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Rui, cê tá me ouvindo?: Uma análise da construção do sentido na interação em um sitcom

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS. Rui, cê tá me ouvindo? Uma análise da construção do sentido na interação em um sitcom. Maria Amélia Cunha de Souto Maior. Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos dos Santos Xavier. Recife, dezembro de 2005.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS. Rui, cê tá me ouvindo? Uma análise da construção do sentido na interação em um sitcom. Maria Amélia Cunha de Souto Maior. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Letras e Lingüística da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Lingüística.. Recife, 01 de dezembro de 2005.

(3) Souto Maior, Maria Amélia Cunha de Rui, cê tá me ouvindo ? : uma análise da construção do sentido na interação em um sitcom / Maria Amélia Cunha de Souto Maior. - Recife : O Autor, 2005. 114 folhas : il., fig., quadros. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Letras, 2005. Incluir bibliografia e anexos. 1. Lingüística – Análise sócio-pragmática do discurso. 2. Textos televisivos – linguagem sitcom – Programa “Os Normais” - . 3. Interação face a face – Construção de sentido – Mecanismos lingüístico – discursivos. 4. Autonomia e interpretação dos atores, ethos – Limite escrito-oral. I. Título. 81’42 401.41. CDU(2.ed) CDD (22. ed). UFPE BC2006-130.

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(5) Dedicatória. Aos meus pais, Milton Pessoa de Souto Maior (in memorian) e Eliane Cunha de Souto Maior, aos meus irmãos Francisco e Alexandre, às minhas irmãs Ana Paula e Verônica, aos meus cunhados, Jorge Luiz e Maria Odete e finalmente, aos meus sobrinhos Jorge Luiz Júnior, Thais Mylane, Milton José e Ana Carolina, por serem o que são na minha vida..

(6) Agradecimentos À Faculdade Marista Recife, pelo incentivo, em especial à minha equipe de professores, pelo apoio e aos meus alunos, pelas palavras de conforto. À Liliane Gonçalves, pela constante torcida e amizade. A Evandro Mesquita, (in memorian), meu ex-marido, pela sua admiração e carinho. À amiga Meire Queiroz, por tudo que passamos e nos ajudamos. Aos colegas de mestrado Eduardo Vieira, Tatiana Luna e Leonardo Mozdzenski, pelas contribuições e apoio. À Eraldo e Diva, secretários da Pós, pelo carinho e atenção. Imensamente ao amigo David Batista, ele sabe o porquê. Ao meu amigo Yuri Dantas, que nunca saiu de perto de mim, principalmente nas horas de dificuldade e à minha amiga Fabiane Lucena, por entender as minhas ausências; Aos meus amigos Vivianne Macena, Manuela Suassuna e João Sombra que, no momento mais crucial, estavam do meu lado. A minha irmã Vera, pelas revisões e pelo ombro amigo. Ao meu Anjo particular, minha luz, que sempre me deu um motivo para seguir em frente. E a todos que contribuíram de uma forma ou de outra, para a construção desse trabalho..

(7) Agradecimentos Especiais. À Deus,. meu Pai eterno, que está comigo o tempo. todo.. Ao professor e amigo Antônio Carlos Xavier, o “Tonix”, meu adorável orientador, que além de ter acreditado na minha proposta de trabalho e ter compartilhado. de. seu. valioso. tempo. comigo. na. construção desse estudo científico, sempre tinha uma palavra amiga, uma direção e acima de tudo, muita compreensão.. Ao. meu. amigo-irmão,. Dario. Brito,. companheiro. permanente de perdas e conquistas. Nossa história, nossos momentos, só nós dois sabemos..

(8) RESUMO Este trabalho propõe uma análise da construção do sentido durante um programa de TV. Muitos estudos já se debruçaram sobre a problemática da interação.O ineditismo do nosso estudo se dá por analisarmos o sentido que se constitui em uma interação “pré-produzida” ou “idealizada” no sitcom, classificado como gênero discursivo televisivo. O corpus analisado foi a comédia de situação Os Normais, exibida pela Rede Globo de televisão, entre 2001-2003, que se tornou um modelo-padrão para outras produções do gênero. A perspectiva da Análise do Discurso, que nós utilizamos, enfoca o aspecto sócio-pragmático do discurso, particularmente, no tocante às estratégias argumentativas, utilizadas na preservação e manutenção do jogo de linguagem entre os interactantes. Nosso referencial teórico fundamenta-se na ótica sócio-interacionista e dialógica de Mikhail Bakhtin ([1979]2000) e ([1929]2000), na análise do discurso sóciopragmática de Dominique Maingueneau (2002/2005), e nas observações teóricas de Ingedore Koch ([1993] 2003) e ([1997]2002), relativas à perspectiva interacional da conversação face a face para a construção de sentido de textos orais e escritos. Objetivamos neste trabalho refletir sobre quais. são. os. mecanismos. lingüístico-discursivos,. considerando. suas. condições de produção, em que o sitcom se baseou para constituir o efeito de sentido do humor privilegiado pelos telespectadores. Outros fatores, também, foram considerados em nossa análise como formato de programa televisivo. diferenciado,. interpretação. e. autonomia. dos. atores. que. contribuíram para uma interação híbrida nas fronteiras do escrito com o oral pelas quais flutua o gênero televisivo que investigamos. Palavras-chave: sitcom, interação, interdiscursividade, jogo de linguagem, ironia, preservação da face..

(9) ABSTRACT This paper aims the meaning construction analysis on a TV program. Many studies have already had insights about the interaction issue, although we have innovated when focusing the meaning in a “pre produced” or “conceived” interaction on a sitcom, classified as a discursive gender on television. The analyzed corpus was the comedy of situation “Os Normais”, on air at Globo channel within 2001 and 2003, which served as a model for other similar productions. The perspective of the Discourse Analysis used by us focuses the discourse social pragmatic aspect, especially, the argumentative strategies used to keep what we could call linguistic game between interlocutors. Our theorical references include Mikhail Bakhtin ([1979]2000) and ([1929]2000) with his social interactionist and dialogical theory, Dominique Maingueneau (2002/2005), with a social pragmatic discourse analysis; and Ingedore Koch ([1993]2003) and ([1997]2002), with an. interactional. perspective. of. the. discourse,. facing. the. meaning. construction, so we could reflect on the linguistic and discursive matters, taking in account its production conditions, the sitcom took as basis to build its meaning effect from the humor expected by the telespectators. Other aspects have also been considered for our analysis, such as original format, actors performance and autonomy, that contributed for a perfect interaction between written and oral within the gender under investigation.. Key words: sitcom, interaction, inter discourse, linguistic game, irony, face maintenance.

(10) SUMÁRIO Introdução..........................................................................................13. PARTE I: TRAJETO METODOLÓGICO................................................17 1- Justificativa.....................................................................................17 2- Hipóteses e Metodologia...................................................................18. PARTE II: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS...............................................21 CAPÍTULO 01: UM GÊNERO QUE DEU CERTO: O SITCOM.............. ..21 1.1 A relação entre gênero discursivo e suporte.....................................21 1.2. A televisão: um domínio discursivo e seus vários formatos..............24 1.3.O gênero sitcom............................................................................27 1.4.A ideologia machista que orienta os personagens............................ 29 1.5 A simulação da realidade para o telespectador: a audiência qualificada.................................................................................. 33. CAPÍTULO 02: A LINGUAGEM DO SITCOM........................................37 2.1 A linguagem cotidiana:um diálogo sócio-interativo..........................37 2.2. Da interação artificial à conversação espontânea: a fronteira entre o escrito e o oral..................................................................41 2.3. O jogo de linguagem dos interactantes: as estratégias interacionais................................................................................46. 2.3.1.O fenômeno da polidez dos atores: a preservação da face e o alinhamento na manutenção da interação nos contextos sociais. ...................................................................... ........... 47.

