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D.CIVILII AULA2 NEGÓCIOJURIDICO

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Academic year: 2021

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Disciplina: Direito Civil Tema: Fatos Jurídicos

1. FATO JURÍDICO E NEGÓCIO JURÍDICO Teoria Geral dos Fatos Jurídicos

Fato: qualquer acontecimento/evento que não produza (nenhum) efeito na órbita do Direito. 1.1 - Fato jurídico (lato sensu): acontecimento que tem ou pode ter efeito jurídico.

Surgimento: necessidade de regras de convivência – homo socialis – surgimento do Direito: definição de “pesos e medidas” para os fatos correntes na vida dos homens em sociedade.

Fatos: em sentido puro - acontecimentos diuturnos ocorridos por força da natureza ou da conduta humana.

Importância do fato: alteração do equilíbrio na posição do homem diante dos outros homens, deve ser regulada pelo direito, de modo a resguardar a convivência social do conflito.

Norma jurídica: atribuição de valores a cada um destes acontecimentos (fatos).

Qualificação e adjetivação dos fatos: conseqüências específicas - efeitos jurídicos – juridicização dos fatos.

A norma jurídica que atribui valor ao acontecimento fático, seja natural ou provocado, também lhe atribui força coercitiva, que somente é possível existir em fatos qualificados como jurídicos. Sendo assim, são fatos jurídicos aqueles acontecimentos que, em razão de sua importância para as relações humanas, merecem receber a incidência da norma jurídica.

Cristiano Chaves diferencia fato jurídico de fato material (ajurídico). Classificando como “fato material aquele acontecimento que embora pudesse produzir efeitos e constituir-se em um fato jurídico, não o faz, sendo somente um acontecimento sobre o qual a norma não incidirá e que, portanto, não terá conseqüência (efeito jurídico)”.

Conceitos de Fato Jurídico:

Para os clássicos: “são fatos jurídicos os que produzem um evento jurídico, que pode consistir, em particular, na constituição, modificação ou extinção de uma relação jurídica, ou também na substituição de uma relação jurídica nova a uma relação preexistente e ainda na qualificação de uma pessoa, duma coisa ou de um outro fato”.

Caio Mário: “Todo acontecimento em virtude do qual começam ou terminam as relações jurídicas”. (ausente a aptidão modificativa e conservativa).

Washington de Barros: “Os acontecimentos de que decorrem o nascimento, a subsistência e a perda dos direitos, contemplados em lei, denominam-se fatos jurídicos (lato sensu)”.

Orlando Gomes: “O fato jurídico em sentido amplo é todo acontecimento, dependente ou não da vontade humana, a que o Direito atribui eficácia”.

Para a doutrina clássica a existência do “fato jurídico” está necessariamente vinculada a seus efeitos.

Pontes de Miranda define o fato jurídico “como o fato ou complexo de fatos sobre o qual incidiu a regra jurídica; portanto o fato de que dimana, agora, ou mais tarde, talvez condicionalmente, ou talvez não dimane, eficácia jurídica”.

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“fato jurídico é aquele acontecimento capaz de criar, modificar, substituir ou extinguir situações jurídicas concretas, tendo potencialidades de produzir tais efeitos, mas não necessariamente fazendo-o”.

“O fato jurídico como o evento concretizador da hipótese contida na norma, abrange os acontecimentos naturais (fato jurídico em sentido estrito), as ações humanas lícitas ou ilícitas (ato jurídico em sentido amplo e ato ilícito) e as ações humanas desprovidas de vontade que produzam algum efeito jurídico (ato-fato)”. (Pablo Stolze).

1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS LATO SENSU O Fato jurídico em sentido amplo abarca:

a) Fato Jurídico em sentido estrito: são os acontecimentos naturais, independentes da vontade humana, que produzem efeitos jurídicos;

a1) Ordinário: certo, comum, recorrente, previsível. Ex: morte; nascimento, decurso do tempo.

a2) Extraordinário: eventual, incomum, incerto, imprevisível. Ex.: Chuvas, inundações, terremotos, nevascas, enchentes, raios, caso fortuito (imprevisibilidade) e força maior (inevitabilidade), etc.

