• Nenhum resultado encontrado

Proposta UC Tatu Bola FINAL P

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Proposta UC Tatu Bola FINAL P"

Copied!
80
0
0

Texto

(1)

Agosto de 2014

Refúgio de Vida Silvestre

Tatu-bola

Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da

Boa Vista Pernambuco

(2)
(3)

3

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE – SEMAS

AGÊNCIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE - CPRH

Governador: João Soares Lyra Neto

COMITÊ EXECUTIVO PARA CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS UCs DE PERNAMBUCO (Decreto nº 36.627 de 8 de junho de 2011) SEMAS Carlos André Cavalcanti Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade

Hélvio Polito Lopes Filho Secretário Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade

Giannina Cysneiros Bezerra Superintendente Técnica

CPRH Paulo Teixeira de Farias Diretor Presidente da Agência Estadual de Meio Ambiente

George do Rego Barros Diretor de Recursos Florestais e Biodiversidade

ELABORAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA PROPOSTA/SEMAS Ana Claudia Sacramento Bárbara Lins Caldas de Moraes Cristina Maria Ferreira Leal Durázio Rodrigues de Siqueira Erika Oliveira da Silva Fernando Antônio de Oliveira Campos Giannina Cysneiros Bezerra José Cordeiro dos Santos Judas Tadeu de Medeiros Costa Maria de Fátima Menezes Lins Marilourdes Vieira Guedes Verônica Maria Lima de Siqueira

(4)

4

de Áreas Degradadas da Caatinga, da Universidade Federal do Vale do São Francisco José Alves de Siqueira Filho

Alisson Amorim Siqueira Dhyan Shamaa

Fabiana Baleeiro de Souza Fabíola Moura

Ivan Ighour

Jéssica Viviane Amorim Ferreira Juliano Ricardo Fabricante

Maria Jaciane de Almeida Campelo Patrícia

Paulo Roberto Ramos

Rafael (TV Caatinga/UNIVASF)

René Geraldo Cordeiro da Silva Junior Ricardo Rivelino Dantas Ramos

APOIO ADMINISTRATIVO João Bosco Gasparini

COLABORADORES

CPRH - Agência Estadual de Meio Ambiente

Diretoria de Recursos Florestais e Biodiversidade - DRFB Diretoria Técnica/Unidade de Geoprocessamento-UGEO/DTA

Diretoria de Controle de Fontes Poluidoras /UIGA – Petrolina (Sertão do São Francisco)

CEMAFAUNA CAATINGA/UNIVASF - Centro de Manejo de Fauna da Caatinga, da Universidade Federal do Vale do São Francisco

Yuma Valle

INCRA/Petrolina

ITERPE

SEMAS

Bernadete Lopes – Assessora Especial (comunidades tradicionais de Pernambuco)

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco Artur Galileu de Miranda Coelho

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco Ednilza Maranhão dos Santos

Maria Adélia de Oliveira

PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGOA GRANDE

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA BOA VISTA

(5)

5

Agradecimentos

ma proposta de tamanho significado e dimensão ante o desafio e a responsabilidade de se proteger a Caatinga, não aconteceria sem as contribuições de diversas instituições que, por meio de seus servidores e funcionários, não mediram esforços para que ela fosse possível.

Ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária/Petrolina (INCRA/Petrolina), ao Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (ITERPE), à Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialmente ao professor Artur Galileu de Miranda Coelho, à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), especialmente às professoras Edinilza Maranhão dos Santos e Maria Adélia de Oliveira e ao Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (CEMAFAUNA), na pessoa de Yumma Valle. Também agradecemos às Prefeituras Municipais de Lagoa Grande, de Santa Maria da Boa Vista e de Petrolina, pela articulação e por todo apoio na realização das incursões para reconhecimento da área.

A todos, o agradecimento da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (SEMAS) pelas valiosas contribuições sem as quais esta Proposta não teria sido elaborada.

(6)

6

Apresentação

ste documento contém a proposta para criação do Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola, na Região do São Francisco, em Pernambuco, atualizada após reuniões realizadas com o INCRA e com as Prefeituras, nos dias 7 e 8 de agosto. Das discussões, resultou a ampliação da unidade para uma área com cerca de 110.289,86ha, contemplando também parte do município de Petrolina, além de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista.

Sua concepção foi deflagrada a partir de estudos realizados sob a coordenação do professor José Alves de Siqueira Filho, do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD/UNIVASF), que concluíram pela criação de uma unidade de conservação para proteger o tatu-bola. Apresentando os resultados de suas pesquisas em reunião do Conselho Estadual de Meio Ambiente, saiu com a recomendação para que a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) elaborasse a proposta técnica e deflagrasse o processo de discussão, conforme estabelece a lei 13.787/09 que instituiu o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC).

Exercendo seu papel de órgão central do SEUC a equipe da SEMAS realizou a pesquisa bibliográfica e documental, visitou instituições governamentais (dados secundários), realizou incursões em campo (dados primários) e, contando com a colaboração de técnicos e representantes do Centro de Referência para a Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (UNIVASF/CRAD), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária/Petrolina (INCRA/Petrolina), do Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (ITERPE), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e de representantes das Prefeituras Municipais de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, consolidou as informações disponibilizadas, gerando este documento.

Com a elaboração desta Proposta, a SEMAS apresenta para discussão a criação do Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola, que representa a compatibilização da proteção do tatu-bola-do-nordeste (Tolypeutes tricinctus) com mais uma importante área representativa do bioma caatinga no Estado de Pernambuco.

Com isso, a Secretaria dá cumprimento às estratégias e metas estabelecidas no Programa de Conservação da Biodiversidade de Pernambuco, buscando também estimular os municípios e instituições que atuam na região a exercerem seu papel para garantir a proteção ambiental para gerações futuras.

(7)

7

Introdução

O Estado de Pernambuco, com superfície territorial de, aproximadamente, 98.938 km², abriga uma diversidade ímpar de ecossistemas que se estendem desde o litoral, com a presença de ambientes recifais, seguidos pelos manguezais, restingas e praias, passando pela mata atlântica, com sua heterogeneidade em diversas florestas (estacional semidecidual, ombrófila aberta e ombrófila densa), chegando ao sertão, com a grandiosidade do semiárido e sua vegetação típica, exclusiva do Brasil: a caatinga. Esta diversidade de ambientes forma um mosaico rico e abundante em animais e plantas e, além de ser uma importante fonte de recursos naturais, produz uma dinâmica econômica, social e cultural que se constitui outra importante riqueza do Estado.

Inserido no semiárido nordestino, o bioma caatinga ocupa área de 844.453 Km², o que equivale a 11% do território nacional. Em Pernambuco abrange, aproximadamente, 83% de sua área territorial merecendo, sem duvida, um enfoque mais efetivo para a região que o engloba. É o mais fragilizado dos biomas brasileiros e, ao longo da história, o uso inadequado de seus recursos naturais associado a um baixo nível de investimentos em políticas públicas sustentáveis, o tornou bastante degradado. Conforme expressa o professor Marcelo Tabarelli no prefácio do livro Flora das

Caatingas do Rio São Francisco, ainda é um bioma “pouco conhecido cientificamente, além de marginalizado historicamente em termos de políticas de desenvolvimento econômico e social, bem como de preservação de suas riquezas naturais, incluindo a biodiversidade”.

Rico em biodiversidade, o bioma abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas. Cerca de 27 milhões de pessoas vivem na região, a maioria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver. A caatinga tem um imenso potencial para a conservação de serviços ambientais, uso sustentável e bioprospecção que, se bem explorado, será decisivo para o desenvolvimento da região e do país. A biodiversidade da caatinga ampara diversas atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos.1

Apesar da sua importância ambiental, social e econômica para o desenvolvimento da região, o bioma tem sofrido uma acelerada degradação, devido principalmente ao consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável, para fins domésticos e indústrias, ao sobrepastoreio e a conversão para pastagens e agricultura.

