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SOCIEDADE DE ANASTÁCIO-MS: UMA REPRESENTAÇÃO MULTICULTURAL

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Academic year: 2019

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SOCIEDADE DE ANASTÁCIO-MS: UMA REPRESENTAÇÃO MULTICULTURAL

Fernanda Kiyome Fatori TREVIZAN Universidade Estadual de Ponta Grossa, Mestranda em Geografia, Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4.748, CIPP, Uvaranas, 84030-900, Ponta Grossa-PR. nipponika@gmail.com

Leonel Brizolla MONASTIRSKY Universidade Estadual de Ponta Grossa, Doutor em Geografia, Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4.748, CIPP, Uvaranas, 84030-900, Ponta Grossa-PR. leonel@uepg.br Joseli Maria SILVA Universidade Estadual de Ponta Grossa, Pós-doutora em Geografia e Gênero, Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4.748, CIPP, Uvaranas, 84030-900, Ponta Grossa-PR. joseli.silva@gmail.com

Resumo: As relações culturais se apresentam nas sociedades a cada época mais expressivas, pois através do estudo delas, podem ser compreendidas grande parte das demais relações sociais e suas representações nas localidades. No caso dos municípios brasileiros, cuja sua formação populacional é marcada pela miscigenação de povos e suas culturas, o estudo das mesmas se faz relevante para a compreensão das identidades culturais locais e de que forma estas influenciam nos processos que ocorrem nas localidades.

Palavras chaves: Cultura, identidade cultural e representações.

Anastácio-MS’s society: the multicultural representation

Abstract: The cultural relations are presented in the company every season more

meaningful, because by studying them, can be understood most of the other social relations and their representations in the localities. In the case of municipalities, with their training population is marked by the intermingling of peoples and cultures, the study of these become relevant for the understanding of local cultural identities and how these influence the processes occurring in the localities.

Key-words: Culture, cultural identity and representations.

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As sociedades atuais são marcadas pela globalização, um movimento que as tende a torná-las homogêneas, no entanto, contrário a essa tendência, surge o movimento que busca valorizar e preservar as diferentes características e aspectos presentes nas sociedades através da cultura e identidade cultural encontradas nas localidade, resgatando suas origens, valores, tradições; que são considerados aspectos passíveis de representações sociais, tal como nas práticas sociais e comunicações, que são tidos como altamente mutáveis e flexíveis, onde nota-se o movimento constante das representações e também a presença destas nas diferentes instâncias de interação social. A cultura se apresenta nas sociedades atuais de maneira significativa, pois através dela são transmitidos e difundidos os conhecimentos, crenças, costumes e tradições de uma comunidade, pois está intrínseca aos seres humanos que vivem em sociedade; no entanto, as suas manifestações na coletividade não têm recebido a devida atenção que é necessária, visto que a cultura muitas vezes é encarada apenas como um produto de utilização e consumo econômico, o que pode ser observado na formação das identidades culturais.

A identidade cultural por sua vez, está diretamente relacionada pela cultura, e é influenciada pela banalização dos processos de valorização e preservação, uma vez que esses processos não se apresentem como significantes para a memória coletiva, atendendo somente aos interesses de uma classe menor, o que muitas vezes, é tido como um processo arbitrário, onde se sobressaem os interesses daqueles que detém o “poder de decisão”.

CULTURA E IDENTIDADE: RELAÇÕES ESTABELECIDAS

A cultura se apresenta como uma das grandes manifestações das características encontradas na constituição das sociedades, uma vez que ela é tida como uma das responsáveis pelas inúmeras relações que se estabelecem nessas sociedades, onde a cultura

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o próprio meio através do qual a mudança é experienciada, contestada e construída (COSGROVE e JACKSON, 1987, p. 97 apud MITCHELL, 1999, p. 31).

