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6º COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E ENGELS. GT 6 - Educação, capitalismo e socialismo.

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Academic year: 2021

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6º COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E ENGELS GT 6 - Educação, capitalismo e socialismo.

A indústria cultural e a pseudoformação: uma crítica marxiana da dialeticidade negativa em Adorno e Horkheimer.

Hormindo Pereira de Souza Júnior – FAE/UFMG1

É possível que os indivíduos desenvolvam comportamentos de contestação e de reflexão na “sociedade administrada” ou apenas reproduzam ideologias mantenedoras do status quo? A teoria social desenvolvida por Adorno pode ajudar a refletir tal questão? Este texto buscará refletir acerca das limitações presentes no pensamento de Adorno e Horkheimer para a perfeita reflexão da questão proposta.

O termo indústria cultural foi empregado por Adorno e Horkheimer no livro Dialética do Esclarecimento. Ambos os autores utilizam o termo indústria cultural com o intuito de descaracterizar os aspectos de uma cultura que surge espontaneamente das próprias massas, como se fosse uma forma contemporânea de arte popular. De acordo com os autores, na “sociedade administrada” a produção e reprodução da cultura obedecem à mesma lógica dos processos de produção e reprodução de qualquer outro tipo de mercadoria.

Dessa forma, a indústria cultural corresponderia a mecanismos de seriação e de segmentação de bens culturais produzidos de forma parcelar e para públicos diferenciados na escala social. Na visão de Adorno e Horkheimer, o conceito de indústria cultural diz respeito ao processo de mercantilização da vida na sociedade capitalista. Sua natureza teria um caráter sistêmico onde o industrialismo e a racionalidade da produção transformaria o processo de criação da cultura, gerando uma espécie de homogeneidade de padrão que perpassa os diferentes veículos culturais.

A cultura que emerge não seria produzida pela “massa” nasceria espontaneamente e teria suas marcas na racionalidade técnica. Os processos mecânicos de produção de bens culturais, de

1 Professor doutor do Departamento de Administração Escolar da Faculdade de Educação da UFMG.

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novas formas de lazer, permeiam a reprodução do processo de trabalho, cujos efeitos psicológicos podem representar a perda da resistência diante da estrutura autoritária e hierárquica, através da legitimação que a indústria cultural confere à lógica do sistema capitalista, naturalizando-a em forma de entretenimento.

Porém, a produção cultural sob a égide do capital possuiria um caráter ambíguo. Por detrás do processo de massificação do produto veiculado pela indústria cultural, pode-se vislumbrar a promessa de que a produção cultural, enquanto patrimônio universal da humanidade seria efetivamente reapropriada por todos. Mas o que efetivamente ocorre, de acordo com os autores, é uma pseudodemocratização destes mesmos produtos. Neste sentido, por serem objetivações humanas que deveriam ser reapropriados de forma coletiva, os produtos culturais podem ser utilizados tanto para a dominação, quanto para a emancipação das consciências. Segundo os autores, não há como separar a produção cultural da própria sociedade que a engendrou. Não há como negar a mediação humana presente no âmago do mais sofisticado ao mais simples produto cultural. Adorno e Horkheimer criticam a concepção de cultura avessa à possibilidade de que todos os produtos culturais, por mais sofisticados que possam parecer, são originários de condições materiais objetivas.

Adorno e Horkheimer concordariam com Freud quando contesta a possibilidade desta separação. Não há como negar o fato de que o homem, ao transformar o mundo externo, transforma-se internamente, ao mesmo tempo em que modifica as relações estabelecidas com os outros. Para Freud, cultura e civilização fazem parte do mesmo e conflituoso processo, pois a forma como o homem se organiza para sobreviver ao estabelecer normas e padrões de conduta não pode ser abstraída dos próprios produtos construídos para suprir as suas necessidades.2

A crítica de Adorno e Horkheimer centra-se, portanto, na forma e no desvelamento dos interesses que estruturavam todo o processo de massificação dos bens culturais. No texto “Teoria da Semicultura” Adorno, ao comentar a massificação dos produtos culturais na sociedade capitalista avançada, afirma que:

De fato, seria insensato querer segregar tais textos em edições reduzidas e custosas, quando o estado da técnica e o interesse econômico convergem para a produção massiva. Isso não significa, porém, que se deva ficar cego, por medo do inevitável, diante de suas implicações, nem, sobretudo, diante do fato de que entra em contradição com as pretensões imanentes de democratizar a formação cultural. (ADORNO, 1996:402).