(8)

8 O desmatamento, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), chega a 46% da área do bioma.2

Ciente de que a conservação dos ambientes naturais, em suas diversas dimensões, é uma necessidade fundamental para a manutenção da vida na Terra, o Governo de Pernambuco vem desenvolvendo ações para criação e implantação de unidades de conservação (UCs), com vistas a proteger os biomas de seu território. Em 2007, foi instituído o Plano Estratégico Ambiental de Pernambuco onde, dentre seus programas, destaca-se o de Conservação da Biodiversidade, estabelecendo como ação prioritária, a criação do Sistema Estadual de Unidade de Conservação – SEUC, que foi instituído por meio da Lei 13.787 de 8 de junho de 2009. Este ato significou um marco para a estruturação de ações mais efetivas para a proteção do patrimônio natural do Estado. Uma das determinações do SEUC é a elaboração do Programa de Conservação da Biodiversidade, com o objetivo de contribuir para o fortalecimento do Sistema, definindo uma série de metas e atividades voltadas à promoção da proteção in situ dos biomas e ecossistemas existentes em Pernambuco. O estabelecimento do SEUC e do Programa de Conservação da Biodiversidade reflete o compromisso com uma política pública voltada para a sustentabilidade socioambiental, com uma visão de futuro onde o desenvolvimento equilibrado e a melhoria da qualidade de vida do povo pernambucano é a meta a ser atingida.

A partir de 2008, as atividades relacionadas à conservação da natureza ganharam força no âmbito do Governo Estadual. Foi criada a Área de Proteção Ambiental - APA de Santa Cruz e se realizou a modificação da categoria de manejo das unidades de conservação localizadas na Ilha de Itamaracá, passando de Reservas Ecológicas para Refúgios de Vida Silvestre. Em 2010 foi criada a APA Aldeia-Beberibe e no ano seguinte, todas as Reservas Ecológicas da Região Metropolitana do Recife tiveram suas categorias de manejo adequadas ao SEUC, conforme estabelecido na Lei Estadual nº 14.324 de 03 de junho de 2011. Ainda, neste mesmo ano, foi instituído o Comitê Executivo para Criação e Implantação das Unidades de Conservação da Natureza do Estado de Pernambuco, envolvendo a CPRH e a SEMAS, com a finalidade de apoiar administrativa e tecnicamente os processos de criação e de implantação das Unidades de Conservação da Natureza.

No âmbito das atividades deste Comitê, foram criadas, em 2012, as primeiras unidades de conservação estaduais do bioma caatinga: o Parque Estadual Mata da Pimenteira e a Estação Ecológica Serra da Canoa nos municípios de Serra Talhada e Floresta, respectivamente. Ainda no bioma caatinga, num processo coordenado pela CPRH, onze áreas encontram-se em estudo para criação de novas unidades.

Os esforços do Governo de Pernambuco nos últimos dois anos fizeram com que o Estado passasse de nenhuma UC na caatinga para cinco unidades de proteção integral,

(9)

9 totalizando uma área de 16.280,81ha, que representa 0,2% da caatinga protegida por unidades de conservação estaduais, conforme tabela abaixo:

Tabela 1. Unidades de conservação estaduais no bioma caatinga.

Nome (municípios) Localização Área (ha) Documento de criação

Parque Estadual Mata da

Pimenteira Serra Talhada 887,24 Decreto Estadual nº 37.823/2012 Estação Ecológica Serra da

Canoa Floresta 7.598,71 Decreto Estadual nº 38.133/2012 Parque Estadual Serra do

Areal Petrolina 1.596,56 Decreto Estadual nº 40.550/2014 Refúgio de Vida Silvestre

Riacho Pontal Petrolina 4.819,63 Decreto Estadual nº 40.552/2014 Monumento Natural Pedra

do Cachorro Tacaimbó, Brejo da Madre de Deus e São Caitano 1.378,67 Decreto Estadual nº 40.549/2014

Área total protegida no bioma caatinga em

Pernambuco 16.280,81

Fonte: SEMAS/2014

Para viabilizar a efetiva implantação das UCs, em 2012, foram criados 25 (vinte e cinco) Conselhos Gestores e elaborados/revisados 8 (oito) Planos de Manejo, três deles a partir de uma metodologia desenvolvida pela equipe da SEMAS, que possibilitou, num período de quatro meses, a conclusão dos Planos de Manejo de três unidades de conservação: Reserva de Floresta Urbana Mata de Passarinho, em Olinda, Refúgio de Vida Silvestre Mata do Engenho Uchôa, em Recife e Parque Estadual Mata da Pimenteira, em Serra Talhada.

No que se refere à Mata Atlântica, o governo também desenvolveu ações relevantes. Foi criada a Estação Ecológica Bita e Utinga, no Cabo de Santo Agostinho e Três Reservas

Particulares do Patrimônio Natural: as RPPNs Pedra D’Antas, a Eco Fazenda Morim e a

do Benedito. Também foram criadas duas unidades de conservação na Mata Norte: os Refúgios de Vida Silvestre Matas de Siriji e Matas de Água Azul, esta com 4.652,57 ha, se constituindo a maior unidade de conservação na Mata Atlântica no Estado.

A proposta para criação de uma unidade de conservação visando proteger o tatu-bola vem sendo trabalhada há algum tempo por pesquisadores do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD/UNIVASF) que juntamente com outras instituições de pesquisa como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), vem promovendo campanhas para conservação da espécie e do bioma caatinga.

(10)
(11)

11

Lista de Ilustrações

Tabelas

Tabela 1. Unidades de conservação estaduais no bioma caatinga

... 09

Tabela 2. Reservatórios da bacia do GI 6 e GI 7 localizados nos municípios onde a UC está inserida... 21

Tabela 3. Lista dos Projetos de Assentamentos criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, localizados na área do entorno do Refúgio.... 30

Tabela 4. Comunidades Quilombolas existentes na RD do São Francisco... 32

Tabela 5. Evolução do Crescimento da População da Região do Sertão de São Francisco (2000-2010)... 36

Tabela 6. População da Região: por Gênero, Urbana e Rural – 2010... 37

Tabela 7. Taxa de Mortalidade Infantil da Região 2003 – 2012... 38

Tabela 8. IDH –Municípios da Região do Sertão do São Francisco – 2010... 39

Tabela 9. População com 18 ou mais idade com Ensino Fundamental e com Ensino Médio – 2010... 40

Tabela 10. Número de Escolas, Alunos e Docentes no Ensino Pré-Escolar, Fundamental e Médio da Região 2012... 40

Tabela 11. Número de Estabelecimentos de Saúde e Leitos por Município 2009... 42

Tabela 12. Percentual de Moradores com Acesso a Microcomputador, Internet e Celular – 2010... 43

Figuras

Figura 1. Localização da área proposta para a criação da UC na RD do Sertão de São Francisco... 15

Figura 2. Localização da UC na Bacia do rio São Francisco... 19

Figura 3. Bacias Hidrográficas abrangidas pela unidade de conservação... 20

(12)

12

Figura 5. Madacaru (Cereus jamacaru)... 48

Figura 6. Moleque - duro (Varronia leucocephala)... 49

Figura 7. Aroeira (Myracrodruon urundeuva)... 49

Figura 8. A. Rãzinha-verde (Phyllomedusa nordestina); B. Physalaemus kroyeri; C. Jia (Leptodactylus vastus); D. Sapo (Rhinella Jimi)... 51

Figura 9. A. lagarto-do-lajedo (Tropidurus semitaeniatus); B. salamanta (Epicrates cenchria), C. cascavel (Crotalus durissus cascavella); D. jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris)... 52

Figura 10. A. arapaçu-do-Nordeste (Xiphocolaptes falcirostris); B. arribaçã (Zenaida auriculata), C. pica-pau-anão-pintado (Picumnus pygmaeus); D. periquito-da-caatinga (Aratinga cactorum)... 53

Figura 11. Vestígios que suportam a presença de mamíferos, encontrados no Sitio do Meio, Município de Lagoa Grande. A: Garras, patas, caudas e cabeças de tamanduá, registradas durante campanha de campo. B: Carapaça de tatu-bola, guardada como lembrança de uma espécie rara no local. C e D: Restos de diversas espécies de tatus (carapaças, fuças, caudas e patas)... 54

Figura 12. A. onça-de-bode (Puma concolor greenie); B. tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), C. gato-lagartixeiro (Leopardus tigrinus); D. rato-de-nariz-vermelho (Wiedomys pyrrhorhinos)... 56

Figura 13. Localização da área proposta para a criação da unidade de conservação... 59

Figura 14. Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade em Pernambuco... 60

Figura 15. Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus)... 61

Figura 16. Área de ocorrência do tatu-bola... 61

Figura 17. Delimiação inicial da área apresentada pela UNIVASF/CRAD... 64

Figura 18. Alternativa 1 - delimitação a partir da visualização de imagem Google Earth... 64

