Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em Gestão do Território - área de especialização em Detecção
Remota e Sistemas de Informação Geográfica, realizada sob a orientação científica
ii
iii
AGRADECIMENTOS
A dissertação de mestrado tem o intuito de dar condições para os jovens investigadores
adquirirem a capacidade de criar um texto que possa expressar seu aprendizado na área de
especialização. Mas muito longe isto fica, porque ao longo do seu desenvolvimento implicam-se
muitas pessoas que de uma forma ou de outra, aportam um pouco de conhecimento e que torna
mais rico o trabalho. Assim dedico algumas palavras e meu mais profundo agradecimento.
Em primeiro lugar aos meus orientadores: Prof. Dr. Carlos Pereira Silva que sempre esteve pronto
a me atender para sanar as mais mínimas dúvidas e deu-me todas as condições de trabalho dentro
do grupo de investigação Modelação Geográfica, Cidades e Ordenamento do Território (MCGOT),
sem o qual não teria suporte para a realização deste trabalho. À Prof. Dra. Monica Ferreira da
Costa que com grande profissionalismo e amizade, fez todas as correções de todos os textos
gerados, desde o projeto até a conclusão da dissertação, sem falar da disponibilidade total no
trabalho de campo em Boa Viagem, dando suporte logístico e aportando todo o conhecimento do
bairro. Além de disponibilizar recursos físicos no Laboratório de Ecologia e Gerenciamento de
Ecossistemas Costeiros e Estuarinos (LEGECE) para a realização de reuniões e trabalho em
gabinete. Ao Prof. Dr. José Antonio Tenedório que sempre esteve presente aportando ideias,
incentivando e direcionando os rumos que deveriam seguir a dissertação. Também ao suporte
técnico em DRSIG e os conselhos para chegar aos objetivos propostos, além das correções dos
métodos aplicados neste estudo.
Ao e-GEO Centro de Estudos de Geografia e Planejamento Regional na figura da Profa. Nazaré
Roca que me acolheu como membro colaborador ao grupo Modelação Geográfica, Cidades e
Ordenamento do Território (MCGOT) e aos novos amigos que ali conheci, além do auxílio técnico
em gabinete que me ajudou no desenvolvimento da dissertação. Quero agradecer em especial a
Raquel de Deus com suas explicações sobre o Índice de Compacidade Volumétrica, a António
Manuel Rodrigues pelas críticas aos gráficos, tabelas, figuras, entre outras e ao Secretário do
e-GEO Bruno Neves, pela paciência com minhas dúvidas quanto à utilização dos recursos disponíveis
no centro.
No Brasil e mais especificamente na cidade do Recife, tenho que agradecer ao Departamento de
Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, a Profa. Dra. Sigrid Neumann Leitão, pelo
convite em fazer a apresentação no seminário da Pós Graduação deste departamento. Ao
iv
amizade com ânimos para a continuidade deste trabalho. Ao Sr Jáiniton Pereira da Costa Filho
Supervisor do Setor de Documentação e de Disseminação de Informações – SDI – PE do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que se empenhou em fornecer todos os dados
censitários anteriores a 2010. Aos funcionários do Controle de Desenvolvimento Urbano e Obras
(DIRCON6) da Prefeitura do Recife, Sra. Ana Paula Cascão (Coordenadora) e Sr. Epaminondas
Araújo Cabral (Arquivista) pela disponibilidade em pesquisar as licenças de habitação dos imóveis.
À Fundação Joaquim Nabuco pela disponibilização do seu acervo fotográfico.
Não poderia faltar um agradecimento, mais que especial, ao novo amigo Ted Lincon Martins
Pontes, que com sua paciência e conhecimento, disponibilizou transporte para toda cidade. Sem
esta força e amizade, muito dos dados não poderiam ser recolhidos ou tornaria muito dificultoso a
recolhas dos mesmos. Assim como, pelo seu trabalho na DIRCON 6, com muita paciência buscou,
junto com o Sr Epaminondas, as licenças de habitação dos imóveis para esta dissertação.
A minha família pela afetividade e aos incentivos que sempre me deram na busca de melhores
condições de vida. Especialmente a minha mãe Oneyde que com sua simplicidade sempre soube
dar uma palavra de animo, ao meu pai Jorge que esteve sempre interessado neste trabalho. A
minha sogra Teresa que se interessou em entender o estudo. Aos meus irmãos, cunhados e
sobrinhos em especial Taynara, Ivânia e Roberto.
Aos amigos Cleo e Neto que me incentivavam a iniciar o mestrado na área de especialização
Detecção Remota e Sistema de Informação Geográfica (DRSIG) em Gestão do Território na
FCSH-UNL.
De forma especial a Érika, minha companheira na vida, a quem dedico esta dissertação. Por seu
empenho em ler e reler meus textos e o interesse em que eu conseguisse atingir este sonho e
continuar, juntos, os novos desafios que a vida nos apresenta. Obrigado por tanto carinho, amor e
compreensão.
E por fim a tantos outros tantos amigos do trabalho e do dia a dia, que de forma indireta,
ajudaram e contribuíram a esta dissertação. Além daqueles tantos que conhecemos na vida e por
um momento nos dá um pouco de si e nos faz o que somos hoje.
v
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA ORIENTADOS PARA O
ORDENAMENTO DO LITORAL.
O CASO DA BOA VIAGEM
–
RECIFE
–
PE - BRASIL
MATEUS GEORGENES MAGAROTTO
RESUMO
O crescimento vertical das cidades brasileiras é um fenômeno que ocorre nas grandes metrópoles urbanas do país, bem como nas cidades médias que necessita ser analisado criticamente. A finalidade é contribuir para uma melhor qualidade de vida dos seus habitantes e otimizar seus benefícios. Este fato é particularmente importante para as cidades costeiras, onde as pressões antropogénicas não são controladas. A praia de Boa Viagem, em Recife - Nordeste do Brasil era uma zona de areia coberta por Mata Atlântica até meados de 1800, tendo sido ocupada desde então por fazendas de coco, militares e casas de veraneio. Atualmente é uma área residencial com hotéis, serviços e comércio que coexistem de forma densa. As análises no presente trabalho, sobre o uso do solo da Boa Viagem entre 1961 e 2011, resultam da utilização do processamento digital de imagens, análise visual da imagem de satélite QuikBird (2002) e de cinco coberturas fotográficas aéreas (1996, 1981, 1974, 1961). Foi criado um Sistema de Informação Geográfica (SIG) usando os programas SPRING - INPE (freeware) e ArcScene - ESRI, para calcular e representar as variações de crescimento da área ocupada e da verticalização das áreas edificadas. Foram, ainda, utilizados dados obtidos em trabalho de campo (2011) e a série história dos Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1960 - 2010. Estabeleceram-se como Área Mínima de Mapeamento (AMM) os setores censitários utilizados pelo (IBGE). Dezessete setores foram utilizados como amostras da área e sua variação temporal (50 anos) direção (Norte – Sul; Leste – Oeste). Assim, constituiu-se um modelo em 3D para quantificar a variação do volume dos edifícios ao longo do tempo. Os setores foram divididos em zonas Norte, Central e do Sul dentro da área de estudo no bairro da Boa Viagem. Contatou-se que todos os índices de ocupação são altos, existindo uma forte tendência de crescimento vertical, o que resulta em altas taxas de compacidade volumétrica. A ocupação e crescimento vertical são especialmente acentuados entre as décadas de oitenta e noventa, maximiza-se na primeira década deste Século. O crescimento vertical da costa para o interior é mais evidente na Zona Central, seguido pela Norte e Sul. Como resultado destes processos, vários problemas surgem, sendo os mais relevantes: impermeabilização do solo, grandes volumes de escoamento urbano, aumento das temperaturas, vento canalizado, engarrafamentos, poluição do ar, abastecimento de água, coleta de esgoto e coleta de resíduos sólidos deficientes. Os resultados deste trabalho revelaram-se uteis para futuras decisões a colmatar as necessidades básicas do bairro. Ele pode igualmente servir como modelo básico para priorizar as ações mitigadoras no bairro da Boa Viagem e outras cidades costeiras com estes mesmos problemas.
vi GEOFRAPHICAL INFORMATION SYSTEM FOR COASTAL MANAGEMENT.
