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REINTERPRETAÇÃO DA DESTRUIÇÃO CRIADORA DE SCHUMPETER PELA ÓTICA DA COMPLEXIDADE, ESTRUTURAS DISSIPATIVAS E RIZOMA

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REINTERPRETAÇÃO DA DESTRUIÇÃO CRIADORA DE SCHUMPETER PELA ÓTICA DA COMPLEXIDADE, ESTRUTURAS DISSIPATIVAS E RIZOMA

Daiane Mülling Neutzling

Graduada em Ciências Econômicas - UCPEL Mestranda em Agronegócios - CEPAN/UFRGS

daianeneutzling@yahoo.com.br

Eugenio Avila Pedrozo Doutor em Administração - Institut National Polytechnique de Lorraine - FRA Professor do Programa de Pós graduação em Agronegócios – CEPAN/UFRGS Diretor do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios – CEPAN/UFRGS

eapedrozo@ea.ufrgs.br

RESUMO

Schumpeter deu início a uma nova abordagem para as crises econômicas do sistema capitalista, baseando-se em inovações, e no conceito de destruição criadora. Para ele, as crises apesar de instaurarem uma desordem inicial, eram resolvidas pelo próprio sistema, que se organizavam e evoluíam para um novo equilíbrio. Essa interpretação pode ser melhor apoiada, com a organização de sistemas em desequilíbrio através das estruturas dissipativas de Prigogine, pela proposição seqüencial de ordem e desordem, da teoria da complexidade de Morin e pelos múltiplos caminhos existentes para a organização de um sistema por intermédio dos rizomas de Deleuze e Guattari. Desta forma, busca-se articular os estudos de Schumpeter com as teorias expostas através uma análise meso-econômica, e discutir a introdução de abordagens evolutivas nos estudos econômicos.

Palavras-chave: crise, destruição criadora, organização, evolução.

ABSTRACT

Schumpeter proposed a new approach for the economical crisis occurred in the capitalist system based on innovations, by the concept of creative destruction. For him, in spite of setting an initial disorder up, the crises were resolved by the system itself, which they again were getting organized and evolving into a new balance. This interpretation can be better supported, with the organization of systems in imbalance through the dissipative structures of Prigogine, by the sequential proposition of order and disorder that Morin’s complexity theory explains and by the multiple existent ways for a system organization through the rhizomes of Deleuze & Guattari. In this way, this article attempt to articulate the studies of

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Schumpeter with the exposed theories through a meso-economical analysis, and to discuss the introduction of evolutive approaches in the economical studies.

Key-words: crisis, creative destruction, organization, evolution.

1 – INTRODUÇÃO

A economia tornou-se uma ciência no final do Século XVIII e início do Século XIX sendo fortemente impulsionada pela Revolução Industrial, a qual trouxe ao mundo uma nova era, a era da modernização, do trabalho assalariado e da livre concorrência, preceitos que se tornaram os fundamentos da economia capitalista.

Os economistas clássicos surgidos nesta época pregavam os preceitos filosóficos do liberalismo e do individualismo valorizando o trabalho como verdadeira fonte de riqueza e a acumulação de capital. Para eles a economia deveria estar sempre em busca das condições de equilíbrio geral onde a oferta de bens e serviços, se igualasse a sua demanda, este equilíbrio seria garantido pela “mão invisível” do mercado, que se auto-regulava conforme suas necessidades.

Os estudos desta corrente, denominada Escola Clássica, baseavam-se, além da teoria do valor-trabalho, no uso do método dedutivo, no materialismo e na simplificação e generalização dos fenômenos econômicos.

No entanto, os preceitos de equilíbrio da economia clássica, começaram a ter falhas na sua estrutura, os lados da oferta e demanda não se igualavam, significando que haveria sempre um lado que estaria em vantagem sobre o outro. A ocorrência de fatos extremos foram, os principais responsáveis das chamadas crises econômicas.

A principal característica destas crises era justamente a dificuldade de antever com precisão as causas que poderiam deflagrá-la. Se no passado estas crises se referiam à guerras, revoluções ou catástrofes naturais, na economia capitalista moderna era diferente. Quando tudo parecia estar em perfeita ordem, ocorriam fatos inexplicáveis que deturpavam toda a estabilidade construída, sem que se pudesse explicá-las por meio de eventos específicos.

