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III. AS BASES DO APOIO AO REGIME DEMOCRÁTICO NO BRASIL

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III.

AS BASES DO APOIO AO REGIME DEMOCRÁTICO NO BRASIL

Rachel Meneguello

INTRODUÇÃO

A literatura sobre as características e o funcionamento dos processos de democratização é volumosa, muito tem sido produzido sobre as bases de apoio às democracias da terceira onda, em específico sobre os processos políticos desencadeados na America Latina, ou ainda, aqueles desenvolvidos no Leste Europeu, após a queda do Muro de Berlin, e somam um conhecimento valioso para a reflexão comparada às experiências das democracias ocidentais mais consolidadas no tempo. Sabemos que para os cidadãos que vivenciam sistemas democráticos consolidados, a aceitação do regime e as suas bases de funcionamento são inquestionáveis e há uma compreensão básica sobre as instituições e os processos políticos que sustentam o seu funcionamento. Mesmo que nestas democracias sejam observados níveis consideráveis de insatisfação com o funcionamento regime, e de desconfiança nas instituições e nos governos do momento, a adesão e a identificação dos cidadãos com o regime democrático não sofrem abalos significativos, garantindo a estabilidade do sistema.

No caso das democracias mais recentes, a literatura é menos positiva, os estudos e evidências mostram que mesmo em países em que regras básicas e procedimentos foram implantados e têm funcionamento regular, como a realização de eleições livres e justas, isso não é suficiente para a democratização, há deficits significativos no terreno do respeito às leis, direitos e liberdades, pondo em risco permanente o apoio político que se estabelece no início do novo regime (ZAKARIA, 1997; ROSE AND SHIN, 2001)

No caso das democracias latino-americanas, os dados de pesquisas realizadas ao final da última década mostram que, na maioria dos países, e mesmo apesar do impacto da crise econômica, o apoio ao regime democrático tem sido sustentado em bases significativas (Informe Latinobarômetro, 2006; SELIGSON AND SMITH, 2010). As informações apontam que os cidadãos da região têm acolhido em uma tendência crescente a democracia como a melhor forma de governo, apesar de o apoio normativo “churchilliano” compartilhar um terreno denso de constrangimentos que condicionam a satisfação com o funcionamento do sistema, os níveis de confiança institucional e pessoal, o interesse e a participação na política.

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Nesse terreno, destaca-se a dinâmica representativa. Por um lado, as eleições sobressaem como marco de inclusão e intervenção políticas, e a percepção da eficiência e validade dos processos eleitorais agem como garantia ao funcionamento do regime democrático. Além disso, partidos e parlamentos são considerados _ao menos simbolicamente_ como eixos do funcionamento do regime, e desfrutam de um apoio geral importante. Entretanto, são os partidos políticos e o congresso as instituições que acolhem os menores graus de confiança institucional em toda a região, apesar de variações significativas observadas entre países (BOIDI Y QUEIROLO, 2010).

A experiência democrática brasileira reproduz esse cenário. Os dados de apoio ao regime democrático são crescentemente positivos ao longo do período pós-1985. No registro das pesquisas realizadas entre 1989 e 2006, a preferência pela democracia aumentou 21 pontos percentuais entre a população, de 43,6 para 64,8% (Gráfico 1). Os avanços ao longo desse processo também foram de ampliação do entendimento sobre o regime. No período entre 1989 e 2006, houve uma ampliação considerável da proporção de pessoas que adquiriram entendimento sobre o significado de democracia, embora esse entendimento estivesse limitado e predominantemente atrelado à idéia de realização de eleições e de constituição de governos que dessem solução às necessidades econômicas e sociais, refletindo o cenário de crise que marcou o inicio da democratização no país e na região nos anos 1980 (MENEGUELLO, 2010).

Igualmente aos os vários processos de democratização na região, os cidadãos brasileiros envolveram-se em uma dinâmica eleitoral regular e intensa desde o início do novo regime, tendo definido na eleição presidencial direta de 1989 o marco do alinhamento de forças políticas e preferências. Os dados das pesquisas realizadas nesse período mostram, entretanto, que a consolidação de mecanismos e procedimentos de participação eleitoral não redimensionou a frágil relação com as instituições representativas. O país conta com vários dos mais baixos índices de confiança e de avaliação positiva dos partidos, do Congresso e dos políticos observados na região nas duas últimas décadas, e claramente reflete os constrangimentos próprios das denominadas ‘democracias incompletas’ (SELIGSON AND SMITH, 2010; SHIN, 2007).

