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POSIÇÕES CONSTRUTIVISTAS = Psicologia do Desenvolvimento - ANTONIO NAVARRO

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Academic year: 2021

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As posições construtivistas

Prof. Antonio R. Navarro

Poucos duvidam, atualmente, sobre a necessidade de adotar posições construtivistas para entender a complexidade e a riqueza do pensamento e a conduta humana.

A cultura experiencial de cada individuo, isto é, seus significados, sentimentos e comportamentos prioritários se constroem na história peculiar de cada sujeito. Mas como? Que papel desempenham, e com que importância e intensidade as pressões naturais ou sociais do meio exterior ou as tendências e os esquemas herdados? A construção de significados é o resultado da experiência individual num contexto concreto ou é o produto da interação de construções simbólicas alheias?

Piaget e o desenvolvimento formal da mente

Piaget é o primeiro construtivista que oferece uma teoria complexa e rigorosa para explicar o desenvolvimento do psiquismo, como resultado da interação entre as disposições internas e as peculiaridades do contexto.

Oferece uma explicação peculiar de tal interação na qual, mesmo considerando claramente a importância dialética da relação entre ambos componentes, talvez conceda maior relevância à participação das condições internas, às estruturas cognitivas que se constroem progressivamente como mediadoras e reguladoras das influências e das pressões do meio natural e social exterior.

Na teoria construtivista piagetiana, o sujeito herda algumas formas de funcionamento e alguns conhecimentos instintivos - adaptações cognitivas hereditárias -, certamente exíguos, que lhe servem para organizar suas primeiras condutas na tentativa de satisfazer suas necessidades num contexto concreto.

Ao aplicar tais conhecimentos inatos ou reflexos aos objetos e às situações que encontra na realidade, aprende as possibilidades e as resistências que estes oferecem. Aprende as qualidades ou propriedades dos componentes concretos do cenário vital em que se desenvolve, e elabora os primeiros esquemas ou teorias sobre a realidade e sobre suas estratégias mais adequadas de intervenção.

Os conhecimentos não estão, pois, na realidade exterior, são construídos ou pela espécie (conhecimentos inatos), ou pelo indivíduo (conhecimentos adquiridos individualmente). Cada sujeito, ao atuar sobre a realidade, incorpora, assimila e modifica as peculiaridades e as propriedades desta realidade dentro de um esquema de interpretação peculiar que constrói, como resultado do sentido de sua experiência. São estes esquemas internos de interpretação os responsáveis das buscas seguintes, das percepções ou explicações dos próximos encontros com o contexto exterior. Neste processo dialético de interação, Piaget considera que o primeiro movimento do sujeito

Psicologia do

Desenvolvimento

Psicologia da

Aprendiagem:

Conceitos

O legado

Construtivista

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é sua tendência para assimilar, deformar, se preciso, e forçar a estrutura e o

funcionamento da realidade exterior para que encaixe em seus próprios esquemas de interpretação anteriormente construídos.

O conhecimento do sujeito não só não é uma simples cópia da realidade como que, em principio, parece uma imposição irredutível e tenaz dos esquemas internos previamente construídos, e que funcionaram com êxito na atividade adaptativa do indivíduo. O segundo movimento, e aqui Piaget se distancia das posições idealistas ou inatistas, é a tendência para a acomodação, a necessidade de modificar os próprios esquemas de interpretação quando a realidade, de forma insistente, recusa a qualidade ou utilidade de tal conhecimento.

A integração de ambos os movimentos em um mesmo processo dialético constitui o caráter construtivo dos modos de pensar, sentir e atuar dos sujeitos humanos. Os indivíduos constroem tanto seus conhecimentos e idéias sobre o mundo natural como seus próprios instrumentos e recursos de conhecimento.

