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Mortes no trânsito urbano: análise segundo local de ocorrência e residência no município de São Paulo entre 2003 e 2005

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Mortes no trânsito urbano: análise segundo local de ocorrência e residência

no município de São Paulo entre 2003 e 2005

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Paulo Borlina MaiaTirza Aidar

Palavras-chave: Mortalidade, Causas Externas, Pareamento, Georreferenciamento.

Resumo

Os estudos sobre mortalidade por causas externas adotam, em geral, o local de residência da vítima como referência geográfica. Isso se deve, em grande medida, ao não preenchimento ou má qualidade da informação sobre o local de ocorrência do evento (acidente ou agressão) que levou ao óbito. Entretanto, dada a predominância de fatores externos quando se tratam dos acidentes de transportes, a identificação do local de ocorrência dos eventos passa a ser de extrema relevância, tanto para o entendimento do fenômeno como para a gestão e desenho de medidas preventivas localizadas.

Através da técnica de pareamento aplicada aos bancos de óbitos da Fundação SEADE e dos Boletins de Ocorrências da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foi criado um banco com informações detalhadas sobre vítimas de acidentes de trânsito, incluindo sua residência na época do óbito, e o local exato da ocorrência do evento.

O presente trabalho objetiva apresentar e avaliar a técnica de pareamento, aplicada aos acidentes ocorridos no Município de São Paulo entre 2003 e 2005, e analisar a distribuição espacial destes acidentes, abordando algumas questões sobre a associação entre os locais de ocorrência e demais características como o tipo de veículo envolvido, a idade e o local de residência da vítima.

“Trabalho a ser apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em

Caxambu – MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de setembro de 2008”.

Este trabalho foi possível graças à colaboração de Túlio Kahn da Coordenadoria de Planejamento da Secretaria

de Segurança Pública de São Paulo que forneceu a base de dados dos Boletins de Ocorrência de acidentes de trânsito do Município de São Paulo e dos técnicos Telma Theodoro e Marcelo da CET, que possibilitaram discussões e esclarecimentos sobre os bancos de dados.

Analistas de Projetos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e Doutorando do

Programa de Pós-graduação em Demografia, Núcleo de Estudos de População (NEPO/UNICAMP).

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Mortes no trânsito urbano: análise segundo local de ocorrência e residência

no município de São Paulo entre 2003 e 2005

♦♥

Paulo Borlina MaiaTirza Aidar

1. Introdução

Uma das principais características dos estudos demográficos e epidemiológicos sobre morbidade e mortalidade por causas externas é que a referência geográfica se baseia, em geral, no local de residência da vítima. Tal enfoque se justifica por vários motivos. Em primeiro lugar, destaca-se a maior disponibilidade e qualidade das informações sobre o endereço de residência, fato nem sempre observado para a identificação do local de ocorrência do acidente ou agressão. Em segundo lugar, mesmo que a análise tenha recorte municipal, não são diretas a formulação e interpretação de indicadores como taxas específicas de mortalidade por local de ocorrência, por exemplo, dada a dificuldade de se delimitar o denominador, isto é, a população exposta ao risco. Por último, e talvez o motivo mais relevante, ressalta-se que a localização e caracterização do espaço de residência da vítima viabilizam a identificação de fatores socioeconômicos e demográficos, importantes para a avaliação de desigualdades e fatores associados ao risco de se morrer devido às causas violentas, sejam elas acidentais, ocasionais ou intencionais.

Além dos estudos sobre o processo vida, saúde, doença e morte em geral, tal abordagem tem sido fundamental para pesquisas e desenho de políticas voltadas à saúde materno-infantil e às doenças infecto parasitárias, muitas delas de veiculação hídrica, dado a estreita relação destas com a infra-estrutura urbana e meio ambiente observado no local da residência.

Entretanto, quando se trata dos agravos referentes aos acidentes de transportes, a identificação do local de ocorrência dos eventos passa a ser também muito relevante, tanto para o entendimento do fenômeno como para a gestão e desenho de medidas preventivas localizadas.

Reconhecendo a relevância da dimensão espacial para tratamento do tema, este trabalho apresenta os resultados e potencialidades da vinculação das duas fontes de dados: os Bancos de Óbitos da Fundação SEADE e dos Boletins de Ocorrências da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Em seguida, procedeu-se à análise exploratória sobre possíveis associações entre os padrões espaciais dos locais de residência das vítimas e de ocorrência dos acidentes, caracterizados segundo tipo de veículos envolvidos.

“Trabalho a ser apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em

Caxambu – MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de setembro de 2008”.

Este trabalho foi possível graças à colaboração de Túlio Kahn da Coordenadoria de Planejamento da Secretaria

de Segurança Pública de São Paulo que forneceu a base de dados dos Boletins de Ocorrência de acidentes de trânsito do Município de São Paulo e dos técnicos Telma Theodoro e Marcelo da CET, que possibilitaram discussões e esclarecimentos sobre os bancos de dados.

Analistas de Projetos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e Doutorando do

Programa de Pós-graduação em Demografia, Núcleo de Estudos de População (NEPO/UNICAMP).

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Nessa análise preliminar sobre o procedimento de vinculação e descrição do banco gerado, os resultados revelam a grande potencialidade para análises aprofundadas sobre os padrões dos acidentes considerando a relação entre os espaços de residência e de vivência (mobilidade) da população envolvida.

2. Material e Métodos

2.1. Fonte de dados - Declaração de Óbito (DO) e Boletim de Ocorrência (BO)

Os registros dos óbitos referentes à população residente no Estado de São Paulo são coletados, codificados, sistematizados e disponibilizados pela Fundação Sistema de Análise de Dados. Para esse trabalho utilizou-se as informações de todas as DO’s de óbitos ocorridos entre 2003 e 2005 agrupadas segundo os tipos de acidentes, de acordo com a CID-10, como descrito no Quadro 1.