O objetivo deste artigo é contribuir para a resposta a algumas questões que norteiam os estudos sobre o processo de democratização brasileira. A primeira delas diz respeito ao entendimento do papel que as instituições representativas possuem no mapa de referências de apoio ao regime democrático. A segunda questão diz respeito às bases da legitimidade do sistema, entendida como resultante das percepções do desempenho e funcionamento da democracia no país.

Assim, a primeira parte do trabalho procura identificar em que medida a crescente preferência dos cidadãos pelo regime democrático observado ao longo das ultimas décadas

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resulta da sua relação com as instituições representativas, a qual comporia um construto normativo articulado que embasaria os posicionamentos políticos sobre o desenvolvimento e a construção institucional do sistema. A segunda parte procura identificar as referências das quais os cidadãos lançam mão para avaliar o desempenho da democracia e criar níveis de satisfação com regime. O suposto básico é que o fenômeno da adesão à democracia resulta da congruência entre o apoio normativo ao regime e a satisfação com o seu funcionamento.

Gráfico 1. Evolução da preferência por regime político Brasil, 1989-2006 (%)

Fontes: Banco de Dados do CESOP/Unicamp: Coleção Cultura Política, 1989 (DATAFOLHA/BRASIL89.SET-00186), 1990(DATAFOLHA/BRASIL89.DEZ-00210) e 1993(DATAFOLHA/BRASIL93.MAR-00322); Estudo Eleitoral Brasileiro_ESEB-CSES2002 (CESOP_FGV/BRASIL02.DEZ-01838); Pesquisa Desconfiança dos Cidadãos nas Instituições Democráticas, 2006 (CESOP_NUPPES/BRASIL06.JUN-02330)

ALGUMAS DEFINIÇÕES

Tal como afirmam Collier and Levitsky (1996), a proliferação de tipos e subtipos de processos de democratização nas várias regiões do mundo apresentou aos estudiosos o desafio de dar conta das variações de casos nacionais sem que, ao mesmo tempo, fosse estirado o conceito de democracia. Não é a intenção desse trabalho oferecer uma nova apropriação do conceito de democratização, mas sim, organizar as noções que orientam a investigação sobre as bases do apoio e legitimidade democráticas que encontramos a partir da pesquisa a Desconfiança dos Cidadãos nas instituições Democráticas (“Pesquisa Desconfiança”). Algumas definições prévias são, portanto, necessárias.

A idéia de adesão democrática está estabelecida neste trabalho sobre o construto do sistema representativo. A teoria democrática define nas instituições representativas cânones da legitimidade do regime, pois são essas instituições que, de forma indireta, investem o povo de

64,8 59,1 57,9 54,7 43,6 15,6 19,4 13,5 16,7 13,7 15,2 21,3 17,1 13,7 16,9 15,7 11,4 14,7 9,9 4,8 1989 1990 1993 2002 2006

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autoridade perante o sistema, além exercerem, com variações entre as distintas democracias, algum grau de controle e responsabilidade sobre o poder executivo. Assim, apesar dos níveis significativos de desconfiança nos partidos e nos políticos, e mesmo da avaliação predominantemente negativa da atuação do parlamento e dos políticos em geral, a existência e manutenção das instituições representativas são valores inabalados nas democracias consolidadas.

Nos regimes que transitam de ditaduras para democracias, por sua vez, a questão central não reside na confiança nos parlamentares ou na avaliação do desempenho legislativo mas, sobretudo, na crença se o legislativo deveria estar funcionando, ou ainda, no apoio à necessidade de sua existência para o funcionamento do novo regime (MISHLER AND ROSE, 1994) . Igualmente, o papel exercido pelos partidos políticos figura como um dos elementos que compõem esse quadro de apoio ao sistema representativo. A necessidade de um sistema pluripartidário que sustente a competição e a representação de interesses e grupos variados e a crença em sua utilidade para as vias de transmissão entre os cidadãos e o estado emergem como elementos ao menos simbólicos do apoio ao regime.

