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Estado da arte: o negro no livro didático de história do ensino fundamental I e II / State of the art: the black in the elementary school history textbook I and II

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.62564-62583 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Estado da arte: o negro no livro didático de história do ensino fundamental I e

II

State of the art: the black in the elementary school history textbook I and II

DOI:10.34117/bjdv6n8-624

Recebimento dos originais: 26/07/2020 Aceitação para publicação: 26/08/2020

Rosineide Brazilino de Andrade

Mtda em Educação pela Faculdade Alpha Instituição: Prefeitura Municipal de Ipojuca

Endereço:Rodovia PE-60 km, 14 - Ipojuca– PE, 55500 000 E-mail: rosinha1a@hotmail.com

Orientador: Diógenes José Gusmão Coutinho

Doutor em Biologia pela Instituição Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

Instituição: Faculdade Alpha

Endereço: R. Gervásio Pires, 826 - Santo Amaro, Recife - PE, 50050-070 E-mail:gusmao.diogenes@gmail.com

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RESUMO

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve por objetivo analisar teses e dissertações apoiados por estudos do tipo Estado da Arte, afim de descobrir o que vem sendo publicado sobre as relações étnico-raciais e o livro didático do ensino fundamental I e II num período de 17 anos após a implementação da Lei 10.639/03. Realizou-se levantamento bibliográfico das obras que tratassem do tema em questão, afim de sistematizar e discutir as produções acadêmicas das áreas de Educação e História e buscou-se apresentar o que as produções acadêmicas brasileiras obtiveram como resultado ao longo dos anos e em diferentes locais. Com 22 pesquisas analisadas, verificou-se que alguns autores apontam lacunas e déficits nos materiais didáticos utilizados, denunciando estereótipos e imagens que não condizem com o que a Lei e suas diretrizes implementaram. Acredita-se que seja este um trabalho de grande relevância para apontar o que ainda se tem de lacunas sobre os estudos pós implementação da Lei 10.639/03 e qual cenário se consolida diante da sociedade e da comunidade acadêmica.

Palavras-chave: negro, livro didático, história, estado da arte. ABSTRACT

This article presents the results of a research that aimed to analyze theses and dissertations supported by studies of the State of the Art type, in order to discover what has been published about ethnic-racial relations and the textbook of elementary education I and II in a 17 years after the implementation of Law 10.639/03. A bibliographic survey of the works that dealt with the subject in question was carried out, in order to systematize and discuss the academic productions in the areas of Education and History and sought to present what the Brazilian academic productions obtained as a result over the years and in different places. With 22 researchers analyzed, it was found that some authors point out gaps and deficits in the teaching materials used, denouncing stereotypes and images that do not match what the Law and its guidelines have implemented. It is believed that this is a work of great relevance to point out what still has gaps about the post-implementation studies of Law 10.639/03 and which scenario is consolidated before society and the academic community.

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve por objetivo conhecer e esquematizar obras acadêmicas que trataram sobre a questão étnico-racial no Livro Didático (LD) exclusivamente na disciplina de História e nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, com foco em dissertações e teses publicadas entre os anos de 2003 a 2020, que estão disponíveis nos bancos de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Este trabalho caracteriza-se por realizar

uma pesquisa qualitativa com aporte quantitativo para o que se propõe e aponta-se o uso do Estado da Arte para realização desta, com levantamento bibliográfico sobre o tema com identificação, agrupamento e categorização das obras selecionadas.

O intuito foi o de fazer um levantamento verificando o quantitativo de estudos realizados pelas universidades, e também houve a preocupação em apurar outras características como: regiões com maior índice de pesquisas; tipo de documento; ano de publicação; metodologia utilizada; considerações dos autores entre outros aspectos. Para este trabalho utiliza-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais (DCN-ERER, 2004), a Lei 10.639/031 e autores como Müller (2018, 2015), Munanga (1996), Bittencourt (2003) entre outros pesquisadores, que evidenciam a urgência nos estudos e problematização do negro quanto à representação de sua imagem, sua cultura, contribuições, lutas e história no livro didático. Evidenciar tais produções pode auxiliar na sua propagação e instigar a realização de novos trabalhos acadêmicos que se ocupem de perceber que é necessário ainda um longo percurso até o total cumprimento da Lei.

Para Munanga (1996),

O racismo brasileiro na sua estratégia age sem demonstrar a sua rigidez, não aparece à luz; é ambíguo, meloso, pegajoso, mas altamente eficiente em seus objetivos. Essa ideologia é difundida no tecido social como um todo e influencia o comportamento de todos – de todas as camadas sociais, e até mesmo as próprias vítimas da discriminação racial. Discutir a questão da pluralidade étnica, e em especial da sua representação nas instituições públicas e nas demais instituições do país, ainda é visto como um tabu na cabeça de muitas pessoas, pois é contraditória à ideia de que somos um país de democracia racial. (MUNANGA, 1996, p. 215)

Partindo da visão sobre o racismo que Munanga apresenta, fica claro que essa sutileza chega também aos materiais utilizados em sala, principalmente os livros, foco de tantas pesquisas e às editoras que conseguem “com jeitinho”, protelarem as mudanças necessárias para melhoria das

1 Alterada para a Lei Federal nº 11.645/08 que tornou obrigatório além do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana também a temática Indígena.