THE BOA VIAGEM CASE – RECIFE – PE – BRAZIL
MATEUS GEORGENES MAGAROTTO
ABSTRACT
Vertical growth is a phenomenon in urban settlements that needs to be critically analyzed in order to generate quality suggestions for its management, which will optimize its potential benefits for the city and its inhabitants. This is especially important for coastal cities where anthropogenic pressures might be not only severe, but also decades old, and most likely uncontrolled. The literature indicates that Boa Viagem beach, at Recife – Northeast Brazil, was a sand bar covered by Atlantic Rain Forest until the middle of the 1800s. Since then, it has been occupied by coconut farms, military and beach holiday homes. At present it is a busy area of the city where residences, hotels, services and commerce co-exist in a densely packed arrangement. The present work analyses Boa Viagem land use changes, from 1961 – 2011 using digital image processing and visual analysis of one satellite image and five aerial photos. A GIS was created using SPRING – INPE (freeware) and ArcScence by ESRI, to calculate the variations of area occupied and vertical growth. Data were obtained at the field (2011) and from the demographic census. The Minimal Mapping Area (MMA) was the census units used by the Brazilian Institute of Geography and statistics (IBGE). Seventeen census sectors were used as samples of the area. The sectors were analyzed for spatial (N-S; L-W) and temporal (50 years changes) variations. A 3D GIS model to quantify the variation of the volume of the buildings along time was created. The sectors were divided into North, Central and South zones of Boa Viagem. At all sectors occupation indexes are high, a strong trend of vertical growth exist that results in high volumetric compacity. And occupation and vertical growth are especially accentuated in the 1981 –
1996 decades, and maximized in 2011. Vertical growth increases from shore to inland is more evident in the Central Zone, followed by the North and South. As result of these processes, several problems arise. The most relevant are: impermeable coverings; large volumes of urban runoff; increasing of temperatures; wind funneling; traffic jams; air pollution and; deficient water supply, wastewater collection and solid
wastes collection. The results of this work proved to be a useful insight into the city’s potentialities and needs. It can serve as a basic model to prioritize mitigations actions at Boa Viagem and other coastal cities with similar problems.
vii
ÍNDICE GERAL
Introdução. ... 1
Capítulo I – Estado da arte e contexto de referência. ... 4
I. 1. O uso da Detecção Remota (DR) e Sistemas de Informações Geográficas (SIG) no Ordenamento do Litoral. ... 4
I. 2. Compacidade e Intensidade do crescimento urbano. ... 7
I. 3. Ordenamento do Litoral. ... 9
I. 4. A cidade litorânea, o crescimento urbano do Recife e a verticalização do bairro da Boa Viagem. ... 11
I. 4. 1. A ocupação urbana da cidade do Recife. ... 12
I. 4. 2. Verticalização urbana um problema que afeta o bairro da Boa Viagem.... 17
Capítulo II – Área de estudo, materiais e métodos. ... 22
II. 1. Caracterização da área de estudo. ... 22
II. 2. Materiais e Métodos. ... 24
II. 2.1. Método 2D construído a partir de imagens de satélites e coberturas fotográficas aéreas em ambiente SPRING. ... 24
II. 2. 2. Modelo em três dimensões ... 34
Capitulo III – Resultados e discussão. ... 38
III. 1. Análise dos dados. ... 38
III. 2. Análise do crescimento urbano ao nível dos quarteirões. ... 39
III. 3. Análise por Bairros. ... 41
III. 3. 1. Bairro da Boa Viagem. ... 41
III. 3. 2. Bairro Pina ... 44
III. 3. 3. Bairro Brasília Teimosa. ... 47
III. 4. Análise da variação do crescimento urbano e do ritmo de crescimento médio anual. ... 48
viii
III. 4. 2. Ritmo de crescimento médio anual. ... 50
III. 5. Análise amostral em três dimensões, índice de compacidade volumétrica e a relação com o crescimento populacional. ... 52
III. 5. 1. Análise das amostras em três dimensões. ... 52
III. 5. 2. A atual verticalização. ... 52
III. 6. Análise das amostras por zonas no período entre 1961 – 2011. ... 56
III. 6. 1. Amostras Zona Norte. ... 56
III. 6. 2. Amostras Zona Centro. ... 61
III. 6. 3. Amostras Zona Sul. ... 65
III. 7. Análise do Índice de Compacidade Volumétrica. ... 69
III. 8. Análise da População. ... 73
Conclusões. ... 77
Bibliografia ... 81
Lista de Figuras ... 87
Lista de Tabelas ... 89
ix
LISTA DE ABREVIATURAS
2D Duas dimensões
3D Três Dimensões
AMM Área Mínima de Mapeamento
BR Brasil
CONDEPE Agencia Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco
DIRCON 6 6ª Diretoria de Controle Urbano da Prefeitura da Cidade do Recife
DO Departamento de Oceanografia
Dpi Dot per Inch
DR Detecção Remota
DRSIG Detecção Remota e Sistema de Informação Geográfica
e-GEO Centro de Estudos de Geografia e Planejamento Regional
ERPINA Estação de Rádio Pina
ESRI Environmental Systems Research Institute
FCSH Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
FIDEM Fundação de Desenvolvimento Municipal
GIF Graphic Interchange Format
Ha Hectares
Hab Habitantes
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICV Índice de Compacidade Volumétrica
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Km Quilômetros
LEGECE Laboratório de Ecologia e Gerenciamento de Ecossistemas Costeiros e Estuarinos
MCGOT Modelação Geográfica, Cidades e Ordenamento do Território
x
N Norte
PBV Projeto Boa Viagem
PCR Prefeitura da Cidade do Recife
PE Pernambuco
PI Planos de Informação
PNGC Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
RGB Red, Green, Blue
SAD 69 South American 1969
SGBD Sistema Gerenciador de Banco de Dados
SIG Sistemas de Informação Geográfica
SPRING Sistema de Processamento de Informações Geográficas
SR Sensoriamento Remoto
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UNL Universidade Nova de Lisboa
UTM Universal Transverse Mercator
ZC Zona Centro
ZN Zona Norte
1
Introdução.
O Brasil teve um forte crescimento urbano a partir de meados do século XX, passando por
um processo de urbanização acelerada e intensa, formando aglomerados urbanos desordenados
(Valério Filho et al., 2005). Esta rápida transformação, resultado de um forte êxodo rural, teve
como consequência a concentração populacional nos grandes centros urbanos (Martine e
McGranahan, 2010), passando de uma população rural entre 1940, a uma população
predominantemente urbana em 1970 (IBGE, 2010).
Estas mudanças abruptas, desordenadas e irregulares não ocorreram de forma continua ao
longo do tempo, causando sérios prejuízos ao meio ambiente com perda da biodiversidade,
degradação do solo, assoreamento de rios, poluição atmosférica e contaminação dos recursos
hídricos (Baseggio et al., 2006).
Alguns exemplos destas mudanças são a ocupação de várzeas sujeitas a inundações às
margens dos rios, solos suscetíveis à erosão nas encostas dos morros com perigo de rolamento,
causados pelas chuvas. Sobretudo, o uso indevido das zonas costeiras, nos limites litorâneos,
como mangues, dunas e o ambiente praial. Estes são locais inapropriados à construção de
moradias fixas pela população.
Neste contexto o Brasil possui um litoral com mais de 7.400 km de extensão, onde são
desenvolvidas diversas atividades como portuárias, pesca e aquicultura, exploração de recursos
minerais (petróleo, sal, areia), turísticas e recreativas, setores da indústria imobiliária e da moda.