Figura 19. Alternativa 2 - delimitação a partir da visualização de imagem Google Earth... 65

(13)

13

Sumário

Agradecimentos... 05

Apresentação... 06

Introdução... 07

Lista de Ilustrações... 11

1 Caracterização da Região do Sertão do São Francisco... 15

1.1 Localização... 15

1.2 Aspectos Físicos... 16

1.2.1 Clima... 16

1.2.2 Relevo... 17

1.2.3 Solo... 17

1.2.4 Geologia... 18

1.2.5 Hidrografia... 18

1.2.5.1 Águas Superficiais... 18

1.2.5.2 Águas Subterrâneas / Domínio Hidrológico... 22

1.3 Aspectos Socioeconômicos e Culturais... 22

1.3.1 Histórico da Ocupação do Sertão do São Francisco... 23

1.3.2 População... 29

1.3.2.1 Assentamentos Rurais... 29

1.3.2.2 Populações Tradicionais... 32

1.3.2.3 Atores Sociais... 33

1.3.2.4 Aspectos Demográficos... 36

1.3.2.5 Educação... 39

1.3.2.6 Saúde... 41

1.3.2.7 Comunicação... 42

1.3.2.8 Economia... 43

1.4 Caracterização Biológica da Caatinga: O Bioma do Semiárido Nordestino... 46

1.4.1 Contexto Geral... 46

1.4.2 Aspectos da Fitofisionomia... 47

1.4.3 Aspectos da Flora... 48

1.4.4 Aspectos da Fauna... 50

2 Importância da Área e Justificativa para a Criação da Unidade de Conservação... 58

3 Delimitação da Área para a Unidade de Conservação... 64

4 O SEUC e a Proposição da Categoria de Manejo... 68

5 A Gestão do Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola... 72

6 Referência... 75

(14)

14

Quando você quer alguma coisa,

todo o universo conspira para que

você realize o seu desejo.

Paulo Coelho

Criação d0 Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola na Região do Sertão do São Francisco – Pernambuco

(15)

15

1

Caracterização da Região do Sertão do São

Francisco

1.1

Localização

Estrategicamente, o Estado de Pernambuco está dividido em 12 Regiões de Desenvolvimento (RDs), considerando sua diversidade, seja ambiental, funcional, social, cultural ou econômica. A área proposta para criação da unidade de conservação está inserida na RD Sertão do São Francisco, localizada no extremo sudoeste de Pernambuco (Figura 1). Dista, em média, 685 Km de Recife e possui uma área de 14.652,65 km², representando 14,9% do território pernambucano. É constituída por 07 municípios: Afrânio, Cabrobó, Dormentes, Lagoa Grande, Orocó, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista, com destaque para Petrolina, classificada pelo IBGE como Capital Regional, pela presença de diversos equipamentos urbanos regionais dentre eles: universidades federais e estaduais, faculdades municipais onde são desenvolvidos cursos voltados às cadeias produtivas locais. Estão distribuídos na Mesorregião do São Francisco e na Microrregião de Petrolina, tendo como principais vias de acesso as BR 428, BR 122 e BR 407.

(16)

16

1.2

Aspectos Físicos

As várias regiões do Vale do São Francisco apresentam-se com suas peculiaridades de clima, solo, e relevo próprias, que as diferem entre si. No que se refere a do Submédio São Francisco destacam-se:

1.2.1

Clima

O clima da região do Submédio São Francisco é semiárido e árido, com precipitação média anual variando de 800 a 350 mm, temperatura média anual de 27°C, que associada a 2.800 horas de insolação, resulta em 1.550 mm de evapotranspiração média anual. Sofre com a influência da latitude, longitude, cobertura vegetal, e dependendo da escala de observação (local ou regional), também por outros fatores, como a proximidade do mar, continentalidade, estações do ano, etc.

Quando passamos a analisar os dados meteorológicos da região, percebemos a seguinte tendência nas duas margens do Rio São Francisco. Assim, na margem direita do rio o clima apresenta temperatura mais elevada e menor umidade relativa do ar, apesar de não se tratar de uma regra. No entanto, quando os dados são analisados ao longo do rio, pode-se visualizar claramente a influência do mesmo, do lago de Sobradinho, do projeto de irrigação Senador Nilo Coelho e da Serra da Santa no mesoclima circundante, principalmente quando se sabe que a direção predominante do vento na região é sudeste. Com isso, observa-se que os municípios de Juazeiro e Curaçá (BA), principalmente, são os que apresentam temperatura do ar mais elevada e, contrariamente, umidade relativa do ar menor.

Dois importantes municípios produtores de uvas para a produção de vinhos são Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista (PE), que apresentam temperatura do ar, média dos meses de maio a dezembro (2003) superiores à de Petrolina (PE), mas, semelhantes às observadas em Juazeiro (BA). Assim, ainda há a necessidade de uma análise espacial mais criteriosa, em nível mensal e/ou trimestral, pois carece de uma parametrização com maior número de anos.

(17)

17 A potencialidade de uma região para a adaptação e produção da videira é fortemente dependente do clima, que interage com os demais componentes do meio natural, em particular com a cultivar e com as técnicas agronômicas utilizadas no sistema produtivo da videira. O clima semiárido do Nordeste apresenta aspectos muito favoráveis ao cultivo de diversas culturas, devido principalmente à elevada disponibilidade de energia solar, alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, que resultam, inclusive, na redução da incidência de pragas e doenças. Por outro lado, impõe restrições quanto à disponibilidade hídrica de origem pluvial, e sendo assim, uma limitação da exploração agrícola de sequeiro, que desta forma requer cuidados especiais para a manutenção da fauna e flora da região, com a preservação da caatinga.

1.2.2

Relevo

O Vale do São Francisco é uma depressão alongada, a partir da Serra da Canastra, aonde as altitudes chegam a 1.600 metros. Na região do alto São Francisco a topografia é levemente ondulada, entalhada em arenitos, ardósias e calcáreo.

À medida que se avança para o Médio São Francisco e se ganha a depressão, a topografia torna-se suave e sub-horizontal, resultante da intensa erosão de uma área de calcáreo, ardósias e folhetos.

1.2.3

Solo

A ocorrência dos solos do Vale do São Francisco está intimamente relacionada com o clima, a rocha matriz, a vegetação e o relevo.

Na zona compreendida entre as cabeceiras do São Francisco até Santa Maria da Boa Vista, pela margem esquerda, e Juazeiro, pela margem direita, há uma predominância absoluta de latossolos e podzólicos. Verifica-se, ainda, a ocorrência de areias quartzosas, cambissolos e litossolos, sendo estes dois últimos mais expressivos ao sul desta zona e nas áreas montanhosas do trecho mineiro. Os solos que apresentam boa aptidão agrícola são, apenas, os latossolos, os podzólicos e os cambissolos, estes quando profundos.

Margeando todo o Rio e seus afluentes encontram-se a faixa de solos aluviais, cuja utilização agrícola requer estudos detalhados, pela possibilidade de inundação.

A porção semi-árida do Vale, localizada nas regiões do Médio, Submédio e parte do Baixo São Francisco apresenta risco de salinização que varia de muito alto a médio.

(18)

18

1.2.4

Geologia

Destacam-se na região a Bacia Sedimentar Piauí-Maranhão e a Depressão do Médio São Francisco, como as duas principais formações geológicas.

A Bacia Sedimentar foi, há muito tempo, uma depressão coberta pelo mar, que foi sendo preenchida com sedimentos retirados pela erosão das áreas mais altas do entorno e carregados pelo próprio mar ou pelos ventos e chuvas. Com o recuo das águas do mar e o próprio peso das camadas de sedimentos formaram-se as rochas sedimentares que são o resultado da compactação e consolidação dos sedimentos.

Posteriormente, esta grande formação de rocha sedimentar foi levantada por um movimento tectônico, tornando-se um relevo mais alto que as áreas vizinhas.

O levantamento desta região é o reflexo principalmente do movimento de deriva continental, que por sua vez é reflexo da acomodação das placas tectônicas que até hoje se movimentam, separando o Brasil do continente africano. Os fenômenos que ocorrem no interior da terra e as acomodações da parte mais externa da terra, que é a crosta terrestre, resultam em terremotos, maremotos, erupções vulcânicas em alguns locais do planeta.

