Redação Jornalística I
Como identificar uma reportagem?
Cadê o lead e a pirâmide invertida?
Na reportagem, muitas vezes o primeiro parágrafo é descritivo, ou então
parte de um aspecto secundário como “gancho” para o assunto principal.
PF caça guerrilheiro colombiano em favela
Na primeira ação conjunta entre as forças de segurança dos governos federal e estadual, 40 agentes da Polícia Federal, com o auxílio de homens da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de dois helicópteros da Coordenadoria Geral de Operações Aéreas (Cegoa) da Polícia Civil,
ocuparam ontem o Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, em Inhaúma. O objetivo era tentar localizar um integrante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que estaria escondido na região,
treinando traficantes para o emprego de táticas de guerrilha. Houve uma rápida troca de tiros com os bandidos e um agende da Core foi baleado em um dos pés. No fim da operação, o homem não foi localizado. (...) (O Globo – 16/03/2003)
Como identificar uma reportagem?
Pirâmide invertida?
Lead:
Como identificar uma reportagem?
UBERLÂNDIA – Adnan Jobran usa roupas brancas para
presenciar o abate de frangos na processadora de
alimentos Sadia, garantindo que eles morram de acordo
com as diretrizes aceitas pelos muçulmanos, com os
pescoços cortados em um movimento de meia-lua. Na
unidade próxima de Uberlândia, a 550 km de São Paulo,
cerca de 10% dos 140 mil frangos e 10 mil perus
produzidos diariamente são mortos segundo os rituais
islâmicos e enviados a países como Arábia Saudita e
Dubai, afirmou Jobran, que possui um exemplar do
Alcorão sobre a mesa e decora o escritório com cartazes
de santuários muçulmanos.
Gêneros jornalísticos opinativos
Artigo: necessariamente assinado, analisa um fato ou uma série de fatos em
relação ao contexto político, social, econômico ou comportamental. É também um espaço no qual o autor eventualmente inclui, de forma implícita ou explícita, sua opinião, sua visão pessoal ou suas conclusões.
Coluna: manifestação do colunista sobre algum fato que está informando ou
analisando, seja pela postura irônica em relação aos eventos e personagens abordados ou por previsões, veredictos e opiniões do jornalista que assina a coluna.
Editorial: espaço reservado (inclusive no projeto gráfico dos jornais) para a
manifestar a opinião do veículo, da instituição – opinião essa que na verdade é definida pelos dirigentes (muitas vezes o próprio dono) da empresa.
Crônica: construída em torno de personagens, às vezes fictícios, focaliza um
fato do cotidiano, quer ele tenha, ou não, gerado impacto como notícia. Mistura o factual com a ficção, dá um tratamento de certa forma literário à informação e permite ao autor opinar, seja de forma pessoal ou por intermédio dos
Gêneros jornalísticos informativos: Notícia
Dentre todos os gêneros jornalísticos, a notícia é o que mais
usufrui da aura de imparcialidade, que leva o leitor a aceitar, a priori, aquele relato dos fatos como verdadeiro e isento.
Mito da objetividade
Acordo tácito em público e veículo: produzir notícias sem
distorções ou mentiras em relação aos fatos concretos.
A matéria-prima do jornalismo contemporâneo,
Técnicas específicas: apuração e seleção dos fatos, escolha
do vocabulário, ordenação de informações, tratamento das fontes etc.
Gêneros jornalísticos informativos: Notícia
Mas o que é notícia?
De forma simplista, pode-se dizer que é o anúncio de um fato novo, o anúncio da
novidade. Qualquer fato novo, qualquer fenômeno recém-percebido pode virar notícia, desde que seja capaz de gerar interesse.
Inclui não só eventos naturalmente considerados como importantes por serem
capazes de provocar conseqüências políticas e econômicas, mas também
ocorrências banais, como uma briga de condôminos por causa da presença de cachorros no edifício.
Para Nilson Lage, a diferença entre a notícia e outros formatos de texto não está
no seu conteúdo ou na natureza das informações, mas na forma em que ela é redigida.
Um fato redigido a partir do dado mais importante ou capaz de gerar maior
interesse, seguindo-se as demais informações em ordem decrescente de importância, do mais para o menos importante (LAGE, 1999).
Gêneros jornalísticos informativos: Notícia
Técnicas jornalísticas básicas
Ordenação dos fatos por sua importância
Relato objetivo e distante dos fatos, isento de avaliações pessoais ou
julgamentos tanto explícitos quanto implícitos.