Sendo fonte de renda para uma camada importante da população, principalmente, nas praias mais
frequentadas, onde se desenvolve um mercado informal com grande diversidade de produtos
(Araújo, 2007). Isto denota uma alta potencialidade econômica advinda das características
ambientais locais, como: clima, vegetação, dunas, recifes de arenitos e manguezais que agregam
valor paisagístico as praias (Silva et al., 2006).
Desta forma a ocupação desordenada do litoral e a consolidação das cidades trazem
importantes problemas em diferentes graus e escalas. Isto ocorre por falta de um planejamento
urbano e ambiental adequado, que não tem um olhar voltado à dimensão do ambiente vivido, e
sim, imediatista com a busca de um desenvolvimento baseado na infraestrutura e apropriação do
espaço natural. Este tipo de ação causa inúmeros problemas de caráter ambiental que afetam a
população local e causa conflitos urbanos que, com o passar do tempo, acabam por dificultar sua
2
Estes fatores agravam-se ainda mais quando relacionados com as metrópoles situadas na
zona costeira, como é o caso da cidade do Recife – PE – BR, localizada em uma zona flúvio marinha na confluência dos rios: Capibaribe, Beberibe, Jiquiá, Tejipió, Jordão e Pina.
Esta cidade possui uma das praias urbanas mais procuradas do país, a Praia da Boa Viagem.
Neste sentido, Araújo (2008) afirma que caso não seja bem utilizado o ambiente costeiro, se
degrada e compromete suas funções ambientais e sociais com sérios prejuízos à qualidade de vida
da população. Assim, o bairro da Boa Viagem, localizado após a praia, é um exemplo do pouco
planejamento urbano do litoral da cidade do Recife e de um contínuo processo de verticalização
causado pela especulação imobiliária. Esta verticalização é promotora de problemas urbanos e
ambientais no bairro.
Esta dissertação de mestrado tem como objetivo analisar o crescimento e a densidade
urbana para os bairros da Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa, localizados na cidade do Recife no
período 1961 – 2002, com a criação de um banco de dados georreferenciado e de fácil acesso. Também é proposto analisar, de forma amostral, em Três Dimensões (3D) áreas chaves do bairro
da Boa Viagem, para comprovar sua Verticalização nos últimos 50 anos, e criar um Índice de
Compacidade Volumétrica (ICV). Além de relacionar estas informações com a intensidade e o
crescimento demográfico do bairro, utilizando técnicas e métodos de Detecção Remota e Sistema
de Informação Geográfica, baseando-se na Gestão Costeira.
Este estudo levará a cabo um sistema para facilitar o monitoramento do processo de
crescimento desordenado da área de estudo e contribuir para o seu apropriado planejamento,
através das técnicas de Sensoriamento Remoto (Detecção Remota) e os Sistemas de Informação
Geográfica (SIG). Esta alternativa fornece subsídios à ocupação urbana e dá maior aceitação e
objetividade aos estudos, à medida que permitem a identificação de determinados elementos da
paisagem urbana em diferentes escalas (Silva, 2002).
Através destes sistemas podem-se criar modelos com base em banco de dados
georreferenciados e de fácil acesso para monitorar os conflitos urbanos, através da informação
espacial e dos procedimentos computacionais, facilitando a análise, gestão e representação do
espaço (Câmara et al., 1996).
Estes SIG associados a uma Área Mínima de Mapeamento (AMM) podem monitorar toda a
gestão urbana como, por exemplo: as edificações presentes, sua distribuição espacial, as áreas de
3
os locais com maiores problemas de congestionamento do trânsito, as área verdes existentes, o
uso e consumo de recursos naturais como a água e energia elétrica, coleta de resíduos, em
determinados momentos do dia.
Também pode servir de plataformas para que os cidadãos possam apontar os problemas
existentes no bairro ou em sua rua, auxiliando o poder público com informação importante no seu
papel de gerenciador dos problemas e conflitos urbanos, podendo tomar medidas a fim de
4
Capítulo I
–
Estado da arte e contexto de referência.
I.1. O uso da Detecção Remota (DR) e Sistemas de Informações Geográficas (SIG) no Ordenamento do Litoral.
Marco deste período histórico, nos dias atuais, todo o planeta pode ser conhecido ou
visualizado através dos mapas digitais que representam o meio urbano e o natural. Este avanço
tecnológico faz com que, qualquer pessoa diante dos diferentes equipamentos digitais, possa ter
uma noção espacial do mundo em diferentes escalas, permitindo o conhecimento do espaço que
habitam e de certa forma, contribuir para a melhoria do convívio social.
Para o planejamento urbano, estas ferramentas computacionais tornam-se importante
dada à facilidade que podem ser acessadas e utilizadas em diferentes escalas e estudos. Neste
sentido, para planejar o desenvolvimento urbano é necessário um conjunto de informações
relevantes, sua distribuição espacial e os diferentes segmentos da população deste espaço urbano
(Souza, 2003). Esta associação entre a informação e o referencial geográfico, possibilita a
diferenciação residencial do espaço urbano, sua distribuição espacial e interação com a
caracterização social da população urbana (Souza et al., 2007).
Neste contexto, pode destacar que uma metrópole sem planejamento adequado da
ocupação do uso do solo, com crescimento rápido e com poucos recursos técnicos, pode colocar
em risco a qualidade de vida dos seus habitantes (Lombardo, 1985). Consequentemente,
compreender a distribuição espacial das informações contidas nos acontecimentos ocorridos no
espaço sócio-urbano e os problemas causados ao meio natural, constitui um desafio para as
diversas áreas do conhecimento. Estes estudos têm-se tornado cada vez mais frequentes devido
às potencialidades de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), (ANICETO et al., 2005).
Os SIG são sistemas que realizam o tratamento computacional dos dados geográficos e
armazenam a geometria e os atributos destes dados que estão georreferenciados (Druck et al.,
2002). Estes interagindo com o Sensoriamento Remoto (SR), que é o processo de aquisição de
informação de um objeto (alvo) usando um sensor que não está em contacto físico direto com
este, (Novo, 1995). Assim as imagens de satélite podem ser compreendidas como o conjunto de
matrizes e valores numéricos, que correspondem aos níveis radiométricos registrados em cada
uma das bandas espectrais e devido a este fato, são designadas por imagens multiespectrais,
5
Estas tecnologias de informação espaciais podem ser utilizadas para tornarem os estudos
urbanos mais ricos e diversificados. Assim, as imagens orbitais adquiridas pelos satélites são
importantes para compreender o meio físico urbano e social, dão origem a banco de dados e
possibilitam a extração de informações relevantes.
A informação pode ser processada de forma gráfica, através de mapas e da identificação de
padrões e tendências espacial do fenômeno estudado (Druck et al., 2002). Estes bancos de dados
podem armazenar grandes quantidades de informações e auxiliarem nos procedimentos de
planejamento do uso do solo. Assim como proposto por Druck, Carvalho, Câmara, Monteiro
(2002):
A organização destes bancos de dados geográficos mais
utilizada é o modelo geo-relacional (ou arquitetura dual), que
utiliza um Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD)
relacional, como o DBASE, ACCESS; ORACLE, para armazenar
em suas tabelas os atributos dos objetos geográficos, e
arquivos gráficos separados para guardar as representações
geométricas destes objetos.
Desta forma, o SR aliado ao SIG ganhou impulso nos últimos anos e tornaram-se uma
forma integrada para a análise espacial, (Rocha et al., 1996), com modernos e sofisticados
sistemas. Assim, criaram-se softwares de geoprocessamento que auxiliam na caracterização do
meio urbano, natural e sua ocupação antrópica, além da extensão e intensidade (Araújo et al.,
2011). Desta forma podem-se criar sistemas que auxiliem os tomadores de decisões,
principalmente o poder público, a buscar novas formas de gerenciar a ocupação urbana e criar
mecanismos para evitar problemas negativos às cidades e ao meio natural.