O caso fortuito é geralmente oriundo de elementos naturais, mas pode ser também causado pela ação humana, o que lhe transfere para a órbita dos atos jurídicos em sentido estrito.

b) Ato jurídico em sentido amplo (Ação humana lícita e ilícita): são condutas pessoais, positivas ou negativas (ação ou omissão), que deflagram efeitos na órbita do direito. Esses efeitos podem ser lícitos ou ilícitos.

Lícita: designa os acontecimentos que dependem da vontade humana para se realizarem e produzirem efeitos. São os atos jurídicos em sentido estrito e os negócios jurídicos;

b1) Ato jurídico em sentido estrito (não negocial): é o acontecimento provocado pela vontade humana cujos efeitos estão previstos na norma e por isso o sujeito somente adere a eles;

Nos atos jurídicos não negociais há uma vontade de declaração (atuação consciente).

Aplicam-se as disposições dos negócios jurídicos, no que couber, aos atos jurídicos não negociais (art. 185 do CC).

Ex: residência – domicílio civil; reconhecimento de filiação – direito sucessório; notificação; confissão; etc.

b2) Negócio jurídico: é o acontecimento originado da vontade humana que além de lhes dar vida também escolhe os efeitos que dele decorrem;

Ocorre a criação de acordo com a vontade (ex voluntae).

Nos negócios jurídicos há uma vontade qualificada, o que significa dizer que a vontade se dirige a um fim específico, desejado pelo agente.

Ilícita: é a atuação humana que produz efeitos contrários àqueles desejados pelo Direito, são os chamados atos ilícitos.

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Obs: os atos ilícitos são pressupostos do dever de indenizar. Também estão previstos na norma tanto a sua incidência como as suas conseqüências. (Artigos 186 a 188 do C.C/02)

c) Ato-fato jurídico: São os atos jurídicos que embora decorram da vontade humana, esta é irrelevante para a produção dos efeitos que a norma determina. (ex: achar um tesouro; incapaz pintar um quadro que adquira valor patrimonial; etc.).

Marcos Bernardes de Melo defende a existência dessa terceira categoria, embora não seja prevista em lei.

Nos atos-fatos jurídicos há uma vontade completamente desprezada.

Os elementos nucleares utilizados como diferenciais para a classificação são: a conformidade ou não com o direito; a presença ou não de ato humano volitivo.

Deste modo, se ocorre um evento oriundo da ação humana (ato jurídico em sentido amplo) capaz de gerar efeitos jurídicos (fato jurídico em sentido amplo) que não foram desejados pelo agente, dá-se a presença de um ato-fato.

1.3 Negócio Jurídico (noções gerais) - Arts. 104 a 184 – (Livro III – Dos fatos Jurídico- Título I – Do Negócio Jurídico)

1º momento: (séculos XI a XIX)

Necessidade de regulamentação das relações humanas “negociais”, oriunda de trocas e permutas, de circulação de bens e da necessária transferência da produção humana.

Diversas culturas possuíam concepções próprias a respeito do ato negocial, que recebia nomes variados (pacto, acordo, avença, compromisso, negócio, convenção, etc.) e regramentos específicos em cada região.

Individualismo francês: primeira concepção teórica a respeito: concepção racionalista fundamentada na expressão livre da vontade.

Igualdade formal: defendia a idéia de que as partes tinham a mesma liberdade de escolha e possuíam força igual para impor suas vontades. Os negociantes eram consideradas absolutamente iguais e a vontade manifestada era rigidamente imutável.

2º momento: (séculos XX e XXI)

Igualdade material: ideal de igualdade social; princípio da função social da propriedade; vontade condicionada às normas de Ordem Pública.

Constitucionalização das normas de direito privado: princípios constitucionais transportados para as relações jurídicas particulares: dignidade da pessoa humana; solidarismo social; boa-fé objetiva.

