• Nenhum resultado encontrado

COMERCIO Y CULTURA EN LA EDAD MODERNA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "COMERCIO Y CULTURA EN LA EDAD MODERNA"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

Juan José Iglesias Rodríguez

Rafael M. Pérez García

Manuel F. Fernández Chaves

(eds.)

COMERCIO Y CULTURA

EN LA EDAD MODERNA

Contiene los textos de las comunicaciones

de la XIII Reunión Científica de la Fundación

Española de Historia Moderna

(2)

COMERCIO Y

CULTURA EN LA

EDAD MODERNA

(3)

Juan José Iglesias Rodríguez

Rafael M. Pérez GarcÍa

Manuel

F.

Fernández Chaves

(eds.)

COMERCIO Y

CULTURA EN LA

EDAD MODERNA

COMUNICACIONES DE LA XIII REUNIÓN

CIENTÍFICA DE LA FUNDACIÓN

ESPANOLA DE HISTORIA MODERNA

~~SIO"'C

Íl~)eus

Editorial Universidad de Sevilla

(4)

Serie: Historia y Geografia NÚlll.:291

COMrrÉ EDITORIAL: Antonio Caballos Rufino

(Director de la Editorial Universidad de Sevilla) Eduardo FerreJ" Albelda

(Subdirector)

Mannel Espejo y Lerdo de Tejada Jnan José Iglesias Rodríguez Jnan Jim.énez-Castellanos Ballesteros Isabel López Calderón

Jnan Montero Delgado Lourdes Mlmduate Jaca Jaime Navarro Casas

M'-del Pópulo Pablo-Romero Gil-Delgado Adoracióu Rueda Rueda

Rosario Villegas Sánchez

Reservados todos los derechos. Ni la totalidad ni parte de este libro pue-de reprodllCirse o transmitirse porningún procedimiento electrónico o mecánico, incluyendo fotocopia, grabación magnética o cualquier alma-cenamiento de infonnación y sistema de recuperación, sin penniso escrito de la Editorial Universidad de Sevilla.

Obra editada en colaboración con la Fundación Espal.iola de Historia Modema

Motivo de cubierta:Vista de Sevillael!el siglo xn,por A. Sánchez Coello

o

Editorial Universidad de Sevilla 2015

CIPOIVenir. 27 - 41013 Sevilla.

Tlfs.: 954 487 447; 954 487 451; Fax: 954 487 443 Correo electrónico: eus4@us.es

Web: <hllp://www.editoria1.us.es>

o

POR LOS TEXTOS, SUS AUTORES 2015

O JUAN JOSÉ IGLESIAS RODRÍGUEZ, RAFAEL M. PÉREZ GARCÍA Y MANUEL F. FERNÁNDEZ CHAVES (EDS.) 2015 Lascomunicaciones presentadas en la XIII Reunióu Científica de la Fi.Ul-dación Espal.iola de Historia Moderna e incluidas en fonnato digital en la presente obra han sido sometidas a la evaluación de dos expertos, por el sistema de doble ciego, según el protocolo establecido por el comité organizador del congreso.

Impreso en papel ecológico Impreso en España-Printed in Spain ISBN: 978-84-472-1746-5

Depósito Legal: SE 929-2015 Impresión: Kadmos

(5)

COMITÉ C1EI'o'TIFICO DEL CONGRESO

Marí~de los Ángeles Pérez Samper EliseoSeIT~noMartín Mónica Bolufer Peruga

Virgina León Sanz Francisco Fernández Izquierdo

Félix Labrador Arroyo Isidro Dubert Gucía Francisco García González Miguel Luis López-Guadalupe Muñoz

M~ría José Pérez Álvarez

COMIIT ORGANIZADOR DEL CONGRESO

Juan José Iglesias Rodríguez (director de la XIII Reunión Científica)

Francisco Núñez Roldán Carlos Alberto González Sánchez

Juan Ignacio Carmona G-arcía Mercedes Gamero Rojas Jo!:lé Antonio Ollero Pina José Jaime García Bernal Fernando Javier CampeseG~llego

Raf~elM. Pérez García (secretaría científica) Antonio González Polvillo ManuelF.F ernández Chaves

(secretaría ejecutiva) Clara Bejarano Pellicer

(6)

ANIMAIS E PLANTAS AMERICANOS

IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E

BERNARDO DE VARGAS MACHUCA

ANlMALS AND AMERICAN PLANTS PRINTED ON PAPER A COMPARISON OF THE WORKS OF JOSÉ DE ACOSTA AND

BERNARDO DE VARGAS MACHUCA

FLÁVIA PRETO DE GODOYOLlVElRA

Universidade de Sáo Paulo1

Resumo: Esta apresenta<;ao pretende elaborar urna reflexao acerca dos es-critos sobre História Natural impressos na década de 1590 no território da monarquia hispanica. Para tanto, a análise estará limitada

a

compara<;ao de duas obras publicadas no período:Historia Naturaly Moral de la,s India,s de José de Acosta eMiliciay Descripción de !a,s India,s.O exame dos mecanismos de apreensao da fauna e flora empregados pelos autores será conectado

a

trajetória editorial das obras, visando reconstruir a imagem do mundo natural americano presente no meio de comunica<;ao impresso, bem como entender as razóes para que determinada obra se tornasse urna referencia na temática da história natural ao longo dosséculosenguanto a outra permaneceu restrita a urna única edi<;ao e poucas men<;óes dentro do campo científico.

Palavras-ehave: História Natural; Cultura Impressa; José de Acosta; Ber-nardo de Vargas Machuca.

