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Como é envelhecer nos nossos dias

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

GIULIA SAVEDRA PAVÉGLIO

COMO É ENVELHECER NOS NOSSOS DIAS

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GIULIA SAVEDRA PAVÉGLIO

COMO É ENVELHECER NOS NOSSOS DIAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientador: Prof. Ms. ANA MARIA DE SOUZA DIAS

Ijuí 2017

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Dedico este trabalho aos meus pais, C. Sofia e J. Plínio, que por serem idosos me fazem perceber a importância de trabalhar com o envelhecimento, provocando-me o interesse em aprender as peculiaridades dessa fase da vida, que é a velhice, e por me transmitirem seus valores, muitas vezes abrindo mão de algo que queriam para me dar o melhor que eles podiam.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus, pois através da fé consegui superar momentos difíceis durante meu percurso acadêmico.

Aos meus pais Cerlí Sofia Savedra e José Plínio Pavéglio, por me apoiarem e ajudarem financeiramente, não medindo esforços para que eu conseguisse realizar meus sonhos, mesmo muitas vezes não concordando com as minhas escolhas.

Aos meus irmãos Claudia, Luciano e Márcia, aos meus sobrinhos e aos tios que me apoiaram de forma econômica e sentimental através de conversas e conselhos.

Aos meus amigos e colegas, em especial a Fabiana Minetto, que sempre esteve presente, à Rafaela Conceição e ao grupo de formandos.

Aos professores, os quais tive a oportunidade de conhecer durante este percurso, especialmente a professora orientadora desse trabalho Ana Maria de Souza Dias, e à professora que aceitou fazer parte da minha banca Ângela Maria Schneider Drügg.

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Idoso Toda família tem alguém Com um brilho especial nos olhos. Nos lábios sábios conselhos. Na voz a soma da cultura acumulada, Muitas vezes desprezada. Toda família tem alguém que conspira Com o universo, orações pelos que ama. Têm braços de músculos cansados, mas... Que não negam o conforto de um longo abraço. Têm os ombros cansados, mas... Não negam um carinho e mais um fardo. Têm os ossos frágeis, mas... Não negam um colo. Precisam de atenção, de amor e compreensão. E estão atentos a tudo, amam como ninguém, Sempre tentando compreender os filhos e netos.

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RESUMO

O presente trabalho visa refletir sobre o lugar que o idoso ocupa na sociedade atual, pois entende-se que juntamente com o envelhecer, vem a desvalorização desse sujeito e o medo da morte. Para tanto, a partir desse fator e da importância do tema, foi realizada uma contextualização histórica de nossa sociedade no que concerne ao processo de envelhecimento, buscando-se também, através de pesquisas referenciais bibliográficas, investigar as formas com que a psicologia pode trabalhar na área já referida. Após isso, foi realizada uma reflexão sobre a questão do corpo real que envelhece e do “corpo simbólico” e como o sujeito lida com isso. Com o envelhecimento há uma reedição do estádio do espelho, pois com o envelhecer a imagem corporal vai se modificando, com isso o sujeito não se reconhece e não se apropria da nova imagem, o que acaba por causar sofrimento psíquico pela não adaptação à nova fase da vida, pela mudança do corpo e de papeis sociais, e também pela proximidade da morte. A partir de tais elementos, encontrou-se uma relação com a psicanálise, e à luz dela, pode-se perceber como é para o sujeito envelhecer, sendo que por intermédio da teoria psicanalítica, foi possível compreender qual a melhor maneira de intervenção junto ao sujeito em processo de envelhecimento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1. Aspectos Biológicos, Históricos e Sociais do Envelhecimento. ... 11

2. Aspectos Psíquicos do Processo de Envelhecimento. ... 24

CONCLUSÃO ... 38

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INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, os costumes e o modo de pensar da sociedade foram sendo modificados de forma significativa. Pode-se perceber que a sociedade atual está fortemente ligada ao capitalismo, configurada a partir do consumo e gerações de bens, em que se tem a ideia de que o ser humano vale a partir do que pode produzir, ou a partir do que seu poder aquisitivo é capaz de comprar.

A partir desse fator, é possível se questionar a respeito da questão do “velho”. Na atualidade, as coisas se tornam obsoletas rapidamente, como exemplo pode-se tomar a tecnologia, essa que está sempre se renovando e lançando novas versões dos mais diversos produtos, assim, a cada ano, mês ou semana, acaba por tornar as coisas mais ultrapassadas. O que se torna ultrapassado, é descartado por algo novo, moderno e mais potente. A partir desses fatores, pode ser feita uma comparação com a relação que se cria entre o idoso e a sociedade. Pois, que papel ele ocupa na sociedade? Como está sendo tratado? E como é para ele, envelhecer?

É valido refletir sobre essa relação do paralelo entre produto e ser humano, afinal esses sujeitos são tratados da mesma forma que produtos. Não são respeitadas suas histórias, seus passados e suas expectativas futuras. Se vê que essa etapa é colocada como sendo o final, sem apresentar possibilidades, ou seja, apresentando um ser sem futuro e, portanto, sem vida.

Vivemos em uma sociedade que tem um caráter preconceituoso em relação ao processo de envelhecimento, melhor dizendo, em relação a velhice. O foco é tirado do envelhecimento, exaltando, assim, a juventude, que aparece como uma forma de anular a chegada da velhice. Um exemplo disso, são os vários tipos de produtos que prometem tardar as marcas corporais que chegam de acordo com os anos corridos.

Há um tempo atrás, o velho era bem visto pela sociedade, pela sua experiência e pelos conhecimentos adquiridos durante a vida, sendo muito respeitado pelos mais jovens. No entanto, a chegada da tecnologia acabou por transformar esse fator, pois as pessoas buscam o que querem saber nos meios de comunicação, assim, não se encontra mais tempo para diálogo e para ouvir

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ao outro, quem dirá então, ouvir o velho, que não é uma pessoa atrativa aos olhos da sociedade.

Dessa forma, aos poucos, os velhos foram sendo “descartados” pela comunidade, que não precisa mais deles. Julga-se que esses sujeitos não são mais capazes de algo, que são seres assexuados e que não possuem desejo. Retiram-se essas pessoas de seus lugares de sujeitos, não respeitando suas subjetividades e individualidades. Assim sendo, se sabe que a sociedade cultua o modelo jovem e carrega o corpo como símbolo.

Se tem conhecimento de que com a chegada da velhice inúmeras mudanças ocorrem, começando pelo corpo que já não é mais o mesmo, mais doenças que chegam, e também, muitas vezes, a dependência de outras pessoas. Tal momento da vida, por vezes faz com que o sujeito perca a vontade de viver, visto que ele passa a se sentir desvalorizado e sem ter utilidade alguma. Isso traz ao idoso muitos problemas psíquicos a serem trabalhados, não só com ele, mas com a família toda.

Nesse processo de “envelhecer”, a família possui um papel fundamental. Primeiramente se deve observar em que lugar está sendo colocado esse idoso na dinâmica familiar; se ele tem voz ativa, se suas decisões são respeitadas ou não. A família é que vai dar sustentação ao sujeito, mas para isso precisa ouvir e dar apoio a ele.

Geralmente o ser humano não está preparado para a chegada da velhice, pois ela não é programada e acaba por se tornar algo a ser adiado. Muitas vezes se pensa na aposentadoria, mas não é pensado que junto com ela chega da velhice. Ao envelhecer o sujeito não reconhece o seu próprio corpo e essa questão precisa ser trabalhada com a ajuda de profissionais, visando entender como essa pessoa está elaborando seu o processo de envelhecimento.

Ao se pensar no trabalho da psicologia, levando em conta o contexto social contemporâneo e as atribuições feitas ao idoso, percebe-se que há um campo de serviço vasto. Dentre isso, é necessário considerar aspectos diversos, buscando atingir a melhor qualidade de vida aos sujeitos que se encontram em sofrimento psíquico, independente da fase em que o envelhecimento está. Neste sentido, ao considerar o envelhecimento como a fase final da vida, podemos entender a dificuldade com a qual os sujeitos se

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deparam ao entrarem na velhice. É preciso considerar as repercussões psíquicas do envelhecer e como a psicologia pode contribuir frente as demandas do sujeito e dos familiares envolvidos.