A formação geológica da Depressão Periférica do médio São Francisco é a área atualmente mais baixa da região, face ao planalto. Esta formação é conhecida também como Escudo Metamórfico Pré-Cambriano, pois nela aparecem as rochas pré-cambrianas, como o granito, que foram as primeiras rochas formadas na história geológica da Terra, chamadas rochas cristalinas. Algumas destas primeiras rochas sofreram transformações dando origem a novas rochas que são as chamadas metamórficas. Observa-se nesta formação a planície do vale do rio Piauí, as elevações dos serrotes de calcário com grutas e os inselbergs de gnaisse.

1.2.5

Hidrografia

1.2.5.1

Águas superficiais

A região onde se localiza a unidade de conservação proposta está inserida na bacia do rio São Francisco. Esta bacia é dividida em quatro regiões: Alto São Francisco (das nascentes até Pirapora-MG), Médio São Francisco (entre Pirapora e Remanso – BA), Submédio São Francisco (de Remanso até a Cachoeira de Paulo Afonso) e Baixo São Francisco (de Paulo Afonso até a foz, no oceano Atlântico). A localização da UC é na região do Submédio São Francisco (ver Figura 02).

(19)

19 No que se refere às sub-bacias, a área proposta para criação da unidade de conservação está inserida nos domínios da Bacia Hidrográfica do Riacho das Garças, do Grupo de Bacias de Pequenos Rios Interioranos 6 (GI 6), Grupo de Bacias de Pequenos Rios Interioranos 7 (GI 7), e do Riacho Pontal, conforme Figura 3

Figura 2. Localização da UC na Bacia do rio São Francisco. Fonte:

https://www.google.com.br/search?q=bacia+do+rio+s%C3%A3o+francisco&espv=2&tbm=isch&tb o=u&source=univ&sa=X&ei=S5zXU_T8LqXfsATHg4CoCg&ved=0CBsQsAQ&biw=1360&bih=643#

(20)

20 A bacia hidrográfica do Riacho do Pontal está localizada na microrregião de Petrolina. Tem sua nascente na serra da Farinha no extremo oeste do Estado de Pernambuco entre os limites dos Estados do Piauí e Bahia a uma altitude aproximada de 600m na região denominada Poção do Afrânio. Nasce com o nome do riacho Cachoeira do Roberto e a partir do município de Rajada recebe o nome de Pontal. Desemboca na margem esquerda do rio São Francisco, com um percurso aproximado de 110km. Os

principais cursos d’água, pela margem direita, são os riachos Caieira, Tanque Novo,

Sítio Novo, Icó e Simão e, pela margem esquerda, os riachos Caboclo, Caldeirão,

Dormente, Baixo do Posso Fundo, Areial e Poço d’Anta. Possui uma área de 6.015,33 km² e sua área de drenagem envolve os municípios de Dormentes, Lagoa Grande, Petrolina e Afrânio, este último inserido totalmente na bacia.

O Riacho das Garças tem suas nascentes no limite de Pernambuco com o Piauí, sendo inicialmente denominado Riacho Caipora, prosseguindo até o rio São Francisco, onde desemboca. Sua extensão total é de aproximadamente 192 km, com a maior parte de sua direção noroeste-sudeste. Os principais afluentes do riacho das Garças são, pela margem direita, os riachos Água Preta, das Lagoas, da Cal, do Periquito e dos Campos, e, pela margem esquerda, Mocambo, da Boa Vista, da Volta, Alegre, do Algodão e Bom Fim. Possui uma área de 4.094,10 km², que está totalmente inserida no Estado de Pernambuco (4,16% da área total do Estado), abrangendo parcialmente 7 municípios: Dormentes, Lagoa Grande, Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz, Santa Filomena e Santa Maria da Boa Vista. Apenas os municípios de Santa Cruz e Santa Filomena possuem suas sedes inseridas na bacia.

O Grupo de Bacias de Pequenos Rios Interioranos 6 (GI 6) limita-se ao norte com a bacia do Rio Brígida, ao sul e a este, com a bacia do Riacho das Garças, a leste com o Rio São Francisco. Este Grupo é constituído basicamente pela bacia do riacho Caraíbas que, em sua nascente, é denominado de riacho Urimamã, com um percurso de cerca de 69 km, desaguando na margem esquerda do rio São Francisco. Sua rede de drenagem

(21)

21 tem como principais afluentes, pela margem direita, os riachos Jaracatia e Santa Rosa e, pela margem esquerda, o riacho Madeiras. Apresenta uma área de 838,24 km2, correspondendo a um percentual de 0,85% da área total do Estado e abrange parcialmente áreas dos municípios de Orocó (incluindo sua sede) e Santa Maria da Boa Vista.

O Grupo de Bacias de Pequenos Rios Interioranos (GI7) limita-se ao norte com a bacia do riacho das Garças, ao sul e a leste com o rio São Francisco, e a oeste com a bacia do rio Pontal. O principal curso d’água deste grupo é o riacho Recreio, com cerca de 59km

de extensão. Destacam-se ainda o riacho Curral Novo e o riacho Canaã, com aproximadamente 14 km e 20 km de extensão, respectivamente. Ambos os riachos deságuam na margem esquerda do Rio São Francisco, drenando áreas dos municípios de Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande, com sentido noroeste-sudeste. Apresenta uma área de 1.205,91 km², correspondendo a 1,23% da área total do Estado de Pernambuco. A área de drenagem abrange parcialmente os municípios de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista (incluindo sua sede).

Os reservatórios dos GI 6 e do GI 7, e do Riacho Pontal com capacidade máxima acima de 1 milhão de m³, localizados nos municípios onde a unidade de conservação está inserida, estão apresentados abaixo, no Tabela 2.

Tabela 2. Reservatórios da bacia do GI 6 e GI 7 localizados nos municípios onde a UC está inserida.

Reservatório Capacidade (m3) Municípios

Calmaria (GI 6) 2.000.000 Lagoa Grande Contendas (GI 6) 1.500.000 Lagoa Grande

Lagoa da Pedra (GI 6) 1.400.000 Santa Maria da Boa Vista, Saco II (GI 6) 123.523.510 Lagoa Grande/ Santa Maria da Boa Vista Massapê (GI 7) 1.100.000 Santa Maria da Boa Vista

Água Branca 2.354.600 Petrolina

Almas 3.800.000 Lagoa Grande e Petrolina

Baixa do Icó 1.300.000 Petrolina

Baixa Verde 2.300.000 Petrolina

(22)

22 Cruz de Salina 4.021.375 Petrolina

Lajedo/Jatobá 1.000.000 Petrolina

Morros 1.860.000 Petrolina

Pau Ferro 2.068.937 Petrolina

Fonte: Agencia Pernambucana de Águas e Climas, in

http://www.apac.pe.gov.br/pagina.php?page_id=5&subpage_id=24, e http://www.apac.pe.gov.br/pagina.php?page_id=5&subpage_id=32 http://www.apac.pe.gov.br/pagina.php?page_id=5&subpage_id=25

1.2.5.2

Águas Subterrâneas/Domínios Hidrogeológicos 3

O município de Lagoa Grande está inserido no Domínio Hidrogeológico Intersticial e no Domínio Hidrogeológico Fissural. O Domínio Intersticial é composto de rochas sedimentares dos Depósitos Aluvionares e dos Depósitos Colúvio-eluviais. O Domínio Fissural é formado de rochas do embasamento cristalino que englobam o subdomínio rochas metamórficas constituído da Formação Barra Bonita, Unidade Granitos Calcialcalinos, Complexo Saúde, dos Gnaisses e do Complexo Sobradinho-Remanso e o subdomínio rochas ígneas da Suite intrusiva Rajada.

O município de Santa Maria da Boa Vista está inserido no Domínio Hidrogeológico Intersticial e no Domínio Hidrogeológico Fissural. O Domínio Intersticial é composto de rochas sedimentares dos Depósitos Aluvionares e dos Depósitos Detrítico-laterítico. O Domínio Fissural é composto de rochas do embasamento cristalino que englobam o subdomínio rochas metamórficas constituído do Complexo Belém do São Francisco, Complexo Cabrobó, Gnaisses, Complexo Riacho Seco e do Complexo Sobradinho-Remanso e o subdomínio rochas ígneas dos Granitóides e do Complexo Saúde.