Abstraet: This paper examines the literature on Natural Histol)' pub-lished in the transcontinental Spanish Monarchy during the 1590s through a comparative analysis of two key works: the.1Ii.storia Naturaly Moral de la

India,s (1590), by José de Acosta, and theM1Hciay Descn:pción de la,s

In-dia.s(1599),by Bernardo de Vargas Machuca. It will examine the authors' use of

a range of mechanisms of apprehension of flora and fauna. And it wiIl connect these concepts with the editorial trajectol)' of each book to understand why Acosta's work became a key reference text within the broader literature on

1.Bolsista de doutorado do Cnpq e do PDSE da Capes, ambas as institui,pes vinculadas ao governo brasileiro.

(7)

2514 FLÁVIA PRETO DE GODOY OLIVEIRA - Un.iTJBr.';,ku¡' de Silo Pnuk>

Natural HistOI)' with many subsequent translations and editions, while Vargas Machuca's work had only one edition until the nineteenth century.

Keyworcls: Natural History; Print Culture; José de Acosta; Bernardo de Vargas Machuca.

n

ecentes debates historiográficos em torno da história da ciencia tem .J::.".recuperado a importancia da participa<rao de institui<róes e indivíduos ibéricos na constru<rao dos saberes científicos2

no início do período moderno. Autores como Jorge Cañizares Esguerra, Antonio Barrera Osório e Maria Portuond03defendem urna reavalia<rao do papel e da marginalidade das obras

de portugueses e espanhóis na constru<rao da ciencia moderna. Para Cañi-zares Esguerra, os primeiros historiadores que se dedicaram ao estudo da Revolu<rao Científica, em meados do século passado - como Rupert Hall e Marie Boas -, conferiram um status periférico

a

ciencia ibérica, urna vez que associavam os avan<r0s científicos do século XVII ao protestantismo, bem como enfatizaram a matematiza<rao e a mecaniza<rao do cosmo como saberes preponderantes da ciencia que emergia, desconsiderando áreas como a car-tografia e a História Natural como campos importantes nas transforma<róes economicas, religiosas e culturais ocorridas.

Entretanto, essa oblitera<rao dos ibéricos nao estaria restrita aos estudos tradicionais, obras recentes, sobretudo publicadas em ingles, como os tra-balhos de Lorraine Daston e Katherine Park ou Steven Shapin, excluiriam portugueses e espanhóis de suas narrativas. Para o autor equatoriano, seria necessário rever essa perspectiva dominante e recuperar o envolvimento ibé-rico na origem da modernidade4

. Esta reivindica<rao nao pode ser

conside-rada inédita, já 1979, em seu estudo c1ássico sobre a história da ciencia e da técnica na Espanha, José Maria López Piñero destacava o fato de que os es-panhóis nao estavam presentes na maior parte das histórias gerais elaboradas por estudiosos de outros países quando esses analisavam o desenvolvimento de urna disciplina ou tema determinad05.

2. O termo ciencia (e práticas e saberes científicos por consequencia) será utilizado para fazer referencia a sistemas de explica.pes feitos"localmente pelos humanos afim dedar can-ta do mundo queéo dde.s"Cf. Dominique Pestre, "Por urna História Social e Cultural das Ciencias: novas defini.pes, novos objetos, novas abordagens", CadernosIG/Unicamp,vol. 6, número 1 (1996), p. 8.

3. Jorge Cañizares Esguerra,Nature, Empire, and Nation.Stanford, Stanford

Universi-tyPress, 2006. María Portuondo.Secret Science: Spanish Cosmography and !he New VVorld,

Chicago, The Universityof Chicago Press, 2009. Antonio Barrera Osório,E:xperiencing Na-!ure,Austin, University ofTexas Press, 2006.

4.J.Cañizares Esguerra,Nature, Empire... p. 23.

5. José María López Piñero,Ciencia y técnica enla sociedad espaiíoladelos siglos XV!

(8)

ANlMAlS E PLANTAS AMERICANOS IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;:ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E BERNARDO DE VARGAS MACHUCA 2515

Contudo, nao podemos negar que há importantes contribuicj:óes nas recentes discussóes historiográficas, sobretudo, em rela~ao a inser~áo da problemática nos meios academicos anglófonos, aamplia~áo dos objetos de estudo da história da ciencia, incluindoinstitui~óeseespa~osantes preteridos nos trabalhos sobre a produ~ao de conhecimentos, bem como, revisitando obras anteriormente já analisadas, como as crónicas das Índias, sob urn novo olhar. Além disso, urna parte considerável desses estudos conecta o desenvol-vimento de determinadas práticas a chegada dos europeus ao Novo Mundo, as a~óes de coloniza~aoe as práticas imperiais.

Entre os campos do saber abordados por esses estudiosos está a His-tória atural. De fato, o interesse em analisar a História atural do ini-cio do período moderno em territórios hisparucos é justificável em razao do considerávelespa~oque a disciplina ocupava na produ~ao científica daquele momento, inclusive entre as obras impressas. Segundo dados fornecidos por Vicente L. Salabert Fabiani, entre 1470 e 1600, foram impressos cerca de

1700livros de cunho científico, sendo mais da metade deles produzidos nos últimos quarenta anos do século XVI. A maior parte dos livros científicos impressos entre 1560 e 1600 era constituIda por obras ligadas a medicina seguida pelos trabalhos de História atural (um total de 99 obras)6. A segun-da posi~ao da História atural nao pode ser entendida como algo fortuito, além de evidenciar a importancia desse conjunto de conhecimentos dentro do território hispanico, está associada aos novos territórios americanos adiciona-dos a monarquia hispanica e a curiosidade despertada. Esses daadiciona-dos, sornaadiciona-dos as obras que permaneceram manuscritas e a outras iniciativas - como jardins botanicos, estudos patrocinados pela coroa, práticas de colecionismo etc -indicam a relevancia do mundo ibérico para o desenvolvimento da disciplina de História Natural nos séculos XVI e XVII.