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Um dos primeiros economistas que procurou explicar o motivo destas crises foi o austríaco Joseph Schumpeter, por meio da abordagem sobre a existência de ciclos econômicos.

As inovações tecnológicas foram, por este economista, tratadas como fundamentais na superação das crises e que estas “destruições criadoras”, como ele mesmo chamou, tinham fundamental importância no desenvolvimento do sistema econômico.

Schumpeter (1982) afirmava que os processos inovativos surgiam devido às crises, pelo fato de ser criada a necessidade de se introduzir novas combinações de fatores produtivos, para alavancar o crescimento econômico. Os responsáveis por estas inovações seriam os empresários empreendedores que tornavam viáveis as transformações do meio produtivo. No entanto, estas inovações geravam uma desordem que, inicialmente instaurada, obrigava os outros empresários a se adequarem conforme estes novos parâmetros, ocorrendo assim uma organização que aos poucos se transformava em ordem novamente.

Neste sentido, a partir da rejeição de Schumpeter (1982) pelos fluxos econômicos e a introdução de uma nova maneira de pensar o desenvolvimento econômico, como um processo de mudanças contínuas, busca-se reinterpretar as idéias do autor utilizando-se abordagens contemporâneas, de diferentes vertentes disciplinares (sociologia, física e psicologia/psiquiatria), a partir da teoria da complexidade de Morin, a teoria do Caos de Prigogine e dos rizomas de Deleuze e Guattari.. Estas teorias contemporâneas que usam uma visão sistêmica dos fenômenos, poderiam propiciar uma solução mais adequada ao ambiente contextual atual de incerteza e mudança contínuas, e de crises e/ou desequilíbrios econômicos e societais sucessivos, de menor ou maior amplitude.

Assim, no presente artigo, o objetivo é o de fazer uma nova interpretação da “destruição criadora” de Schumpeter, analisando-se o sistema econômico como um sistema complexo que sofre constantes transformações, sujeito a instabilidades e desequilíbrios, devido a sua interligação com vários outros sistemas (sociais, políticos, biológicos, ecológicos, institucionais).

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Além dessa introdução, o presente artigo está estruturado da seguinte forma: a seção 2 apresenta as considerações do economista Shumpeter sobre as crises econômicas e sua interpretação a partir da destruição criadora, a seção 3 apresenta a teoria da complexidade e os seus princípios, a seção 4 faz referência à teoria do caos e, posteriormente, a seção 5 introduz as discussões de rizomas aplicados às ciências humanas. Por fim, a seção 6 realiza uma análise meso-econômica sobre os estudos de Schumpeter associados às teorias expostas com o objetivo de introduzir interpretações provindas de abordagens evolutivas nos estudos econômicos.

2 – O CICLO ECONÔMICO E A DESTRUIÇÃO CRIADORA DE SCHUMPETER

Uma interpretação da crise econômica, basicamente de viés tecnológico, surgiu em 1911, exposta pelo economista austríaco-americano Joseph Alois Schumpeter.

Contrapondo-se à crença clássica do fluxo circular na economia, Schumpeter (1982) buscava compreender o processo de desenvolvimento econômico afirmando que este se dava a partir de ciclos originados das mudanças endógenas e descontínuas na produção de bens e serviços.

As crises econômicas surgiam com a exaustão dos processos produtivos fazendo que ocorressem mudanças, estas por sua vez, causavam transtornos iniciais ao passo que acabavam transformando todo o processo econômico e eram impulsionadas pelo progresso técnico através das inovações tecnológicas. Neste aspecto, Schumpeter (1982) possuía a visão clássica de que as mudanças surgiriam sempre na vida industrial e comercial, ou seja, no lado da oferta.

O fenômeno que caracteriza o desenvolvimento são as novas combinações, ou inovações, que surgem do setor produtivo, elas dividem-se em cinco grupos: i) Introdução de um novo bem; ii) Introdução de um novo método produtivo; iii) Abertura de um novo mercado; iv) Conquista de uma nova fonte de matéria-prima ou v) Estabelecimento de uma nova organização.