O município de Petrolina está inserido no Domínio Hidrogeológico Intersticial e no Domínio Hidrogeológico Fissural. O Domínio Intersticial é composto de rochas sedimentares dos Depósitos Aluvionares, Paleodunas Continentais, Depósitos Colúvio-eluviais e dos Depósitos Detríticos e/ou Lateríticos. O Domínio Fissural é formado de rochas do embasamento cristalino que englobam o subdomínio rochas metamórficas constituído da Formação Barra Bonita, Formação Mandacaru, Complexo Saúde, Greenstone Belt Rio Salitre e do Complexo Sobradinho-Remanso e o subdomínio rochas ígneas dos Granitóides e da Suite intrusiva Rajada.

1.3

Aspectos Socioeconômicos e Culturais

Na Caracterização Socioeconômica Cultural destacam-se as informações sobre os aspectos: Demográficos, de Educação, de Saúde, de Desenvolvimento Humano, Produtivos e Culturais da Região de Desenvolvimento Sertão do São Francisco. A área objeto de estudo, prevista para a criação da UC, abrange os municípios de Lagoa

(23)

23 Grande, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista e por isso, serão os municípios destacados no texto. O levantamento realizado tem como base dados secundários provenientes, principalmente, do: IBGE (Censo, 2010); MDA/SDT/IADH-GESPAR (Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Território do Sertão do São Francisco, 2011); CONDEPE/FIDEM (Perfil Municipal, 2014; Base de Dados); FIEP/SESI/SENAI/IEL (Portal ODM, 2013); PNUD (Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013).

1.3.1

Histórico da Ocupação do Sertão do São Francisco 4

O povoamento português no Estado de Pernambuco, como no resto do país, se deu com o declínio do comércio português com as Índias. A partir de 1535, com a chegada do donatário Duarte Coelho, iniciou-se a ocupação na capitania. Primeiramente, ela seguiu toda a costa pernambucana e parte da zona da mata, voltadas para o comércio e produção de açúcar. Tanto o Agreste quanto o Sertão estavam alijados do povoamento português; além de serem áreas de refúgio de indígenas, a vegetação, o clima e a distância não eram favoráveis à exploração. A interiorização da ocupação se deu graças à atividade pecuarista que, proibida de ser praticada na área da cana, teve que se deslocar para o Sertão. Esse deslocamento foi feito seguindo o rio São Francisco e adentrando no Estado pelos seus afluentes.

O Rio São Francisco é o recurso natural que influenciou e ainda influencia a vida das pessoas que ocuparam (inicialmente os povos indígenas) e que ainda hoje ocupam o território, conferindo uma identidade aos habitantes da região. Porém a forma como esse recurso é utilizado, aliado ao acesso a outros recursos (como terra, conhecimentos, capital, poder) também condicionam as diferenças culturais, políticas e econômicas.

Até o final da década de quarenta, a região cresceu lentamente tanto econômica como populacionalmente, no ritmo da expansão da pecuária extensiva e com alguns projetos de irrigação que não tiveram maior impacto na transformação do setor agrário da região. Com a criação de órgãos indutores do desenvolvimento do Nordeste (Banco do Nordeste/BNB, no início da década de 50, e SUDENE na década de 60), a região passou a ter maior dinamismo através do incentivo a projetos de irrigação e de agropecuária de sequeiro.

A proposta da SUDENE de planejar em longo prazo o desenvolvimento social e econômico da região era de extrema importância, tanto em função dos perímetros irrigados já implantados, como para o manejo das caatingas, especialmente num processo de convivência com a seca. No que se refere ao manejo das caatingas, a proposta não foi concretizada porque a área foi considerada como objeto de extração e desmatamento para a instalação de culturas, tanto de sequeiro (mamona, algodão, melancia, palma, dentre outras) quanto irrigadas (cebola, melancia, tomate, etc.).

4 Informações do Plano de Desenvolvimento Territorial do Sertão do São Francisco. Disponível in:

(24)

24 Por volta de 1960, o uso de produtos químicos provocou a utilização do angico na preparação dos couros em curtumes, assim como o advento das fibras artificiais provocou o fechamento das usinas de caroá.

Nos primeiros anos a SUDENE priorizou a implantação de uma infraestrutura que fosse capaz de reorganizar e dinamizar a economia regional, ampliando a oferta de terras e racionalizando o uso da água e do solo. A irrigação, apesar de já apresentar alguma importância, ainda não era a prioridade. Tanto a SUDENE, quanto os órgãos que lhe precederam como BNB e Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), provocaram mudanças significativas no semiárido.

Até 1968, a SUDENE fez quatro Planos Diretores de Política de Desenvolvimento para Agricultura, induzindo a implantação do "pacote da revolução verde” 5. Também criou o Grupo de Executivo de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola (GEIDA) que permitiu ao Governo fortalecer a irrigação pública nas áreas das bacias dos açudes públicos e nas margens dos rios.

Neste período, a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF) foi transformada na Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), que passou a atuar em áreas selecionadas, privilegiando a colonização por meio dos primeiros perímetros irrigados. A propriedade da terra começou a promover outra base de diferenciação entre produtores, afetados por desapropriações e por ações de compra e venda.

A água passa a ser valorizada como principal riqueza, seja para irrigação ou para produção de energia. Inicia-se a implantação de grandes projetos hidráulicos em toda a extensão do Vale do São Francisco, que ocuparam mão de obra da região e de outros estados nordestinos. Iniciam-se conflitos de uso da água tanto por tipo (geração elétrica, agricultura irrigada, industrial e consumo humano), quanto por instituição (Ministério de Integração Nacional e Ministério das Minas e Energia). Também foi desencadeado um novo ordenamento do território, com o parcelamento de grandes imóveis em unidades de produção com áreas de 4 a 10 ha. Foram os chamados minifúndios, tanto nos perímetros irrigados, quanto na zona ribeirinha tradicional, aprofundando as diferenças entre as zonas de sequeiro e ribeirinha.

Nesse período, foi implantada a malha viária que atravessa o sertão (BRs 232, 407, 425, 122, 116) com o objetivo de integrar a região ao centro e sul do país, o que permitiria garantir a ocupação e o escoamento dos produtos das áreas irrigadas. Isso também acabou por facilitar a migração da população para outras regiões do país.

Para dar assistência técnica aos novos sistemas de produção vinculados à dinâmica da "modernização da agricultura", foi criado o sistema de extensão rural, inicialmente como Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural (ANCAR), Departamento de Produção Vegetal (DPV) e Departamento de Produção Animal (DPA) e, depois como Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER).

5 Revolução Verde refere-se à invenção e disseminação de novas sementes e práticas agrícolas que permitiram um

(25)

25 O incentivo maior à irrigação promoveu a introdução das culturas do melão e de fruticultura permanentes, como uva, goiaba, manga e coco, proporcionando um grande aumento das áreas irrigadas, especialmente nas margens do Rio São Francisco. A introdução da energia elétrica tornou a irrigação mais acessível aos pequenos produtores, no entanto a energia não foi disseminada para o conjunto da área rural.

Além das modificações fundiárias e do impacto social, a irrigação ocasionou um grande impacto ambiental na região. As culturas implantadas nas margens dos rios destruíram as matas ciliares provocando erosão e grandes assoreamentos. Mal orientada, a irrigação, feita por produtores que desconheciam as técnicas adequadas, levou à salinização de boa parte das áreas onde era praticada. O uso de adubo químico e de agrotóxico levou à poluição dos solos e das águas e a intoxicação de muitos agricultores, que utilizavam os "venenos" sem nenhum equipamento de proteção.

Já no final da década de 60 e ao longo da década de 70, o governo federal investiu no "desenvolvimento rural integrado", com base numa concepção do Banco Mundial, que fomentava programas especiais de desenvolvimento regional como o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste (POLONORDESTE), em 1974 e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Região Semiárida do Nordeste (Projeto Sertanejo), em 1976. Estes projetos procuravam articular a pesquisa agronômica, a assistência técnica, o crédito, a infraestrutura (estradas vicinais e eletrificação rural) e ações de reorganização territorial, na introdução de gado bovino de alto teor genético, no desmatamento das caatingas para plantar capim e instalação de cercas. Tudo isso através de financiamento aos pecuaristas e agropecuaristas, tanto patronais quanto familiares que, no primeiro momento, usufruíram ao máximo dos financiamentos, mas que ficaram endividados, iniciando um processo de inadimplência que se mantém até os dias atuais.

