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Uma análise sobre a proposta de reforma da previdência e a perspectiva de direitos sociais de mulheres assistidas pelo Núcleo Maria da Penha – NUMAPE - Francisco Beltrão - PR / An analysis of the pension reform proposal and the social rights perspective o

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44344-44353, jul. 2020. ISSN 2525-8761

Uma análise sobre a proposta de reforma da previdência e a perspectiva de

direitos sociais de mulheres assistidas pelo Núcleo Maria da Penha – NUMAPE -

Francisco Beltrão - PR

An analysis of the pension reform proposal and the social rights perspective of

women assisted by the Maria da Penha Nucleus - NUMAPE - Francisco Beltrão

- PR

DOI:10.34117/bjdv6n7-159

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 08/07/2020

Adriana do Val Alves Taveira Doutora em Direito

Instituição: Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Franca – SP Pós-Doutora em Democracia e Direitos Humanos

Instituição: Universidade de Coimbra-Pt.

Endereço: Rua Pernambuco, 1777 - Centro, Mal. Cândido Rondon - PR, 85960-000 – UNIOESTE. E-mail: adriana_val_taveira@hotmail.com

Thainá Luiza Zuza Mendes

Graduanda em Direito pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus Francisco Beltrão.

Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus Francisco Beltrão. Endereço: R. Maringá, 1200 - Vila Nova, Francisco Beltrão – PR, Brasil

E-mail: thainalzm@gmail.com

Jéssica Barancelli

Graduada em Direito. Advogada.

Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus Francisco Beltrão. Endereço: R. Maringá, 1200 - Vila Nova, Francisco Beltrão – PR, Brasil

E-mail: Jessicabarancelli@gmail.com

Guilherme Baggio Costa

Graduando em Direito pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus Francisco Beltrão.

Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus Francisco Beltrão. Endereço: R. Maringá, 1200 - Vila Nova, Francisco Beltrão – PR, Brasil

E-mail: guilhermebaggiocosta@hotmail.com

RESUMO

Considerando a Reforma Previdenciária pôr que passou o sistema Constitucional brasileiro, o presente trabalho tem como objetivo abordar a situação socioeconômica das mulheres atendidas pelo Núcleo Maria da Penha – NUMAPE , cuja finalidade consiste em dar apoio jurídico e educativo para as mulheres que se encontram em situação de violência doméstica, e as repercussões que a reforma provocou direta ou indiretamente na vida econômico-profissional das assistidas pelo NUMAPE. A partir da análise sobre os dados pessoais colhidos das mulheres atendidas nos anos de 2018 e 2019, construiu-se um mapeamento das atividades econômicas por elas praticadas como forma de

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contribuição de renda familiar, com análise da capacidade financeira de cada uma, suas inserções no mercado formal e informal de trabalho, a fim de, a partir desses dados, construir-se um panorama geral do resultado da reforma da previdência na vida sócio-econômica dessas mulheres, e a perspectiva de virem a ter uma garantia de Seguridade Social em um futuro próximo.

Palavras-chave: Violência Doméstica. Reforma Previdenciária. Lei Maria da Penha ABSTRACT

Considering the Social Security Reform put in place by the Brazilian Constitutional system, the present work aims to address the socioeconomic situation of women served by Núcleo Maria da Penha - NUMAPE, whose purpose is to provide legal and educational support to women who are in a situation domestic violence, and the repercussions that the reform had directly or indirectly on the economic-professional life of those assisted by NUMAPE. From the analysis of the personal data collected from the women attended in the years 2018 and 2019, a mapping of the economic activities they practiced as a way of contributing to family income was constructed, with analysis of the financial capacity of each one, their insertions in the formal and informal labor market, in order to build on these data an overview of the result of social security reform in the socio-economic life of these women, and the prospect of having a Social Security guarantee in a near future.

Keywords: Domestic Violence. Social Security Reform. Maria da Penha Law

1 INTRODUÇÃO

O presente Ensaio Teórico, que se consubstancia em uma pesquisa bibliográfica e de dados, tem por objetivo debater a situação das mulheres assistidas pelo NUMAPE - Núcleo Maria da Penha, de Francisco Beltrão/PR – atividade de extensão vinculada ao Programa Universidade sem Fronteira da SETI a partir da atual conjuntura brasileira, após findada a reforma da previdência e um número alarmante de violência doméstica apontada pela mídia e órgãos públicos.

