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O papel da execução penal na reinserção social do indivíduo: reflexões críticas em busca de eficiência punitiva

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

ANA MARIA GOI

O PAPEL DA EXECUÇÃO PENAL NA REINSERÇÃO SOCIAL DO INDIVÍDUO: REFLEXÕES CRÍTICAS EM BUSCA DE EFICIÊNCIA PUNITIVA

Ijuí (RS) 2019

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ANA MARIA GOI

O PAPEL DA EXECUÇÃO PENAL NA REINSERÇÃO SOCIAL DO INDIVÍDUO: REFLEXÕES CRÍTICAS EM BUSCA DE EFICIÊNCIA PUNITIVA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Doglas Cesar Lucas

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados e pela compreensão da minha ausência durante o período da graduação.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com amor e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador, Dr. Doglas Cesar Lucas, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação, disponibilidade e inteligência ímpar, me guiando na busca pelo conhecimento.

Aos meus colegas de trabalho da Brigada Militar de Augusto Pestana, que sempre colaboraram para que eu pudesse realizar minhas atividades de forma proveitosa, com boa vontade e generosidade, facilitando minha rotina acadêmica.

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“Será que a liberdade é uma bobagem?... Será que o direito é uma bobagem?...

A vida humana é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões.

E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens.

A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. Que há de vir.”

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do sistema punitivo, apresentando historicamente a criação e o desenvolvimento das formas de prisão no mundo, aprofundando na realidade brasileira e a formatação na atualidade. Também faz referência aos aspectos de limitação jurídica na prisão e apenamento do indivíduo infrator, bem como os dados estatísticos sobre presos, a situação das casas prisionais brasileiras e as ações realizadas pelo Poder Público em busca da ressocialização do apenado. Ainda, trata sobre as fragilidades da execução penal, a violência e o medo refletido na sociedade.

Palavras-Chave: Execução Penal. Prisão. Ressocialização. Direitos Humanos. Segurança Pública.

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This conclusion of course makes an analysis of the punitive system, presenting historically the creation and development of the forms of prison in the world, probing in the Brazilian reality and the actually formation. It also refers to aspects of legal limitation on imprisonment and distress of the offending individual, as well as statistical data on prisoners, the Brazilian detention facilities and the actions taken by the public authorities in pursuit of the social rehabilitation of the convict. In addition, deals with the weakness of the criminal execution, violence and fear reflected in society.

Keywords: Penal Execution. Prison. Social Rehabilitation. Human Rights. Public Security.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE OS SISTEMAS PUNITIVOS ... 10

1.1 A idealização da necessidade punitiva ... 13

1.2 O nascimento das penas de prisão e suas funções ... 14

1.3 Dados sobre o encarceramento no mundo ... 16

2 O CÁRCERE E A PENA DE PRISÃO NO BRASIL ... 18

2.1 A violência e o encarceramento no Brasil em números ... 20

2.2 Limites e possibilidades de pena de prisão no país ... 23

2.3 A execução penal e suas fragilidades ... 26

2.3.1 A busca por soluções para as fragilidades da execução penal ... 29

3 VIOLÊNCIA, (IN)SEGURANÇA E CRIME NO BRASIL: UM CENÁRIO DIFÍCIL .. 33

3.1 O direito constitucional da segurança pública ... 36

3.2 O medo da violência e as estratégias atuais para combatê-la ... 39

3.3 Os limites das estratégias punitivas para a violência ... 42

CONCLUSÃO ... 46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata da execução penal, mais precisamente do papel do encarceramento enquanto método punitivo, buscando demonstrar a história da criação das estruturas prisionais no mundo, e posteriormente no Brasil, os dados mundiais e nacionais relacionados ao perfil prisional, assim como estatísticas de aprisionamento, as fragilidades do sistema carcerário, as soluções aos tão altos índices de violência e criminalidade no país e as possibilidades de ressocialização do indivíduo infrator.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também a legislação vigente, visando a aprofundar e solidificar o estudo da prisão e suas consequências, trazendo à tona a necessidade de reexame e reformulação da estrutura prisional para a obtenção de melhores resultados e a garantia da dignidade do detento.

No primeiro capítulo, são apresentadas as origens dos sistemas punitivos e o processo de desenvolvimento que leva ao modelo hoje adotado, assim como as referências históricas da estrutura de prisão formatada em cárcere. Ainda, far-se-á uma breve contextualização doutrinária das motivações à aplicação das medidas punitivas e das penas de cerceamento de liberdade.

No segundo capítulo, é apresentada a situação estrutural das prisões brasileiras, o arcabouço jurídico que ampara e delimita a aplicabilidade e formatação das penas que restringem liberdades, assim como as deficiências que se apresentam na aplicabilidade destas, sendo que a realidade da execução penal

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brasileira em nada se parece com a teoria apresentada na legislação, gerando desrespeito aos direitos do preso, assim como asseverando a crise da violência e reincidência do apenado. Foram trazidas algumas ações que buscam reduzir as desigualdades entre o ideal e o real, assim como um cumprimento de pena digno, que traga crescimento ao indivíduo, restituindo-o à sociedade de forma sustentável.

No terceiro capítulo, buscou-se demonstrar a realidade de violência e criminalidade que se apresenta no país, apesar de todo o resguardo constitucional previsto que garantiria segurança pública de forma efetiva. Bem como a percepção de insegurança pública que gera uma atmosfera de medo que assola da população, tornando-a refém de grupos criminosos. Ainda traz as limitações que norteiam as estratégias voltadas à penalização do criminoso, desde a legislação até a escassez de meios e deficiência de planejamento ou precariedade na execução.

A expectativa inicial era pesquisar a temática, encontrando defeitos estruturais de resolução simples, para desenvolver proposta de solução efetiva e breve, no entanto, não se apresentam simples, tampouco breves, as medidas a serem tomadas para tentar reverter o caos prisional e a violência no país, demandando atitudes severas e grandiosas em busca de melhora paulatina, sem falar em investimentos em áreas que influenciam significativamente nos índices de criminalidade, como educação e ações sociais.

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1 UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE OS SISTEMAS PUNITIVOS

Desde o surgimento da sociedade como agrupamento de indivíduos em determinado espaço, com finalidade de convivência e cooperação, houve a necessidade da organização estrutural de funções, das quais derivava o poder. Variáveis como força física e intimidação sobre o mais fraco foram superadas, redirecionando este poder às mãos dos indivíduos detentores de maior expressividade econômica, que passaram a regrar uma estrutura semelhante à de Estado, que abrangia a proteção da pessoa em detrimento a uma parcela das suas liberdades individuais, pois fixava leis prevendo condutas inadmissíveis, pondo-as no status de crimes puníveis.

Houve no passado longínquo, mais precisamente no século XVIII a.C., na Mesopotâmia, o código de Hamurabi, composto por 282 artigos, dispostos em 14 capítulos, que versavam sobre os mais diversos temas, que iam desde direitos civis quanto penais, ficando conhecido como o marco inicial da codificação legal, baseado nos princípios da lei de talião, ou seja, “olho por olho, dente por dente”, que consistia na maior correspondência possível entre o ato cometido e a pena a ser imposta ao criminoso.