Quadro 1:

Agrupamento dos tipos de acidentes de transportes, segundo Classificação Estatística Internacional de doenças e problemas relacionados à saúde: 10ª revisão (CID 10)

Tipo de Acidente Códigos

Pedestre traumatizado em um acidente de transporte V01 – V09

Ciclista traumatizado em um acidente de transporte V10 – V19

Motociclista traumatizado em um acidente de transporte V20 – V29

Ocupante de triciclo traumatizado em um acidente de transporte V30 – V39

Ocupante de um automóvel traumatizado em um acidente de transporte V40 – V49

Ocupante de uma caminhonete traumatizado em um acidente de transporte V50 – V59

Ocupante de um veículo de transporte pesado traumatizado em um acidente de transporte V60 – V69

Ocupante de um ônibus traumatizado em um acidente de transporte V70 – V79

Outros acidentes de transporte terrestres V80 – V89

Acidente de transporte por água V90 – V94

Acidente de transporte aéreo e espacial V95 – V97

Outros acidentes de transporte e os não especificados V98 – V99

Os Boletins de Ocorrências (BO) referentes aos acidentes de trânsito fora extraídas do INFOCRIM, sistema de captação das informações dos boletins de ocorrência de todos os distritos do Município de São Paulo, via on line,e armazena em um computador da PRODESP9. Os registros são processados e georeferenciados automaticamente, segundo o local de ocorrência do evento, e supre um novo sistema de estatística completamente informatizado, permitindo uma exploração detalhada de qualquer área da cidade e do local exato onde ocorreu o evento (Lima, 2005).

2.2. Vinculação das bases de dados

Conhecida também como linkage, concatenação ou pareamento, as técnicas para vinculação de bancos de dados pressupõem a existência de informações individualizadas que possibilitam complementar, recuperar ou verificar informações existentes em sistemas de

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informações, possibilitando análises mais profundas (Ortiz, 1999) e com um custo operacional relativamente baixo (Almeida, M. F. e Mello Jorge, M. H. P, 1996).

A técnica consiste na vinculação de dois ou mais bancos de dados, independentes, que possuam variáveis comuns entre si e que, por meio de uma ou mais delas, possa ser identificado os indivíduos que fazem parte destes bancos. A aplicação parte do princípio que os sistemas de informação com boa cobertura de eventos, com padronização dos dados registrados- e com boa qualidade das informações, possibilitem a verificação e identificação de um mesmo indivíduo, ou registro de um mesmo evento, em dois ou mais bancos de dados relacionados a este sistema de informação (Ortiz, 1999).

No caso dos estudos de mortalidade, esta técnica tem sido bastante utilizada para análises da mortalidade infantil (vinculação do óbito infantil com a base de Nascidos Vivos) dado que possibilita a recuperação de várias informações sobre as características dos nascidos vivos que deram origem aos óbitos analisados (Almeida, 1995; Almeida e Mello Jorge, 1998; Ortiz, 1999; Ortiz 2006). Também tem sido aplicada para os estudos de acidentes de trabalho e AIDS (Waldivogel, 1999; Teixeira & Waldivogel, 2006; Morais et. al. 2006).

Para a pesquisa sobre os acidentes, a vinculação dos bancos dos Boletins de Ocorrência e das Declarações de Óbitos, foi feita através de rotina de trabalho desenvolvida por equipe técnica da Fundação SEADE. Tal rotina, iniciada há quatro anos, tem sido aprimorada a cada novo projeto da fundação, e já foi utilizada na vinculação do banco de óbitos com fontes de informação de outras instituições, tais como: os dados do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP); as Notificações Compulsórias de AIDS do Centro de Referencia de Treinamento; o SIM e SINASC da Secretaria de Saúde e as informações sobre Acidentes de Trabalho da FUNDACENTRO (Fundação Jeorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho).

Antes de aplicar o sistema de vinculação, foi usado um sistema automático de padronização de algumas variáveis, o que é de fundamental importância para uma maior eficácia nos resultados. As variáveis padronizadas foram: “Nome da Vítima”, “Nome do Pai da Vítima”, “Nome da Mãe da Vítima” e “Data do Nascimento”, foram homogeneizadas facilitando o processo de vinculação.

Isto feito foi aplicado um programa que vinculou os dois bancos segundo critérios para a comparação das variáveis em comum. Os critérios são de dois tipos: de igualdade, quando todos os caracteres das variáveis são exatamente iguais; e os de semelhança, quando parte dos caracteres são semelhantes. Neste último caso, a similaridade entre as variáveis é definida pelo pesquisador, se 70%, 80%, 90%, etc. No Quadro 2 descreve-se os 11 critérios de combinação entre as variáveis, utilizado na vinculação dos dois bancos de dados.

A experiência acumulada de outros trabalhos de vinculação de bancos realizados na Fundação SEADE permitiu observar que quando o “Nome da Vítima”, o “Nome da Mãe da Vítima” e a “Data de Nascimento” da vítima eram exatamente iguais, praticamente não havia ocorrência de homônimos. Nesta situação, considerou-se que a vítima registrada na DO e no BO, eram a mesma, criando-se assim, um terceiro banco com todos os registros assim identificado-se informações existentes nos outros dois. Nos demais critérios, os casos são pré-selecionados e exibidos em uma tela com algumas variáveis que identificam os casos e permite confirmar se o indivíduo selecionado é o mesmo ou não.