Para Baseggio et al., (2006) o sensoriamento remoto orbital tem se mostrado uma
ferramenta eficaz para a pesquisa e possibilita a obtenção de grande quantidade de informação.
Assim, criam-se SIG que tornam imprescindíveis ao estudo e as análises das variações ambientais
terrestres, (Baseggio et al., 2006). Neste sentido, Dahdouh-Guebas et al., (2011) afirma que as
técnicas de SR e SIG fornecessem informação que subsidiam comparações temporais de áreas
naturais e projeções da alteração e impactos causados numa região e a tomada de decisões
6
Todos os autores mencionados convergem que os SIG são ferramentas computacionais de
geoprocessamento, necessárias e que permitem realizar análises complexas, ao integrar dados de
diversas fontes e criar bancos de dados georreferenciados, possibilitando produção de
documentos cartográficos. Portanto, os SIG armazenam a geometria e os atributos dos dados que
estão georreferenciados – localizados na superfície terrestre e representados numa projeção cartográfica. Os dados tratados em geoprocessamento têm como principal característica a
diversidade de fontes geradoras e de formatos apresentados (Duck, 2002).
A informação sobre o uso do solo é um elemento essencial para os processos de
planejamento e ordenamento do território. Neste contexto o gerenciamento costeiro ou
ordenamento do litoral utiliza estas ferramentas para melhor gerir este espaço e criar novos
modelos para o uso e ocupação. Assim, à medida que se tem maior conhecimento de um
problema melhores serão as possibilidades de soluciona-los ou amenizar os danos, por ele
causado.
Entende-se que os ambientes costeiros são frutos, não apenas, da evolução natural do
meio ambiente, mas também, do processo histórico da ocupação humana que ao dominar estás
áreas causa problemas aos ecossistemas existentes. Assim os estudos destes ambientes com a
utilização do Sensoriamento Remoto e os Sistemas de Informação Geográfica, conduzem a uma
7
I.2. Compacidade e Intensidade do crescimento urbano.
A forma urbana é concebida de acordo com um grau de planejamento, seja pela própria
atitude de seus moradores ou pela organização institucional do governo, através dos planos de
desenvolvimento regional e local. Entretanto, os aglomerados urbanos formam um sistema
dinâmico e ao mesmo tempo complexo (Peres e Polidori, 2010).
Os autores supracitados afirmam que o crescimento urbano é alcançado com alternância
entre maior e menor compacidade e fragmentação do meio urbano. Esta afirmação denota que as
etapas deste processo são dinâmicas e garante o progresso urbano, através das mudanças e da
interferência direta da sociedade, economia, cultura, tecnologia entre outros fatores (Polidori e
Krafta, 2005). Isto demonstra que o desenvolvimento urbano é dinâmico, apresentando mudanças
contínuas e dependentes, sobretudo, do fluxo migratório humano.
Assim, a ideia de cidade, frequentemente, está associada à ideia de escassez de recursos,
poluição, extinção de espécies, pouca qualidade de vida. Está ideia pode ser pensada em aspecto
que a cidade resiste, cresce, transforma-se, consolida-se como parte integrante e inseparável do
processo social. Mesmo existindo guerras, crises, enchentes, escassez de alimentos, epidemias
(Polidori e Krafta,2005) a cidade é o meio e a existência dos indivíduos e é nela que desenvolve-se
o habitat do homem e seus conflitos com o meio natural.
Neste contexto a cidade compacta é defendida por diversos autores, que estudam o
planejamento urbano, como sendo a cidade do futuro, que minimiza as restrições ambientais e ao
mesmo tempo em que maximiza a qualidade de vida e serviços (Maignant, 2005). Desta forma, a
compactação urbana é positiva, mesmo que seu desenvolvimento possa passar por diferentes
processos, ora compacta e ora fragmentada, ao longo do tempo. Estes processos reafirmam o
caráter evolutivo e dimensiona o espaço urbano.
Os estudos sobre a morfologia urbana levam sempre em conta o espaço construído, as
formas e suas conexões. Podem-se destacar aqui três variáveis principais neste processo a
superfície, o perímetro e a área. As cidades apresentam diferentes graus de centralidade ou
dispersão que devem ser correlacionados com diferentes indicadores para seu estudo. Entretanto,
a forma urbana tem uma conotação subjetiva de acordo com cada estudo. Se considerar a
centralidade como uma expressão de diferenciação espacial, podem-se buscar elementos para
8
Desta forma os índices de compacidade são importantes nos trabalho comparativos entre
diferentes cidades, ou seja, para grandes áreas, onde os polígonos dão uma melhor noção de sua
compacidade. Por outro lado, quando se trabalha de áreas pequenas e polígonos que representam
apenas um bairro, e as quadras ou os edifícios que são praticamente retangulares, a compacidade
não é relevante.
Porém quando se busca a análise em volume, através do Índice de Compacidade
Volumétrica (ICV), podem-se ter resultados interessantes sobre a verticalização de uma área ou
região. Assim, os estudo trará um enriquecimento da análise e mais fiável do ponto de vista
9
I.3. Ordenamento do Litoral.
As zonas costeiras são limites de contatos entre a terra, o mar e a dinâmica climática, estes
abrigam notáveis mostruários de ecossistemas existentes entre a costa e o mar (Ab’Saber, 2003). É um espaço com inúmeros recursos que são explorados por diferentes interesses, principalmente
nos últimos 60 anos (Silva, 2002). Para Gruber et al., (2003) a zona costeira está submetida a um
maior estresse ambiental a nível mundial, sobretudo, pelo avanço da urbanização. No mesmo
sentido Costa e Araújo (2008), destacam que o ambiente costeiro é composto por dois fatores
interdependentes: o natural e o socioeconômico.
Planejar e ordenar o litoral de um país é sem dúvida uma medida necessária para melhor
usufruir dos recursos disponíveis. Sua interfase entre o continente, o oceano e a atmosfera, é o
berço de inúmeros ecossistemas e habitat de diversos animais aquáticos e terrestres. Assim como,
local de lazer para a população em distintos países. Portanto, o ordenamento do litoral deve ser
integrado aos SIG e ao SR para obter maiores quantidades de informações. Assim, possibilitará a
proteção das alterações e impactos causados, pelo ser humano, na exploração destes ambientes,
tanto a nível regional como local.
A complexidade das interações entre os aspectos naturais e antropológicos estão
intrinsecamente ligados no planejamento e desenvolvimento urbano e no gerenciamento da zona
costeira (Cunha, 2004). Neste contexto, no Brasil, foram criados os marcos legais dentro da
Constituição Federal de 1988, como as Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Recursos
Hídricos, Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e o Estatuto da Cidade (Obraczka et al.,
2011).
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), em seu art. 3o, § 1º afirma que:
“prioridade à conservação e proteção dos recursos naturais, renováveis e não renováveis: recifes, parcéis e bancos de algas; ilhas costeiras e oceânicas; sistemas fluviais; estuarinos e lagunares, baías e enseadas; praias; promontórios, costões e grutas marinhas; restingas e dunas; florestas litorâneas,
manguezais e pradarias submersas.”
Esta é a política pública que deveria atender as zonas costeiras e legislar para dar maiores
garantias ao conjunto da população que utiliza, reside, exerce seus negócios, subtrai recursos
naturais, desenvolve suas atividades financeiras, além de proteger os aspectos naturais neste
10
Neste contexto, o gerenciamento costeiro é entendido como uma atividade baseada em
ciência e tecnologia. Entretanto, é necessária sua aplicação prática, dotada de um
desenvolvimento conceptual, metodológico e crítico, construído em instituições de pesquisa e
desenvolvimento (Asmus et al., 2006). Isto significa que estes ambientes costeiros são frutos, não
apenas, da evolução natural do meio ambiente, mas também, do processo histórico de ocupação
humana que ao dominar estás áreas, causa problemas aos ecossistemas existentes.