Na obra “Dos Delitos e Das Penas”, há uma conceituação que corrobora este acontecimento histórico:

Leis são as condições sob as quais os homens, naturalmente independentes, unem-se em sociedade. Cansados de viver em um contínuo estado de guerra e de gozar de uma liberdade que se tornou de pouco valor, a causa das incertezas quanto à sua duração, eles sacrificam uma parte dela para viver o restante em paz e segurança. (BECCARIA, 2015, p. 12).

Em consequência, há a solidificação do poder soberano regente sobre os signatários deste contrato social, exigindo a sanção do transgressor para que não houvesse a descrença na contraprestação à abdicação da sua autonomia completa, como também é trazido pela obra supracitada:

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A soma de todas essas porções de liberdade individual constitui a soberania de uma nação e foi depositada nas mãos do soberano, como administrador legal. Mas não foi suficiente apenas estabelecer este depósito; também foi necessário defendê-lo da usurpação de cada indivíduo, que sempre se empenhará para não apenas tomar da massa sua própria porção, mas também usurpar aquela dos outros. Portanto, alguns motivos que agridem os sentidos necessitam ser criados para impedir que o despotismo individual mergulhasse a sociedade, novamente, em seu antigo caos. Esses motivos são as penas estabelecidas contra os infratores da lei. Eu digo que motivos como esses são necessários, porque a experiência mostra que a multidão não adota os princípios estabelecidos de conduta e porque a sociedade não se afasta da dissolução que se observa nos universos físico e moral senão por motivos que são objeto imediato dos sentidos e que, estando continuamente presentes na mente, são suficientes para contrabalançar os efeitos do interesse do indivíduo que se opõe ao bem geral. Nem a força da eloquência nem a mais sublime das verdades são suficientes para restringir, por qualquer período de tempo, aquelas paixões que são inspiradas pelas vivazes impressões dos objetos presentes. (BECCARIA, 2015, p. 13).

Neste contexto, Foucault (1999) apresenta a idealização do sentido penal, no desestímulo à transgressão da lei, pautando-se no sopesamento do infrator entre o ato e a consequência:

Encontrar para um crime o castigo que convém é encontrar a desvantagem cuja ideia seja tal que torne definitivamente sem atração a ideia de um delito. É uma arte das energias que se combatem, arte das imagens que se associam, fabricação de ligações estáveis que desafiem o tempo. Importa constituir pares de representação de valores opostos, instaurar diferenças quantitativas entre as forças em questão, estabelecer um jogo de sinais-obstáculos que possam submeter o movimento das forças a uma relação de poder. (FOUCAULT, 1999, p. 124)

Filosoficamente, é possível analisar o contexto entre o Direito e a moral, na distinção proposta pelo sistema kantiano, seccionando-os em duas partes de um todo unitário, pautadas na exterioridade e na interioridade, conexas com as liberdades interior e exterior. Assim, o agir ético tem a característica do cumprimento do dever pelo dever, tornando-o uma ação moral.

Já o agir jurídico parte de outras fontes para se concretizar, apesar de não se proceder conforme a lei positiva apenas pela imperatividade, encontrando motivações diversas, como o temor da sanção, o desejo de manter-se afastado de repreensões e prevenção de desgastes inúteis.

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A moral kantista está toda centrada no conceito de imperativo. Segundo Kant, o homem não deve agir desta ou daquela maneira, por ser livre, mas é livre porque deve fazer algo que lhe dita a consciência de modo irrefragável. (...) O homem é livre porque deve; não deve porque seja livre. Eis, pois, como o imperativo categórico é o fundamento da moral kantiana. Quando um imperativo vale por si só, objetivamente, sem precisar de qualquer fim exterior, dizemos que é um imperativo autônomo. A moral é autônoma. (REALE, op. cit., p. 656-660).

Quanto à estrutura física, mais precisamente das casas prisionais, temos como referência Jeremy Bentham, filósofo e jurista, que criou uma proposta de doutrina moral, ancorada no princípio de utilidade, denominada utilitarismo, onde surgiu a ideia do modelo arquitetônico prisional primordial, onde o detento se sentiria punido e enclausurado. Inicialmente, a maioria dos cárceres ficava em ambientes religiosos ou possuíam forte presença clerical, associada ao trabalho e ao silêncio, como meio de recuperação do delinquente. (CORDEIRO, 2005)

Porém apenas no século XIX que surgiu a ciência das prisões, onde teve destaque John Howard, que buscou trazer dignidade aos detentos, que até então, viviam em condições deploráveis de higiene e tratamento, instaurando então métodos de trabalho diário, recuperação moral através de religião, condições humanas de asseio e alimentação, que vigoraram inicialmente em casas prisionais na Inglaterra. A partir daí, no ano de 1800, pautado nesses princípios humanizadores das prisões, Bentham desenvolveu o modelo arquitetônico panóptico (pan – tudo, óptico – ver), onde ficava situada no meio da estrutura, uma torre para observação do restante da estrutura que se alocava no entorno.

Apesar das muitas teorias e formas de prisões que se desenvolveram, principalmente na Europa, o Brasil tem seu primeiro “presídio” conhecido como uma casa de correção no Rio de Janeiro no século XIX, num casarão, essencialmente em seu subsolo, onde os presos permaneciam para aguardar penas que não de prisão, pois até então, estas não existiam no país, sendo que apenas a partir do código penal de 1890 que surgem as primeiras formas de prisão com celas individuais, oficinas de trabalho e arquitetura voltada à reclusão. Predominantemente no Brasil, as linhas arquitetônicas são de inspiração irlandesa (ou progressivas),

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compreendendo a prisão celular, considerada uma prisão moderna; porém houve com o passar do tempo, o desafio relativo à superlotação carcerária, o que impossibilitou este formato de individualidade de cela. A partir daí, iniciam-se os moldes de pavilhões com número limitado de detentos, substitui-se em parte os muros e grandes por cercas de alambrado, para presídios de média ou mínima segurança, permitindo ao preso maior campo de visibilidade, na tentativa de, com isso, ampliar seus horizontes.

1.1. A idealização da necessidade punitiva

Partindo da análise da história das penas de maneira sucinta, e da forma como estas foram transformando-se, há a constatação realizada por Montesquieu na densa obra “O Espírito das Leis”, que explica que o bom homem não precisaria de ordens, apenas de conselhos para pautar seu comportamento, pois agiria instintivamente de maneira correta, já que está inserido em contexto de probidade.

Porém, com a realidade factual aliada ao conhecimento da conjuntura social contemporânea, torna-se imperioso o prosseguimento do estudo de Montesquieu, de onde se pode extrair a analogia da sensação de severidade da pena, baseada na experiência anterior com fato semelhante:

A experiência demonstrou que nos países onde as penas são suaves o espírito do cidadão é marcado por elas, como o é, em outros lugares, pelas grandes. Surge algum inconveniente num Estado: um governo violento quer imediatamente corrigi-lo e, em vez de pensar em mandar executar as antigas leis, estabelece uma pena cruel que acaba com o mal no instante. Mas os mecanismos do governos e desgastam: a imaginação acostuma-se com esta grande penalidade, assim como se tinha acostumado com a menor; e, como se diminuiu o temor por esta, é-se forçado a estabelecer a outra para todos os casos. Os roubos nas estradas eram comuns em alguns Estados; quiseram acabar com eles; inventaram o suplício da roda, que os suspendeu por algum tempo. A partir daí, se roubou como antes nas estradas. (MONTESQUIEU, 1996, p. 95)

Assim como na obra de Montesquieu, apresenta-se em grande número na doutrina jurídico-filosófica, a lógica da penalização proporcional e mínima necessária, para nivelar a compreensão da sociedade no tocante ao papel do

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Estado na contenção da violência e criminalidade, limitando o Poder Público e evitando exacerbação de poder e consequente violação dos direitos humanos, que foram galgados paulatinamente na história da humanidade, alicerçados em luta de povos que sofriam o tratamento degradante e desigual.