Pode ser compreendida como um fator de diferenciação das populações onde representa em si uma das esferas da vida humana, no entanto, não é considerada como uma condicionante do comportamento, pois é socialmente construída (MITCHELL, 1999 e CUCHE, 2002). No entanto, existem aqueles que afirmam que a cultura não existe, sendo apenas uma idéia desenvolvida ao longo de períodos históricos e foi explicada a partir das diferenças materiais, da ordem social e das relações de poder (MITCHELL, 1999), sendo que tal proposição surge na tentativa dos geógrafos culturais de definirem seus objetos de estudo.

Duncan (1990 apud MITCHELL, 1999, p.36) definiu a cultura como um “conjunto de sistemas de significações”, idéia apresentada também por Sodré (1996, p. 03), que afirma que a cultura é um “conjunto de valores, materiais e espirituais criados pela humanidade, no curso de sua história”.

A cultura está intimamente relacionada com a identidade, visto que ela “[...] molda a identidade ao dar sentido a experiência e tornar possível optar, entre várias identidades possíveis por um modo especifico de subjetividade”. Também é encarada como um sistema de significações que são produzidos pelas representações que, por sua vez, a ênfase destas “[...] e o papel-chave da cultura na produção dos significados permeia todas as relações sociais; levam, assim, a uma preocupação com a identificação” com o que vem a ser a identidade cultural (WOODWARD, 2000 p. 18-19).

Os sujeitos que compõem as sociedades são importantes origens de influências para a construção das identidades culturais e, segundo Mendes (2002), são definidos de dupla maneira

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Dessa forma, podemos compreender que a construção dos sujeitos está diretamente relacionada com o contexto e da sociedade em que este está inserido. Partindo dessa premissa, Hall (1998) defende que a identidade deve ser entendida a partir de três concepções, partindo do sujeito na sociedade: a) Sujeito iluminista: a identidade era vista como muito individualista, onde a essência “[...] do eu era a identidade de uma pessoa” (p.11), onde sujeito no movimento Iluminista era voltado para o ele, descrito e direcionado para o sexo masculino; b) Sujeito sociológico: a formação da identidade se dá através da interação entre o ser humano e a sociedade; nesta concepção a identidade passa a preencher “[...] o espaço entre o ‘interior’ e o ‘exterior’ entre o mundo pessoal e o mundo público” (p. 11); c) Sujeito pós-moderno: nesta abordagem, não existe uma identidade fixa e essencial, sendo que esta passa a ser considerada uma “celebração móvel”, que é formada e transformada a todo tempo, e também definida historicamente e não mais biologicamente.

Ainda segundo o autor, para podermos justificar a análise da identidade, é necessário entender que ao fazê-lo, inserimo-nos no universo da cultura bem como a relação que se estabelece sobre a representação da identidade e da diferença. Das relações entre a cultura e a identidade de uma sociedade surge o que é conhecido como a identidade cultural de uma sociedade que, segundo Berry (2004), faz referência ao conjunto de atitudes e crenças que as pessoas têm a seu respeito em relação ao grupo social em que está inserido; em geral, essas questões da identidade cultural surgem quando determinado grupo social entra em contato com uma cultura exterior a sua.

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Oliveira (2006, S.I.) caracteriza a identidade cultural como “[...] um sistema de representações das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns [...]”, sendo que a autora também a considera como sendo um “[...] processo dinâmico, de construção continuada que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço”.

Considerando que a identidade cultural está diretamente relacionada com a sociedade que representa e também com a formação desta, nota-se que um fator de grande importância e influência para a identidade, são as culturas que estão inseridas na localidade, bem como as culturas dos autóctones, dos imigrantes e migrantes. Os municípios brasileiros possuem suas populações diversificadas, devido aos fluxos de deslocamento, migrantes e imigrantes, que recebeu durante sua formação e, consequentemente, contribuíram não somente com a formação populacional, mas também com a formação de sua cultura e identidade.

As manifestações dessas diversas culturas que formam a identidade cultural do município podem ser percebidas, em sua maioria, através das festas que envolvem a comunidade. Essas culturas também podem ser percebidas nos estilos de vida e as características de alguns indivíduos da sociedade.