Observe que, segundo Meneghetti (2011, p. 326):

No ensaio, os procedimentos de coleta e evidenciação do mundo empírico não são o centro de sustentação da sua forma. Todavia, não se nega a importância da evidência empírica como proposição elementar da produção de conhecimento. A força do ensaio está na forma como os procedimentos são questionados e não como eles se tornam verdades inerentes aos resultados que se originam dele (MENEGHETTI, 2011, p. 326).

A partir dos registros obtidos nas atividades de apoio jurídico, educativo e psicológico prestados às assistidas do Núcleo Maria da Penha, Campus de Francisco Beltrão, far-se-á um levantamento de dados relacionados à situação socioeconômica dessas mulheres, buscando chegar a percentuais que possam expressar a relação entre suas vulnerabilidades sociais e as previsões após reformas da Previdência Social, como: o número de mulheres que não possuem trabalho formal, ou seja, sem registro em carteira de trabalho; o número de assistidas caracterizadas como “do lar” e de “baixa renda” (portanto, sem contribuição), a fim de se estabelecer uma previsão dos direitos sociais que lhes trarão garantia de assistência num futuro próximo.

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O trabalho será composto de três partes: em um primeiro momento será abordado o contexto histórico-cultural em que está inserida a mulher brasileira e os resultados dessa construção para o gênero feminino. A seguir, far-se-á uma análise no texto objeto da reforma da previdência, nos pontos relevantes para o tema aqui exposto, o qual foi aprovado no ano de 2019, através da Emenda Constitucional n°103 de 2019, sempre com o intuito de verificar as alterações que repercutirão nas garantias sociais futuras das mulheres assistidas pelo NUMAPE.

Em um terceiro plano, expor-se-á, através de um gráfico, os percentuais das mulheres assistidas que se apresentam com perspectiva de estarem seguradas ou não diante das novas reformas apontadas pelas alterações que potencialmente estão sendo encaminhadas pelos representantes do legislativo brasileiro.

O método utilizado na pesquisa consubstancia-se em leitura bibliográfica, com a finalidade de interação com os teóricos da sociologia jurídica e da história, que abordam as questões do gênero feminino e, coleta de dados com abordagem quantitativa, buscando estabelecer um conjunto de dados relacionados com o tema proposto, ou seja, um método misto, composto por abordagem bibliográfica e quantitativa de dados. A técnica de coleta utilizada foi através de entrevistas pessoais, desenvolvidas durante as assistências prestadas pelo NUMAPE, com posterior análise dos dados, de acordo com o objetivo proposto no trabalho de análise de conteúdo.

Por fim, abordar-se-á a construção bibliográfica coletada pelos autores, através de um alinhamento com a literatura consultada, de acordo com o objetivo do presente resumo expandido. Utilizar-se-á um gráficos que permitirá a análise do índice de mulheres assistidas e o percentual de casos inseridos ou não na cobertura da previdência social, a partir das novas propostas da atual reforma previdenciária.

2 A QUESTÃO DA MULHER NO BRASIL

A condição de desigualdade que ainda permeia o universo feminino nos dias de hoje encontra seu fundamento na construção sociocultural da história do Brasil, que se deu nos padrões dos povos latinos em que a superioridade masculina prevaleceu durante séculos nos moldes do patriarcalismo. Segundo este sistema, a mulher enquanto criança, adolescente e jovem é controlada por seu pai e, após a contração do matrimônio, pelo marido, que então, passa a ser o pater família, situação jurídica que deixou de ser assim disciplinada somente a partir do ano de 1988, com a Constituição Federal brasileira, cujo artigo 5º estabeleceu igualdade entre homens e mulheres e o poder familiar em igualdade de condições.

Deve-se observar, no entanto, que a história aponta a construção da sociedade a partir de uma lógica de superioridade masculina, em que a mulher sempre esteve sob a égide de um homem, que a

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submeteu e a dominou como uma “coisa”, sempre aos cuidados do chefe da família e, dentro desta concepção, o protagonismo da mulher restringiu-se à vida privada.