Encontra-se em publicação científica, tal referência de matriz filosófica na busca de soluções pautadas no Direito, que direcionam ao ideal de justiça que norteia os sistemas punitivos:

O pensamento filosófico hodierno acerca do Direito, bem como de suas particulares relações com a Moral, o Estado, a razão, a liberdade, a igualdade e a dignidade da pessoa humana, radica, em larga medida, em concepções e categorias defluentes da filosofia ímpar de Kant. De fato, em renomadas obras de Arendt, Habermas e Rawls, entre inúmeros outros, são recorrentes as referências diretas ao gênio kantiano, o que denota a atualidade e a relevância capital de seu contributo filosófico nos domínios da Ética e da Política. Partindo dessa aferição empírica, supõe-se que a devida compreensão das linhas de pensamento filosófico contemporâneo a esse respeito demanda prévio exame das pertinentes matrizes conceituais idealizadas por Kant. (CONPEDI, 2015)

Possível concluir então, que o pensamento filosófico trouxe acréscimo de qualidade no desenvolvimento do Direito quando do viés repressivo.

1.2. O nascimento das penas de prisão e suas funções

Inicialmente, as penas de prisão tiveram natureza de sanção para dívidas, corrupção, rapina, rebelião de escravos e estrangeiros cativos e se aplicavam na região babilônica, regidas por códigos rígidos, como o de Hamurabi, por exemplo. Já no Império Assírio, aplicava-se aos ladrões, contrabandistas, sonegadores de impostos, desertores do serviço público e também aos estrangeiros cativos, que eram obrigados a cumprir largas jornadas de trabalho forçado.

No Egito, o governo do Faraó buscava evitar penas cruéis e arbitrárias, mas mesmo assim, submetia os presos ao trabalho forçado, mantendo-os em celas e masmorras dentro de fortalezas, ou em casas de trabalho, constituindo falta grave

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quando da fuga do apenado. Com a infeliz coincidência em relação à situação fática brasileira da atualidade, os presos egípcios não eram alocados por situação de condenação, convivendo no mesmo ambiente desde os que aguardavam julgamento, até os condenados à prisão perpétua, todos forçados a trabalhar.

Porém, é na Grécia Antiga que se delineou a formatação mais semelhante à prisão como conhecemos, assim como a elaboração de leis e conceitos de justiça, tendo se apresentado na obra Prometeu Acorrentado, de Ésquilo (entre 452 e 459 a.C.), onde a Prometeu era imposta pena de tortura por Zeus. Mas é em Platão que há a maior semelhança com o sistema prisional que utilizavam comumente os gregos, como pode ser lido nas obras Górgias (387 a.C.) e As Leis (entre 357 e 347 a.C.), racionalizando e empregando o caráter punitivo à prisão.

Haverá na cidade três prisões: uma delas situada na praça pública, comum à maioria dos delinquentes, que assegurará a guarda dessas pessoas; a segunda, no lugar de reunião do conselho noturno, que se chamará casa de correção ou reformatório; a terceira no centro do país, no lugar mais deserto e mais agreste possível, terá um sobrenome que indique seu caráter punitivo. (PLATÃO, 357 a.C.)

Mesmo com o amadurecimento da função prisional através da racionalização, o emprego desta permaneceu sendo feito para contenção do indivíduo, conforme Chiaverini (2009):

Apesar dessas leituras racionais sobre crime como resultado da ignorância e prisão como recuperação ou como punição, na verdade, a prisão mais conhecida e utilizada era aquela com função de mera custódia, para a guardar o julgamento ou a aplicação da sanção. Ela também funcionava como local de tortura e aplicação da pena de morte, além de reter devedores. A prisão como pena não desempenhou um papel central na Grécia antiga, que conhecia com maior frequência as penas de morte, exílio e multa. (CHIAVERINI, 2009, p. 06)

Em âmbito nacional, a realidade atual deturpa o ideal que propunha o legislador quando da elaboração das leis de execução penal, já que a precariedade da estrutura física das casas prisionais, somado à sobrecarga de processos em tramitação junto ao poder judiciário, inviabiliza a recuperação do indivíduo infrator, expondo-o à convivência indiscriminada com muitos outros tipos de criminosos, sendo que em não raras oportunidades, este indivíduo ainda aguarda por

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julgamento, tendo cometido infração de potencial ofensivo baixo, sendo absorvido por facções criminosas que recrutam dentro das prisões, coagindo este indivíduo a aliar-se.

Chiaverini (2009) faz uma leitura do contexto da prisão, como instrumento da execução penal, enfatizando uma das possíveis causas da lotação das cadeias, pela banalização da prisão como primeira alternativa de combate ao crime:

Hoje a pena de prisão é, em regra, a consequência prevista em lei para o descumprimento da norma. Sua quantidade oferece uma suposta proporcionalidade entre o crime e a resposta penal. Mesmo quando substituída por outras medidas restritivas de direito, a prisão mantém sua posição de paradigma da estrutura de punição. (CHIAVERINI, 2009, p. 09)

Esta leitura concorda com a realidade, quando demonstra que não é solução à criminalidade apenas aprisionar sem qualidade no cumprimento penal, demandando uma reanálise do sistema punitivo, concretizando a função ressocializadora da pena.

1.3. Dados sobre o encarceramento no mundo

Com a atualização proporcionada pelos sistemas informatizados, é possível realizar análises globais relacionadas aos dados prisionais, principalmente quando se trata das nações com maior expressividade econômica, assim como das proporções quando vistas no cenário macro.

Um dos institutos mais renomados que realiza esta compilação, pautada nos dados oficiais dos países pesquisados, é o Institute for Criminal Policy Research (ICPR), da Universidade de Londres, que apresenta levantamentos periódicos formatados em gráficos e tabelas, com as alterações estatísticas referentes às prisões no mundo.

Dados como o número absoluto de pessoas encarceradas, são de rápida localização e fácil interpretação, a partir das representações trazidas. Segundo o

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ICPR, em 2018 existiam mais de 2,2 milhões de prisioneiros nos Estados Unidos, mais de 1,65 milhão na China (mais um número desconhecido em prisão preventiva ou detenção administrativa), 640.000 na Rússia, 607.000 no Brasil, 418.000 na Índia, 311.000 na Tailândia, 255.000 no México e 225.000 no Irã.

Este relatório mostra que mais de 10,35 milhões de pessoas estão detidas em instituições penais em todo o mundo, seja como prisioneiros/presos provisórios ou condenados e sentenciados. Os números relativos à Eritreia, à Somália e à República Popular Democrática da Coreia do Norte não estão disponíveis e os da China e da Guiné-Bissau estão incompletos. Também estão faltando os prisioneiros mantidos em algumas jurisdições que não são totalmente reconhecidas internacionalmente e os presos que aguardam julgamento, mantidos em instalações policiais e não incluídos nos totais da população prisional nacional publicada. O total é, portanto, superior a 10,35 milhões e pode muito bem ser superior a 11 milhões. (ICPR, 2018)

Com base nos últimos lançamentos, o Brasil encontra-se na terceira posição das maiores populações carcerárias mundiais, subindo o número a 698,6 mil detentos, ultrapassando a Rússia, com 646,1 mil presos, e tendo menos encarcerados apenas que Estados Unidos, com 2,14 milhões de presos e China, com 1,65 milhão. Após o Brasil, está a Índia, com 419,62 mil detentos. Sendo o Marrocos o país com a menor população carcerária, de 79,37 mil presos.