Não é nem ingênuo nem indiferente este deslocamento do construtivismo piagetiano para o pólo interno na explicação do desenvolvimento. Em primeiro lugar, é esta insistência na importância da gênese das estruturas ou dos esquemas de conhecimento o que nos permite entender melhor as peculiaridades do desenvolvimento de cada individuo.

E certo que cada sujeito constrói sua cultura experiencial, seus esquemas de pensamento, sentimentos e condutas com os materiais que o meio oferece a suas atividades e experiências, mas não é menos certo que cada um os modula de maneira singular - e de certa forma irrepetível -, devido às peculiaridades de seu próprio processo biográfico de encontros, imaginações, fantasias, equilíbrios, satisfações e frustrações. Conhecer como cada indivíduo modula de maneira singular a construção de suas representações e de suas capacidades para operar sobre a realidade é chave para entender seu desenvolvimento psicológico.

Em segundo lugar, a relativa primazia funcional das estruturas internas, autênticas responsáveis dos efeitos que a realidade têm sobre cada sujeito, permite a Piaget identificar as condições do que se pode entender como desenvolvimento relativamente autônomo do conhecimento (aquele que se gera pela atividade experiencial e discursiva do sujeito) e distingui-lo com clareza do conhecimento

prestado e incorporado por doutrinamento ou por adesão irrefletida à autoridade dos adultos ou à onipresença dos meios, de frágil consistência e de vida efêmera. Para os piagetianos convictos, esta peculiaridade de sua teoria permite falar de autêntico construtivismo na elaboração do conhecimento.

O conhecimento válido é aquele que cada indivíduo constrói no processo dialético de assimilação e acomodação, não o que incorpora por mera imitação ou assunção irrefletida. É lógico, portanto, que na explicação piagetiana do desenvolvimento do conhecimento um elemento decisivo seja o conflito cognitivo, como espaço vital privilegiado de confronto epistemológico entre os esquemas de interpretação já consolidados, que se negam a se modificar ou a se dissolver ante os primeiros exemplos contrários ou resistências que aparecem na realidade e a contumaz presença das estruturas e formas de funcionamento da realidade que não cabem nos esquemas locais, provisórios, parciais e insuficientes que cada indivíduo construiu nas experiências anteriores.

Jean Piaget

Lev Vygotsky

Jerome Bruner

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Ao abrigo deste irredutível construtivismo piagetiano, o desenvolvimento das

estruturas mentais aparece como um processo contínuo de diferenciação, descentração e complexificação em que o individuo vai se libertando progressivamente dos limites que estabeleciam sua fusão indiferenciada com o mundo, nas etapas mais instintivas e reflexas, caminhando para a manipulação e a elaboração de representações simbólicas e cenários possíveis e ideais, mais além da configuração presente da realidade. Assim, as estruturas mentais iniciam sua gênese relativa em esquemas sensório-motores de natureza instintiva e inata, mas seu desenvolvimento evolutivo, apesar da experiência de múltiplas interações dialéticas, com seu jogo de perturbações e compensações, ultrapassa gradualmente a rigidez de seus esquemas instintivos ou reflexos para formas móveis, flexíveis e reversíveis de análise, retroação, antecipação, classificação e combinação simbólica.

Esta insistência na relevância do pólo interno não desemboca, em Piaget, na aceitação do inatismo dos conteúdos do conhecimento. Para evitar esse deslocamento irreversível para o idealismo, o autor estabelece nitidamente a distinção entre conteúdos e formas e se concentra no esclarecimento do desenvolvimento das formas que as estruturas mentais vão adotando para fazer frente à complexidade dos conteúdos, descuidando, em certa medida, a análise das peculiaridades que o próprio conteúdo dos cenários naturais e especialmente dos sociais impõe ao próprio processo mental, aos pensamentos, aos sentimentos e às condutas.

