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Autonomia do cuidado vivenciada por adolescentes para um viver saudável: o olhar da enfermagem

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DOUTORADO EM ENFERMAGEM

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FILOSOFIA, SAÚDE E SOCIEDADE

MODALIDADE INTERINSTITUCIONAL UFSC/UFPA

JACIRA NUNES CARVALHO

AUTONOMIA DO CUIDADO VIVENCIADA POR ADOLESCENTES PARA UM VIVER SAUDÁVEL: O OLHAR

DA ENFERMAGEM

FLORIANÓPOLIS 2010

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Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina

C331a Carvalho, Jacira Nunes

Autonomia do cuidado vivenciada por adolescentes para um viver saudável [tese] : o olhar da enfermagem / Jacira Nunes Carvalho ; orientadora, Alacoque Lorenzini Erdmann. - Florianópolis, SC, 2010.

228 p.: il.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós- Graduação em Enfermagem.

Inclui referências

1. Enfermagem. 2. Adolescentes. 3. Cuidados. 4. Autonomia pessoal. I. Erdmann, Alacoque Lorenzini. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós- Graduação em Enfermagem. III. Título.

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JACIRA NUNES CARVALHO

AUTONOMIA DO CUIDADO VIVENCIADA POR ADOLESCENTES PARA UM VIVER SAUDÁVEL: O OLHAR

DA ENFERMAGEM

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Doutor em Enfermagem – Área de Concentração: Filosofia, Saúde e Sociedade.

Orientador: Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann

Co-orientadora: Dra. Mary Elizabeth de Santana

Linha de Pesquisa: Administração em Enfermagem e Saúde.

FLORIANÓPOLIS 2010

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(5)

Dedico essa Tese a minha mãe

Aos amigos que partilharam comigo as incertezas de cada momento vivido na busca

por meus objetivos

A minha filha e a meus netos Luana, Letícia, Luan e Perola

de quem abdiquei do prazer de acompanhar na fase mais interessante de suas vidas para

me dedicar ao exercício de aprender a aprender.

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus, presença viva e constante em minha vida, minha força e minha

inspiração, que me proporcionou energia e coragem para trilhar todos os caminhos vividos.

À minha doce e querida mãe, Domingas, por tudo o que fez e continua

fazendo em minha vida, por seu amor, por seu carinho por ter me mostrado desde cedo a realidade nua e crua sobre a vida. Por me ensinar alçar vôos cada vez mais altos o que certamente me trouxe até

aqui.

A Professora Alacoque Lorenzini Erdmann minha orientadora, pelas

oportunidades de crescimento e por deixar que eu expressasse meus sentimentos e me permitir compreender a difícil arte de aprender

enquanto caminhamos.

À minha co-orientadora, Professora Doutora Mary Elizabeth de

Santana, por contribuir de forma delicada e me levar a refletir sempre

a cada passo nesta caminhada.

Aos colegas do Grupo GEPADES, que solidárias me acolheram no

grupo com carinho, com elas pude experienciar momentos agradáveis de aprendizagem, partilhando atividades em um projeto com

adolescentes.

Agradecimento especial as Doutoras Francisca Georgina Macêdo de

Sousa e a Ana Lúcia Ferreira S. de Melo, pessoas com quem aprendi

que não se mede esforço, quando a questão é ajudar o outro a encontrar o seu caminho. A vocês o meu muito obrigado e que Deus as

(7)

A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização do projeto DINTER/UFSC/UFPA, em especial ao Professor

Alex Fiúza de Melo, reitor da UFPA.

Ao pessoal do Programa Saúde da Família do Canal da Visconde, ao pessoal da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Rodrigues Pinagés e aos participantes, adolescentes, professores, pais

e enfermeiros minha gratidão, porque sem eles todo o esforço na construção desse trabalho teria sido impossível.

A Claudia, Secretária do programa, cidadã incomum, sempre

atenciosa, alegre, prestativa e muito responsável, a quem confiei a formatação deste trabalho.

(8)

CARVALHO, Jacira Nunes. Autonomia do cuidado vivenciada por

adolescentes para um viver saudável: o olhar da enfermagem. 2010.

228 p. Tese (Doutorado em Enfermagem) Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

Orientadora: Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann Co-orientadora: Dra. Mary Elizabeth de Santana

Linha de Pesquisa: Administração de Enfermagem e Saúde

RESUMO

O constructo autonomia é um dos elementos inerentes ao desenvolvimento humano e envolve naturalmente transformações nas relações do sujeito com os grupos e contextos dos quais faz parte. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo compreender o significado de autonomia do adolescente para cuidado e suas interações na perspectiva de um viver saudável. A presente tese de doutorado encontra-se inserida na Linha de Pesquisa Administração de Enfermagem e Saúde do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração de Enfermagem e Saúde – GEPADES/UFSC. Trata-se um estudo descritivo/qualitativo, sendo os dados coletados por meio de entrevistas e dinâmicas interativas, tendo 27 participantes, entre estes adolescentes (16), pais (4), professores (2) e enfermeiros (5). Utilizamos como referencial teórico-metodológico a complexidade e a Grounded Theory TFD. Para a coleta de dados, a referência local foi a Casa Saúde da Família do Canal da Visconde, localizada no bairro da Pedreira, na cidade de Belém/Pará. O modelo teórico formulado foi “Entendendo a relação entre autonomia e dependência do adolescente para o cuidado na perspectiva do viver saudável” e foi sustentado pelas categorias: Expressando a necessidade de ajuda na construção da autonomia para o cuidado de si; Compreendendo a dependência do outro como dimensão necessária à aquisição da autonomia do cuidado do adolescente para um viver saudável; Reconhecendo o ambiente social como espaço para que o adolescente possa desenvolver a autonomia do cuidado para um viver saudável; Relacionando aspectos políticos e sociais da atenção à saúde do adolescente; Indicando a escola como parceira na aquisição da autonomia do cuidado por adolescentes para um viver saudável; Valorizando a orientação do profissional de saúde no processo de aquisição da autonomia do adolescente para o cuidado com vistas a

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viver saudável. Este modelo confirma a tese defendida de que o adolescente promove a aquisição de sua autonomia para o cuidado, em consonância com os diversos tipos de contextos em que se encontra, a partir do enfrentamento das dificuldades e facilidades encontradas na própria realidade vivida, visando sempre nessas interações à possibilidade de viver saudável. Espera-se que esse conhecimento agregado ao fazer da enfermagem, configurado na dinamicidade/interatividade do cuidado em saúde, torne-se um importante instrumento na construção de políticas e ações de promoção do viver saudável desses sujeitos.

Palavras-chave: Adolescente; Autonomia Pessoal; Cuidado;

(10)

CARVALHO, Jacira Nunes. Autonomy of Care Experienced by

Teenagers to a Healthy Living: the nurse outlook. 2010. 228 p. Thesis

(Doctor in Nursing) Program of Post-Graduation in Nursing, Federal University of Santa Catarina, Florianopolis, 2010.

Adviser: Dr. Alacoque Lorenzi Erdmann Co- Adviser: Dr. Mary Elizabeth de Santana

Line of Study: Administration of Nursing and Health.