Quanto à taxa de ocupação das cadeias, o Brasil é o terceiro (188,2%), atrás apenas de Filipinas (316%) e Peru (230,7%), e o quarto em taxa de aprisionamento por cem mil habitantes, sendo que o índice brasileiro é de 342, menor somente do que Estados Unidos, Rússia e Tailândia. Pode-se observar então, que nos últimos cinco anos, Estados Unidos, Rússia e China reduziram suas taxas de encarceramento, enquanto no Brasil houve acréscimo nesta taxa.

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2 O CÁRCERE E A PENA DE PRISÃO NO BRASIL

O sistema penal brasileiro possui problemas estruturais de solução complexa, pois vem desde a estrutura física, com prisões em péssimas condições, superpopulação carcerária, facções criminosas que mantém comando paralelo interno, até o sucateamento da execução penal e o descrédito das instituições de processo e execução penal.

Com a evolução da sociedade, deveria haver a modernização do sistema punitivo estatal, de modo a mantê-lo eficiente para que pudesse reintegrar o infrator à sociedade, após a sua quitação penal. No entanto, é evidente que esta modernização não ocorreu de maneira adequada, o que culminou no caos prisional contemporâneo, desvirtuando o sentido da aplicação de pena, tornando-a um flagelo para além do que a pena em si produz, degradando o indivíduo como cidadão, e trazendo consequências nos índices de reincidência e até o asseveramento da violência que este indivíduo emprega no cometimento de crimes.

Como Foucault (1987) trouxe em seu clássico da ciência penal, “Vigiar e Punir”, a pena deve guardar proporção ao crime, sendo o mais natural possível quando realizada a analogia entre eles:

Esses sinais-obstáculos devem constituir o novo arsenal das penas, como as marcas-vinditas organizavam os antigos suplícios. Mas, para funcionar, têm que obedecer a várias condições: 1) Ser tão pouco arbitrários quanto possível. É verdade que é a sociedade que define, em função de seus interesses próprios, o que deve ser considerado como crime: este, portanto, não é natural. Mas se queremos que a punição possa sem dificuldade apresentar-se ao espírito assim que se pensa no crime, é preciso que, de um ao outro, a ligação seja a mais imediata possível: de semelhança, de analogia, de proximidade. É preciso dar à pena toda a conformidade possível com a natureza de delito, a fim de que o medo de um castigo afaste o espírito do caminho por onde era levado na perspectiva de um crime vantajoso. (FOUCAULT, 1987, p. 123)

Fica claro que a intenção não é ocasionar sofrimento ou humilhação, no entanto, a desorganização do poder sancionador do Estado brasileiro acaba por causar este efeito no detento, pois sob condições precárias, são submetidos a cumprimentos de sentença semelhante, criminosos de condutas importantemente

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distintas, o que pode contribuir para agravar os comportamentos criminais dos indivíduos, quando em contato com este meio que extrapola o suplício necessário ao caso concreto.

Para Alves (2010):

Ora, se o exercício da vontade é o que caracteriza a liberdade e delimita a própria existência do ser, para Hegel, então, qualquer ato que viole essa liberdade, atingindo essa vontade, pode ser visto como uma violência, e posteriormente, como um crime. Desta forma é que se ergue o instituto da punição, pois, segundo Hegel, uma violência é anulada com outra violência. A violência torna-se jurídica quando é empregada contra outra violência, no sentido de anulá-la e assim garantir a existência do ser pela manutenção de sua liberdade. Coagir o coator torna-se, então, o maior exercício jurídico de proteção da liberdade, no momento em que a violência estatal, por meio da pena, transforma-se em segurança e em garantia constitucional, e não mais é vista como mera repressão do ordenamento jurídico. (ALVES, 2010, p. 80)

Já em Beccaria (1764), se apresenta a delimitação da sanção em relação ao processo evolutivo de uma sociedade, guardando a devida proporção à pacificidade do povo que se sujeita a esta:

Termino por esta reflexão: que o rigor das penas deve ser relativo ao estado atual da nação. São necessárias impressões fortes e sensíveis para impressionar o espírito grosseiro de um povo que sai do estado selvagem. Para abater o leão furioso, é necessário o raio, cujo ruído só faz irritá-lo. Mas, à medida que as almas se abrandam no estado de sociedade, o homem se torna mais sensível; e, se se quiser conservar as mesmas relações entre o objeto e a sensação, as penas devem ser menos rigorosas. (BECCARIA, 1764, p. 31)

Já em obra contemporânea nacional, no livro “Bandidolatria e Democídio”, dos Promotores de Justiça do Rio Grande do Sul, Diego Pessi e Leonardo Giardin de Souza (2017), onde são expostos estudos de cientistas criminais renomados no cenário mundial, há uma fala que refere da necessidade de responsabilização do indivíduo em relação à escolha da prática delituosa, e o trabalho psicossocial que incuta no pensamento deste, a consciência da erroneidade dos seus atos:

Uma vez abandonadas as fúteis especulações teoréticas, é possível enfrentar o problema diretamente em sua raiz. O método defendido por Samenow foi concebido por seu orientador, Dr. Samuel Yolchenson, que obteve êxito na socialização de delinquentes

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contumazes incutindo-lhes noções de alteridade e tornando-os membros responsáveis da sociedade. Deve-se, antes de mais nada, apresentar ao delinquente uma visão realista e acurada dele mesmo, com o objetivo de ensiná-lo a identificar e modificar os padrões de pensamento que o levaram a adotar um comportamento criminoso. É fundamental insistir que os criminosos sejam tratados como responsáveis pelos seus atos, e vistos (inclusive por si próprios) não como vítimas, mas vitimadores. A eliminação do comportamento criminoso deve ser precedida pela demolição dos velhos padrões de pensamento criminoso do delinquente, que serão substituídos por padrões de responsabilidade e integridade totalmente desconhecidos para o apenado. (PESSI; GIARDIN DE SOUZA, 2017, p. 31)

Resulta da homogeneização desses aspectos diversos, a consciência da urgência por soluções práticas ao caos prisional, para que se possa obter respostas melhores das penas aplicadas em relação ao investimento realizado pelo Poder Público, proporcionando ao indivíduo infrator, um meio salubre e justo na execução penal, para que este seja devolvido ao seio de convivência social, ciente de suas responsabilidades, edificado por ter pago sua dívida para com a sociedade.

2.1. A violência e o encarceramento no Brasil em números

Segundo o Banco Nacional de Monitoramento de Presos (BNMP 2.0), levantamento do Conselho Nacional de Justiça, no dia 6 de agosto de 2018, constava 602.217 pessoas cadastradas no sistema em situação de privação de liberdade, abrangidas as prisões civis e internações como medidas de segurança, distribuídas nas unidades da Federação. Destes, 0,11% são presos civis; 0,15% são pessoas cumprindo medida de segurança na modalidade internação; 99,74% são pessoas presas em processo de natureza penal.