Este descuido, intencional ou não, constituiu o eixo das críticas das posições culturalistas do construtivismo e também o elemento de familiaridade com as posições cognitivas posteriormente desenvolvidas, sob a corrente do processamento de informação ou teorias computacionais da mente. Parece evidente que a Piaget interessa mais elucidar os processos de construção das estruturas e capacidades formais da mente que permitem ao individuo uma adaptação mais ativa, flexível, útil e, inclusive, antecipadora e criadora do que a identificação dos conteúdos, das idéias, dos valores e das atitudes que acompanham e orientam todo o processo de formação das estruturas mentais, com as quais cada indivíduo interpreta e atua.

Conhecer o esqueleto lógico de nossas capacidades intelectuais e seus processos de formação é um componente imprescindível, mas insuficiente para entender as peculiaridades da cultura experiencial dos sujeitos humanos. Torna-se ineludível enfrentar o problema da construção dos significados como componentes ideológicos do pensamento e da afetividade.

A compreensível obsessão piagetiana por demonstrar a continuidade dialética do psiquismo em relação ao desenvolvimento biológico, para superar as divisões dualistas de seu tempo, talvez explique sua orientação prioritária para a compreensão do desenvolvimento das capacidades formais da mente humana, a fim de alcançar a flexibilidade e a reversibilidade da lógica formal. Demonstrar a descontinuidade dialética em relação ao mundo animal deve-nos levar também à análise prioritária da formação do território dos símbolos e das representações, no qual o intercâmbio e o contraste de significados, de idéias, de valores e de atitudes ocupam o lugar privilegiado. O próprio Piaget e, em particular, seus destacados seguidores empreenderam esta tarefa (Deval, Carretero, Flavel, Inhelder).

A ciência cognitiva e a metáfora do

computador

Um exemplo mais claro desta dissociação entre formas e conteúdos na compreensão da mente humana constitui as teorias da mente computacional ou de processamento

Teoria do

desenvolvimento

humano de Jean

Piaget

Teorias de

Ensino-Aprendizagem

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da informação (Newell e Simons, 1982; Rumel-Hart e McClelland, 1986;

Johnson-Laird, 1988). Sob o nome de ciência cognitiva, se desenvolveu uma tendência teórica na psicologia de apresentar a mente como uma máquina de computação dedicada, fundamentalmente, ao processamento da informação.

O problema básico é entender como os computadores registram, classificam, armazenam, recuperam e manipulam a informação da maneira mais rigorosa e eficaz para transferir este conhecimento para a compreensão e a educação da mente humana. A pretensão destas proposições de inteligência artificial ou computacional é chegar a entender e prescrever as regras definidas e inequívocas que governam o processamento e a manipulação da informação deste sistema concreto que é a mente humana.

Esta pretensão requer a separação nítida das formas e dos procedimentos dos conteúdos, assim como dos tipos de conteúdos, pois nem todos podem cumprir o requisito de neutralidade, rigor e clareza requerido pelo processamento de informação computacional. Quando a informação a ser processada se refere precisamente a conteúdos indeterminados e indefinidos, contaminados de valores, opções e atitudes, a ambigüidade e a incerteza das unidades de informação quebram a lógica do processamento computacional. Como afirma Cole “a ciência cognitiva tem de assumir suas limitações, pois, inclusive, sua própria metodologia dominante permanece perfeitamente dentro do marco da metodologia condutista e mecanicista. O que mudou é a complexidade das transformações atribuídas às estruturas que mediam o intervalo entre os inputs e os outputs.”

Em sentido semelhante, se pronuncia Bruner quando afirma abertamente que "as regras comuns a todos os sistemas de informação não cobrem os ambíguos, confusos e contextuais processos de elaboração de significados, uma forma de atividade em que a construção de sistemas de categorias metafóricas é tão importante como o uso de categorias especificas".

Por isso, os importantes avanços no conhecimento das estratégias e nos procedimentos de processamento de informação computacional devem ser sempre relativizados quando nos ocupamos da informação humana e dos processos de construção de significados ou tomada de decisões, pois são nitidamente insuficientes para entender a ambigüidade, o efeito emocional, o conflito de valores, a dependência contextual, e o caráter emergente e criativo da complexa cultura experiencial dos indivíduos.