A partir dessa estrutura social patriarcal, estereótipos e papeis na sociedade foram sendo criados para o gênero feminino, como figura insegura, meiga, sensível, altruísta que culminava em deveres maternos, serviente do marido e filhos, levando a mulher ao confinamento doméstico que somente após a revolução industrial, século XX, passou a exercer outras funções sociais, além do âmbito familiar, fosse como operária, secretária, professora ou enfermeira, conforme expõe D’Incão (2000). Segundo esse autor, a violência pode ser compreendida como uma forma de restringir a liberdade de uma pessoa, reprimindo-a e ofendendo-a física ou moralmente.

O resultado dessa construção histórica levou à estruturação de uma sociedade marcada pela violência em face do gênero feminino, gerando várias formas de submissões e riscos originados na relação doméstico-familiar como a violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial contra a mulher.

A entrada em vigor da Lei 11.340/2006 (BRASIL, 2006), conhecida como Lei Maria da Penha, trouxe para o sistema nacional inovações jurídicas específicas a serem aplicadas à violência no âmbito doméstico.

Aspecto importante acrescido pelo estatuto foi o esclarecimento relativo ao conceito e abrangência da violência doméstica para além das agressões físicas, atribuindo ao papel do agressor as cenas de pressões psicológicas, atentados sexuais, ofensas morais e danos patrimoniais. De fato, o artigo 7⁰ da Lei inclui como formas de violências a física, tradicionalmente conhecida como aquela que gera lesões ao corpo da vítima, a psicológica que consiste em “qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher, a sexual, que corresponde a qualquer forma de atividade e prática sexual sem seu livre consentimento, a patrimonial , que consiste na transgressão que resulta em danos materiais e a moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria contra a ofendida.

Alguns dados sobre a violência contra a mulher confirmam a exposição Teórica anterior, observe que segundo pesquisa da Secretaria de Políticas para Mulheres (BRASIL, 2017), 40% dos lares brasileiros são mantidos pelas mulheres e apesar dessa participação intensa da mulher no meio social e familiar, ainda mantemos um número estarrecedor sobre o tema violência, pois a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência doméstica física ou verbal no Brasil (RELÓGIO DA VIOLÊNCIA DO INSTITUTO MARIA DA PENHA, 2016); somente em 2015, a Central de Atendimento a Mulher – Ligue 180 - realizou aproximadamente 750.000 atendimentos, ou seja, 1 atendimento a cada 42 segundos (Dados divulgados pelo Ligue 180). No primeiro semestre do ano de 2017 e 2018, novamente os números são alarmantes. Segundo dados do Sistema Integrado

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de Atendimento à Mulher (SIAM), entre janeiro e junho de 2017 foram registradas592.217 atendimentos pela central; já em 2018, no mesmo período, foram 523.339 casos, tendo, desta forma, uma discreta redução.Conforme dados do Monitor da Violência, uma parceria do Núcleo de Estudos da Violência da USP, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, juntamente com o Jornal Globo-G1, no ano de 2018 foram 4.254 homicídios dolosos de mulheres, uma redução de 6,7% em relação a 2017, quando foram registrados 4.558 assassinatos, índice ainda muito alto se comparado com países desenvolvidos ou outros da América Latina (JORNAL O GLOBO, 2019).

2.1 A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

O Congresso promulgou no dia 12 de novembro de 2019 a Emenda Constitucional 103, de 2019, que altera o sistema de Previdência Social e estabelece regras de transição e disposições transitórias. Apresentada pelo governo em fevereiro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 tramitou por seis meses na Câmara e quase três no Senado. (BRASIL, Agência Senado, 2019). Considerando o empenho do governo com a aprovação da reforma nos termos em que seguiu no primeiro turno e segundo turno, entende-se oportuna a análise dos dispositivos aprovados, a fim de se perscrutar as deficiências ou não da aprovação da reforma e avaliar a situação em que ficarão as mulheres assistidas pelo NUMAPE, de acordo com seus perfiz socioeconômico.

Cabe acrescentar que o objetivo desse item consiste em abrir para um debate as alterações ocorridas, considerando os dispositivos relativos aos perfis das mulheres atendidas pelo projeto aqui abordado.