Ainda, segundo o mesmo levantamento do CNJ, dos crimes imputados às pessoas recolhidas ao sistema prisional, 27,58% referem-se ao crime de roubo, simples ou nas formas agravadas, exceto latrocínio, 24,74% ao tráfico de drogas e condutas associadas, 11,27% aos homicídios, e 8,63% aos crimes de furto. Destaca-se a taxa de 1,46% de imputações oriundas de crimes contra a Administração Pública e 0,79% de crimes previstos na lei das organizações criminosas, perfazendo

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2,25% das imputações que envolvem pessoas privadas de liberdade no sistema de justiça criminal brasileiro.

Em questionário facultativo, observa-se que a faixa etária das pessoas privadas de liberdade no país, 30,52% têm tem entre 18 e 24 anos e 23,39% entre 25 e 29 anos de idade, demostrando que mais da metade da população carcerária registrada no Banco tem até 29 anos. Não estão incluídos os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação ou semiliberdade.

Quanto à etnia, apenas 34,71% respondeu ao questionário, autodeclarando sua raça/cor, resultando em 43,62% pardos, 42,03% brancos, 11,34% negros, 2,47% outros, 0,43% amarelos, 0,12% indígenas. No entanto, um dado de extrema relevância diz respeito à escolaridade do preso, com percentuais altíssimos de encarceramento nos níveis de ensino fundamental completo (52,27%), ensino fundamental incompleto (24,04%), restando no ensino médio completo (13,72%), ensino médio incompleto (6,11%), analfabetos (2,51%) e outros (1,35%), pequena faixa de encarceramento, tendo respondido a este questionário, também facultativo, 34,51% das pessoas.

Estes dados trazidos anteriormente demonstram a direta ligação entre a baixa escolaridade do indivíduo e a natureza dos crimes, majoritariamente patrimoniais e relacionadas ao tráfico de entorpecentes, possibilitando a reflexão de que a carência de oportunidades profissionais e de aperfeiçoamento do indivíduo aumenta a probabilidade deste cometer tais crimes. Não se justificam as condutas com esta análise, porém, não é possível dissociá-las de suas causas latentes.

Para buscar a redução do cometimento de crimes, é indispensável que o Poder Público invista em sistemas de ressocialização do indivíduo penalizado, pois se anteriormente ao cometimento do crime este já tinha dificuldade de empregar e profissionalizar-se, posteriormente esta dificuldade aumentará, alimentado pelo preconceito e receito da sociedade em conviver e empregar este indivíduo.

Conforme o art. 10 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984) preceitua in verbis, “a assistência ao preso e ao internado é dever do

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Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.” (BRASIL, 1984). Podemos então concluir, que o Estado tem por dever a busca da reinserção deste indivíduo em sociedade.

No campo acadêmico, iniciam-se os debates e formulações de atitudes para concretizar tais meios de reinserção, devendo ser feita a análise da situação fática da sociedade para proporcionar o cumprimento dos direitos individuais do apenado ou egresso, no entanto, sem posicioná-lo como vítima do sistema punitivo por sua condição social, buscando a adequação do seu comportamento social, para que possa viver de forma digna, tendo seus direitos respeitados, e respeitando também aos demais cidadãos.

O Atlas da Violência no Brasil, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2018, demonstra que entre 2006 e 2016, houve aumento significativo na taxa de homicídios no Brasil:

Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS), em 2016 houve 62.517 homicídios no Brasil. Isso implica dizer que, pela primeira vez na história, o país superou o patamar de trinta mortes por 100 mil habitantes (taxa igual a 30,3). Esse número de casos consolida uma mudança de patamar nesse indicador (na ordem de 60 mil a 65 mil casos por ano) e se distancia das 50 mil a 58 mil mortes, ocorridas entre 2008 e 2013. (IPEA, 2018, p. 20)

Assim, é possível compreender que o sistema punitivo nos seus contornos atuais não mais responde adequadamente às necessidades da sociedade contemporânea, ainda mais quando se sabe que os crimes com emprego de violência são comumente praticados por criminoso reincidente, utilizando-se de arma branca ou de fogo, porém sem o devido registro e regularização perante os sistemas de controle destas, o que dificulta na solução dos crimes e, consequentemente, na punição do indivíduo infrator.

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Conforme o Instituto Sou da Paz, no estudo “Onde Mora a Impunidade”, publicado em dezembro de 2017, o índice de elucidação de crimes no Brasil é ínfimo, demonstrados dados de alguns estados, que são comuns à média nacional:

No Rio de Janeiro, pesquisa realizada pelos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Michel Misse e Joana Vargas, em 2007, encontrou uma taxa de apenas 14% de elucidação para homicídios registrados entre 2000 e 2005, ao passo que o especialista em segurança pública Luís Flávio Sapori levantou uma taxa de 15% de elucidação em Belo Horizonte em pesquisa referente a homicídios ocorridos em 2005. Em São Paulo, o Instituto Sou da Paz publicou levantamento em outubro de 2017 sobre uma amostra representativa de inquéritos de homicídio doloso da qual 34% geraram denúncias penais e apenas 5% chegaram a ser julgados. (ISP, 2017, p. 5)

Tais dados deixam nítida a realidade de impunidade que se instaurou no Brasil, o que é sentido não só pela população em geral, mas especialmente pelo criminoso contumaz, que opera com violência e sem nenhum tipo de compunção em relação ao mal que causa com seus atos.

2.2. Limites e possibilidades da pena de prisão no país

O sistema punitivo brasileiro tem parâmetros estabelecidos em diversos diplomas legais, todos fundados no texto constitucional, principalmente no art. 5º, LXI, segundo o qual “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”; assim como no inciso LXVII há a previsão de que não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel, sendo que a última parte deste inciso não mais se aplica, desde que o Brasil tornou-se signatário do Pacto de São José da Costa Rica, ratificado pelo decreto 678/92, onde, no Art. 7º, 7, traz que ninguém deve ser detido por dívida, não limitando os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.

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Ainda a Carta Magna brasileira, explicitando no art. 5º, LXVI, aduz que ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança, o que denota que a prisão é a exceção, e não a regra, devendo haver a busca pelos meios alternativos a ela, sendo aplicada quando nada mais couber, concordando com a expressão do art. 282, § 6º, do Código de Processo Penal: “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: § 6ºA prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319).”

Desta maneira, vige no ordenamento jurídico pátrio o Código Penal desde 1940, apresentando no art. 38 a premissa de que o preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral. Denota que, na aplicação da sanção penal, a limitação é clara quando restringe as medidas repressivas à condenação sofrida, resguardando-se o devido processo legal, assim como o contraditório e a ampla defesa.

Além da limitação jurídica constitucional e penal, há a regulamentação do cumprimento da pena na Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), que traz as diretrizes operacionais da execução penal, esclarecendo inicialmente, o propósito ao qual a penalização se destina: “art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.”

O Código de Processo Penal traz alternativas à prisão, por medidas cautelares elencadas no artigo 319 e incisos:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

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IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica.

A doutrina majoritária é concorde quanto à necessidade de uma maior aplicação das medidas diversas à prisão como forma de combater a lotação dos estabelecimentos prisionais, principalmente quando se refere às prisões preventivas cautelares, que antecedem o trânsito em julgado de sentença condenatória, baseando-se especialmente em um princípio fictício chamado in dubio pro societate, que justificaria a manutenção do encarceramento do indivíduo fundado no receio de que a sua reintegração à sociedade traria prejuízos pela continuidade delitiva e risco de fuga.