ABSTRACT

The autonomy construction is one of the elements inherent to the human development and involves natural transformations in the relations of the subject with the groups and context in which he is part of. In this form this work has as objective to understand the significant autonomy of the adolescent to care and his interactions in the perspective of a healthy living. The present thesis is inserted in the line of study of Administration of Nursing and Health of the study group and research in Administration of Nursing of Health – GEPADES/UFSC. This is a descriptive/qualitative study, through which data were collected by means of interviews and interactive dynamics, in which 27 participants, among this adolescents (16), Parents (4), Professors (2) and Nurses (5). We use a reference methodology-theoretical to complexity and Grounded Theory- TFD. For collection of data the local reference was House of Family Health of Canal of Visconde, located in the neighborhood of Pedreira, in the city of Belem-Para. The theoretical model formulated was ``Understanding the relation between autonomy and dependency of teenager to care in the perspective of healthy living`` it was sustained by categories: Expressing the necessity of helping in the construction of autonomy to care for oneself; Understanding the dependency of the other as a necessary dimension in acquiring of autonomy for care of the teenager to a healthy living; knowing the social environment as a space for adolescent to develop their autonomy for care to a healthy living; Relating political and social aspects to the attention of the health of the teenager; Indicating the school as partner in the acquisition of autonomy of care for the adolescent to a healthy living; Valorizing the orientation of health professionals in the process of acquisition of the adolescent autonomy to care and in order to live healthy. This model confirmed the thesis defended that the teenager

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promotes the acquisition of his autonomy to care, in a consistent manner with different types of context in which he is found, from coping with difficulties and possibilities of a healthy living, always seeking in this interactions the possibility of healthy living. Expecting that this aggregate knowledge makes nursing, into dynamicity/interactivity of health care, to become an important instrument in construction of political and actions of promotion of healthy living of the subjects.

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CARVALHO, Jacira Nunes. La autonomía del cuidado vivida por los

adolescentes para una vida sana: la mirada de la enfermería. 2010.

228 p. Tesis (Doctorado en Enfermería). Programa de Posgrado en Enfermería, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

RESUMEN

El constructo autonomía es uno de los elementos inherentes al desarrollo humano y, naturalmente, implica en transformaciones en las relaciones entre el sujeto y los grupos y contextos a los que pertenece. Así, este estudio tiene como objetivo comprender el significado de la autonomía para la atención de los adolescentes y sus interacciones desde la perspectiva de una vida sana. La presente tesis doctoral se insiere en la Línea de Investigación: Administración de Enfermería y Salud, del Grupo de Estudios e Investigación en Administración de Enfermería y Salud - GEPADES / UFSC. Se trata de una investigación descriptiva y cualitativa, con los datos recolectados a través de entrevistas y dinámicas interactivas, con 27 participantes, entre ellos: adolescentes (16) padres (4), maestros (2) y enfermeras (5). Como marco teórico y metodológico se utilizó la Teoría de la Complejidad y la Teoría Fundamentada (Grounded Theory TFD). Para la recolección de los datos, el lugar de referencia fue la Casa de Salud Familiar del Canal de vizconde, ubicada en el barrio da Pedreira en la ciudad de Belem, Pará. El modelo teórico formulado fue: "Entender la relación entre la autonomía y la dependencia para el cuidado de los adolescentes desde la perspectiva de una vida sana", el cual es sustentado por las siguientes categorías: Expresar la necesidad de asistencia en la construcción de la autonomía para el autocuidado; Comprender la dependencia del otro como una dimensión necesaria para adquirir la autonomía del adolescente para una vida sana; Reconocer el entorno social como un espacio para que los adolescentes puedan desarrollar la autonomía del cuidado para una vida sana; relacionar los aspectos sociales y políticos de la atención de la salud de los adolescentes; Indicar a la escuela como un socio para la adquisición de la autonomía del cuidado por los adolescentes para un vivir saludable; Valorizar la orientación del profesional de la salud en el proceso de adquisición de la autonomía de los adolescentes para un vivir saludable. Este modelo confirma la tesis de que el adolescente promueve la adquisición de su autonomía para la

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atención, en consonancia con los distintos tipos de contextos en los que él se encuentra, a partir del enfrentamiento de las dificultades y facilidades encontradas en su propia realidad vivida, buscando siempre en esas interacciones la posibilidad de una vida sana. Se espera que este conocimiento agregado al quehacer de la enfermería y configurado en la dinámica/interacción de la atención de salud, se convierta en una importante herramienta para la construcción de políticas y acciones que permitan promover una vida sana de esos sujetos.

Palabras clave: Adolescente; Autonomía Personal; Cuidado;

Enfermería.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABS ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE

ACS AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

ECA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ESF ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

FUNABEM FUNDAÇÃO NACIONAL DE BEM-ESTAR

IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA

LOAS LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

MS MINISTÉRIO DA SAÚDE

OMS ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE

ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

SAS SECRETARIA DE ATENÇÃO A SAÚDE SUS SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

TFD TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS

UBS UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

UNICEF FUNDO DAS NAÇOES UNIDAS A FAVOR DA

INFÂNCIA

USF UNIDADE SAÚDE DA FAMÍLIA

SESMA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE

PROSAD PROGRAMA DE SAÚDE DO ADOLESCENTE

LDB LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO

SINASE SISTEMA NACIONAL SOCIOEDUCATIVO

CDCAs CONSELHO DOS DIRETORES DA CRIANÇA E

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SAEB SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

ENEM EXAME NACIONAL DE ENSINO MÉDIO

PNAD PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE

DOMICÍLIOS

DASAC DIVISÃO ADMINISTRATIVA DA SACRAMENTA

SIAB SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA ATENÇÃO

BÁSICA

TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: A visão da escola na atualidade ... 68  Figura 2: Relações para aquisição da autonomia ... 69  Figura 3: Revelando o fenômeno da dependência do adolescente para

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: População adstrita à unidade de SF do Canal da Visconde

por faixa etária – Belém/Pará. ... 57 

Quadro 2: Participantes da investigação segundo grupo amostral ... 59 

Quadro 3: Codificação aberta ... 63 

Quadro 4: Codificação aberta ... 63 

Quadro 5: Agrupando códigos e atribuindo conceitos ... 65 

Quadro 6: Agrupando conceitos em categorias – Codificação Axial .. 65 

Quadro 7: Memorando 1 ... 67 

Quadro 8: Memorando 2 ... 67 

Quadro 9: Memorando 3 ... 68 

Quadro 10: Demonstrativo das categorias e subcategorias que emergiram dos dados durante o processo de análise ... 71 

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SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS ... 14  LISTA DE FIGURAS ... 16  LISTA DE QUADROS ... 17  APRESENTANDO A TESE ... 20  CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 22 

CAPÍTULO I - FLORESCENDO AS IDEIAS PARA ESTE ESTUDO ... 23 

1.1 REVISITANDO OS ASPECTOS QUE ME LEVARAM A REALIZAR ESTE ESTUDO ... 23 

1.2 APRESENTANDO AS QUESTÕES DE PESQUISA, O OBJETIVO E A TESE ... 27 

CAPITULO II - PERCORRENDO OS CAMINHOS DA ADOLESCÊNCIA ... 29 

2.1 A ADOLESCÊNCIA E A LITERATURA PERTINENTE ... 29 

2.2 CAMINHOS DELINEADOS PARA A ATENÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE ... 34 

CAPÍTULO III - DESVENDANDO OS CAMINHOS DA AUTONOMIA ... 38 

3.1 BUSCANDO ENTENDER OS SIGNIFICADOS DE AUTONOMIA ... 38 

3.2 A COMPREENSÃO DO CUIDADO NA BUSCA DA AUTONOMIA ... 45 

CAPÍTULO IV - PELAS SENDAS DA EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE E DA GROUNDED THEORY ... 48 

4.1 A COMPLEXIDADE SEGUNDO MORIN ... 48 

4.2 CAMINHOS PERCORRIDOS NO PROCESSO INVESTIGATIVO: A GROUNDED THEORY ... 52 

4.3 LOCAL DO ESTUDO ... 55 

4.4 PARTICIPANTES DO ESTUDO ... 57 

4.5 IMPLICAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS ... 58 

4.6 COLETA DOS DADOS ... 59 

4.7 ELABORANDO OS CÓDIGOS, CONSTRUINDO CATEGORIAS ... 62 

4.8 APRESENTAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS DADOS ... 69 

(19)

CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS ... 72 

5.1 DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS ... 72 

5.2 DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DO FENÔMENO ... 109 

CAPÍTULO VI - ANÁLISE E DISCUSSÃO DO MODELO TEÓRICO ... 119 

6.1 MANUSCRITO 01 - O ADOLESCENTE NECESSITANDO DE AJUDA NA CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA PARA O CUIDADO PARA UM VIVER SAUDÁVEL ... 119 

6.2 MANUSCRITO 02 - COMPREENDENDO A DEPENDÊNCIA DO ADOLESCENTE NA CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA PARA O CUIDADO ... 138 

6.3 MANUSCRITO 03 - AUTONOMIA DO CUIDADO VIVENCIADA POR ADOLESCENTES PARA UM VIVER SAUDÁVEL: O OLHAR DA ENFERMAGEM ... 153 

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 172 

REFERENCIAS ... 175 

APÊNDICES ... 187 

(20)

APRESENTANDO A TESE

Este trabalho consiste na tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos indispensáveis à obtenção do título de Doutora em Enfermagem. A presente tese de doutorado encontra-se inserida na Linha de Pesquisa Administração de Enfermagem e Saúde do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração de Enfermagem e Saúde – GEPADES/UFSC.