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Quadro 2

Lista de critérios de comparabilidade das variáveis

Critérios Variável 1 Proporção de Similaridade Variável 2 Proporção de Similaridade Variável 3 Proporção de Similaridade Critério 1 Nome da Vítima 100% Nome da Mãe da Vítima 100% Data de Nascimento 100% Critério 2 Nome da Vítima 100% Nome da Mãe da Vítima 100%

Critério 3 Nome da Vítima 100% Data de Nascimento 100% Critério 4 Nome do Pai da Vítima 100% Data de Nascimento 100% Critério 5 Nome da Mãe da Vítima 100% Nome do Pai da Vítima 100% Critério 6 Nome da Vítima 100% Data de Nascimento 80% Critério 7 Data de Nascimento 100% Nome da Vítima 80%

Critério 8 Data de Nascimento 100% Nome da Vítima 100% Nome do Pai da Vítima 100% Critério 9 Nome do Pai da Vítima 100% Nome da Vítima 80%

Critério 10 Data de Nascimento 100% Nome da Vítima 70%

Na Figura 110 vemos alguns exemplos que de vítimas que foram identificados

visualmente segundo o grau de similaridade dos seus nomes. No primeiro caso cujo grau de similaridade foi de 80%, o nome da vítima aparece como “Aline Correa” no banco da Secretaria de segurança pública e “Aline Correia”, o nome da mão da vítima não consta no banco da SEADE e o nome do pai da vítima e a data de nascimento da vítima são idênticos nos dois bancos de dados. Assim, têm-se evidências fortes de que as vítimas contidas nos dois bancos de dados são a mesma pessoa.

Figura 110:

Tela de Seleção Manual de Indivíduos

10 Para preservar o sigilo das vítimas de acidentes, os nomes apresentados na figura são fictícios, contudo eles

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Nos casos de persistência de dúvidas, o sistema permite fazer a comparação visual, com outras variáveis escolhidas pelo analista, neste caso, optou-se pela causa de morte, endereço e a própria variável usada para fazer a vinculação, mas que não estava presente naquele critério de seleção.

A vinculação entre os dois bancos de dados deu-se da seguinte forma: foi fornecido pela Secretaria de Segurança Pública o banco de dados dos BO’s de todos os acidentes de trânsito registrados, de casos fatais e não fatais, ocorridos no Município de São Paulo nos anos de 2003 a 2005, o que totalizou 95.951 registros de acidentes de trânsitos. Para fazer o vínculo com o banco das DO’s optou-se por utilizar todos os óbitos registrados com ocorrência ou residência da vítima no Estado de São Paulo, independente da causa de morte. Tal procedimento partiu de duas considerações. No caso das causas de morte, o objetivo era saber se através dos BO’s era possível identificar casos com Causas Mal Definidas (Códigos S00 a T98 na CID 10) ou óbitos por Causas Externas Mal Definidas (Códigos Y10 a Y34 na CID 10), e contribuir para a melhoria da qualidade de informação das DO’s, diminuindo a proporção das causas mal definidas. Já a inclusão de todos os óbitos com DO registrada no Estado de São Paulo no processo de vinculação dos bancos, teve como intenção verificar a evasão destas mortes, ou seja, a ocorrência de mortes de residentes no município em outros municípios do Estado.

2.3. Sobreposição cartográfica (Overlay)

Para a representação geográfica e análise dos padrões espaciais dos acidentes de transporte, foi utilizada a técnica de sobreposição cartográfica, ou overlay. Esta técnica, bastante trivial em geoprocessamento, permite que diferentes suportes zonais (polígonos), ou dados pontuais, sejam sobrepostos e valores associados a uma das subdivisões zonais, ou pontuais, sejam atribuídos a outra subdivisão a partir de critérios como proporcionalidade de áreas ou contagem de pontos.

Assim, os óbitos representados por pontos, serão contados quando estiverem contidos na área zonal que queremos analisar. A população censitária, denominador para cálculo das taxas de mortalidade segundo residência, é estimada a partir de critérios de proporcionalidade entre polígonos (Figura 2).

Figura 2

Categorias Representacionais (polígonos e pontos) usuais em SIG

Polígono 1

Polígono 2

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Para este trabalho, foram utilizadas quatro bases cartográficas: 1. Base de logradouros da Fundação Seade;

2. Base cartográfica de ruas com endereçamento dos óbitos de acidentes de transito da Declaração de Óbito (Fundação Seade);

3. Base cartográfica de ruas com endereçamento dos óbitos de acidentes de transito do Boletim de Ocorrência (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo);

4. Base cartográfica das áreas dos Distritos do Município de São Paulo (Fundação Seade).

As análises dependentes do georeferenciamento foram elaboradas com os dados de 2003 e 2004, dado que as coordenadas geográficas dos óbitos da Fundação SEADE para 2005 ainda não estavam disponíveis à época de elaboração do trabalho.

2.4. Análise de dados pontuais (Técnica de Kernel)

Aplicou-se a técnica de Kernel (Kernel de densidade de pontos) para a identificação de padrões de concentração espacial dos pontos, neste caso, os óbitos por Acidentes de Transportes segundo o local de residência e ocorrência da vítima. O modelo é não paramétrico e permite um alisamento, ou suavização estatística, que filtra a variabilidade de um conjunto de dados (Bailey, 1994; apud Santos, 1999). O modelo faz a estimativa alisada da intensidade local dos eventos sobre a área estudada, obtendo-se uma “superfície de risco” para sua ocorrência. Segundo Santos (1999), no contexto espacial, o alisamento é uma técnica exploratória valiosa para a identificação de hot spots ou áreas que apresentam homogeneidade.

Sua função é dada por:

= ⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎜ ⎝ ⎛ − = n i i

s

s

k s 1 2 ) ( 1 ) ( τ

τ

λ

τ Onde: k( ) – é a função ponderada;

τ - é a largura da banda (bandwidth), fator de alisamento; S – centro da área;

Si – local do ponto;

n – número de pontos (óbitos); λ(s) – é o valor estimado.