Dessa forma, a presente pesquisa classifica-se como pesquisa bibliográfica, que foi estruturada com base em materiais teóricos que possuíam como foco de estudo o envelhecimento e o papel do psicólogo nesse processo, e de como é possível trabalhar com o sujeito e sua família tal fator. O método que foi desenvolvido no presente trabalho foi uma revisão bibliográfica de autores que trabalham sobre o lugar que o idoso ocupa na sociedade. Através do referencial teórico serão contextualizados os aspectos sociais da velhice, e também as possibilidades de trabalho para o profissional da área da psicologia frente a essa realidade do sujeito e de sua família.

A pesquisa se desenvolve em dois capítulos. No primeiro, é abordada a questão social que permeia as relações do idoso em um contexto histórico, e além disso, são apresentadas algumas questões relativas a área da psicologia. Já o segundo capítulo, é dedicado a discussão acerca dos aspectos psicológicos que permeiam o processo de envelhecimento e as possibilidades de atuação do profissional da área da psicologia. Por fim, aborda a relação que se cria entre o sujeito e a representação de seu corpo e o estranhamento que ocorre com a chegada da velhice.

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1. Aspectos Biológicos, Históricos e Sociais do Envelhecimento.

Inicialmente, é pertinente se questionar: o que é envelhecer? Envelhecer é um processo contínuo que começa desde que nascemos, e ocorre até o final de nossas vidas; é a passagem do tempo cronológico. No decorrer desse processo há perdas, inclusive a da autonomia, pois por vezes é necessário que haja alguém que acompanhe a pessoa nas suas atividades, e também, a saúde já não é mais como de alguns anos atrás. Mas não só isso, existem várias outras perdas.

Podemos pensar que o processo de envelhecimento pode ser entendido como o processo cronológico pelo qual um indivíduo se torna mais velho, ou simplesmente, como a consequência da passagem do tempo. O envelhecimento é parte importante de todas as sociedades humanas, pois reflete as mudanças biológicas, culturais e sociais dessas sociedades.

Essa etapa da vida só pode ser compreendida a partir da relação que se estabelece entre os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos, sociais, não deixando de pensar em suas peculiaridades. Essa interação se dá de acordo com as condições da cultura na qual o indivíduo está inserido. Condições políticas, geográficas, históricas, econômicas, e culturais produzem diferentes representações sociais da velhice e do idoso.

Dentre as doenças mais comuns neste período da vida podemos citar: Parkinson, Demência, Acidente vascular cerebral, Hipertensão arterial1, entre outras.

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PARKINSON: A Doença de Parkinson é uma doença progressiva que implica uma perda

gradual de células nervosas numa área específica do cérebro, dando origem a problemas no controle de movimentos e a outros sintomas não relacionados com o movimento. A Doença de Parkinson é uma perturbação cerebral progressiva e prolongada que afeta, mais comumente pessoas com idade acima dos 60 anos. Pessoas com Doença de Parkinson têm dificuldade em controlar os seus movimentos corporais e os sintomas pioram com a progressão da doença. Em última análise, a Doença de Parkinson prejudica a capacidade do doente em funcionar em situações da vida diária. Disponível em: http://www.lundbeck.com/pt/areas-teraputicas/doena-de-parkinson. Acesso em: 14 dez. 2017.

DEMÊNCIA: Demência é uma condição em que ocorre perda da função cerebral. É um

conjunto de sintomas que afetam diretamente a qualidade de vida da pessoa, levando a problemas cognitivos, de memória, raciocínio e afetando, também, a linguagem, o

comportamento e alterando a própria personalidade. Disponível em:

http://www.minhavida.com.br/saude/temas/demencia. Acesso em: 14 dez. 2017.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: Sinônimos: derrame, ave, acidente vascular cerebral,

acidente vascular encefálico O acidente vascular cerebral, ou derrame cerebral, ocorre quando há um entupimento ou o rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada. O AVC também é

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A velhice chega com alterações anatômicas que são as mais visíveis e manifestam-se em primeiro lugar. A pele resseca, se tornando mais quebradiça e pálida, o brilho natural e a jovialidade se perdem, os cabelos que embranquecem e caem com frequência e facilidade, não são mais naturalmente substituídos, principalmente nos homens. O enfraquecimento muscular e da constituição óssea leva a mudanças na postura, acentuando ainda mais as curvaturas da coluna torácica e lombar. As articulações tornam-se mais endurecidas, reduzindo assim os movimentos e produzindo alterações no equilíbrio e na marcha.

Nas vísceras, produz-se uma alteração causada pelos elementos glandulares do tecido conjuntivo e certa atrofia secundária, como a perda de peso. Quanto ao sistema cardiovascular, é próprio das fases adiantadas da velhice a dilatação aórtica e a hipertrofia e dilatação do ventrículo esquerdo do coração, associados a um ligeiro aumento da pressão arterial. De acordo com Kastenbaum (1981):

A aparência externa de nossos corpos revela a todo mundo o processo de envelhecimento. Embora só o adelgaçamento, queda e embranquecimento de nossos cabelos possam ser patentes para os outros, a verdade é que os demais pelos do nosso corpo tem praticamente a mesma sina. As alterações de pele são particularmente visíveis. Se olhássemos com cuidado, notaríamos rugas em homens e mulheres perfeitamente sãos, que ainda não chegaram na casa dos trinta anos. Na velhice, exibimos o acumulo das transformações que já vinham ocorrendo a tempos, apesar de elas terem se acelerado nos últimos anos. As rugas e flacidez da epiderme são o resultado de uma perda de tecido gorduroso sob as camadas superiores da pele, e da sua exposição a luz solar através dos anos. Também costumam a aparecer manchas na pele. Se a beleza da pessoa foi, realmente, de uma profundidade apenas epidérmica, então haverá motivo para lamentação. (KASTENBAUM, 1981, p. 22).

A nossa cultura condiciona o homem à produção e, nesse aspecto, os idosos são vítimas de uma marginalização social, enquanto que os jovens ganham todos os espaços por estarem no auge de sua produção. Entre os aspectos negativos da velhice podemos citar: ausência de preparo para a

chamado de Acidente Vascular Encefálico (AVE). Disponível em:

http://www.minhavida.com.br/saude/temas/avc. Acesso em: 14 dez. 2017.

HIPERTENSÃO ARTERIAL: A hipertensão arterial, também conhecida popularmente como

pressão alta, é considerada como uma doença silenciosa por, muitas vezes, não manifestar os sintomas e atrasar, assim, o diagnóstico por parte do médico. A doença se dá quando a pressão arterial do paciente, maior de 18 anos, é superior a 140 x 90 mmHg (milímetro por mercúrio) – ou 14 por 9. Disponível em: https://minutosaudavel.com.br/o-que-e-hipertensao-arterial-causas-sintomas-e-tratamento/. Acesso em: 14 dez. 2017.

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aposentadoria, rejeição ao envelhecimento, ocupação do tempo livre feito de maneira inadequada, dificuldade de convivência entre os idosos e os mais jovens etc. Na maioria das vezes, a pessoa anseia a aposentadoria, sonha com o tempo livre para aproveitar suas economias, mas quase nunca pensa que com a aposentadoria chega a velhice, e conforme Kastenbaum (1981), a velhice é negada, pois:

Na verdade, é obvio que a maioria de nós preferiria não envelhecer. Isto torna muito difícil o exame objetivo do problema do envelhecimento. Uma pessoa pode dizer quase sem riscos: “Sou homem” ou “Sou mulher”, “Tenho olhos castanhos” ou “Tenho olhos azuis”. Mas se disser que é velha, arriscar-se a cair em descrédito junto sociedade ou em sua própria opinião. (KASTENBAUM, 1981, p 07).