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Para Schumpeter (1982) a função principal dos capitalistas era oferecer condições às indústrias de iniciarem seu processo de inovação ao engendrar na economia o seu capital na forma de crédito, no entanto, os riscos destas inovações eram também assumidos por eles. Os empresários empreendedores, ou os administradores destas indústrias, eram os grandes responsáveis pela viabilidade, bem como, disseminação destas inovações. Eram eles quem criavam as decisões estratégias de negócios. O empresário era o líder, que tinha coragem e talento para ousar.

Tais inovações não surgiam de dentro dos processos já existentes, mas começavam a ser criadas e a produzir ao lado destas, ao passo que, com a aceitação, a preferência e o consumo da demanda elas se sobressaiam e ultrapassavam as já existentes.

As inovações depois de aceitas pelos consumidores gerariam enormes lucros aos empreendedores, estes lucros poderiam ser chamados de lucros monopolísticos, posto que num primeiro momento o dono da inovação está recebendo sua “gratificação” merecida pelo seu trabalho e por ter assumido todos os riscos existentes.

Os lucros ganhos pelo inovador, suscitariam outros empresários a adquirir também uma parcela destes. Inicia-se assim, o processo concorrencial de imitação por parte das outras indústrias.

A introdução da inovação tecnológica foi chamada por Schumpeter (1982) de “destruição criadora”, pelo fato de, ao passo em que novas combinações levavam à ascensão de novas firmas refletiam também no fechamento de muitas outras que haviam sido superadas pelo novo processo.

A desordem inicial causada pela inovação começa agora a se reorganizar como Schumpeter destacou:

“...o encanto está quebrado. Os novos estabelecimentos começam a surgir continuamente sob o impulso dos lucros sedutores. Ocorre uma reorganização completa da indústria com aumento de produção, lutas concorrenciais, superação dos estabelecimentos obsoletos, possível demissão dos trabalhadores, etc... O resultado final deverá ser um resultado de equilíbrio, na qual, com os novos dados, reine novamente a lei do custo.” (SCHUMPETER, 1982, p. 63).

A expansão econômica iniciava com a introdução de uma inovação do setor produtivo que provocava uma reação em todo o sistema econômico. Num primeiro

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momento, os empreendedores obtinham um monopólio com altos lucros, que eram posteriormente erodidos a partir das imitações das demais empresas.

A economia Schumpeteriana move-se, assim, através de uma trajetória cíclica (fig. 1). O ciclo de crescimento de determinada inovação ocorre em quatro fases: (a) Ascensão ou boom quando o nível do produto está crescendo acima da linha de tendência de longo prazo; (b) recessão, que se inicia após o pico, com declínio no nível de atividades; (c) depressão, com queda do nível de produto abaixo da linha de tendência, até o ponto mínimo; e (d) recuperação: quando ocorre uma reação de volta a linha de tendência, onde a economia pode iniciar uma nova fase ascendente

Figura 1: Os ciclos econômicos na visão de Schumpeter Fonte: Schumpeter, 1982

Segundo Schumpeter (1982), o período de prosperidade é caracterizado pelo aparecimento de ondas de inovação e “enxames” de empresários, ao passo que, passado algum tempo, os lucros produtivos se normalizavam, as inovações anteriores se tornavam obsoletas, os investimentos necessários não eram feitos e logo a economia em si entraria novamente em um momento de recessão e conseqüentemente começaria nova crise. Estas crises fariam com que surgissem novamente, inovações tecnológicas trazendo desenvolvimento e crescimento e contribuindo para a evolução do sistema.

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Portanto, pode-se dizer que essas crises, são desequilíbrios econômicos que afetam as organizações, que buscam soluções através das inovações, restaurar um novo equilíbrio tanto para as organizações como para a economia.

3 – A TEORIA DA COMPLEXIDADE

O pensamento complexo surgiu da necessidade de transpor os paradigmas clássicos vigentes, alicerçados no conhecimento reducionista e determinista, onde os objetos estudados eram retirados do seu contexto sem se considerar as interrelações do seu ambiente e as influências causadas e sofridas.