Neste estudo, buscamos compreender o significado de autonomia do adolescente para o cuidado e suas interações na perspectiva de um viver saudável.

A intenção relativa a esse trabalho é a de que ele possa contribuir com a sociedade, por intermédio dos pais, professores, enfermeiros e sociedade em geral, na elaboração de estratégias que venham propor sistemas organizados de atenção à criança e ao adolescente, que possam permitir leituras diversificadas sobre os problemas dos jovens presentes na sociedade atual e que olhem os adolescentes numa outra perspectiva, diferente do olhar atual.

Precisamos focar o olhar sobre os espaços escola e família, um espaço de educação formal e outro informal, mas ambos com muitas possibilidades de provocar os adolescentes e aqueles que ali trabalham a encontrar novas formas de viver em sociedade de maneira saudável.

O trabalho encontra-se dividido em sete capítulos. No primeiro capítulo, busco contextualizar o estudo, bem como justificar a sua relevância. Apresento as questões que nortearam o estudo e os seus objetivos.

No segundo capítulo, tendo em vista que o trabalho volta seu foco de atenção para os adolescentes, apresento alguns conceitos de adolescência e teço algumas considerações sobre as políticas públicas de proteção ao menor.

No capítulo três, discorro acerca da autonomia e sobre o cuidado. No capítulo quatro, apresento o referencial teórico à complexidade e em seguida descrevo a metodologia utilizada neste estudo. Optei pela Teoria Fundamentada nos Dados, pois ela me permitiu, através de seus passos, construir o modelo teórico acerca do tema a que me propus.

O capítulo cinco foi dedicado à apresentação dos fenômenos, categorias, subcategorias, seus componentes e códigos.

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teoria substantiva construída neste estudo. As considerações finais foram apresentadas no capítulo sete, no qual faço algumas reflexões acerca do estudo realizado. A seguir, apresento as referências utilizadas.

De acordo com as novas normas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, na sequência, apresento os resultados na forma de manuscritos, já com a formatação para os periódicos pretendidos.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Fazer este estudo sobre a adolescência foi um momento vivido de forma muito gratificante, pois, apesar de muitas incertezas diante das adversidades percebidas do viver adolescente, embrenhar pelos caminhos percorridos por outros autores foi muito satisfatório. Conhecer de forma ainda um tanto dispersa a epistemologia da complexidade foi outro mergulho nas “brumas do conhecimento”. Com a Grounded Theory, ir aos poucos descobrindo seus encantos foi um dos melhores momentos dessa experiência. Assim, foi possível descrever essa caminhada trilhando por veredas incertas, mas com a consciência de que os dados me levariam a algum lugar. Dessa forma, o encontro com o fenômeno foi meu momento de êxtase.

Na realização de um estudo desta natureza, por mais que queiramos nos afastar, tornar-se um elemento neutro nesse processo é algo quase impossível, pois acreditamos na vida cotidiana do pesquisador e na possibilidade da inteireza dos dados, se forem experienciados, vividos e participados. Nesta minha experiência, procurei estar em diversos espaços de convivência dos adolescentes, tais como: escola, casa de família, unidades de saúde, para obter uma visão melhor de suas realidades. Assim, foi possível descrever essa experiência de forma a explicar, segundo a ótica dos participantes, sobre os significados de autonomia para o cuidado do público participante deste estudo. Revisitar os aspectos que me levaram a buscar este fenômeno possibilitou-me um conhecimento sobre essa fase da vida um tanto interessante.

Em seguida, apresento as questões de pesquisa, o objetivo e a tese, elementos que me guiaram para o desenvolvimento deste estudo.

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CAPÍTULO I - FLORESCENDO AS IDEIAS PARA ESTE ESTUDO

1.1 REVISITANDO OS ASPECTOS QUE ME LEVARAM A REALIZAR ESTE ESTUDO

O interesse em estudar autonomia do cuidado em adolescentes surgiu de uma forma um tanto inesperada. Sendo designada pela chefia do Curso de Enfermagem para assumir uma turma de prática* em uma unidade de referência para adolescentes, fui aos poucos, juntamente com os alunos, durante o primeiro semestre letivo de 2006, discutindo sobre a forma de acolhimento do adolescente, a consulta de enfermagem direcionada a esse público, a respeito das estratégias para implementar educação em saúde para a demanda daquela unidade e sobre as dificuldades de interação da equipe multidisciplinar daquele serviço. Procurei, neste período, inteirar-me do que informava a mídia sobre o tema. Busquei também, na abundante literatura científica, conhecimento sobre os problemas dessa clientela que aflige os pais, a sociedade, os governantes e também os próprios adolescentes.

No segundo semestre do mesmo ano, 2006, com uma outra turma

___________

* Atividade curricular na qual o aluno vivência algumas ações inerentes ao serviço do enfermeiro sob a supervisão do docente.

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de alunos, procuramos uma nova experiência, agora na rede básica de saúde do município de Belém, precisamente numa unidade de Estratégia Saúde da Família (ESF), situada no bairro da Pedreira. Nessa unidade, não encontramos serviços direcionados aos adolescentes. Eles eram atendidos conforme o plano de atendimento da ESF, que consistia numa consulta agendada pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS), ou, caso o adolescente necessitasse de atendimento, deveria procurar a unidade, conseguir uma ficha para agendar uma consulta com o médico da equipe com o qual sua família estava cadastrada. Procuramos conhecer o modelo de prontuário existente. Somente as adolescentes que já haviam passado por uma gestação tinham prontuários contendo algum dado registrado, mesmo assim muito incompleto. Durante a nossa passagem, realizamos um trabalho junto às equipes daquela unidade, numa tentativa de sensibilizá-las para que houvesse melhor acolhimento aos adolescentes que buscassem os serviços.

Esta nossa experiência, contribuiu para a percepção da necessidade de aumentar o foco de nossas preocupações relacionadas à adolescência. É sabido que, apesar da veiculação, pela mídia, de muitas informações sobre cuidados à saúde, prevenção de doenças e transformações que ocorrem nessa fase da vida, não são todos os adolescentes que conseguem apreender o conhecimento e colocá-lo em prática.

Segundo Bee (2003), o adolescente passa por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, afetivas, intelectuais e sociais, considerando esta mais do que uma fase: um processo dinâmico de passagem entre a infância e a idade adulta.

Entendemos que a maioria dos adolescentes não possui todas as informações necessárias para que se sinta tranquilo em relação a tantas transformações concatenadas entre si, nem às suas dúvidas, ansiedades e vontades. Compreendemos que eles vivenciam as incertezas e os desconhecimentos sobre a fisiologia do seu corpo, sobre os fatores ligados à reprodução, à contracepção e sobre as doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo Possebom e Lazzarotto (2005), os adolescentes constituem um grupo heterogêneo, pois seus interesses não são satisfeitos pelos serviços de saúde comuns às outras faixas etárias. Daí, a necessidade do desenvolvimento de ações programáticas voltadas especificamente ao adolescente. Contudo, é preciso lembrar que as necessidades de saúde na adolescência não se restringem aos aspectos orgânico-biológicos, mas incluem outras, de caráter educacional, social, lúdico, e entre estas se faz necessário a informação para o autocuidado.