O mito que persiste é o de que o idoso não tem condições de trabalhar, de amar e de aprender. Parece que ocorre uma falta de motivação para aprender novos papéis ou desempenhar os já existentes. A questão ressaltada aqui, é a de se pensar no idoso através dos aspectos visíveis. Podemos refletir sobre a velhice através do que Bacelar (2002) nos apresenta:

Trata-se de um conjunto de alterações físicas e psíquicas do organismo da pessoa e a sua maneira de interagir com o meio social. Causa estranheza, porém, constatar que esse processo não se passa de forma idêntica em todos: há pessoas que, apesar das características físicas da velhice, comportam-se como se estivessem na idade madura, com expectativas de vida, energia para prosseguir seus objetivos, e apresentam uma leitura atualizada do mundo; enquanto uma grande maioria dos idosos são desestimulados para o novo, consideram-se no final de uma jornada sem volta,

recolhendo-se no passado. Tais atitudes independem da situação

socioeconômica e cultural. Além do mais, há uma percepção discriminatória, expressa no meio social e alimentada pelo próprio indivíduo. (BACELAR, 2002, p. 21).

A necessidade de entender a transformação que marca o envelhecimento contemporâneo estimula a reflexão sobre como esse idoso lida com a sua identidade. Com isso, procura-se, nesse trabalho, traçar o percurso histórico das noções de velhice e de terceira idade e, desse modo, apreender os fatores que as originaram e as características que, atualmente, respondem pela sua definição.

Nessa perspectiva, o surgimento da velhice e da terceira idade pode ser entendido como resultado de um processo complexo, que envolve a convergência de discursos sociais, políticos, interesses econômicos e

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disciplinas especializadas. A análise do envelhecimento nos coloca diante de teias intricadas que unem saberes médicos e especialistas. Além disso, as novas identidades etárias não só fazem parte de nosso imaginário, como, em muitos outros aspectos, delimitam possíveis descrições que fazemos de nós mesmos. Silva (2008) nos traz a noção de velhice como etapa diferenciada da vida que surgiu no período de transição entre os séculos XIX e XX.

Com isso surgem mudanças específicas e a convergência de diferentes discursos acabaram reordenando o curso da vida e gerando condições para o surgimento da velhice. Fatores fundamentais se destacam em meio a esse processo, tais como a formação de novos saberes médicos que investiam sobre o corpo envelhecido e a institucionalização das aposentadorias e de nossas vidas. De acordo com Silva (2008):

A partir do século XIX surgem, gradativamente, diferenciações entre as idades e especialização de funções, hábitos e espaços relacionados a cada grupo etário. Têm início a segmentação do curso da vida em estágios mais formais, as transições rígidas e uniformes de um estágio a outro e a separação espacial dos vários grupos etários. Desse modo, o reconhecimento da velhice como uma etapa única é parte tanto de um processo histórico amplo – que envolve a emergência de novos estágios da vida como infância e adolescência –, quanto de uma tendência contínua em direção à segregação das idades na família e no espaço social. (SILVA, 2008, p. 1).

A nova etapa da vida, que é, então, a velhice, só pode ser entendida a partir da relação que se estabelece entre os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais, conforme dito anteriormente. Essa interação que o sujeito tem, ocorre de acordo com as condições que a cultura proporciona a esse indivíduo, pois ela apresenta diferentes formas de caracterização para o idoso. A partir disso, pode-se pensar na concepção de velhice que se tem na sociedade, e a que o sujeito encara quando entra nesse período de sua vida. Segundo Kastenbaum (1981):

A sociedade tem um método alternativo de classificar as pessoas pela idade. As distinções baseiam-se na situação de vida da pessoa, especialmente no lugar por ela ocupado na sociedade, mais do que no número de anos transcorridos desde o seu nascimento. Sociólogos e antropólogos por vezes se referem a isso como um método de classificação de idade por estádios. Este tem sido o critério mais importante para a distinção de idades em muitas sociedades, e ainda subsiste como enfoque suplementar nas nações industrializadas de hoje. (KASTENBAUM, 1981, p. 10).

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A determinação de que idade caracteriza a velhice, está diretamente ligada com o meio social e as características que ele atribui, sendo assim, o meio social também influencia no envelhecimento. Durante o envelhecimento há uma degeneração dos órgãos e dos sentidos, determinado pelo sistema biológico, os fatores sociais têm o poder de amenizar ou agravar este processo. Assim como a infância, a velhice é uma construção social, e suas representações são o resultado dos significados atribuídos e construídos a partir da vivência de cada sujeito, da cultura, da convivência familiar e da sociedade, pois, de acordo com Kastenbaum (1981):

Uma pessoa que se acredita desprezada, que se sente isolada ou não desejada numa situação social pode estar preocupada demais com tensões internas para prestar atenção ao que se passa em seu redor. Isto se aplica a gente de qualquer idade, mas em especial ao homem e à mulher idosos de nossa sociedade. (KASTENBAUM, 1981, p. 34).

Na maioria das vezes, a pessoa mais velha é definida como idosa quando chega aos seus 60 anos, independentemente de seu estado biológico, psicológico e social. Entretanto, o conceito de idade é multidimensional e não é uma boa medida do desenvolvimento humano, nem para a chegada da velhice. A idade e o processo de envelhecimento possuem outras dimensões e significados que extrapolam as dimensões da idade cronológica, possuindo outros critérios a se pensar.

Essa fase da vida, mesmo nos dias atuais, aparece associada a perdas e a doenças, e é por vezes entendida como um problema médico, estando intimamente ligada ao pensamento de deterioração do corpo, ao declínio, a dependência e a incapacidade. A velhice atualmente é tratada como uma etapa da vida em que se ressalta a decadência física e a ausência de papeis sociais. Cria-se uma imagem muitas vezes distorcida da velhice e do idoso. A respeito disso Schneider e Irigaray (2008) escrevem:

As associações negativas relacionadas à velhice atravessaram os séculos e, ainda hoje, mesmo com tantos recursos para prevenir doenças e retardá-la, é temida por muitas pessoas e vista como uma etapa detestável. A célebre frase de uma artista brasileira idosa famosa, “o envelhecimento é a prova de que o inferno existe” (grifo nosso), demonstra o quanto a velhice é uma experiência individual que pode ser vivenciada de forma positiva ou negativa, em consonância com a história de vida da pessoa e da representação de velhice que está enraizada na sociedade em que vive. Assim, pode-se inferir que não importa a quantidade de anos que o indivíduo tem,

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mas sim, o que ele fez com os anos vividos, e como a sociedade trata alguém com aquela idade. (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 02).

A idade é definida pelas modificações biológicas que são corporais e mentais que ocorrem ao longo do processo de desenvolvimento, se caracterizando, assim, o processo de envelhecimento humano, que pode ser compreendido como um processo iniciado antes do nascimento do indivíduo e que se estende por toda a sua existência.

O ser humano vive em um estado de constantes mudanças que não são apenas corporais, incluindo-se também as adaptações e ressignificações da própria existência, por estar em constante processo de construção que, algumas vezes exige do sujeito uma desconstrução de certa condição anterior e sobre isso, Färber (2012) destaca que:

As passagens espontâneas de um status para outro não são detectadas a priori, nem é feita reflexão consciente sobre elas; simplesmente são vividas e seu impacto é assimilado no cotidiano, sem grande desgaste de energia psíquica e emocional. Assim se dá na passagem das estações e dos meses, na troca de horários de atividades ou no cuidado (terapêutico e estético), entre outros aspectos. O mecanismo é outro quando as passagens incidem sobre a pessoa, exigindo dela uma reorganização da vida, dos projetos e sentidos. Essas passagens necessitam ser acompanhadas com reflexão consciente e com ritos de passagem, por serem mudanças

que evidenciam a efemeridade da condição humana, a

provisoriedade das relações e, especialmente, a transitoriedade da vida. Essas passagens são marcadas por sentimento de morte simbólica, que se processa quando a pessoa se volta para si mesma, se recolhe e vivencia a experiência de um final de etapa ou de estado de vida que, sob algum aspecto, não deixa de caracterizar-se como morte, naquele recorte específico. Estas realidades de morte acompanham a vida. (FÄRBER, 2012, p.10)

Na maioria das vezes a velhice é vista como fase de grandes dificul-dades para o idoso na questão social, nas várias sociedificul-dades em tempos históricos. Porém, a realidade pós-moderna, torna o envelhecer ainda mais complexo e temeroso, pois vive sob o fantasma da efemeridade, na qual, para manter-se, tem de ser produtivo e jovem.