(11) 2.3.2 Mecanismos de Subversão........................................................50 a) A interdiscursividade da ironia na constituição do sentido humorístico........................................................ ............53 b) Um traço do inconsciente constituindo o humor: os chistes...........56 2.4. Possibilidades de conflito - interincompreensão dos personagens................................................................................58. CAPÍTULO 03: SENTIDO CONSTRUÍDO NA INTERAÇÃO...................60 3.1 A Instauração do Ethos..................................................................60 3.2. A autonomia do ator.....................................................................63 3.3. A publicidade de Os Normais: interação na marca e no formato.........67. PARTE III: ANÁLISES DO CORPUS. CAPÍTULO 04 : OS EPISÓDIOS E AS CHAMADAS DE OS NORMAIS..72 4.1 Sobre o Corpus: o sitcom Os Normais ...........................................72 4.2 A análise da conversação de Rui e Vani..........................................73 4.3 Como se dão os efeitos de sentido em Os Normais...........................74 4.4 Análises dos Episódios..................................................................76 4.4.1 Episódio Motivos Normais.......................................................76 a) trecho 01.................................................................................76 b) trecho 02 ................................................................................80 C) trecho 03 ................................................................................83 4.4.2. Episódio Os Normais .............................................................85 a) Rui e Vani num restaurante italiano dando as primeiras garfadas nos respectivos pratos............................................................. 85. 4.5 Análise dos Monólogos...................................................................87 a) Típico Rui............................................................................... 87 b) Típica Vani..............................................................................87.

(12) 4.6 Análise das Chamadas....................................................................88 a) Chamada 01.............................................................................88 b) Chamada 02.............................................................................89 Considerações Finais ..........................................................................92 Bibliografia........................................................................................95 Anexos...............................................................................................98.

(13) LISTA DE QUADROS. QUADRO 1 - Categorias e Gêneros dos Programas na TV Brasileira por Souza ................................................ 26 QUADRO 2 - Círculo de programação, produção e consumo....................34. QUADRO 3 - Quadro baseado em Goffmam...........................................50. QUADRO 4 - Modalidades faladas e escritas por Koch...........................66. QUADRO 5 - Formas e Objetivos do Discurso.......................................69. QUADRO 6 - Foto ilustrativa dos personagens fazendo a chamada..........70. QUADRO 7 - Sinais de transcrição por Marcuschi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 QUADRO 8 - Corpus Restrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 QUADRO 9 - Categorias de Análise......................................................75.

(14) INTRODUÇÃO Atualmente o cenário de programação das empresas televisivas vem apresentando um aumento nas produções de entretenimento como os programas humorísticos, as comédias de situação (sitcoms 1) e os programas de auditório. Isso possivelmente tem ocorrido porque esses gêneros televisivos possuem uma grande interatividade com o telespectador e conseqüentemente recebem uma resposta positiva constatada pelo aumento da audiência. Esse quadro pode ser observado tanto na TV aberta como nos canais por assinatura. Neles, a produção é tão acentuada que vários programas são meras adaptações de algo já veiculado, já testado, mesclando o nacional e o global. Tais programas são inspirados em produções estrangeiras muitas com várias versões, que tiveram grande audiência em outros países, um exemplo é o sitcom Sexo Frágil, que muitos críticos classificam como uma versão brasileira masculina da série americana Sex and the City. O corpus pesquisado neste trabalho é a série de comédia de situação Os Normais, referência de produção televisiva em sua categoria, exibida pela Rede Globo de Televisão entre os anos de 2001 a 2003. Pela riqueza de dados, pelo material interativo contido e pelo sucesso alcançado junto ao público e à maioria significativa dos jornalistas, é que propusemos a série Os Normais como objeto de estudo. Assim, a questão central desse projeto está relacionada ao efeito de sentido do humor construído pelos personagens nesta interação em análise. Entretanto, vale salientar, que o estudo científico ora apresentado tem uma. motivação. particular. que. é. de. descrever. e. explicar. como. o. funcionamento da linguagem no tocante à interação verbal e ao efeito de sentido constituído é alicerçado por vários fatores extra - lingüísticos e que, mesmo diante de uma interação pré-construída, como um diálogo em um. 1. Programa exibido semanalmente, com elenco fixo, que enfoca a comédia de situação, isto é, a observação do humor nos atos cotidianos de pessoas de classe média..

(15) programa. de. televisão,. o. sentido. é. estabelecido na. hora. por. seus. interactantes. O percurso acadêmico em busca de dar respostas à nossa questão de pesquisa, ou seja, quais seriam os mecanismos lingüístico-discursivos, considerando suas condições de produção, nos quais o programa televisivo em pauta se apoiou para produzir o efeito de sentido desejado pelos telespectadores. iniciou,. primeiramente,. em. nossas. interpretações. do. referencial teórico da Análise do Discurso. Mais especificamente apoiamonos no sócio-interacionismo e no dialogismo de Bakhtin ([1979]2000) e ([1929]2000); nos conceitos de subversão argumentativa, ethos, cena da enunciação e fenômeno de interincompreensão de Dominique Maingueneau (2002/2005),. e. finalmente. baseamos-nos. também. na. ótica. sócio-. interacionista que descreve e explica como se dá a construção de sentido no texto escrito e falado postulada por Ingedore Koch ([1993] 2003) e ([1997]2002). Em um segundo momento, percebemos a necessidade de classificar o sitcom Os Normais como um gênero discursivo televisivo. Assim sendo, observamos que este sitcom apresenta estrutura e formato próprios, além de se ancorar em uma ideologia por ser utilizado dentro de uma dada cultura. O telespectador, a partir de uma possível identificação com as situações vividas pelos personagens acaba tendo uma atitude responsiva ativa 2 percebida pelos altos índices de audiência do programa, independente do suporte em que foi veiculado (programa exibido semanalmente, livro, DVD, cinema). Para explicitar a valorização da interação pré-construída de um programa televisivo, observamos inicialmente as características do gênero sitcom. O primeiro capítulo da segunda parte discute não só o conceito de gênero discursivo, como também sua relação com o suporte utilizado. Se faz mister atentar para o fato de que a diferenciação entre os dois é bastante 2. De acordo com Mikhail Bakhtin([1979] 200), o interlocutor visando à interação adota uma postura responsiva ativa, isto é, concorda, discorda ou complementa a fala do locutor seja com palavras, seja com ações..