Assim, para cada k () escolhido e banda τ , λ(s) é estimado em cada ponto na R (região, conforme a figura 1.

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Figura 14

Esquema básico do método de Kernel de avaliação de densidade de pontos em uma superfície

Fonte Bailey (1994), apud Santos (1999).

Com isso, obtém-se uma estimativa de “eventos por unidade de área” atribuída às células que compõem uma grade regular (grid) que compreende a região estudada.

A determinação da banda (raio) depende dos objetivos da análise e características dos eventos. Quando o raio é muito grande, a suavização resulta em padrão homogêneo por toda superfície considerada e quando muito pequeno não há suavização de fato; ou seja, em ambos os casos a técnica não funciona como facilitadora da identificação de padrões espaciais dos pontos. Sendo assim, a determinação da “banda” foi feita por método iterativo, até que o resultado gerasse um mapa considerado adequado para a identificação clara de áreas de concentração dos acidentes. A banda considerada nas análises finais foi de 1,3 km.

Além de auxiliar na análise sobre as relações dos diversos tipos de acidentes com os espaços urbanos, o uso deste instrumento também evita a identificação da residência dos falecidos (ou de outro evento), aspecto ético que deve ser considerado em estudos que alcançam este detalhamento. Os softwares utilizados para a elaboração dos mapas e dos cálculos de estatística espacial foram Maptitude (versão 4.2) e Terra View (versão 3.1.3).

3. Resultados

3.1. A vinculação dos Bancos de Dados

Na tabela 1, são apresentados os números de registros trabalhados. Do total de 95.951 casos de acidentes de trânsitos, com ou sem vítimas fatais, registrados nos Boletins de Ocorrência da Cidade de São Paulo nos anos de 2003 a 2005, 3.810 casos foram vinculados com os bancos das Declarações de Óbitos, sendo o número de casos vinculados similar nos três anos estudados. Vale destacar que os dados da secretaria de segurança, da fundação SEADE e os casos vinculados apresentam uma certa congruência, com exceção dos boletins de ocorrências fatais de 2005, que registrou um número inferior de sucesso na identificação pela vinculação. Isso deve-se, possivelmente, ao fato de que até o momento não termos acesso

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ao banco de 2006, pois verificou-se que, nos bancos anteriores, havia cerva de 350 registros referentes ao banco posterior. Os eventos não vinculados podem ser divido aos seguintes motivos: no caso das Declarações de Óbitos, por não constarem o registro das vítimas que morreram em outros estados exclusive São Paulo. No Caso dos Boletins de Ocorrência, por não constarem as vítimas que residiam fora do Município e porque haviam registros que não constavam nenhuma das variáveis de vinculação tais como “nome da vítima”, “data de nascimento”, “nome da mãe”e “nome do pai”.

Contudo, nem todos os registros vinculados referem-se às vitimas que morreram de acidentes de transporte. Foram encontrados casos referentes a pessoas que fizeram um Boletim de Ocorrência de acidente de trânsito, porém vieram a falecer de outra causa de morte. A Tabela 2 mostra o número de registros vinculados segundo as causas de morte classificas na CID-10. Dos 3.810 casos registrados, a grande maioria está concentrada no Capítulo XX da CID (3.239), composto pelas causa externas de mortalidade, cerca de 85%. As demais causas de morte representam 15% dos casos, sendo as causas de morte mal definidas responsáveis por menos de 1% dos casos.

Tabela 1

Registros do Boletim de Ocorrência (BO) e da Declaração de Óbito (DO), por Acidentes de Transportes (AT).

Estado e Município de São Paulo, 2003-2005

Fonte: Fundação SEADE/SSP-SP. Tabulações próprias.

(1) Inclui DO’s por outras causas de morte. A informação sobre município e local de ocorrência do acidente é proveniente da BO, apenas.

Dentre os óbitos devido às causas externas, vinculados ao banco de dados dos BO’s referentes a acidente de trânsito, 73% são vítimas de Acidentes de Veículo a Motor, 6,6% são vítimas de Agressões e 3,1% vítimas de outros tipos de acidente, basicamente constituídos de quedas, queimaduras, afogamento, entre outros, e 2,3% composto de vítimas de Causas Externas Mal Definidas, ou seja, vítimas de uma causa externa para a qual o legista responsável pelo preenchimento da declaração de óbito não soube identificar a natureza, se agressão, acidente de trânsito, suicídio ou qualquer outro tipo de acidente (Tabela 3).

Dentre os óbitos devido às causas externas vinculados ao banco de dados dos BO’s referentes a acidente de trânsito, 73% são vítimas de Acidentes de Veículo a Motor, 6,6% são vítimas de Agressões e 3,1% vítimas de outros tipos de acidente, basicamente constituídos de quedas, queimaduras, afogamento, entre outros e 2,3% composto de vítimas de Causas

Total Fatais Total

Por AT Residentes no Município Ocorrência e Residência no Município (1) 2003 29.803 1.187 239.321 1.376 1.198 2004 32.782 1.133 242.981 1.329 1.315 2005 33.366 772 237.861 1.436 1.297 Total 95.951 3.092 720.163 4.141 3.810 Ano BO Acidentes no Município DO

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Externas Mal Definidas, ou seja, são vítimas de uma causa para a qual o legista responsável pelo preenchimento da DO não soube identificar a natureza, se foi agressão, acidente de trânsito, suicídio ou qualquer outro tipo de acidente (Tabela 3).

Como foi mencionado no início desta seção, o objetivo de se fazer o vínculo com o banco contendo todas as causas de morte foi de tentar corrigir casos de classificação mal definida. Assim, os 32 casos encontrados no Capítulo XIX da CID e os 89 casos referentes às causas externas mal definidas, foram isolados e estão sendo investigados para saber se eles foram, de fato, vítimas de acidentes de trânsito.