Ao pensar no idoso algum tempo atrás, ele era tido com maior importância na sociedade, pelos seus anos de vida, sendo que através desses, possuía experiência e saberes para transmitir aos mais jovens. Mas atualmente o idoso vem sendo deixado de lado, tomado pela imagem capitalista de que o velho está ultrapassado, com isso o velho é visto como antiquado e careta,

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sendo descartado até mesmo das relações familiares. Esse sujeito não possui mais sua voz ativa dentro da família, como aquele que sabe, mas sim como aquele que já não tem capacidade de falar por si mesmo. De acordo com Bakker (2000):

Os idosos sempre foram respeitados e reverenciados como depositários de saber acumulado, por mais primitivo que se apresente o agrupamento humano e rudimentar seja a sua cultura. A transmissão oral do conhecimento, construídos pelas experiências vividas, faz das pessoas de mais idade, nessas comunidades, modelos a serem consultados, obedecidos e seguidos. Nas sociedades modernas isto já não ocorre, porque o saber não está mais na cabeça dos idosos, mas nas bibliotecas, arquivos, ou armazenado na memória dos computadores. (BAKKER, 2000, p. 29)

Na atualidade, os idosos não são mais ouvidos, ninguém tem tempo a perder com isso; é insignificante ouvir pais e avós. A tecnologia de computadores, celulares e tablets se tornam bem mais atrativas aos olhos dos jovens. Com o passar dos anos a transmissão oral que algum tempo atrás, era a principal forma de adquirir conhecimento, foi perdendo espaço. No entanto a velhice não é uma coisa dada, isso depende de quem vê e de como se rotula, e de como a pessoa se vê, e se ela se toma por este rótulo de velho ou não, pois:

A velhice é um estado de espírito. Define-se por meio de padrões exteriores, como a classificação cronológica de idade, ou segundo a nossa própria opinião. Podemos situar a “velhice” numa etapa relativamente avançada da vida. Cabe a nós decidir se a consideraremos como condição desejável ou aflitiva. Podemos até mesmo tentar esquecer de tudo a seu respeito, mas eu, pessoalmente, devo deixar isto para os outros. (KASTENBAUM, 1981, p. 15)

O individualismo requer dos sujeitos independência e agilidade de adaptação às mudanças, que rapidamente ocorrem. Os avanços tecnológicos não são dominados por quem é de uma geração mais antiga. Enquanto a sociedade valoriza a informação, muitos idosos podem se acometer com a perda da memória. Com a idade avançada não se respeita a individualidade do sujeito, nem o que ele pensa, coisas que o incapacitam.

Färber (2012) apresenta que a nossa sociedade de produção valoriza a beleza, a eterna juventude e a longevidade, mas não aceita o longevo com características de idoso. Com esse panorama, envelhecer é malvisto, e, portanto, tenta-se evitá-lo com os meios em que estão disponíveis no mercado.

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Diante de tais pressões, que são feitas pela sociedade, envelhecer tornou-se vergonhoso e, portanto, excludente, fazendo com que a pessoa que vive essa transição da vida adulta para a velhice, tenha um sentido de morte simbólica pela ameaça ao sentido de pertença à sociedade, com igualdade de direitos.

Em reação à discriminação e exclusão do idoso, a sociedade o faz de forma nítida. Da parte dos que estão no processo de envelhecimento, há por vezes a negação da passagem do tempo e transvestem-se de jovens, através do uso de linguagem e na maneira de se vestir. Neste tempo também tem os que se tornam hostis e projetam suas frustrações naqueles com quem convivem, por não terem capacidade ou por não conseguirem reeditar sua história, acabando por se tornarem pessoas depressivas, e sobre isso Farber (2012) salienta que:

Ressignificando as perdas acumuladas ao longo da vida, pode o idoso superar o sentimento de inutilidade, pois as perdas não assimiladas e os lutos não elaborados ao longo da vida aniquilam a possibilidade de envelhecer e viver a velhice com qualidade. Epimeleia é a profilaxia necessária para viver bem cada uma das fases da vida, independente da especificidade da faixa etária, sabendo, ao mesmo tempo, que esta será transitória e que sua passagem é questão de tempo. (FÄRBER, 2012, p. 17).

A relação da morte está ligada com a questão do envelhecimento sendo que essa ligação é nítida, pois na maioria das vezes está presente no discurso do idoso. Ela está presente no decurso da existência, mas aparece de uma forma mais forte na velhice, de uma forma dolorida por parecer uma despedida da vida, e com isso essa deixa de ser apreciada. O que faz parecer como se o idoso estivesse abandonando a sua vontade de viver, trocando isso pelo sentimento de angústia ligado à morte. Mas isso está presente no discurso social, onde o idoso por vezes se aliena. Farber (2012), em relação e isso, diz que:

Apesar da similaridade da existência dos seres humanos, há realidades específicas que não são comuns a todos, ainda que uma parcela significativa as experimente. Perdas importantes são ocorrências que se caracterizam em mortes simbólicas, que apontam para a fragilidade das convenções sociais e a precariedade das aquisições individuais. (FÄRBER, 2012, p. 18).

O autor ainda coloca que alguns dados apontam para a similaridade de impacto que existe entre a morte e as perdas ocorridas na vida dessas

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pessoas; nos aspectos biológicos e físicos, também aparece a sintomatologia dos processos de morte e luto: doenças degenerativas, amputações, cirurgias, intervenções e processos terapêuticos, que alteram a aparência, a autonomia ou a condição física do indivíduo, podendo ocorrer de forma temporária ou definitiva.

Em todas as esferas humanas, a provisoriedade da vida é mais bem assimilada quando o indivíduo acompanha, conscientemente, as mudanças que acontecem ao longo de sua história e desenvolvimento. Quando ele assimila esse envelhecimento, absorve assim, o impacto das perdas, ao passo que acolhe os ganhos que as mudanças proporcionam.

Hoje podemos perceber que a velhice vem como um momento de retração, isolamento, de espera da morte, caracterizado como um momento em que se teme o sentimento de abando e solidão e, sendo assim, se coloca como uma fase sombria da vida. Sobre isso, é possível refletir sobre a questão das casas asilares, se apresentando como “depósitos” de idosos, que são “guardados”, pois nem a família e nem a sociedade quer conviver com os mesmos.

Medo de envelhecer não é somente o medo de ficar velho e da aparência se modificar, mas também da morte, pois ela é um enigma. Não se sabe quando, como e onde vai acontecer. De fato, a morte é certa e é única certeza que temos desde que nascemos, porém ela não é aceita. De acordo com Rodrigues (2012):

O medo é inerente a qualquer ser humano. O medo de envelhecer não pode ser ignorado, nem rejeitado só porque se é velho. Ser velho é também ter os mesmos direitos dos jovens ou dos adultos. O importante é minorar os medos de envelhecer. Só se pode minimizar os medos de envelhecer se a gerontologia educativa começar nos bancos de escola. (RODRIGUES, 2012, p. 50).

A morte não é um assunto que comum pelo qual se vê pessoas discutindo. A família, quando essa ocorre, não se sente apta a falar sobre esse assunto, pois tem todo o tempo de elaboração da perda. Cavalcanti et al. (2013) apresentam que:

O processo de luto é instalado para a elaboração de uma perda, consistindo no desligamento da libido a cada uma das lembranças e expectativas relacionadas ao objeto perdido, por isso, é considerado um processo lento e penoso. Como vimos, diante de uma situação

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dolorosa, ocorre uma catexia concentrada no objeto do qual se sente falta ou que está perdido, por não poder ser apaziguada – afinal o objeto não existe mais – tende a aumentar efetivamente, sendo assim hipercatexizadas. Enquanto o ego se vê absorvido no processo de luto por meio da hipercatexia, a sua elaboração ocorre sob a influência do teste de realidade, fundamental para a constatação de que esse objeto não existe mais. (CAVALCANTI et al., 2013, p. 01).