Além da confusa distribuição de atribuições entre órgãos distintos, de ministérios diferentes e das decisões serem tomadas sem que as demandas dos agricultores irrigantes, pecuaristas e agropecuaristas fossem consideradas, não havia a preocupação de promover a capacitação para introdução ou adaptação às novas técnicas. O apoio federal era descontínuo, apenas nos momentos de seca, gerando uma dependência das ações de mitigação. Como esses projetos consolidaram-se na zona de sequeiro, acabaram por fortalecer as diferenças que geraram as áreas distintas: a de influência dos açudes do DNOCS, a dos riachos permanentes e temporários, a de influência das cidades e a de sequeiro propriamente dito.

Ao mesmo tempo são criados os perímetros irrigados de Mandacaru (Juazeiro-BA) e Bebedouro (Petrolina-PE). No início da década de 70, inicia-se a construção da barragem de Sobradinho que forma o lago homônimo deslocando cerca de 70.000 pessoas o que impulsionou um forte processo de migração dentro da área do médio São Francisco, fato que se profunda no período seguinte, com a construção de novas barragens.

(26)

26 perímetros irrigados, gerando, por tempo determinado, um dinamismo econômico e social na região. Os maiores canteiros de obra eram organizados como "cidades," que se estruturam sobre laços mercantis e não humanitários, onde os "moradores" não possuíam nenhuma relação cultural com o lugar e nem desenvolviam qualquer relação social entre si. Essa situação vai se aprofundar nos anos seguintes nos assentamentos de reforma agrária e nos reassentamentos das famílias atingidas pelas barragens.

Em 1974, a SUVALE é substituída pela Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco (CODEVASF), visando o aproveitamento dos recursos hídricos e solo por meio do desenvolvimento integrado de áreas prioritárias e da implantação de distritos agropecuários e agroindustriais. Nesse mesmo ano, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) instala o Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido (CPATSA) em Petrolina, objetivando responder a uma demanda de pesquisa, que atendesse os perímetros irrigados e apresentasse propostas para a zona de sequeiro que mantinha o mesmo quadro de pobreza, mesmo depois das muitas ações desenvolvidas na região.

As duas últimas décadas são marcadas pelo desenvolvimento da fruticultura irrigada, como principal atividade econômica e pela reorganização fundiária, como resultado das intervenções públicas federais. Durante este período a CODEVASF implantou quatro perímetros irrigados entre os municípios de Petrolina e Juazeiro, dos quais só o projeto Senador Nilo Coelho utilizou uma área de 53.950 ha e assentou 8.980 pessoas. As áreas agricultáveis deste projeto foram divididas entre colonos (80%) e empresas agrícolas (20%). Nos outros projetos, as proporções foram alteradas, sempre reduzindo a agricultura familiar.

Esses projetos provocaram mudanças radicais na organização social de toda a região, visto tanto na ótica da criação de novos postos de trabalho na irrigação e na construção civil quanto na visão de uma nova dinâmica do trabalho, com a transformação de produtores de diferentes tipos (beiradeiros, meeiros, agropecuaristas e população urbana) em assalariados das empresas instaladas nos perímetros irrigados.

Ao longo do tempo, as ações pioneiras da CODEVASF têm apresentado resultados expressivos na geração de emprego e renda, principalmente na área conhecida como Polo Petrolina/Juazeiro, onde se concentram a maioria dos seus projetos de irrigação. Com estas intervenções, entraram em cena as médias e grandes empresas agropecuárias, nacionais e estrangeiras, que aprofundam o uso da irrigação na agricultura, instalando-se na zona ribeirinha e originando a zona de agricultura empresarial que, no inicio, abrangia os territórios ribeirinhos de Santa Maria da Boa Vista, Curaçá e Lagoa Grande. Estas empresas chegavam à região com os incentivos financeiros e fiscais para instalação e exploração da fruticultura irrigada.

(27)

27 de fruticultura irrigada, sendo toda a produção (uva, graviola, manga e pinha) voltada para mercados internacionais.

Embora operando com recursos subsidiados e com sofisticada tecnologia de controle do uso da água, os projetos de grande porte tiveram dificuldades financeiras e técnicas em pouco tempo. Os planos econômicos do governo Sarney indexaram a dívida ao dólar, fazendo com que os recursos obtidos, mesmo subsidiados, representassem um custo real muito grande dentro do sistema produtivo. Somaram-se a essa situação, a racionalidade econômica destes grupos, baseada no lucro através da especulação fundiária e financeira, os problemas técnicos, como ataque de mosca branca ao tomate e a perda de áreas de plantio de pinha e graviola com inundações, fatos que levaram ao abandono das atividades.

A mão de obra requerida por estes projetos, bem como pela implantação dos grandes projetos de irrigação da região, tornou-se ociosa, agravado com os problemas decorrentes da seca que provocou, no final da década de 70 e os três primeiros anos da década de 80, grandes perdas da produção. Essa crise promoveu uma alteração no uso do solo em algumas áreas. Apoiados pelas organizações do tráfico de drogas do Rio de Janeiro e São Paulo, alguns produtores passaram a substituir as lavouras pelo plantio da Canabis sativa L. (maconha). A região logo se transformou no maior centro produtor da droga no Brasil o que a tornou bastante violenta, com muitos assaltos e homicídios.

Paralelamente, continuam existindo as atividades produtivas, tanto de sequeiro quanto em áreas ribeirinhas. Nesse período, por influência dos órgãos financeiros e técnicos, começam a mudar os consórcios de cultivo, com o desaparecimento do algodão mocó, que é substituído pelo algodão herbáceo o qual não permite consórcio com a palma ou com feijão, como faziam anteriormente os agropecuaristas. Isto afeta muito fortemente a pecuária bovina. A cultura do algodão mocó chegou a ser pioneira em termos de volume de produção e de área cultivada. Em muitos períodos, foi o agente decisivo de ocupação dos bolsões de terras secas do imenso semiárido e das áreas da região, em particular nos municípios de Salgueiro, Serra Talhada e Santa Maria da Boa Vista. Os restos das culturas e a torta de algodão sempre representaram importantes fontes de alimentação do rebanho, principalmente nas estações secas.

Em 1985 o governo lança o I Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). Com a instalação da Unidade de Execução do INCRA em Petrolina inicia-se na região a implantação dos assentamentos, sendo o primeiro o Baixa da Faveleira, em Floresta, em 1988. Seguiram-se os assentamentos Santana e Varzinha, em Cabrobó; Cruz do Pontal em Lagoa Grande; Federação e Poço do Angico, em Petrolina; Poço do Icó, em Santa Maria da Boa Vista, todos em 1989. Esses assentamentos visavam reduzir a pressão social, causada pela presença de agricultores, que ao longo dos últimos períodos, em função da seca, dos planos econômicos ou das intervenções públicas e privadas desastradas, perderam suas terras ou ficaram sem condições de trabalho.

(28)

28 sociais onde se destacava os sindicatos de trabalhadores rurais apoiados fortemente pela igreja católica, se vê obrigada a reassentar um grande contingente de pessoas, que tiveram suas terras inundadas pelo lago formado com a construção da barragem. O lago da hidrelétrica de Itaparica atingiu, direta e indiretamente, as estruturas físicas, sociais, econômicas e culturais dos municípios de Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Cabrobó, Belém do São Francisco, Itacuruba, Floresta, Petrolândia e Tacaratu, no Estado de Pernambuco, além de municípios da Bahia. Submergiram 4.160 moradias, que desalojaram 36 mil habitantes (sendo 15 mil na zona urbana e 21 mil na zona rural) e um rebanho de 91 mil cabeças (incluindo bovinos, caprinos, ovinos, eqüinos e suínos). A CHESF criou nove reassentamentos na região, dois deles em municípios que compõem a RD: Caraíbas (Santa Maria da Boa Vista) e Brígida (Orocó).

As famílias reassentadas sofreram um processo de desestruturação dos lugares de origem e de seus vínculos sócios culturais e produtivos. Como uma medida para superar estes problemas a CHESF comprometeu-se a instalar projetos de irrigação nas áreas de reassentamentos, determinação que não foi cumprida de acordo com os cronogramas que previam o início da irrigação para 1988 e só foram concluídos em 1996.

Para agilizar a solução destes problemas em 1990 foi celebrado convênio entre a CHESF e a CODEVASF transferindo da primeira para a segunda as atividades relacionadas à conclusão da implantação, operação, manutenção e emancipação dos projetos irrigados e piscigranjas destinados à população rural atingida pelo empreendimento Usina Hidrelétrica de Itaparica.