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informações dos livros didáticos. Refletir sobre o que as produções de teses e dissertações (TD´s) dizem sobre a questão negra dentro do livro didático de história (LDH) no ensino fundamental e quais são as ausências, permanências e transformações ao longo de 17 anos da implementação da Lei 10.639/03 foi o que motivou a realização desta pesquisa. Assim, com propósito de conhecer os resultados de produções acadêmicas, teses e dissertações, que problematizem o negro dentro do livro didático no período de 2003 a 2020, identificou-se as obras que tratavam especificamente do tema do negro/relações étnico-raciais dentro do livro didático de história no ensino fundamental I e II, e se explorou as questões mais relevantes abordadas e levantadas pelos autores. A hipótese inicial considerava que após tantos anos da legalidade sobre o tema nas escolas, em âmbito nacional e ao ser obrigatório a reformulação de materiais como o próprio livro didático, houve uma mudança significativa nos resultados das produções acadêmicas com relação ao assunto. Tal processo foi de suma importância para apresentar e discutir, à luz de autores importantes na área do estudo das relações étnico-raciais e livros didáticos, sobre as ausências ou permanências de entraves para o desenvolvimento do tema pelos pesquisadores.

A Lei 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, foi um marco com a implantação da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira dentro do currículo escolar, buscando reconhecer e valorizar o negro na sociedade. As DCN-ERER (2004) se tornam um grande aporte teórico-metodológico para alcançar o que se estabelecem nos artigos e parágrafos da referida Lei. Tal mudança se mostra como um desafio à educadores, gestores, coordenadores e a formadores, que necessitam se despir de antigos valores e conceitos enraizados ao longo de tantos anos, e abrir-se a novos conhecimentos e atitudes que levem alunos à reflexão sobre o preconceito e racismo muitas vezes naturalizado pela própria escola incluindo os próprios materiais pedagógicos utilizados em sala de aula. De acordo com as Orientações para a Educação das Relações Étnico-Raciais (2006),

a instituição escolar terá como meta promover o nível de reflexão de seus educadores e educadoras, instrumentalizando-os (as) no sentido de fazer uma leitura crítica do material didático, paradidático ou qualquer produção escolar. (BRASIL, 2006, 73-74).

A problemática que envolve o modo como os livros didáticos tratam da representação, cultura, história, participação e contribuição negra para a formação do Brasil é uma abordagem antiga. Entende-se que no campo de atuação de história, professor e alunos são levados a questionar, criticar, elaborar inferências, interpretar textos, imagens e contextos sociais dentro de sua realidade e também de contextos atuais com o passado e que os levam a pensar sobre o futuro. Desse modo, de acordo com Bianchezzi e Santos (2017) o ensino de história deve

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ampliar a construção do conhecimento através do uso de distintas fontes como a literatura, artes, atividades de análise comparativa, leitura de distintas narrativas históricas, dinamizando a prática de ensino, democratizando o acesso ao saber, possibilitando abarcar outros saberes dos alunos (BIANCHEZZI; SANTOS, 2017, p. 409-410).

A história perpassa todos os campos de conhecimento e, portanto, o modo como aluno e professor veem a si e aos outros, os faz ter atitudes e opiniões que as auxiliem no convívio pleno entre os diferentes e com as diferenças dentro e fora do ambiente escolar. Assim como colocado por Gomes (2007),

Falar sobre diversidade e diferença implica posicionar-se contra processos de colonização e dominação. É perceber como, nesses contextos, algumas diferenças foram naturalizadas e inferiorizadas sendo, portanto, tratadas de forma desigual e discriminatória. É entender o impacto subjetivo destes processos na vida dos sujeitos sociais e no cotidiano da escola. É incorporar no currículo, nos livros didáticos, no plano de aula, nos projetos pedagógicos das escolas os saberes produzidos pelas diversas áreas e ciências articulados com os saberes produzidos pelos movimentos sociais e pela comunidade. (GOMES, 2007, p. 25)

Ao julgar o LD um instrumento de grande importância para professores e alunos, ele é também objeto de estudo de diversos autores (BITTENCOURT, 1993; ROSA, 2009; FREITAG, MOTTA, COSTA, 1987), que evidenciam as ideologias, formas de controle e poder exercidos pelo livro didático diante de seus leitores. Com relação aos estudos realizados por Freitag et al. (1987, p. 58) denominada “O Estado da Arte do livro didático no Brasil”, tem-se o apontamento para dois grupos de pesquisadores, “os preocupados em analisar a fundamentação pedagógica, psicológica, linguística e semiológica dos textos e os preocupados em revelar os valores, preconceitos e concepções ideológicas contidas no livro didático”, onde no segundo grupo fica visível a preocupação político-ideológico do pesquisador em questão e que para as autoras, ambos os grupos se coadunam em algum momento. Já Bittencourt (1993) afirma que com relação ao estudo das imagens em livros didáticos há ainda poucos trabalhos que tratem das representações de negros e índios por exemplo, pois a maior parte se detém ao conjunto da obra didática.