A ciência clássica baseava-se, também, em uma ordem que deveria existir em todos os momentos da vida, a desordem era vista como algo a ser perseguido porque ela significava a ignorância dos indivíduos. Além disso, os clássicos perseguiam uma razão absoluta nas ciências através de leis e verdades que fossem universais.

A grande preocupação do pensamento complexo é poder analisar os fenômenos na sua individualidade, mas sem que eles sejam retirados do ambiente geral onde estão essas individualidades ou partes estão inseridas, porque até suas particularidades mais importantes são frutos das constantes influências que sofrem e que ao mesmo tempo causam ao ambiente. O pensamento complexo é um pensamento que procura, ao mesmo tempo, distinguir (mas, não separar) e reunir novamente.

Desta forma, a complexidade, numa visão sistêmica, faz com que sejam valorizadas igualmente tanto as partes como o todo, onde o todo é ao mesmo tempo maior do que a soma das partes, podendo ser, também, em determinadas situações de inibições ou restrições, menores do que a soma das partes (MORIN, 2000). O autor preconiza que pode ocorrer este ir e vir incessante entre os acontecimentos dos fenômenos e os seus causadores, porque em sua concepção existe uma retroação cíclica entre a causa e o efeito, que é constante.

Para Morin (2000), a complexidade baseia-se em três princípios que se interrelacionam: O dialógico, o recursivo e o hologramático. O princípio dialógico busca um olhar sob diferentes ângulos, contemplando, simultaneamente, os aspectos

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complementares, concorrentes e antagônicos, reunindo princípios ou noções que deveriam excluir-se uns aos outros, mas são indissociáveis numa mesma realidade. Um exemplo, citado pelo autor, é a ordem/desordem/organização do nascimento do universo, ou seja, a partir de uma agitação calorífica (desordem) ocorreu, em condições de encontros casuais, uma ordem que permitiu a constituição e organização dos átomos, galáxias e estrelas (MORIN, 2000, p. 211).

O principio recursivo trata da autoprodução e auto-organização dos sistemas, onde os produtos e os efeitos são eles próprios produtores e causadores daquilo que os produz. Dessa maneira, os indivíduos humanos produzem a sociedade em e pelas suas interações, ao tempo em que, a sociedade enquanto emergente, produz a humanidade desses indivíduos, trazendo-lhes a linguagem e a cultura (MORIN, 2000, p. 210).

O princípio hologramático coloca em evidência o paradoxo existente nos sistemas onde o sistema geral depende das partes enquanto que as partes necessitam do todo para se organizarem e, essas partes possuem estruturas semelhantes ao todo, refletindo o mesmo. Por exemplo, cada célula é uma parte de um todo – o organismo global –, mas o todo está na parte; a totalidade do patrimônio (MORIN, 2000, p. 210).

Segundo o autor todo o conhecimento é fruto de uma cultura determinada, em um tempo determinado. O pensamento da complexidade não visa excluir os preceitos clássicos, não quer eliminar a certeza pela incerteza, eliminar a separação pela inseparabilidade, mas fazer justamente uma caminhada entre estes extremos e mostrar a importância destas interconexões. A complexidade considera a diversidade, a multiplicidade e as contrariedades das idéias a partir de uma visão dialógica que busca unir aspectos antagônicos, concorrentes sob a ótica da complementaridade, da indissociabilidade buscando avançar na compreensão das realidades complexas.

4 – A TEORIA DO CAOS

Prigogine (2002), trabalha com o conceito da teoria do caos nos sistemas, fazendo com que a noção de lei da natureza incorporasse, também, os conceitos de probabilidade e de irreversibilidade.

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Prigogine (2002) deu ênfase à irreversibilidade do tempo. O paradoxo do tempo deve-se essencialmente a descoberta das estruturas de não-equilíbrio. Segundo o autor, estruturas dissipativas são sistemas dissipadores de matéria e de energia que podem, no curso do tempo, não só instaurar desordem, mas também a organização.

“O ser vivo funciona longe do equilíbrio (...) num domínio onde os processos produtores de entropia, os processos que dissipam energia, desempenham um papel construtivo, são fonte de ordem” (PRIGOGINE, 1996, p.26).