Portanto é importante salientar que os impactos causados pela ação do homem são
progressivos, interligados e influenciam a qualidade socioambiental de uma região, (Jesus et al.,
2011). Estes problemas são agravados quando as zonas costeiras onde desenvolvem-se grandes
centros urbanos que é um fator catalisador dos conflitos entre o meio socioeconômico e o meio
natural.
Estes problemas causados pela intervenção humana nos diferentes ecossistemas e,
principalmente, nas zonas de costa, devem ser discutidos no âmbito das comunidades que
11
I.4. A cidade litorânea, o crescimento urbano do Recife e a verticalização do bairro da Boa Viagem.
No Brasil o artigo 182 da constituição federal (Brasil, 1988), determina que os municípios
delimitem o perímetro urbano. Este corresponde à sede municipal e também os distritos que
formam a cidade. Desta forma, podem-se definir as cidades de acordo com sua funcionalidade,
atividade econômica e centros de produção, ou seja, cidades comerciais, capitais políticas
administrativas, portuárias, turísticas, entre outras, (Garcias e Bernardi, 2008).
Cada cidade pode ter todas as funcionalidades destacadas, mas sempre prevalece um
aspecto que determina sua função. Segundo Rodrigues (2010), é apenas com regulação do artigo
182, através da instrumentalização do plano diretor e das políticas de desenvolvimento, que o
cidadão terá direito a uma cidade justa, equilibrada e com qualidade de vida. Assim, a análise da
cidade vem associada com o plano socioeconômico e político (Carlos,2006).
Desta forma, a ocupação colonial brasileira inicia-se pelo litoral e aos poucos dá origem aos
primeiros aglomerados urbanos e consequentemente as primeiras cidades, sobretudo, na região
nordeste e posteriormente nas regiões sul – sudeste do país (Cristo e Gruber, 2009). Esta ocupação urbana ocorre sem maiores considerações com o meio físico, causando consequências
ao meio ambiente e a qualidade de vida da população, (Rocha et al., 1996).
O crescimento urbano vem associado aos principais ciclos econômicos brasileiros cana de
açúcar, ouro, café, substituição industrial de importações e causa a ocupação e diversificação do
territorial. Mas é no primeiro momento da colonização brasileira, quando o território se limita
apenas às zonas costeiras, que formam as principais cidades costeiras do país, como é caso da
cidade do Recife.
Neste contexto, as cidades litorâneas estão dispostas próximas ao oceano e tem como
principal atrativo a praia. Esta gera o desejo de obtenção de locais aprazíveis de moradias, turismo
e especulação imobiliária (Cristo e Gruber, 2009). Sobretudo, a especulação imobiliária causa
transformações na Zona Costeira, além de outros processos de exploração, relacionados ao
turismo e a segunda residência. Portanto, os interesses econômicos e tecnológicos junto com o
mercado imobiliário são o centro da transformação urbana (Martins e Bueno, 2010). Este fato
ocorre através da reorganização do espaço urbano que intensifica o uso do solo, reloca a
12
I.4. 1. A ocupação urbana da cidade do Recife.
O litoral brasileiro possui um povoamento descontinuo com zonas de adensamento
populacional entorno aos estuários (Araújo et al., 2007). Estes núcleos urbanos tem um acelerado
crescimento populacional no tempo, principalmente, pela ocupação das praias como local de
veraneio e moradia (MMA, 2008). Neste contexto, a zona costeira pernambucana repete o tipo de
ocupação do litoral brasileiro.
Esta zona litorânea possui 187 km, com 21 municípios, adensamento populacional próximo
900 hab./km2. Está dividida em três setores Norte, Metropolitano e Sul, com 12 estuários, 60
praias. Compõem um conjunto paisagístico único, onde se destacam os cordões de arenito
(beachrock) paralelos à linha de costa, berço de reprodução de diversas espécies e proteção da
costa (Araújo et al., 2006). A maior concentração da população está na zona metropolitana da
cidade do Recife (MAI, 2009). Assim, torna-se evidente que o setor Metropolitano é o que mais
sofre com os problemas causados pela apropriação do meio natural pelo meio urbano.
A cidade do Recife é a capital do Estado de Pernambuco, localiza-se no setor
Metropolitano, entre as latitudes 08º04´03´´, e longitude 34º55´00´´, no interflúvio da Bacia
Hidrográfica do Rio Capibaribe composta pelos rios Capibaribe (principal), Beberibe, Jiquiá, Tejipió,
Jordão e Pina. A vegetação está disposta em tabuleiros costeiros e subzonas: praia, dunas,
restingas e manguezais, (Cavalcanti, 2009). O nome da cidade é uma associação com os arrecifes
de arenitos paralelos a linha de costa na zona litorânea da cidade. Segundo o censo demográfico a
cidade tinha 1.472.202 habitantes (IBGE, 2010).
Sua ocupação caracteriza-se pelos aterros, canalização de rios e impermeabilização da
superfície, o que culmina com a descaracterização dos espaços naturais, e grandes distúrbios
socioambientais (Silva, 2011). Este sistema de ocupação desordenado passa por uma
reestruturação a partir da criação do planejamento urbanístico desenvolvido pela Fundação Para o
Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife (FIDEM). Este órgão foi responsável pelo
planejamento e ordenamento da Região Metropolitana da cidade do Recife (Silva, 2011).
Neste contexto, pode-se destacar que o inicio da colonização dá-se a partir de 1537, como
um porto de embarque e desembarque de mercadorias vindas e idas para a metrópole Portugal. A
partir do século XVII, inicia um pequeno crescimento demográfico impulsionado pela tomada do
13
A cidade cresce entre os canais dos rios no sentido litoral – interior e de costas ao mar, mas sua grande expansão urbanística ocorre a partir do século XX. Esta foi causada pelo êxodo rural
produzido pelas fortes secas na região do agreste nordestino e também pelos processos de
industrialização do setor açucareiro e fabril (Alves, 2009). O tão sonhado desenvolvimento
industrial não vingou e a massa de desabrigados da seca acabou construindo seus mocambos1 e
palafitas2 ao lado dos manguezais (Castro, 1967).
À medida que a população cresceu e se desenvolveu, o solo da cidade ficou mais valorizado
e os grupos sociais vindos de outras regiões, foram obrigados e fixarem-se nos limites com o litoral
e os mangues. Em 1970, a cidade do Recife era a grande metrópole nordestina como principal
polo industrial (Cavalcanti, 2009). O seu desenvolvimento está associado à localização avançada,
um excelente porto, no centro de uma área de expressão econômica e demográfica, onde difundiu
a agroindústria açucareira. Estes fatores fazem da cidade um importante polo de atração de
investimentos dentro da região nordeste brasileira.
A partir de 1910, o Engenheiro Saturnino de Brito, dota a cidade com os serviços de
saneamento e com intervenções urbanísticas planejadas para o porto do Recife (Alves, 2009).
Estas melhorias são apenas para o centro urbano da cidade. As regiões afastadas do centro e
próximas ao mar são pouco valorizadas por não possuírem boas comunicações, serem insalubres e
um local da descarga do esgoto urbano (Alves, 2009). Neste contexto, a praia da Boa Viagem, não
era utilizada pelos setores sociais mais abastados economicamente. Estes passavam suas férias na
limítrofe cidade de Olinda, que possuía infraestrutura turística para receber este grupo (Araújo,
2007).
A partir década de 1920, com a construção da “ponte do Pina”, que interligou o centro da cidade com a ilha do Pina, dá-se as condições necessárias para aceder as areias da Boa Viagem.
Neste período que estás praias começaram a sua transformação em local de veraneio, (Prefeitura
da Cidade do Recife, 2001).