(16) delicada e é necessário estabelecer seus limites. Para Marcuschi (2003), o gênero é um modelo de discurso que modifica o efeito de sentido também por causa do suporte utilizado. Dentro dessa premissa, o capítulo busca a visualização dessa mudança de suporte no que diz respeito ao sitcom Os Normais, uma vez que este se apresenta ao telespectador não só como uma série televisiva transmitida semanalmente, como é também disponibilizada em DVDS e livros, o que proporciona um efeito de sentido diferenciado no telespectador. O capítulo trata, também, do entendimento do que seja um gênero discursivo televisivo como o sitcom. Explicita a gênese de seu formato em terras americanas e sua importação a terras brasileiras, bem como suas características sine qua non como diálogos sustentados por humor, ironia com elenco e cenários em sua grande maioria fixos.Esse capítulo faz ainda um apanhado histórico a respeito das discussões sobre a ideologia. Entre várias posições a esse respeito, a conclusão recai nos posicionamentos de Michel de Certeau por constatar que aos indivíduos é possível perceber a ideologia que neles está instaurada e como eles dela fazer uso em prol de si mesmos. O público-alvo das comédias de situação não é irrelevante, é um público segmentado que possui características e atitudes peculiares.Tal audiência só elege programas para seu entretenimento se estiverem compatíveis com suas crenças, valores, situação social e cultural, chegando muitas vezes, a buscar programa que simula sua própria realidade. Isto acontece muitas vezes quando assiste de forma regular e satisfatória aos sitcoms. No tocante ao segundo capítulo, abordamos a linguagem do sitcom abarcando grande parte das categorias de nossa análise. Inicialmente destacamos a perspectiva teórica bakhtiniana sócio-interativa da linguagem. Observamos que a linguagem verbal do sitcom é complementada pela naturalidade das interpretações dos personagens que envolvem a cena da enunciação: muitas vezes, os atores aparecem com roupas íntimas ou de dormir, interagem com os telespectadores quando olham diretamente para a.

(17) câmera e têm atitudes consideradas “anormais” diante de outras pessoas, como gritar, quebrar pratos ou se questionar o tempo todo sobre o porquê de tal atitude, o que fazer diante do tédio, etc. Isso evidencia que um forte elemento constituinte do sentido produzido é alicerçado pela expressividade e conversação simulada com os telespectadores. Ainda nesse capítulo, discutimos o jogo de linguagem dos personagens, que revela que estão sempre em confronto. O jogo mostra que o casal está freqüentemente produzindo um interdiscurso subversivo, utilizando a ironia e as estratégias argumentativas, apesar de manterem a harmonia da interação através da polidez, da preservação das faces, e da mudança de alinhamento. A enunciação humorística é construída pelas situações que são interpretadas de forma equivocadas, e pela interincompreensão 3 do sentido instaurado. O III capítulo da segunda parte da dissertação trata de conceitos centrais para a nossa análise, tais como, o ethos do personagem, isto é, como a imagem dos personagens é construída e apresentada ao telespectador e quanto interfere na interpretação deste. Aqui também, discutimos a autonomia do ator em relação ao texto original do programa. Ao encenar, os atores/atrizes constroem sua interpretação também com improvisos, com acréscimos de textos que contribuem para o efeito de sentido pretendido pelo diretor do programa. Outro ponto tratado neste capítulo diz respeito à publicidade do programa, seu formato interativo, inovador em que o próprio personagem sai do programa e faz a chamada. E finalmente, na parte III deste trabalho, realizamos as análises do corpus, ou seja, observamos, descrevemos e comentamos trechos de alguns programas para podermos visualizar melhor e interpretarmos com mais precisão e clareza a interação empregada nesta interessantíssima comédia de situação.. 3. A interincompreensão na Análise do Discurso é defendida por Dominique Maingueneau e será tema de discussão no capítulo 02 deste trabalho..

(18) PARTE I: TRAJETO METODOLÓGICO 1- Justificativa Várias são as justificativas possíveis em defesa do presente estudo. A primeira delas é que, nesse estudo, pretende-se, dentro de uma concepção bakhtiniana de interação verbal, analisar o formato, a linguagem, a interatividade com o outro, mesmo que este “outro” seja o próprio personagem, conversando consigo mesmo e/ou com o telespectador. Uma outra razão desse estudo é investigar quais são as causas desse produto ter se tornado um grande sucesso de audiência. Todas as vertentes de Análise do Discurso consideram que as condições de produção são constitutivas de sentido. Portanto, se pensarmos o contexto/cenografia como constitutivo de interação qualquer variação relativa às condições de produção compromete a significação e conseqüentemente a compreensão dos interlocutores. Outro fator que promove o efeito de sentido cômico são as interferências. discursivas.. A. interdiscursividade. dos. personagens. é. estabelecida nas estratégias argumentativas de subversão irônica, por sua natureza contraditória entre referências implícitas e explícitas. A esse respeito, ressaltamos o pensamento de Beth Brait (1996, p.196) que afirma que:. C ons id er a ndo que a ir on ia es tá sendo c onc eb ida (.. .) c o mo for ma i nte r dis cur si va, c o mo i nte r dis cur so c ujo se nti do n ec ess ar iame n te a dvé m de u m i mbr ic ame nto c ont r a dit ór io que co nta co m a c oni vên cia e co m a me mór ia do en unc iatár io pa ra s e rea lizar c o mo t al, os dife r en tes me ca nis mo s de pr od uçã o est ão s e ndo c ons id er a dos c o mo d i fe r e ntes for ma s de ci taç ão , c o mo es tr a tég ia d e c o mb ina çõe s de vo ze s..

(19) A justificativa que o orienta é o intuito de contribuir para a construção de uma visão mais clara, de uma maior compreensão da complexidade da utilização de estratégias lingüística-discursivas para constituir sentido, mesmo que seja em uma interação pré-estabelecida, como é o caso de um programa de TV. Esse estudo justifica-se também relevante pela tentativa de evidenciar e identificar como ocorre a interatividade do telespectador com os atores na construção do sentido, a partir dos diálogos em confronto, da sua ideologia e da cultura que refletem principalmente as referências a que ele teve acesso ou a que tem sido submetido. Em última análise, a pertinência deste estudo se dá por almejar contribuir para o enriquecimento da literatura especializada, servindo como material de consulta para estudantes e profissionais da área de lingüística, comunicação, sociologia, antropologia e afins.. 2- Hipóteses e Metodologia Sabendo-se que o discurso não é homogeneizado, não é limpo e é passível de “furos”, de incompreensão do que é dito, levando a sentidos confusos, a mal-entendidos e a interincompreensão a partir das condições externas à linguagem, o problema de pesquisa proposto neste estudo consiste. no. seguinte:. Como. evidenciar. os. mecanismos. lingüístico-. discursivos, considerando suas condições de produção, em que Os Normais se baseiam para constituir o efeito de sentido do humor privilegiado pelos telespectadores?. Mediante a esse questionamento, buscamos confirmar duas hipóteses: 9. A primeira: que a estratégia lingüístico-discursiva da ironia sustentada. na. interdiscursividade. enquanto. estratégia. interativo-argumentativa, proporciona o efeito de sentido de humor, gerando a atração necessária e conseqüentemente a preferência dos telespectadores;.

(20) 9 A segunda:.o sucesso de Os Normais se reflete em seu ethos e em sua cena de enunciação irreverentes que. produzem. identificação nos telespectadores.. O estudo será descritivo buscando examinar o funcionamento da linguagem utilizada no texto do sitcom considerando sua exterioridade constitutiva, embora seja um gênero discursivo pré-construído. Adicionalmente,. procederemos. a. uma. análise. interpretativa. do. discurso do objeto, o que significa dizer que o trabalho será essencialmente qualitativo. Quanto ao procedimento metodológico geral, utilizamos o de natureza indutiva:. por. ele,. as. constatações. particulares. permitiriam. uma. generalização. Essa generalização, evidentemente, deriva de observações específicas de fatos e situações da realidade concreta em que se insere o objeto de estudo. Assim, tendo por objetivo geral analisar as estratégias lingüísticodiscursivas utilizadas no sitcom Os Normais. Buscamos ainda atingir os seguintes objetivos específicos: 9 Identificar que mecanismos lingüístico-discursivos são utilizados no programa Os Normais, e quais os efeitos de sentido são produzidos para se conseguir o humor necessário ao sucesso de audiência do programa; 9 Investigar se a produção de sentido é constituída pela autonomia dos mecanismos lingüístico-discursivos ou se ela depende da composição de outros elementos, como a interatividade dos atores com público/telespectador na cena, isto é, a identificação do telespectador com o próprio discurso e a interação simulada entre atores e telespectadores..

