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Congresso Nacional ATA DA 9ª REUNIÃO

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Academic year: 2021

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1 ATA DA 9ª REUNIÃO

Ata Circunstanciada da 9ª Reunião, da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada pelo Requerimento nº 2, de 2014 – CN, realizada em 6 de agosto de 2014, às 14 horas e 51 minuto, no Plenário 2 – Ala Senador Nilo Coelho do Senado Federal, sob a presidência do Senador Vital do Rêgo, com a presença dos Senadores Ciro Nogueira, Vanessa Grazziotin, Humberto Costa, Jayme Campos, Antonio Carlos Rodrigues e Flexa Ribeiro, e dos Deputados Marco Maia, Sibá Machado, Sandro Mabel, Hugo Napoleão, José Carlos Araújo, Carlos Sampaio, Rodrigo Maia, Bernardo Santana de Vasconcellos, Júlio Delgado, Fernando Francischini, Rubens Bueno, Arnaldo Feria de Sá, Iriny Lopes, João Magalhães, Eduardo Cunha, Izalci, Onyx Lorenzoni, João Carlos Bacelar e Marcos Rogério. Ausentes os Senadores João Alberto Souza, Valdir Raupp, Sérgio Petecão, José Pimentel, Acir Gurgaz, Aníbal Diniz, Álvaro Dias, Mário Couto, Gim e Ataídes Oliveira e os Deputados Lúcio Vieira Lima, Aguinaldo Ribeiro, Marcio Junqueira e Enio Bacci. Presentes os parlamentares não-membros Antônio Imbassahy e Júlio César. Na ocasião, foi ouvido o senhor Jorge Luiz Zelada, ex-Diretor da Petrobras. Após aprovação, a presente ata será publicada juntamente com a íntegra de seu apanhamento taquigráfico.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Muito boa tarde a todos!

Convido os Srs. Parlamentares, membros desta Comissão, a tomarem os seus respectivos assentos.

Havendo número regimental, declaro aberta a 9ª Reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada pelo Requerimento nº 2, de 2014.

Conforme convocação, a presente reunião se destina à oitiva do Sr. Jorge Luiz Zelada, ex-Diretor da Petrobras, que prestará o seu depoimento na condição de testemunha e estará compromissado na forma da lei.

O depoente fará a sua exposição e, em seguida, será interpelado pelos Srs. Parlamentares, dentro do assunto tratado, dispondo cada um de cinco minutos, assegurado igual prazo para a resposta do depoente, ou de 10 minutos, intercalando-se perguntas e respostas.

A palavra aos Srs. Parlamentares será concedida na ordem de inscrição, com preferência para o Relator, o Presidente e os autores dos requerimentos, a saber: S. Exª o Deputado Líder do PPS, Rubens Bueno, primeiro interpelante; S. Exª o Deputado Carlos Sampaio; S. Exª o Deputado Sibá Machado e S. Exª o Deputado Sandro Mabel.

Peço à Secretaria que providencie a vinda a este recinto do Sr. Jorge Luiz Zelada, com a presença de S. Exª o Deputado Marco Maia, Relator desta Comissão. (Pausa.)

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2 Com a palavra, pela ordem, V. Exª Deputado Rubens Bueno, antes de chegar o depoente.

O SR. RUBENS BUENO (PPS - PR) – Sr. Presidente, apenas para pedir a V. Exª, como Presidente desta CPMI e pelo respeito que os membros têm por V. Exª, as providências que foram tomadas diante das denúncias publicadas a respeito dessa fraude montada, com gabaritos expostos pelo Palácio do Planalto e pela Petrobras, em conluio com várias pessoas.

Eu, pessoalmente, fiz um documento a V. Exª pedindo que a Presidência desta Comissão procurasse tomar as medidas necessárias. Assim, seria bom que V. Exª desse alguma informação aos membros da Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Apenas o que já é de público.

Tenho o maior prazer – e com respeito a V. Exª – em noticiar que esta Presidência, no uso das suas atribuições e com o dever e a responsabilidade que tem, solicitou ao Presidente do Congresso Nacional e Presidente do Senado Federal a abertura de uma sindicância, o que já foi feito, ao tempo em que oficiou ao Departamento de Polícia Federal, ao Dr. Leandro, as providências necessárias tomadas pela Polícia Federal com relação aos fatos e à denúncia apontada na imprensa nacional.

O SR. EDUARDO CUNHA (PMDB - RJ) – Sr. Presidente, quero fazer uma rápida comunicação.

O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) – Sr. Presidente...

O SR. FERNANDO FRANCISCHINI (SD - PR) – Sr. Presidente, também coloquei para V. Exª dois requerimentos que apresentei agora, um convocando o Senador Delcídio do Amaral para vir depor na CPMI sobre o seu envolvimento nesse caso, que é muito grave, que envolve dinheiro público.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – O.k.! O SR. FERNANDO FRANCISCHINI (SD - PR) – E também peço que se convoquem todos os outros envolvidos, como Graça Foster e Nestor Cerveró, para serem ouvidos novamente, porque acho que esses depoimentos estão viciados e nulos, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – O.k.! Vamos à...

O SR. EDUARDO CUNHA (PMDB - RJ) – Sr. Presidente, quero fazer uma rápida comunicação de Liderança.

O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) – Sr. Presidente...

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Com a palavra o Senador Humberto Costa.

O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) – Antes de falar do requerimento que estou apresentando, quero dizer que nós estamos tratando de duas CPIs diferentes. Sou membro de ambas e posso dizer aqui, como já disse no plenário e digo

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3 o tempo inteiro, que nenhuma irregularidade houve naquela CPI. O que lá aconteceu é o que acontece em qualquer uma das CPIs: o Governo apresenta seus pontos de vista em relação a temas que são tratados na CPI; as assessorias, naturalmente, inter-relacionam-se para a troca de informações e de subsídios aos Parlamentares. Não houve vazamento de qualquer documento sigiloso que pudesse facilitar a vida de qualquer um dos investigados. Não houve o que estão dizendo, pergunta e resposta, como se fosse um gabarito. Essa é uma grande bobagem, que estão tentando transformar num escândalo político para atingir o Governo e a Presidenta Dilma.

E há ainda esta bobagem de hoje: o integrante da Secretaria de Relações Institucionais não pode mais se relacionar com o Congresso Nacional.

Eu até tive o cuidado de pegar algumas matérias antigas, da época do Governo Fernando Henrique Cardoso, só para que se tenha uma ideia: "FHC age pessoalmente para barrar CPI que Jader assinou" – esse foi um jantar no Palácio da Alvorada –; "Stephanes negocia acordo com o Relator"; "FHC manda liberar emendas para barrar CPI"; "Planalto se opõe à abertura de investigações"; "Governo de São Paulo manda Secretários para treinar Parlamentares para a CPI do metrô".

Isso é a coisa mais natural! Vamos parar de bobagem! Vamos investigar com seriedade, sem tentar transformar cortina de fumaça...

O SR. FERNANDO FRANCISCHINI (SD - PR) – Sr. Presidente...

O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) – ... – eu estou com a palavra – de fumaça em escândalo, em escândalo!

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – O.k.! O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) – E, por último, estou apresentando um requerimento a V. Exª, para que, de ofício, mande investigar o vazamento de informação sobre relatório do Tribunal de Contas da União que foi dado a público. Há fortes suspeitas de que isso tenha partido de alguém que teve acesso a essa documentação.

Agradeço a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – O.k.! O SR. FERNANDO FRANCISCHINI (SD - PR) – O que não dá é media

training da corrupção, treinamento para corrupto, agora.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Peço-lhe só um minuto.