Não se costuma, na sociedade, falar sobre a morte ou até mesmo sobre perdas, sendo que poucas pessoas conseguem falar de. E tal fator depende do processo de elaboração em qual estágio que se encontra, se ainda existe ou já se findou. O medo de envelhecer está intimamente ligado ao medo da morte, e isso acontece porque durante o ciclo vital, se perde muitas pessoas queridas. Então, há o processo do luto e com isso se deparam com a realidade, ninguém pensa na própria morte a não ser quando alguém próximo morre, quando esse elo se finda. Sobre isso, Cavalcanti et al. (2013) salientam que:

O luto é caracterizado como uma perda de um elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto um fenômeno mental natural e constante durante o desenvolvimento humano. Nesse contexto, por se tratar de um evento constante, acaba implicando diretamente no trabalho de profissionais da saúde, tornando-se um conhecimento necessário para o amparo adequado àqueles que sofrem a perda. (Cavalcanti et al., 2013, p. 01).

Neste aspecto, prolongar a vida ou tardar o envelhecimento sempre foi uma preocupação da humanidade, a morte é tratada como um mistério. Quando se fala dela, é através da religião e do que cada um traz como morte ou como vida após a morte. Muitos se apegam à religião para que esse processo seja menos doloroso, algumas crenças religiosas trazem a vida pós-morte como um lugar de descanso ou como um conforto quando se perde um ente querido. Rodrigues (2012) diz que:

O envelhecimento é um processo natural do ser humano que pode provocar medos significativos. É de conhecimento comum que o envelhecimento leva o ser humano à meta final da vida, à finitude, pois ninguém é eterno, “pelo menos, fisicamente”. (RODRIGUES, 2012, p. 49).

Em nosso contexto social se cultua a juventude e o corpo perfeito, e onde fica o idoso nessa perspectiva de modelo jovem? O envelhecer não é compartilhado, mas sim velado. Sobre o assunto só são trabalhadas formas de

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ou tardar ou de atenuar suas marcas corporais através de propagandas de produtos de “beleza”, que se colocam como um conceito puramente capitalista.

Não se trata apenas de um medo de envelhecer, esse processo pode acarretar uma fobia, chamada de gerascofobia. Ela se trata de um medo anormal do envelhecimento e pode acarretar uma grande infelicidade na maioria dos casos:

A gerascofobia poderá ser sentida quer em Idosos com perturbações psíquicas como em pessoas se encontram em boa forma física, com um bom nível financeiro e com qualidade de vida. Esta fobia pode tornar-se obsessiva provocando perturbações a nível físico e psicológico. (RODRIGUES, 2012 p. 50).

Essa fobia deve ser tratada para que o idoso consiga levar a vida normalmente, sem que isso atrapalhe sua rotina, e para que ele possa elaborar esta etapa da vida que chegou para ficar, que vem como a última etapa a ser vivida e segundo Rodrigues (2012):

Há estratégias a curto prazo para se lidar com a gerascofobia, como por exemplo: não festejar o aniversário, a estética, as operações plásticas, são soluções no momento consideráveis eficazes e que fazem muitas pessoas viverem melhor, mas não é um processo vitalício. Anos depois a velhice chegará e o choque pode ser maior, pois a pessoa andou a evitar o inevitável. (RODRIGUES, 2012 p. 50).

Em todas as idades, etapas e fases de nossas vidas, surgem medos de diversos acontecimentos e por diferentes causas, que com os quais se precisa aprender a conviver de maneira harmônica, pois eles não irão sumir de forma repentina. Por isso, eles devem ser trabalhados e elaborados, para que haja uma maneira de conviver com eles de forma sadia. Da mesma forma que os pais procuram o psicólogo quando o filho tem medo de dormir, o idoso procura para desvendar seus medos e conseguir ultrapassar os limites que esses lhe impõem.

É importante reconhecer os medos que surgem e trabalha-los para que estes sejam vencidos e a pessoa consiga envelhecer de uma maneira saudável e consiga desfrutar da vida mantendo um plano ativo de objetivos e desejos, pois nunca é tarde para viver. O envelhecer significa a aproximação da morte e é preciso saber aproveitar a vida e vive-la ao máximo para que este medo não aflija constantemente. (RODRIGUES, 2012. p. 51).

Hoje com o avanço da tecnologia existem vários tipos de técnicas que ajudam a prolongar a vida. No nível psicológico esse é um elemento

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importante. O envelhecimento se apresenta como uma fase frágil que necessita de um longo trabalho psicológico, para tentar fazer com que o sujeito aprenda adiar o inadiável. É inevitável envelhecer e se aproximar cada vez mais da morte, é por isso que se faz importante saber lidar com as mudanças que o corpo sofre durante a passagem do tempo, e para isso se requer o apoio da família e de profissionais. Conforme Rodrigues (2012):

É preciso igualmente ter em conta as alterações físicas e psicológicas que ocorrem no envelhecimento. Saber lidar com este processo de alterações é por si só uma vantagem para debelar a depressão, o desânimo, a inatividade e o desinteresse por si e pelo meio circundante. O homem é um ser humano que atribui muita importância ao evoluir, ao passar dos anos. Assim sendo, é preciso saber viver em conformidade para que seja possível continuar a rir, a amar, a conviver, no fundo a viver. (RODRIGUES, 2012. p. 56).

Pensando, então, sobre o medo de envelhecer, pode-se salientar que é um de tantos medos que se tem durante a vida, com o qual se aprende a conviver de forma saudável para que não venha atrapalhar demasiadamente a vida. Geralmente os medos estão relacionados diretamente com a morte, por exemplo, como o medo de envelhecer ou da aproximação de uma grande altura também. Mas é o medo que mantém os seres humanos vivos, pois se não houvesse o medo, provavelmente se estaria correndo altos riscos, uma vez que não iria ser tomado o cuidado necessário e isso também seria um problema. Segundo Rodrigues (2012):

A palavra medo, nesta fase, será mais complicada de se trabalhar. Como tal, o apoio da família, de profissionais e de apoios sociais é muito importante. De facto, o lexema envelhecimento implica em si próprio o terrível vocábulo, morte. Nesta fase da vida, é reconhecido pela sociedade que os Idosos presenciam muitas perdas de entes queridos, reconhecem perdas ao nível do corpo e dos movimentos e mesmo mentalmente, a nível psicológico. Este culminar de acontecimentos atrai pensamentos que geram medo, o medo de morrer, o medo de ser abandonado e desprezado, por já não possuir todas as faculdades. É imperativo aprender com eles e trabalhá-los com o objetivo único de tentar que os medos desapareçam. Para tal é preciso aprendermos a cuidar de nós, tratando do nosso corpo, promovendo a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar. (RODRIGUES, 2012. p. 57)

Como a morte é inevitável, não deve-se viver assombrado pelo medo da mesma, e já que envelhecer é impreterível, não se deve desvalorizar o idoso,

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pois só não vai envelhecer quem conhecer a morte muito cedo, e essa desvalorização vem como uma tentativa de anular o envelhecimento.

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2. Aspectos Psíquicos do Processo de Envelhecimento.

De acordo com Conselho Federal de Psicologia (2008), as necessidades afetivas dos idosos não são diferentes das outras pessoas em outras fases da vida, estas necessidades afetivas são amor, alegria, realização. O amor, em suas três formas de manifestação, Eros, Filia e Ágape. O prazer que se associa à exploração do ambiente, da alegria das relações com outras pessoas os tornam mais fortes para enfrentarem o estresse, ansiedade e os enfrentamentos diários permitindo-os assim conseguirem ter uma qualidade de vida melhor e equilíbrio psicológico. Competências emocionais traduzem-se em resiliência psicológica, que significa a capacidade de adaptar-se mediante recursos pessoais em interação com os sociais. A realização (domínio, controle e autonomia) mesmo com incapacidade, desde que na ausência de depressão graves dores crônicas inatividade física, pode funcionar bem com competências físicas, sociais e psicológicas de que dispõem. (AMORIN; SENA, 2014, s/p).

De acordo com essa citação de Amorin e Sena (2014), pode-se entender que envelhecer é viver na sua forma mais simples de exemplificar esse processo continuo de nossas vidas. Cada ano vivido traz consigo muitas mudanças, sendo que elas podem ser físicas, mentais ou psíquicas. Sendo assim, entende-se que esse processo deve ser trabalhado melhor pela sociedade, ser um tema falado em família.