(21) Debruçamo-nos no que diz respeito às estratégias argumentativas utilizadas na instauração da preservação e manutenção do jogo de linguagem entre os interactantes. Para fins de análise, todo material interativo foi considerado: jogos de linguagem, valores ideológicos e culturais,. trocas. conversacionais. etc.. Os. procedimentos. de. pesquisa. compreenderam, especificamente, os seguintes passos:. a) Ampliação e aprimoramento do arcabouço conceitual e teórico de pesquisa;. b) Análise dos mecanismos lingüísticos e as estratégias discursivas das relações de interação social, valorizando todo o material interativo contido no corpus que representou interpretações à luz de conceitos como dialogismo, conversação face a face, interdiscursividade, polidez, preservação da face, subversão, ironia, interincompreensão, ethos e cena da enunciação.. c) Análise de trechos do programa, no que se refere à construção do seu formato cenográfico e teatral. Examinamos as situações vividas pelos personagens (monólogos e diálogos) selecionados na versão em livro do programa entitulada Os melhores Momentos. (Anexo A). A fonte fundamental de observação foram os episódios constantes em Os melhores Momentos e nos doze episódios editados em dois DVDS Normais e Os. Normais sem cortes),. (Os. que foram exibidos no período. 2001-2003, além do episódio inédito para tv presente no DVD Os Normais – o filme. Por essa razão, nosso estudo pode ser caracterizado como sendo um estudo longitudinal conforme mostram os anexos F, G e H..

(22) d) Análise das chamadas dos programas 4, para observar especificamente a utilização do metadiscurso na fala dos atores que nestas chamadas, simulam conversar com o telespectador.. e) Análise das entrevistas concedidas pelos autores, atores e diretores (da série e do núcleo) na Rede Globo de Televisão 5.. 4 5. As chamadas estão inseridas no segundo DVD disponibilizado ao público : Os Normais sem Corte. As entrevistas estão dentro do primeiro DVD disponibilizado para o público – OS Normais..

(23) PARTE II- PRESSUPOSTOS TEÓRICOS CAPÍTULO 01 O SITCOM: UM GÊNERO QUE DEU CERTO 1.1 A relação entre gênero discursivo e suporte Falar sobre gêneros discursivos é falar do funcionamento sóciocomunicativo da linguagem e de práticas sociais cotidianas. Entretanto, isto não quer dizer que eles apenas reflitam os usos e costumes da sociedade, mas que, na verdade, fazem parte dela. A legitimidade dos gêneros está justamente em sua natureza social. Os gêneros têm um caráter regulador e normativo que orienta os usuários em suas ações sociais. Normalmente se utiliza um gênero comunicativo que envolva interação na práxis social, pois, ao falar ou escrever, determinadas regras fazem-se necessárias, ou seja, precisa-se de formatos que garantam certa estabilidade para que os falantes possam agir de forma adequada e eficiente. Podemos tomar como exemplo discursivo. Mikhail está. Bakhtin inserido. ([1979]2000), em. toda. que. atividade. entende humana,. que. o. gênero. como. formas. relativamente estáveis de enunciados 6, tendo uma intenção de dizer, alicerçada em uma atitude responsiva ativa, já que se inscreve em uma relação comunicativa interacional dialógica, isto é, todo o enunciado é sempre um enunciado de alguém para outrem. Bakhtin explicita que o desejo de dizer de um locutor passa necessariamente pela seleção de um gênero de discurso que melhor realize esta vontade comunicativa. Segundo ele:. 6. É considerado como uma seqüência verbal relacionada com a intenção de um mesmo enunciador e que forma um todo dependente de um gênero de discurso determinado. Maingueneau (1998,p.56)..

(24) o que rer- d ize r do loc utor se r ea li za ac i ma de t udo na es co lha de u m gên er o d is curs i vo. E s sa e s col ha é de ter mi na da e m fu nç ão da e s pec ific ida de de u ma da da es fe r a da co muni c aç ão ver bal, das n ec es s ida des de u ma te mát ica ( do ob jet o de s en tido ), do c onj unto c ons tit uído dos parc eir os . D epo is di ss o, o int uito do l ocu tor, sem que es te re nunc ie à s ua ind ivid ual idade e à s ub jet ivid ade , a da pta-se e aj us ta- se ao gêner o es c olhi do, c o mpõ e- s e e de s env olve -s e na fo r ma do g ê ner o d etermi n ado ( B ak htin, [ 1979] 2 000, p.301) .. Bakhtin lembra que os gêneros discursivos não são exatamente uma forma de língua, e sim, uma forma de enunciado, como por exemplo, as cartas, os bilhetes, os avisos que apesar de terem função informativa semelhante, são gêneros discursivos diferentes, pelas suas condições e formatos, por expressarem uma forma enunciativa típica, em certo contexto. Em suma, a função do gênero define sua utilização. (Bakhtin, [1979] 2000, p.312). Com. relação. ao. conceito. de. gênero,. Luiz. Antônio. Marcuschi. (2003,p.05) define gêneros discursivos como “textos orais ou escritos materializados em situações comunicativas recorrentes”, ou seja, são modelos de linguagem que realizam ações comunicativas diárias para regularizar contextos sócio-interacionais definidos. Dessa forma, é possível afirmar que o discurso 7 social entra em atividade por meio do gênero, levando-se em consideração suas condições de produção histórica, cultural, ideológica e, principalmente, sua intenção de produzir uma resposta no outro. Uma vez que o gênero está relacionado com “a utilização da língua” por meio dos enunciados, e esta se relaciona com todas as “esferas da atividade humana”, podemos dizer que os gêneros têm grande diversidade. Assim sendo, é difícil categorizá-los, bem como defini-los. Notamos, portanto, que, a noção de gênero depende tanto do entendimento da língua, quanto do entendimento do autor. Por essa razão, pode-se afirmar que os gêneros são dinâmicos.. 7. Discurso, de acordo com Dominique Maingueneau (2002,p.53), são enunciados orientados que se desenvolvem no tempo com uma finalidade de efeito de sentido em uma relação sócio-interativa contextualizada regida por normas..