É através do estudo cientifico das identidades de uma localidade que se pode entender suas manifestações e, até mesmo, as dinâmicas que envolvem a comunidade; além de poder estabelecer um parâmetro entre a(s) sua(s) cultura(s) e as culturas exteriores, a fim de compreender a sistemática da formação de sua identidade.

ANASTÁCIO-MS: UMA SOCIEDADE MULTICULTURAL

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O município de Anastácio está localizado na região centro-oeste do Estado do Mato Grosso do Sul, considerado um dos municípios que compõem o portal do Pantanal Sul no Estado, onde a figura do homem pantaneiro se faz presente em razão das características locais, também contando com manifestações culturais características do mesmo, mas que teve desde o processo inicial de sua formação as influências de diferentes povos e grupos oriundos do Brasil e do mundo.

FIGURA 01: Localização do município de Anastácio-MS

ORG.: GOMES; TREVIZAN, 2010.

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diversas influências, que contribuem para a formação de sua identidade cultural, sendo que entre os povos migrantes os oriundos da região Nordeste são os que mais de destacam em número e influência no município.

Anastácio tem em sua população uma variedade de descendências; todavia, os descendentes de pernambucanos mostram-se expressivamente no município, conforme dados obtidos em pesquisa de campo realizada em 2009, que na cidade podem ser encontrados “muitos pernambucanos” (citação da entrevista). Grande parte da população de Anastácio tem conhecimento da presença de migrantes nordestinos no município, e demonstram que ocorreu a aceitação dos mesmos na cidade e, conseqüentemente, na sociedade anastaciana, pois consideram que os migrantes nordestinos são “pessoas boas” e “pessoas trabalhadoras”.

A presença de nordestinos no município pode ser observada na cidade através de eventos que manifestam a identidade local e do povo nordestino residente na localidade, sendo que sua maior expressão se concentra na Festa da Farinha de Anastácio (figura 02). A população acredita que o evento representa características nordestinas, onde as que se destacam das demais são as relacionadas à gastronomia, fato que pode ser explicado pelo cunho gastronômico do evento.

FIGURA 02: IV Festa da Farinha de Anastácio-MS

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Pode ser observado que quanto às representações nordestinas na Festa da Farinha, algumas ultrapassam o cunho gastronômico do evento (que é a maior motivação do mesmo), mas apresentando também questões culturais (como a representação da própria cultura nordestina e seus aspectos peculiares – músicas, tradições, apresentações vestimentas, a Literatura de Cordel, entre outras), sendo que estas muitas vezes são apontadas pela população local.

Todavia, são encontradas outras representações culturais/sociais na cidade, tal como as manifestações pantaneiras e religiosas, típicas na localidade. As representações pantaneiras são caracterizadas pelo “aspecto de fazenda” que são vistos na cidade, através dos trajes (e acessórios – chapéus, cintos, fivelas, botas) que alguns autóctones utilizam no dia-a-dia; e por meio dos rodeios que são realizados na cidade (dois grandes rodeios por ano). Estas manifestações também são vistas em conjunto com as manifestações religiosas, tal como a Missa do Peão Boiadeiro (figura 03), que é realizada no mês de Maio. As características religiosas também se destacam nas festividades, como a Festa de Santo Antônio (semelhante a uma festa junina) que é realizada ou no mês de Junho ou Julho. Há também as festas tradicionais, como o carnaval público da cidade (figura 03).

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FONTE: TREVIZAN, 2010.

FIGURA 04: Carnaval da Alegria de Anastácio-MS

FONTE: Jornal O Pantaneiro, 2010.

Anastácio conta com outras diversas representações culturais/sociais, no entanto, a presença das representações nordestinas no município se destacam das demais, não apenas por mostrar a grande quantidade dos migrantes nordestinos, mas também por se tratar da mais forte e maior manifestação entre as muitas culturas presentes na sociedade anastaciana.