Um aspecto importante que deve ficar claro na vinculação dos bancos é que os boletins de ocorrências fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública referem-se somente aos acidentes registrados no Município de São Paulo. Portanto, as informações vinculadas não cobrem os óbitos devido acidentes ocorridos fora da cidade, mesmo aqueles com vítimas com residência no município de São Paulo.

Tabela 2

Número de registros vinculados entre as DO’s e BO’s, segundo causas de morte Município de São Paulo

2003-2005

Causas de morte Eventos

Vinculados % Capítulo I Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 46 1,2

Capítulo II Neoplasias [tumores] (C00-D48) 89 2,3

Capítulo III Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários (D50-D89) 1 0,0 Capítulo IV Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 20 0,5 Capítulo V Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) 11 0,3

Capítulo VI Doenças do sistema nervoso (G00-G99) 13 0,3

Capítulo VII Doenças do olho e anexos (H00-H59) 0 0,0

Capítulo VIII Doenças do ouvido e da apófise mastóide (H60-H95) 1 0,0 Capítulo IX Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 209 5,5 Capítulo X Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 91 2,4 Capítulo XI Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 42 1,1 Capítulo XII Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 0 0,0 Capítulo XIII Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99) 2 0,1 Capítulo XIV Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 13 0,3

Capítulo XV Gravidez, parto e puerpério (O00-O99) 0 0,0

Capítulo XVI Algumas afecções originadas no período perinatal (P00-P96) 1 0,0 Capítulo XVII Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas (Q00-Q99) 0 0,0

Capítulo XVIII Mal definidas (R00-R99) 32 0,8

Capítulo XIX Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas (S00-T98) 0 0,0 Capítulo XX Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98) 3239 85,0

Total de Registros Vinculados 3810 100,0

Fonte: Fundação SEADE/SSP-SP.

Ou seja, nos anos de 2003 a 2005, foram registradas nas bases de dados das Declarações de Óbitos 4.141 mortes por acidentes de transporte entre os residentes do município de São Paulo e 2.781 eventos foram vinculados com os BO’s, cerca de 67,2%. É provável que grande parte das declarações de óbitos que não foram vinculadas refere-se às vítimas de acidentes de transporte que ocorreram em outras cidades do estado e país, principalmente nos municípios próximos a Capital. A tabela 4 mostra os registros que foram vinculados segundo a área de residência das informações que foram vinculadas. Através dela pode-se ter uma idéia deste fluxo.

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Dos 2.781 eventos que foram vinculados, 83% são vítimas residentes no próprio município de São Paulo, 13% de vítimas residentes em outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo, sendo que os municípios desta região com maior ocorrência de acidentes foram Guarulhos, Osasco, Diadema, Taboão da Serra, Embu e São Bernardo do Campo com pouco mais de 8% das mortes. Os eventos de residentes em outros estados representam menos de 0,5%.

Tabela 3

Número de registros vinculados entre as DO’s e BO’s, segundo tipos de Causas Externas Município de São Paulo, 2003-2005

Tipos de Acidentes Eventos

Vinculados %

Acidentes de veículo a motor 2781 73,0

Outros Acidentes (quedas, afogamentos, queimaduras, etc) 118 3,1

Agressões 251 6,6

Causas Externas Mal Definidas 89 2,3

Total de Registros Vinculados 3810 100,00

Fonte: Fundação SEADE/SSP-SP.

Embora estas informações não esclareçam a questão dos óbitos que ocorreram em áreas fora da capital, ela pode nos dar uma idéia do que ocorre, ou seja, a grande maiorias das mortes dos residentes da Capital, ocorrem em municípios próximos à cidade, em áreas conurbadas ou em municípios com maior integração e fluxo populacional com a cidade de São Paulo. Com a base de dados da fundação SEADE, é possível ter uma idéia da evasão destes óbitos, uma vez que consta o município de residência da vítima e de ocorrência do óbito, que não necessariamente é o mesmo do acidente. Cerca de 16% das vítimas de acidentes de trânsito de residentes no municio de São Paulo, morreram em outros municípios do Estado. Ou seja, se fosse possível ter os Boletins de Ocorrências destes municípios e fazer a vinculação deles com a Declaração de Óbito, a proporção de eventos vinculados poderia atingir cifras próximas a 85%, quantidade considerável. Dentre os óbitos que ocorreram fora do município de São Paulo, metade foi em municípios da Região Metropolitana de São Paulo.

Tabela 4

Número de registros vinculados entre as DO’s e BO’s, segundo município de Residência da DO

Município de São Paulo, 2003-2005

Área Eventos

Vinculados % Região Metropolitana de São Paulo exclusive Capital 376 13,5

Município de São Paulo 2.309 83,0

Outros Municípios do Estado de São Paulo 59 2,1

Outros municípios do Estados 9 0,3

Estado sem especificação 28 1,0

Total de Registros Vinculados 2.781 100,0

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A seguir, é apresentada uma série de informações que permite avaliar a cobertura de eventos vinculados, no intuito de saber se há um padrão diferenciado, segundo atributos demográficos tais como sexo e idade, tipos de causas de morte, além de outras informações existentes em ambas as fontes, referentes às características da vítima.

O Gráfico 1 mostra a distribuição percentual segundo sexo e idade dos óbitos, das Dos, dos residentes no município de São Paulo e os eventos vinculados para os anos 2003 a 2005. Observa-se que a distribuição das DOs e dos eventos que foram vinculados tem um padrão bastante parecido, o que mostra não ter havido um viés, segundo sexo e idade, na vinculação entre as duas fontes de informação. Fica claro também, a supremacia do número de mortes dos homens com relação às mulheres e principalmente dos homens jovens. Com relação ao número de eventos vinculados, constatou-se que não houve grandes diferenças nas proporções segundo o sexo, cerca de 67,3% e 67,7% para homens e mulheres, respectivamente. Quanto à idade, verifica-se que as proporções oscilaram ente 60% e 80% na maioria dos grupos, com exceção das mulheres entre 30 a 34, 40 a 44 e 60 a 64 anos cujas vinculações apresentam menor índice de vinculação, a baixo de 60% e das meninas de 0 a 4 anos que teve 93,3%.