(25) Várias teorias apresentam os gêneros enfocando diversos aspectos: os funcionais, enunciativos, culturais, cognitivos e sócio-interacionais. Na abordagem do objeto de estudo a ser aqui trabalhado, o gênero sitcom, adotaremos a teoria sócio-interacionista de Mikhail Bakhtin. Para a perspectiva de língua como sendo essencialmente dialógica, como postula Bakhtin, utilizada a partir da existência do outro, na relação de um eu para um tu, promovendo as relações interpessoais, o gênero é composto por três elementos centrais: conteúdo temático, que tem a ver com o. que. se. fala;. estilo,. que se. refere. à. autoria. e. construção. composicional que reflete a estrutura lingüística recorrente caracterizadora do gênero. Para todo gênero há um suporte, entretanto, é preciso ficar atento para o fato de que há diferenciação entre gênero e suporte, pois ela é bastante tênue, fazendo-se necessário o estabelecimento de definições capazes de sinalizar os seus limites. Nessa perspectiva, Marcuschi (2003, p.80) afirma que o gênero é uma prática discursiva que muda seu efeito de sentido também de acordo com o suporte utilizado. Uma simples frase “estarei sempre com você’’, dependendo do suporte que a exponha, receberá significações distintas, podendo ser desde uma declaração de amor até uma advertência. Ainda conforme Marcuschi, (...) “o suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto”. Observando. o. funcionamento. do. programa. de. TV. Os. Normais,. percebemos ser possível enquadrá-lo dentro do domínio discursivo televisivo. Então, poderíamos afirmar que ele se realiza pelo gênero discursivo sitcom. Já no que diz respeito ao suporte, podemos considerá-lo um programa semanal de televisão. O sitcom Os Normais possui uma variação de suporte de transmissão, como a exibição semanal pela TV, o DVD e o livro. É válido ressaltar que apesar de manter uma atitude responsiva ativa (classificação bakhtiniana), o.

(26) telespectador, provavelmente, já não produz o mesmo efeito de sentido de quando assiste ao programa de forma inédita. Aliado a esse posicionamento, Marcuschi (2003) em suas conclusões a respeito da relação da mudança de efeito de sentido na variação do gênero a partir do suporte eleito, afirma que: (. ..) nós nã o o per a mo s d o me s mo mo do com os t ext os e m s up or te s diver so s, mas is so n ão s ig nific a a inda que os s up or tes v eic ule m co n teú dos dive rs os p ara o s mes mos te xtos. O supo r te n ão muda o co nte údo, ma s nos s a r elaç ão com e le, nã o só por p er mit ir a nota çõ es , mas po r ma nte r u m c ont ato dife r en cia do co m e le . ( M arc us ch i 2 003, p. 28 ).. É importante salientar que a relação gênero versus suporte necessita de todo um cuidado na definição sobre o que pode ser considerado gênero e sobre o que deve ser considerado suporte. O fato é que a relação de recepção, de efeito de sentido é modificada, por vários aspectos e contextos diferentes, por exemplo, ao assistir ao sitcom em DVD, temos a opção de repetir a cena, de dar pausas. Ao ler o livro, é possível fazermos uma releitura de certo trecho, diferentemente da exibição semanal, na qual cada segundo não pode voltar. Em resumo: ou o telespectador se vê compenetrado ou ele poderá perder o fio condutor do sentido. Assim, podemos afirmar que não só a escolha do gênero. está. associada. ao. “querer. dizer”,. a. intencionalidade. do. autor/locutor, como à escolha do suporte no qual o querer dizer se realiza. Na verdade, o gênero dentro da atividade humana constituído por diretrizes culturais, sociais e históricas, funciona como uma estratégia de comunicação, visando à interação entre o enunciador e enunciatário, como bem entendia Bakhtin. Por essa ótica, lembramos que Jesús MartinBarbero. ([1987]1997,. p.302). entende. gênero. como. estratégia. de. comunicabilidade, dizendo que: “um gênero não é algo que ocorra no texto, mas sim pelo texto, pois é menos questão de estrutura e combinatórias do que competência”..

(27) 1.2- A televisão: um domínio discursivo e seus vários formatos. A televisão surgiu nos Estados Unidos da América e chegou ao Brasil em 1950. Desde então, é orientada para atender às perspectivas dos telespectadores. Nos anos 1970/1980, com o advento da transmissão em cores, já se percebia o alcance da audiência extraordinária que ela atingiria. O veículo televisivo também impulsionaria a economia, ao abrir as portas para a publicidade que promove o consumo e a produção de bens materiais e simbólicos, vendendo o mundo para o mundo. Herdeira do rádio no trabalho de comunicação através do diálogo, a televisão com o passar dos anos, foi definindo seu papel na vida cotidiana da sociedade: orientação, companhia, informação,. entretenimento,. bem. como,. a. função. de. estabelecer. comportamentos. Assim, várias possibilidades de diálogo foram desenhadas pelos programas televisivos diferentes que foram surgindo: entrevistas, debates, e mesmo apresentações solo – monólogo, já que há uma interação com o telespectador do outro lado da tela. Tudo isso permite dizer que a televisão se enquadra no que entendemos por domínio discursivo. Bakhtin ([1979]2000) acredita ser o domínio discursivo uma esfera de atividade humana, que proporciona o surgimento de diversos gêneros discursivos. No caso do domínio televisivo, vários gêneros são originários deste, tais como: gênero jornalístico, gênero humorístico, gênero telenovela, inclusive o gênero sitcom. Nessa perspectiva, podemos afirmar que o domínio discursivo não abarca necessariamente um único gênero, pelo contrário, acomoda vários deles, constituindo práticas discursivas identificáveis e específicas em determinados gêneros. Retomando as considerações bakhtianas da constituição de um gênero, podemos ver claramente que cada gênero televisivo possui um tema central que norteia o programa: particularidades próprias, que o diferenciam dos demais e caracterizam sua autoria; uma estrutura composicional, ou seja, um formato de apresentação, quantidade de apresentadores/atores, breaks (intervalos comerciais), ainda que pertença.

(28) a um só gênero, como o jornalístico. Nesse gênero há as apresentações monológicas, dialógicas, formatos de bancada, de sala de estar ou mesmo com apresentador em pé no cenário. Apesar do formato diferenciado, a necessidade sócio-comunicativa, o tema e a estrutura composicional são as mesmas, ou seja, transmissão de informação em linguagem direta e objetiva. José Carlos Aronchi de Souza (2004), estudioso do gênero e dos formatos que existem no domínio televisivo, destaca que a classificação geral dos programas deste domínio discursivo abrange o entreter, o informar e o educar. Entretanto, há categorias que não se encaixam nesses três grandes gêneros, e podem ser classificadas como: religioso, político, teleshopping e alguns identificados na programação das redes de televisão. No domínio discursivo televisivo, vários formatos constituem um gênero de programa. Segundo Souza, alguns gêneros agrupados formam uma categoria, como, por exemplo, na categoria entretenimento existem os gêneros sitcom, o humorístico, talk Show, novela, filme, variedades, etc. Souza (2004, p.92) sistematiza os gêneros e as categorias televisivas no seguinte quadro:.