Relação jurídica desigual (contratos de adesão): necessidade de normas de proteção do contratante hipossuficiente frente à exploração econômica do contratante ao qual se adere.

Socialização das relações contratuais: limitação normativa da vontade; humanização nas manifestações da autonomia privada; respeito à individualidade e às condições sociais dos contratantes.

Teorias explicativas

Procurando explicar a existência, a razão de ser e o objetivo do negócio jurídico, podemos destacar na doutrina civilista quatro correntes principais: teoria voluntarista; teoria da declaração; teoria objetivista; e teoria estruturalista.

Teoria da vontade (voluntarista): define negócios jurídicos como “a manifestação de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos”.

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Esta teoria é a mais difundida entre os civilistas brasileiros que defendem a presença dela no antigo Código Civil (art. 85) e também no Novo Código Civil (art. 112).

Art. 85, C.C/16: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção que ao sentido literal da linguagem”.

Art. 112, C.C/02: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da linguagem”.

Teoria da declaração: para os adeptos desta teoria, a vontade declarada é a única capaz de produzir efeitos na órbita do direito.

Para eles, “a vontade não exteriorizada”, embora existente no mundo psíquico, é inexistente no mundo do direito objetivo por não ser conhecida do outro contratante, contaminando a própria existência do negocio jurídico. Para eles, o Novo Código adotou esta teoria na expressão “nelas consubstanciadas” do artigo 112.

Art. 112, C.C/02: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da linguagem”.

Teoria objetivista: estes defendem que o ato negocial é a expressão da autonomia privada, tendo essência normativa, o que permitia criar um ordenamento jurídico particular, exclusivo para os contratantes.

Teoria estruturalista: Para os seus defensores o que interessa na verificação e normatização dos negócios jurídicos é a estrutura mesma deste negócio, na qual devem estar presentes, tanto o ato de vontade, quanto a declaração da vontade, de modo a permitir que se tenham claras as circunstancias todas do ato negocial.

Concepção subjetivista: não sendo exatamente uma teoria individualizada, mas derivação natural da teoria voluntarista e estruturalista, esta concepção, segundo a doutrina majoritária, foi a escolhida pelo Código Civil de 2002, que considera essencial para os negócios jurídicos a vontade livre e a declaração expressa desta vontade, como se verifica dos artigos 110 e 111 do diploma civilista.

Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

Conceitos de Negócio Jurídico

Negócio Jurídico: “Todo ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos, se denomina ato jurídico”.

Embora a definição fale em “ato jurídico” o que se está a definir é “negócio jurídico”. (art. 81, CC/1916).

Novo Código Civil de 2002 (artigo 104): “Disposições gerais” - “Fatos Jurídicos” - expressão “negócios jurídicos”.

“Teoria Geral dos Negócios Jurídicos” (especificamente as que orientam a relação contratual). Norma geral para os contratos.

Parte especial do Código Civil: Livro I - “Direito das Obrigações”-; Título V – Dos contratos em Geral; Título VI – Das Várias espécies de Contrato.

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Regras Gerais dos negócios jurídicos: capacidade do agente; objeto; forma; ausência de vícios de vontade (erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo) e de vícios sociais (simulação e fraude contra credores), que se encontram nos artigos 104 a 184 ( Titulo I, do Livro III do C.C/02). Negócio jurídico é “todo fato jurídico consistente na declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”. (Antonio Junqueira de Azevedo).

Negócio jurídico é “toda declaração de vontade destinada à produção de efeitos jurídicos correspondentes ao intento prático do declarante se reconhecido e garantido por lei”. (Orlando Gomes)

Negócio jurídico é a “declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente”. (Pablo Stolze)

Planos de Existência, Validade e Eficácia do Negócio Jurídico

O negócio jurídico deve ser considerado sob três diferentes prismas: o da existência, o da validade e o da eficácia.