Gráfico 1

Distribuição dos óbitos das DO’s de residentes no município e eventos vinculados aos BO’s, segundo sexo e idade

Município de São Paulo, 2003-2005

Homens 0 5 10 15 20 00 a 04 05 a 09 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 a 84 80 e + % Mulheres 0 5 10 15 20 %

Óbitos Eventos Vinculados

Fonte: Fundação SEADE/SSP-SP.

Na Tabela 5, são apresentados os óbitos das DO’s vinculados, segundo o tipo de acidente de veículo a motor. Nela pode-se observar que há uma grande variação segundo o tipo de causa. Isto pode ser reflexo do pouco controle, pelas instituições municipais, dos registros dos eventos ocorridos em outra cidade. Alguns tipos de acidentes, tais como pedestres e ocupantes de ônibus e caminhonete, tiveram uma proporção de vinculação superior aos demais, superando 76%. Trata-se de acidentes que podem ocorrer com maior

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freqüência dentro do perímetro urbano, da cidade de residência destas vítimas, cuja mobilidade seja menor. Embora o número de eventos destas duas causas de morte seja pequeno e sujeito a maiores variações aleatórias, análise mais detalhada dos casos mostra que o padrão tem certa regularidade para os três anos observados.

O mesmo fenômeno ocorreu para as outras causas de morte que apresentaram proporções menores de casos vinculados e que, provavelmente, é conseqüência de fluxos de maior percurso, tal como os acidentes entre os ocupantes de veículo de transporte pesado. De qualquer forma, é necessário ter claro que, para estas causas de morte com volume de eventos muito pequeno, as interpretações sobre as tendências e padrões devam ser bastante cuidadosas.

O segundo tipo de acidente mais freqüente é “Outros Acidentes de Transporte Terrestres”, códigos V80 a V89, com concentração na causa básica V89 - “Acidentes de um veículo a motor ou não-motorizado, tipo(s) de veículo(s) não especificado(s)”. Ou seja, trata-se de mortes de ocupantes de veículos com característica indeterminada. Neste grupo foi registrado vinculação de 63% dos casos, próximo à média de todos os acidentes.

Tabela 5

Número de óbitos das DO’s de residentes no município e eventos vinculados aos BO’s, segundo tipos de acidentes de transporte

Município de São Paulo, 2003-2005

Tipo de Acidente Códigos Óbitos Eventos

Vinculados % Pedestre traumatizado em um acidente de transporte V01 – V09 1696 1282 75,6 Ciclista traumatizado em um acidente de transporte V10 – V19 70 30 42,9 Motociclista traumatizado em um acidente de transporte V20 – V29 363 250 68,9 Ocupante de triciclo traumatizado em um acidente de transporte V30 – V39 0 0 0,0 Ocupante de um automóvel traumatizado em um acidente de

transporte V40 – V49 287 134 46,7

Ocupante de uma caminhonete traumatizado em um acidente de

transporte V50 – V59 11 10 90,9

Ocupante de um veículo de transporte pesado traumatizado em

um acidente de transporte V60 – V69 14 6 42,9

Ocupante de um ônibus traumatizado em um acidente de

transporte V70 – V79 10 8 80,0

Outros acidentes de transporte terrestres V80 – V89 1679 1061 63,2

Acidente de transporte por água V90 – V94 1 0 0,0

Acidentes de transporte aéreo e espacial V95 – V97 10 0 0,0

Outros acidentes de transporte e os não especificados V98 – V99 0 0 0,0

Total V01 – V99 4141 2781 67,2

Fonte: Fundação SEADE/SSP-SP.

No Gráfico 3, os óbitos por acidentes do período 2003 a 2005 são distribuídos segundo os dias da semana. Tanto os óbitos de residentes como os eventos vinculados apresentam padrão bastante similar, com uma maior ocorrência dos acidentes nos domingos e sábados. Nos demais dias, há uma diminuição do número de mortes. Quanto à proporção de eventos vinculados, verifica-se aqui que há uma distribuição também bastante homogênea com cerca de 60% a 70% de vinculação.

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Gráfico 2

Número médios de óbitos das DO’s de residentes no município e proporção de casos vinculados aos BO’s, segundo meses do ano

Município de São Paulo, 2003-2005

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 Jane iro Feve reiro Mar ço Abr il Mai o Junh o Julh o Ago sto Set embr o Out ubro Nov embr o Dez embr o 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Óbitos de Residentes Eventos Vinculados Proporção de eventos vinculados

(Média Diária) (%)

Fonte: Fundação SEADE/SSP-SP.

Gráfico 3

Número de óbitos das DO´s de residentes no município, e proporção de eventos vinculados aos BO’s segundo dias da semana

Município de São Paulo, 2003-2005

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

domingo segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira sábado 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Eventos Vinculados Óbitos de Residentes Proporção de eventos vinculados

(N) (%)

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3.2. Distribuição espacial dos óbitos: comparação entre ocorrência e residência dos acidentes ocorridos em 2003 e 2004

Nesta sessão explora-se a distribuição espacial dos óbitos segundo o local de ocorrência do acidente e de residência da vítima no município de São Paulo, para os anos de 2003 a 200411, procurando estabelecer possíveis relações entre elas. Serão apresentados mapas com taxas de mortalidade por distritos segundo o local de residência das vítimas, mapas de pontos do local de ocorrência dos acidentes, bem como a técnica de Kernel que permite uma melhor identificação e comparação ente a ocorrência e residência das vítimas dos acidentes de transportes ocorridos no município.

