamente relacionada com as emoções. No entanto, a gestão e liderança da escola
está condicionada pelo atual modelo de autonomia das escolas e por todo o funcionamento
da Administração Educativa. Neste contexto, pretendemos perceber qual a correlação que
se estabelece entre a liderança e a autonomia das escolas.
A liderança nas organizações é um tema nuclear quando refletimos sobre a melhoria da
qualidade das mesmas. O atual modelo de gestão escolar leva-nos a refletir sobre o papel
do diretor/gestor/líder. Leva-nos a questionar sobre quais as escolas que temos e, quais
os modelos de ensino/educação que preconizamos. O desenvolvimento deste tema irá
entroncar nas questões da autonomia das escolas, nos modelos de liderança e gestão
escolares.
Questões como assegurar a qualidade da escola (Ballion, 1994) ou a eficácia do
ensino (Scheerens, 2004) são indissociáveis dos modelos de administração e gestão das
escolas e das respectivas lideranças (Sergiovanni e Carver, 1976; Goleman, Boyatzis e
MacKee, 2003; Sergiovanni, 2004; 27 Lorenzo Delgado, 2005; Iacocca, 2007),
elementos decisivos para a reconfiguração dos sistemas educativos, para a formulação
de novas soluções organizacionais nos contextos escolares e para responder com mais
rapidez e sucesso às exigências cada vez maiores das comunidades locais e das
sociedades contemporâneas. (Silva, 2008: 26,27)
A autonomia enquanto capacidade de sermos independentes em determinado campo, ou
área é um conceito várias vezes mencionado na legislação portuguesa para a educação,
seja no chamado ensino público, seja no privado. Neste trabalho analisámos os
referenciais legislativos sobre este conceito e procurámos compreender em que medida
esta é operacionalizada e concretizada.
2
Desde, sobretudo, a publicação do Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio que a questão
da liderança escolar e autonomia aparecem relacionadas. Propõe-se nesse normativo legal
que as escolas procedam a uma autonomização sob a forma de contratos e inicia-se uma
mudança no paradigma da direção e gestão das escolas. Esta mudança paradigmática vai
culminar com a publicação do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 28 de Abril, que aprovou o
regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação,
substituindo em termos de direção e gestão escolar um órgão colegial, por um órgão
unipessoal, o Diretor. Através do presente trabalho empírico, procurámos perscrutar as
perceções que os diretores têm relativamente ao desempenho das suas funções e em que
medida a autonomia legislada é concretizada, neste atual paradigma educativo. Qual a
disponibilidade deixada pela tutela para o exercício desta função. Será o Diretor, no atual
contexto legal escolar, um líder ou um gestor, ou ambos? Haverá uma verdadeira
autonomia?
O presente trabalho está organizado em duas partes, a primeira em que são abordados os
conceitos, os referenciais teóricos e normativos sobre liderança e autonomia. Cada um
destes temas constitui um capítulo diferente. A segunda parte do trabalho é dedicada à
investigação empírica do objeto que nos propusemos estudar. São apresentadas as opções
metodológicas e as técnicas de tratamento dos dados. No final do trabalho são
apresentadas as conclusões e as limitações do trabalho e apontadas perspetivas para
trabalhos futuros.
3
CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO:
5
More often than not, the principal’s leadership skills determine whether a school becomes a dynamic learning organization or a failed enterprise.
Gray, Fry e O’Neill (2007:5)