(29) QUADRO NÚMERO 01: categorias e gêneros dos programas na tv brasileira por Souza. C AT E GORIA. GÊ NE RO. E N TRETE NIM E NT O. A udit ór io. Co luni sm o soc ial . Cu linár io.Des en ho ani mado .Doc udr am a. Espor ti vo. F ilme .Ga me s how (com pet içã o).H umor ís ti co.I nfantil . I n ter ativo . Mus ica l. Nove la. Qui z sh ow (pe rg unta s e re s pos ta s). Re ali ty show (tv r eal idad e).Re vist a.Sér ie br as ile ir a. Si tco m (c omé dia de s itu açõ es. T alksh ow. T el edr am atur gi a(fic çã o).V ar ie dades. W es te rn (faroe st e. ). I NF ORMA ÇÃO. De bate . Docu ment ár io. En tr ev is ta. T ele jor na l.. E DU CA ÇÃ O. E duc ativ o. Ins tr utiv o.. P UBLI CI DADE. Ch amad a.F ilm e. Co merc ial . P ol ítico. Sor te io. T e l ec ompr a.. O UT R OS. E sp ec ial.E ve ntos.R e ligios o.. Souza (2004, p.42) retoma o pensamento de Michel Foucault sobre o contexto cultural que direciona a “ordem” desses gêneros ao lembrar que “gênero e ordem existem como verdades culturais”. Segundo este mesmo autor, os estudos sobre gêneros devem ser relacionados com aspectos históricos e culturais das sociedades que os utilizam.Conseqüentemente, essas podem ou não ser influenciadas pelas considerações do observador e de seus pares. Entretanto, no tocante à televisão, todo gênero construído é elaborado a partir da interação com o telespectador, já que este é a pedra fundamental que a alimenta. A influência é tanta que muitos diálogos dos programas são reproduzidos pelo público no dia-a-dia. A esse propósito, Bakhtin afirma que muitos gêneros são construídos e fomentados por uma cultura, de modo a proporcionar comunicabilidades em várias gerações de enunciadores..

(30) 1.3- O gênero sitcom Atualmente,. os. Estados. Unidos. e. o. Brasil. são. os. maiores. produtores de programas para a televisão do mundo, particularmente na categoria entretenimento. De acordo com Souza (2004), alguns dos programas de maior audiência nos Estados Unidos são os sitcoms, filmes, docudramas, talk shows, noticiário, seriados de ação entre outros. Essa grande produção televisiva facilitou países da América Latina, como o Brasil, a produzir telenovelas um gênero aprovado pelo público e, conseqüentemente,. que. seria. de. fácil. comercialização. junto. aos. patrocinadores. Nos Estados Unidos, a produção de sitcom ocorre em larga escala, geralmente alcançando grande sucesso junto ao público, como é o caso da série Friends, Mel Rose, E.A 8, etc. No Brasil, apesar da expressão maciça nos canais por assinatura, esse tipo de produção vem crescendo nos canais abertos como pode ser observado na programação da Rede Globo de Televisão em programas do gênero como a Diarista. e a Grande Família. veiculadas atualmente. A estrutura composicional, o conteúdo temático e o estilo nos permitem categorizar um gênero discursivo no suporte televisão. Nesse sentido lembramos a afirmativa de Souza (2004, p. 46) de que o “formato está sempre associado a um gênero, assim como gênero está diretamente ligado a uma categoria”. Como vimos, na leitura de Bakhtin, o discurso de determinado programa e a categoria representam o domínio televisivo. O gênero sitcom insere humor na teledramaturgia para apresentar situações engraçadas dos costumes humanos buscando uma possível identificação com os telespectadores. São construídos com base no dia-adia de pessoas normais como os telespectadores, sejam dentro de um ambiente de hospital, de um condomínio, de uma profissão específica, ou mesmo com situações cotidianas como é o caso de Os Normais.. 8. Também conhecida como Plantão Médico..

(31) O formato da série analisada era uma comédia de situação que tentou reportar a linguagem e os hábitos de grupos sociais de classe média, cuja personalidade privada era apresentada de forma reveladora, tanto de seus atos solidários e nobres, como de suas atitudes agressivas e individualistas; suas formas de consumo, seus sentimentos, suas frustrações profissionais. Em resumo, seus hábitos contemporâneos revelados com naturalidade por um casal de noivos: os personagens centrais Rui, interpretado pelo ator Luiz Fernando Guimarães, e Vani, interpretada pela atriz, Fernanda Torres. Por outro lado, vale ressaltar que a saída de programas do ar em pleno auge (anexo B e C) é um mecanismo de condução que observamos na indústria brasileira de entretenimento. Esse procedimento é especialmente notado no caso da Rede Globo de televisão, através do comando do diretor Guel Arraes, que tem como estratégia recorrente a preservação de suas obras, retirando-as de exibição quando elas possuem relativo sucesso de audiência 9. Assim,. emoção,. humor,. ironia,. ambigüidade,. subversão. argumentativa, são alguns dos elementos que compõem os roteiros desses programas que envolvem temas como atividade político-econômica do país,. situações. sobre. relações. familiares,. conjugais,. amizade. e. comportamento. Em relação a sua produção, o sitcom necessitava de um elenco fixo, da construção de cenários para contar a história em episódios semanais com duração média de 30 minutos. De acordo com Anna Maria Balogh (2002, p.116), sempre existiu na TV brasileira a tendência de manter o humor menos sutil, como é apresentado nos humorísticos Zorra Total, A Praça é Nossa. Já o humor “bem mais moderno, escrachado, intertextual e metalingüístico” surgiu no programa TV Pirata e a partir daí, surgiram programas que os mesclavam, como o Sai de Baixo.. 9. Na década de 1980 a série Armação Ilimitada e o humorístico TV Pirata e na década de 1990 A comédia. da Vida Privada saíram do ar sem desgaste de audiência..

(32) Os sitcoms, geralmente mantêm os mesmos personagens, em episódios diferentes. Ao fazerem isso, essas séries parecem contribuir para a criação de uma relação de afetividade entre atores e público, de identificação deste último com os personagens, gerando, assim, o que poderíamos chamar de audiência planejada e qualificada.. 1.4 - A ideologia machista que orienta os personagens. A ideologia é um dos conceitos nucleares das Ciências Humanas. O conceito de ideologia recebeu várias definições de diferentes concepções de autores como Karl Marx e Friedrich Engels, Louis Althusser, Paul Ricoeur, Michel Foucault. O termo ideologia surgiu pela primeira vez na história da sociedade no ano de 1801 na obra do filósofo Destutt de Tracy, Elements d’ Idéologie, como uma ciência da gênese de idéias, oposta à metafísica, à teologia e à monarquia. Entretanto, por volta de 1812, Napoleão Bonaparte inverteu seu conceito, entendo a ideologia de forma pejorativa, nebulosa, tenebrosa e abstrata, perigosa para os interesses franceses. O termo voltou a ter um sentido valorativo com Augusto Comte, pai do Positivismo. Comte, entendia a ideologia da mesma maneira que Tracy, como formação de idéias a partir da experimentação das sensações do corpo humano com o meio ambiente. Mas também, percebe que a ideologia é um conjunto de idéias de uma determinada época, como se fosse uma espécie de “opinião geral” dos indivíduos pensadores dessa época. Esse posicionamento positivista acarretou três conseqüências: a ideologia era entendida como teoria que se reduzia à organização sistemática e hierárquica de idéias, autoritária no comando do saber perante. a. subserviência. dos. regularidades e normatizações.. ignorantes. e,. mero. instrumento. de.