Antes de seguir a análise, vale destacar que a totalidade dos acidentes incorporados se referem a acidentes ocorridos na malha viária do município, envolvendo veículos a motor ou pedestres, estes serão tratados de forma mais específica como acidentes de trânsito.

Assim, os acidentes foram agrupados em três grupos, segundo a vítima e veículo envolvido, quais sejam: os atropelamentos, os condutores de motocicletas e os demais acidentes de transportes. Estes últimos não foram desagregados devido à alta proporção de acidentes no grupo não especificado (código V89 da CID 10), que representam cerca de 40% do total de acidentes de transportes (Maia, 2007). Embora esta proporção seja alta, procurar-se-á também analisar os acidentes de motocicletas que vem registrando um aumento de 67 vezes entre 1999 e 2005 (Maia, 2007).

No Mapa 1, existem três representações de mapas combinados: as taxas de moralidade por atropelamento, representadas pelo mapa de polígonos dos distritos do município de São Paulo; as ocorrências policiais fatais de atropelamento, representado pelos pontos e; as vias da cidade de São Paulo que apresentam as maiores concentrações de acidentes de trânsito, representado pelas linhas azuis12. Verifica-se que os distritos que tem as maiores taxas de mortalidade segundo o local de residências são, em grande medida, aqueles que apresentam uma elevada concentração de óbitos por ocorrência nas principais vias destes distritos. Na Zona leste da cidade a Avenida São Miguel é a que apresenta a maior concentração de pontos nesta região, já na zona Oeste a concentração se dá nas Avenidas Rebouças e Prof. Francisco Morato, e na Zona Sul na Avenida Jabaquara. O centro da cidade de São Paulo além de ser a região que apresenta os maiores índices de mortalidade por atropelamento, segundo local de residência, também apresenta uma grande concentração de ocorrência desse tipo de acidente.

Os Mapas 2 e 3, de densidade de Kernel, ilustram melhor as áreas em que há uma alta concentração de vítimas de atropelamento, segundo sua residência (Mapa 3), e ocorrência dos eventos (Mapa 2). As áreas em vermelho são aquelas que convergem os maiores valores de densidade de mortes por atropelamento, as áreas em amarelo apresentam uma densidade intermediária, as áreas verdes são aquelas que apresentam baixa densidade de morte e as áreas azuis são aquelas onde praticamente não se registraram mortes, ou acidentes, por atropelamento.

11 A análise deste item se restringirá aos anos de 2003 e 2004 devido ao fato de ainda não estarem disponíveis as

informações georreferenciadas das declarações de óbitos da Fundação SSEADE.

12 As principais vias foram selecionadas de acordo com o relatório de acidentes de trânsitos fatais do Município

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Uma primeira observação a ser feita é que há diferenças importantes entre as concentrações de pontos nos dois mapas. Contudo, em algumas áreas e principalmente na região central do município de São Paulo, tal como nos distritos da Sé, República, Santa Cecília e Bom Retiro, apresenta-se uma elevada densidade de mortes tanto pelo local de ocorrência do acidente como pelo local de residência da vítima. Este padrão também pode ser observado em outras áreas tais como na zona leste, na divisa dos distritos de Itaim Paulista, Vila Corumim e Jardim Helena.

Com relação aos demais acidentes que envolvem veículos a motor, verifica-se que as áreas com maiores taxas de mortalidade por residência estão localizadas nos distritos da região Sul, na Zona Norte, e na região central da cidade. Neste caso, a concentração de óbitos segundo o local de ocorrência também é alta nas principais avenidas destas regiões (Mapa 4). O mapa de Kernel segundo o local de ocorrência do evento permite verificar que as densidades estão mais concentradas nas principais vias da cidade (Mapa 5). Vale ressaltar que a densidade de Kernel dos acidentes de veículo a motor é menor que a dos atropelamentos. Tal fato pode ser devido a uma evasão maior destes acidentes para outros municípios ou estados, o que ocorreria com menor freqüência com relação aos atropelamentos, como já citado no item anterior.

Quanto aos acidentes de motocicleta, o Mapa 7 mostra que as maiores taxas de mortalidade segundo o local de residência encontram-se também nas áreas periféricas do Município de São Paulo e na área central. Já não se identifica padrão espacial evidente quanto à ocorrência, também por conta do número reduzido destes eventos. Os mapas de densidade de Kernel mostram manchas mais dispersas, mas também com concentração de residência das vítimas nas áreas periféricas da cidade e no centro, enquanto que para ocorrência dos eventos, as densidades são maiores nas regiões em que estão localizadas as grandes avenidas, principalmente na região próxima a saída das rodovias Anhanguera e Bandeirantes.

4. Considerações Finais

Os resultados obtidos revelam a enorme potencialidade da vinculação e georeferenciamento dos dois bancos de dados referentes aos acidentes de trânsito. A localização pontual dos eventos é fundamental para possibilitar a avaliação de seu padrão espacial sem a necessidade de unidade de agregação pré-determinada. A análise espacial é fundamental para a identificação de áreas que oferecem maior risco, ou onde residem grupos populacionais mais expostos a tais riscos, necessitando de atenção diferenciada. Assim, desenvolver análises baseadas na distribuição espacial dos eventos pode trazer contribuição importante à gestão do Sistema de Saúde e Segurança (Santos et al., 2001).