O SR. EDUARDO CUNHA (PMDB - RJ) – Quero só fazer uma rápida comunicação.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Com a palavra, o Deputado Eduardo Cunha como Líder.

O SR. FERNANDO FRANCISCHINI (SD - PR) – Isso é o que não dá para fazer.

O SR. EDUARDO CUNHA (PMDB - RJ) – Nem quero usar todo o tempo de Líder. Depois, se eu precisar, eu uso. Farei uma rápida comunicação de liderança.

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4 Sr. Presidente, nesse fim de semana, na revista Veja, saíram duas notas na coluna Radar que merecem a nossa repulsa total e que falam de Petrobras e de uma suposta reunião com o Presidente Henrique Alves. Então, este Líder e toda a sua bancada presente nesta Comissão protocolamos requerimento para convocação do Presidente da Caixa Econômica Federal para vir a esta CPI, para explicar seus aportes bilionários à Petrobras. Nós queremos que esse requerimento seja apreciado, aprovado, para que se esclareça aqui, além disso, o teor da nota do fim de semana.

O PMDB não vai abrir mão da presença do Sr. Jorge Hereda, sentado como depoente aqui, para explicar isso.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – O.k.! Com a palavra, o Sr. Jorge Luiz Zelada, para fazer suas primeiras considerações.

O senhor terá 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos. O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Obrigado.

Sr. Presidente, Senador Vital do Rêgo; Sr. Relator, Deputado Marco Maia; Srs. Senadores e Deputados membros desta Comissão, eu gostaria de cumprimentá-los, ao tempo em que já me vou colocando à disposição para colaborar com os trabalhos desta Casa. Eu queria me apresentar. Eu sou concursado da Petrobras. Entrei na Petrobras em 1980, por concurso público. Fiquei na companhia por 32 anos, até me aposentar, em 2012. Sou engenheiro, entrei no cargo de Engenheiro de Equipamentos, na época, no órgão responsável pelos projetos das primeiras plataformas da Bacia de Campos. Era um grupo executivo de projetos, especial, formado para o desenvolvimento desses projetos. Era o momento, na época, de uma nova fase da produção no mar no Brasil. Novas tecnologias estavam chegando, sendo trazidas, com aplicações já, na época, no Mar do Norte. Trabalhei, em seguida, em operações de perfuração, também na Bacia de Campos, também numa fase pioneira, com novas tecnologias. Foi quando a Petrobras adquiriu e passou a operar as primeiras plataformas semisubmersíveis, que depois vieram a ser usadas também como plataformas de produção, e permitiam à Petrobras avançar em direção a alto-mar. Era uma nova fase da operação offshore. Nessa época, assumi diversos cargos gerenciais, até ter sido nomeado superintendente daquele órgão de perfurações marítimas.

Voltei, depois, à área de projetos, já no serviço de engenharia, em projetos, agora, de águas mais profundas, na exploração e produção na Bacia de Campos. Também assumi, no serviço de engenharia, diversas funções gerenciais em vários níveis, o que foi compondo a trajetória da minha carreira. E por cinco anos exerci a função de Gerente-Geral da Engenharia, na implantação de projetos de exploração, produção e transporte marítimo para diversos órgãos da Petrobras.

Trabalhei também na Petrobras Distribuidora. Tive uma experiência lá por dois anos, trabalhando em projetos de energia. Em março de 2008, eu fui nomeado pelo Conselho de Administração da Petrobras para ocupar a posição de Diretor.

Eu queria aqui destacar que foi com grande orgulho e satisfação que assumi esse posto, corroborando a evolução da minha carreira dentro da companhia. Tenho uma

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5 carreira na Petrobras, portanto, de 32 anos, com muita dedicação à companhia. Tive reconhecimento profissional e gerencial em todos os órgãos por que passei.

Sr. Presidente, já pontuando a cronologia da minha nomeação e participação nos eventos que motivaram a CPI, a minha participação na Diretoria Internacional, nos requerimentos de que tomei conhecimento, pela convocação, pela minha convocação para esta CPMI, eu vi, nos requerimentos, dois assuntos abordados. Um é Pasadena, por ter sido apontado como o responsável pelo resumo executivo para a compra da segunda parte, de 50% da refinaria, e o contrato de SMS que foi aplicado para os ativos nas empresas da área internacional.

Então, eu gostaria de fazer uma breve exposição inicial sobre esses dois temas.

Quanto a Pasadena, a compra da segunda parte foi submetida ao Conselho de Administração no dia 3 de março de 2008, previamente aprovado pela Diretoria Executiva para a submissão ao Conselho em fevereiro, na reunião de 21 de fevereiro. Eu não era diretor naquela ocasião. Por coincidência, essa reunião do dia 3 de março foi a mesma reunião que me nomeou Diretor Executivo da Petrobras. Então, esse resumo executivo já estava elaborado antes da minha entrada, em fevereiro. Como o Conselho de Administração não aprovou a pauta e postergou o assunto para deliberação na reunião de maio, aí, já, eu exercendo a função de diretor, o resumo executivo sofreu uma pequeníssima revisão para incluir duas informações que, pelo andar do tempo, eram importantes – ou deviam ser informadas. Uma, que o governo americano tinha aprovado a transação em março. Então, foi colocada essa informação no resumo. E a outra é que, a partir de 15 de março, estava previsto na negociação feita em 2007, incorrer em juros normais de 5% ao ano. Então, como havia expectativa de o assunto ser apreciado e talvez aprovado dia 3 de março, essa informação, em 3 de março, não era relevante. Então, houve a inclusão dessas duas informações.

No mais, pegar os dois resumos executivos – o feito em fevereiro e o feito em abril – para as duas reuniões, eles têm exatamente o mesmo teor, a mesma redação. É exatamente o mesmo documento.

Então, eu estou querendo pontuar – porque isso foi no momento da chegada, no momento dessa transição em que eu cheguei – que, na realidade, não houve nenhum ato de gestão, na minha parte, quando eu entrei, de uma reunião para outra.

Na reunião de maio, o Conselho de Administração novamente apreciou; ele não aprovou a compra da segunda parte, e o assunto, então, foi retirado de pauta e não mais foi colocado na pauta das reuniões do Conselho subsequentes.

A partir desse momento, o assunto foi enveredando e acabou entrando na esfera jurídica. A Astra, que é a nossa sócia, não ficou satisfeita com a decisão da Petrobras de não comprar e entendeu que as negociações que tinham sido feitas em 2007 eram um compromisso formal. Então, ela abandonou a gestão da refinaria; ela optou por sair da sociedade; unilateralmente, abandonou. A gestão da refinaria era feita pela Astra naquela ocasião. Então, isso foi muito preocupante, porque gerir uma instalação industrial de um complexo de uma refinaria é uma coisa muito séria. E a Astra optou por simplesmente

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6 abandonar. Foi aí que a Petrobras, então, tomou a decisão de entrar com a arbitragem. Quando se fala dessa parte jurídica, ela entrou com a arbitragem para a Astra retornar à sociedade, porque ela fazia parte. No entendimento da Petrobras, a Petrobras não aprovou a compra, e a Astra entendia que havia um compromisso. Por isso que a Petrobras entrou com a arbitragem.

Esse assunto, então, passou sob a coordenação do Departamento Jurídico da Petrobras e não mais... Quer dizer, na área internacional e na equipe que ficou na refinaria, ficou somente a gestão operacional da refinaria.

Nós da Diretoria – eu e os outros diretores – e, com menos periodicidade, o Conselho éramos informados periodicamente pelo serviço jurídico do andamento das ações, porque, com a entrada da arbitragem para a Astra voltar, a Astra entrou com uma ação judicial para fazer valer o seu entendimento de que aquela segunda parte – aquela compra, a segunda parte – era um compromisso.