No entanto, essa perspectiva nao é consensual. O historiador norte-a-mericano Brian Ogilvie afirma que os autores ibéricos (com raras exce~óes) tiveram um papel muito reduzido no desenvolvimento da História atu-ral no período renascentista7

. Segundo o autor, as espécies e os elementos

do mundo natural encontrados nas Índias também nao tiveram um impac-to profundo na constru~áo desse campo de conhecimento, sendo as viagens realizadas dentro da Europa mais importantes8

. Outros autores, como Paula

Findlen e Karen Reeds, também nao fazem men~aodireta as obras ibéricas

6. VicenteL.Salabert Fabiani,"La imprenta y la difusión y comunicación científica de los saberesyde las técnicas", en Enrique Martínez Ruiz(dir.),FdipeII, lacienciay la técnica,

Madrid, Actas, 1999, pp. 243-244.

7. Brian W. Ogilvie,The Soirmee

if

De.soribing, Chicago, The University of Chicago

Press, 2006,p.24.

(9)

2516 FLÁVIA PRETO DE GODOY OLIVEIRA - Un.iTJBr.';,ku¡' de Silo Pook>

ou mesmo ao cantata de naturalistas quinhentistas com as espécies do Novo Mund09

. esse sentido, as discussóes em torno dasrela~óesentre acogni~ao

da natureza americana e a constitui~ao da História Natural no século XVI ainda estao abertas a novas estudos.

Obviamente, urna reflexao sobre o impacto do processo de apreensao do mundo natural americano e das obras de autores ibéricos sobre a disciplina de História Natural requer umesfor~oque ultrapassa o escapo desse artigo. As-sim, tendo em vista a importancia desse campo de conhecimento dentro do universo dos impressos científicos hispanicos, optou-se pela análise de duas obras produzidas na década de1590:Historia Natural

y

Moral de las Indias

de José de Acosta eMilicia

y

Descripción de las Indias de Bernardo de

Var-gas Machuca. Elaboradas por sujeitos de forma~óesdiferenciadas, atividades profissionais distintas e experiencias no ovo Mundo bastante diversas, as duas obras possuíam como denominador comum a tentativa de descrever e apreender aqueles terntórios para os leitores do velho continente. Além dis-so, ambos os livros continham se~óesdedicadas

a

narrativa sobre o mundo natural daquelas partes. Contuda, enquantoHistoria Natural

y

Moral teve

outrasedi~óesetradu~óes ainda nos séculas XVI e XVIIO

, tornando-se urna

das principais obras no que concerne

a

natu reza do ovo Mundo até os se-tecentos, Milicia

y

Descripción permaneceu em castelhano, foi reimpressa

apenas no século XIX, nao senda fi-equentemente citada por estudiosos pos-teriores como urna referencia para o conhecimento do mundo natura! ame-ricano. Lago, urna questao emerge: por que as duas obras tiveram trajetórias editoriais, de tradu~óese de credibilidade nos meios científicos tao diversas? Em busca da resposta para tal questionamento, este artigo tem os se-guintes intentos: rever e comparar as estratégias cognitivas presentes nas obras, avaliando se as diferentes trajetórias editoriais e de circula~aodos li-vros em outros idiomas estao vinculadas a diferen~as formais, de método ou mesmo de conteúdo; elaborar algumas explica~óespreliminares que pos-sam contribuir para o entendimento dos motivos que levavam ao sucesso

9. Paula Findlen, "The formation of a Scientiflc Community: Natural History in Six-teenth-century Italy", en Grall:on,A e Siraisi, N.,NaPural Partioulars: NaPureand Disci-plinesinRenaissanee Europe,Cambridge: MIT Press, 1995. Karen Reeds M., "Renaissance

humanism and botany", en.A7r,nals

rif

Saionee, 33, 1976.

10. A primeira edi~¡¡oem caste!hano deHistoria Naturaly Moral de las Indias foi publicada em 1590, por Juan de Léon, em Sevilha, sendo reimpressa, no ano seguinte, em Barcelona. A obra teve outras edi.pes impressas em Madrid nos anos 1608, 1792 e 1894. Foi traduzida e publicada, poucos anos depois de suaedi~¡¡ooriginal, em Veneza (1596), Pa-ris (1598, 1606e 1661), Colonia (598), Enkhuizen (1598), Londres (1604), Urse! (1605), Frankfurt (1617). Além disso, aedi~¡¡oem latim fez parte daCoUeaiones Peregrinat1:onumin

Indiam Orientalcm et Indiam Oeaidcntalem,compiladas por Theodor de Bry e publicadas em 1590 e 1634. Cf María de la Luz Ayala, "La historia natural en siglo XVI: Oviedo, Acosta y Hernández", enEstudios del hombre,2005, p. 26.

(10)

ANlMAlS E PLANTAS AMERICANOS IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;:ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E BERNARDO DE VARGAS MACHUCA 2517

editorial (entendido aqui como uro maior número de edi<Jóes, de tradu<Jóes e de referenciabilidade) de um impresso científico no início da época moderno. Consequentemente, inserir alguns apontamentos relacionados ao debate em torno da illstória da ciencia e o papel dos ibéricos. A compara<Jáo das duas obras pretende evitar uma conclusa o auto-evidente para a questáo, estabele-cer uma perspectiva analítica simétrica\l.

Éimportante salientar que o presente trabalho é parte de urna pesquisa em andamento e apresenta algumas análises iniciais sobre as temáticas.