Esta infraestrutura dá condições para a apropriação das terras que hoje formam os bairros
da Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. Neste sentido, Araújo (2007) destaca que antes da década
de 1920, esta região era ocupada por pescadores que viviam em mocambos, além de existir uma
pequena igreja que dava o nome ao povoado da Boa Viagem. A paisagem era dominada por
fazendas de coqueiros e poucos eram os proprietários destas terras (Figura 1).
14
Figura – 1. Desenho, a bico de pena, de um mocambo a princípios do século XX.
Fonte: Fundação Joaquin Nabuco. JPC P 21.114.
Este local só inicia um processo mais intenso de urbanização com a construção da Avenida
Beira Mar (hoje Avenida Boa Viagem) que foi finalizada em 1924. Esta infraestrutura pública,
promovida pelo governo da época, beneficiou, sobretudo, aos proprietários destas terras com a
valorização das mesmas (Alves, 2009). Mas é após a 2ª Guerra Mundial, com a popularização do
banho de mar e a proximidade do aeroporto que os bairros da Boa Viagem, Pina e Brasília
Teimosa, começam a ter um acentuado crescimento urbano (Prefeitura da Cidade do Recife,
2001).
Boa Viagem torna-se uma referência para a cidade como local de turismo, veraneio e
diversão. Atrai o interesse da classe média alta em busca de locais mais agradáveis para passarem
suas férias ou residir.
Nos anos 50, morar na Boa Viagem era sinônimo de pertencer à elite recifense e é neste
período que aparecem as primeiras edificações: como o hotel Boa Viagem (Figura 2) e, assim,
inicia-se um vertiginoso crescimento populacional (Araújo, 2007). Esta mesma autora, afirma que
até a década de 1970, esta região era composta por residências de veraneio e de segunda
residência, ou ainda, destinada ao turismo. Com as melhorias das infraestruturas, Boa Viagem
passa por uma profunda transformação da paisagem natural, as casas térreas e os lotes vazios são
15
A partir deste momento, Boa Viagem, é destinada ao turismo e principalmente à residência
das classes com maior poder aquisitivo, (Alves, 2009). Desta forma, o bairro desenvolve-se sem
planejamento adequado e com perdas das características ambientais, com forte especulação
imobiliária que acelera o processo de verticalização e adensamento populacional (Silva et al.,
2006).
Figura – 2. Fotos da praia da Boa Viagem a meados do século XX. Início da urbanização.
Hotel Boa Viagem (1954) Castelinho
Praia entre Pina e Boa Viagem Imediações da Praça da Boa Viagem
Fonte: Fundação Joaquin Nabuco. Fotos: AGP P 72.246,AGP P 72.249,BD_0608,BD_0607.
Em cinco décadas o bairro passa de um simples local turístico de praia e veraneio a um
bairro residencial verticalizado, urbanizado desordenado e adensado popularmente. Este fato
modifica a paisagem urbana do bairro causando problemas ao meio natural e urbano.
Vários estudos sobre a praia da Boa Viagem (Silva et al., 2006; Araújo, 2007; Dantas et al.,
2007; Araújo, 2008; Costa et al.,2008; Morais e Silva, 2010; Silva, 2011;) apontam várias
fragilidades urbanas nestas praias e destacam alguns de seus principais problemas como: as saídas
16
dificuldade de locomoção (menos válidos), que tem privado o uso deste espaço democrático. O
estado lamentoso das calçadas pequenas e com grandes desníveis, o que dificulta o acesso de
pedestres; a má educação no uso da praia e o desrespeito ao indivíduo que não quer estar nas
barracas destinadas ao comércio. Além da apropriação dos melhores terrenos pelos setores
sociais mais ricos e abastados economicamente. Este fato causa verticalização da orla marinha e a
expulsão das comunidades carentes dos setores próximo à praia. Os grupos sociais com menor
poder aquisitivo passam a viver nas margens dos rios e nas áreas de mangue.
Estes são alguns problemas que foram sendo criados com a apropriação do bairro nos
últimos 50 anos, não tiveram a devida atenção dos planejadores públicos, não foram sanados ou
amenizados. Na atualidade causa desconforto aos grupos sociais que utilizam esta praia e o bairro,
como pode ser observado na Figura 3.
Figura – 3. Representação dos problemas frequentes na praia e no bairro da Boa Viagem.
Acesso à praia Verticalização
17
I.4. 2. Verticalização urbana um problema que afeta o bairro da Boa Viagem.
Os problemas relacionados com o crescimento urbano sempre estão incluídos no
acréscimo populacional e a apropriação do espaço. Este fato causa conflitos entre os processos
socioeconômicos e o meio natural. Neste sentido, a paisagem urbana é constituída pelos
elementos naturais e artificiais, em constante dinâmica e são responsáveis pela forma de vida do
homem atual (Moura e Nucci, 2009). Entretanto, os locais urbanos próximos à praia formam um
conjunto paisagístico propício e tendem a especulação imobiliária e consequentemente à
verticalização.
A construção de edifícios de muitos andares à beira mar é comum, não só no litoral
brasileiro, como por exemplo: Rio de Janeiro (RJ), Santos e São Vicente (SP), Florianópolis (SC),
Balneário Comboriú (SC), Fortaleza (CE), São Luis do Maranhão (MA), Natal(RN), mas também no
mundo: Hong Kong (China) Singapura, Miami (EUA), entre outras. Estes exemplos comprovam que
as zonas costeiras são suscetíveis de verticalização, assim como o litoral da cidade do Recife
(Figura 4).
Figura – 4. Verticalização na parte sul do bairro da Boa Viagem.
Este tipo de construção de edifícios de diversos pavimentos começou a ser expandida a
18
Mendes, 2010) e nas capitais econômica e política brasileira, São Paulo e Rio de Janeiros
respectivamente.
A verticalização é definida como o resultado da multiplicação do solo urbano em altura
(Somekh, 1987). Para Souza (1994), é uma estratégia entre múltiplas formas do capital fundiário,
produtivo, imobiliário e financeiro, responsável pela criação do espaço urbano. Isto significa que
quando se constrói um edifício o solo pode ser multiplicado em altura e volume, por meio da
expansão da área edificada. Assim, se consegue multiplicar o lucro da área construída com o
mesmo lote de terreno.
As cidades brasileiras, especialmente as de médio e de grande porte passaram e passam
por um rápido e intenso processo de crescimento físico-territorial, populacional e de renovação
urbana (Töws e Mendes, 2010). Este fato está associado ao êxodo rural, que a partir do século XX
modifica a forma de viver da população brasileira passando de rural em 1940 à,
predominantemente, urbana em 1970 (Martine e McGranahan, 2010). Este rápido e abrupto
processo causa uma segregação sócio-demográfica e cria diferenças quanto à condição social e os
padrões de vida (Cunha, 2004).
Nas últimas décadas do século XX ocorreu a intensificação da construção de edifícios
destinados prioritariamente para uso residencial (Fresca, 2002). Esta apropriação do espaço só é
possível com as diferentes possibilidades de produção do espaço urbano, através de
transformação de terras de uso rural em solo de uso urbano, via loteamentos. Mas é o
crescimento em altura (verticalização) que apresenta especial particularidade a este processo e
altera a paisagem urbana e o modo de viver na cidade, (Töws e Mendes, 2008).
Em estudo recente, Paula et al., (2012) afirma que a verticalização desordenada na orla
marinha, causa problemas como poluição das praias e dos rios, maior consumo de recursos
naturais como água e energia elétrica, entre outros. Estes problemas incidem nas zonas costeiras e
afetam a socioeconomia e ao meio natural local.
Desta forma, a verticalização nas zonas costeiras produz verdadeiras muralhas junto às
praias. Este processo não é diferente no bairro da Boa Viagem, que também pode ser definido
como um processo da multiplicação do solo urbano, adensamento populacional e intensificado no
tempo.