Dessa forma, se deve dar voz ao idoso, para que ele fale sobre sua condição, para que ele fale de como é lidar com todas as mudanças que vieram juntamente com a velhice. Falar não só das perdas, mas também do que os anos que se passaram, acrescentaram em sua vida; dos conhecimentos adquiridos ao longo dela; o que ainda ele deseja aprender e conhecer; dos sonhos que deseja realizar; de continuar vivo etc. Envelhecer não quer dizer que a vida chegou ao fim, mas sim, que começou uma nova etapa e que ela precisa ser estimada tanto quanto as outras que passaram, e é necessário que seja descoberta, apreciada, mas o principal de tudo, vivida.

O trabalho do psicólogo está fundamentado na impossibilidade de separar o psicológico do biológico, por assim ser compreendido o processo de

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senescência. Sua atuação estará baseada, também, no processo de isolamento social a que o velho está sujeito, devendo atuar em cima da eliminação do preconceito existente, questionando-o e, com isto, encontrar (ou recuperar) um lugar para o idoso na sociedade. Sobre isso, Fernandes (2014) diz que:

A grande dificuldade enfrentada pelo indivíduo idoso assenta no estigma existente na sociedade, que rotula o velho como um inútil, chato, rabugento, frágil e um fardo para a população. Estes rótulos são estimulados pelos estereótipos acerca dos velhos, com os quais as pessoas são confrontadas desde muito novas, evoluindo, posteriormente, numa fase mais tardia da vida, para auto estereótipos, influenciando, assim, a sua autoestima e bem-estar. (FERNANDES, 2013, p. 02).

Na velhice aparecem alguns fatores significativos na vida familiar, como: a aposentadoria, as doenças, a viuvez, a dependência econômica e a condição de avós em alguns casos. No caso da aposentadoria, Bacelar (2002) descreve como:

Uma das situações mais complexas na vida do cidadão e intervirá em todo o seu comportamento. Para o homem, acarreta maiores problemas: o relacionamento do casal sofre alterações com o aumento do companheirismo, cuidados mútuos e maior intimidade sexual; ademais, segundo as leis da Previdência Social, ele sofre, em nossa sociedade, perda de vencimentos, dos papéis profissionais, da produtividade e dos relacionamentos significativos. Por tudo isso, a aposentadoria leva ao estresse e à depressão. Para a mulher, o afastamento do trabalho tem menores consequências, porque pode continuar com as atividades de dona de casa. Para a mulher de casamento tradicional, a aposentadoria do marido acarreta problemas, porque o homem inativo, ao se voltar às atividades domesticas, interfere em um setor sempre exercido pela esposa. Alguns casais, não conseguindo superar naturalmente as consequências de uma aposentadoria, recorrem à terapia familiar. (BACELAR, 2002, p. 30).

Mas não podemos generalizar, por vezes se torna muito sofrido para algumas mulheres o afastamento do trabalho, tanto quanto para o homem. Devemos trabalhar o sujeito na sua individualidade, pois por vezes esse sofrimento não é percebido pelas pessoas que convivem com ele, por não ser demonstrado de forma nítida. Deve-se levar em conta a subjetividade do idoso e de como ele está lindando com a situação e o que isso está implicando em sua vida. Podendo, assim, entrar na questão chave do problema, que por vezes não se trata apenas da aposentaria, mas de diversos fatores que foram sendo agrupados durante o processo de envelhecimento.

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Já no caso da viuvez, Bacelar (2002) nos diz que a mulher possui a probabilidade de viuvar quatro vezes maior que o homem, e que isso acontece ainda com elas bastante jovens. A autora escreve que o período médio de resolução desse luto dura cerca de dois anos, para que possa voltar a integrar-se ao integrar-seu novo estado de vida, em geral muito doloroso, quando a sua situação econômica a força deixar sua casa, e a faz morar com parentes ou em abrigos.

Quanto ao homem, poderá se casar novamente muitas vezes com uma pessoa mais jovem, e isso é desaprovado na maioria das vezes por parte dos filhos, por questões afetivas, pela imagem da mãe ou por questões financeiras envolvidas, ou também por não entenderem o fato do pai ser ainda sexualmente ativo. De acordo com Azevedo et al. (2012), a sociedade

Tem uma visão preconceituosa em relação à sexualidade na velhice, este período da vida é classificado como um período de assexualidade, um período onde existe um estereótipo de velhos assexuados. O Idoso quase sempre é percebido pela sociedade como um sujeito sem desejos, é como se a sexualidade tivesse um tempo de acabar. Como se após o período de fertilidade, o desejo, o sentir e o querer não mais existissem. A repressão sexual na velhice está ligada a associação que se faz com sexualidade e procriação, limitando assim o tempo em que o ser humano pode exercê-la. (AZEVEDO et al., 2012. p. 03)

O idoso em sua sexualidade, pode encontrar diversos caminhos, e no que diz respeito ao desejo, ele não morre, pelo contrário, ele busca novas formas de satisfação e tal busca depende da posição em que o sujeito se encontra frente ao seu desejo. Cada sujeito busca sua satisfação ou gozo de acordo com seus significantes que estão internalizados. Segundo Azevedo et al. (2012), os idosos sentem necessidade de um olhar amoroso, sentem necessidade de olhar de desejo, mesmo na velhice, onde de acordo com o autor:

(...) a sexualidade não tem mais os arroubos da juventude, mas ainda aparece com toda a força que impulsiona o viver. A mulher que percebe não ser mais aquela que atrai olhares masculinos, que não mais ouve gracejos, que não é mais cortejada, se sente como um não ser mais, como se o seu desejo não mais tive lugar, como se não fosse mais capaz de seduzir. A necessidade de sentir esse olhar voltado para si parece ser consequência das fases pré e edipiana onde a menina disputa com a mãe o desejo do pai, o olhar do pai. Hoje ela disputa este olhar desejante com suas filhas e netas. Uma mulher que tem um corpo já velho não tem espaço no mundo que valoriza e oferece possibilidades somente aos corpos jovens e perfeitos. Elas não são percebidas. (AZEVEDO et al., 2012. p.04).

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A ideia trazida pela sociedade sobre a velhice, faz com que os sujeitos temam as doenças crônicas ou degenerativas que podem desestruturar suas vidas. O idoso doente pode causar vários transtornos à família, tanto no aspecto do cuidado, como no aspecto afetivo e de como essa lida com a situação. Quando a família deixa o idoso, por vezes isolado, sobrevém o sentimento de culpa, a impotência e a fragilidade frente à situação. Bacelar (2002), salienta essa situação:

Quanto à doença física, ele também sofre o problema da própria subsistência – alguns sem qualquer fonte de renda, muitos com a aposentadoria insuficiente – e se vê como um peso na família. Tanto a doença física quanto a dependência econômica são as causas primordiais da infelicidade do idoso. (BACELAR, 2002 p. 31).

Esses aspectos influenciam diretamente a vida familiar, sendo uma questão a ser trabalhada. O maior prejudicado é o idoso, que colocado em um lugar de quem atrapalha ou de quem incomoda, acaba parando em instituições e por vezes esquecido. Então se pensa, em que lugar na dinâmica familiar está sendo colocado esse “velho”? Será que ele adquiriu o valor que a sociedade lhe atribui, de que o que está velho já não serve mais? Então o que se deve buscar é o lugar que ele ocupou, ocupa e que vai ocupar naquela família, podendo também ter um espaço não só físico, mas de fala, se colocando como um sujeito ativo, pensando assim, na sua condição de avô, como em alguns casos, pois, segundo Bacelar (2002):

O papel de avó pode representar ganho no sentindo de significar a sobrevivência da espécie e de sua continuidade por meio da família. Criando os netos, revive a experiência de criar os filhos, incorpora dados positivos no grau de autoridade e na maior condição de expressar afeto. No entanto, sua relação com filhos e netos pode ser marcada por conflitos na reestruturação dos papeis, nas perdas de alguns membros do núcleo familiar, por isso ao basta pesquisar a origem rural ou urbana da avó, seu estado civil, seu nível socioeducacional, sua saúde, atividade ou inatividade, moradia, divorcio ou recasamento; há necessidade de auscultar-lhe os sentimentos bem como os dos netos em todas as faixas etárias. E, diante da realidade cultural da contemporaneidade, é mister ouvir a avó independente financeiramente e a dependente; a capaz de participar das atividades da casa – tomar conta dos netos e dar assistência aos empregados – e a dos netos já independentes, a qual, embora lúcida e capaz, é afastada de todas as atividades e em nada participa da casa onde está abrigada, e ainda a avó residente nos abrigos geriátricos ou casas de repouso. (BACELAR, 2002, p. 33).