A apreensao da natureza do ovo Mundo emHIStoria Natural

y

Moral de las Indias e Miliciay Descripción de las Indias: comparando estratégias

cognitivas

Dois indivíduos que estiveram nas chamadas Índias Ocidentais sao per-sonagens centrais desta análise. Seus dados biográficos sao também desseme-lhantes como as trajetórias de suas obras após a publica<Jao inicial. José de Acosta (1540-1600), um de nossos protagonistas, tem sua illstória pessoal bastante conhecida. Desde muito jovem ingressou na Companilla de Jesus, obtendo uma forma<J3.o humanista bastante abrangente. Bm 1572, foi en-viado ao ovo Mundo, onde percorreu diferentes regióes em sua ativida-de rnissionária, permanecendo até 1587. Bscreveu obras sobre os territórios americanos, entre elas Historia Naturai

y

Moral de la.> Indio.f, publicada

originalmente em 159012

.Faleceu em 160013•Menos conhecida é a biografia

11. Seguindo o exemplo de Shapin e Schaffer, procuramos nao encarar o sucesso de

Historia Naturaly Moral, como decorrente de suas ideias serem mais verdadeiras ou

pró-ximas dos discursos científicos posteriores. Tentaremos evidenciar que tal e:x:ito é construído e está vinculados a demandas sociais, históricas, culturais, políticas e economicas. Cf Steven Shapin e Simon Schaffer,El Levit1Jhany la bomba devado, Bernal, Universidad aciona! de Quilmes, 2005.

12. José de Acosta,Historia Naturaly Moral delas Indias, Alicante, Biblioteca

Vir-tual Miguel de Cervantes, 1999, Disponível em: http://www.cervantesvirVir-tual.com/servlet/ SirveObras/12471630833470495210657/index.html

13. Historia Naturaly Moral foi fTequentemente citada e analisada. Importantes

es-tudiosos, como Alexander von Humboldt, a uti!izaram como fonte de informarróes sobre o ovo Mundo. Esta obra também constituiu um valioso objeto de investigarrao para diversos historiadores, sobretudo em relarrao a suas descri'iÓes dos indígenas e o trabalho rnissioná-rio. Entretanto, tendo em vistaOSobjetivos e as dimensóes deste trabalho, optou-se por nao

fazer urna análise exaustiva da bibliografia e centrar o exame nas fontes, na compararrao das duas obras que nunca foi realizada, embora tenham sido produzidas em anos muito próximos. Entre os inúmeros estudos sobre a obra de Acosta que podem ser citados estao: Edmundo O'Gorman, ''Prólogo", en José de Acosta,Historia Naturaly Moraldelas Indias, México,

DF, FCE, 1985; Mercedes Serna Amáiz, «José de Acostaylas cosmografías fabulosas de la Antigüedad", en, Guillermo Serés,Mercedes Serna Arnáiz,Los Hmz"tesdelocéano, Barcelona:

(11)

atu-2518 FLÁVIA PRETO DE GODOY OLIVEIRA - Un.iTJBr.';,ku¡' de Silo Pook>

de Bernardo de Vargas Machuca (1555-1622). Nascido em Simancas, reali-zou seus estudos iniciais na cidade de Valladolid, contudo, ainda adolescente, tornou-se soldado partindo para confrontos na regiao da Itália. Alguns anos mais tarde, embarcou para as Índias Ocidentais, onde percorreu urna pon;ao do território da monarquia hisparuca em sua atividade como militar. Obteve a patente de capitao geral e também foi alcaide em áreas localizadas atualmen-te no Panamá e na Venezuela. Escreveu obras sobre equitalJao, militarismo e conquistas. Milicia

y

Descripción de las Indias14 foi publicada em 1599, durante sua estadia na corte. Morreu em Madrid em 162215.Seriam as

dife-renlJas biográficas significativas no modo de apreender os animais e as plantas do ovo Mundo?

Buscando comparar e responder essa interrogalJao, analisaremos as obras em relalJao a quatra pontos: organiza<;ao; métodos declarados, mecanismos cogni tivos e conteúdos.

Organiza~áo

Historia Natural

y

Moral é composta por sete livros, dos quais quatra

estao associados

a

História atural e tres

a

História Moral. Entre os Iivros dedicados

a

História atural, o quarto aborda especificamente os minerais, as plantas e os animaisl6

, considerados pelo jesuíta como generas mistos. A

organizalJao do quarto livro está a1icerlJada na ideia de que os minerais seriam os elementos compostos mais simples, sendo os animais os seres mais

perfei-tos.

Os primeiros quinze capítulos destinados aos minérios abordam seus di-ferentes usos, os locais onde poderiam ser encontrados, os tipos de minérios

rales y Colonialismo: Gonzalo Fenández de Oviedo y José de Acosta", enIlIes i Impsris. Es-tudis d'historia de les societats en el món colonial i post-colonial, Departament d'Humanitats. Universitat Pompeu Fabra, 2006.

14. Bernardo de Vargas Machuca,.Mi"lioiaydesoripoión de las Indias) Madrid, Librería de Victoriano Suaréz, 1892. Disponível em http://www.archive.org/details/miliciaydescrip-OOgoog

IS. Em rela'rao a outros cronistas, poucos sao os estudos sobre Bernardo de Vargas

Machuca, sendo a maioria ligada a suas atividades militares nas Índias. Cf Felipe Castañeda "La imagen del indio y del conquistador en la Nueva Granada: el caso de Bernardo de Vargas Machuca", enEJ"dos: RevistadeFilosofla,n. 4, 2006, pp. 40-59; María Luisa Martínez de Salinas Alonso,Ca.wiUaMUeel nuevo mundo la trayeaoria indiana del gobernador Bernardo de l'árgas Machuca, Valladolid, Diputación Provincial de Valladolid, 1991. Com exce'rao

de um breve capítulo elabora por Asúa e French sobre as descri'róes de animais emMi·licia)

nenhum estudo se dedicou exclusivamente

a

visao de Vargas Machuca sobre o mundo natural. Cf Miguel Asúa y Roger French,A new world

rif

animals: ear{y modern Europeans on the oreatures

rif

Iherian Amsrica,Burlington, Ashgate,200S.