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Compreende-se que, a pesquisa qualitativa assume a responsabilidade de analisar o real e o que não pode ser quantificado, mas percebido, tentando buscar explicação para os fatos e acontecimentos que norteiam a sociedade, como condutas, discursos, ações, omissões, tudo que pode ser analisado diante da ação e construção humana de modo subjetivo. Já a pesquisa quantitativa garante resultados, números, amostragens e aspectos concretos da vida prática na sociedade e ajuda a descrever a realidade de modo determinado. Unindo os dois tipos de pesquisas elas constituem um

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campo de respostas e dados amplos e mais completos. Portanto, este trabalho quanto à sua abordagem é uma pesquisa qualitativa e quantitativa de cunho exploratório e procedimentos que incluem a pesquisa bibliográfica e documental. Lüdke e André (1986, p. 38) consideram que na análise documental se incluem “desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorando, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares”. Para as autoras o uso de documentos nas pesquisas em educação são uma fonte estável e rica, que persistem ao longo do tempo e podem ser consultados diversas vezes, dando mais estabilidade aos resultados encontrados, e, como técnica exploratória, a análise documental indica problemas que devem ser mais bem explorados através de outros métodos.

O objetivo desta pesquisa foi o de esquematizar através de mapeamento das informações, nas áreas de Educação ou História, os trabalhos acadêmicos (teses e dissertações) que tratassem do tema das representações ou imagens do negro no livro didático de história defendidas entre o ano de 2003 a 2020, numa perspectiva de alcançar trabalhos após aprovação da Lei 10.639/03 até os dias atuais. Buscou-se realizar um levantamento verificando o quantitativo de estudos realizados pelas universidades, sejam elas públicas ou privadas. Com esse levantamento também houve a preocupação de verificar outras características de modo quantitativo como: regiões com maior índice de pesquisas; tipo de documento; gênero dos pesquisadores; ano de publicação; metodologia utilizada e as variadas considerações postas pelos autores.

Para obter os resultados, o percurso metodológico adotado primeiramente foi o da coleta de dados nos bancos de teses e dissertações da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), e posteriormente para ampliar o número de obras e garantir o maior número de trabalhos acessou-se o Catálogo de teses e dissertações da CAPES, onde algumas obras já não estavam disponíveis por conta do ano de sua publicação, sendo necessário recorrer às próprias instituições de ensino superior. Usou-se termos específicos como: “negro”, “livro didático” e “história”, como critério de pesquisa para atender aos objetivos propostos. Tais palavras deveriam estar preferencialmente no título dos trabalhos e/ou nas palavras-chaves e resumos. Diante disso foram encontradas 89 pesquisas entre teses e dissertações no período de 2003 a 2020 na base da BDTD. Já na plataforma da CAPES com as mesmas palavras-chaves encontrou-se um total de 29.828 publicações.

Diante de tal número houve o refinamento das obras optando-se pela área de conhecimento e nome do programa para o campo da Educação e História onde com esse quantitativo foram analisadas as 10 primeiras páginas apenas, pois os títulos já não condiziam mais com o que foi proposto para o objetivo da pesquisa. Após essa seleção, submeteu-se os trabalhos à uma análise

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inicial excluindo aqueles que não se referissem a disciplina de história e não tratassem do ensino fundamental I ou II. Dessa análise inicial, 22 pesquisas atendiam a finalidade requerida. Assim, foi feita a leitura integral dos resumos, metodologias e considerações finais das obras, estabelecendo assim, categorias que são conceituadas por Bardin (1977, p. 117) como “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (...) agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos”. Com o agrupamento dos dados, houve a revisão bibliográfica, mapeamento das bibliografias obtidas, definição e tratamento das categorias, com análise descritiva desses dados e destaque sobre as principais mudanças e/ou permanências encontradas pelos autores. No intuito de responder as questões desse trabalho, decidiu-se por uma pesquisa bibliográfica, do tipo Estado da arte, pois apresentam um caráter exploratório tanto quantitativo como qualitativo. Para Ferreira (2002, p. 258) vem crescendo significativamente a produção de pesquisas com esse molde nos últimos anos, pois “elas parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento”. A conjectura elucidada por tantos autores de que há muito ainda a se refletir e produzir acerca dos materiais que docentes e estudantes usam diariamente – o LD, apenas demonstram que pesquisas do tipo Estado da Arte apresentam para os leitores quais produções estão sendo realizadas e como vem sendo tratado determinado assunto. Ou seja, o Estado da Arte aponta,

que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, (...). Também são reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter inventariante e descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que busca investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais em cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser analisado. (FERREIRA, 20002, p. 258)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o universo de 22 trabalhos acadêmicos encontrados, depois de ampla análise de características, pôde-se enfim categorizar e examinar os dados obtidos, classificando-os em obras por: regiões; universidades; temporalidade; gênero dos autores; objetivos das pesquisas; metodologias empregadas e considerações colocadas. Esta pesquisa utilizou o trabalho de Müller como comparativo para alguns dados e categorias utilizadas pela autora, onde em um de seus artigos2 faz um trabalho analítico com o Estado da Arte sobre a imagem do negro no LD e chega ao

2 MÜLLER, T. M. P. A produção acadêmica sobre a imagem do negro no livro didático: estado do conhecimento (2003- 2013). In: REUNIÃO NACIONAL DA ANPED, 37Ed, Florianópolis, 2015.