Plano da existência: é o plano do ser. Nele se incluem todos os fatos jurídicos, lícitos ou ilícitos. A inexistência diz respeito à falta de elementos fundamentais. Por isso o fato inexistente é o não-fato. O nada jurídico.

Compõem o plano de existência a presença de sujeito, objeto, vontade e expressão da vontade (forma).

Plano da validade (art. 104; 107; 108)): neste ângulo observa-se a presença perfeita no ato dos

requisitos exigidos pela lei. Assim, a ausência de algum elemento de validade torna o ato inválido (gênero) provocando a nulidade ou anulabilidade (espécies).

Compõem o plano de validade: a existência de capacidade (de fato) e legitimidade (de direito) do sujeito; a presença do querer manifestado livre, consciente e objetivamente; a concretização nos moldes adequados ao negócio; a existência de uma “coisa” possível de ser negociada.

Destaque-se que no plano de validade somente são considerados os atos jurídicos em sentido estrito e os negócios jurídicos, pois somente estes, por conterem o elemento volitivo, podem produzir efeitos em conformidade ou em desconformidade com a ordem jurídica.

Plano da eficácia: neste plano o fato produzirá efeitos jurídicos concretos, com a criação, modificação, extinção ou substituição de relações jurídicas. Inclusive para os atos jurídicos nulos e anuláveis, porque embora não ultrapassem o plano de validade podem, em situações específicas, produzir efeitos.

Os planos de existência e validade se completam, vejamos o quadro classificatório: Existência Validade

Agente Capaz e legitimado

Vontade livre, esclarecida, ponderada Forma Adequada

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Plano de eficácia - possibilidade de o ato jurídico produzir concretamente seus efeitos.

Em geral a eficácia é plena quando se alcança, na realização do negócio, o objetivo perseguido. Inserem-se no plano da eficácia os seguintes institutos:

a) Condição – trata-se de um evento futuro e incerto. Pode ser:

suspensiva – condição que suspende os efeitos do negócio jurídico. A condição suspensiva impede a aquisição do direito (têm-se a mera expectativa).

Resolutiva – condição que resolve os efeitos do negócio jurídico. Nessa espécie de condição a pessoa adquire imediatamente o direito, mas ocorrendo a condição resolutiva o negócio jurídico se extinguirá.

b) Termo – trata-se de um evento futuro e certo. Pode ser:

Inicial – aquele estabelecido para o início dos efeitos do negócio jurídico. O termo inicial não impede a aquisição do direito, mas o seu exercício ficará suspenso.

Final – aquele estabelecido para o fim dos efeitos do negócio jurídico.

c) Modo ou Encargo – trata-se de um ônus imposto ao beneficiário de uma liberalidade. O encargo não impede a aquisição do direito, não suspende o seu exercício, mas caso não seja cumprido poderá servir para a extinção do negócio jurídico.

Quando o encargo torna-se impossível de ser cumprido ou for ilícito, considerar-se-á não escrito (art.137 CC).

Interpretação do negócio jurídico.

A interpretação dos negócios jurídicos, em geral contratos, é a busca, no caso concreto, do sentido que mais se adéqüe à vontade e à necessidade dos contratantes.

Em caso de conflitos ou divergências sobre o que realmente se desejou no negócio jurídico já realizado caberá ao intérprete, em geral ao Juiz, compreender os “sentidos” dos atos, expressões e vontades das partes.

Fornecendo caminhos para a realização desta compatibilização nas relações negociais, o atual Código Civil trouxe 5 regras sobre a interpretação do negócio jurídico. Quais sejam:

 Teorias de interpretação  A reserva mental

 O silêncio

 Contratos ou negócios jurídicos benéficos (interpretação restritiva).  Princípio da boa-fé objetiva.

O Código Civil traz vários artigos estabelecendo regras de interpretação:

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

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Art. 423. Quando houver no contrato de adesão clausulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favordever-se-ável ao aderente.

Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não se admite interpretação extensiva. Enunciados de Jornadas de Direito Civil no STJ interpretando o artigo 422:

26 – A clausula geral contida no art. 422 do novo Codigo Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir ou corrigir o contrato segundo a bos-fé objetiva, entendida como exigência de comportamento leal dos contratantes.

27 – Na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.

Obs: O negócio jurídico pode ser unilateral, assim como o contrato, que é uma espécie de negócio jurídico.

Teorias de interpretação

Sobre como o negócio jurídico deve ser avaliado pelo operador do Direito no momento em que são questionadas suas disposições. Em geral ocorre quando há divergência ou conflitos sobre o que se desejou ao realizar o negócio.

Teoria Voluntarista ou subjetivista: ou teoria da vontade, defende a tese de que na interpretação do negócio jurídico considera-se mais a intenção, a vontade da pessoa, do que o que ela declarou. Para esta teoria a vontade prevalece sobre a declaração, pois não se atém à literalidade da linguagem.

No Código Civil de 1916 havia uma disposição que servia à doutrina na defesa da tese de haver o código adotado a teoria da vontade.

Artigo 81, CC/16 “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção que ao sentido literal da linguagem”.

Teoria da declaração: para contrapor a teoria da vontade os objetivistas desenvolveram a teoria da declaração. Eles entendem que teoria voluntarista (dos subjetivistas) não propicia segurança jurídica. Para estes, ao se interpretar o negócio jurídico deve-se analisar o que foi declarado, a declaração tem papel principal e definitivo na expressão da vontade e deve ser amplamente considerada.

Para esta parcela da doutrina o Código Civil de 2002 adotou esta teoria quando, no artigo 112 diz que “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.”

Para a doutrina majoritária o código civil mandou o interprete aplicar uma teoria mista, considerando que é por meio da declaração, da análise da vontade expressa, declarada, que se analisa a vontade intencionada, essencial para a validade do contrato (vontade livre, consciente, ponderada).

Teoria da confiança: teoria Intermediária do Novo Código Civil – teoria da confiança. Confiança: boa fé e segurança jurídica. (art. 113)

O Código civil pretendeu dar uma “objetivada” na interpretação do negócio jurídico, tirando do interprete a interpretação subjetiva, baseada exclusivamente em seu entendimento pessoal sobre

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o fato. Deste modo, a boa-fé objetiva tomou um caráter definidor e principiológico que serve tanto para a formação do negócio jurídico, quanto para a interpretação dos mesmos.

Assim, os atos (concretos) praticados pelo contratante que “conquistaram” a confiança da outra parte, levando-a a realizar o negócio, devem ser objetivamente considerados pelo interprete na análise da situação conflituosa.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Usos: prática reiterada especifica de um negócio;

Costumes: pratica vivenciada ao longo do tempo, dentro de uma sociedade, de modo amplo, referindo-se principalmente a valores axiológicos (morais) adotados e defendidos pela comunidade.

Interpretação e reserva mental.

Reserva mental – a pessoa oculta a sua verdadeira intenção, ele tem uma intenção interna e declara uma outra coisa. (art.110). não se considera a malícia ou qualquer desvio na intenção do emitente da vontade, este apenas deseja uma “coisa”diferente da que manifesta.

Em regra a reserva mental não atinge o terceiro de boa-fé, a não ser que este tenha tido conhecimento da reserva.

O Código Civil de 2002 trás dois tipos de reserva mental: Reserva mental conhecida pela outra parte.

Reserva mental desconhecida pela outra parte.

Se a reserva mental é desconhecida o negócio subsiste, ele é valido. Neste caso não se sustenta a teoria da vontade.

Art. 110. A manifestação de vontade (declaração) subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

A declaração não tem força absoluta, comporta exceção, que ocorre quando o contratante age com má-fé e silencia a respeito da reserva mental de que tinha conhecimento.

No caso de boa-fé, prevalece a declaração.

Nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico: inexistente ou inválido? Se a outra parte conhecia a reserva mental, o negócio, para a maioria da doutrina, é inexistente. Houve uma farsa, uma simulação.