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Desse modo, seria muito importante reforçar uma imagem positiva desse processo de envelhecimento, para que a chegada da velhice não seja considerada apenas como o final da vida, mas como uma etapa em que é possível continuar a ser ativo nas diversas situações cotidianas. Se deve pensar no lado positivo da velhice, pois esses “velhos” também são capazes de se sentirem satisfeitos consigo próprios e com o seu envelhecimento. Quando se tem atitudes positivas é possível à adaptação às perdas e às incapacidades que aparecem juntamente com a velhice.

A terapia feita com os sujeitos que passam pelo processo de envelhecimento, tem por objetivo ajudá-los a aceitar o processo e, a saber, lidar com as coisas que lhe causem dor ou sofrimento, para serem capazes de elaborar as suas angústias e os seus medos. Para que possam falar sobre as suas experiências, se abrir, conseguir falar do passado, e também, do que estão vivendo no momento, e dessa forma, deixando de se apegar a rótulos sociais estabelecidos pela comunidade, confiando em si, nos seus conhecimentos e suas experiências.

A terapia também pode contribuir para o idoso não ter receio de expressar seus sentimentos aos que lhe são próximos, para que ele aprenda a lidar com as críticas, que parecem ter agregado mais peso com o passar dos anos, assim, expressando a sua subjetividade, mas também a sua individualidade em sua forma de pensar, se expressar e agir. Conforme Bacelar (2002), as subjetividades

São o fruto dos fatos que constituem o viver do homem - o individual, o familiar, o cultural, o político, o material e o social. São forças atuantes sobre o homem, que se afetam e vão criar novos campos. Cada acontecimento e cada momento se carregam de forças que se relacionam e se afetam, produzindo um perfil especifico de subjetividade. Os “processos de individualização” fundamentam a significação do indivíduo, do sujeito, da pessoa, da personalidade. Por tradição, esse princípio o julgava inteiramente pronto, constituído; hoje os estudiosos inclusive Deleuze, pensam o homem em processo. Trata-se a constituição do indivíduo vivo de um sistema que se desenvolve e emerge no acontecimento; ele está sempre sendo, à medida que os processos de individualização influem na sua formação. (BACELAR, 2002, p. 36).

Com uma aceitação maior, se indica que o indivíduo possui uma atitude positiva para consigo, aceitando as suas características, sendo elas, boas e más, e se sentindo de bem com o seu passado. Se ele possuir uma menor

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aceitação de si próprio, significa que o indivíduo não está satisfeito consigo, se arrependendo do que já viveu e de seu passado, almejando para que fosse diferente.

Dentre isso, Fernandes (2014) nos traz a dimensão de que o indivíduo, com um bom desenvolvimento na dimensão autônoma, é independente e autodeterminado, resistindo às pressões sociais, regulando o seu comportamento de dentro e avaliando-se com os seus critérios. Se, pelo contrário, o indivíduo não for autônomo, estará sempre se preocupando com as expectativas e as avaliações dos outros, no caso do discurso social, dependendo sempre dos julgamentos de fora para tomar decisões importantes. Ainda de acordo com Fernandes (2014), um indivíduo, com uma grande capacidade de controlar e manusear o ambiente à sua volta, consegue criar oportunidades no meio em que está inserido, sendo um indivíduo com elevado domínio do meio. No entanto, um sujeito com baixo domínio do meio terá dificuldades em manusear as tarefas do dia-a-dia, e irá se sentir incapaz de mudar ou melhorar o ambiente à sua volta, não tendo um sentido de controle do mundo externo. Quem tem grande capacidade de se desenvolver na dimensão propósito de vida, significa que possui objetivos, e um sentido de orientação, encontrando sentido no seu passado e presente.

Os aspectos psicológicos, nessa etapa da vida, são muitos e por vezes se tornam difíceis de lidar. As emoções se tornam mais complicadas de gerir, a motivação, que em alguns casos deixa de existir, é substituída por desilusão, sua personalidade se altera pelo estilo de vida que passou e pelo que está vivendo. Assim, por vezes, acaba sendo difícil aceitar que já não se é a mesma pessoa, pois não consegue fazer determinadas coisas como antes fazia. O não envelhecer psicologicamente, por vezes, torna-se complicado e pode levar à frustração. A pessoa não consegue se localizar em uma forma de pensar, e o corpo que já não lhe permite fazer de tudo, daí então, o sujeito acaba não usufruindo da vida em pleno e com qualidade.

Com isso, os idosos sentem dificuldade em se adaptar a novas situações, de planejar seu futuro e ter motivação para viver, geralmente regredindo, deixando de acreditar no futuro, o que lhes causa medo e vontade de não viver. Nessa fase da vida, o apoio dado por todas as pessoas deveria ser incondicional, sendo elas da família ou amigos, pois isso é fundamental.

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Tal auxílio faz com que a pessoa passe a acreditar em si, no futuro e com isso, desejar estar viva e aproveitar momentos que se tornam especiais, pois são vividos de forma mais intensa. A adaptação precisa, de certa forma, ser bem-sucedida para que surja um envelhecimento feliz, pois a sociedade criou um preconceito negativo em torno do idoso e viver só, não é fácil, principalmente sem apoio.

São muitas as alterações psicológicas que o ser humano sofre com o passar dos anos. Assim sendo, e depois de várias pesquisas, apresento alguns itens sobre o tema, matéria dada em Psicologia do Envelhecimento:

- Certo declínio na manifestação da afetividade, dos interesses, das ações, das emoções e dos desejos;

- Prejuízo da memória de fixação, como, por exemplo, esquecer nomes de pessoas, coisas, ou mesmo onde colocou determinados objetos;

- Acentuação das características da personalidade. Traços do tipo, por exemplo: rigidez, egocentrismo, desconfiança, irritabilidade, avareza, dogmatismo, autoritarismo, que tenham existido na juventude, tendem a exacerbar-se;

- Dificuldade na assimilação ou mesmo aversão a ideias, coisas e situações novas;

- Apego maior aos valores já conhecidos e convencionados, aos costumes e às normas já instituídas;

- Depressão/ alteração de humor;

É preciso ter em conta que todas estas manifestações podem transformar-se em graves patologias, impedindo o Idoso de viver a sua vida de maneira independente. (RODRIGUES, 2012, p. 43).

Fala-se muito de que os idosos precisam de um trabalho especializado, um acompanhamento, mas na questão de atendimento psicológico geralmente os idosos são mais resistentes que os jovens. Esse processo certamente é sofrido e o terapeuta será a testemunha desse sofrimento, buscando auxiliar ao idoso nesse novo desafio de sua vida, mas se sabe que a resistência é algo normal, pois, conforme Goldfarb (1998),

Apesar das recentes aberturas neste campo de aplicação da psicanálise, observamos algumas resistências à sua aceitação. Acreditamos que tal fenômeno seja consequência de preconceitos que vão desde a crença de que qualquer intervenção é inútil, já que os velhos não seriam modificáveis e estão perto do fim, até o medo de que os pacientes idosos morram durante o tratamento, o que sem dúvida mobiliza a própria onipotência; mas é bastante plausível que ele se deva bem mais à negação do próprio processo pessoal de envelhecimento do que a diferenças imanentes às diversas teorias. Um fato é inegável: o profissional que, desde qualquer área do conhecimento se dispõe a ouvir um idoso, só conta com a negação como estratégia para evitar o confronto com seu próprio destino. Ele sabe que se tiver sorte, e não morrer jovem, chegará lá. E este

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“chegar lá” na nossa sociedade moderna, não é nada alentador. (GOLDFARB, 1998, p. 07).