Quando saiu o resultado da arbitragem... Tem sido noticiado que a Petrobras não aceitou e continuou a ação. Não é que... A Petrobras queria encerrar o assunto com a arbitragem; ela queria pagar o valor que a Comissão de Arbitragem tinha estabelecido. O que ocorreu é que a Petrobras disse: "Não, então aceitamos a decisão da arbitragem desde que a Astra, então, retire a ação judicial." E a Astra não concordou. Se ela não concordou e ia continuar com a ação judicial, então a Petrobras manteve o curso na esfera jurídica – de novo, sempre acompanhada pelo serviço jurídico da Petrobras.

Essa introdução eu gostaria de fazer, para fazer essa cronologia, viu, Senador?

Quanto ao contrato de SMS, que tem sido também alvo aí do noticiário, eu também queria fazer uma exposição preliminar.

Na nossa gestão, desde que entrei, nós instituímos uma reunião de análise crítica trimestral com todos os executivos de todas as áreas dos ativos no exterior, que são considerados os gerentes gerais e os presidentes das empresas no exterior. Então, nós tínhamos uma reunião trimestral de gestão, periódica, em que discutíamos os aspectos de desdobramento do planejamento estratégico, andamento dos indicadores de gestão, correções de rumo, previsibilidade da produção de petróleo e derivados, quer dizer, era uma gestão dos negócios.

Cada reunião dessas tinha um pano de fundo. Ela sempre tinha um tema para uma discussão mais aprofundada. No meio do ano de 2009, o tema era SMS. Nessas reuniões de acompanhamento e gestão foi que a gente conseguiu passar de um resultado operacional, na área internacional, de US$500 milhões negativos, em 2008, para ir aumentando, até chegar, em 2012, com resultados de US$2,2 bilhões positivos, graças a todo esse acompanhamento, esse esforço de toda a equipe.

No meio de 2009, em que o tema era SMS, estava sendo solicitado que as empresas do exterior apresentassem como estava a situação de SMS. Na hora de fazer esse somatório, isso causou uma preocupação bastante grande, porque nós identificamos que o passivo ambiental era elevado nas companhias do exterior. Então, foi decidido fazer um

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7 levantamento mais detalhado para que se pudesse planificar e ver a melhor maneira de dar tratamento a essa situação.

Esse foi um trabalho grande e levou mais ou menos um ano, até meados de 2010, quando foi sugerida e discutida a aplicação de um programa bastante semelhante, que eu vou tentar explicar agora, que é o Pegaso – Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional. Esse programa foi elaborado quando houve aquele acidente de vazamento, em 2000, na Baía de Guanabara. Foi implementado um plano para a Petrobras dar um avanço grande em questões de segurança, meio ambiente e saúde, que é o que chamamos de SMS.

No texto do programa, que a gente pode ver pela internet, faz-se referência a esse programa, o Pegaso, como o maior projeto em nível mundial já destinado a um programa ambiental no setor petróleo. E foi encaminhando para desenvolver novas tecnologias na área de segurança, meio ambiente e saúde. É por isso que a Petrobras, hoje, é reconhecida como referência nesse aspecto de segurança, meio ambiente e saúde, por conta daquele acidente que levou a Petrobras a desenvolver esse programa. Houve um outro acidente junto, naquela mesma época, na refinaria do Paraná. Então, a Petrobras desenvolveu muito essa questão. Só que esse programa não foi aplicado nos ativos da área internacional. Ele foi aplicado nos ativos do Brasil. Em 2000, os ativos da área internacional eram muito poucos. Nessa década de 2000, a Petrobras foi buscando se internacionalizar, fazendo aquisições e desenvolvendo novos projetos. Portanto, quando se viu o passivo que existia, buscou-se levar a excelência que a Petrobras tinha em SMS para suas instalações internacionais também.

Foi feito, então, um levantamento, foi proposta uma licitação de planilha de preço unitário semelhante à do Pegaso. Ou seja, cada serviço itemizado, planilhado e precificado. Então, qualquer serviço que fosse ser feito já estava precificado com um valor oriundo de uma licitação.

A estimativa do contrato tem um determinado valor, mas, desde o início, já se previa que só se pagaria aquilo que fosse executado, não se pagaria aquela estimativa do contrato. Por que isso? Porque já vinha se discutindo desinvestimento em alguns países, em algumas unidades, ou seja, serviços que foram levantados e não seriam feitos. Outros serviços poderiam entrar numa condição emergencial e assim ser tratados, então não haveria necessidade de fazer posteriormente.

Então, é por isso. Não é, como tem sido noticiado, um contrato de preço global. Ele tem uma estimativa, mas sempre foi, desde o início, definido que só seriam pagos os serviços executados.

O resultado desse processo licitatório, quando chegou a mim para ser encaminhado, ele estava completo, com todos os pareceres corporativos. E assim foi aprovado, com a contratação da Odebrecht, que apresentou o menor preço na licitação.

Eu quero deixar bem registrado que eu jamais interferi em licitações, seja esta ou outra da minha área, para beneficiar quem quer que seja, A, B ou C.

Com esses dois assuntos, que foram os assuntos que eu vi abordados nos requerimentos, Sr. Presidente, eu agradeço. Muito obrigado. Como sempre, como foi da vez

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8 anterior, na CPI do Senado, eu estou à disposição para contribuir com os trabalhos desta Casa.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Agradeço ao Sr. Jorge Luiz Zelada.

Passo a palavra, de imediato, ao Deputado Marco Maia, Relator. O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Muito obrigado, Presidente.

Uma boa tarde a todos os Srs. e Srªs Parlamentares. Uma boa tarde também ao Sr. Jorge Luiz Zelada, testemunha a ser ouvida nesta reunião da CPMI.

Eu queria, primeiro, antes de iniciar as perguntas, aproveitar aqui a oportunidade para fazer dois informes à CPI. Primeiro, eu vou fazer chegar às mãos de V. Exªs um pequeno balanço dos trabalhos realizados pela CPI até este momento.

No dia 6 de agosto de 2014, nós tivemos, ainda para informação, apreciados 320 requerimentos e não apreciados 318. E temos apresentados à CPMI 638 requerimentos. Neste pequeno relatório, V. Exªs poderão ver os tipos de requerimentos que já foram apreciados.

Nós já tivemos duas reuniões deliberativas, quatro reuniões de oitivas. Nas oitivas, nós ouvimos Maria das Graças Foster, José Sérgio Gabrielli, Osvaldo Vicente Cardoso e José Orlando Melo. E estamos ouvindo hoje o Sr. Jorge Luiz Zelada. E tivemos outras duas reuniões que foram de instalação, eleição e apresentação do plano de trabalho.

Mas a informação mais relevante, Sr. Presidente, é que já chegou a esta CPMI, até a presente data, um total de 25,4 GB de documentação. Esses documentos, mais uma vez, é sempre importante ressaltar, estão disponíveis para todos os membros deste colegiado investigativo. Dentre a documentação recebida, eu ressalto o recebimento de importantes dados vindos dos seguintes órgãos, entidades e autoridades: Petrobras, Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União, Ministério da Defesa, Justiça Federal em diferentes Estados; bancos que forneceram dados, obedecendo as quebras de sigilos bancários; documentos que vieram do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Coafi; corretoras de câmbio e valores mobiliários; Agência Nacional de Telecomunicações; empresas; entre outros.