(art.167)

A inexistência do ato deve ser declarada pelo Poder Judiciário.

Se o negocio não existiu o efeito desta declaração é mais amplo do que quando se declara sua nulidade.

Interpretação e a boa-fé objetiva

Art. 113. “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.”

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Boa-fé subjetiva – o aspecto subjetivo está vinculado à compreensão intima, ao conhecimento intelectivo que a parte tem sobre determinado negocio ou objeto.

Boa-fé objetiva – é demonstrada pela ação. É um ato externo, manifesto pelo sujeito que externa um padrão ético de conduta. É a ética nas relações privadas.

Esta é a espécie de boa-fé que serve de fundamento interpretativo. Baseia-se naquilo que foi externado, que objetivamente foi considerado pela parte.

Boa-fé objetiva realiza três funções:

Interpretação dos negócios jurídicos. Prestigiando a boa-fé. (art. 113) Evitar abuso de direito. (Art. 187)

Criar deveres anexos. (Art. 422) Dever de cooperação, dever de informação.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

A interpretação e o silêncio.

Teoria do silêncio circunstanciada. O silêncio tem valor jurídico dependendo da circunstância. Pode significar aprovação (concordância) ou reprovação (discordância). A lei é que define o significado do silencio nos negócios jurídicos.

Art. 111. “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.

Exemplos:

- doação pura (sem encargo – art. 539): O silencio implica em aceitação, é espécie de manifestação de vontade;

- veto presidencial aos projetos de lei apresentados para sanção ou veto. Se não for vetado no prazo legal (15 dias -art. 66, § 3º, CF/88) “o silencio importará sanção” (aprovação);

- Assunção de dívida: o artigo 299 traz uma hipótese em que o silêncio implica recusa. Na assunção de dívida por terceiro a regra do caput é de que há necessidade de aceitação expressa do credor. No entanto o parágrafo único minimiza essa exigência permitindo que o silencio do credor, quando lhe for imposto prazo para aceitar, signifique recusa.

Obs: não existe veto tácito o que se admite é a sansão tácita (âmbito do Direito Constitucional). Declaração tácita

A declaração tácita é a demonstração da vontade através de atos concretos inerentes àqueles praticados por determinadas pessoas e em determinados casos, que externam a vontade do agente embora este não a tenha expressamente declarado.

Exemplo: demonstração de aceitação de herança pela pratica de atos próprios de herdeiro (art. 1805).

Questiona-se na doutrina se o silencio é uma espécie de declaração tácita, visto que muito se assemelham as duas formas de interpretação.

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A doutrina discute as características diferenciadoras destes institutos. Silencio: falta de ação. Declaração tácita: comportamentos (ações).

A interpretação nos contratos ou negócios jurídicos benéficos (interpretação restritiva, restrita ou estrita)

Art. 114 “Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.” Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não se admite interpretação extensiva.

Nestes casos, não pode haver extensão de efeitos àquele que arcou sozinho com os ônus do negócio. Não sendo admitido que seja compelido a cumprir obrigação que lhe atribua mais esforço.

É importante compreender que se nos negócios benéficos, aonde o agente por livre e espontânea vontade, oferece de forma graciosa algo a alguém, não pode mais tarde, por eventos não previstos ou queridos, ser responsabilizado ou atingido por ônus posteriores sobre a coisa, objeto da liberalidade.

Também deve-se reforçar que ao interprete é defeso (proibido) ampliar o objeto da liberalidade e sendo o caso de existir conflito neste sentido, impõem-lhe restringir o alcance do negócio gracioso.

Prova do negócio Jurídico – art. 212

Segundo Pablo Stolze a “prova consiste no meio pelo qual se constata a veracidade do negocio jurídico que se realizou, confirmando assim, a sua existência e validade.

A prova serve, portanto, para demonstrar a existência do ato e não se confunde com a sua “forma”, que é o “envoltório que reveste a manifestação da vontade”.