Um exemplo utilizado é, na hidrodinâmica, conhecido como o fenômeno da

instabilidade de Bénard.

“Essa experiência pode comprovar que ao se submeter uma camada líquida a uma diferença de temperatura entre a superfície inferior, que se mantinha quente, e a superfície superior que se conservava à temperatura ambiente. Se a diferença de temperatura fosse pequena (ou seja, nas proximidades do estado de equilíbrio), o calor só se transmite por condução através das colisões que se produzem entre as moléculas; mas acima de um limiar bem definido de diferenças de temperatura parecia incorporar-se uma transmissão de calor por convecção, isto significa que as moléculas participavam de movimentos coletivos correspondentes a vórtices que dividiam a camada líquida em células regulares” (PRIGOGINE, 1996; p.36).

A estrutura criada é diferente da anterior, sendo formada por células regulares hexagonais com propriedades químicas e físicas diferentes das estruturas iniciais. Desta maneira pode-se notar que mesmo em estado de desequilíbrios iniciais, o caos inicial produz uma estabilidade da matéria, esta estabilidade significava uma forma de organização das estruturas para que pudesse ocorrer a transformação e esta transformação por sua vez é irreversível temporalmente.

As estruturas dissipativas ocorrem a partir de bifurcações, onde emergem novas ramificações. Dos pontos de bifurcação surgem diversos caminhos ou soluções, e a escolha entre elas é dada por um processo probabilístico.

Desta forma, Prigogine (1996) relata que a evolução dos sistemas acontece por meio de uma sucessão de estágios descritos pelas leis deterministas, probabilísticas e temporalmente irreversíveis. Os fenômenos irreversíveis não se reduzem a um aumento de “desordem”, mas ao contrário, possuem um importante papel construtivo. A evolução dos sistemas ocorre quando estes se encontram em estágios instáveis ou caóticos.

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5 - RIZOMAS

Deleuze e Guattari (1996) buscam fazer uma contribuição para a criação de uma nova imagem do pensamento, questionando os trabalhos, pressupostos dominantes, na filosofia e nas ciências humanas: a crença em uma tendência natural do pensamento para a verdade, o modelo do reconhecimento e a pretensão de um fundamento.

Os autores analisam a forma como a sociedade e as ciências interpretam o mundo, onde existem dois tipos: primeiro é a lógica de imitar o mundo, através da reflexão. Existe a necessidade de uma unidade principal, seguindo o modelo espiritual, para posteriormente se duplicar. A segunda forma é a de que se aborta uma unidade principal, mas ainda existe uma sobredeterminação do sujeito, numa dimensão suplementar de seu objeto.

Ocorre, desta forma, a introdução da idéia de um pensamento que seja construído sem a visão da existência de um objeto nem de um sujeito, mas sim, feito de matérias diferentemente formadas, onde existam além das linhas de articulação ou segmentação, estratos, territorialidades, mas também linhas de fuga, movimentos de desterritorialização e desestratificação (DELEUZE e GUATTARI, 1996). Para eles o pensamento deve ser formado à idéia de um rizoma, à semelhança do que ocorre com algumas plantas ditas rizomatosas, como a bananeira, por exemplo:

“... diferentemente das árvores ou de suas raízes, o rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um dos seus traços não remete necessariamente a traços de mesma natureza; (...) O rizoma não se deixa reconduzir nem ao Uno nem ao múltiplo. (...) Ele não é feito de unidades mas de dimensões, ou antes de direções movediças. Ele não tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda. (...) O rizoma é feito somente de linhas: linhas de segmentaridade, de estratificação, como dimensões, mas também linha de fuga ou de desterritorialização, seguindo uma multiplicidade que se metamorfoseia, mudando de natureza...”(DELEUZE e GUATTARI, 1996, p. 32).

Para os autores a idéia de rizomas se estabelece sob seis princípios:

Princípios de conexão e de heterogeneidade: Qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a outro e deve sê-lo. É diferente da árvore ou da raiz que fixam um ponto, uma ordem. Num rizoma, cadeias semióticas de toda a natureza são aí conectadas a modos de codificação muito diversos, cadeias biológicas, políticas, econômicas, etc..