Em análise ao acórdão de julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 44 do Supremo Tribunal Federal (STF), datada de 05 de outubro de 2016, tendo como relator o Ministro Marco Aurélio Mello, é possível extrair do voto do Ministro Edson Fachin, um fundamento norteador para a ação do Poder Judiciário quando da interpretação dos textos legais:

Essas não foram e não são a essência desse entendimento. Estou convicto que o enfrentamento do crime, qualquer que seja, se faz dentro das balizas constitucionais. Cabe ao Poder Judiciário assegurar que os órgãos de persecução se comportem de acordo com a Constituição e as leis. Abuso de poder, especialmente do Poder Judiciário, cumpre coibir onde e quando houver. (STF – ADC 44, 2016, p. 32)

Oportuno dizer que no julgamento pelo pleno do Supremo Tribunal Federal a ADC acima citada, assim como na de número 43, que tratou de assunto análogo, decidiram no sentido de denegar que a prisão para execução penal só poderia

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ocorrer após o trânsito em julgado de sentença condenatória, esgotadas todas as vias e prazos recursais possíveis no arcabouço jurídico pátrio. Tal tema voltou à apreciação da Corte Suprema brasileira em 15 de fevereiro de 2019, onde foi mantida a postura do Tribunal em relação ao caso. Portanto, aplica-se tal jurisprudência consolidada que respalda a prisão antes de transitar em julgado a sentença condenatória.

2.3. A execução penal e suas fragilidades

Matéria de extrema complexidade nos dias atuais, a execução penal tem apresentado degradação estrutural progressiva, chegando ao extremo de receber repreensão pela Organização dos Estados Americanos na Medida Cautelar n° 8-13, de 30 de dezembro de 2013, em virtude do alto grau violação dos direitos humanos no Presídio Central de Porto Alegre, determinando adequações diversas a fim de melhorar as condições de vida dos apenados, atingindo o mínimo de dignidade exigida nesse caso, o que não ocorria – e ainda não ocorre – para que a pena possa cumprir o objetivo de ressocializar.

As entidades que integram o Fórum da Questão Penitenciária (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS, Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul – ADPERGS, Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul – AMPRS, Clínica de Direitos Humanos da Uniritter, Conselho da Comunidade para Assistência aos Apenados das Casas Prisionais Pertencentes às Jurisdições da Vara De Execuções Criminais e Vara De Execução De Penas e Medidas Alternativas de Porto Alegre – RS, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul - CREA-RS, Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul – CREMERS, Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia – IBAPE-RS, Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais ITEC-RS, Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais ITEC-RS, Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rio Grande do Sul - OAB/RS, Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero) avaliaram a situação do presídio, por meio de visita in loco em 16 de outubro de 2017, incluindo fatores como estrutura, superlotação, perda do controle interno e o domínio das facções, assistência material sonegada, revista e

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visitas íntimas, ausência das devidas condições de estudo e trabalho, alimentação e saúde.

Desta visita, resultou o relatório direcionado ao Secretário Executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em 24 de novembro de 2017, que pontuou como críticos muitos dos pontos enunciados anteriormente, frisando especialmente que a estrutura física encontra-se totalmente em desacordo com os parâmetros de segurança adequados, pela obsolência funcional e condições precárias de habitabilidade; também, a continuidade – e piora – nos índices de superlotação, apesar da transferência de um bom número de detentos a outras instituições prisionais, houve a demolição de um dos pavilhões do presídio por risco de desabamento, o que asseverou a sobrelotação do local, ocasionando a falta de camas, higiene e espaço adequado à saúde do detento; ainda, o descontrole interno e o domínio das facções criminosas, conforme o relatório:

Portanto, a situação do controle interno e domínio do presídio pelas facções só tem piorado desde a representação em 2013, na qual já se evidenciava um abuso, seja no controle das galerias, seja pela utilização de presos para a realização de serviços típicos e próprios de controle, como abertura das portas das galerias, realizadas pelos “plantões de chave” que, ao se submeterem a esse tipo de atividade ficam jurados de morte pelo restante da massa carcerária. Segundo já disposto na representação, o controle de uma determinada galeria significa o controle, por parte das facções, não apenas do tráfico de drogas naquela galeria, mas o tráfico de drogas de uma determinada região da cidade, da qual provêm os presos daquela galeria. Além disso, em razão do controle das galerias pelas facções, há entrada de armas e munição no Presídio Central. (AJURIS, 2017, p. 9)

Além disso, narrou-se a sonegação de assistência material obrigatória, como material de higiene, roupas de cama e cobertores, toalhas, assim como alimentos em quantidade, que acabam sendo fornecidos pelas famílias dos detentos ou comercializados em negociações paralelas entre os próprios apenados, com alto custo, o que mantém o domínio das facções. Já havia sido identificada na inspeção da OEA, a existência de “cantinas” privadas, que comercializam mantimentos aos detentos com valor acima do mercado, sendo que estas são pertencentes àqueles que possuem condições financeiras melhores, necessitando de autorização do “prefeito” da galeria para concretização a aquisição de alimentos básicos, o que não

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apresentou nenhuma evolução quando da vistoria do Fórum das Questões Penitenciárias.

O único aspecto que teve melhora foi a saúde, que ainda não se encontra em patamares ideais em função da estrutura física do local, assim como a carência alimentar, no entanto, é possível perceber através do que foi narrado no documento a que está se referindo, que há acréscimo na qualidade de vida do apenado:

A melhora no atendimento à saúde é decorrente de dois fatores. O primeiro está relacionado ao convênio feito com o Município de Porto Alegre para o atendimento básico à saúde dos presos, usando como referência o Hospital Vila Nova. A prestação de serviços decorrente dessa contratação permite que os presos recolhidos no Presídio Central possam receber um atendimento semelhante ao que receberiam na rede pública em geral, caso estivessem soltos. Assim, passaram as ser evitadas mortes que antes aconteciam por causas simples e tratáveis, como por exemplo broncopneumonia. O segundo fator de melhora na questão da saúde está associada a instalação de um posto avançado do Poder Judiciário no interior do Presídio Central, o que ocorreu no final do ano de 2012. A presença frequente de um magistrado na unidade prisional trouxe melhoras substanciais ao fluxo de informações na área da saúde, tornando menos burocrática a comunicação entre o sistema de saúde e sistema judiciário, viabilizando maior agilidade no trânsito das comunicações. Assim, os fatos mais graves e complexos envolvendo a saúde dos aprisionados, não tratáveis na unidade básica da unidade prisional, por falta de estrutura e médicos credenciados nas respectivas especialidades, passaram ser informados instantaneamente ao juiz responsável, de forma que diversas prisões domiciliares e indultos humanitários passaram a ser deferidos pelo Poder Judiciário com maior celeridade, possibilitando o acesso dos doentes à rede pública em geral, sem qualquer escolta policial, por não mais vigente ordem de restrição de liberdade. (AJURIS, 2017, p. 16)

É evidente a tentativa de contribuir para a melhoria da execução penal no caso específico que foi referido acima, no entanto, as dificuldades financeiras que enfrenta o estado do Rio Grande do Sul, assim como diversos outros entes da federação, além da União, obstaculiza a concretização dos atos necessários às modificações propostas. Por exemplo, em relação à sobrelotação do PCPA, houve um asseveramento tão intenso, que não se aceitam novos detentos enquanto não há liberação de novas vagas, o que criou um complicador ao ato das prisões na capital gaúcha, onde muitos indivíduos presos em flagrante ou em cumprimento de mandado de prisão, que são apresentados detidos pela Brigada Militar (BM) nas delegacias da Polícia Civil, ficam aguardando por muitas horas, chegando até a dias,

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dentro de viaturas ou celas improvisadas em ônibus da BM, sem a menor estrutura para que permaneçam com dignidade e salubridade. Uma tentativa paliativa foi a aquisição, pela Secretaria da Segurança Pública, de contêineres para serem usadas como celas de triagem enquanto as vagas em estabelecimentos prisionais não são disponibilizadas, porém, pela precariedade e insegurança dessas estruturas, elas foram desativadas logo após a aquisição.