Então, volto, aqui, a ressaltar, nós já temos, na CPI, 25,4 GB de documentação, que estão, aí, à disposição, em disponibilidade, para todos os senhores e senhoras, para análise, para, enfim, estudos acerca dos trabalhos da CPI. E nós já estamos com uma equipe ainda em formação com técnicos especialistas oriundos destes órgãos, da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União, da AGU, também da Consultoria da Câmara dos Deputados, que estão auxiliando os trabalhos realizados por este Relator.

E, ainda, como informação a V. Exªs, nós montamos um pequeno escritório de trabalho, um pequeno gabinete de trabalho da relatoria, onde vão ficar, Presidente, sediados todos os Assessores responsáveis pela Assessoria e pelo acompanhamento do Relator, que vai ficar no segundo subsolo do Centro de Documentação da Câmara dos Deputados, do Cedi.

Então, também, queria, aqui, já, aproveitar a oportunidade para convidá-los, a todos os Srs. Parlamentares. É um espaço que vai contar, que já conta com segurança, com

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9 todos os cuidados necessários para que as informações possam, todas as informações que forem trabalhadas, manuseadas pelos nossos técnicos possam estar resguardadas pelo sigilo necessário. Este espaço já foi, enfim, montado, já, há duas ou três semanas. Portanto, já estava em funcionamento, já está em funcionamento, e está, lá, pronto para receber todos vocês, V. Exªs, caso queiram conhecer o espaço e, ao mesmo tempo, tomar conhecimento dos documentos que estão sendo manuseados pelos técnicos especialistas, que estão a serviço do Relator.

Além disso, nós temos a Secretaria da Comissão, que fica aqui no Senado Federal e que tem, também, à disposição, que tem lá, também, todos os documentos, todas as informações, toda a Assessoria Técnica, que está à disposição da CPMI, como um todo.

Informação, então, fica aqui o convite. Volto, aqui, a informar, a Relatoria da CPMI vai ficar no segundo subsolo do Centro de Documentação da Câmara dos Deputados, o Cedi, que fica no Anexo II, quem entra pela porta do Anexo II, sobe a escada em direção à Diretoria-Geral, à esquerda, sobe a rampa em direção à Diretoria-Geral, à esquerda.

Não é um local muito agradável, fica no segundo subsolo – se, no primeiro subsolo nós já não temos sol, imagine no segundo subsolo –, mas é um local ideal para que se possam realizar todos os trabalhos relativos aí, à CPMI, ao trabalho do Sr. Relator.

O SR. IZALCI (PSDB - DF) – Sr. Presidente, falando nessa questão administrativa, eu tenho uma questão pela ordem. É uma questão urgente, se pudesse fazer essa questão pela ordem, eu gostaria de fazer rapidamente.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – O Relator está com a palavra. Se S. Exª permitir...

O SR. IZALCI (PSDB - DF) – Sim. Pediria ao Relator... O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Pois não.

O SR. IZALCI (PSDB - DF) –

(Intervenção fora do microfone.)

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Aquilo é só um informe. Não estava nem tratando nada administrativo aqui.

O SR. IZALCI (PSDB - DF) – A revista Veja desta semana trouxe uma denúncia tão estarrecedora quanto humilhante para esta Casa, para o Congresso Nacional e para o País.

Foi flagrado, em vídeos, a realização de uma reunião na qual teriam sido discutidas perguntas e respostas que seriam realizadas pelos Senadores da CPI da Petrobras aos investigados por aquela Comissão.

Conforme a revista, a Presidente da Petrobras Graça Foster, o ex-Presidente Sérgio Gabrielli e o ex–Diretor da Área Internacional Nestor Cerveró tiveram acesso antecipado às perguntas que seriam feitas pelo Relator, Sr. José Pimentel, do PT do Ceará, e foram orientados por funcionários da estatal sobre a melhor maneira de respondê-las, uma clara combinação de depoimentos, um verdadeiro jogo de cena.

Essa denúncia de enorme gravidade envolve não somente Parlamentares da cúpula do Partido dos Trabalhadores dessa Casa, mas também Assessores dessa Casa,

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10 Marcos Rogério de Souza e Carlos Hetzel, respectivamente lotados no Bloco de apoio do Governo e na Liderança do PT.

Sr. Presidente, muito embora a reportagem se refira à CPI do Senado, é indiscutível que a prática espúria adotada naquela Comissão se repete no âmbito desta Comissão mista, até porque a relatoria das duas Comissões é capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores.

Portanto, a fim de garantir um mínimo de credibilidade aos trabalhos desta CPMI, entendo que pelo menos duas medidas devem ser imediatamente adotadas por V. Exª: 1) afastamento imediato dos Srs. Marcos Rogério de Souza e Carlos Hetzel dos trabalhos referentes a esta Comissão Mista, inclusive impedindo o acesso destes a todos os dados sigilosos que foram ou que venham a ser disponibilizados pela CPMI; 2) sejam anuladas as reuniões desta Comissão em que foram tomados os depoimentos da Srª Graça Foster e do Sr. José Sérgio Gabrielli, reconvocando-os para novamente prestar esclarecimentos, inclusive quanto aos fatos noticiados pela Veja.

Não obstante tais medidas que – repita-se – são essenciais para que os trabalhos realizados nesta CPMI tenham um mínimo de crédito, apresentamos requerimento de convocação para que sejam ouvidos todos os demais envolvidos e esperamos que a apreciação possa ser feita o mais rápido possível.

Essa era a questão pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Recebo de V. Exª as sugestões. Está Presidência já tomou as providências que achou necessárias.

Com a palavra o Sr. Relator.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Já tinha sido informado das medidas. O SR. SANDRO MABEL (PMDB - GO) – Sr. Relator.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Pois não.

O SR. SANDRO MABEL (PMDB - GO) – Sr. Relator, só para me informar. Os documentos que o senhor mencionou devem estar ficando prontos, mas não estão disponibilizados ainda. O que está disponibilizado foi uma primeira leva daqueles que vieram do fórum e tal, mas esses de informações que chegaram da Petrobras devem estar sendo disponibilizados. Acho que o arquivo ainda não está...

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – Vou solicitar da Secretaria informações para passar a V. Exª.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – A informação que temos é a de que estão todos eles disponibilizados.

Bom, as....

O SR. SANDRO MABEL (PMDB - GO) – Onde está um requerimento...Por exemplo, foi aprovado um requerimento. O andamento desse requerimento, se ele voltou, não voltou também é na Secretária?

O SR. PRESIDENTE (Vital do Rêgo. Bloco Maioria/PMDB - PB) – A Secretaria informará V. Exª.

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11 O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Sr. Jorge Luiz Zelada, vou formular as perguntas aqui em dois blocos.

Como V. Sª mesmo já disse, há um período... No período em que foi adquirido, feito o negócio de Pasadena, V. Sª ainda não era Diretor da Petrobras. Mas algumas perguntas precisam ser feitas para que nós possamos coletar aqui a sua opinião sobre essa compra, essa aquisição pela Petrobras. Até mesmo porque V. Sª disse aqui que tem 32 anos de casa, de serviços prestados à Petrobras e, portanto, sua contribuição pode e deve ser importante para que a gente possa, aqui nesta CPI, elucidar todas essas questões ou todas essas circunstâncias que envolveram a compra da refinaria de Pasadena.

Na sequência, há alguns questionamento acerca da sua passagem pela Diretoria Internacional da Petrobras.

Primeiro questionamento. Na época das negociações entre a Petrobras e a Astra, nos anos de 2005 e 2006, visando a compra do complexo de Pasadena, qual o cargo que V. Sª ocupava na Petrobras?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, prezado Relator, estou à disposição, obviamente para contribuir com qualquer questão que eu possa.