A praia da Boa Viagem é a única praia oceânica da cidade do Recife com extensão de 8km,
19
ambiente pós-praia, dunas vegetadas, lagoas costeiras, brejos, gamboas, manguezais, bacias
hidrográficas (Costa et al., 2008). Este ambiente costeiro foi ocupado nos últimos 100 anos de
forma abrupta e desordenada com grande perda do mosaico dos ecossistemas costeiros. Estes
ambientes são de grande importância para a Cidade do Recife e necessita um gerenciamento
costeiro integrado com maior atenção em seu desenvolvimento para reduzir as perdas quanto à
biodiversidade.
A praia presta serviços ecológicos fundamentais de proteção à costa, ameniza o clima no
bairro e é um espaço democrático para o banho de sol e de mar (Costa et al., 2008). Sobretudo, a
praia é para o bairro da Boa Viagem o motor impulsionador de seu desenvolvimento. Neste
sentido, o crescimento populacional trouxe consequências como poluição, trânsito caótico, além
da situação de desconforto (Silva et al., 2006).
Assim, como apontado anteriormente, este bairro cresce rápido e desordenado a partir da
década de 1970, como palco da exploração turística e na transformação em um bairro residencial
com problema acrescido da verticalização (Silva et al., 2006).
Neste sentido, a Revisão do Plano Diretor do Recife (Prefeitura da Cidade do Recife, 2004),
expõe que a cidade em termo de população, desde 1960, passou por um processo de expansão
populacional.
Os resultados das séries históricas dos Censos Demográficos do IBGE, para o bairro da Boa
Viagem. Revelam que entre 1960 e 1970 a população passou de 77.467 habitantes para 158.442
habitantes, para o então distrito da Boa Viagem. Tendo assim um acréscimo de 80.975 habitantes.
Em 10 anos a população duplica e continua crescendo para o período censitário de 1970 e 1980,
que passa a ter 221.745 habitantes, um acréscimo de 63.303 habitantes.
Isto significou a quase saturação dessas áreas periféricas, sobretudo pela insuficiente
oferta de infraestruturas e serviços urbanos (Prefeitura da Cidade do Recife, 2004). Este
crescimento populacional causou a conurbação com outras cidades limítrofes. Sobretudo, gera a
necessidade de infraestruturas para a zona sul da cidade e consequentemente para o bairro da
Boa Viagem.
Um segundo aspecto é caracterizado pela habitação coletiva de maior densidade
(verticalização), através da substituição das antigas casas térreas horizontalizadas por edifícios e
20
Em relação às áreas ocupadas pelas classes média e alta,
chama atenção o intenso processo de adensamento construtivo e
verticalização, responsável pela densidade populacional dos bairros
de Boa Viagem, Espinheiro, Jaqueira, Graças, Torre e Madalena.
E ainda destaca que
As áreas que concentram as maiores rendas, acima de 10
salários mínimos, situam-se na orla, em Boa Viagem, na Torre e
Madalena e no conjunto de bairros da margem esquerda do Rio
Capibaribe (Prefeitura da Cidade do Recife, 2004).
Assim, o bairro tem atraído uma atenção especial pelos poderes públicos, sobretudo, a
partir da metade do século XX, para atender aos interesses da classe dominante e consequente da
especulação imobiliária. Esta atenção criou os importantes eixos viários Avenidas Beira Mar,
Conselheiro Aguiar, Engenheiro Domingos Ferreira, Mascarenhas de Morais, Dom Helder Câmara,
além da BR 101 no sul da cidade do Recife (Prefeitura da Cidade do Recife, 2001).
Por este fato, é considerada como uma orla exposta, consolidada e urbanizada (MMA,
2002). O uso desta praia está massificado com um número de usuário máximo de 2,9m2/pessoa,
significando que sua capacidade de carga está ultrapassada e resulta na poluição da faixa de praia
e na mudança no tipo de usuários ao longo do tempo (Silva et al., 2006).
O bairro da Boa Viagem dá a impressão do edifício com mais de 10 andares, possibilitado
pelo uso do elevador e associado ao desenvolvimento tecnológico (Somekh, 1997), aproveitando o
máximo do uso do solo e provocando o adensamento urbano. Assim, o espaço urbano
verticalizado é administrado e utilizado pelos agentes ligados a especulação imobiliária de maneira
a reproduzir as estruturas de poder e de dominação na sociedade, levando a regramentos de
comportamento e impondo modos de vida (Töws e Mendes, 2008).
Por outro lado, como afirma o autor supracitado, é o modo de vida da sociedade atual
inserida neste local e cabe ao planejamento urbano o dever de dar soluções às necessidades
populacionais e urbanas. Estas soluções devem ser baseadas nos trabalhos de investigação
científica em gestão costeira e planejamento urbano, apoiados nos Sistemas de Informação
Geográfica, para as áreas maciçamente povoadas (Silva, 2002). Assim, a fim de criar sistemas
21
investimentos públicos em infraestruturas e melhorias nas condições de vida dos diferentes
22
Capítulo II
–
Área de estudo, materiais e métodos.
II. 1. Caracterização da área de estudo.
A área de estudo está inserida no ambiente litorâneo ao Sul da cidade do Recife, capital do
estado do Pernambuco – Brasil. Abrange os bairros de Brasília Teimosa, Pina e Boa Viagem, com uma população de 170.432 habitantes, segundo o censo demográfico de 2010, em uma área total
de 1420,88 hectares (ha), dividida em: Boa Viagem 747,06ha; Pina 612,88ha; Brasília Teimosa
60,94ha (IBGE, 2010). É importante salientar que grande parte do bairro Pina esta formado pelo
Parque dos Manguezais, pertencente à Marinha do Brasil. A densidade populacional em 2010, é de
120 hab/ha e para o bairro da Boa Viagem, 165 hab/ha.
O clima é quente e úmido com temperatura média de 25ºC com duas estações uma seca
de (setembro a fevereiro) e outra chuvosa de (março a agosto) com um índice pluviométrico de
1600mm/a. A geomorfologia é quaternária, plana e constituída de rochas quartzosas e areníticas,
inseridas na planície flúvio marinha e com altitude não superior a cinco metros (Vasconcelos et al.,
2000). Limita-se com o Porto do Recife ao Norte, o bairro da Piedade (Município de Jaboatão dos
Guararapes) ao Sul, com os bairros Ipseg e Afogados a oeste e com o Oceano Atlântico a leste. O
limite costeiro é estabelecido até profundidade de 18m a partir do nível médio do mar (MAI,
2009).
O ambiente praial é composto por quatro unidades morfológicas: a duna frontal, a
pós-praia, praia ou estirâneo e ante-praia. A área de estudo forma uma única unidade fisiográfica junto
a outras praias do município de Jaboatão dos Guararapes ao Sul. Estas praias compõem uma
extensão de dunas que foi ocupada pela Av. Beira Mar e estruturas urbanas construídas ao longo
do tempo sem grande planejamento (Araújo, 2008).
Neste contexto destaca-se o bairro da Boa Viagem com a maior densidade populacional,
maior concentração de edifícios destinados ao uso residencial e empresarial e a maior
verticalidade construtiva da cidade (Prefeitura da Cidade do Recife, 2004). As principais vias de
comunicação dos bairros são: as pontes Eng. Antonio de Góes e Gov. Paulo Guerra (Antiga ponte
do Pina), as avenidas Eng. Antonio de Góes, Herculano Bandeira, Eng Domingos Ferreira,
Conselheiro Aguiar e as ruas Ribeiro de Brito e Barão de Souza Leão.
23
existente entre as coberturas fotografias aéreas, disponíveis para este trabalho, e a imagem de
satélite QuickBird – 2002 (Figuras 5).
Figura – 5. Localização da área de estudo.
(A) – Brasil - Pernambuco, (B) – Recife, (C) – Boa Viagem.