No caso da transição brasileira, uma série de estudos sobre a cultura política democrática apontam o papel central das eleições na constituição da noção de democracia para o período pós-85 (LAMOUNIER, 1985; MOISES, 1990 E 1995; MUSCINSKY E MENDES, 1990; LAVAREDA,1989). Esses trabalhos indicam que a idéia de democratização no final do período da ditadura de 1964 e início do período democrático de 1985 esteve associada de forma predominante aos mecanismos de participação eleitoral, em especifico, à realização de eleições diretas para a presidência da república. Com efeito, essa dinâmica concentrou, em grande parte, as ações da dimensão do que poderíamos chamar de engajamento cívico na transição. Entretanto, esse engajamento não resultou em um apoio generalizado à ruptura com as bases do regime militar e a ampliação da democracia representativa.

De fato, dados de survey realizado em capitais estaduais durante a última fase da ditadura militar, no período das eleições pluripartidárias de 1982 mostram um cenário de expectativas híbridas e conflitantes quanto à formação do novo regime. Por exemplo, em média, 80% dos eleitores apoiavam a realização de eleições diretas e mais de 61% afirmavam a disposição em votar se o voto não fosse obrigatório; entretanto, esse mesmo survey apontava uma clara divisão no eleitorado ao considerar a manutenção da presença dos militares no poder, assim como na opinião sobre o aumento do poder do congresso nacional no novo período (ver Tabela 1, Anexo 1). Esses dados coletados ainda antes da implantação do novo regime indicam, em alguma medida, o perfil “incompleto” que marcaria o desenvolvimento da democratização iniciada em 1985.

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A presença das referências ao regime anterior no conjunto de crenças dos cidadãos sobre o sistema político, ou ainda, os altos níveis de desconfiança e as avaliações negativas das instituições representativas e do funcionamento da política observados nas pesquisas realizadas no início do período democrático (MOISES, 1990; 1995), assim como no período mais recente (MENEGUELLO, 2006; MOISES E CARNEIRO, 2008), comprovam a natureza híbrida do entendimento sobre as bases de funcionamento da democracia no país. Em estudo realizado sobre as bases da preferência pela democracia no Brasil a partir de dados de pesquisa de 2002 (MENEGUELLO, 2006), encontrou-se que a adesão e a legitimidade do regime democrático estavam significativamente associados à valorização das eleições como forma de intervenção na política. Sabemos que à luz da teoria democrática representativa, a associação das eleições ao funcionamento democrático é esperada; entretanto, a mesma valorização não ocorreu quanto às instituições representativas. O mesmo descompasso foi encontrado na análise das bases da satisfação com o funcionamento do regime democrático, quando as dimensões da satisfação com a democracia e da avaliação das instituições emergiram dissociadas, sugerindo que no mapa de valores dos cidadãos o entendimento do bom funcionamento democrático não está imediatamente associado à percepção do desempenho das instituições públicas -inclusive representativas- e instituições privadas. Além disso, os dados indicavam que para o cidadão comum, a ‘execução’ do cotidiano, o desempenho do governo, o funcionamento do sistema democrático e a ação das instituições não compõem dimensões articuladas. Voltamos a explorar esses pontos através dos dados da “Pesquisa Desconfiança”.

A noção de legitimidade democrática também é definida. A legitimidade deve ser pensada como um tipo ideal relacionado às crenças dos cidadãos de que a política democrática e as instituições sobre as quais se estabelece são a forma mais apropriada para estruturar-se o sistema político. Esta noção está também baseada na ‘hipótese de Churchill’ (a democracia como

mal menor comparado aos regimes não-democráticos) compreendida na abordagem que possibilita

a comparação entre duas situações políticas distintas experimentadas no tempo (ROSE, 2001; GUNTHER E MONTERO, 2003). A noção de concorrência entre regimes é adequada ao caso brasileiro, dada a experiência democrática relativamente recente, e a presença de boa parte do eleitorado tendo tido sua experiência política em dois tipos de regimes distintos, autoritário e democrático.

Acompanhando a sugestão da maior eficácia das medidas realistas de apoio ao regime nas democracias incompletas (MISHLER AND ROSE, 2001), a análise do desempenho do regime foi constituída a partir da percepção da atuação das instituições e da gestão pública, e da percepção sobre o funcionamento da democracia no país.