(25)

É notória a ausência de ações promotoras de saúde voltadas para esse público nos serviços de atenção básica. A carência de pessoal qualificado para o desenvolvimento de ações específicas para a faixa etária entre 12 e 18 anos compromete as iniciativas. Temos a convicção de que não bastam ações pulverizadas, é preciso que as leis sejam postas em prática e que os poderes públicos possam, juntamente com a iniciativa privada, unir esforços guiados por sentimentos de mudança, de solidariedade e amor, na conformação de diretrizes que fundamentem as práticas de cuidado à saúde do adolescente.

A ocorrência de situações indesejadas no seio da adolescência tem se tornado um problema emergente e que merece especial atenção dos gestores, dos trabalhadores de saúde e da academia no sentido de minimizá-las. Devemos pensar em ações de cuidado à saúde que busquem a promoção, prevenção, ampliem o conhecimento e opções de cuidado à saúde do adolescente com adoção de estilo de vida saudável.

Apesar das inúmeras organizações governamentais e não-governamentais presentes e atuantes com o grupo populacional de adolescentes no País, ainda é bastante preocupante o número de jovens que vivem à mercê dos desajustes sociais, das drogas, da ociosidade e da desescolarização. Precisa-se de um esforço horizontal dos profissionais de saúde e usúario/adolescente, para que nesta relação criem vínculos com a família com a intenção de qualificar a atenção à saúde do adolescente.

Estudos realizados nos últimos anos estimam que haja atualmente mais de 1 bilhão de pessoas com idades entre 10 e 19 anos, o que representa quase 20% da população mundial. No Brasil, essa população está em torno de 32 milhões de jovens de ambos os sexos entre 10 e 19 anos, o que representa, segundo dados de 2004 do IBGE, 20,84% da população total do País. (BRASIL, 2008).

Os dados apresentados pelo UNICEF (2006) revelam que 1 milhão de crianças e adolescentes brasileiros estão fora da escola; 1,1 milhão de jovens entre 12 e 17 anos continuam analfabetos; 2,9 milhões de crianças entre 5 e 14 anos permanecem trabalhando. No Pará, estado onde este estudo foi desenvolvido, os dados de analfabetismo na população adolescente ainda apresentam índices bastante elevados: 8,1% em 2005 na faixa etária de 10 a 14 anos. (BRASIL, 2008).

Segundo o banco de dados do Movimento Nacional de Direitos Humanos, o número de homicídios sofridos por pessoas entre 15 e 24 anos até 2006 era de 17,3%, sendo referido um declínio nestas taxas em função das ações preventivas estimuladas e implantadas em todo o País. A faixa etária de maior risco é a que fica entre 15 e 17 anos. (ANCED,

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2004).

Entre as causas de mortalidade de adolescentes está a mortalidade por causas externas, que no Brasil, em 2005, apresentou os seguintes índices: 51,4% na faixa etária de 10 a 14 anos e 75,6% na faixa compreendida entre 15 e 19 anos. No estado do Pará, os índices ficaram em torno de 45,3% na faixa etária de 10 a 14 anos e 66,2% na faixa de 15 a 19 anos. Em Belém, estes índices se mantiveram nas mesmas proporções que o estado nas faixas etárias de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos, representando 40% e 65,2%, respectivamente, da mortalidade proporcional por causas externas. (BRASIL, 2008).

Entre adolescentes, o tabaco é a segunda droga mais consumida. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maioria dos fumantes experimenta seu primeiro cigarro e se torna dependente antes dos 18 anos de idade. O número de fumantes nesta faixa etária é preocupante. Cerca de 100 mil pessoas começam a fumar todos os dias ainda na juventude. Estima-se que, no Brasil, a cada ano, 200 mil pessoas morram precocemente devido às doenças causadas pelo tabagismo, número que não para de aumentar. (BRASIL, 2008).

O aumento da atividade sexual do adolescente e de seu peso na fecundidade do País tem levado a uma preocupação maior por parte dos estudiosos com a saúde reprodutiva dos jovens. Isso decorre do fato de que os adolescentes sexualmente ativos estão mais expostos ao risco da gravidez precoce ou indesejada, mas também ao aborto, às doenças sexualmente transmissíveis e à AIDS. Destes jovens, muitos não têm acesso a informações e serviços que protejam sua saúde e permitam que tomem decisões de maneira livre e responsável.

O relatório Brasil informa que, nas regiões Norte e Nordeste, existe um número elevado de mães entre 10 e 19 anos. Os dados do Ministério da Saúde de 2005 informam que em 28,5% dos partos na região Norte e 25,1% da região Nordeste as mães estavam nesta faixa etária. A média nacional de mães nesta faixa etária é de 21,8% do total. (UNICEF, 2008).

O número de bebês nascidos de mães com menos de 15 anos vem aumentando. Na média, para o Brasil, este número aumentou de 6,9 por mil nascidos vivos em 1994 para 8,8/1000 em 2005, o que representa um crescimento de 28,6%. Houve aumento em todas as regiões. Em 1994, eram 18 mil bebês nascidos de crianças e adolescentes menores de 15 anos; em 2005, foram 27 mil. O Norte continua sendo a região onde ocorre o maior número de nascimentos de mães com menos de 15 anos, registrando 11,0/1000 em 1995 e 14,7/1000 em 2005. (UNICEF, 2008).

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prática ações no sentido de minimizar essa avalanche de problemas que afetam o grupo populacional de jovens em nosso país. Acreditamos que, respeitando os objetivos do Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD/1989) e os princípios que preceituam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990), a população brasileira de adolescentes seria mais bem cuidada e protegida das ameaças presentes nas sociedades de modo geral.

A Constituição Brasileira de 1988 estabeleceu no seu artigo 227 que “é dever do Estado e da família assegurar à criança e ao adolescente, como prioridade absoluta, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à vivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, violência, exploração, crueldade e opressão”. (BRASIL, 1988).

Isso deve ser compromisso ético de qualquer sociedade, assim como das políticas governamentais que pretendem atingir plenamente o direito básico de cidadania dos adolescentes. Além dos aspectos de inclusão de seus jovens, devem direcionar suas atenções para os fatores determinantes dos riscos, aos quais estão expostos no cotidiano de suas vidas. (OSELKA; TROSTER, 2000).

Vejo a necessidade de haver cumplicidade neste caminhar, descobrindo a melhor maneira de estabelecer uma convivência saudável entre os pais e os filhos, pois é nesta relação de parcerias e compreensões de significados que se inicia o processo constitutivo da identidade do adolescente. A escola, depois da família, é a segunda instituição onde criança e adolescente introjetam outros papéis sociais, partindo daí para as relações com o coletivo.

Segundo Batista (2000), é por meio dessas interações que se inicia o processo de individualização, que leva à constituição da identidade autônoma. O desafio desse processo está no desejo de ser independente ao mesmo tempo em que deseja preservar a ligação com a família e a sociedade.

1.2 APRESENTANDO AS QUESTÕES DE PESQUISA, O OBJETIVO E A TESE

As manifestações das pessoas de maneira geral refletem o seu interior, no qual, o fato de pensar sobre a sua vida leva-as à ação pela qual expressam as suas singularidades. Estas ações comunicam a

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realidade social e pessoal vivida, construída a partir das suas experiências e possibilidades existenciais. O social, então, torna-se condição humana fundamental, pois o ser humano não vive senão em relação com o outro. (ERDMANN et al., 2006).

Dessa forma, no processo de socialização dos filhos, os pais fazem uso de diversas estratégias de acordo com estilo educativo de cada um. Assim, podemos compreender que o sujeito na fase da adolescência sofre influência de variáveis internas, como a autoestima, relações com autoridade e desejo para sua independência, assim como das variáveis externas, como a estrutura familiar, presença ou ausência de controle e o ambiente emocional que envolve o indivíduo. (BRONFENBRENNER, 1996).

É nesta perspectiva da possibilidade da autonomia do adolescente, na intervenção positiva da enfermagem e ancorada no olhar complexo sobre o cuidado da saúde do adolescente que se projeta a minha intenção neste estudo.