(33) Novamente, o conceito de ideologia passa a carregar um tom negativo, de opressão de classes, como apontaram Marx e Engels. Os autores alemães viam a ideologia como uma inversão da realidade, instrumento. de. distorção. que. cristaliza. idéias. particulares. como. universais. A separação de classes, de propriedades, do que era material – trabalho braçal - do intelectual – o saber. Era compreendida como condições de existência, condições que não produzidas pelo próprio homem e sim entregue a ele de forma aleatória. A ideologia alimenta a alienação para poder manter os interesses da classe dominante. A dominação é mantida de forma camuflada, fazendo com que os homens crescessem entendendo que a divisão de classes de forma desigual era devido a forças da própria natureza ou de competência de alguns privilegiados. Para Althusser, a ideologia se realiza a partir de práticas e dos aparelhos que. reproduzem. essas. práticas.. Em. Aparelhos. Ideológicos. do. Estado(1970), Althusser explicita que o Governo, o exército, os tribunais - aparelhos repressores do Estado, bem como, a escola, a igreja, os sindicatos, a cultura – aparelhos ideológicos do Estado, interferiam na sociedade como “orientação” de obediência, de comportamento de exploração. Para ele, a ideologia interpela os indivíduos em sujeitos sociais, orientando-os em sua práxis social e proporcionando uma visão ilusória da realidade, como se fosse sua real condição de vida. Dentro da perspectiva marxista de ideologia, Ricoeur (1977) afirma que há algumas funções da ideologia que não foram tratadas além do foco das. classes. sociais.. Nesse. sentido,. Ricoeur. destaca. a. função. de. integração social, da necessidade de união do grupo, do convívio entre os homens. Os traços que desenham essa função de coesão social são: a perpetuação das idéias para além do momento atual; a motivação, propulsora da prática social, a simplificação e a esquematização das práticas sociais. A ideologia também é entendida para Ricoeur como operatória, não-temática e intransigente à inércia que lhe é característica.

(34) cabendo ao homem se adequar a esses modelos, conforme, as condições sociais nas quais está inserido. A outra função disposta pelo teórico é a de dominação, na qual a política, o Estado, instaura a hierarquia e a organização social através da ideologia de forma regularizadora e legítima. E finalmente, a última função é a de deformação. Ao representar os interesses da classe dominante, a ideologia deforma a realidade de ilusoriamente, sem repressão, de maneira natural, dentro do caráter da inversão apontada por Marx. A partir disso, percebe-se o ser humano como um ser racional que constitui sua personalidade e atos a partir das suas experiências sociais, culturais e históricas. Inserido no meio em que vive, age e reage de acordo com os membros sociais com os quais está inserido. Por outro lado, o Estado sempre manteve seu status de poder e regência na sociedade, para manutenção da “ordem” e do bem social, seja na defesa dos interesses da classe dominante ou da classe operária. Convém também trazer a essa discussão as reflexões de Marilena Chauí (1985 [1980]), filósofa brasileira que faz um bem apurado balanço das considerações tratadas pela ótica marxista da ideologia. Para ela, a ideologia é o resultado da divisão de trabalho, material e intelectual, instrumento de dominação, cuja implantação independe de ser percebida pelos indivíduos de uma dada sociedade ou não que impede que esta seja percebida em sua realidade. Assim, Chauí lembra que a ideologia age nos indivíduos como: u m con junt o ló gic o, sis te mát ico e c oer e nte de r epres entaç ões ( i déias e val ores) e de no r mas ou r egr a s ( d e con duta ) q ue i ndic a m e pr es cr e ve m ao s me mb r os da s oc iedad e o q ue de ve m p ens ar e como de ve m pen sar, o que de ve m va lor iz ar , o q ue d eve m s e nti r e c o mo d ev e m s ent ir, o que de ve m fa ze r e co mo d eve m fa ze r.( C hau í [ 1 985] 198 0, p.1 13). Chauí (1980,p.108) lembra que para muitos autores como Gramsci, a ideologia. é. compreendida. como. uma. visão. de. mundo. manifesta.

(35) implicitamente, ou seja, como os membros sociais interpretam esse mundo através da arte, do Direito, nas manifestações individuais e coletivas. Dessa forma, as Formações Ideológicas alimentam as Formações Discursivas 10 que são construídas pelos indivíduos materializando a concepção de mundo que receberam, isto é, os discursos dos sujeitos durante a interação refletem o discurso das classes sociais. Em outra perspectiva, a da análise crítica do discurso, Teun Van Dijk (1997) 11 entende que a ideologia não é nem “verdadeira” nem “falsa”, é na realidade, forma de perceber o mundo e de agir dentro dele, funcionando como orientação de conduta, procedimento e objetivos. Nesse sentido, o autor afirma que nada impossibilita a existência de falsas crenças, como, por exemplo, o machismo. Tal exemplo mostra uma atitude provavelmente preconceituosa da sociedade ou paradigmas de entendimento e posturas usados para atender a fins particulares. Sendo assim, entendemos que o homem atual, dentro da ideologia dominante na qual está inserido, acaba por viver e se guiar por esta ideologia, como bem lembra Michel de Certeau (1994). Segundo Certeau, é possível para o homem social em sua prática do cotidiano reconhecer a ideologia determinante e optar pelo uso, sendo nem totalmente livre, nem totalmente determinado. Nessa perspectiva o indivíduo torna-se usuário da ideologia que o cerca. Por fim, Certeau defende que não há pessoas mais inocentes ou comandadas, mas sim alerta, capazes de perceber o sentido do que lhe é sugerido. O homem constrói o sentido do seu discurso. O machismo, por exemplo, é uma ideologia historicamente reconhecida e tem marcado seu lugar nas relações sociais, determinando o espaço social que cada gênero de sexo deve ocupar.. 10. Formação discursiva é um termo amplamente usado pela Análise de Discurso Francesa introduzido por Foucault para explicar conjuntos de enunciados relacionados a um mesmo sistema de regularização, (Maingueneau,1996, p.67-68) 11 Teun Van Dijk l a n ç o u s e t e h i p ó t e s e s sobre a ideologia que podem ser encontradas em seu artigo Semântica do discurso e ideologia [In: PEDRO, Emiliana Ribeiro (org). Análise Crítica do Discurso. Lisboa: Editorial Caminho, 1997. Cap. 4, pp. 105-168].

(36) O texto do sitcom em estudo retrata o modo de concepção da mulher pelo homem, a idealização da mulher perfeita para viver ao lado do homem, as características e atributos que ela deve possuir para que ele, o homem, possa manter um relacionamento. A série Os Normais tem em seu texto muito claramente esse discurso ideológico “machista” do homem estereotipado, decisor, centralizador de toda e qualquer atenção. Por mais que o feminismo seja atuante em nossa sociedade, o sentimento machista de que o homem é quem deve tomar a iniciativa do casamento e que a mulher deve lhe ser submissa, em alguns aspectos, ainda é muito latente em nossos grupos sociais. Partindo desse pressuposto, podemos dizer que há uma tentativa de manipulação consciente do interlocutor, uma vez que o falante organiza sua estratégia discursiva em função de um jogo de imagens: a imagem que ele faz do interlocutor, a que ele pensa que o interlocutor tem dele, a que deseja transmitir ao interlocutor etc. É em razão desse complexo jogo de imagens que o falante usa certos procedimentos argumentativos e não outros. A partir do exposto, percebemos que o sujeito possui posicionamentos que variam de acordo com as condições de produção 12 estabelecidas no momento da enunciação. Nesse sentido, podemos dizer que há uma simulação da realidade. O interlocutor – telespectador interage com o enunciado da série por este representar um “protótipo” de sua realidade, de sua ideologia, de sua história, não levando em consideração que o programa é apenas uma teatralização, uma dramaturgia seriada e que nada vivido ou dito ali de fato aconteceu. O que importa para o telespectador é a sua identificação com os episódios, seu prazer, seu entretenimento e não a constatação da veracidade dos fatos. Assim, já que um programa televisivo retrata o cotidiano dos 12. Termo originário da Psicologia Social, foi reelaborado por Pêcheux para a análise do discurso com intuito de estabelecer o pré-construído (representações imaginárias através do que já foi dito e do que já foi ouvido). Também é empregado como uma variante de contexto.(Mainguenau, 1996,p.30-31).