16. Os animais aquáticos nao sao descritos no quarto livro, mas em conjunto com as

(12)

ANlMAlS E PLANTAS AMERICANOS IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;:ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E BERNARDO DE VARGAS MACHUCA 2519

etc. Em seguida, apresenta algumas espécies da flora americana, organÍzan-do-as conforme a utiliza9ao humana: inicialmente as plantas que serviam de alimentos, em seguida aquelas empregadas na confec9ao de vestuários, as flores, os vegetais com usos medicinais e aqueles cuja madeira era proveitosa. Também havia urna segunda divisa o na descri9ao da flora: nos capítulos 31 e 32, José de Acosta aborda os generos de vegetais levados da Espanha para o ovo Mundo e sua adapta9ao. Finalmente, o jesuíta descreve a fauna presen-te no continenpresen-te americano. Aqui o critério fundamental de separa9ao estava relacionado ao que podemos dizer "distribui9ao geográfica". Inicialmente, o autor relata sobre animais domésticos levados pelos espanhóis; em seguida, os animais que encontrados nas Índias Ocidentais que eram semelhantes aos do continente europeu e por último os animais próprios do ovo Mundo. Essa última categoria estava dividida em aves, animais de montes (que englobava antas, bichos-pregui9as, entre outros), macacos, vicunhas, guanacos e lhamas. O último capítulo é dedicado as chamadas pedras bezoares.

O livro de Bernardo de Vargas Machuca, Milicia

y

descripción de las Indias, está dividido em duas partes. A primeira constitui um manual sobre

as qualidades e conhecimentos que um bom caudilho deveria ter. A segunda parte é dedicada a urna descri9ao geográfica, etnográfica e de história natural sobre determinadas regióes do Novo Mundol7

.

IntituladaDescripción Breve de todas las Indias Occidentales con la hi-drograjía

y

geografía de las costas de mar) reinos

y

particulares provincias)

a segunda parte está dividida em segmentos textuais relativamente curtos

(se9óes),os quais congregam temáticas comuns. A disposi9ao dessas se9óes é

significativa, revelando a percep9ao de Bernardo de Vargas Machucasobre a

melhor forma de descrever o ovo Mundo e a maneira que segregava temas e concebia o conhecimento.

Iniciada com um relato geral sobre a geografia, emDescripción Vargas

Machuca procurou caracterizar o relevo, a hidrografia e o clima das regióes logo no primeiro capítulo. os capítulos seguintes, abordou os indígenas, descrevendo seus costumes, suas cren9as, suas línguas etc.

Em seguida, Vargas Machuca procurou descrever a flora presente nas Índias Ocidentais. A ordena9ao dos capítulos segue urna dicotomia espacial que tem como centro referencial a Europa, há urna divisao entre as espécies que eram oriundas da Espanha e aquelas que eram próprias da terra. Inicial-mente, o autor abordou as árvores fi-utíferas da Espanha trazidas para o Novo Mundo e avaliou a adapta9ao climática desses vegetais. Urna segunda se9ao é dedicada as árvores próprias das Índias, como o cacau, a coca e o urucum. Também descreveu as árvores fi-utíferas que se criavam nas montanhas sem

(13)

2520 FLÁVIA PRETO DE GODOY OLIVEIRA - Un.iTJBr.';,ku¡' de Silo Pook>

benefício humano, enumerando seus possíveis usos. As duas últimas partes sobre as plantas americanas sao dedicadas as ár""Dres silvestres sem frutos, como o cedro e o guaya can, e as mores aromáticas.

Em seguida, anal isa os arumais terrestres das Índias: primeiramente, os venenosos, seguidos daqueles domésticos de origem europeia, por fim, os animais americanos, come9ando com aqueles usados pelos humanos, como lhamas (carneiro do Peru), para adiante descrever os silvestres - tigres, ur-sas (tamanduás), rapour-sas etc. Após os arumais terrestres, Vargas Machuca dedica-se a descrever os principais rios e seus pescados - entre eles os

10-bos-marinhos, jacarés, tartarugas e os peixes-boi - e, em seguida, as aves (diferenciadas entre as domesticadas e as bravas). Obsel"a-se urna ordena9ao na diferencia9ao do meio em que determinados grupos de arumais vivem, tartarugas seriam c!assificadas entre pescados por permanecerem na água, por exemplo, fato que permite compreender parcialmente o modo pelo qual o cronista distinguia e ordenava as espécies.

Na se9ao seguinte, dedicada as sementes e coisas de proveito, Vargas Machuca relatou sobre os principais legumes, verduras e cereais cultivados nas Índias e outros generos de interesse como o algodao e aniI. As partes finais de Descripción Bre-ve de todas las Indias Ocidentales sao dedicadas as minas e aos minerais do ovo Mundo, a hidrografia das costas e mares e a localiza9ao geográfica e descri9ao dos reinos, províncias e cidades mais sig-nificativas.