A
(B)
(C)
(A)
Boa Viagem Brasília Teimosa Pina
24
II. 2. Materiais e Métodos.
II. 2.1. Método 2D construído a partir de imagens de satélites e coberturas fotográficas aéreas em
ambiente SPRING.
Para realizar este estudo foram utilizadas sequências de fotografias aéreas e imagem de
satélite (Tabela 1). Estes dados foram fornecidos pela Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), pela
Agencia Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (CONDEPE-FIDEM) e pelo
Departamento de Oceanografia (DO) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Estas
informações formam a base do banco de dados para desenvolver a primeira parte deste estudo.
Tabela – 1. Materiais utilizados no estudo.
O software escolhido para desenvolver este estudo foi o Sistema de Processamento de
Informações Geográficas (SPRING) versão 5.1.8, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas
TIPO Data Vôo
Data impressão
Formato Escala de aquisição Resolução Espacial Fornecedor Imagem Satélite
- 2002 Digital Pixel 70 cms 0,70m PCR
Fotografia Aérea
1996 1997
Digital
8 fotos 1:6000 1,20m CONDEPE - FIDEM
Fotografia Aérea
1981 1982
Digital
8 fotos 1:6000 1,20m CONDEPE - FIDEM
Fotografia Aérea
1974 1974
Digital
8 fotos 1:6000 1,20m CONDEPE - FIDEM
Fotografia Aérea
1961 1962
Papel
6 fotos 1:6000 1,20m DO-UFPE
Carta de Nucleação Urbana
- 2003
CAD
25
Espaciais - Brasil (INPE). O SPRING é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) com funções de
processamento digital de imagens, mapeamento, análise espacial, modelagem numérica do
terreno e consulta a banco de dados espaciais (Câmara, 1996). As vantagens de usar este
aplicativo são as facilidades de uso, sua disponibilidade gratuita, estar disponível em quatro
idiomas (português, inglês, espanhol e francês) e contar com um suporte técnico do INPE, por
e-mail ou através da página web do próprio instituto.
A partir da imagem de Satélite QuickBird – 2002 e das coberturas fotografias aéreas, criou-se dentro do ambiente gráfico do programa, o banco de dados denominado BoaViagem e o
projeto PBV (Projeto Boa Viagem). Para este passo é necessário definir as coordenadas geográficas
que envolvem o projeto e o Datum. Desta forma foi escolhido o sistema de projeção cartográfica
Universal Transverse Mercator (UTM), Zona 25, SAD 69 (Datum South American 1969) e as
coordenadas planas X1: 284500; X2: 297000; Y1: 9097000; Y2: 9110000; que compreendem as
cenas que compõe a Imagem de satélite (Figura 6).
Figura – 6. Layout de abertura do Banco de Dados BoaViagem no software SPRING.
Após a definição das coordenadas, construíram-se os modelos de dados que representam e
especificam quais tipos de informações que o software processará. Neste caso, são: Imagem_TM
dados de imagens, Urbano dados temáticos, Dados_IBGE dados cadastrais. Para cada modelo
elaboram-se os Planos de Informação (PI) que contém as informações matriciais ou vetoriais a
26
Para este passo, inicialmente, importaram-se as cenas da Imagem de satélite QuickBird – 2002, denominada: Recife_16, Recife_19, Recife_22, e Recife_23, para os PI de mesmo nome.
Estas desenharam o mosaico PBV (Figura 7). As cenas estão dispostas no modelo de cores RGB
(Red, Green, Blue), que representam no mosaico PBV_1 R (Red – vermelho) PVB_2 G (Green – verde) e PBV_3 B (Blue – azul) e compreende a totalidade dos bairros da Boa Viagem, Pina, Brasília Teimosa e áreas adjacentes. Após realizar o mosaico da imagem de satélite foi necessário fazer os
mosaicos das cenas das fotografias aéreas para cada ano em estudo.
Figura – 7. Mosaico da Imagem QuickBird (2002) baseado em 4 cenas que cobrem a totalidade do bairro
da Boa Viagem e áreas adjacentes.
A elaboração dos mosaicos das coberturas fotográficas aéreas é necessária para fazer o
georreferenciamento das várias cenas que as compõem. Portanto, antes de começar este
procedimento foi necessária a digitalização das cenas da cobertura fotográfica aérea do ano de
1961 (Tabela 1). Este processo foi realizado com um escâner de mesa (HP Deskjet F2492) seguindo
o mesmo padrão das outras fotografias, já digitalizadas, com 600 dpi (dot per inch), formato GIF
(Graphic Interchange Format) e 21,50 x 22,25 cm de tamanho para cada cena.
O processo de georreferenciamento corresponde ao registro de pontos de controle
27
2002 (base) e o conjunto das coberturas fotográficas aéreas. Estas deverão ser redimensionadas
em cada uma de suas cenas à imagem de satélite. SPRING utiliza funções polinomiais para fazer
estes ajustes. Este procedimento cria um sistema de referência geográfica a cada cena das
fotografias aéreas, neste caso, projeção cartográfica UTM, Zona 25 e datum SAD 69 e as
redimensiona na mesma disposição da imagem base.
Desta forma, usou-se o mosaico PVB (Imagem QuickBird – 2002) como base para estes processo que dotará as sequências das coberturas fotográficas aéreas relativas aos anos de 1961,
1974, 1981, e 1996 de um sistema de coordenadas geográficas.
Para cada ano foram georreferenciadas entre seis a oito fotografias que compõem a
extensão entre a praia e os bairros de Brasília Teimosa ao norte e Boa Viagem ao sul. A resolução
espacial destas cenas é de 1,2m.
Para obter a resolução espacial utilizou a fórmula:
Resolução = (Escala * Acuidade Visual) / 1000 (Equação 1)
Ou
Resolução = Escala * 0,0002 (Equação 2)
Considerando que:
Escala: é a relação matemática entre a dimensão de um objeto real e a do desenho que o representa em um plano.
Acuidade visual: é uma característica do olho humano de reconhecer dois pontos muito próximos. Acuidade visual de um indivíduo é de 0,2mm (Sadeck, 2009).
Foram criados pontos de controle homólogos (15 pontos em média) para as cenas das
coberturas fotográficas aéreas em seus respectivos anos. O erro médio quadrático foi menor que
0,5 pixels. Isto significa que o posicionamento das cenas tem menos de meio pixel de erro em
relação à Imagem de Satélite (Lingnau e Antunes, 2003), fato que cumpre os requisitos técnicos
nesta matéria.
Após este procedimento elaboraram-se os mosaicos para cada uma das sequências das
coberturas fotográficas aéreas. A criação de mosaicos no SPRING é feita com a importação para
dentro dos PI´s mosaico_61, mosaico_74, mosaico_81, e mosaico _96, das cenas
28
retângulo envolvente do PI de destino. O software redimensiona as sequências das cenas e cria os
mosaicos. (Figura 8).
Figura – 8. Mosaicos das coberturas fotográficas aéreas 1961,1974, 1981, e 1996.
Mosaico 1961 Mosaico 1974 Mosaico 1981 Mosaico 1996
Após todo o processo de georreferenciamento e a criação dos mosaicos para as fotografias
aéreas. Realizou-se a representação vetorial denominada “quarteirões”. Esta foi, inicialmente, desenhada sobre a Imagem de Satélite QuickBird – 2002 e depois inserida nos mosaicos para delimitar a área de estudo.
Para este processo será respeitado à divisão censitária do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatísticas (IBGE). Os bairros são delimitados pela prefeitura de cada município e o IBGE
determina os setores censitários. Estes são, atualmente, a unidade mínima de coleta de
informações para o censo demográfico (IBGE, 2010) (Figura 9).
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Figura – 9. Divisão dos bairros da Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa.
Para esta primeira parte do estudo os quarteirões constituem a unidade mínima de análise
para todas as variáveis e são a base para a representação nas fotografias aéreas (Figura 10).