MÜLLER, T. M. P. Livro didático, Educação e Relações Étnico-raciais: o estado da arte. Educ. rev. [online]. 2018, vol. 34, n.69, pp.77-95. ISSN 1984-0411

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número de 15 TD´s analisadas, sendo 2 teses e 13 dissertações. Já neste trabalho, dentre as 22 obras selecionadas, 20 são dissertações e apenas 2 são teses. O ano de publicação das TD´s chama atenção, pois ao delimitar o ano de 2003 como marco para início de pesquisa das obras, supôs-se que haveriam mais trabalhos após essa data, o que ao examinar os dados mostrou-se o contrário; as publicações são em sua maioria realizadas após 10 anos da Lei 10.639/03 ser instituída. De 2003 a 2013, apenas 7 trabalhos são realizados, enquanto de 2014 até 20203 há aumento com total de 15 obras.

Quadro 1- Seleção dos trabalhos produzidos nos anos de 2003 a 2020

Fonte: elaborado pela autora

Com relação a temporalidade das publicações das TD´s, estão assim distribuídas: duas em 2005 (BRANCO, 2005; FILHO, 2005); uma em 2006 (CARVALHO, 2006); uma em 2008 (BOULOS JUNIOR, 2008); uma em 2009 (OLIVEIRA, M., 2009); uma em 2011 (OLIVEIRA, C., 2011); uma em 2012 (RUSSO, 2012); uma em 2014 (ROZA, L., 2014); quatro em 2015 (PORFIRIO, 2015; MONTEIRO, 2015; CARVALHO, 2015; SILVA NETA, 2015); três em 2016 (ASSUNÇÃO, 2016; NAZÁRIO, 2016; BERNARDELLI, 2016); duas em 2017 (VIANA, 2017; MOREIRA, 2017); três em 2018 (RODRIGUES, 2018; MONTEIRO, 2018; ONIESKO, 2018) e duas em 2019 (CAMPOS, 2019; PEREIRA, 2019).

Müller (2018) aponta em seu artigo que para alguns autores,

(...) houve uma grande mudança no PNLD – Programa Nacional do Livro Didático a partir de 2007 e maiores pressões dos movimentos sociais, particularmente do Movimento Negro, e de intelectuais negros e especialistas para o implemento da Legislação (Lei nº 10.634/2003), o que pode ter estimulado tanto os autores para a adequação do LD, em conformidade aos Editais, quanto do mercado editorial para seu cumprimento (MÜLLER, 2018, p. 82-83)

Reitera-se que esta pesquisa, cuida apenas do componente curricular de história, o que em outras pesquisas pode ser visto num maior número de estudos que abarquem outras disciplinas e

3 A pesquisa de trabalhos publicados ocorreu até o mês de junho de 2020.

0 0 2 1 0 1 1 0 1 1 0 1 4 3 2 3 2 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

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uma crescente demanda com relação à análise de livros didáticos de modo geral para atender tanto à Lei como ao PNLD e seus guias. A disciplina de história nem sempre levou os alunos à reflexão, demandava memorização de fatos e datas em diversas épocas o que atualmente vai na contramão do que se é esperado para esse componente curricular. De acordo com Bittencourt

A análise da trajetória da história escolar nos permite identificar que a História do Brasil, paradoxalmente, nunca ocupou um lugar significativo nos programas curriculares brasileiros e menos ainda na prática escolar, conforme mostram estudos da história da disciplina. (BITTENCOURT, 2010, p. 193).

Assim, ao delimitar a pesquisa apenas na área de Educação e História, percebe-se que o quantitativo maior de trabalhos se situa na área de Educação com 15 obras, e em História com 7. Com relação as instituições de ensino superior, 4 universidades são privadas – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Universidade Católica de Petrópolis (RJ) e 16 universidades públicas, sendo 9 federais e 7 estaduais. A concentração maior de estudos se localiza nas universidades da região Sudeste com 12 pesquisas, região Sul com 4; Centro-oeste e Nordeste com 3 obras cada e a região Norte foi a que não houve publicação de obras nesse segmento.

Quadro 2 – Distribuição de universidades por regiões

Fonte: elaborado pela autora

Em comparativo com dados obtidos por Müller, houve um pequeno crescimento das regiões Centro-oeste e Nordeste com relação as obras, enquanto Sul e Sudeste continuam com maior número expressivo e o Norte permanece sem nenhum tipo de publicação. No que se refere ao gênero dos autores, a maior incidência é de mulheres com 13 trabalhos em comparação aos homens com 9 obras. Em seu estudo Müller averiguou que 8 trabalhos eram de homens e 7 de mulheres, enquanto em seu outro artigo há uma maior quantidade de autores, onde 16 trabalhos foram realizados por homens e 13 por mulheres. Percebe-se assim que houve um aumento considerável da mulher atuando na pesquisa acadêmica nesse tema.