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AS BASES DO APOIO À DEMOCRACIA

A literatura sobre democratização menciona os limites da utilização de medidas idealistas de apoio ao regime democrático, uma vez que, nas novas democracias, e em função das demandas que incidem sobre o funcionamento do sistema, a presença de um apoio normativo ao regime não é suficiente para a sua sobrevivência (MISHLER AND ROSE, 2001). As limitações das medidas idealistas são ainda conferidas, em parte, ao entendimento rudimentar dos cidadãos comuns sobre o regime, seu significado e as bases de seu funcionamento, algo observado mesmo entre os cidadãos das democracias estabelecidas. Entretanto, o apoio de massa ao regime democrático não funda-se na cognição sofisticada sobre a política, mas sobretudo, na compreensão e experiência da vida pública, nas ações e na percepção de que as ações e procedimentos influenciam o sistema, aspectos que resultam tanto do legado do regime anterior, quanto do desenvolvimento político do atual regime. A valorização das instituições representativas e a compreensão de sua importância para o funcionamento da política democrática revelam, no mínimo, a disposição para a vida democrática, o que é básico para constituir a legitimidade do sistema.

Nessa direção, investigamos em que medida os aspectos valorativos sobre o sistema representativo e sobre o regime em geral fariam parte do construto da adesão dos cidadãos brasileiros à democracia. Elaboramos dois modelos para investigar a articulação entre valores e o apoio ao regime. O primeiro deles compõe-se de aspectos normativos sobre a democracia e sobre o regime democrático no país. O segundo modelo adiciona àquele conjunto de variáveis normativas uma dimensão comparativa entre períodos políticos para identificar as bases do apoio ao regime.

As nove variáveis selecionadas para o primeiro modelo constituem um conjunto normativo sobre a democracia em geral e aspectos de sua vertente representativa., notadamente a importância do voto, dos partidos e do Congresso (Tabela 1). A distribuição simples dos dados mostra uma maioria de mais de 60% de indivíduos que preferem a democracia comparada à ditadura, afirmam a importância dos partidos para a democracia, a importância do Congresso para a democracia e para o país e a importância do voto para a política em geral. A mesma ênfase na preferência pela democracia frente à ditadura não ocorre com a afirmação mais enfática sobre considerar o melhor regime em geral, quando apenas 32% dos indivíduos concordam muito com a idéia da democracia como melhor regime. Os indivíduos dividem-se quase ao meio quando se trata da disposição em votar sem obrigatoriedade e sobre a relação do presidente da republica com um partido político. Finalmente, há uma relação ambígua com os partidos: embora 63%

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afirmem que sem partidos não pode haver democracia, quase 60% consideram que partidos servem apenas para dividir pessoas. As duas variáveis sobre a opinião a respeito dos partidos não são excludentes, mas um cruzamento simples entre as duas questões revela um pequeno núcleo incongruente de 6% do total de indivíduos da amostra que, ao mesmo tempo em que afirmam os partidos indispensáveis à democracia, afirmam que o regime pode funcionar sem eles.

Tabela 1. Variáveis de apoio à democracia e a aspectos da democracia representativa

(*)as diferenças dos totais para 100% referem-se a ns/nr

Influência do voto sobre o que acontece A maneira como as pessoas votam pode fazer com que as coisas mudem

62,3%

Não importa como as pessoas votam, não fará com que as coisas mudem

36,2

Votaria na eleição para presidente se voto não fosse obrigatório

Sim 48,7 Não 49,1 Talvez/Depende 2,1 Apoio à democracia 1 A democracia é sempre melhor que qualquer outra

forma de governo

64,8

Em certas circunstâncias é melhor uma ditadura 13,5 Tanto faz se o governo é uma democracia ou uma

ditadura

16,9

Apoio à democracia 2 Concorda muito que a democracia pode ter

problemas, mas é a melhor forma de governo

57.2

Concorda pouco 32.2 Discorda muito/discorda pouco 8.1 Nem concorda, nem discorda 2.5 Necessidade dos partidos para democracia 1 Sem partidos não pode haver democracia 63,0 A democracia pode funcionar sem partidos 31,5 Necessidade dos partidos para democracia 2 São indispensáveis à democracia 36,3 Só servem para dividir as pessoas 59,4 Necessidade do Congresso para democracia Sem Congresso Nacional não pode haver democracia 66,1 A democracia pode funcionar sem Congresso Nacional 28,7 Necessidade do Congresso para o país O país precisa da Câmara e do Senado 66,2 Poderíamos passar bem sem a Câmara e o Senado 30,4

Relação entre o presidente e os partidos É melhor um presidente identificado com um partido 53.9 É melhor um presidente que não dê importância aos

partidos

41.8

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Para responder nossa indagação sobre como esses valores se articulam no construto do apoio ao regime para os cidadãos brasileiros em 2006, utilizamos uma metodologia de análise multidimensional que envolve elementos de duas técnicas de análise de componentes principais, inicialmente a análise de componentes principais para variáveis categóricas e, em seguida, para as variáveis resultantes, a análise fatorial. Os resultados estão na Tabela 2.