Em 2005 e 2006 eu ocupava o cargo de Gerente-Geral de Implementação de Empreendimentos para a Exploração, Produção e Transporte Marítimo do Serviço de Engenharia. Então era uma outra área para projetos do órgão AIP e para o órgão da Transpetro, projetos novos e que ficavam a cargo do Serviço de Engenharia. Eu era o Gerente-Geral dessa área.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Ligado à Diretoria Internacional? O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não. Ligado à Diretoria de Serviços. O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – À Diretoria de Serviços.

V. Sª participou ou tomou conhecimento dessas negociações de Pasadena, à época?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não. Não tomei conhecimento, não participei. Nós tínhamos notícias internas, conforme boletins de que a Petrobras vinha se internacionalizando e vinha discutindo, mas sem absolutamente nenhum detalhe.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – V. Sª sabe se houve a contratação de empresas de consultoria para dar apoio às decisões da Petrobras? V. Sª tem conhecimento, saberia dizer que consultorias foram contratadas?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não, senhor. Eu não sei quais consultorias. Agora, o que eu posso dizer é que é normal em negociações de diversos tipos haver consultorias renomadas para apoiar a decisão da diretoria da companhia. Mas não acompanhei esse assunto, não.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Pela sua experiência, a Refinaria de Pasadena era uma boa opção para a Petrobras, uma boa opção de compra? E o valor que foi colocado na compra dos primeiros 50% da refinaria era compatível com o mercado à época?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Quando eu entrei – vou falar agora, posteriormente – na Diretoria Internacional e fui tomando conhecimento dos diversos assuntos, o que me foi informado, e fazia sentido, é que o projeto Pasadena não previa

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12 apenas a compra de uma parte da refinaria; o projeto todo era comprar essa parte da refinaria e transformá-la, fazer uma conversão e algum investimento, para que ela pudesse processar o petróleo pesado, principalmente de Marlim, que estava excedente naquela época e vendido no mercado internacional com desconto. Então, a ideia era poder usar essa refinaria para processar esse petróleo pesado, agregar valor, gerando derivados, num mercado premium, como é o mercado americano. Então, esse era o projeto. Não era simplesmente comprar Pasadena. Isso é o que me foi relatado na época em que eu entrei. E nesse aspecto é um projeto que faz sentido.

Quanto ao valor, valores de processamento de refinaria, eles oscilam de acordo com o mercado mundial ao longo do tempo. Também está relatado que, naquela ocasião, o valor, vamos dizer assim, o custo unitário por processamento de barril de petróleo era compatível com o mercado da época.

Eu estou lhe informando, Deputado, o que me foi relatado e que fazia sentido para mim, por não ter participado de nenhum detalhe dessas negociações.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Desde quando a aquisição de refinarias no exterior passou a fazer parte do plano estratégico da Petrobras? V. Sª entende que, no caso da compra de Pasadena, teria sido necessário uma busca por outras opções? Enfim, a Petrobras avaliou a possibilidade de algum outro negócio à época? Existe algum documento que comprove essas outras alternativas que foram buscadas pela Petrobras, se é que existiram?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Olha, há notícias de que havia diversas negociações. A internacionalização da Petrobras foi um pouquinho antes, ali pelo ano 2000, um pouquinho antes, quando foi criada a Diretoria, numa reestruturação. Já faz... Não sei precisar exatamente o ano, mas foi no início dos anos 2000. Então, a Petrobras foi buscando novas atividades no exterior, inclusive ter capacidade de refino. Por quê? Porque, com a abertura do monopólio do petróleo, a Petrobras entendeu... Na época, eu era um funcionário, um gerente de nível mais baixo, mas a gente tinha informações através de boletins internos da companhia. Então, buscava-se aumentar a operacionalização, a internacionalização da companhia. Eu não vou saber declinar que outras opções, mas, normalmente, em assuntos desse tipo, são analisadas algumas opções, até que alguma faça mais sentido e haja mais interesse de ambas as partes em poder fazer alguma associação, como a que foi feita nesse caso.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Muito bem.

Em março de 2008, quando V. Sª foi nomeado Diretor Internacional da Petrobras, houve reunião do Conselho de Administração tendo como pauta a compra dos outros 50% da refinaria de Pasadena. Mas a decisão sobre isso teria sido adiada para maio do mesmo ano.

Houve reunião do Conselho de Administração, tendo como pauta a compra dos outros 50% da Refinaria de Pasadena. Mas a decisão sobre isso teria sido adiada para maio do mesmo ano.

V. Sª poderia explicar para esta CPMI como e quando se deu essa decisão e quais foram os resultados dela?

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13 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Sr. Relator, o senhor está falando de qual decisão? Do Conselho?

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Tendo como pauta a compra dos outros 50%.

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Dos outros 50%. Eu vou reafirmar, essa pauta foi submetida ao Conselho no dia 3 de março, que, coincidentemente, foi a mesma reunião que me nomeou Diretor Executivo da Petrobras. Eu assumi no dia seguinte. Comecei a me inteirar dos assuntos e ali eu tomei conhecimento de que havia tido uma discussão sobre esse assunto e ele ficou postergado para uma reunião subsequente, que aconteceu em maio.

Então, em maio, aí sim, o Conselho achou por bem não aprovar a compra; e isso acabou desdobrando em todas aquelas ações a que eu me referi, na minha exposição preliminar.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Pois bem. Ainda sobre esse resumo executivo, que foi assinado por V. Sª para essa reunião de maio, ele indicava para a compra dos outros 50% da refinaria? Ele fazia referência à cláusula de Put Option?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – São duas perguntas. Então, sim, indicava para a compra da segunda parte, porque havia sido uma deliberação da Diretoria Executiva submeter esse assunto ao Conselho, se não me engano, numa reunião da Diretoria, em fevereiro, dia 21, por aí. Então, sim, recomendava a compra.

O resumo, como eu disse, ele era exatamente o mesmo que havia sido elaborado em fevereiro, para a reunião do dia 3 de março, e não fazia referência a essas duas cláusulas.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Na sua avaliação, se o resumo executivo tivesse informado a cláusula Put Otion a decisão do Conselho de Administração poderia ter sido diferente?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Falar, caro Deputado, por hipótese é sempre difícil. Eu não saberia dizer se seria ou não seria. O que eu posso dizer é que quando eu tomei conhecimento, um pouco mais tarde, de que havia essas cláusulas, elas não me causaram surpresa, porque uma cláusula de saída é normal nesse tipo de negócio. E a cláusula Marlim só seria aplicada naquela situação da Petrobras colocar o seu petróleo pesado para a refinaria. Então, foi uma cláusula que acabou não acontecendo, porque não houve aquela reforma que estava prevista no conceito do projeto.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – De acordo com o relatório de fiscalização do TCU, a Astra havia adquirido 100% da Refinaria de Pasadena em janeiro de 2005, por US$42,5 milhões, da empresa Crown. De acordo com a Petrobras, análises indicam que a Astra desembolsou pelo conjunto de Pasadena aproximadamente US$360 milhões. Desse valor, US$248 milhões foram pagos à proprietária anterior; e US$112 milhões correspondem a investimentos realizados antes da venda à Petrobras.

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14 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não, eu não as conheço. Foi num período bem anterior. Eu não saberia detalhá-las não, porque quando eu cheguei, nós já estávamos numa outra fase de fazer a gestão da refinaria.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – V. Sª não tem conhecimento? O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não tenho conhecimento.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – A Astra se contrapôs à venda dos 70% por US$365 milhões. A Petrobras formulou nova proposta de compra por US$470 milhões e 70% das ações. A Astra não aceitou e fez uma contraproposta de US$745 milhões. Em fevereiro de 2006, as partes celebram um acordo e depois assinam um contrato de compra e venda por US$360 milhões, 50% da refinaria e da Trading Company.