O abandono das fazendas de fruticultura pelos grandes empresários, na primeira metade da década de 1990, coincidiu com a chegada à região do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O processo de organização dos trabalhadores para ocupação dessas fazendas improdutivas não foi muito difícil, visto que existia um grande contingente de mão de obra que havia ficado ociosa. Somavam-se a esse grupo as pessoas originárias de áreas de sequeiro, que se encontravam em busca de áreas com acesso a água. Ao MST juntou-se a Federação de Trabalhadores de Pernambuco (FETAPE) no trabalho de organização desses trabalhadores, fortalecendo um movimento que se revelou bastante forte e coeso, obrigando o INCRA, na segunda metade dessa década, a transformar as áreas em assentamentos da reforma agrária.

Nesse mesmo período, o INCRA fez expropriação das propriedades usadas para plantio de maconha e daquelas cujos proprietários estavam envolvidos com o "Escândalo da Mandioca". A sua ação, ao criar 43 projetos de assentamentos, 13 apenas no município de Santa Maria da Boa Vista, até a metade do ano 2000, estava relacionada basicamente com a questão fundiária. Ao assentar um grande número de famílias (2.781 famílias ou aproximadamente 14.000 pessoas) resolveu, em princípio, o problema do acesso à terra desse contingente de agricultores.

(29)

29 fazendas irrigadas que se inserem economicamente no mercado internacional), existindo uma diversidade de lutas, de organizações e de movimentos sociais.

Em seu processo de ocupação, o Sertão do São Francisco reuniu um conjunto de experiências da sociedade em torno do desenvolvimento rural sustentável, construídas historicamente, que lhe conferiu uma dinâmica muito peculiar. Mesmo que se tenha reduzido relativamente o impacto da concentração fundiária na região, não se promoveu mudanças na situação econômica dos pequenos produtores nem na maioria dos municípios. Esses problemas foram aprofundados pelo aumento da população nas áreas urbanas, apesar dos municípios serem notadamente agropecuaristas e as atividades desenvolvidas nas sedes estarem vinculadas com o mundo rural.

1.3.2

População

1.3.2.1

Assentamentos Rurais

No entorno da área proposta para criação da unidade de conservação foram criados 51 Projetos de Assentamentos (PA)6 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), sendo 16 no município de Lagoa Grande, 21 no de Santa Maria da Boa Vista e 14 nos limites entre os dois municípios. Aproximadamente, 2.926 famílias encontram-se assentadas nesta área. A agricultura de sequeiro e criação de bovinos, caprinos e ovinos se caracteriza como as atividades econômicas adotadas pelas famílias.

Aquelas que estão localizadas próximas a corpos d’água, desenvolvem, também, cultivo em áreas irrigadas.

No entorno imediato da área proposta para a criação da UC estão localizados 31 assentamentos. Foram obtidos através de desapropriações (18), confisco (4), doações (5), compra e venda (2) e arrecadação (1). Apenas quatro realizam manejo florestal: Bergarde, Sítio Novo, Batalha e Aquários, estes localizados no município de Santa Maria da Boa Vista. A área total utilizada pelos assentados é de, aproximadamente, 51.245 ha. Segundo informações do INCRA, as reservas legais dos assentamentos ainda não foram averbadas e o Cadastro Técnico Rural será implantado nos próximos meses, podendo atingir cerca de 10.249 ha, no entorno da unidade. Aproximadamente, 2.138 famílias vivem nestes assentamentos. O número mínimo de famílias registradas foi de 8 (oito) nos Projetos Havai e Jatubarana e o número máximo foi de 600 (seiscentos), no assentamento Catalunha, segundo dados de georeferenciamento disponibilizados pelo INCRA (Tabela 3).

O fato das reservas legais dos assentamentos do INCRA não estarem averbadas abre a possibilidade de negociação para destinação dos trechos dos assentamentos que estão dentro do perímetro proposto para a unidade de conservação se constituir as áreas que serão designadas como reserva legal de cada assentamento.

(30)

30

Tabela 3. Lista dos Projetos de Assentamentos criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, localizados na área do entorno do Refúgio.

Nome do projeto famílias Nº de Data de criação obtenção Tipo de Área (ha) legal (ha)* Reserva PA Alto da Areia 118 06/12/2002 Desapropriação 1468,0045 293,6009 PA Aquarius** 148 27/12/1999 Desapropriação 2807,1771 561,4354 PA Asa Branca** 20 01/03/2007 Desapropriação 1320,625 264,125 PA Baixa do

Juazeiro** 25 21/11/2003 Confisco 1438,9072 287,7814

PA Batalha** 20 04/09/2007 Desapropriação 1320,6893 264,1379 PA Begard** 20 12/11/2006 Desapropriação 1320,5628 264,1126 PA Boqueirão 105 30/06/1997 Desapropriação 1646,6346 329,3269 PA Brilhante 100 25/05/2000 Desapropriação 1743,2096 348,6419 PA Caiçara** 20 04/09/2007 Desapropriação 1320,7602 264,152 PA Catalunha** 595 16/12/1998 Confisco 6671,2121 1334,242

PA Estrela d’Alva** 20 12/11/2006 Desapropriação 1321,2394 264,2479 PA Havai** 8 29/09/2008 Desapropriação 405,0748 81,01496

PA Jatobá 26 29/10/1997 Confisco 681,0157 136,2031

PA Jatubarana** 8 15/12/2000 Confisco 590,1007 118,0201 PA Jose Ivaldo** 25 13/07/2005 Doação 354,2544 70,85088 PA Jose Ivaldo I** 50 23/08/2005 Doação 781,4659 156,2932 PA Lagoa da

Baraúna* 12 04/03/2006 Doação 608,1378 121,6276

PA Lagoa das

Caraibas 20 21/11/2003 Doação 1177,7743 235,5549

PA Maria Bonita 10 05/11/2007 Desapropriação 463,4378 92,68756 PA Morro do Mel** 22 04/03/2006 Desapropriação 914,5831 182,9166 PA Nossa Senhora da

Conceição 140 13/08/1999 Desapropriação 4116,102 823,2204 PA Nossa Senhora do

Carmo** 20 2007/10/08 Compra e Venda 1321,0063 264,2013 PA Panelas** 50 12/06/2005 Desapropriação 2406,4329 481,2866 PA Pocinhos** 10 31/07/2006 Desapropriação 1182,5695 236,5139 PA Safra 218 12/02/1996 Desapropriação 3396,7614 679,3523 PA São Joaquim** 20 19/10/2007 Compra e Venda 1321,2046 264,2409 PA Sitio Novo** 20 01/03/2007 Desapropriação 1320,6769 264,1354 PA Três Conquistas 25 31/08/2006 Doação 1057,8605 211,5721 PA Vera Lúcia** 0 09/01/2008 Desapropriação 957,2728 191,4546 PA Vitória 263 27/05/1997 Arrecadação 4494,4786 898,8957 PA Santa Marta 30 24/10/2001 Desapropriação 1316,75 263,3498

Total 2138 51.245,9807 10.249,2

(31)

31 O Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (ITERPE) tem três assentamentos criados no município de Lagoa Grande, mas apenas um se encontra no entorno da área proposta para criação da UC, denominado de Fazenda Panela e Pensamento, com 15 famílias assentadas em uma área de 170,32 ha.

Figura 4. Situação dos assentamentos rurais do INCRA no entorno da área proposta para criação da UC. Fonte INCRA e SEMAS.

Legenda:

Perímetro da UC proposta

(32)

32

1.3.2.2

Populações Tradicionais

A região do Sertão de São Francisco de Pernambuco possui 18 comunidades quilombolas reconhecidas e/ou em processo de reconhecimento, totalizando 1.733 famílias, distribuídas conforme (Tabela 4) 7

Tabela 4. Comunidades Quilombolas existentes na RD do São Francisco.

Município Comunidade Processo de

Titulação Nº de famílias

Afrânio Araçá Não 15

Cabrobó

Cruz do Riacho Sim 28

Fazenda Bela Vista Sim 24

Fazenda Manguinha Não 22

Fazenda Santana Não 40

Jatobá II Sim 130

Lagoa Grande Lambedor Não 20

Orocó

Fazenda Caatinguinha Não 75

Remanso Não 123

Mata São José Não 35

Umburana Não 100

Vitorino Não 95

Petrolina Afrânio Não 35

Fandango Não 15

Santa Maria da Boa Vista

Cupira Sim 250

Serrote Sim 405

Inhanhum Sim 257

Tumaquiús Não 64

Total de famílias 1.733 Fonte: Relatoria do Direito Humano à Terra, Território e Alimentação/Relatório da missão à Petrolina e região do rio São Francisco (PE)

Apesar da quantidade de comunidades quilombolas existentes, apenas 7 (sete), totalizando 1046 famílias, estão nos municípios de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, (Tabela 4), nenhuma delas inserida no interior da área proposta para a UC. Segundo o Relatório da missão à Petrolina e região do rio São Francisco (PE), o principal problema dessas comunidades está relacionado à falta de acesso aos títulos territoriais, fato agravado com a implantação de mega projetos na região como é o caso das barragens de Riacho Seco e Pedra Branca e da transposição do Rio São Francisco.