A organiza9ao presente em Descripción Breve nao corresponde exata-mente a mesma ordena9ao utilizada por Acosta. Porém há semelhan9as signi-ficativas. Ainda que de forma menos contundente que Vargas Machuca, José de Acosta também estabelece as rela9óes entre os seres vivos e os ambientes em que estavam inseridos como um dos critérios para organizar sua narrativa. Como exemplo mais significativo dessa postura está a localiza9ao das descri-9óes da fauna aquática no terceiro livro de Historia Natural

y

Moral,após as descri9óes dos mares das Índias. No entanto, o principal eixo de ordena9ao e de compreensao dos animais e das plantas americanos, para ambos os au-tores, foram as rela9óes existentes entre as espécies e os homens. O olhar dos cronistas sobre a natureza americana é bastante antropocentrico: a separa9ao, a ordena9ao e as escolhas dos capítulos estao pautadas nos usos humanos, na identifica9ao das espécies já conhecidas pelos europeus daquelas que eram ignoradas até entao, na localiza9ao de habitats e dos benefícios possíveis. Esta percep9ao da natureza nao esteve restrita a estrutura9ao dessas duas obras; estando presente em outros escritos que tratam do ovo Mundo e senda também urna das características da História Natural do períodol8

. Portanto,

18. Keith Thomas, O homcm e o mundo natural: mudanyas de atitude cm rela;áo lis

(14)

ANlMAlS E PLANTAS AMERICANOS IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;:ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E BERNARDO DE VARGAS MACHUCA 2521

as diferen9as nas trajetórias editoriais e na longevidade de ideias no campo científico nao podem ser atribuídas

a

forma de organiza9ao das obras. Métodos declarados

No proemio deHistoria Natural

y

Moral de las Indias) foram

explicita-dos explicita-dos métoexplicita-dos empregaexplicita-dos por Acosta para composi9ao da obra como um todo. Com rela9ao aos aspectos naturais do Novo Mundo, o jesuíta afirmava: "(...)Y en lo natural de aquellas tierras

y

suspropiedades con la experiencia de muchos años

y

con la diligencia de inquirir, discurrir

y

conferir con personas sabias

y

expertas"19. José de Acosta se apoiava em sua experiencia pessoal, bem como contava com informa9óes obtidas de pessoas merecedoras de cré-ditos (sábias e especialistas). Além disso, advertia que essa postura também deveriaseradotada por outros que desejassem buscar a verdade.

Bernardo de Vargas Machuca, em Descripción Breve, nao faz men9ao

direta a autores clássicos da Antiguidade ou outras autoridades; um dos prin-cipais métodos empregados foi a preponderancia do visto e do vivido. Var-gas Machuca destacava, em suas descri9óes, as qualidades, as características físicas e comportamentais, bem como os modos de ca9a, enfatizando nao apenas aquilo que obseIYou diretamente, mas inserindo também sua vivencia na narrativa. Bm alguns pontos do relato, o cronista também apresenta nar-rativas que teriam sido feitas por outras pessoas, como é caso da descri9ao dos grifos20.

Bmbora José de Acosta estabelecesse um diálogo com as autoridades da Antiguidade, podemos obseIYar urna similitude em rela9ao ao posicio-namento metodológico exposto pelos autores. A enfase na experiencia, seja pessoal ou de pessoas confiáveis, é urna tonica comum nas obras.

Mecanismos Cognitivos

Nas duas obras analisadas,os principais mecanismos utilizados para tor-nar inteligível o mundo natural das Índias para leitores foram as descri9óes, as compara9óes e as analogias.Assimcomo as histórias naturais do períod021 , os relatos sobre os animais e as plantas de Vargas Machuca e Acosta tinham urna significativa preocupa9ao com a descri9ao das espécies selecionadas.

19.J.de Acosta.Hisroria Natural...

20. B. Vargas Machuca,Müiciay de.soripoión..., p. 135.

21. Em sua análise sobre a desenvalvimenta da História Natural entreOSséculas XV e XVI, Ogilvie afirma que OSproblemas teóricos e práticas relativos

a

atividade descritiva fo-ram centrais para a disciplina, senda a descri'ráa urna de suas principais características. B. W Ogilvie,The Science

rif. .. ,

pp. 6-8.

(15)

2522 FLÁVIA PRETO DE GODOY OLIVEIRA - Un.iTJBr.';,ku¡' de Silo Pook>

ao apenas eram apontados os caracteres físicos e hábitos dos seres

descri-tos, mas também havia um cuidado em distinguir as espécies frente a outras

encontradas no velho continente e a aten<rao com a nomea<rao. Posturas estas que já estavam presentes em escritos anteriores, como os de Oviedo22

, e que

também estavam em consonancia com aquilo que era defendido pelos natu-ralistas do período.

Urna das estratégias empregadas por José de Acosta e Bernardo de Var-gas Machuca, conforme pode ser antevisto em seus modos de organizar as

obras, foi centrar a narrativa sobre as Índias a partir de urna geografia da semelhan<ra e da diferen<ra com as espécies europeias. Fundamentado na com-para<rao, o relato perrnitia simultaneamente reunir o Velho e o Novo Mundo, estabelecer conformidades e distin<róes23. O uso da analogia e da compara<rao permitia que o desconhecido cedesse sua estranheza e aparecesse em um marco de referencia conhecido, sendo possível, desta forma, nomear e clas-sificar24

.

No capítulo24de Historia Naturai

y

Moral de la.> India.>,por exemplo, o jesuíta escreveu sobre as goiabas, mamryes e os abacates. Segundo José de

Acosta, as goiabas possuiriam tamanho semelhante ao das ma<ras; os abacates eramfrutos parecidos com peras grandes em sua forma; e os mameyes podiam

ser comparados aos grandes pessegos e

a

marmelada25. A aproxima<rao desses tres frutos em um mesmo capítulo já é indicativa de um atributo comum. Contudo, é revelador o fato de que ao comparar com peras, ma<ras, pessegos e marmelos, Acosta adicionou tais plantas no quadro de conhecimentos, de-finindo os "lugares" que deveriam ocupar dentro do sistema de classifica<rao da flora conhecida e moldo u o tipo de percep<rao que o europeu necessitava ter sobre estes frutos.