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Princípio de multiplicidade: Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza (as leis de combinação crescem então com a multiplicidade). Num rizoma existem somente linhas. As multiplicidades se definem pelas linhas de fuga ou de desterritorialização onde elas mudam de natureza ao se conectar às outras.

Princípio de ruptura a-significante: Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer que ele retomará seguindo uma ou outra de suas linhas. Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, etc...

Princípio de cartografia e de decalcomania: Um rizoma não pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo, ele é estranho a qualquer eixo genético ou de estrutura profunda. A lógica da árvore remete á lógica do decalque e da reprodução e, cmo observam Deleuze e Guattari (1996, p.22) “diferente é o rizoma, ele é o mapa e não o decalque”. O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. O mapa tem múltiplas entradas contrariamente ao decalque que volta sempre “ao mesmo”.

6 - DISCUSSÃO

Schumpeter (1982) foi um dos primeiros economistas a contrariar a noção de fluxo econômico dos clássicos, segundo ele o equilíbrio econômico não trazia o desenvolvimento. O desenvolvimento econômico era dado somente quando ocorriam perturbações, mudanças, certo grau de entropia no sistema econômico.

A visão “estática” dos economistas clássicos não era capaz de predizer as conseqüências das mudanças descontínuas na maneira tradicional de fazer as coisas, não podia explicar a ocorrência de tais revoluções produtivas nem os fenômenos que as acompanhavam. Investigava, apenas, a nova posição de equilíbrio depois que as mudanças tinham ocorrido.

Pode-se atribuir, também, a estas dificuldades o fato de que a economia baseia-se sobre duas formas de análise: a micro e a macro. A visão micro estuda as mudanças que

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ocorrem em nível individual, como se estruturam e como se coordenam os agentes econômicos, ao passo que a visão macro analisa o sistema num todo, ou seja, o conjunto das unidades. Contudo, estas duas visões têm dificuldade de se interrelacionar e esta dificuldade é justamente o ponto que Schumpeter (1982) busca superar, a partir de uma visão meso-econômica. O autor analisa os fenômenos iniciados pelos indivíduos que mudam suas estruturas e acabam transformando todo o sistema. Cerqueira (2002) afirma que estas mudanças são o núcleo da evolução dos sistemas.

Schumpeter (1982) procurava justamente compreender quais eram as condições das mudanças, como elas aconteciam e quais os fenômenos econômicos que as ocasionavam. A explicação destas mudanças foi dada pelo autor através de um viés tecnológico, ou seja, as mudanças ocorriam nos momentos de crise através da introdução de inovações tecnológicas, introduzindo uma desordem inicial, onde a partir de uma posterior organização do meio ocorriam transformações no sistema.

Esta organização, a partir da desordem, pode ser melhor entendida quando se analisa a teoria das estruturas dissipativas de Prigogine (2002) e a idéia de rizomas de Deleuze & Guattari (1996). Caso, as constantes pressões na qual um sistema é submetido, se tornarem intensas, cada vez mais o sistema se distancia do equilíbrio, até o ponto que nesse processo ocorrerão os pontos de bifurcação, que acontecem pela necessidade das estruturas se reorganizarem, devido ao caos instaurado. Esses pontos podem ser remetidos a qualquer outro ponto, eles não possuem uma unidade central, se tornam múltiplos e se organizam conforme a necessidade que surgiu no instante da desordem (lógica do rizoma). Neste sentido, segundo Cerqueira (2000), pode-se afirmar que o sistema “escolhe” uma, entre várias trajetórias, a ser seguida, em busca da organização. E, esta nova estrutura depois de estabelecida, é irreversível ao tempo (princípio da irreversibilidade de Prigogine). É importante salientar, reforçando o princípio da irreversibilidade, que jamais será criada, futuramente, uma estrutura igual a outra que já tenha sido criada.