E na expectativa de encontrar subsídios que auxiliem a compreensão das interações vivenciadas pelo adolescente para a realização do cuidado, e entendendo que este cuidado se torna essencial por ser este um momento de aprendizado ligado a condutas e comportamentos futuros, proponho as seguintes questões norteadoras do estudo: Quais os significados atribuídos pelos adolescentes para

autonomia do cuidado na perspectiva de um viver saudável? Quais as interações experienciadas na realização deste cuidado?.

Sendo assim, o objetivo deste estudo é: Compreender o significado de autonomia do adolescente para o cuidado e suas interações na perspectiva de um viver saudável.

Esta compreensão organizada e apresentada como uma matriz teórico-empírica poderá afirmar ou não a seguinte tese: Na busca por um viver saudável, adolescentes desenvolvem, em suas interações cotidianas, a autonomia do cuidado de sua saúde e a compreensão do processo de cuidado. Esta tese agregada ao fazer da enfermagem, configurada na dinamicidade/interatividade do cuidado em saúde, torna-se importante instrumento na construção de políticas e ações de promoção do viver saudável dos adolescentes.

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CAPITULO II - PERCORRENDO OS CAMINHOS DA ADOLESCÊNCIA

2.1 A ADOLESCÊNCIA E A LITERATURA PERTINENTE

Refletir sobre a vida, em seus períodos, e nessa reflexão incluir a adolescência é algo ainda incipiente na sociedade brasileira. Mesmo diante das preocupações manifestadas por alguns grupos, considera-se pertinente que haja um maior incentivo, uma maior mobilização para que estudos sejam realizados, no sentido de se fazer emergir propostas inovadoras que venham minimizar os problemas dos adolescentes em nossa sociedade. Reconhecendo as dificuldades inerentes à discussão deste tema, optamos por dialogar com alguns autores sobre as características dessa fase.

Um dos primeiros aspectos a considerar é como delimitar essa fase da vida. Neste ponto, podemos incursionar em varias direções. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define “adolescência” como a fase da vida humana compreendida entre 10 e 19 anos, enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece outra faixa etária, ou seja, 12 a 18 anos.

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e estes estão inseridos numa faixa cronológica mais extensa, de 10 a 24 anos. (ALMEIDA et al., 2005; PEREIRA, 2004). Há ainda aqueles que acreditam não ser possível delimitar essa fase por ser ela específica e diferente para cada ser e cada cultura. Mesmo assim, podemos perceber uma tendência em determinar o tempo da juventude com critérios etários predefinidos e rígidos. (DAYRELL, 2005).

Outro ponto a considerar, que foi discutido no estudo de Minayo (2004), são as mudanças ocorridas nos aspectos biopsicossociais, cujas peculiaridades atribuem aos adolescentes necessidades especiais e imediatas, de acordo com a dinâmica do processo maturacional de cada um.

Diante disso, Calligaris (2000) compara a adolescência como um sujeito que recebe informações de como se portar em determinado lugar, mas, ao receber as informações sobre os valores que deve respeitar naquela comunidade, sua integração àquele espaço/grupo fica suspensa em função da não-maturidade dos corpos para a realização dos ditos valores. Essa autorização é postergada e esse período de suspensão é a adolescência.

No entanto, Gomes e Lopez (1997) consideram que a adolescência é um período no qual se dá a continuação do processo de crescimento e desenvolvimento que iniciou no momento da fecundação, só que agora com uma velocidade muito maior e com características especiais. Assim, como para Ferreira et al. (2007), estar na adolescência é viver uma fase na qual mudanças acontecem no corpo físico, nas ações sociais e nas reações psicológicas, pois o crescimento somático e o desenvolvimento em termos de habilidades psicomotoras intensificam e os hormônios atuam vigorosamente levando a mudanças radicais, mudanças estas sendo percebidas e compreendidas de diferentes maneiras por aqueles que de certa forma dão atenção a esse processo.

Winnicott (1990), contribuindo com concepções psicológicas sobre o desenvolvimento humano, afirma que o crescimento emocional do adolescente ocorre em fases, em um movimento de vai e vem, por um processo de circularidade incessante até a morte. Este processo é necessário para o amadurecimento pessoal. Desse modo, a adolescência pode ser compreendida como uma reencenação de fases anteriores, com peculiaridades próprias, vista como uma experiência a ser repetida no futuro. Podemos reconhecer esta afirmativa na frase de Morin (1987), quando investe contra a tendência de se pensar a infância, a juventude e qualquer outra etapa da vida como etapas rígidas, que se esgotam em si mesmas, como se a passagem de cada um desses ciclos implicasse a superação do anterior.

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Como parte do processo de desenvolvimento, existe, ainda, o período que denominamos de “puberdade”, que é marcado pelas transformações psicológicas ligadas à maturação sexual, no qual o adolescente se encontra sentindo e observando, em seu corpo, as mudanças desse novo ciclo de vida. Todas essas mudanças vão se desenvolvendo ao longo de vários anos, vão progredindo, e são acompanhadas de sentimentos contraditórios. Segundo Patrício (1995), nesta fase, dois fatores são necessários: a tendência inata ao amadurecimento, ou seja, os caracteres que o próprio organismo se encarrega de processar, e a existência de um ambiente que possibilite e facilite este processo. Por ambiente, podemos compreender o meio sociocultural e afetivo-espiritual, representado pela família, escola, trabalho, lazer, religião, comunidade, entre outros, de forma dinâmica e inter-relacionada, influenciando tudo no universo, todas as dimensões de seu espaço, essenciais ao desenvolvimento da vida sem perda da qualidade.

Para Balonne (2003), é na dimensão do ambiente social e afetivo que o adolescente passa uma fase de descobertas e de início da aquisição da independência, sendo necessário o estabelecimento de limites, por parte dos pais, para que eles aprendam o que é certo ou errado e formem uma personalidade saudável. Na adolescência, o indivíduo adquire também a capacidade de pensar o abstrato e dedica sua faculdade ao questionamento do mundo que o rodeia. O intelecto apresenta-se aqui mais eficaz, rápido, e permite elaborações mais complexas, ocorre um aumento da concentração, seleção de informações, maior capacidade de retenção e evocação, a linguagem se torna mais completa e complexa. Isso tudo faz com que o adolescente sinta que “pode tudo”, tornando-se mais independente e contra os valores até então tidos como corretos.

É nessa luta entre dúvidas e incertezas que o adolescente vislumbra possibilidades de assumir compromissos, de responder por seus atos e atitudes, liberar os pais para a execução de inúmeras tarefas para as quais até então se sentia incapacitado. A isso chamamos “processo de construção da autonomia”, que se caracteriza por ser diferente em cada ser. Para a Rede Feminista de Saúde (2004), é neste percurso que se desenvolvem processos psicológicos e padrões de identificação que evoluem da fase infantil para a adulta, entre eles a transição de um estado de dependência para outro de relativa autonomia.

Na percepção de Almeida (2005), para sair desse estado, os jovens precisam sentir o apoio dos adultos a sua volta. Os adultos no lugar de pais estão como ponto de referência. No entanto, em muitas das famílias, na medida em que os adolescentes dirigem sua atenção para

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fora de casa, tanto pais como outros membros vivenciam esta busca pela independência como uma perda do filho. Na verdade, em psicologia a transição da infância para a adolescência assinala uma perda para a família: a perda da criança. Os pais, muitas vezes, sentem um vazio quando os adolescentes passam a ter maior independência.

Nesse estágio da vida, há uma luta para obter sua própria autoimagem e essa procura pode também se tornar confusa para os adolescentes e familiares. É comum os filhos ficarem particularmente divididos entre a identificação com a mãe e a identificação com o pai, sejam eles menina ou menino. (PRETO, 2001).

Nesse sentindo, Carter e McGoldrick (2001) dizem que o gênero sempre foi um aspecto integral da autoidentidade e que os relacionamentos entre filhos e pais do mesmo sexo têm um poderoso efeito sobre o processo de identificação de gênero durante a adolescência.