V. Sª entende que esse valor era adequado à época?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não tenho parâmetros dessa época. Foi uma época bem anterior à da minha entrada. Eu posso reafirmar que os valores de processamento de refino por barril de petróleo são variáveis realmente em relação ao mercado mundial...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas pela sua...

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Mas eu não sei... Eu não participei dessas negociações, e elas são num período bem anterior ao da minha entrada.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas, pela sua experiência, por exemplo, as aquisições no mercado americano à época ocorreram por valores muito diferentes desse?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Um histórico que me foi apresentado, houve aquisições, sim, até em valores superiores, por custo unitário de barril de petróleo.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Quando V. Sª tomou conhecimento das cláusulas de Marlim e de Put Option? V. Sª considera que eram cláusulas centrais para a definição do negócio? Qual a sua visão sobre essas cláusulas?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, eu tomei conhecimento dessas cláusulas numa reunião de diretoria alguns meses depois da minha entrada, quando, numa determinada discussão, isso foi colocado. O que eu posso dizer é que não me causou muita surpresa ter uma cláusula de saída. Isso acontece em vários tipos de negócios de aquisições, quando há algum problema de sociedade. E, quanto à cláusula de Marlim, ela só seria aplicada no caso de a Petrobras exercer uma opção de colocar o petróleo de Marlim, mas isso só seria possível com a reforma da refinaria. A refinaria, com seu parque de processamento, não teria condições de processar o petróleo de Marlim.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Eu vou lhe repetir a pergunta aqui... O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Pois não.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – ... porque eu queria a sua resposta objetiva a essa pergunta.

V. Sª considera que eram cláusulas centrais para a definição do negócio ou não?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – De novo, é assim...É tentar colocar uma questão hipotética, é difícil falar por hipóteses, mas eu afirmo que não me causou surpresa.

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15 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não me pareceram centrais para a definição desse tipo de negócio, mas isso eu estou falando a posteriori, quando eu tomei conhecimento da cláusula. Eu não conheço o entorno dessas discussões e dessas negociações, quando foram feitas à época.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – De acordo com estimativas da Petrobras, o projeto de adaptação da refinaria para processar o óleo de Marlim teria um custo de US$588 milhões. Com uma taxa de desconto de 6,9%, o valor presente líquido do empreendimento seria de US$745 milhões. V. Sª acha que existe alguma irregularidade nesses cálculos?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, não me parece. Havia estudos diferentes para apontar qual seria a melhor opção. Uma questão seria os 70% de processamento a 100 mil barris, outra seria 50%, outra opção seria... São vários estudos técnicos e de viabilidade feitos. Havia também um estudo de aumentar a capacidade de 100 mil para 200 mil barris e ter uma capacidade maior de refino. São estudos técnicos de viabilidade econômica e ambiental que são feitos para poder tomar uma decisão. Então, cada tipo de investimento deste, cada projeto tem um valor diferente.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas os técnicos do TCU questionaram a cláusula de rentabilidade de 6,9% para a Astra, caso se fizesse o revamp para processar o óleo de Marlim. V. Sª acha justo que a Petrobras utilizasse uma taxa de desconto de 6,9% e uma rentabilidade diferente de 6,9%?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Eu não tenho aqui elementos para falar no detalhe dos 6,9%. O que eu posso dizer é que faz sentido ao você impor a um sócio um determinado tipo de projeto que isso seja negociado de alguma maneira, mas eu não fiz nenhum estudo com relação para poder definir. Imagino que os técnicos do TCU...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas mesmo depois, com toda a discussão em torno do tema, V. Sª não se dedicou a estudar melhor?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado Relator, quando cheguei, já estávamos em outra fase, não havia mais essa discussão sobre essa taxa e outras. Quando eu entrei, a preocupação da equipe que estava à frente da refinaria era geri-la da melhor maneira possível como ela estava – temos que lembrar –, naquele momento ou um pouquinho antes, porque havia sido anunciada a descoberta do pré-sal, e isso carreou muitos dos investimentos da Petrobras para projetos de produção. Então, a preocupação era fazer com que a refinaria funcionasse bem e com segurança; já era outro cenário.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Tinha um laudo elaborado pela Muse & Stancil, que apontou para uma faixa de valor entre US$84 milhões, taxa de desconto de 14%, e US$186 milhões, taxa de 10%. V. Sª entende que essas taxas de desconto representavam bem o custo de oportunidade da Petrobras em 2006 ou V. Sª acha que essas taxas de desconto são mais adequadas que 6,9%?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Eu não conheço esse estudo. Foi em 2006, e eu entrei em 2008, já num outro cenário. Eu não conheço esse estudo, Deputado.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Esse estudo V.Sª não conhece? O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não conheço.

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16 O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – De acordo ainda com os técnicos do TCU, a Petrobras pagou à Astra, pela compra dos primeiros 50% da refinaria, o valor de US$189 milhões, e, pela compra dos primeiros 50% da comercializadora, o valor de US$170,3 milhões. Segundo a Petrobras, a operação não envolveu apenas a compra da refinaria, mas, sim, um negócio bem mais amplo e diversificado. V. Sª discorda desses valores e dessas afirmações?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, de novo, falando de um histórico anterior à minha entrada, os gráficos que me mostraram e que estão disponíveis, fazem parte do mercado dessa indústria de petróleo, indicam que o valor naquele momento estava compatível com o mercado internacional.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Vamos a algumas perguntas sobre Pasadena a partir de 2008. De forma geral, a descoberta do pré-sal alterou a estratégia de internacionalização da Petrobras?

A crise internacional de 2008 também alterou o cenário de investimentos no exterior?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Totalmente, Deputado. As duas questões foram muito relevantes em relação às operações internacionais da Petrobras. A questão do pré-sal, em que houve a descoberta de uma enorme província petrolífera na costa brasileira, trouxe uma concorrência fortíssima por recursos, não só financeiros, mas também recursos de equipamentos para desenvolvimento desses projetos futuros e que estão em andamento aí. A crise de 2008 também, por conta de ter reduzido barbaramente as margens de refino. Então, esses dois fatores foram, sim, muitíssimo relevantes na estratégia da Petrobras de manter ou não, ampliar ou não a operação dos seus ativos internacionais. Inclusive, podemos ver pelos volumes de investimento, nas revisões do planejamento estratégico da Petrobras, como foram diminuídos bastante a partir de 2008.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Nesse período, a informação que nós temos é de que houve divergências entre a visão de gestão da Petrobras e da Astra. V.Sª confirma isso? Se confirma, a Astra ausentou-se da gestão da refinaria quando?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – A Astra se ausentou a partir do momento em que a Petrobras decidiu não fazer mais a compra dos outros 50%. Ela literalmente abandonou a gestão da refinaria. E a gestão da refinaria, vamos dizer assim, esse gerenciamento tanto da trading quanto da refinaria – a Petrobras era sócia 50%, mas a gestão era da Astra – foi um fator muito preocupante.

A nossa equipe gerencial da Petrobras America, lá nos Estados Unidos, ficou realmente muito preocupada porque, se acontece algum problema com uma instalação industrial desse tipo, as consequências são muito sérias. Então, houve uma preocupação muito grande. A Petrobras foi obrigada a assumir gradativamente algumas operações, e foi por esse motivo que a Petrobras entrou com a arbitragem para trazer a Astra de volta para a sociedade.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – O que V. Sª tem a dizer sobre o comitê de proprietários de Pasadena? Foram muitas as reuniões desse comitê? Quem representava a Petrobras nesse comitê?