O artigo 212 traz um rol não taxativo de meios de prova dos negócios jurídicos. São eles: confissão; documento; testemunha; presunção e perícia.

Confissão: art. 348 do CPC. Somente é considerada legitima se realizada perante o magistrado, durante um processo. Podendo ser, entretanto, levada em consideração quando feita por escrito ou em gravação, dependendo neste caso de pericia e outras confirmações de veracidade.

Documento: pode ser publico ou particular. Denomina-se prova pré-constituída, pois formulada antes da necessidade de sua utilização. A depender do negócio pode ser essencial e diante de sua inexistência o ato negocial também é considerado inexistente.

Testemunha: pode ser testemunha valida para prova o fato jurídico “a pessoa capaz e estranha ao feito, chamada a juizo para depor o que sabe sobre o fato litigioso”.

Pode haver testemunhas vinculadas à discussão posta em juízo. Estas são chamadas instrumentárias enquanto aquelas, desvinculadas, são chamadas judiciais.

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Presunções: a presunção é a operação mental pela qual, partindo-se de um fato conhecido, chega-se a um fato desconhecido, admitido como verdadeiro.

Podem ser absolutas (juris et de jure) ou relativas (júris tantun). Absoluta: alienação de insolvente - fraude contra credores. Relativa: art 322, 323, 324.

4. Defeitos do Negócio Jurídico

Os negócios jurídicos podem ser celebrados com duas espécies de vícios: vícios de consentimento e vícios sociais.

Vícios do consentimento – são aqueles que afetam a manifestação de vontade. São eles: erro ou ignorância; dolo; coação; estado de perigo; lesão.

Esses vícios, em regra, ensejam anulabilidade.

Vícios sociais – ocorrem quando o negócio jurídico foi celebrado com o objetivo de fraudar a lei ou a terceiras pessoas. São eles: fraude contra credores (enseja anulabilidade, em regra); simulação (enseja, em regra, nulidade).

4.1 Erro ou Ignorância (art.138 CC) Erro – é a falsa percepção da realidade. Ignorância – falta de percepção da realidade.

O erro para anular o negócio jurídico deve ser substancial, ou seja, determinante do negócio.

Espécies de erro substancial (art.139 do CC):

Error in negatio – é aquele que interessa a natureza do negócio (inciso I);

Error in corpore – é aquele que interessa ao objeto principal da declaração (inciso I); Error in substancia – é aquele que se refere às qualidades essenciais do objeto da declaração (inciso I);

Error in persone – é aquele que concerne à identidade ou qualidade da pessoa a quem se refira a declaração, desde que tenha influído nesta de modo relevante (inciso II); Error in juris – quando o erro de direito for essencial à celebração do negócio jurídico, esse poderá invalidá-lo, desde que não implique em recusa à aplicação da lei (inciso III). 4.2 Dolo (art. 145 CC)

Dolo – comportamento malicioso praticado por alguém com o objetivo de enganar ou lesar terceiros.

Espécies de dolo:

Dolo essencial – é aquele determinante para celebração do negócio jurídico (art. 145 CC).

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Dolo acidental – é aquele que apesar de sua ocorrência, o negócio jurídico seria celebrado, porém de outra forma (art. 146 CC).

Dolo de terceiro – ocorre quando o artifício malicioso é praticado por terceira pessoa estranha ao negócio jurídico. Deve haver o dolo de aproveitamento da parte favorecida no negócio, para que o negócio seja invalidado, caso contrário, o negócio subsistirá, sem prejuízo das perdas e danos, que serão pagas pelo terceiro (art.148 CC). 4.3 Coação (art. 151 CC)

A coação para caracterizar defeito do negócio jurídico deverá ser moral, ou seja, violência psicológica capaz de fazer com que uma pessoa manifeste uma vontade que ela não gostaria de manifestar. A coação física está na orbita do Direito penal.

Na sua análise leva-se em conta as condições subjetivas da vítima: sexo, idade, condição, saúde, temperamento, etc. (art. 152 do CC).