Da mesma forma, na economia, segundo Schumpeter (1982) o processo de introdução das inovações destruía o que era antigo. A invenção do transporte a vapor, por exemplo, os trens e os navios fizeram desaparecer a vasta rede préexistente de diligências e

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de carruagens, como também, a adoção dos teares mecânicos na indústria têxtil, em grande parte da Europa, que culminou o abandono do trabalho artesanal, infelicitando milhares de famílias e transformou a sociedade dividida em classes, onde o campo deixava de ser importante para dar lugar á modernização das cidades. Um exemplo do final do século que passou é a informática e a robotização que gerou enormes lucros para os industriais, mas que cancelou definitivamente milhares de postos de trabalho nas fábricas e escritórios.

Na ótica de Schumpeter (1982) toda a inovação implica, pois, numa "destruição criadora". O novo não nasce do velho, mas sim brota ao seu lado e supera-o. Pode-se derramar lágrimas pelos que foram massacrados pela tecnologia mais recente, mas isto não detém o progresso nem altera o seu resultado final.

A economia se desenvolveu através destes exemplos citados, estas destruições criadoras significaram um alto grau de entropia inicial, obrigando ao sistema se estruturar de outra forma, toda mudança gera uma crise, o sistema foi obrigado a se organizar de alguma maneira em meio a muitas perturbações e muitas opções. Fazendo alusão com a evolução das espécies de Darwin onde prevalece a lei do mais forte, da mesma maneira as indústrias que foram pioneiras nas inovações, sem dúvida tiveram êxito, no entanto, o que determinou a ascensão ou queda das demais foi a forma com que estas se organizaram nesta turbulência inicial para que pudessem evoluir juntamente com o sistema.

Morin (2002), enfatizava o papel da organização nos sistemas dinâmicos como o sistema econômico. Para o autor, um ecossistema é uma máquina viva que comporta um conjunto de interações que contém diversas populações vivas. O meio deveria ser considerado não apenas por ordem (determinismo, condicionamento do “meio”), não somente como desordem (destruição, devoração, risco), mas também como organização, a qual, como toda organização complexa, sofre, comporta, produz desordem e ordem, seqüencialmente.

A questão da organização somente é levada em conta quando se foge de uma visão objetiva e se busca uma visão sistêmica sobre os fenômenos. De acordo com Morin (2002), a física moderna comprovou que a questão principal é a essencialidade da interação que ocorre entre a ordem, a desordem, a transformação e a organização que pode ocorrer no

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sistema. Para ele a fonte geradora de organização é a complexidade do caos e da relação desordem/interação/encontros/organização.

Sob a ótica de Morin (2002) pode-se entender por que a economia clássica teve sempre a dificuldade de analisar as mudanças e como elas se organizavam, visto que é precisa uma visão sistêmica que considera o sistema econômico em constantes transformações. Pode-se acrescentar, a velocidade crescente das mudanças atuais e o crescimento da incerteza e dos riscos, ou seja, um mundo cada vez mais complexo.

Relacionado aos princípios de Morin (2002) pode-se dizer que o sistema econômico é um sistema que exerce influencia constante sobre os indivíduos e as organizações. Com a sua estrutura mercadológica, todas as inovações fizeram com que houvesse mudanças não só no sistema econômico, mas também no sistema social, no sistema político, entre outros. No entanto estes sistemas e estas transformações só ocorrem pela ação dos próprios indivíduos. As inovações são frutos da criatividade dos empresários individuais que as introduzem nos mercados, após uma inicial turbulência os indivíduos começam a interagir no sistema se adaptando a sua transformação, mas também realimentando esta transformação, fazendo com que ocorra a evolução do sistema.

A figura 2 expressa a evolução do sistema econômico a partir das inovações tecnológicas de Schumpeter explicada a partir das teorias da complexidade, do caos e dos rizomas.

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Organização Difusão da Inovação

Evolução do sistema

econômico

Organização de sistemas e rizomas Inovações Tecnológicas Exaustão do sistema Recessão Crise Equilíbrio do sistema ORDEM DESORDEM Encontros Interações Organização Difusão da Inovação Organização Difusão da Inovação

Evolução do sistema

econômico

Organização de sistemas e rizomas Organização de sistemas e rizomas Organização de sistemas e rizomas Organização de sistemas e rizomas Inovações Tecnológicas Exaustão do sistema Recessão Crise Equilíbrio do sistema ORDEM DESORDEM Encontros Interações Figura 2: Evolução do sistema econômico através da conjunção das teorias expostas.