7 Fonte: Relatoria do Direito Humano à Terra, Território e Alimentação / Relatório da Missão à Petrolina e Região do

Rio São Francisco (PE). Disponível in:

(33)

33 Com relação às comunidades indígenas, na área do submédio São Francisco predominaram índios da nação Cariris, que se dividiam em vários povos. Na região estudada permaneceram os Truká, que constituíram quatro aldeamentos em Cabrobó e um sem número deles espalhados por toda RD. O aldeamento da Ilha de Assunção, em Cabrobó, foi o principal deles e é a grande referência histórica para a compreensão da atual situação. Ao se "misturarem" com os brancos e negros, a pureza da raça se extinguiu. Como testemunho, os descendentes permanecem na região, até os dias atuais.

Na Ilha da Assunção, permaneceram algumas famílias que se apresentavam mais como brancas e mestiças do que como índios. Esta situação perdurou até a década de 1970, quando o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) fez um histórico trabalho de recuperação da identidade com todos os povos indígenas e seus descendentes. A língua, a dança, o artesanato e todos os principais elementos de sua cultura foram trabalhados para resgatar o orgulho de pertencer a uma nação indígena. Ao valor cultural era preciso adicionar a retomada da terra, fator fundamental para a fixação dos valores étnicos e culturais. Com isso, alguns remanescentes indígenas optaram por retomar a área que melhor representava o seu passado: a própria Ilha da Assunção. Essa situação aconteceu em três etapas, sendo a última em 1999. Os últimos moradores não indígenas só desocuparam a área em julho de 2001.

Em todos os casos, a ação ocorreu de forma pacífica, salvo situações individuais em que algum ocupante resistiu à saída. A última etapa já ocorreu por pressão. Como o processo judicial estava se desenvolvendo de forma lenta, os indígenas decidiram pressionar a saída dos brancos. Todo esse trabalho de recuperação de identidade étnico-cultural-fundiário recolocou os Truká na condição de um grupo especificamente indígena. Formaram associações, voltaram a dançar o Toré, a fazer artesanato, a eleger o seu cacique e, mais do que isso, a serem respeitados como índios.

1.3.2.3

Atores Sociais

Os atores sociais são membros de grupos que integram o sistema político local e que tem participação direta na dinâmica das políticas públicas implementadas na região, desde a concepção até a execução. Existem os atores governamentais, que atuam nas três esferas do poder público (municipal, estadual e federal) que exercem funções públicas e mobilizam os recursos associados a estas funções e os provenientes das organizações da sociedade civil organizada, compostos por sindicatos dos trabalhadores, empresários, grupos de pressão, centros de pesquisa, imprensa, entre outras entidades. Estes atores que atuam no controle social e buscam o fortalecimento constante da governança, por meio da participação nas decisões e controle das políticas destinadas à região.

(34)

34 Este Conselho deverá atuar visando à conservação do patrimônio ambiental da unidade, participando da elaboração do Plano de Manejo, onde serão definidos os programas e atividades prioritários para a proteção da área além das normas de utilização que irão reger o seu funcionamento e sua relação com o entorno. Além disso, a sua atuação é fundamental para garantir que os objetivos de manejo estabelecidos sejam alcançados.

Foram identificados alguns representantes do poder público e da sociedade civil organizada que atuam na região, e que de forma direta ou indiretamente podem contribuir na criação, instituição e gestão da UC, os quais listamos a seguir:

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS EXISTENTES NA REGIÃO

 Associações Comunitárias e Produtivas em Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista

 Associações Comunitárias, de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista

 Associações de Assentados e de Produtores Rurais de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista

 Associações de Artesãos de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista

 Associação dos Produtores de Plantas Ornamentais do Vale do São Francisco ASSOCIAÇÕES DE TRABALHADORES

 Polo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio do São Francisco

 Sindicato dos Trabalhadores na Fruticultura e Agricultura Irrigada do Município de Lagoa Grande

 Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Pernambuco (FETAPE) - Polo Sertão do São Francisco

 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolina

 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria da Boa Vista ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL DE APOIO/ONGS

 Asa Branca

 Associação Agropecuária do Vale do São Francisco/AQUAVALE Aprisco do Vale

 Cooperativa dos Profissionais em Atividades Gerais (COOPAGEL)

 Ecovale

 Associação de Agentes Ambientais de Petrolina MOVIMENTOS SOCIAIS

 Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)

 Movimento Nacional dos Catadores

 Movimento dos Jovens Ambientalistas

OSCIP’S

 Instituto Velho Chico (IVC)

(35)

35 COLÔNIA E ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES

 Colônia de Pescadores de Santa Maria da Boa Vista - Z-19

 Colônia de Pescadores Aquicultores Z-39 de Lagoa Grande sertão Pernambucano

 Colônia de Pescadores de Açude do Saco - povoado de Vermelhos-Lagoa Grande (entorno)

COMUNIDADES QUILOMBOLAS

 Lambedor (Lagoa Grande)

 Cupira (Santa Maria da Boa Vista)

 Inhanhum (Santa Maria da Boa Vista)

 Serrote (Santa Maria da Boa Vista)

 Tumaquiús (Santa Maria da Boa Vista) CONSELHOS MUNICIPAIS

 Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Lagoa Grande

 Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural - Santa Maria da Boa Vista

 Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural de Petrolina

 Conselho de Educação Lagoa Grande

 Conselho de Educação – Santa Maria da Boa Vista

 Conselho de Educação - Petrolina

 Conselho da Saúde – Lagoa Grande

 Conselho da Saúde – Santa Maria da Boa Vista

 Conselho de Saúde - Petrolina FÓRUNS

 Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) Petrolina-Juazeiro/Programa Regiões Integradas de Desenvolvimento 8

 Articulação do Semi-Árido (ASA)

 Fórum Territorial do Sertão do São Francisco INSTITUIÇÕES FEDERAIS,ESTADUAIS OU MISTAS

 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)

 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF)

 Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA)

 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Semiárido)

8A Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina/PE e Juazeiro/BA foi criada pela Lei

Imagem

Tabela 1. Unidades de conservação estaduais no bioma caatinga .
Figura 1. Localização da área proposta para a criação da UC na RD do Sertão de São Francisco
Figura  2.  Localização  da  UC  na  Bacia  do  rio  São  Francisco.  Fonte:
Figura  3.  Bacias  Hidrográficas  abrangidas  pela  unidade  de  conservação.  Fonte:  Atlas  de  Bacias Hidrográficas de Pernambuco
+7

Referências

Documentos relacionados

Sendo assim, objetivou-se neste estudo, avaliar o efeito de doses e épocas de aplicação de fertilizante natural rico em silício, na semeadura e em cobertura, sobre

Já enquanto objeto de investigação buscou-se destacar a importância da construção dialética de discursos (linguagem verbal) e imagens (em livros, vídeos e modelos), como

Cícero Pergentine de Barros, a fim de reformar a decisão recorrida exclusivamente para que, em vez de 3.575 kWh, a CPFL Piratininga seja autorizada a cobrar do consumidor

O tema acerca das mulheres encarceradas, objeto de estudo deste trabalho, apresenta diversos problemas e questões delicadas do cárcere feminino a serem abordados,

Acredito, dessa forma, contribuir para uma compreensão mais ampla da variação da concordância verbal no português brasileiro, visto que, embora seja um dos fenômenos

Os ativos não correntes (e o conjunto de ativos e passivos a alienar com estes relacionados) classificados como detidos para venda são mensurados ao menor do seu

Verificou-se a presença de exemplares da forma Almagro 51c de pequena dimensão, mas sobretudo de outros usualmente classificados como Almagro 51 a / b de fabrico

Como o estado do Pará através da Secretaria do Estado de Assistência Social, de Trabalho, Emprego e Renda (SEASTER) já possuía o Domingos Zahlut (abrigo) que é