Por sua vez, Vargas Machuca descreveu os peixes-boi como urna mescla entre suínos e pescados: "Hay en estos reinos unos manatíes, que son de la

facción de un puerco muy gordo y el cuero de bagre y su carne es casi como el mismo tocino. (. ..) es pescado que sale a pacer yerba a tierra.»26 O comparar, ainda que limitado, tornava-se um meio de tradu<rao da diferen<ra.

Outros elementos, tais como as leituras simbólicas, tipológicas e mo-ralizantes da natureza, também garantiam a inteligibilidade das narrativas,

22. Jesús Carrillo Castillo, "Naming Difference: The Politics of aming in Fernández de Oviedo's Historia generalynatural de las Indias", emSaimee in Context16,2003.

23. Fran~oisHartog, O Espelho de Heródoto - Ensa";o sobre a representa;áo do outro,

Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999, p. 240.

24. Mauricio ieto Olarte, "Ciencia, imperio, modernidadyeuro centrismo: el mundo atlántico del siglo XVIyla comprensión del Nuevo Mundo", enHistoria Critica,nov. 2009, pp. 28-29.

25.J.de Acosta,H1..5toria Naturaly Moral .

(16)

ANlMAlS E PLANTAS AMERICANOS IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;:ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E BERNARDO DE VARGAS MACHUCA 2523

porém, apresentavam de forma menos frequente nos escritos de ambos os

autores.

De maneira geral, podemos atribuir urna proximidade entre alguns dos mecanismos cognitivos empregados pelos autores na apreensáo da fauna e da flora, nao sendo esse o carácter distintivo que explicaria as diferentes traje-tórias das obras.

Conteúdos

Embora Acosta e Vargas Machuca afirmassem se pautar em suas ex-periencias, como apontado anteriormente, isso nao significava urna total

desvincula~aode um repertório de conhecimentos sobre o ovo Mundo já constituído. o final do século XVI,já havia um determinado conjunto de imagens e de saberes sobre a fauna e a flora americanas, o qual estava

sedi-mentado em representa~óesiconográficas e textuais, sendo fi-equentemente reproduzido. Animais como as Ihamas, vicunhas, os bichos-pregui~as e tatus ou plantas como o cacau, a coca, a goiaba, o agave entre outras espécies eram descritos pelos dois cronistas e já estavam presentes em outras narrativas, muitas vezes, com o uso dos mesmos recursos cognitivos. ao se postula aqui a ideia de plágio, anacrónica para o período, contudo, acredito que havia saberes relacionados a determinadas espécies, cujareitera~aotornava o relato assimilável, crível e ao mesmo tempo o conectava a urna rede de outras obras.

Alémdisso,a própriasele~aode determinadas espécies para compor a obra é

indicativa desse diálogo com um repertório já constituído.

Obviamente, que havia espécies descritas por Vargas Machuca que nao constam no relato de José de Acosta e vice-versa. As varia~óespoderiam estar associadas, inclusive, as diferentes regióes que estiveram os cronistas. Contudo, ainda que apresentem algumas especificidades quanto aos animais e as plantas relatados, há muitos pontos em comum que impedem que assi-nalemos o conteúdo como fator preponderante para atribuir adiferen~a nos posteriores destinos das duas obras.

Tra~andoalgumas hipóteses

Historia Naturai

y

Moral de las Indias estaria entre as obras

ibéri-cas encaradas como exce~óespor Brian Ogilvie, foi traduzida e contou com muitas edi~óes,tendo, assim, impacto no desenvolvimento da disciplina de História atura\. Um status similar nao poderia ser atribuído, segundo a visao de Ogilvie, a obra de Vargas Machuca pois nao teria ultrapassado as fi-onteiras ibéricas com tradu~óes.Contudo, como tentamos evidenciar, os

dois livros compartilhavam importantes aspectos no modo de conceber e apreender a natureza, nao podendo ser analisados de forma tao desconectada

(17)

2524 FLÁVIA PRETO DE GODOY OLIVEIRA - Un.iTJBr.';,ku¡' de Silo Pook>

e discrepante. Ainda que os escritos de José de Acosta tenham particulari-dades, eles nao podem ser desvinculados de urna cultura escrita hisparuca dedicada as temáticas sobre os animais e as plantas do ovo Mundo, que englobava out ras obras. Logo, é fundamental repensar o caráter excepcional de determinadas obras em rela~aoaconstitui~áo da História Natural, assim como o papel dos autores ibéricos - como propuseram alguns historiadores mencionados anteriormente. Assim como José de Acosta, Bernardo de Var-gas Machuca e outros autores hispanicos devem ser considerados nos estudos que se propóem a analisar a História atural quinhentista.É necessário um exame do conjunto obras e que abarque práticas que extrapolam as perspec-tivas tradicionais da história da ciencia.

Entretanto, a questao inicial desse trabalho ainda nao foi respondida. Como podemos explicar as diferen~as nas trajetórias editoriais, detradu~óes? Para responder essa interroga~áo, é necessário pensar no livro como um fato social, nao apenas como objeto de escrita e leitura, mas como um arte-fato que envolve a venda, a compra, aclassifica~ao,o colecionismo, a crítica e a censura, capaz de gerar o esquecimento ou a preserva~ao na memória27 .