Este sistema sofre constantes transformações e evolui ciclicamente de uma forma a se auto-alimentar constantemente. A crise é oriunda da exaustão dos efeitos da inovação. Quando, por exemplo, um novo produto chega aos seus limites mais extremos do mercado, ocorre uma saturação, os lucros então declinam gerando uma reação negativa em cadeia, fazendo os negócios refluírem. Sucedem-se então as falências, as concordatas, e o desemprego. A estagnação ou crise só será rompida através da iniciativa de alguns indivíduos (os empresários empreendedores) que introduzirão novas combinações na produção de bens e serviços e que ao chegar ao mercado, impulsionarão a retomada do crescimento. No entanto, esta retomada passa por fases de extrema turbulência, a

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introdução destas inovações, causam uma desordem no sistema produtivo e no sistema econômico como um todo.

Os tipos de inovações que foram citadas por Schumpeter (1982) podem ser melhor definidas por meio das abordagens posteriores de Freeman e Perez (1988) que classificaram as inovações como incrementais, onde ocorre uma introdução de melhorias em produtos, processos ou organização das estruturas produtivas, porém não caracterizam uma ruptura com o padrão tecnológico estabelecido, ou elas podem ser classificadas como radicais, ocorrendo, neste caso, a introdução de novos produtos, processos ou formas de organização da produção inteiramente novos propiciando uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anteriormente estabelecido.

Essas inovações geram uma situação, ou seja, a coexistência de produtos, processos e estruturas organizacionais que podem ser similares, antagônicas e/ou complementares, situação essa que pode ser trabalhada melhor com o uso do conceito de dialógica da complexidade. Em meio a esta entropia inicial os próprios indivíduos começam a encontrar formas (insumos, capital, habilidades) de interagir e se organizar de acordo com esta nova realidade. De acordo com Morin (2002), o sistema obriga os indivíduos a se transformar, e o sistema somente evolui porque os indivíduos transformaram o seu ambiente. Assim, as novas tecnologias deflagram uma nova estrutura econômica.

Prigogine (1996), cita em sua obra uma passagem do livro de Thomas Kuhn, A

estrutura das revoluções científicas, onde este autor afirmava que a mudança de

paradigmas é o resultado das contradições entre as predições teóricas e os dados experimentais. Quando isso acontece, produz-se uma crise, uma bifurcação da qual emerge um novo paradigma.

Desta forma, a destruição criadora de Schumpeter (1982) deu início a abordagens que buscam explicar a emergência das mudanças ocorridas nos sistemas econômicos, a partir de uma visão meso-econômica, ou seja, centrado nos relacionamentos entre as partes, buscando definir assim, uma visão clara e objetiva e que possa servir de elo entre as visões macro e micro econômicas. Isso poderia ser útil para a compreensão dos diversos arranjos

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produtivos interorganizacionais, tais como, as redes, as cadeias, os clusters e as alianças estratégicas.

Depois de Schumpeter outros autores começaram a utilizar esta análise meso, integrando, também, teorias que enfocam o processo evolutivo dos sistemas, inicialmente com o viés biológico, mas que podem ser aplicáveis também ao sistema econômico e teorias que dão ênfase à organização de estruturas que inicialmente são antagônicas, mas que acabam se complementando e se transformando a um nível superior, ocorrendo assim a evolução. Os estudos desta forma de ver a economia estão sendo cada vez mais debatidos e tem dado inicio á uma visão evolutiva da economia que é centrada sobre o domínio meso e que vê, na essência do sistema econômico, um sistema aberto, complexo e adaptável.

Esta linha de pensamento parece ser promissora no desenvolvimento de um pensamento sistêmico na economia, podendo futuramente ser a fonte de emergência para um novo paradigma na ciência econômica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CERQUEIRA, Hugo E.A. da Gama. A economia evolucionista: um capítulo sistêmico da teoria econômica? Revista Análise Econômica, v. 20, n. 37, p. 55-79, 2002.

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Figura 1: Os ciclos econômicos na visão de Schumpeter  Fonte: Schumpeter, 1982
Figura 2: Evolução do sistema econômico através da conjunção das teorias expostas.

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