Quem opina é a fonte e o texto precisa deixar bem claro de quem é a opinião Ouvir os dois lados da notícia. Caso um dos lados não queira se manifestar
ou não tenha sido encontrado, essa informação tem que ser passada ao leitor.
Técnicas específicas de apuração dos fatos, como a seleção de fontes
segundo o grau de confiabilidade, o cruzamento de informações e os limites técnicos e éticos para o uso de declarações em off, ou seja, sem que a
Gêneros jornalísticos informativos:
Reportagem
Dificuldade em definir a reportagem
Compreende desde a simples complementação de uma notícia
– uma expansão que situa o fato em sua relação mais óbvia com outros fatos antecedentes, conseqüentes ou correlatos – até o ensaio capaz de revelar, a partir da prática histórica,
conteúdos de interesse permanente (LAGE, 1982).
Mesmo um fato inesperado (um desabamento) pode ser
complementado eficientemente por uma reportagem (sobre as mazelas da construção civil), à medida em que a indústria
jornalística desenvolve técnicas e processos bastante rápidos para a coleta e processamento de dados.
Gêneros jornalísticos informativos:
Reportagem
A reportagem trata de assuntos, e não necessariamente
de fatos novos. Seu objetivo é contar uma história
verdadeira, expor uma situação ou interpretar fatos.
A notícia é imediatista, como no caso do relato de um
tiroteio entre facções criminosas, a reportagem
preocupa-se em ser atual e mais abrangente, como um
levantamento sobre as facções criminosas existentes no
Rio de Janeiro.
Fator determinante para a circulação de uma notícia é o
Gêneros jornalísticos informativos:
Reportagem
A reportagem oferece detalhamento e contextualização àquilo
que já foi anunciado, mesmo que o seu teor seja informativo.
Interesse na investigação do veículo: um fato depende
em menor grau de uma intenção própria daquele veículo em publicá-lo, enquanto que investigar um aspecto da realidade por meio de uma reportagem depende do interesse do
veículo.
Forma: liberalidade maior no vocabulário, uso de metáforas,
Notícia x Reportagem (João de Deus)
A notícia apura fatos A reportagem lida com assuntos sobre fatos
A notícia tem como referência a imparcialidade A reportagem trabalha com o enfoque, a interpretação
A notícia opera em um movimento típico da indução (do particular para o geral)
A reportagem, com a dedução (do geral, que é o tema, ao particular — os fatos)
A notícia atém-se à compreensão imediata dos dados essenciais
A reportagem converte fatos em assunto, traz a repercussão, o desdobramento; aprofunda A notícia independe da intenção do veículo (apesar
de não ser imune a ela)
A reportagem é produto da intenção de passar uma “visão” interpretativa
A notícia trabalha muito com o singular (ela se dedica a cada caso que ocorre)
A reportagem focaliza a repetição, a abrangência (transforma vários fatos em tema)
A notícia relata formal e secamente — a pretexto de comunicar com imparcialidade
A reportagem procura envolver, usa a criatividade como recurso para seduzir o receptor
A notícia tem pauta centrada no essencial que recompõe um acontecimento
A reportagem trabalha com pauta mais complexa, pois aponta para causas, contextos, consequências, novas fontes.
Valores-notícia
Noticiabilidade: capacidade que os fatos têm de virar ou não notícia
(Mauro Wolf).
Categorias substantivas (interesse do público)
Importância dos envolvidos
Quantidade de pessoas envolvidas Interesse nacional
Interesse humano Feitos excepcionais
Categorias relativas ao produto (conceitos jornalísticos)
Brevidade - nos limites do jornal Atualidade
Novidade
Organização interna da empresa Qualidade - ritmo, ação dramática Equilíbrio - diversificar assuntos
Valores-notícia
Categorias relativas ao meio de informação (veículo)
Acessibilidade à fonte/local Formatação prévia/manuais Política editorial
Categorias relativas ao público
Plena identificação de personagens Serviço/interesse publico
Protetividade - evitar suicídios etc.
Categorias relativas à concorrência
Exclusividade ou furo Gerar expectativas Modelos referenciais
Referências
FRANCESCHINI, F. Notícia e reportagem: sutis diferenças.
Comum. Rio de Janeiro, v. 9, n. 22, 2004, p. 144-155.
Disponível em:
http://www.facha.edu.br/publicacoes/comum/comum22/ar
tigo6.pdf
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