Certamente, qualquer tentativa que busque avaliar a difusao de determinada obra entre os leitores europeus do século XVI deve considerar determina-dos aspectos, como o desempenho de impressores e editores, a venda pelos livreiros do período, a presen~a em bibliotecas de institui~óese de acervos privados a men~ao em outros escritos etc. Entretanto, como mencionado anteriormente, este trabalho é parte de um projeto em andamento, tal

ma-peamento ainda está sendo realizado. Assim, de modo a concluir essa

argu-menta~aoinicial, foram elaboradas tres hipóteses pautadas nas características das obras e de seus autores, as quais poderao ser reconfiguradas conforme o desenrolar da pesquisa.

Urna primeira explica~aoestá relacionada aos objetivos de cada um dos cronistas ao escrever. o prólogo de Milicia, Vargas Machuca apresentava

suas inten~óes pedagógicas e práticas (oferecer conhecimento aqueles que desejavam empreender conquistas e pacifica~óes).Por sua vez, José de Acos-ta, em seu proemio, deixou explícitas suas pretensóes filosóficas, desejava ex-plicar as causas e razóes das particularidades do ovo Mundo. Tendo em vista os objetivos de cada urna das obras, podemos inferir que o público leitor deHz"storia Natural era possivelmente mais amplo que o de Milicia,

sobretudo em rela~aoao interesse de letrados que viviam em outras partes da Europa. Além disso, o jesuíta nao apenas descreve o que observou e vi-venciou, mas insere tais experiencias a partir do diálogo com um repertório

27. Luiz Carlos Villalta, «A história do livro e da leitura no Brasil Colonial:balan~o his-toriográfico eproposi~¡¡ode urna pesquisa sobre o Romance". Disponível em: http://www.ca-minhosdoromance.iel.unicamp.brlestudos/ensaios/livroelei tura.pdf acesso em23/03/2014.

(18)

ANlMAlS E PLANTAS AMERICANOS IMPRESSOS EM PAPEL: UMA COMPARA<;:ÁO

DAS OBRAS DE JOSÉ DE ACOSTA E BERNARDO DE VARGAS MACHUCA 2525

de conhecimento partilhado entre os letrados europeus, inclusive fazendo menc;ao aos autores ciássicos da Antiguidade, como PUnio e Aristóteles. É

possível que este diálogo tenha atraído a atenc;ao de editores e de tradutores, sendo um elemento a ser considerado para entender as diferenc;as.

Urna segunda hipótese relaciona-se com a questao da autoridade da que-le que narra. Ambos os cronistas estiveram nas Índias e foram testemunhas

oculares, tendo, portanto, o argumento da experiencia a seu favor. Entre-tanto, no irucio do período moderno, a autoridade e a confiabilidade de um testemunho ainda estavam pautadas na posic;ao social daquele que descrevia. Acosta, devido

a

sua fonnac;ao humanista e o posto ocupado em sua ordem, provavelmente tinha mais credibilidade dentro do universo letrado daquele momento que o soldado Bernardo de Vargas Machuca.

A terceira hipótese está vinculada ao pertencimento de José de Acosta

a

Companhia de Jesus.Asredes intelectuais jesuítas sao temas de diferentes estudos, sendo inegável a importancia desses circuitos para difusao de infor-mac;óes e conhecimento28

.Émuito provável que tais redes tenham

colabora-do para o sucesso deHistoria Natural

y

Moral, nao apenas fora dos domínios

da monarquia católica, como também em relac;ao

a

circulac;ao e

a

constancia dessa obra como referencia ao longo dos séculos - tendo em vista o papel dos jesuítas na educaC;ao durante o período moderno.

Steven Shapin e Simon Schaff'er ao analisarem a controvérsia entre Boyle e Hobbes, buscaram evitar um relato auto-evidente, elaborando urna revi-sao historiográfica fundamental para história da ciencia das últimas décadas. Talvez, o exame simétrico das modos de composic;ao das obras e de suas tra-jetórias editoriais possa, de maneira análoga, ampliar os espac;os, renovar os

questionamentos em áreas e fontes bastante tradicionais no estudo da história da América.

28. María C. Torales Pacheco, "Los jesuitas novohispanos y la naturaleza en elsiglo XVIII», en D. Ledezmaü 1... Millones Figueroa,El sa!Jsrdelosjesuitos) kistorias naturalesy

Referências

Documentos relacionados

Moisés recolheu metade do sangue, deitou-o em vasilhas e derramou a outra metade sobre o altar... Depois, tomou o Livro da Aliança.. e leu-o em voz alta ao povo,

Ainda que das carnes mais consumidas nesta altura em Portugal, tanto os caprinos como os galináceos estão re- presentados apenas por um elemento, o que nos pode dar a indicação que

E, não por outra razão, uma vez desenhado este revés contrário ao mutualismo existente entre as doações privadas e as campanhas políticas, foi realizada uma proposta de

a vinda à consciência e, ao mesmo tempo, a negação de elementos e lembranças reprimidos... O estudo da ruptura da ilusão dramática e, consequentemente, da co-

para a matrícula de estudante transferido ou portador de diploma ou de certificado de.. Aprovado pelo CONSELHO DIRETOR em 16/12/2008 14 qualificação profissional técnica de

Escola e Rede Básica de Saúde é a base do PSE, promovendo prá- ticas de prevenção e promoção à saúde, sendo que no ano de 2016 foram lançados vários desafios para

Keywords: Coniothyrium-like fungi, Urochloa, tropical forage grasses, antagonism, white mold Endophytic fungi from Brachiaria grasses in Brazil and preliminary screening of..

Para tanto, esta pesquisa buscou identificar quais as principais técnicas e ferramentas de Design de Serviço têm sido utilizadas visando a inovação social, quais as