As Instituições de Ensino Superior (IES) responsáveis pelas publicações analisadas foram as seguintes: Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG com três publicações sendo uma

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Norte Nordeste Centro-oeste Sul Sudeste

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dissertação em educação (FILHO, 2005); uma tese em educação (ROZA, 2014) e uma dissertação em história (PORFÍRIO, 2015); Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP possui duas publicações, consistindo numa tese em educação (BOULOS JÚNIOR, 2008) e uma dissertação em Psicologia da educação (PEREIRA, 2019); Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO com uma dissertação em história (SILVA NETA, 2015); Universidade Católica de Petrópolis – UCP possui uma dissertação em educação (VIANA, 2017); Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-MG com uma dissertação em educação (OLIVEIRA, M., 2009); Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP com uma dissertação em educação (CAMPOS, 2019); Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL com uma dissertação em educação (MONTEIRO, J., 2018); Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, com uma dissertação em história (RODRIGUES, 2018); Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, com uma dissertação na área de Estudos de linguagem (ONIESKO, 2018); Universidade Federal de Rio Branco – UFRB com uma dissertação em história (MOREIRA, 2017); Universidade Estadual de Londrina – UEL com uma dissertação em educação (BERNARDELLI, 2016); Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, com uma dissertação em educação (NAZÁRIO, 2016); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ com uma dissertação em história (ASSUNÇÃO, 2016); Universidade Federal da Paraíba – UFPB com uma dissertação em história (CARVALHO, 2015); Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS com uma dissertação em educação (MONTEIRO, E., 2015); Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com uma dissertação em educação (RUSSO, 2012); Universidade Estadual de Maringá – UEM com uma dissertação em história (OLIVEIRA, C., 2011); Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC com uma dissertação em educação (CARVALHO, 2006) e Universidade Federal de Pernambuco – UFPE com uma dissertação em educação (BRANCO, 2005). Dos trabalhos analisados, excetuam-se duas áreas que são da Psicologia da educação (PEREIRA, 2019) e Estudos de linguagem (ONIESKO, 2018) que não foram retiradas por serem consideradas importantes para esta pesquisa e foram englobadas na área de educação. Dentre os termos mais utilizados nos títulos dos trabalhos pelos autores das TD´s estão por ordem de maior reincidência: Negro (5); pós implementação/promulgação da Lei 10.639/03 (5); representação (4); História e cultura afro-brasileira (3); África, africanos, mulher negra, imagem do negro (2); indígenas, pós-abolição, escravidão, afrodescendentes, afro-brasileiros e identidade (1), os demais trabalhos tem foco na metodologia, avaliação, discursos verbais e iconográficos e olhar dos alunos e perspectiva docente através dos materiais didáticos.

Utilizou-se as palavras-chave das 22 TD´s para estipular a frequência e recorrência dos conceitos empregados pelos pesquisadores e assim obteve-se a seguinte colocação: Livro didático (17), ensino de história (9), Lei 10.639/03 (8), negros (7), ensino fundamental I (2), história (2),

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livro didático de história (2), imagem (2), relações étnico-raciais (2), história e cultura afro-brasileira (2), PNLD (2), racismo (2), afrodescendentes (2), movimento negro (2), raça (2), escravidão (2), representações imagéticas (2), imagens escolares (1), negro no livro didático (1), educação (1), relações de gênero (1), ações afirmativas (1), saber escolar (1), preconceito racial (1), identidade (1), história do Brasil (1), Parecer CNE/CP 003/2004 (1), mulheres negras (1), história regional (1), índios (1), estado (1), coleções (1), pós-abolição (1), escravo negro (1), currículo (1), ideologia no livro didático (1), novas tendências históricas (1), África (1), imagem da mulher (1) e Teoria da atividade (1).

Assim como Müller, diante de tantos termos realizou-se a construção de um mosaico com as palavras-chave utilizadas nos trabalhos por aproximação de termos em novas categorias o que também pôde dar um panorama sobre quais temas ou conceitos possuem maior relevância entre eles:

• África: afrodescendente;

• Discriminação: racismo, preconceito racial; • Escravidão: pós-abolição, escravo negro;

• Educação: educação, currículo, Parecer CNE/CP 003/2004, relações étnico-raciais, Teoria da atividade, saber escolar, ensino fundamental I, Lei 10.639/03, Ações afirmativas, Índios, Estado; • História: ensino de história, livro didático de história, história e cultura afro-brasileira, história do

Brasil, História Regional, novas tendências históricas;

• Imagem: imagens escolares, representações imagéticas, imagem da mulher;

• Livro didático: negro no livro didático, coleções, ideologia nos livros didáticos, PNLD; • Mulher negra: mulheres negras, relações de gênero;

• Negro: raça, movimento negro, identidade.