No enfrentamento desse processo de identificação para encontrar sua imagem nas certezas e incertezas do desejo, adolescentes e família alteram regras, usam dos limites para se reorganizarem no intuito de alcançar/oferecer a tão almejada autonomia. Preto (2001) ressalta que nessa etapa do ciclo da vida algumas famílias necessitam de ajuda por passarem por uma grande mudança ao tentar dominar as tarefas da adolescência. Em muitos casos, buscam uma parceria com a escola, quando não, procuram terapia familiar junto a um profissional qualificado para tal.

Entendemos que tanto adolescentes quanto os familiares precisam de espaços para alívio de suas tensões, como sinaliza Preuschoff (2003). É imprescindível que os pais permitam liberdade aos filhos adolescentes, porém, ao mesmo tempo, devem continuar insistindo em manter as regras básicas da convivência. Calma e serenidade, e também humor, devem ser atitudes constantes dos pais durante a adolescência dos filhos.

Segundo Preto (2001), é bom que saibam os pais que autonomia não quer dizer que o indivíduo fique desconectado emocionalmente dos pais. Significa, de fato, que a pessoa não necessita de tanta dependência dos pais em termos psicológicos. Assim, ela possui um maior controle sobre que decisões tomar. Deve, contudo, saber diferenciar escolhas sensatas das que são autodestrutivas, que podem trazer riscos para sua vida.

Nas últimas décadas, a adolescência tem sido motivo de estudos nas diferentes vertentes: biológicas, sociais e psicológicas. Autores como Englud et al. (2006), Benkert et al. (2007), Gomez e Lopez

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(1997), Ruzany (2000), Calligaris (2000), Becker (2003), Fonseca e Gomes (2004), Machado e Zagonel (2004) têm buscado compreender o fenômeno vida adolescente, na perspectiva de contribuir com a sociedade científica, oferecendo conhecimentos e estratégias de lidar com esse público diante das inúmeras situações que se colocam: sexo e gravidez precoce, uso de drogas, abandono escolar, delinquência, e tantos outros. Observamos, nos discursos desses autores, a necessidade de se compreender o modo pelo qual o adolescente se apropria do cuidado à sua saúde.

Cono (1998) afirma que a adolescência é um momento de evolução psicológica, intelectual e emocional que proporciona ao indivíduo a possibilidade de questionar o mundo, os adultos e a si mesmo. É nesta fase que muitos pais, não compreendendo o significado do desenvolvimento do adolescente, fazem críticas, provocando muitas vezes o afastamento dele do convívio com a família.

Sendo uma fase de grande vulnerabilidade a agravos externos, quase sempre determinada pelo processo de crescimento e desenvolvimento dos grandes centros urbanos e de seu amadurecimento pessoal, o adolescente coloca-se na condição de “presa fácil” das mais diferentes situações de risco: violência, maus tratos, acidentes, uso de drogas, DST/Aids e gravidez precoce (muitas vezes indesejada). (OZELKA TROSTER, 2000). Por consequência, temos evasão da escola, deserção da família, situações de abandono e de vivência nas ruas.

Todas as situações citadas, que têm relação com a falta de qualidade de vida do adolescente, promovem preocupações àqueles interessados em sua atenção e nos cuidados à sua saúde. Takiuki (1995) acreditava ser necessária a constituição de equipes multiprofissionais para trabalhar com adolescentes e familiares na promoção da saúde, na prevenção de doenças e outros agravos, e que estas equipes devem estar alocadas na rede de atenção básica à saúde.

Entretanto, Cannon (1999), citado por Ruzany (2002), observa não ser comum a presença de adolescentes usuários dos serviços de saúde, nem tão pouco os serviços oferecendo algum tipo de atenção voltada para as especificidades e necessidades desse grupo. Considera, entretanto, importante tornar possível a participação deles nas instituições de saúde, por meio do estabelecimento de programas elaborados para esse fim. Essa participação é necessária para que as equipes conheçam as necessidades sentidas, as suas noções de saúde, suas práticas e aspirações de desenvolvimento pessoal e social.

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2.2 CAMINHOS DELINEADOS PARA A ATENÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

O presente capítulo tem por objetivo contextualizar as políticas públicas nacionais voltadas, direta ou indiretamente, para a promoção da atenção à criança e ao adolescente.

No Brasil, os adolescentes e jovens correspondem a 30,33% da população nacional. Trata-se de 57.426.021 indivíduos em mutação biológica, emocional e social, havendo quase igual proporção entre os sexos (50,4% são rapazes e 49,5%, garotas). Os dados estatísticos também demonstram semelhança na população entre 10 e 14 anos (17.348.067) e 15 e 19 anos (17.939.815), enquanto há decréscimo dos jovens, a população entre 20 e 24 anos (16.141.515). Dentre as explicações para tal fato, destaca-se a perda de vidas por causas externas, tais como acidentes e homicídios, principalmente relacionados ao tráfico de drogas e uso abusivo de álcool. (CORDEIRO, 2009).

Segundo Tome (2003), os adolescentes são reconhecidos como objeto das políticas públicas mediante dois modelos: o paternalista protetor e o democrático participativo. No Brasil, é possível observar os dois modelos, no entanto, predomina o primeiro, caracterizado por ter os jovens como grupo que deve ser educado e apoiado em sua luta por seus direitos e as suas garantias sociais. Contudo, o mesmo autor ressalta que as políticas públicas em saúde dirigidas aos adolescentes os visualizam como uma população em situação de risco, orientando programas para prevenção de comportamentos de risco relacionados a delinquência, alcoolismo, drogadição, prevenção de enfermidades e de gravidez indesejada, quando na realidade os jovens necessitam muito mais de ações que os levem a conhecer estratégias de promoção da saúde e de bem-estar.

Em 1988, durante o processo de construção da Constituição Brasileira, havia uma preocupação a respeito da criança e do adolescente, fato este que gerou o Artigo 227, que ressalta o dever do Estado e da família relativos à prioridade absoluta à criança e ao adolescente. (BRASIL, 1988).

A partir de então, outras leis foram elaboradas para proteção das crianças e dos adolescentes brasileiros. O Programa Saúde do Adolescente (PROSAD) foi criado pela Portaria do Ministério da Saúde nº 980/GM, de 21/12/1989, a qual fundamenta-se numa política de Promoção de Saúde, de identificação de grupos de risco, detecção precoce dos agravos com tratamento adequado e reabilitação,

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respeitadas as diretrizes do Sistema Único de Saúde, garantidas pela Constituição Brasileira de 1988.

O programa é dirigido a todos os jovens entre 10 a 19 anos e é caracterizado pela integralidade das ações e pelo enfoque preventivo e educativo. O PROSAD visa garantir aos adolescentes o acesso à saúde, com ações de caráter: multiprofissional, intersetorial e interinstitucional. Entendemos que a proposta é interessante, no entanto percebemos que ainda falta um lugar específico para os adolescentes em nossa sociedade e consequentemente nas práticas institucionais. Podemos analisar as ações das equipes que atuam na atenção básica e podemos perceber que as estratégias utilizadas estão longe de corresponder às necessidades e às expectativas dos adolescentes.

O PROSAD preconiza os seguintes objetivos com vistas a garantir aos adolescentes o acesso à saúde: - Promover a saúde integral do adolescente, favorecendo o processo geral de seu crescimento e desenvolvimento, buscando reduzir a morbimortalidade e os desajustes individuais e sociais;

- Normatizar as ações consideradas nas áreas prioritárias;

- Estimular e apoiar a implantação e/ou implementação dos Programas Estaduais e Municipais, na perspectiva de assegurar ao adolescente um atendimento adequado às suas características, respeitando as particularidades regionais e realidade local;

- Promover e apoiar estudos e pesquisas multicêntricas relativas à adolescência;

- Contribuir com as atividades intra e interinstitucional, nos âmbitos governamentais e não-governamentais, visando à formulação de uma política nacional para a adolescência e juventude, a ser desenvolvida nos níveis Federal, Estadual e Municipal. (PROSAD, 1998, p. 4).