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17 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – No meu conhecimento, quem representava a Petrobras era o diretor na época, o Diretor Paulo Roberto. Mas, no meu conhecimento, nunca houve uma reunião. Quando foi...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Nunca houve reunião?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Eu vou chegar lá, Deputado. Eu me antecipei um pouquinho aqui.

A reunião era só para dirimir, no comitê de proprietários, alguma questão que – vamos dizer – as duas empresas, os gestores, não conseguissem resolver. Isso ocorreu em maio, quando dessa decisão da Petrobras de não comprar os outros 50%, e o abandono da Astra da sociedade. Então, foi convocada uma reunião do comitê de proprietários para tratar desse assunto, e o representante da Astra não apareceu.

Então, a Petrobras passou por esse passo, de convocar uma reunião de comitê de proprietários, para, em seguida, entrar com o pedido de arbitragem. Foi isso que ocorreu.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – V. Sª conhece os termos da carta de intenções para aquisição dos 50% restantes da refinaria e da comercializadora? Quem assinou essa carta? A pessoa que assinou tinha poderes para isso?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Quem assinou a carta foi o então Diretor Internacional, o Sr. Nestor Cerveró, e ela resumia uma negociação feita. Essa carta é do final de 2007 e resumia as negociações em que se fazia um entendimento do que tinha sido negociado. Só que, na Petrobras, a competência para aquisições é do Conselho de Administração. Isso foi discutido em uma reunião em fevereiro. Eu estou falando tudo isso de memória, Deputado. Estou falando antes da minha entrada. Em fevereiro, a Diretoria Executiva, então, resolveu submeter o assunto ao Conselho, nessa reunião de 3 de março.

O SR. RODRIGO MAIA (DEM - RJ) – Relator, só uma frase que o Sr. Jorge falou...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Sim.

O SR. RODRIGO MAIA (DEM - RJ) – A responsabilidade de aquisição, de quem é, na Petrobras?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Segundo o estatuto da companhia, aquisições têm que ser levadas ao Conselho de Administração.

O SR. RODRIGO MAIA (DEM - RJ) – A responsabilidade é do Conselho de Administração?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Elas têm que ser levadas ao Conselho de Administração.

O SR. RODRIGO MAIA (DEM - RJ) – Ótimo. É isso.

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – A Diretoria Executiva... Nem o diretor nem a Diretoria Executiva têm a competência...

O SR. RODRIGO MAIA (DEM - RJ) – A responsabilidade é de todos os conselheiros?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – ... a competência para fazer a aquisição. É uma pauta...

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18 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Tanto é que essa pauta foi levada para o Conselho.

O SR. RODRIGO MAIA (DEM - RJ) – De todos os conselheiros. É só isso. O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas, na sua avaliação, o então Diretor Nestor Cerveró tinha poderes para assinar a carta?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – A carta era uma carta de entendimento das negociações que foram feitas. Então, ele tinha, como gestor da companhia, que colocar em uma carta. Só que essa carta foi entendida, posteriormente, pela Astra, como um compromisso firme.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Só para entender melhor essa carta de intenções: o valor lá estabelecido seria diferente daquele que decorreria da aplicação dos mecanismos de definição do preço de transferência das ações constantes do acordo de acionistas?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Olha, Deputado, nós estamos falando de um assunto de sete anos atrás. Eu não tenho dados, não tenho nenhum documento da Petrobras, desde que eu me aposentei. Não tenho nenhum documento...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas essa carta V. Sª viu?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Na época, eu vi, quando foi submetida a pauta para o Conselho dessa reunião de maio.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Pois então, o TCU afirma que a definição do valor relativo aos 50% restantes deveria ser calculado em base contratual, assim constante no laudo arbitral que chegou a valores próximos a US$444 milhões.

V.Sª saberia dizer se a carta de intenções apresentou valores diferentes desse? O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não, eu não saberia. Eu não conheço os entornos da negociação que foi feita ali naquele segundo semestre de 2007. Realmente eu não conheço. O que eu sei é que houve diversas conversas para poder ver, vamos dizer, como resolver a questão, porque a Astra não estava mais concordando com aquele investimento a ser feito em Pasadena. Então, chegou-se num momento de...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Apenas para fechar aqui a sua opinião – fala-se muito dessa carta de intenções –, V. Sª concorda que a carta abriu precedentes para que a Astra buscasse, judicialmente, um maior valor para a saída do negócio? Como, por exemplo, o Poder Judiciário nos Estados Unidos tratou essa carta de intenções?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Era uma carta de entendimento das reuniões, das negociações – como falei, não conheço o entorno das negociações que foram feitas –, mas a Astra teve um entendimento diferente da Petrobras. A Astra entendeu que era um compromisso firme. Por isso, ocorreram as ações subsequentes. Nâo havia, por parte da Petrobras... É de conhecimento interno; todo mundo sabe que é um assunto a ser submetido e aprovado pelo conselho. É um termo que é usado, Deputado, assim, subject to board

approval, e, por algum motivo, a Astra entendeu diferente.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Sobre a arbitragem e o processo judicial, foi a Petrobras que deu início ao processo de arbitragem. Por que e quando ocorreu essa decisão e qual foi a participação do Conselho de Administração nessa decisão?

(19)

19 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Sim, quando a Astra ficou descontente com a decisão da Petrobras de não comprar a segunda parte dos 50%, a Astra abandonou a negociação e retirou seu pessoal da gestão da refinaria.

Então, o pessoal da Petrobras America e todo o corpo técnico da Petrobras ficou muito preocupado com a insegurança da instalação da refinaria e a segurança das operações.

Nesse momento, foi indicado que haveria necessidade, então, do tal comitê dos proprietários. A Petrobras convocou o comitê, e o representante da Astra não compareceu. Então, a AIE (Agência Internacional de Energia)... Não havia outra alternativa, e foram construídas as condições para que a Petrobras entrasse com o processo de arbitragem.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Partindo do princípio de que a Petrobras sempre teve interesse na aquisição de toda a refinaria, que a Astra poderia não realizar os investimentos do Revamp e que US$745 milhões eram um valor adequado, na sua avaliação, pode-se admitir que a Petrobras já esperava que a Astra exercesse o direito de put option?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, eu não sei informá-lo o que a Astra estaria imaginando ou não.

Realmente...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas, olhando para essas informações e para esses dados?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Poderia não entrar, poderia continuar discutindo e procurando uma definição de consenso. Era uma sociedade de 50% a 50%. Agora, a Astra entendeu dessa maneira.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Nos termos contratuais, a Petrobras só exerceria o controle caso utilizasse o seu direito de sobrepor ou impor decisão, permitindo à Astra exercer o put option.

V. Sª não acha que a intenção da Petrobras era exatamente essa, com essas cláusulas?

V. Exª não acha que essas cláusulas eram boas, do ponto de vista da Petrobras, que poderia então assumir 100% das ações?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, eu não tenho conhecimento de nenhuma intenção da Petrobras que provocasse o desenvolvimento, vamos dizer, do assunto para chegar a essa conclusão.

Realmente, não me parece algo que seja razoável.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Isso nunca foi discutido na Petrobras? O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Nunca foi discutido.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Em relação ao valor, V. Sª se lembra qual foi a decisão da arbitragem?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, eu não tenho os nomes já tem algum tempo, eu não tenho os dados, eu não tenho os números, mas...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – E a Petrobras aceitou o valor que foi estabelecido?