O “Art. 201 que disciplina a Previdência Social ficou com a seguinte redação, de acordo com a Emenda:

“A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:

(...)

§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:

I - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta e dois anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribuição;

II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. (BRASIL, 2019).

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No artigo 15 da Emenda, acrescenta-se que

Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, fica assegurado o direito à aposentadoria, quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:

I - trinta anos de contribuição, se mulher, e trinta e cinco anos de contribuição, se homem; e II - somatório da idade e do tempo de contribuição (...) (BRASIL, 2019).

Esses dispositivos levam a crer que a mulher, com um emprego formal (registro em carteira e contribuição efetiva ao sistema) terá direito ao benefício de aposentadoria após 62 anos de idade, somando-se a esses fatores os trinta anos de contribuição.

Foi mantida parcialmente a redação do parágrafo 12, Artigo 201, alterado pela Ementa Constitucional n. 47 de 2005, no entanto, com uma pequena alteração no primeiro turno, que previu a “possibilidade” de previsão na legislação infraconstitucional de um sistema especial de inclusão previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda. Observe-se que essa previsão, de certa forma, ainda que com valor ínfimo, traz algum benefício a grande parte das assistidas pelo NUMAPE, conforme demonstrar-se-á nos índices discutidos no ítem a seguir. Por ser uma possibilidade, torna-se menos impositivo que a atual previsão. No entanto, após a aprovação em torna-segundo turno e promulgação da emenda, a redação manteve a redação original, nos seguintes termos:

§ 12. Lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores de baixa renda, inclusive os que se encontram em situação de informalidade, e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda.

Percebe-se a manutenção da redação original, sem inclusão da emenda proposta no primeiro turno, o que parece ser mais positivo para as pessoas vulneráveis e de baixa renda. No entanto, torna-se indispensável ainda haver uma legislação infraconstitucional que regulamente o direito tratado pela emenda.

2.2 ANÁLISE DE DADOS DAS MULHERES ASSISTIDAS PELO NUMAPE

Neste item estão expostos dados relacionados ao perfil sócioeconômico das mulheres atendidas pelo Núcleo Maria da Penha de Francisco Beltrão-PR. Foram abordados dois aspectos: no primeiro, aponta-se o nível de escolaridade; no segundo, aborda-se as atividades relacionadas ao âmbito profissional, também exercidas pelos sujeitos observados. Veja:

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44344-44353, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Gráfico 1 - Nível de escolaridade

Fonte: do próprio autor

Quanto ao nível de escolaridade formal das assistidas, após a análise dos dados dos registros de atendimento, foi possível extrair as seguintes informações: 11 mulheres possuem ensino fundamental completo e 37 incompleto. Este número é alarmante, haja vista o número de mulheres que somente atingiu o nível básico de educação (47) corresponder a quase metade do total de atendidas pelo NUMAPE.

Com relação ao nível médio, 20 mulheres cursaram de forma incompleta e somente 9 concluíram.

Já em se tratando de nível superior, de todas as assistidas pelo NUMAPE, somente 4 puderam concluir o terceiro grau e 9 acabaram abandonando os estudos antes de sua conclusão.

Os dados acima expostos são de extrema relevância por diversos fatores. Sabe-se que o nível de escolaridade influencia diretamente no nível de qualificação do sujeito, bem como no rendimento salarial pretendido. Como pudemos observar, a maioria das mulheres em situação de violência doméstica não puderam concluir sequer o Ensino Médio Regular, na grande maioria das situações por influência dos próprios pais e/ou companheiros autores de violência. Embora a dependência econômica não seja fator decisório da permanência em situação de violência acredita-se também, que afastar sua influência no momento de decisão de rompimento de vínculos é negligenciar um dos motivos existentes. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 E. F. Completo E. F. Incompleto E. M. Completo E. M. Incompleto E. S. Completo E. S. Incompleto Não alfabetizada 11 37 9 20 4 9 2

Nível de Escolaridade

Número de mulheres

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44344-44353, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Gráfico 2 - Profissões

Fonte: do próprio autor.