2.3.1. A busca por soluções para as fragilidades da execução penal

Quanto às ações para buscar soluções para os problemas da execução penal do país, é possível elencar a tornozeleira eletrônica, que foi desenvolvida no fim dos anos 70 pelo Juiz americano Jack Love, que idealizou a invenção de um aparelho para poder vigiar os presos, com inspiração na história em quadrinhos do homem aranha, na qual o vilão fixou um bracelete eletrônico no braço do protagonista, monitorando-o. Então, contratou um engenheiro que desenvolveu um sistema de monitoramento muito parecido com o da história em quadrinhos. Foi o próprio magistrado, em 1983 que testou o protótipo, e posteriormente, cinco detentos passaram a ser fiscalizados através da pulseira eletrônica. Logo outros estados americanos aderiram ao programa.

Os fatores preponderantes para tal uso foram o avanço tecnológico, o aumento no custo da população carcerária, além do uso crescente de prisão domiciliar e do recolhimento noturno. Pode ser utilizada na prisão domiciliar, regime aberto ou semiaberto, e inicialmente, tinha intuito de reduzir a superlotação dos presídios, sem prever qualquer tipo de diferenciação ou classificação dos detentos. A redução de custos pelo uso das tornozeleiras foi muito elogiada, no entanto, devido ao grande número de apenados, os agentes encarregados da fiscalização não supriam tamanha demanda. Então, buscou-se um dispositivo que fosse barato, seguro e que pudesse suprir a falta de agentes para fiscalizar. Porquanto, passou a ser utilizada a vigilância eletrônica em maior escala, monitorando e fiscalizando os apenados em confinamento domiciliar e recolhimento noturno. Paulatinamente, o uso de monitoramento eletrônico foi se difundindo, atualmente é instrumento imperativo aos sistemas de justiça criminal de muitos países.

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O dispositivo legal que viabiliza a utilização desse meio tecnológico se formata a partir da Lei nº 12.258/2010, que alterou a Lei de Execução Penal, acrescentando os seguintes itens:

Seção VI

Da Monitoração Eletrônica Art. 146-A. (VETADO).

Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando:

I - (VETADO);

II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto; III - (VETADO);

IV - determinar a prisão domiciliar; V - (VETADO);

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:

I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações; II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça;

III - (VETADO);

Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa:

I - a regressão do regime;

II - a revogação da autorização de saída temporária; III - (VETADO);

IV - (VETADO); V - (VETADO);

VI - a revogação da prisão domiciliar;

VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste parágrafo.

Art. 146-D. A monitoração eletrônica poderá ser revogada: I - quando se tornar desnecessária ou inadequada;

II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante a sua vigência ou cometer falta grave. (BRASIL - LEP, 2010)

Outra iniciativa para a reinserção do indivíduo na sociedade é o Programa Começar de Novo, onde o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) juntamente com o Ministério da Justiça promovem políticas alternativas de execução penal, buscando a aplicação de penas alternativas, que buscam concretizar efeitos mais rapidamente e diminuir a segregação do indivíduo ao encarcerá-lo. O CNJ através programa

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Começar de Novo, dirige à integração dos órgãos públicos e da sociedade civil, para originar a simplificação da abertura de postos de trabalhos para detentos e ex-detentos, e ainda promover a capacitação para o trabalho.

O Começar de Novo visa a sensibilização de órgãos públicos e da sociedade civil para que forneçam postos de trabalho e cursos de capacitação profissional para presos e egressos do sistema carcerário. O objetivo do programa é promover a cidadania e consequentemente reduzir a reincidência de crimes. (CNJ, 2019)

Para tanto, o Conselho Nacional de Justiça criou o Portal de Oportunidades, uma página na internet que gerencia vagas de trabalho e cursos de capacitação oriundas de instituições públicas e privadas, ofertando para detentos e egressos do sistema correcional. Ainda, os presos de todo o Brasil dispõe da produção da Cartilha da Pessoa Presa e a da Cartilha da Mulher Presa, que contêm informações de como, por exemplo, impetrar habeas corpus ou redigir petição simplificada de requerimento de algum benefício a que este tenha direito. Explicam também sobre deveres, direitos e garantias dos apenados e presos provisórios. Tais cartilhas estão disponíveis no portal do CNJ e também são difundidas pelo grupo de monitoramento e fiscalização do sistema carcerário dos estados (GMFs).

As empresas que proporcionam cursos de capacitação ou vagas de trabalho aos presos, egressos, cumpridores de penas e medidas alternativas, bem como para adolescentes infratores, o CNJ concede o Selo do Programa Começar de Novo, sendo necessário demonstrar a efetivação dos concursos ou a contratação, bem como demais condições previstas na Portaria do CNJ de nº 49, de 30 de março de 2010.

Comumente, estas políticas são desenvolvidas em locais retirados dos centros urbanos, como exemplo, projeto desenvolvido no Espírito Santo, onde foram alocados cerca de 1600 detentos e ex-detentos em postos de trabalho. Já na Bahia no ano de 2010, foi concretizado o projeto Começar de Novo, através Tribunal de Justiça da Bahia e Governo do Estado, onde foi realizada ação de capacitação de detento e egressos.

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No mesmo sentido de promover a reintegração do indivíduo no meio social e do mercado de trabalho, opera a Colônia Penal Agrícola (CPA) em Piraquara/PR, tendo atualmente 1361 detentos do sistema penitenciário paranaense que cumprem pena na CPA, destes, 97,2 % da população carcerária emprega sua mão-de-obra nos 92 canteiros de trabalho e atividades industriais, conservação, manutenção, cozinha, olaria, agropecuária, rouparia, barbearia, e construção civil. No interior da área da Colônia Penal, há uma fábrica de contêineres e de reforma de chassi de caminhões, onde os 40 funcionários/detentos que trabalham ali, ganham 70% do salário mínimo e remindo um dia de pena a cada três dias trabalhados.

Há também o Projeto Pintando a Liberdade, que absorve mão-de-obra de 20 internos na fabricação de bolas de futebol de campo e de salão, redes esportivas e bonés. O projeto é uma iniciativa do Ministério do Esporte e Turismo com objetivo de promover as atividades esportivas dos menores carentes. Comporta também Auto Capas e Capotas Felipe Ltda., que produz capotas para todos os tipos de pick-up nacionais e importadas, redes para caçambas, capas para carros, capas marítimas, sacos de areia para carrocerias. Além do Flexi Office Store, industrialização e pintura de aglomerado de fibra de madeira de média densidade, em peças para móveis de escritório. Estes detentos fizeram um curso de dois meses no SENAI, para aprender o ofício de soldador. Agora, especializaram-se também na parte elétrica dos caminhões que reparam, de ferramentaria, e desenvolvem outras atividades necessárias ao bom funcionamento da fábrica. Quando terminarem de cumprir suas penas, estarão aptos a ingressar no mercado de trabalho com boa experiência.