A CULTURA NORDESTINA E A IDENTIDADE CULTURAL DE ANASTÁCIO: UMA RELAÇÃO DE PERTENCIMENTO (CONSIDERAÇÕES FINAIS)

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vezes, pode ser considerado arbitrário, visto que ocorreriam para corresponder as necessidades e vontades de apenas um grupo ou parcela hegemônica das populações, o que pode não ser a verdadeira identidade da localidade.

Essa premissa pode ser observada com relação à representatividade da cidade através da Festa da Farinha de Anastácio, uma vez que existem especulações de que a festa só ocorre em virtude da descendência do administrador municipal, que tem suas raízes no povo pernambucano que migrou para a região. Todavia, pode ser observado na cidade, que muitos nordestinos e pessoas que não são descendentes acreditam que as influências culturais nordestinas estão presentes na localidade sim, e que elas são representações da localidade, tal movimento pode ser caracterizado pela criação do Centro de Tradições Nordestinas de Anastácio, onde os sócios fundadores não são apenas os descendentes e migrantes, mas também pessoas que não tem ligação direta com a cultura.

No caso de sociedades que possuem sua identidade cultural formada por diferentes influências exógenas e endógenas, salienta-se que o estudo de sua identidade deve estar diretamente relacionado com o seu processo de formação, pois neste período é que serão encontradas as primeiras incidências dessas inserções de diferentes culturas na sociedade; e, não somente a identidade cultural, mas também as representações sociais que são vistas na localidade, pois as principais manifestações culturais são expressões das culturas presentes, onde nota-se o destaque das manifestações nordestinas (em especial, pernambucanas), considerando que estes estão presentes na cidade em maior número e é um dos principais grupos de migrantes que exercem influências (culturais e sociais) sobre a cidade.

A identificação da representação social/cultural nordestina no município de Anastácio expressa, principalmente, que os migrantes que se instalaram na cidade fazem parte da sociedade anastaciana, uma vez que os mesmos e seus descendentes que foram entrevistados se compreendem que sua cultura é parte integrante e permanente na composição da identidade cultural da localidade. Dessa forma, os nordestinos que se estabeleceram em Anastácio, vêem na Festa da Farinha de Anastácio e nas demais manifestações cotidianas de seu povo uma forma de pertencerem à sociedade de Anastácio, definitivamente.

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BERRY, John W. Migração, Aculturação e Adaptação. IN: DeBIAGGI, Sylvia Dantas e PAIVA, Geraldo José de (orgs). Psicologia, E/imigração e Cultura. – São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

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CUCHE, Denys. A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. – Bauru-SP: EDUSC, 2002.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. – Rio de Janeiro: DP&A, 1998.

MENDES, José Manuel Oliveira. O desafio das identidades. IN: SANTOS, Boaventura de Sousa. A Globalização e as Ciências Sociais. – São Paulo: Cortês, 2002 – p.p. 503-541.

MITCHELL, Don. Não Existe Aquilo que Chamamos de Cultura: Para Uma

Reconceitualização da Idéia de Cultura em Geografia. IN: CORRÊA, Roberto Lobato [et al]. Espaço e Cultura, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, RJ, nº08, Ago/Dez, 1999 – p.p. 31-51.

OLIVEIRA, Lúcia Maciel Barbosa de. Identidade Cultural. Disponível em:

http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Identidade+cultural (acesso em: 14 de Outubro de 2008).

SCHLLE, Aldyr Garcia. Testemunhos de identidade. IN: SCHÜLLER, Fernando Luis e BORDINI, Maria da Glória. Cultura e Identidade Regional. – Porto Alegre-RS: EDIPUCRS, 2004.

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SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese da História da Cultura Brasileira. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

Imagem

FIGURA 01: Localização do município de Anastácio-MS  ORG.: GOMES; TREVIZAN, 2010.
FIGURA 02: IV Festa da Farinha de Anastácio-MS  FONTE: Jornal O Pantaneiro, 2009.
FIGURA 03: Procissão da Missa do Peão de Boiadeiro
FIGURA 04: Carnaval da Alegria de Anastácio-MS  FONTE: Jornal O Pantaneiro, 2010.

Referências

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