(37) indivíduos, mesmo que seja uma das suas piores situações vividas já relatadas, é compreensível que a audiência corresponda e eleja como seu, um certo programa semanal, seja por identificação ideológica ou cultural.. 1.5- A simulação da realidade para o telespectador: a audiência qualificada A indústria cultural, enquanto indústria do entretenimento, tem na televisão um poderoso instrumento de difusão. Por sua vez, o público é seduzido por essa máquina de entretenimento, que oscila entre o atendimento das necessidades de mercado e o atendimento de uma dada demanda pública. Para Theodor Adorno e Max Horkheimer (1990,p. 174): “A força da indústria cultural reside em seu acordo com as necessidades criadas”, por isso, talvez seja possível dizer que, na produção midiática, existe a tendência a repetir experiências de sucesso: o que deu certo deve ser repetido com uma roupagem diferente e estrategicamente posicionada. Por isso, considera-se que fatalmente o sucesso de público e audiência serão garantidos. Logo, o interlocutor- telespectador passa a ser objeto de pesquisa na busca do conhecimento das preferências do público- alvo e seu estilo de vida. Para isso, criam-se bancos de dados sobre os indivíduos e grupos. Essas informações alimentam o seguinte círculo:. QUADRO NÚMERO 02: círculo de programação, produção e consumo. Programação. Produção. Consumo.

(38) Stuart Hall, um dos principais teóricos dos estudos culturais, refletindo sobre o processo da comunicação televisiva, definiu-a ou dividiua. em. quatro. momentos. de. construção:. produção,. circulação,. distribuição/consumo e reprodução. Sua preocupação eram as audiências. Entendia que a audiência era, ao mesmo tempo, receptora e fonte da mensagem, já que as condições de produção, na pessoa dos codificadores, atendem às imagens que a televisão faz da audiência. Desse modo, Hall define três tipos de codificadores: os codificadores dominantes (fatores hegemônicos que são vistos como naturais e legítimos); os codificadores oposicionais (a visão de mundo contrária) e finalmente a codificação negociada (é a mistura de oposição e adaptação). Hall. desenhou. um. quadro. teórico. capaz. de. mostrar. que. o. funcionamento de uma mídia não pode ser limitado a uma transmissão hipodérmica (emissão/recepção). Ele acredita em um modelo triádico do material midiático: discurso, imagens, relato; também crê em fatores como: dados. técnicos,. pressões. de. produção. e. modelos. cognitivos,. que. condicionam o sentido da mensagem. Chamava a atenção para o fato de que as produções deveriam considerar as referências culturais dos receptores. Dentro da ótica de Hall, entendemos que se faz necessário perceber que a audiência tem estatutos sociais e culturais que devem ser levados em consideração para qualquer produção dirigida a um público específico. Assim, devemos levar em conta a classe social do casal de noivos (personagens principais) da série, seus hábitos, suas crenças, e suas ideologias, pois essas características segmentam a audiência do programa. A identificação do público dirigido se dá justamente por este perfil comportamental. dos. personagens.. A. audiência. de. Os. Normais. é. supostamente constituída por um público de classe seletiva e detentora de conhecimento geral, uma vez que as ironias e subversões existentes nos diálogos dos personagens muitas vezes são subentendidas, veladas e, portanto, para que se tenha o efeito de sentido pretendido, a audiência dirigida deve compartilhar um conhecimento enciclopédico similar a dos.

(39) personagens do programa. As próprias chamadas da série aludiam a um público de vida social ativa, por insistirem que o telespectador só saísse de casa na sexta-feira à noite após assistirem ao programa. Dentro dessa perspectiva,. entende-se. que,. mesmo. em. um. sistema. de. televisão. hegemônico, o grande poder de decisão de formato e gêneros audiovisuais dependem do público-alvo que deverá consumir aquele produto cultural televisivo. ou. a. intenção. sócio-comunicativa.. Como. já. dissemos. anteriormente, no sitcom em questão, a palavra de ordem é ironia, funcionando como uma espécie de resposta inteligente ou dissimulada para não deixar de dizer o que se pensa e ao mesmo tempo, preservar a imagem diante do interlocutor/telespectador. A preservação da imagem é uma característica essencial aos personagens, pois mesmo discordando de algum ponto de vista, é latente a preocupação da não agressão, da polidez no embate dialógico. O casal procura um meio termo em suas estratégias discursivas para equilibrar as discordâncias, sem correr o risco de ameaçar ou afetar o parceiro. Corroborando o papel sedutor do personagem televisivo, Joan Ferrés (1998, p.71) destaca que: “A televisão seduz porque é o espelho, não tanto da realidade externarepresentada quanto da realidade interna de quem a vê“. Pelas razões expostas, e considerando que “(...) a civilização atual a tudo confere um ar de semelhança” (Horkheimer/Adorno, 1990, p. 159), acreditamos que o sitcom é essencialmente uma simulação13 da realidade. Simulação da vida cotidiana de sua audiência qualificada, em primeiro lugar, pelos seus aspectos culturais, sociais e ideológicos, pelas experiências e situações vividas pelos personagens, pela manutenção do emprego, pelo noivado, etc, bem como, pela preservação da imagem nas discussões conjugais. O telespectador consome o produto que lhe parece mais próximo de sua personalidade, de suas experiências, de sua vida de modo geral.. 13 O sentido de simulação adotado no trabalho é entendido como uma reprodução quase perfeita do real. Desta forma, o consumo está garantido, por representar uma realidade autêntica..

(40) CAPÍTULO 2 A LINGUAGEM DO SITCOM 2.1- A linguagem cotidiana: um diálogo sócio-interativo No início do século XX, o lingüista genebrino, Ferdinand de Saussure, apresentou uma abordagem ao estudo da linguagem pelo qual considerava os idiomas como sistemas estruturados. Essa perspectiva de estudo recebeu o nome de Estruturalismo, embora a palavra estrutura nunca tenha sido mencionada por Saussure, mas sim, a noção de sistema, como objeto de estudo fundamental, em lugar dos elementos particulares que o compõem.. Dessa. forma,. Saussure,. ao. mesmo. tempo,. combateu. a. atomicidade na abordagem do estudo da linguagem por seus predecessores e centrou. a. discussão. na. análise. de. dicotomias:. Significante. versus. Significado; Langue versus Parole e Sincronia versus Diacronia. Em relação à dicotomia, Langue versus Parole, o lingüista suíço valoriza a língua (langue), deixando à margem, a fala; muito embora ele reconhecesse o caráter dual da linguagem, formada por uma instância subjetiva, a fala, e outra objetiva, a língua. Saussure percebia a língua como um fato social pelas seguintes razões: pertencia a todos os membros de uma comunidade de fala; era passível de fixação e de sistematização em dicionários e gramáticas; constituía-se de um patrimônio extenso e, finalmente, não poderia ser possuída em toda sua totalidade por qualquer de seus usuários. Por essa compreensão, cada falante retém uma parte do sistema, que não existe perfeita, funcionalmente, em nenhum indivíduo. O recorte saussureano fez com que o estruturalismo se tornasse a orientação dominante na lingüística européia. Por sua vez, Edward Sapir e, especialmente, Leonard Blommfield desenvolveram. o. estruturalismo. americano,. tratando-o. de. maneira. relativamente independente, isso levou a que a proposta chegasse ao extremo pelos seus sucessores, através da abordagem a que chamaram distribucionalista..

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