Tabela 2. Dimensões normativas que compõem o apoio ao regime

1 2

necessidade do Congresso Nacional para o Brasil .701

necessidade dos partidos para a democracia .789

necessidade do Congresso Nacional para a democracia .786 presidente deve ser identificado com partidos ou não .517

democracia como melhor forma de governo .666

preferência entre democracia e ditadura .616

importância do voto para mudar as coisas .638

disposição para votar no presidente mesmo se voto não fosse obrigatório .616

Variância explicada 25.33% 20.05%

Variância total explicada 45.38%

Extraction Method: Principal Component Analysis; Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.

Os dados mostram uma solução de 2 fatores, com capacidade explicativa de α=45.3%, onde figuram na primeira dimensão as 4 questões associadas ao papel dos partidos políticos e do Congresso Nacional, tanto para o país como para a democracia em geral, algumas delas com cargas altas, maiores que 0.7 (consideramos apenas scores iguais ou maiores que 0,5). Embora com menor score, na mesma dimensão aparece a questão associada aos partidos, ainda que especificamente indagando a preferência por um presidente da república relacionado a partido político. A segunda dimensão, por sua vez, compõe um interessante conjunto em que a preferência pela democracia (medida através das duas questões) está associada ao voto, seja quanto à percepção de seu papel para intervenção no sistema, seja quanto à adesão ao voto voluntário para escolha do presidente da república. Finalmente, não figura em nenhuma das dimensões a variável que solicitava ao entrevistado a sua percepção sobre o papel dos partidos (se indispensáveis à democracia, ou instituições que apenas dividem pessoas).

Esta separação das variáveis em duas dimensões supostamente associadas é o ponto que nos intriga. Em quê medida as instituições representativas estão dissociadas da idéia de votar e dar apoio à democracia? Cientes dos efeitos de separação dos dados produzidos pela

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técnica de rotação na análise fatorial, investigamos as associações entre todas as variáveis, de forma a identificar possíveis relações e, como podemos ver na Tabela 3, o apoio à democracia - nas suas duas versões indagadas - mostra associações muito reduzidas com o apoio aos partidos e ao Congresso, tanto em termos de apoio geral quanto para o caso brasileiro. No caso do papel do voto, a disposição em votar para presidente e a percepção do voto como mecanismo de mudança têm associações reduzidas com o apoio genérico aos partidos e ao Congresso.

Tabela 3. Associações entre as variáveis do apoio à democracia. Coeficientes de Contingência e fatores associados Necessidade Congresso p/ democracia Presidente identificado c/partido Necessidade Congresso para o Brasil Democracia como melhor forma de governo Preferência pela democracia ou ditadura Importância do voto para mudança Voto obrigatório Fator 1 Fator 2 Necessidade dos partidos p/democracia 0,493 0,258 0325 0,135 0,160 0,135 0,095 ,789 ,016 Necessidade do Congresso p/ democracia 0,216 0,381 0,163 0,171 0,136 0,094 ,786 ,036 Presidente identificados c/partido 0,297 0,105 0,111 0,197 0,101 ,517 ,187 Necessidade Congresso para o Brasil 0,199 0,174 0,184 0,213 ,701 ,150 Democracia como melhor forma de governo ,121 ,666 Preferência pela democracia ou ditadura 0,282 ,132 ,616 Importância do voto para mudança 0,255 0,219 ,134 ,638 Voto obrigatório 0,209 0,178 0,213 ,033 ,616

Esses dados sugerem uma real ‘independência‘ entre as dimensões encontradas e, se observarmos as associações intra-fatores, encontramos associações importantes, mas de nível

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presentes, os valores se alteram, e as associações entre o apoio à existência do Congresso e dos partidos chegam a 0,493 no caso do apoio normativo aos partidos e ao Congresso, a 0,381 para a necessidade do congresso para a democracia e para o país, e a 0,325 para a relação entre a necessidade do Congresso para o Brasil e dos partidos para a democracia. No caso do Fator 2, que acolhe o apoio ao regime e a valorização do voto, a maior associação ocorre entre as duas opções de apoio ao regime democrático, e não chega a 0,3 (0,282). Apesar desta congruência observada, o que se destaca na relação entre os fatores são as baixas associações com as variáveis de apoio ao regime democrático.