Dando continuidade à análise das TD´s, os resumos foram explorados tentando identificar os objetivos, a metodologia empregada e as considerações colocadas pelos autores. A leitura integral dos trabalhos foi realizada, o que auxiliou na busca pelas informações que nem sempre estavam no resumo. Das produções analisadas a maior parte delas se preocupa em analisar os impactos da Lei 10.639/03 e as mudanças que ela proporcionou no que se refere a representação do negro, da história e da cultura dentro do livro didático. Das 22 TD´s, 10 tratam especificamente em seu título sobre a imagem/representação do negro no livro didático.

As pesquisas voltadas para o ensino fundamental I (anos iniciais) visam com seus objetivos: analisar a presença do negro no LD de uma coleção usado em escolas públicas e privadas com olhar para as ausências e permanências acerca das representações sociais negativas e positivas no material

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pesquisado (CAMPOS, 2019); compreender se as propostas de ensino de quatro livros didáticos de história para o 4º e 5º ano do ensino fundamental deixam claro o fim a que se propõem, se educam no aluno motivos relacionados ao fim anunciado e se sugerem ações e operações que levem o aluno a entrar em atividade com relação ao conteúdo histórico anunciado como fim (MONTEIRO, 2018); compreender a composição visual feminina presente em seis coleções de livros didáticos de história para os anos iniciais (BERNARDELLI, 2016); investigar como a temática História e Cultura Afro-Brasileira e Africana é abordada nos livros didáticos de História indicados pelo Programa Nacional do Livro Didático – PNLD/2013 (SILVA NETA, 2015); analisar o retrato do negro nos livros didáticos de História e História Regional do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental adotados pelas escolas da rede municipal de Ladário-MS (MONTEIRO, 2015); investigar as representações da África, dos africanos e seus descendentes em três coleções do ensino fundamental I aprovadas no PNLD 2004 (3ª e 4ª série) (BOULOS JÚNIOR, 2008). Com apenas 6 pesquisas, percebe-se que trabalhos voltados para os anos iniciais do ensino fundamental são ainda pouco explorados. Os conteúdos voltados a história e cultura afro-brasileira se situa mais nos 4º e 5º anos, o que pode explicar o motivo pelo qual os pesquisadores adotam mais essas turmas.

Já as pesquisas voltadas para o ensino fundamental II (anos finais) buscam com seus objetivos: investigar a influência da Lei 10.639/03 na produção do livro didático de história no ensino fundamental II (PEREIRA, 2019); analisar a representação dos africanos e afro-brasileiros nos livros didáticos de história utilizados na educação básica, após a instituição da Lei 10.639/03 (RODRIGUES, 2018); perceber como se dá a recepção dos/as alunos/as diante da composição imagética do livro didático de história que utilizam analisando a construção das identidades raciais através das imagens do livro didático de história do 8º ano da coleção “História.doc” do PNLD 2017; (ONIESKO, 2018); identificar como os conteúdos escritos e imagéticos concernentes a História e a cultura afro-brasileira assim como a Lei 10.639/03, está representada nos manuais didáticos e como a produção acadêmica nesse campo tem interferido na construção do livro didático de história (MOREIRA, 2017); desenvolver um estudo comparativo a respeito das abordagens de representações do negro e da cultura afro-brasileira nos livros didáticos de história do Ensino Fundamental II antes e depois da Lei no 10.639/03 (VIANA, 2017); compreender as transformações ocorridas no currículo e, especialmente, nos livros didáticos de História a partir da incorporação da lei no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2011 e perceber a “positivação” da narrativa sobre o negro, compreendendo se, e como, o negro faz parte da narrativa, se a inclusão se deu em todos os setores do processo histórico e de que forma ele é retratado (NAZÁRIO, 2016); elaboração de parâmetros críticos para produção e avaliação de livros didáticos de História do ensino fundamental que atendam de forma eficaz os ditames da Lei 10.639/2003 (ASSUNÇÂO, 2016);

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leitura de imagens visuais que retrataram mulheres negras nos livros didáticos de história para o ensino fundamental nos anos finais produzidos entre 1997 e 2010 e em circulação nas escolas públicas em João Pessoa entre 2000-2001 e 2013-2014 (CARVALHO, 2015); análise dos conteúdos de história, propostos para os anos finais do Ensino Fundamental e, como reverberam nos livros do Sistema Positivo de Ensino compreendendo as mudanças e/ou permanências de conceitos e explanações acerca da temática da representação da África, afro-brasileiros e índios, nos livros didáticos da disciplina de História do Ensino Fundamental II no setor privado (PORFÍRIO, 2015); analisar as abordagens da História afro-brasileira no contexto do pós-abolição apropriadas como conteúdos curriculares em Livros Didáticos, produzidos posteriormente à publicação da Lei nº 10.639/03 (ROZA, 2014); analisar de maneira imparcial e coerente o impacto gerado pela lei sobre o material e seus objetivos quando a ressignificação do negro dentro da História do Brasil em 4 volumes do 6º ao 9º ano (RUSSO, 2012); analisar como a escravidão e o escravo negro são representados nos livros didáticos de História, utilizados na sexta série do Ensino Fundamental, verificando como esses livros divulgam suas ideias, contribuindo para direcionar uma leitura específica sobre a escravidão colonial (OLIVEIRA, C., 2011); analisar a valorização da identidade, da história e da cultura dos negros brasileiros e africanos nas novas edições de livros didáticos através da ampliação do foco dos currículos escolares para a realidade plurirracial e cultural da sociedade brasileira (OLIVEIRA, M., 2009); apresentar as ausências e distorções acerca dos elementos culturais africanos no currículo e nos livros didáticos de história (CARVALHO, 2006); análise do discurso verbal e iconográfico sobre os negros no livro didático de História, realizada em três edições - 1986, 1997, 2001 (FILHO, 2005); analisar os livros didáticos de história do Brasil para o ensino fundamental II adotados em escolas da rede pública estadual de ensino da cidade do Recife no que diz respeito ao tratamento dispensado ao negro nesses textos didáticos (BRANCO, 2005).