Não caracteriza coação moral o temor reverencial ou o exercício regular de um direito. A coação pode ser praticada por terceiro. Mas só será causa de anulabilidade, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento à parte a quem aproveite o negócio jurídico (art. 154 CC).

4.4 Estado de Perigo (art. 156 do CC)

O estado de perigo corresponde ao estado de necessidade do direito penal. Conceito – art. 156 CC

Requisitos: - em premente necessidade de salvar-se, ou a alguém da sua família;

- de grave dano conhecido pela outra parte (exigência de dolo de aproveitamento);

- Assunção de obrigação excessivamente onerosa.

Visa punir a parte contrária que se aproveitou da situação de perigo. A doutrina entende que há relação de subjetividade, pois está vinculado à pessoa.

4.5 Lesão (art. 157 do CC)

Tem a mesma razão de ser do estado de perigo, mas a lesão diz respeito à premente necessidade e à falta de experiência.

Na lesão a pessoa assume prestação desproporcional formando um negocio claramente desequilibrado.

Requisitos: premente necessidade e inexperiência. Para a doutrina está vinculada a direitos patrimôniais.

Como não ocorreu em estado de perigo, embora possa ter havido a necessidade não exige dolo de aproveitamento.

4.6 Fraude contra Credores (art. 158 do CC)

Haverá fraude contra credores, todas às vezes que o devedor se desfizer de seus bens, colocando-se em estado de insolvência, se é que já não se encontrava nele.

A anulação do negócio jurídico se dá por meio da ação pauliana (art.161 CC). Caracterização da Fraude contra Credores:

- Transmissão gratuita de bens. Ainda que não haja a intenção de fraudar; - Remissão de dívidas. Ainda que não haja intenção de fraudar;

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- Alienação onerosa. Quando o estado de insolvência for notório ou deveria ser conhecido pela outra parte.

Fraude contra credores não se confunde com fraude à execução. 4.7 Simulação (art. 167 do CC)

“É a declaração enganosa de vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente declarado” (Clóvis Beviláqua).

Espécies:

- Simulação absoluta – é aquela onde o negócio jurídico será celebrado para não produzir efeito algum. Conseqüência: nulidade.

- Simulação relativa – é aquela onde o negócio jurídico se faz para produzir efeito diverso do ostensivamente declarado (art. 167, §1º, I ao III do CC). Conseqüência: pode ser aproveitado o que se dissimulou, se válido for, na substância e na forma. Aplica-se aqui a peoria do aproveitamento.

5. Invalidade

Invalidade – é o reconhecimento judicial da nulidade, que pode ser absoluta ou relativa. Nulidade – é uma sanção civil imposta aos negócios jurídicos celebrados com infração ao ordenamento jurídico.

Diferenças entre nulidade absoluta e nulidade relativa (anulabilidade). Nulidade absoluta

Atinge normas de ordem pública.

Qualquer interessado ou Ministério Público pode provocar o seu reconhecimento, inclusive o Juiz, de ofício.

Motivos de nulidade absoluta – arts. 166 e 167 (rol taxativo) Não admite ratificação.

Pode ser alegada a qualquer tempo. Sentença terá natureza declaratória. Efeitos ex tunc.

Nulidade relativa

Atinge normas de interesse particular.

Somente os interessados podem buscar o seu reconhecimento. Motivos de nulidade relativa – art. 171 (rol exemplificativo).

Admite ratificação, por meio de medida sanatória, que pode ser expressa ou tácita. Deve ser alegadas nos prazos previstos nos arts.178 e 179 (4 ou 2 anos)

Sentença terá natureza desconstitutiva. Efeitos ex tunc.

5.1 Princípio da Conservação

Decorre da preocupação do legislador de conservar o negócio jurídico sempre que possível. Ex.: art. 157, §2º do CC.

Desse princípio decorrem os princípios “da conversão do negócio jurídico” (art. 170 CC) e “da redução” (art. 184 do CC).

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Referências

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