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Tomando por base esse raciocínio, a massificação dos produtos culturais na “sociedade administrada” proporciona que um número muito grande de indivíduos tenha contato com eles. Contudo, esta massificação possui um aspecto doentio quando os mecanismos de memorização são especialmente elaborados tendo em vista esses indivíduos.

Portanto, é possível compreender o que Adorno quis dizer quando afirmou a “regressão auditiva” que ocorre em função de produtos semiculturais como, por exemplo, a massificação da Nona Sinfonia de Betethoven. Na verdade, tanto a denominada “cultura popular” como a chamada “cultura erudita” encontram-se cada vez mais subordinadas aos ditames da indústria cultural.

Adorno e Horkheimer ao afirmarem que a indústria cultural gradativamente alcança uma posição hegemônica na “sociedade administrada”, pretendem denunciar esta hegemonia e os rumos que tomam a produção cultural no capitalismo. Criticam a proclamação efusiva da “sociedade administrada” que procura convencer os indivíduos da possibilidade de que todos tenham acesso aos produtos semiculturais. É sintomática a forma como Adorno finaliza o texto “Teoria da Semicultura”, uma vez que, para ele, em tempos onde a dimensão crítica da formação cultural encontra-se subsumida à produção e reprodução da semiformação, a possibilidade de sobrevivência dos aspectos emancipatórios da razão consubstancia-se à realização da auto-reflexão crítica, que diz respeito à sua própria conversão em semicultura:

De qualquer maneira, quando o espírito não realiza o socialmente justo, a não ser que se dissolva em uma identidade indiferenciada com a sociedade, estamos sob o domínio do anacronismo: agarrar-se com firmeza à formação cultural, depois que a sociedade já privou-a de base. Contudo, a única possibilidade de sobrevivência que resta à cultura é a auto-reflexão crítica sobre a semiformação, em que necessariamente se converteu. (ADORNO, 1996:410).

Podemos considerar então, que a tentativa de resgate do elemento emancipatório da razão e o próprio desenvolvimento de consciências críticas tornam-se possíveis mediante a investigação das formas pelas quais este é atrofiado, pelo fato de que na “sociedade administrada” impera a razão instrumental.

Acerca desta questão, Adorno traça um painel bastante instigante no texto “A Indústria Cultural: o Esclarecimento como mistificação das massas”.

Neste texto, o teórico de frankfurt nos mostra o processo de passagem da razão emancipatória do pensamento iluminista à razão instrumental do positivismo. O saber, a ciência, a técnica passam a ser considerados como instrumentos de manipulação e degenerescência cultural e não de autodeterminação e de liberação do homem.

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O saber que livraria o homem do mito, do feitiço, da superstição, conduzindo-o à ruptura do jugo da natureza sobre si mesmo, tornou-se, com a instrumentalização da técnica no mundo do capital, mecanismo de reificação do homem, numa sociedade massificada.

Este processo de instrumentalização do saber para o controle da natureza volta-se para a repressão do homem, atinge todos os campos da vida e encontra na indústria cultural, no lazer administrado, formas continuadas de mistificação e de alienação da realidade.

A dominação progressiva da técnica pode ser entendida, de acordo com Adorno, como um engodo, se ela, ao invés do esclarecimento, criar um obstáculo à formação dos indivíduos autônomos, independentes e capazes de julgar e de decidir conscientemente.

Aqui, se coloca então, uma questão fundamental para uma maior problematização da pergunta que inicia este trabalho: qual a dialeticidade que está imanente à teoria social desenvolvida por Adorno? Esta dialeticidade permite a reflexão da questão proposta?

Não há dúvida de que a teoria social desenvolvida por Adorno contribui de forma significativa à produção filosófico-científica. Contudo, é visível que sua dialeticidade permanece e se aprisiona nos limites da crítica negativa, da denúncia. Sua dialeticidade é crítica ao identificar e analisar os mecanismos de reprodução do capitalismo, mas não apresentam instrumentos para superá-lo. Aqui, sua dialética se torna paralisada, incompleta, como incompleta é a dialética hegeliana. A mesma crítica marxiana a Hegel caberia a Adorno: A grandeza da fenomenologia hegeliana e de seu resultado final - a dialética da negatividade enquanto princípio motor e gerador - consiste, de uma parte, em que Hegel compreenda a autogeração do homem como processo, a objetivação como desobjetivação, a alienação e superação dessa alienação; em que compreenda então a essência do trabalho e conceba o homem objetivado, verdadeiro, pois esse é o homem efetivo como o resultado de seu próprio trabalho. O comportamento efetivo e ativo do homem para consigo mesmo, na qualidade de ser genérico ou a manifestação de si mesmo como ser genérico, isto é, como ser humano, somente é possível porque ele efetivamente exterioriza todas as suas forças genéricas - o que por sua vez só se torna possível em virtude da ação conjunta dos homens enquanto resultado da história - e se comporta frente a elas como frente a objetos, o que, por sua vez, só é de início possível na forma da alienação. (1987:203).