A partir dos modelos trazidos anteriormente, é possível observar que já existem projetos em busca de aperfeiçoamento da execução penal, para que o consequência do cumprimento da sanção penal seja um cidadão quite com a sociedade e consciente da função pela qual a medida repressiva é aplicada. Um pesar que a situação fática em geral divirja tanto desses bons exemplos, ocasionando degradação moral e abalo à dignidade do indivíduo que precisa saldar sua dívida para com o sistema jurídico social.

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3 VIOLÊNCIA, (IN)SEGURANÇA E CRIME NO BRASIL: UM CENÁRIO DIFÍCIL

A partir de agora, passaremos a avaliar a realidade de violência alarmante que assola o país. Em virtude de que o Brasil tem extensão territorial continental, além da diversidade resultante do processo colonizatório multiculturalista, resta dificultada uma padronização analítica, já que apresenta grande variação estatística até mesmo dentro das macrorregiões, mas ainda assim, comparar-se-ão parâmetros baseados em dados oficiais relativos aos registros efetuados pelos órgãos competentes.

Não há de se falar em sensação de segurança na percepção do brasileiro, pois a maior fração populacional vive nos grandes centros, onde se constata a situação caótica enfrentada quando se está diante da temática de segurança pública. Um complicador nessa equação é a crise financeira que o país enfrenta nos últimos anos, que demanda redução drástica nos investimentos em aparato operacional das polícias, incluindo equipamento e contratação e aperfeiçoamento de material humano, assim como no poder judiciário, para que o iter processual possa transcorrer de maneira mais célere, respeitando a duração razoável do processo e a concretização de medidas realmente necessárias de encarceramento ou medidas diversas que possam reaproximar o infrator da correção de atitudes e da vida em comunidade de maneira ordeira e pacífica. Ainda nesse aspecto da escassez de investimento, vemos como o principal ponto negativo quando se faz a relação causa/efeito: estrutura precária e insuficiente da educação da criança e do jovem no país, pois não há de se falar em dissociação da criminalidade em relação à dificuldade de acesso ao ensino de qualidade, seja ele básico, médio ou profissionalizante, proporcionando a geração de oportunidade de crescimento pessoal e profissional, afastando o indivíduo da marginalização.

Como visto no Capítulo 2, item 2.1 deste trabalho, os percentuais mais expressivos se revelam quando analisada a escolaridade do detento, representando a maioria de 52,27% destes com formação fundamental completa, destoando imensamente do índice de 13,72% de presos que completaram o ensino médio, não

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sendo possível a análise com exatidão em relação aos que atingiram a graduação. (CNJ, 2018)

Ressalte-se que não é exclusiva a relação entre a baixa escolaridade e a criminalidade, mas irrefutável que as oportunidades de aprimoramento cultural e educacional do indivíduo trazem-lhe benefícios no tangente à colocação junto ao mercado de trabalho, deixando-o menos exposto a situações de vulnerabilidade financeira e consequente necessidade que o leve a cometer crimes de cunho patrimonial ou associação ao tráfico, que representam a grande maioria de presos no sistema penitenciário atualmente.

Conquanto, atitudes paliativas isoladas visando a responder a determinada demanda de forma célere vêm demonstrando a fragilidade no planejamento estratégico a médio e longo prazos, principalmente quando se referem ao crime organizado, que pouco encontra limitação de recursos, muito menos de burocracia na execução do suas rotinas. O Poder Público tem pecado no concernente à articulação e coordenação das suas forças de segurança, deixando de agir de maneira integrada, o que viabilizaria mais poderio informação e troca de experiência entre si, evitando situações de desencontro como se observa de forma corriqueira.

Muito bom exame encontra-se no Atlas da Violência (IPEA, 2018), que alinha-se à ideia de necessidade de cooperação para obtenção de resultados melhores:

Nossa Carta Magna diz que segurança é condição basilar para o exercício da cidadania (art. 5º) e é direito social universal de todos os brasileiros (art. 6º). Sendo assim, é em torno destes comandos que precisamos analisar o quadro das respostas públicas frente ao medo, à violência, ao crime e à garantia da cidadania. Por esse conceito, percebemos que as instituições públicas responsáveis por prover justiça criminal e segurança, bem como garantir os direitos, trabalham muito, mas fazem isso quase sem nenhuma coordenação e articulação. Cada uma atua em uma direção e sem convergência de metas e de processos; sem que uma política criminal baseada

nos comandos constitucionais citados seja efetivamente

implementada. (IPEA e FBSP, 2018, p. 88)

Em decorrência da ineficácia das ações de segurança pública em relação às demandas de violência e criminalidade, a população tem a sensação de insegurança

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muito latente, gerando até uma espécie de histeria coletiva, onde o medo passa a respaldar falas radicalizadas e ideologizadas, balizando excessos e relativizando as garantias e direitos em detrimento de um mínimo de segurança.

Não se escusa, no entanto, o indivíduo infrator de suas responsabilidades para a construção de uma sociedade pacífica e justa, pois mesmo que houvesse um gigantesco e primorosamente equipado aparato para servir como braço do Estado, não seria suficiente para conter o animus criminis do delinquente, exigindo-se uma postura preventiva por parte do Poder Público, com investimento em estrutura educacional robusta, economia sólida que propicie a oferta regular de vagas de emprego, porém mantendo-se o poder repressivo-punitivo em condições de sancionar adequada e proporcionalmente a conduta infracional. Posicionando opinião neste sentido, há passagem no apêndice da obra dos Promotores de Justiça Diego Pessi e Leonardo Giardin de Souza:

O problema todo é que essa rotulagem é desconectada da estrutura da realidade. Sim, para escândalo das mentes (de)formadas que essa mentalidade mesma tem construído há alguns séculos, a condição humana não é apagada por uma conduta brutal ou bárbara. Hitler é humano. Stalin é humano, tão humano quanto você, São Francisco de Assis, o Santo Padre Pio, Nietzsche e todos animais racionais que andaram, andam e andarão pela crosta terrestre e pelo espaço sideral desde o surgimento do primeiro homo sapiens. Os atos de um santo e os atos de um assassino em série ou de um genocida são atos humanos. Não há necessariamente vantagem em ser “humano”. Ao contrário: há nisso uma enorme carga de responsabilidade. Porque, dependendo de como fazemos uso da racionalidade que nos diferencia dos animais, podemos operar maravilhas quase divinas ou provocar danos infinitamente superiores aos que pior das bestas-feras seria capaz. (2017, p. 228-229)

Tal contraponto é importante quando confronta a situação cotidiana e a teoria jurídica, pois em muitos casos, não se trata de falha do sistema por si só, mas uma junção de fatores que incluem a determinação do sujeito em delinquir e questões socioambientais, necessitando de análise casuística profunda para a tomada de providência adequada, sem tornar a atuação jurisdicional do Estado, algo injusto à causa-efeito das ações do indivíduo infrator.

Referências

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