O gráfico supra relaciona o número de mulheres atendidas pelo Núcleo Maria da Penha - NUMAPE: apoio às mulheres de Francisco Beltrão e as profissões que exercem/funções que desemprenha durante os anos de 2013 à julho de 2019.

Foram excluídas da apresentação as profissões citadas por somente uma mulher.

Observando o resultado, percebe-se que: a maior parte das mulheres assistidas desempenham exclusivamente as funções domésticos, ou seja, manutenção do lar, dos filhos e cuidados com os companheiros e demais familiares.

Na sequência, das profissões apontadas, a com maior ocorrência foi a de diarista, em sua totalidade exercida de forma esporádica, informalmente e sem registro em carteira. Ainda, 7 mulheres informaram desenvolver atividade de auxiliar de serviços gerais. Diferente das diaristas, estas (e somente estas) possuem vínculo empregatício formal.

Também, cabe acrescentar que, 9 assistidas apontaram estar desempregadas no momento do contato inicial com o NUMAPE, sendo idem o número de aposentadas.

Por fim, 6 mulheres informaram serem agricultoras em regime de economia familiar, contribuindo de forma especial para o regime de previdência.

Como se pode observar, a maioria das mulheres em situação de violência doméstica e, consequentemente, vulnerabilidade social, não possuem emprego formal, com carteira assinada e garantia de direitos. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 6 9 7 9 15 19

Número de Mulheres

Número de Mulheres

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do presente trabalho consistiu-se em elaborar um paralelo entre a situação econômico social das mulheres assistidas pelo Núcleo Maria da Penha e as novas propostas da Reforma Previdênciária, a partir do perfil de formação profissional e econômico dos sujeitos analisados.

À partir da análise dos resultados, percebe-se que a maior parte das mulheres assistidas desempenha exclusivamente as funções domésticas, ou seja, manutenção do lar, não sendo alcançadas pelos requisitos básicos de um benefício completo de aposentadoria, previsto no artigo 102, parágrafo 7º, da Emenda Constitucional.

No entanto, cabe acrescentar que existe a possibilidade de ser previsto pela Lei infraconstitucional um sistema especial de inclusão previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda.

Nesse aspecto, a diferença da redação da reforma é que na dissertação atualmente prevista, o mesmo dispositivo exige a criação do sistema, não deixando para o legislador uma facultatividade, como de fato ocorre. Sendo assim, será da postura do legislador ordinário futuro resolver a instituição ou não desse sistema especial.

Embora a violência doméstica não possua fundamento direto na capacidade econômica da vítima, é indispensável apontar a precária situação socioeconômica em que se situam as mulheres atendidas pelo NUMAPE; tal vulnerabilidade justifica-se, conforme apontado, também por fatores vinculados à estrutura sociocultural brasileira que se mantém ainda em um modelo de família sob a égide de um patriarcado, que restringe a mulher ao ambiente doméstico, dificultando-lhe o acesso à formação educacional e profissional. Se o nível de escolaridade influencia diretamente no nível de qualificação do sujeito, bem como no rendimento salarial pretendido, e por consequência, pode deixar o sujeito trabalhador à margem do sistema, por oportunizá-lo apenas o trabalho informal, esses fatores repercutem diretamente nos resultados percebidos na pesquisa ora exposta.

Sob essa óptica, quais seriam as garantias de uma Previdência Social voltada a cobrir as previsões de riscos e proteção a esses sujeitos inseridos no contexto acima exposto? Se a cultura machista impõe às mulheres o árduo fardo a que estão sujeitas, cabe ao Estado, como representante da soberania popular, promover políticas públicas voltadas a debelar a realidade cotidiana dessas mulheres, o que vem ocorrendo, infelizmente, a lentos passos.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Agência Senado, 2019. Disponível em:

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/11/12/promulgada-emenda-constitucional-da-reforma-da-previdencia Acesso em 03 de jun. 2020.

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MENEGHETTI, F. K.O que é um Ensaio-Teórico?. Revista de Administração Contemporânea, v. 15, n. 2, p. 320-332, 2011. Disponível em: http://www.spell.org.br/documentos/ver/1416/o-que-e-um-ensaio-teorico->. Acesso em: 20 jun. 2019.

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