Dificilmente, podemos encontrar conteúdos de informação de fato relevantes na cultura experiencial de cada sujeito, aqueles que o impulsionam a interpretar e intervir numa determinada orientação e que não se encontrem carregados de afetividade, interesses e opções de valor, características todas que confundem e contaminam os processos lógicos das regras computacionais.

Construtivismo sociocultural

O construtivismo cultural (Vygotsky, Wertch, Bruner, Rogoff, Cole) compartilha a premissa básica da interação ativa entre a realidade e o sujeito na construção dos conhecimentos, dos sentimentos e das condutas, mas prioriza, ao contrário de Piaget e da ciência cognitiva, a importância do pólo social e cultural no desenvolvimento do psiquismo.

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do desenvolvimento das capacidades formais se encontra sempre mediatizada pela

orientação dos conteúdos, dos interesses e das atitudes do conhecimento. Não existem, para o individuo, formas independentes dos conteúdos, nem conteúdos independentes do contexto cultural. A espécie humana se constitui como instância cultural, e os indivíduos adquirem a dimensão humana quando assimilam os rudimentos básicos desta cultura.

O desenvolvimento cognitivo e afetivo de cada individuo é inseparável dos processos sociais que progressivamente interioriza. Do mesmo modo, a aprendizagem é inseparável e incompreensível à margem do contexto sociocultural em que participa o aprendiz, adquirindo habilidades ao mesmo tempo em que desenvolve atividades. A tal ponto, estão convencidos desta dimensão cultural, constitutiva do desenvolvimento individual, que, como afirmam White e Siegel (1984, em Rogoff, 1993), se concebe o desenvolvimento cognitivo como a ampliação progressiva dos contextos culturais e simbólicos, nos quais o individuo se desenvolve.

O aspecto mais definidor da mente e da cultura humanas é seu caráter simbólico. A relação adaptativa ou criadora dos indivíduos e grupos humanos com a realidade se estabelece a partir da representação simbólica desta realidade, que os membros de uma comunidade devem compartilhar em seus elementos comuns como requisito de entendimento e sobrevivência.

Por isso, o problema fundamental para explicar o psiquismo individual é compreender a natureza dos processos simbólicos, dos fenômenos de construção de significados. Embora devam ser entendidos como fenômenos em última análise individuais, uma vez que os significados operativos para cada indivíduo residem em sua mente, e cada um constrói seu modo peculiar de representar a realidade e operar sobre ela, suas origens e suas conseqüências são nitidamente sociais.

Teorias de Ensino

Viver é muito perigoso. Porque ainda não se sabe.

Porque aprender a viver É que é viver mesmo. Guimarães Rosa (1908-1967)

Construtivismo é uma posição teórica baseada no argumento que o conhecimento é construído pelos indivíduos e culturas.

Pressupostos:

 O processo de construção consiste de um movimento para outro, através de um

período de conflito induzido por uma anomalia.

 A adoção de um novo esquema írá, se necessário, requerer a organização do

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 A experiência é mediada por esquemas que são estruturados pelas características

psicológicas e vivências do indivíduos, e por normas e valores de cultura.

 A estrutura conceitual resultante da aplicação de um esquema a uma experiência não

pode ser afirmada como correta ou incorreta. É apenas uma estrutura alternativa.

 Em princípio, não existe um final para este processo de construção do conhecimento.

Não é possível um conhecimento absoluto. Todo conhecimento é ligado e se modifica com o contexto.

“Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento - e, por conseqüência, um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais.” (BECKER, 1992)

“Não existe mundo real, único, preexistente à atividade mental humana (...) o mundo das aparências é criado pela mente.” (BRUNER, 2002)

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Referências

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