O segundo modelo para avaliar as bases do apoio ao regime está baseado na comparação entre situações políticas distintas, incluindo a comparação entre governos democráticos e entre o presente regime democrático e a ditadura que vigorou no país até 1985.

Nas democracias consolidadas, boa parte do apoio à democracia sustenta-se no processo de longo termo de socialização dos cidadãos com os valores democráticos; nas democracias recentes, por sua vez, o apoio ao regime sustenta-se inicialmente na expectativa sobre o novo período, ou ainda, na rejeição ao regime anterior, mas o desempenho do regime é um fator central para que o apoio normativo se sustente. O novo regime deve mostrar-se capaz de satisfazer as expectativas coletivas quanto a aspectos centrais da mudança política. No caso da pesquisa em análise, esses aspectos estão traduzidos na dimensão da economia, dos direitos humanos e na situação da corrupção e tráfico de influência.

Um dos supostos que orientam esse construto é a idéia de que a democratização brasileira está marcada por alguns ‘eventos politizadores’ (ROSE, 1999) que criam conteúdos de apoio ao governo e apoio ao sistema. O primeiro deles, mencionado no início deste trabalho, diz respeito ao próprio sistema representativo e à valorização do voto direto. A transição brasileira teve seu fluxo notadamente estabelecido na arena eleitoral já durante o regime militar, e estabeleceu uma retórica fundadora do regime democrático na qual as eleições diretas para presidência da república marcavam a construção do novo regime. De fato, as movimentações em torno das eleições presidenciais abrigaram momentos de intensa mobilização popular na transição para a democracia.

O segundo evento politizador do período reside no terreno da intersecção entre a economia e a política e resultou do impacto das políticas econômicas. Adotadas com o objetivo de superar os cenários marcados pela depressão generalizada, depreciação dos indicadores de crescimento e o déficit social herdado do regime autoritário, tais políticas criaram parâmetros de avaliação de governos. Os referenciais econômicos, como o controle inflacionário e as tendências de melhoria de renda e emprego, tiveram papel central no conjunto de expectativas da sobre a democratização no país, formando preferências políticas. Já no início do regime democrático,

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estudos identificavam nas referências de expectativa de bem-estar e busca dos patamares mínimos de sobrevivência as bases da noção de democracia no país.

Com a implementação do plano de estabilização monetária em 1994 – o Plano Real – e as conseqüentes mudanças positivas nos níveis de atividade econômica e de renda, houve uma transformação significativa do quadro de pobreza e da capacidade de acesso ao mercado de consumo de produtos básicos por segmentos da população antes marginalizados (HOFFMAN, 2001). Este foi um componente central do capital político da Presidência da República no período, estabelecendo as referências centrais de apoio e aprovação governamental. Os quatro anos do primeiro governo FHC (1995-1999) promoveram uma experiência de estabilidade monetária desconhecida de várias gerações de brasileiros e, mesmo sem estar atrelado a uma política de desenvolvimento capaz de produzir e enraizar as bases dessa estabilidade, o governo foi capaz de produzir um alto grau de popularidade baseado na avaliação prospectiva da melhora global do país. Tais referências produziram uma relação simbiótica entre as tendências de avaliação do desempenho presidencial e do desempenho da economia constitutiva das percepções da população em geral sobre o governo no período entre 1995 e 2006 (MENEGUELLO, 2007).

As dez novas variáveis desse segundo construto incluem a avaliação comparada entre três períodos políticos _o governo do momento, os oito anos do governo anterior (1994-2002) e os últimos 10 anos da ditadura militar (1974-1984)_ para três aspectos, a situação da economia, dos direitos humanos e da corrupção e tráfico de influências, além da avaliação geral do governo Lula (2002-2006).