Com 16 trabalhos, o foco das pesquisas nos anos finais do ensino fundamental se situa nos conteúdos ligados à escravidão, a colonização, imagem do negro, a identidade, imagem e representação do negro, ao continente africano e como os afro-brasileiros são identificados e abordados nos livros didáticos. As metodologias utilizadas pelos pesquisadores variam de acordo com seus objetivos em alguns aspectos. Grande parte dos autores usam de metodologia qualitativa e quantitativa, pesquisa documental, estudo comparativo de coleções, análise de imagens, textos e atividades, análise de propostas metodológicas, análise de conteúdo, pesquisa interpretativista, análise critica do discurso, grupo focal, diário de campo, revisão bibliográfica (Estado da arte), análise iconográfica. Dos trabalhos analisados apenas dois incluem a percepção de professores e alunos, com questionário e/ou entrevista o que seria importante em novas pesquisas. Os trabalhos

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evidenciam que há ainda uma visão eurocêntrica da história no livro didático, que tem dificuldades em apresentar uma história diferente e nova sobre o papel e participação dos negros diante de tantos cenários importantes colocados nos materiais utilizados em sala de aula. As TD´s apontam que as principais causas para a realização das pesquisas são por motivações pessoais e profissionais e como colocado por Müller tem-se a necessidade dos autores em destacar

a percepção da invisibilidade do negro no LD; a população negra apresentada em situação subalternizada ou vitimizada; o LD como reprodutor do racismo, preconceito e discriminação; a desvinculação ou inexistência dos conteúdos com a formação de identidades e os contextos sócio-históricos dos alunos; a importância de apresentar no LD a população negra como construtora das identidades nacionais; a veiculação de visão negativa e inferiorizada do negro; e o interesse por avaliar a aplicação da lei nº 10.639/2003, com vistas a garantir seu cumprimento e/ou propor novas abordagens e recomendações para uma educação antirracista. (MÜLLER, 2015, p.12)

As considerações sobre as pesquisas também se apresentam de modo diversificado, para os autores onde existem muitas lacunas que ainda devem ser revistas e preenchidas. Colocou-se de modo literal e resumido as principais questões apontadas pelos pesquisadores, onde para alguns houve uma mudança mesmo que pequena com relação ao tratamento dado às imagens, textos e atividades colocadas nos livros didáticos analisados, bem como sobre as referências positivas ao continente africano, à população negra brasileira (PEREIRA, 2019). Noutros trabalhos a diferença entre uma coleção e outra após a implantação da Lei 10.639/03 foi de grande impacto diante das defasagens que se faziam presentes na falta da lei. Há também a permanência da visão eurocêntrica, da falta de discussão sobre as lutas empreendidas pelos africanos nas relações de comércio, com a invasão dos portugueses ainda sendo tratada como ocupação e não invasão, necessitando assim de formação para que os professores consigam reverter essa visão do livro em sala (CAMPOS, 2019; PORFÍRIO, 2015; OLIVEIRA, 2009; BRANCO, 2005). Para Monteiro (2018) “nas propostas metodológicas analisadas permanecem ainda muitos textos base informativos que listam conteúdos e não os trabalham e algumas ações sugeridas levam o aluno a ter atenção sobre os elementos que compõem a imagem e não sobre o conteúdo histórico”. Tal pesquisa se mostra importante diante de tantas atividades que por vezes não tem relação com o conteúdo abordado, chamando atenção para aspectos desnecessários no caso de imagens, que devem ter um olhar criterioso de análise por parte dos alunos e professores.