Para atender todas as áreas, o PROSAD preconiza o trabalho multiprofissional, em que as atividades de diversos profissionais se complementem. Nessa perspectiva, médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, cirurgiões dentistas, assistentes sociais, agentes de saúde, educadores, professores de educação física, treinadores desportivos, artistas de diversos segmentos, religiosos, e outros profissionais que lidam com jovens devem formar uma equipe que trabalhe de forma

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integrada, promovendo a saúde integral da população de jovens. Observa-se que o trabalho transcende a equipe clássica, pois ultrapassa os portões dos centros de saúde, hospitais, postos de atendimento, chegando a escolas, associações de bairro, clubes, estabelecimentos religiosos, instituições culturais e outros segmentos comunitários.

O Brasil foi o primeiro país da América Latina e um dos primeiros do mundo a ter uma legislação com o que há de melhor, na normativa internacional, no que diz respeito a promoção e defesa dos Direitos da Criança. (KAYAYAN, 2000). A Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990, enfatiza que a criança e o adolescente têm direito à proteção da vida e da saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência, direitos fundamentais citados no Artigo 7º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

No entanto, para Kayayan (2000), tornar realidade o que está posto no estatuto é uma operação que, além de implicar mudanças no panorama legal dos estados e municípios, requer também um corajoso e amplo reordenamento institucional dos organismos que atuam na área.

Depois da promulgação da lei que institui o ECA, algumas mudanças relativas à proteção à criança e ao adolescente ocorreram no país.

Ainda de acordo com Kayayan (2000), os eventos mais importantes e o ano de sua ocorrência foram:

1993 – Sanção da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS):

define a assistência social como direito do cidadão e dever do Estado.

1996 – Sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB):

define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios presentes na constituição.

2000 – Aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento à

Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: marca a consolidação da luta contra a violência sexual infanto-adolescente.

2003 – Aprovação do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação

do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente.

2006 – Aprovação do Plano Nacional de Promoção, Proteção e

Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e do Sistema Nacional Socioeducativo (SINASE): os dois documentos buscam solução para direitos garantidos pelo estatuto, mas que ainda encontram dificuldades para sua efetivação. Para o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, pela primeira vez, dois conselhos se reuniram para traçar as diretrizes e metas – o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho

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Nacional da Assistência Social.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, após ser promulgado, trouxe uma novidade para a estruturação das políticas voltadas a infância e adolescência no Brasil: conselhos foram criados para garantir o que foi preconizado pela lei. Os Conselhos Tutelares são responsáveis pelo atendimento direto aos meninos e meninas. Já os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCAs) são órgãos deliberativos, compostos de representantes do governo e da sociedade civil, que têm como função trabalhar na articulação das políticas públicas. (KAYAYAN, 2000).

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CAPÍTULO III - DESVENDANDO OS CAMINHOS DA AUTONOMIA

3.1 BUSCANDO ENTENDER OS SIGNIFICADOS DE AUTONOMIA

Entender o significado de autonomia parece ter sido ao longo dos anos uma busca incessante de grande parcela de estudiosos.

Semanticamente, a palavra autonomia vem do grego, formada pelo adjetivo autos – que significa “o mesmo”, “ele mesmo” e “por si mesmo”, e pela palavra nomos – que significa “compartilhamento”, “lei do compartilhar”, “instituição”, “uso”, “lei”, “convenção”. Nesse sentido, autonomia significa propriamente a competência humana em “dar-se suas próprias leis”. (SEGRE; SILVA; SCHRANM, 2005).

Conceito este que, segundo Martins (2007), foi construído historicamente pelas diferentes características culturais, econômicas e políticas que modificaram a sociedade ao longo de sua história. Para Lalande (1999), o termo autonomia em alguns momentos aparece na academia dando a ideia de participação social, em outros traz a ideia de ampliação da participação política no que se refere a questões de descentralização e desconcentração de poder. Fato este corroborado por

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Bobbio (2000), quando afirma que foi por meio do pensamento libertário que emergiu a ideia de indivíduo que buscava sua identidade e autonomia e que esta ideia se concretizava em movimentos políticos que defendiam a autogestão de escolas e fábricas, comunidades, nas quais os indivíduos passavam grande parte de suas vidas.

Para Castoriadis (1991), a autonomia é um empreendimento da humanidade e um programa de reflexão filosófica sobre os indivíduos, sendo uma busca de muitos séculos. Para valorizar esta afirmativa, buscamos a partir do pensamento de Kant (1785) a compreensão e os fundamentos dessa premissa.

O conceito moderno de autonomia resulta das ideias de Kant quando sugere o tema da capacidade de governar por uma regra que a própria pessoa aceita como tal, sem coação externa. Sendo capaz de governar por si próprio, o ser humano tem um valor que é para ser fim e nunca um meio para outra finalidade que não seja ele próprio. Essa capacidade essencial do ser humano é a raiz do direito de ser respeitado nas decisões que toma sobre si sem machucar as outras. (KANT, 1996, 2005). Logo uma pessoa autônoma é aquela capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de agir na direção dessa deliberação.

Ainda na concepção de Kant, a liberdade não consiste na ausência de lei, mas na independência face à necessidade natural, portanto, vontade livre e vontade submetida à lei são uma e mesma coisa. Ora, o sujeito é dotado de livre arbítrio que lhe permite escolher ser livre ou ficar dependente da heteronomia da vontade (leis naturais). Na perspectiva kanteana, a liberdade é a capacidade que permite ao homem agir de forma incondicionada, livre, pura, e, portanto, boa – o ser racional é fim de si mesmo.

Uma das bases teóricas utilizadas para o princípio da autonomia é o pensamento de Stuart Mill (1806-1883), para o qual autonomia significa que o homem é soberano sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente. (GOLDIM, 2004). Assim, respeitar a sua autonomia é valorizar a consideração sobre as opiniões e escolhas, evitando, da mesma forma, a obstrução de suas ações, a menos que elas sejam claramente prejudiciais para outras pessoas.

Kamii (1985) também coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. Para esta autora, a autonomia significa o indivíduo ser governado por si próprio, sendo o contrário de heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para decidir, agir da melhor forma para todos.

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buscar sua compreensão a partir do senso comum.

Segundo Spear e Kulbok (2004), a autonomia pode ser definida como uma condição de ser independente ou autogovernar-se. Para esses autores, a autonomia numa perspectiva desenvolvimentista relaciona-se ao domínio psicossocial, visto que adquirir autonomia em relação aos pais, adquirindo capacidade para decidir e agir por conta própria, é uma das principais tarefas evolutivas dos seres humanos durante o período da adolescência. (SPEAR; KULBOK, 2004; FLEMING, 2005). Fica implícito, assim, que o respeito à autonomia do indivíduo é um dos pontos básicos em que necessariamente se deve fundamentar toda relação entre seres humanos.

Nesse mesmo sentido, Noom (1999) define a autonomia como a habilidade para dirigir a própria vida, para definir metas, sentimentos de competência e habilidade para regular as próprias ações. Noom, Dekovic e Meeus (1999), em estudos realizados, identificaram o aparecimento de três dimensões de habilidades da autonomia que em muito têm auxiliado na compreensão desta temática. Tais dimensões incluem a autonomia atitudinal†, emocional‡ e funcional§, as quais se desenvolvem de acordo com o contexto no qual o indivíduo está inserido.

Para Fleming (2005), a autonomia está definida como a habilidade para pensar, sentir, tomar decisões e agir por conta própria. Dessa forma, o desenvolvimento da independência é um componente crucial para adquirir autonomia. Porém, autonomia e independência não podem ser consideradas como sinônimos (como pode ser compreendido popularmente), na medida em que independência refere-se à capacidade dos jovens agirem por conta própria. Nesse caso, a independência é realmente necessária para se tornar autônomo, contudo, a autonomia é mais do que ter comportamentos independentes. A autonomia também prevê pensamentos, sentimentos e tomadas de decisões que envolvem não só o próprio indivíduo, mas também as relações que estabelece com os outros membros da família, seus pares ou pessoas fora do ambiente familiar.