A disponibilização de bancos de dados com a informação do endereço e a estruturação de Sistemas de Informações Georreferenciadas (SIG) em diversos municípios brasileiros tem possibilitado o uso crescente da análise de padrões espaciais de morbi-mortalidade para diferenciar áreas dentro dos municípios (Santos et al., 2001). Sendo assim, ações no sentido de ampliar a disponibilização e qualidade de diversos bancos de informação é fundamental. Nesse sentido, Lima (2005) destaca iniciativa importante adotada pela Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública, como a criação do Centro de Controle de Qualidade de Boletim de Ocorrência, em agosto de 2000. A criação do Centro teve como objetivo incentivar a melhora na qualidade das informações geradas pelo Sistema, realizando-se um programa de treinamento para os usuários do Sistema em toda a Capital. O

(17)

Centro também procedia diariamente, de forma automática, 10% das ocorrências através do INFOCRIM, boletins de avaliação que indicam o percentual de preenchimentos incorretos encontrados em cada unidade policial e para cada policial responsável pela elaboração do Boletim de Ocorrência.

A vinculação das duas fontes, além de instrumento importante nos estudos de mortalidade, possibilita também a melhoria e complementação das duas fontes de informação. No caso das Declarações de Óbitos ela pode diminuir a proporção de eventos classificados como “causas externas de natureza não especificada”, ou seja, aqueles eventos em que não se sabe se foram acidentes, agressões e suicídios e, embora o Município de São Paulo não apresente uma proporção muito elevada para estes casos. A ampliação do INFOCRIM para outros municípios do Estado de São Paulo, pode melhorar sobremaneira estes registros, já que é no interior do Estado que eles são mais problemáticos. No caso dos Boletins de Ocorrências, com o processo de vinculação é possível identificar o tipo de acidente (de motocicleta, atropelamento ou outro veículo), além de eliminar os casos de registros duplicados e agregar os casos fatais que não haviam sido computados. Finalmente, adquire-se um banco mais completo com informações que se complementam.

Quanto às análises preliminares, verificaram-se diferenças importantes com relação à ocorrência do evento e a residência das vítimas, dos três grupos de acidentes considerados eventos. Constatou-se também que o padrão espacial de mortalidade segundo ocorrência e residência são distintos, a depender do tipo de acidente, sendo a técnica de Kernel um instrumento importante para essa avaliação. Uma vantagem do mapa de densidade de Kernel, em relação ao mapa de pontos, é que ele permite identificar áreas específicas onde estão concentrados os acidentes por ocorrência. Muitas vezes, utilizando um mapa de pontos ou apenas catalogando as vias em que há maior concentração de acidentes, somos levados a pensar que estas vias são mais perigosas em toda sua extensão, contudo fica evidente que elas têm pontos específicos de maior concentração ou densidade de acidentes. O detalhe ampliado do mapa 2 pode se ter uma visualização desse fenômeno.

Finalmente, vale salientar que o aprofundamento das análises, além da identificação de locais que oferecem maior risco e de grupos socioespaciais com maior vulnerabilidade frente aos riscos do trânsito urbano, poderá servir de importante instrumento empírico para se verificar hipóteses existentes na bibliografia, como, por exemplo, a maior vulnerabilidade dos idosos e crianças frente aos atropelamentos, sendo que estes ocorrem próximos do local de residência.

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                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             0 6 12 18 Quilômetros Atropelamentos Distritos Principais Vias  Ocorrência

Taxa por Residência

Até 20 de 20 a 24 24 e mais Nenhum evento

!

Média do Município - 21,6                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              0 6 12 18 Quilômetros Atropelamentos Distritos Principais Vias  Ocorrência

Taxa por Residência

Até 20 de 20 a 24 24 e mais Nenhum evento

!

Média do Município - 21,6 Mapa 1

Taxa de mortalidade (*) por atropelamentos segundo residência, ocorrência fatais e principais vias.

Município de São Paulo – 2003/2004

Mapa 2

Densidade de Kernel do atropelamentos segundo local de ocorrência Município de São Paulo – 2003/2004

Mapa 3

Densidade de Kernel do atropelamentos segundo local de residência Município de São Paulo – 2003/2004

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Mapa 2 (Detalhe)

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                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              0 6 12 18 Quilômetros

Outros Acidentes Transportes

Distritos Principais Vias  Ocorrência:4

Taxa por Residência

Até 20 de 20 a 23 23 e mais Nenhum evento

!

Taxa do Município - 22,1                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               0 6 12 18 Quilômetros

Outros Acidentes Transportes

Distritos Principais Vias  Ocorrência:4

Taxa por Residência

Até 20 de 20 a 23 23 e mais Nenhum evento

!

Taxa do Município - 22,1 Mapa 4

Taxa de mortalidade (*) dos demais acidentes segundo residência, ocorrência fatais e principais vias.

Município de São Paulo – 2003/2004

Mapa 5

Densidade de Kernel dos demais acidentes segundo local de ocorrência

Município de São Paulo – 2003/2004

Mapa 6

Densidade de Kernel dos demais acidentes segundo local de residência

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                                                                                                                                                                                                  0 6 12 18 Quilômetros Motociclistas Distritos Principais Vias  Ocorrência:2

Taxa por Residência

Até 2,5 de 2,5 a 4,5 4,5 e mais Nenhum evento

!

Taxa do Município - 4,1                                                                                                                                                                                                   0 6 12 18 Quilômetros Motociclistas Distritos Principais Vias  Ocorrência:2

Taxa por Residência

Até 2,5 de 2,5 a 4,5 4,5 e mais Nenhum evento

!

Taxa do Município - 4,1 Mapa 7

Taxa de mortalidade (*) de motociclistas segundo residência, ocorrência fatais e principais vias.

Município de São Paulo – 2003/2004

Mapa 8

Densidade de Kernel dos acidentes de moto segundo local de ocorrência

Município de São Paulo – 2003/2004

Mapa 9

Densidade de Kernel dos acidentes de moto segundo local de residência

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Bibliografia

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