Esse sujeito, o idoso do qual se fala, revela a todo tempo, na vida e na consciência, a finitude que é o tempo todo negada, pois não aceita-se a morte de uma forma natural, de um corpo imaginário que o sujeito não quer que envelheça, e por sua vez quando isso acontece, não reconhece seu próprio corpo no espelho. A partir das ideias de Goldfarb (1998), podemos pensar o pensar o sujeito através da psicanálise:

O sujeito da psicanálise vem dar uma resposta às angústias de um “individuo” como já dissemos dividido, descentrado, dominado por um inconsciente que fala por ele. Este sujeito do desejo funda-se na alteridade, antecipa-se no desejo parental que o determina como sujeitado ao desejo do outro. (GOLDFARB, 1998, p. 12).

A autora sublinha que o sujeito é o produto do encontro, da articulação entre interioridade e exterioridade, e essa não é apenas fundante de subjetividade do sujeito, também é ela que constitui o campo onde se encontram os objetos de sua satisfação. Aborda sobre a violência do discurso que exalta a juventude e a produtividade, propõe um modelo desvalorizado no qual o velho encontra-se inserido, anulando então sua condição de quem deseja e seus direitos à cidadania.

A falta de um reconhecimento da velhice pelo social, de um lugar simbólico, o fato de não ser mais fonte de prazer, tem como resultado a desnarcisação do sujeito. Isto é, a falta de investimento do ambiente para com o sujeito e vice e versa, que com isso, se impede a elaboração da perda e provoca um crescente empobrecimento da vida afetiva. A resposta mais frequente a este processo é a depressão ou a demência como defesa do último baluarte narcísico, sobre isso, Goldfarb (1998) discute:

Se o limite da vida humana é a morte, a velhice é a fase da existência que está mais próxima deste horizonte. Por esta razão, os velhos são suportes ideais para a maior parte das significações negativas que a eles se referem. Podemos observar como muitas das ações supostamente destinadas a “cuidar “dos velhos, não são mais que subterfúgios para os manter isolados, assim como muitos discursos elogiosos não são mais que disfarces para encobrir o que de ameaçador e angustiante a velhice encerra em nosso imaginário social. Na velhice, período de perdas de objetos significativos e de lugares de reconhecimento simbólico, falha frequentemente a função reguladora do Ideal do Eu: então, no confronto entre o Eu Ideal e a realidade corporal, presentifica-se a incompletude, que como uma

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avalancha arrasta todas as imagens narcísicas que foram constituintes do Eu. Abrem-se assim buracos por onde se filtram as fantasias inconscientes de castração e aniquilamento ligadas a um Eu fortemente desvalorizado. (GOLDFARB, 1998, p. 14-15).

Por vezes ser velho pode ter várias significações para o sujeito, pode aparecer a perda de ilusão de sua potência, pode ser tomado pela pulsão de morte ou pode continuar lutando. A luta se torna algo difícil, pois o que está em jogo é a elaboração de própria vida, um luto que vem por antecipação. O medo da morte que sempre se faz presente e que ninguém consegue se adaptar.

A morte se faz pano de fundo da vida do sujeito, o qual pode ser pensado em três dimensões em relação ao tempo, que são: os desafios diários ante os obstáculos do presente; ao mesmo tempo em que evoca o passado na busca de sentido que se faz necessário e por final; o temor do futuro incerto que está por vir, e que o sujeito mergulha em um futuro de não-ser, o que provoca a saída total do campo de desejo.

A partir se pode pensar a questão do corpo, pois o ser humano possui um corpo real e um “corpo simbólico” o qual é atravessado pela linguagem, o corpo da representação do psiquismo, onde a pulsão se faz presente, sem aparecer de forma direta ou clara. O lugar onde se encontram os registros do sujeito, o que se elabora ou não de relações e de acontecimentos vividos, esse registro então, não é representável, que é o corpo pulsional e a partir disso, se dá o “corpo imaginário”.

Goldfarb (1998, p. 25) apresenta que no corpo criado como efeito de superfície “é que se constituirão os sintomas como expressão de um sentido, sentido que este “corpo erógeno” sempre manifesta como articulação do pulsional (real) com a linguagem (simbólico)”, e a autora ainda salienta:

Quando um acontecimento ligado a dor ou emoção irrompe em uma história singular, a construção que o sujeito fará dessa ocorrência dependerá não só da conexão particular entre seu corpo e sua psique, mas também da resposta que sua dor ou emoção gerem no outro. Emoção e dor, (2) vão formando sucessivas representações do corpo, que se articularão com as motivações inconscientes, e juntas estas decidirão sobre a eleição da causa à qual o sujeito vai atribuir o sentido histórico dos acontecimentos de sua vida. A identidade de um sujeito será então esta história que ele mesmo escreve, na qual fala de seu corpo. A história do sujeito é a história das marcas relacionais de dor e emoção em seu corpo; esta é sua identidade, e a história que ele escreve atribuindo sentidos a estas marcas é uma história que jamais se completa. Tal identidade corporal que parece sempre definitiva, deve permanecer sempre em aberto, ser uma versão

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sempre inacabada, para que o sujeito possa aceitar as mudanças que o tempo impõe, sem perder o sentido de permanência. A certeza de habitar um único corpo, sempre o mesmo, quaisquer que sejam suas modificações, é a garantia de uma identidade e de uma permanência na relação com o outro. Para consegui-lo, o sujeito deverá dar o mesmo sentido relacional a uma série de experiências, embora tenham acontecido em tempos diferentes, ou seja, deverão ter também um sentido temporal.(GOLDFARB, 1998, p. 28).

A autora escreve que o corpo é mediador entre a psique e o mundo, ou entre duas psiques, e que nessa relação se constrói suas causalidades; se o eco do próprio corpo no mundo não encontra respostas adequadas, se o outro for surdo e cego à dor e se não tiver a resposta esperada, irá operar uma desconexão relativa com toda a história do sujeito. Podemos dizer que a compreensão desse ponto ajuda na explicação de certos fenômenos frequentes na velhice, como o fato de muitos idosos se tornarem dementes ao sofrer hospitalizações ou doenças prolongadas.

Os modernos Centros de Terapia Intensiva e sua alta tecnologia, muitas vezes isolam o paciente em prol da preservação de um corpo biológico, sem considerar as suas necessidades emocionais, especialmente as de contato com os outros significativos e com um meio social. Visitas frequentes e prolongadas, uma música adequada, a presença de objetos estimados e uma reação mais “emocionada” por parte da equipe técnica que evitam um corte radical com o entorno habitual e a consequente retração da libido (GOLDFARB, 1998).

Estaríamos, portanto, na presença de uma gradação. Primeiro grau: somos seres falantes; esse é um grau empírico, que não corresponde ao pensamento da análise. A análise vai mais longe e afirma que, além disso, somos habitados pela linguagem e permanecemos expostos a sua incidência. O segundo grau nos situa, assim, como está. Expostos a linguagem, e sendo até atravessados por ela. Ora, é aí que intervém o terceiro grau. Quando a linguagem, ou, mais exatamente, quando um significante assume a forma de um "dito" que se diz fora de mim, à minha revelia, então, um elemento suplementar vem somar se: é que o corpo é afetado. A concepção psicanalítica da relação do sujeito com a linguagem encontra seu valor e toda a sua força, portanto, sob a estrita condição de pensarmos não apenas que o sujeito diz sem saber o que está dizendo, mas, principalmente, que, quando do reviramento do sujeito pela fala, o corpo é atingido. Mas, que corpo? O corpo como gozo. O corpo definido, não como organismo, mas como puro gozo, pura energia psíquica, da qual o corpo orgânico seria apenas a caixa de ressonância. Essa é a essência da questão. Aí, sim, agora eu poderia retomar nossa fórmula e declarar: nós, esses seres gozosos que somos, somos simbolicamente marcados no corpo; ou então declarar, muito simplesmente: nosso corpo está submetido à linguagem. Agora vocês

Referências

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