A invisibilidade do negro após o período da escravidão é algo latente que deve ser modificado (ROZA, 2014) e ainda a falta de registros textuais e imagéticos da história dos afrodescendentes após a abolição com uso excessivo de imagens de Debret e Rugendas para representar o cotidiano da era colonial (BOULOS JÙNIOR, 2008). Outro autor constata que o livro didático é um material de apoio pedagógico que tem amplas e difíceis definições, que as obras

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didáticas analisadas, com algumas restrições, estão adequadas ao estabelecido na Lei 10.639/03 e suas diretrizes e, que os professores que participaram da pesquisa possuem conhecimentos da legislação, selecionam e analisam as narrativas históricas presentes nos livros didáticos utilizados por eles de forma crítica e contundente (RODRIGUES, 2018). A pesquisa que usa da participação dos alunos mostra que eles veem no livro didático ainda discursos que caracterizam a identidade negra como inferior em relação à branca. E as imagens analisadas corroboram para o aspecto negativo da imagem do negro no livro didático com estereótipos ligados a pobreza e escravidão enquanto há a elevação positiva para o branco, sendo assim necessário a desconstrução de discursos inferiorizantes dentro do livro didático (ONIESKO, 2018). Existem considerações que mostram que há uma falta representatividade da pessoa negra no livro didático, incluindo estereótipos, imagens negativas, informações desorganizadas, descaracterizando o livro didático como mediador de conhecimento pela carência de organização, pela omissão, descontextualização em sua estrutura (MOREIRA, 2017, MONTEIRO, 2015; CARVALHO, 2006; FILHO, 2005). Mudanças ocorreram também com relação ao maior número de uso das imagens colocadas nos livros didáticos, também com relação a sua qualidade e diversificação e os novos espaços em que são abordados (VIANA, 2017; BERNARDELLI, 2016; CARVALHO, 2015). Um alerta é dado por outro pesquisador ao afirmar que as mudanças feitas pelas editoras foram mínimas apenas afim de se enquadrar no que foi solicitado pelo CNE, o que desqualifica as mudanças pífias realizadas nos livros (RUSSO, 2012). Deve-se haver ainda o cuidado durante a escolha dos livros didáticos onde a participação dos professores pode ser maior e eles devem ter instrumentos acessíveis para tal análise (OLIVEIRA, 2011).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar tal levantamento, percebe-se que é necessário um maior empenho no desenvolvimento de teses e dissertações sobre a representação do negro no livro didático, sobre a imagem, as mudanças e permanências, os avanços e bloqueios na implantação da Lei e suas diretrizes. O número encontrado sobre a temática negra no livro didático de história é mínimo se comparado com elevado número de pesquisadores no país e dos diversos programas e áreas de estudo e conhecimento. Chama atenção também como mencionado nas tabelas apresentadas, a falta de publicação no período de 10 anos da implementação da Lei 10.639/03. O uso da metodologia “estado da arte” abriu um grande leque de informações e desinformações que causa em certo momento angústia sobre o que alunos e professores dentro de suas salas de aula conhecem de fato sobre sua história e origem. O processo da pesquisa se concentrou nas plataformas BDTD e CAPES,

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onde os trabalhos foram identificados, classificados, agrupados e reagrupados constituindo os dados apresentados neste artigo.

Todo processo resultou na leitura de 22 pesquisas (2 teses e 20 dissertações), que se concentram na região Sul e Sudeste do país, com alguns trabalhos na região Centro-oeste e Nordeste e que alerta para falta de trabalhos na região Norte. As instituições de publicação foram em sua maioria das universidades públicas. As áreas privilegiadas foram a de história e educação com foco no ensino fundamental anos iniciais (1º ao 5º ano) e finais (6º ao 9º ano), sendo este último mais abordado e discutido pelos pesquisadores. As teses e dissertações mostram que o continente africano vem sendo retratados com menos estereótipos, porém faltam informações mais concretas e representativos sobre este importante local para a discussão dos alunos e professores. As imagens dos negros e afrodescendentes nos livros também não são mais caricaturadas como antes o que denota numa grande mudança no material didático de anos anteriores. Como posto por Müller as transformações encontradas nos livros não podem ser apontadas como significativas, porém pode-se ver nessas poucas mudanças um enorme passo para mudanças futuras dentro e fora da escola. Segundo a autora, assim como colocado pelos pesquisadores, tais transformações visam atender à Lei e sua conformidade.

Pode-se refletir desse modo, sobre o que o livro didático tem repassado de informação sobre a formação do país, de seu povo, de seus costumes e tradições, de suas lutas e conquistas ou qual lado da moeda o livro didático tem valorizado mais e com que intenção. Explorar tais produções faz-nos indagar até quando ainda se tem que abordar um tema que já poderia ter avançado em muitos aspectos. Preocupar-se com a qualidade do ensino deveria ser mais importante que mostrar a forma como as pessoas são representadas e apontadas nas páginas dos livros didáticos. Na verdade, o livro didático é e continuará sendo um objeto de estudo e pesquisa importante pois nele estão contidas informações do passado e mensagens ideológicas que detém valores e significados ocultos que acompanham alunos e professores por anos. A necessidade em se explorar esse objeto tão popular, o faz a cada ano, a cada legislação um campo de ideias e significados para novas pesquisas e problematizações. O fato é que tais pesquisas denunciam e expõem ano após ano, o descaso com que as relações étnico-raciais são tratadas pelas grandes empresas que continuam a burlar e amenizar pontos importantes para a mudança social que começa na sala de aula através do livro didático.

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