Ou seja, como muitos adorariam, Hegel não é um “cachorro morto”. A par disso, Marx dirige sua crítica contra a concepção hegeliana apontando um duplo erro em Hegel.

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Primeiro - Quando ele concebe a riqueza, o poder estatal, etc. como essências alienadas para o ser humano, ele as concebe somente nas formas do pensamento. São seres do pensamento, isto é, abstrato.

Para Marx, é justamente do pensamento abstrato que estes objetos se alienam e é justamente a este modo abstrato que a efetividade destes objetos se opõem. Ou seja, para Marx, quando Hegel entende estes objetos como sendo fruto da abstração ele aliena o homem de si mesmo opondo consciência e autoconsciência, sujeito e objeto. A abstração hegeliana não efetiva o homem no mundo ao separar a criação da criatura que cria.

Segundo - Hegel entende que o mundo objetivo é fruto de uma consciência sensível abstrata. Ou seja, a verdadeira essência humana é o Espírito pensante, o espírito lógico, especulativo. Nesse sentido, o objeto surge, é concebido apenas como consciência abstrata e o sujeito apenas como autoconsciência, frutos, ambos, do pensamento. Marx vai não só inverter o pensamento hegeliano como produzir uma ruptura com o mesmo. A concepção marxiana da dialética foi para além de Hegel, desde o momento inicial, em dois aspectos fundamentais: a) Ao estabelecer uma oposição dualistíca entre idéia-sujeito e entender a existência empírica degradada como simples fenomenalidade, a dialética hegeliana objetiva sua construção conceitual de forma especulativa. Ao entender a relação idéia-sujeito e a existência empírica como expressões da atividade humana efetiva, concreta, Marx não se prende à fenomenalidade do mundo.

b) Hegel entende a dissolução e restauração do mundo empírico como construção a-histórica, que contradiz as potencialidades profundamente históricas de sua própria construção teórica. Marx, ao contrário, pós em relevo de maneira enfática, o dinamismo irreprimível dos desenvolvimentos históricos reais, juntamente com uma indicação precisa das alavancas necessárias com as quais o agente revolucionário pode intervir no sentido da transformação do mundo.

Ou seja, a teoria social desenvolvida por Adorno ao enfatizar as dimensões negativas sem relacioná-las com as dimensões positivas inverte o pensamento hegeliano sem contudo romper com este. Neste sentido, a conseqüência é uma teoria social fundada numa dialeticidade negativa que proporciona a elucidação fenomênica da questão proposta no início deste trabalho, porém, não ultrapassa os limites da fenomenalidade e por tanto, por circunscrever-se na descrição e reflexão do fenômeno, separa a criação da criatura que cria.

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Se for possível a contestação e a reflexão, parece impossível a emancipação e a transformação e, nesse sentido, fica difícil não entender que, aos indivíduos, reste outra possibilidade que não a mera reprodução de ideologias mantenedoras do status quo.

Finalmente, a dialeticidade negativa que funda a teoria social de Adorno ao misturar “uma ética de esquerda com epistemologia e ontologia de direita”3 não possibilita a completa desobstrução dos canais que nos permitiria a apreensão da substância. Portanto, a essência é confundida com a aparência na medida em que se é possível a contestação e a reflexão, não é possível a superação e a emancipação.

3 Acerca disto ver: MÉSZÁROS, I. A Teoria Crítica de Adorno e Habermas. In: O Poder da Ideologia. Ensaio.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, T. W. & HORKHEIMER, M. A Indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. In: ADORNO, T. W. & HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor. 1985. P. 113-156.

ADORNO, T. W. Educação e Emancipação. Paz e Terra. 1995.

ADORNO, T. W. Teoria da Semicultura. In: Educação & Sociedade. Papirus/CEDES. Dezembro, 1996. P. 388-410.

FREUD, S. Mal-Estar na Civilização. In: Freud. São Paulo. Abril Cultural, 1978. P. 125-194. MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos: Terceiro Manuscrito. Os Pensadores, Nova

Cultural, S.P, 1987.

MÉSZÁROS, I. A Teoria Crítica de Adorno e Habermas. In: O Poder da Ideologia. Ensaio. 1996. P. 129-190.

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