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20 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – A Petrobras pediu a arbitragem, e a comissão arbitral determinou um valor. A Petrobras estava disposta a cumprir esse valor. Ela só não cumpriu porque a Petrobras queria que a Astra tivesse...encerrasse definitivamente o assunto e retirasse as ações judiciais que estavam correndo em paralelo com a arbitragem...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas por que a Petrobras optou por continuar a disputa judicial, já que a decisão judicial referendou o laudo arbitral?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – A Petrobras queria fazer, encerrar o assunto no resultado da arbitragem. Como a Astra não deu a quitação, não quis encerrar definitivamente o assunto, então, foi por isso, por uma decisão da Astra, que as ações judiciais prosseguiram.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – V. Sª sabe se houve um acordo extrajudicial entre a Petrobras e a Astra?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Quando entrou nesse aspecto da arbitragem das ações judiciais, o assunto passou a ser conduzido pelo departamento jurídico da companhia, como deve ser mesmo e, no final, depois do resultado da arbitragem e do resultado das ações, a negociação ficou, na época, por conta da chamada Gerência de Novos Negócios, ligada à Presidência, que foi a gerência que acabou por formatar, junto com o serviço jurídico, o acordo final.

Desde que o assunto entrou na esfera jurídica, a área internacional era uma área operacional dos ativos. A preocupação sempre foi fazer a gestão das instalações industriais.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – No caso do complexo de Pasadena, no Texas, que inclui uma empresa comercializadora, fornece gasolina e diesel para o exigente mercado americano, e está localizada em uma área estratégica, seria razoável estimar um custo de capital menor que US$1,5 bilhões para uma unidade similar?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Nós estamos falando de duas empresas, né? Uma é a refinaria em si; a outra é a comercializadora, que também tem valores bastante variáveis de acordo com o mercado.

O que eu posso lhe dizer é que a localização de Pasadena era muito boa; ela estava ali no Texas.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Era ou é?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Ela é muito boa; ela está no Texas, no canal com acesso a diversos dutos, e, de novo, Deputado, eu não acompanho mais o dia a dia da empresa, mas eu andei lendo notícias de que a refinaria, hoje, está com uma operação superavitária, principalmente por conta da maior produção do chamado tight oil, ali no Texas, que vem das rochas, do xisto, enfim, dessa parte mais betuminosa. E essa produção aumentou; é um petróleo bastante adequado para a refinaria e agrega bastante valor.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – A partir do valor estabelecido pela Muse & Stancil, de US$186 milhões, o TCU determinou que dirigentes da Petrobras apresentassem alegações de defesa ou recolhessem aos cofres da Petrobras a quantia de US$580 milhões, o que corresponde a uma diferença entre US$766 milhões e os tais US$186 milhões. V. Sª considera razoável essa determinação?

(21)

21 O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Eu não conheço o relatório da Muse & Stancil, e eu não tenho elementos para fazer uma avaliação desses valores, mas eu, em princípio, digo...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – O TCU está mandando devolver US$580 milhões.

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Eu não tenho elementos para poder comentar isso, Deputado.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Eu gostaria agora de fazer alguns questionamentos sobre os contratos da Petrobras na área internacional. O jornal Valor

Econômico publicou, em 31 de julho de 2014, uma matéria que trata dos resultados da

apuração interna da Petrobras, que teria concluído que quatro dos cinco negócios investigados, conduzidos pela Diretoria Internacional, tiveram sustentação e não foram lesivos à companhia. Contudo, sobre o contrato de US$ 825,6 milhões, da SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde), em nove países, celebrado com a Odebrecht, caso não houvesse sido feito um aditivo, que reduziu o valor do contrato a aproximadamente a metade, haveria um potencial de perda para a Petrobras. V. Sª era o diretor internacional à época da celebração desse contrato. Essa comissão detectou potenciais perdas para a Petrobras. Foram, de fato, tomadas as medidas que posteriormente resultaram em um aditivo que reduziu o valor do contrato para US$ 481,6 milhões?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Deputado, eu não conheço o relatório da comissão. Já foi depois que eu saí; não li o relatório. Eu contribui, pediram-me que contribuísse, dei informações da gestão à época, mas não li o relatório. O contrato, esse contrato específico...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas, V. Sª era o diretor internacional à época.

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Sim, eu não estou negando isso. O contrato de SMS, para fazer a remediação do passivo ambiental, levantado nas diversas unidades no exterior, era um contrato de planilhas de preço unitário, semelhante ao que foi no Pégaso, em 2000, quando houve aqueles dois acidentes principais, do vazamento na Baía de Guanabara e na refinaria no Paraná. Então, só seriam pagos os serviços efetuados realmente, efetivamente executados.

Agora, o contrato tem de ter um valor estimado, que foi esse valor de US$825,6 milhões, que contemplava todo o levantamento feito, mas, paralelamente, já vinha acontecendo um plano de desinvestimento da Petrobras, já se vinha discutindo nas revisões de planejamento estratégico desinvestir em algumas áreas em que não se precisaria fazer esse tipo de serviço. Também, durante o tempo...

Para dar um exemplo, eu me lembro de um vazamento de um posto de gasolina na Colômbia em um prédio vizinho. Não daria para esperar um contrato para fazer o serviço. Então, foi feito localmente; esse serviço não foi feito pelo contrato. Tudo isso somado fez com que acontecesse o previsto no contrato, ou seja, de se pagarem somente os serviços executados efetivamente.

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22 O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Uma reportagem da revista Época, de agosto de 2013, afirma que o cidadão João Augusto Henriques teria falado abertamente sobre o pagamento de comissões para políticos e para funcionários da estatal. Quem é o Sr. João Augusto Henriques? V. Sª o conhece? O que tem a dizer sobre isso? Existem funcionários em sua Diretoria ligados a esse senhor?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Olha, eu posso afirmar que eu não conheço nenhuma atividade do Sr. João Augusto em relação aos assuntos da área internacional. O Sr. João Augusto foi funcionário da Petrobras; eu o conheci quando entrei na Petrobras. Ele era funcionário da Petrobras e conhece diversas pessoas por conta de trabalhar no mesmo segmento nosso, mas não exerceu nenhuma atividade diretamente ligada... Várias das pessoas que são...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Ele não é mais funcionário da Petrobras?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Ele não é mais funcionário; já saiu há bastante tempo. Não me lembro em que circunstância.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Existiam funcionários em sua diretoria ligados a esse senhor ou que fossem...

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não ligados. As pessoas que trabalhavam comigo na diretoria também eram pessoas que eu conheço há muito tempo, de 30 anos de relacionamento de trabalho e profissional. Há coincidências nesse caso.

Assim como imagino que deva conhecer diversas outras pessoas, diversos outros técnicos, engenheiros, gerentes em diversas outras áreas.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Mas existe, na sua avaliação, a possibilidade de que o Sr. João Augusto tenha exercido influência ou atuado como intermediador de negócio de responsabilidade da área internacional?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Nunca houve isso, Deputado. Nunca houve nenhuma intermediação do Sr. João Augusto em qualquer assunto da área internacional.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Agora, a investigação interna encontrou ligações telefônicas de gerentes para o lobista que disseram ter nomeado diretor, que tinham influência dentro da Petrobras na área internacional. V. Sª, em algum momento, ouviu isso na Petrobras ou teve conhecimento desses fatos?

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Não, senhor. Ele pode ter ligações telefônicas...

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – Isso está lá na investigação interna que foi realizada pela...

O SR. JORGE LUIZ ZELADA – Eu não conheço o relatório da investigação interna, Deputado. Desculpe. Eu poderia ter acesso ao relatório e poder, então, tecer comentários. Eu não conheço o relatório.

O SR. MARCO MAIA (PT - RS) – O relatório da comissão interna foi encaminhado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, e há uma investigação ou processo judicial em curso sobre isso. V. Sª é sabedor disto, né? (Pausa.)

Referências

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