___________

Autonomia atitudinal ou cognitiva refere-se à percepção de metas pelo exame das oportunidades e desejos, considerando os processos cognitivos para criar as possibilidades de fazer suas próprias escolhas.

Autonomia emocional refere-se aos delicados processos de independência emocional em relação aos pais e aos pares. Ela realmente ocorre quando o jovem tem confiança em definir suas metas, independentemente dos desejos dos pais ou dos pares.

§ Autonomia funcional ou condutual refere-se à percepção de estratégias pelo exame do autorrespeito e controle, capacidade de tomar decisões e tratar os próprios assuntos sem a ajuda dos pais.

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Estudiosos como Beauchamp e Childress (1994) admitem que a autonomia tem significados muito diferentes: autodeterminação, direito de liberdade, privacidade, escolha individual, livre vontade, comportamento gerado pelo próprio indivíduo e ser propriamente uma pessoa. Dessa maneira, o homem é caracterizado por sua vontade, sendo que a origem da liberdade está nessa natureza.

Para Silva (2006), a autonomia humana significa buscar a compreensão profunda da sua liberdade. Só quando somos capazes de interpretar a vida em sua manifestação plena é que podemos trazer da vida sua vitalidade criativa e libertadora, ou seja, não existe autonomia já determinada e imediata, ela é sempre uma conquista, está ligada às condições socioexistenciais do modo de ser no mundo. Na concepção deste autor, inexiste uma autonomia absoluta, ela é sempre mediada pelo mundo da vida em suas múltiplas experiências históricas do viver.

O conceito de autonomia para Goldim (2004) adquire especificidade no contexto de cada teoria. Virtualmente, todas as teorias concordam que duas condições são essenciais à autonomia: liberdade (independência do controle de influências) e ação (capacidade de ação intencional). Dessa forma um indivíduo autônomo age livremente de acordo com um plano próprio, de forma semelhante que um governo independente administra seu território e estabelece suas políticas e programas.

No entender de Piaget, citado por Freitas (2002), ser autônomo significa estar apto a cooperar na construção do sistema de regras morais e operacionais necessárias à manutenção de relações permeadas pelo respeito mútuo. Na autonomia, as leis e as regras são opções que o sujeito faz na sua convivência social pela autodeterminação.

Para o mesmo autor, não é possível uma autonomia intelectual** sem uma autonomia moral††, pois ambas se sustentam no respeito mútuo, o qual, por sua vez, sustenta-se no respeito a si próprio e reconhecimento do outro como ele mesmo.

Freire (2000) afirma que a formação estética proposta como caminho para a autonomia é formação que engloba a totalidade do ser humano e requer desenvolvimento da sensibilidade aliada à formação moral, a fim de que haja conciliação da felicidade com uma vida autorresponsável.

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** Autonomia intelectual também transita na sua definição literal, ou seja, a inteligência, pessoas que têm interesse por ideias e pensamentos, ou se dedicam a atividades que envolvem estudo e raciocínio.

†† Autonomia moral é um conjunto de regras e princípios de decência que orientam a conduta dos indivíduos de um grupo social ou sociedade e com o tempo se forma uma certa moralidade.

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Reconhecendo a contribuição que esta perspectiva vem trazer à discussão da autonomia, principalmente nos seus aspectos de auto-ordenação, auto-organização e autodeterminação, Silva (2006) refere que não se pode ignorar a especificidade do âmbito complexo em que a autonomia humana deve ser discutida.

Na perspectiva de entender a interdependência dos contextos nos quais o indivíduo se desenvolve, Morin et al. (1996) escrevem que o sujeito é autor e ator de sua história e das diferentes histórias sociais, uma vez que múltiplas são as influências dos diversos sistemas de que participa. Nesse sentido, para conhecer o potencial autônomo do sujeito, é fundamental compreender que tipo de relações o adolescente estabelece na sua vida social. Nessa expectativa, a autonomia é construída na medida em que existe uma relação de seu mundo interno, de sua própria auto-organização, com as condições externas em que ele se desenvolve. Penso que o pensamento complexo é um pensamento que deve permitir ligar à autonomia a dependência.

Mesmo com a existência de muitos estudos a respeito da construção do conceito de autonomia, continua sendo difícil compreendê-lo por ser um conceito amplo que pode variar tanto no seu significado como na sua aplicação. Para Spear e Kulbok (2004), a autonomia nada mais é que um processo ativo, um fenômeno que necessita da orientação dos pais, ocorrendo de forma gradual, que se inicia no nascimento e se estende ao longo da existência do indivíduo.

Neste prisma, o desenvolvimento da autonomia é parte do processo de desenvolvimento do jovem e envolve, necessariamente, transformações nas relações familiares com o intuito de preparar o adolescente para o ingresso na vida adulta, transformações estas que nem sempre os pais estão dispostos a realizar. Essas mudanças estão relacionadas a autoridade, disciplina, estilo de vida, estilo de educação e de comunicação e, principalmente, de adaptação. (RÍOS GONZÁLEZ, 2005).

Segundo Martins (2002), diversas são as características que devem ser consideradas no processo de desenvolvimento da autonomia humana:

Trata-se de um processo de evolução contínua à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capacidades são adquiridas, novas vivências são acumuladas e integradas e, portanto, passível de rápidas e extremas mudanças no tempo;

A aquisição das competências é progressiva, não se dão saltos, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo, portanto, razoavelmente previsível;

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Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se processa são muito individualizados, fazendo com que dois indivíduos de uma mesma idade possam estar em momentos diferentes de desenvolvimento.

A autonomia, apesar das dificuldades inerentes à sua definição, é sempre considerada um bem que a sociedade deve salvaguardar. Segundo Mill, citado por Canto-Sperber, (2003, p. 144),“uma sociedade justa é a que suporta a capacidade de cada pessoa viver como indivíduo autônomo, o que supõe a capacidade de cada um raciocinar sobre os fins da vida, inclusive os fins morais”.

É nesse contexto que entra a família e seu papel na conjugação do esforço adolescente para alcançar o nível desejado no desenvolvimento de sua auto-organização. Durante tal processo, seus membros são obrigados a passar por momentos de transição necessários e pertinentes ao ciclo vital familiar, que é diferente para cada indivíduo. Nesses momentos, a integração entre o velho e o novo se faz presente para todas as gerações envolvidas. Este é um aspecto fundamental ao enfocarmos a família com adolescentes: a importância da passagem do tempo, a integração do antigo e do novo, do moderno e do arcaico, das tradições e das gerações. (SILVA, 2008).

Para Morin (2007, p. 66), “a noção de autonomia humana é muito mais complexa já que ela depende de condições culturais e sociais.” Portanto, para ser autônomo, o sujeito necessita ser dependente da cultura e de todos os demais aspectos do mundo externo.

A literatura tem mostrado que, sob o enfoque evolutivo, o adolescente, para ingressar na vida adulta, deve adquirir certas competências, sendo que o desenvolvimento destas competências estaria relacionado com os modelos educativos adotados pelos pais, podendo estes auxiliar ou dificultar seu desenvolvimento. Neste caso, uma das competências esperadas é que os jovens adquiram na adolescência o desenvolvimento da autonomia. (REICHERT; WAGNER, 2007).

Segundo Guarigli, Bento e Hary (2006), no decurso do desenvolvimento da identidade, ocorrem processos de aprendizagem, que se dão em função do amadurecimento de estruturas cognitivas, assim como por processos motivacionais e afetivos. Assim sendo, educar, no sentido da formação da identidade do eu, significa educar para a autonomia, para uma autonomia que abre o acesso comunicativo à própria natureza interna e se apoia em uma liberdade que põe limites a si mesma.

Estudar os aspectos relativos à autonomia do adolescente tem sido uma tônica em função da necessidade de compreensão desta fase,

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