Os dados sugerem que no âmbito da economia e dos direitos humanos houve avanços positivos importantes no decorrer da democratização percebidos pelos cidadãos no período atual (Tabela 4). As percepções mais positivas ocorrem na comparação entre o governo do momento e os governos militares, refletindo os efeitos da conquista e ampliação de direitos e liberdades civis, por um lado, e o desempenho das políticas econômicas, por outro. De toda forma, tais percepções apontam para a constituição de um terreno significativo de apoio ao regime democrático. O mesmo não ocorre para a situação da corrupção e o trafico de influências; nesse caso, a percepção negativa do fenômeno ocorre em todas as comparações de períodos políticos. É importante mencionar o potencial impacto sobre a percepção dos entrevistados exercido pelas denúncias de corrupção envolvendo políticos, partidos e o governo ocorridas um ano antes da realização desta pesquisa. Os resultados da análise multidimensional para o segundo modelo estão apresentados na Tabela 5.

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Tabela 4. Variáveis de comparação entre períodos políticos, incluídas no modelo de apoio à democracia

Avaliação da situação econômica no governo Lula comparada ao período anterior

Melhorou 51 % piorou 20.1 igual 28.8 Avaliação da situação econômica do governo Lula comparada aos últimos 10

anos de governos militares (1973-1984)

Melhorou 56.3 piorou 21.7

igual 22

Avaliação da situação econômica do governo FHC comparada ao periodo anterior

Melhorou 32.6 piorou 30.8 igual 36.6 Avaliação da situação dos direitos humanos no governo Lula comparada ao

periodo anterior

Melhorou 51.3 piorou 13.7 igual 35.1 Avaliação da situação dos direitos humanos no governo FHC comparada ao

periodo anterior

Melhorou 36.0 piorou 20.8 igual 43.2

Avaliação da situação dos direitos humanos no governo Lula comparada aos últimos 10 anos de governos militares (1973-1984)

Melhorou 60.4 piorou 16.8 igual 22.8 Avaliação da corrupção e tráfico de influência no governo Lula comparado ao

periodo anterior

Melhorou 25.9 piorou 48.5 igual 25.5 Avaliação da corrupção e tráfico de influência no governo FHC comparado ao

periodo anterior

Melhorou 21.6 piorou 37.2 igual 41.3 Avaliação da corrupção e tráfico de influência no governo Lula comparada aos

últimos 10 anos de governos militares (1973-1984)

Melhorou 33.2 piorou 37.9 igual 28.9 Avaliação governo Presidente Lula

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Tabela 5. Dimensões normativas e comparações entre períodos políticos como bases do apoio ao regime

1 2 3 4 5

Avaliação geral do governo Lula ,838

Comparação direitos humanos governo Lula com período anterior ,741 Comparação situação econômica governo Lula com períodos anteriores ,843

Comparação situação econômica governo FHC com período anterior ,693

Comparação situação econômica governo Lula com governos militares ,637

Comparação direitos humanos governo FHC com período anterior ,740

Comparação direitos humanos governo Lula com governos militares ,643

Necessidade dos partidos para a democracia ,806

Necessidade do Congresso Nacional para a democracia ,811

Necessidade do Congresso Nacional para o Brasil ,676

Importância do voto para mudar as coisas ,669

Democracia como melhor forma de governo ,618

Preferência entre democracia ou ditadura ,601

Disposição para votar para presidente mesmo se voto não fosse obrigatório ,600

Comparação corrupção governo FHC com o período anterior ,636

Comparação corrupção governo Lula com governos militares ,673

Comparação corrupção governo Lula com o período anterior ,594 ,601

Variância explicada 14,3% 12% 11.6% 10.3% 8.5%

Variância explicada total 56.62%

Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.

Neste segundo modelo, os dados apontam a força das percepções sobre o governo do momento no construto de apoio ao regime. O modelo produziu 5 fatores, com uma variância explicativa de α=56,6%. O Fator 1 é o fator governo Lula. Ali residem as variáveis de avaliação do governo e da economia com as maiores cargas da matriz (maiores que 0.8) , além da avaliação dos direitos humanos no governo atual (0,741). Também figura a avaliação da corrupção no governo atual, mas com uma carga pouco menor (0,594).

O Fator 2 é considerado o fator comparação política propriamente dito, pois compõe-se exclusivamente da avaliação da situação econômica e dos direitos humanos comparada no governo Fernando Henrique e com os governos militares entre 1975 e 1985. O que está substantiva e subjetivamente incluído na disposição dos Fatores 1 e 2 é o papel do Plano Real como referência de avaliação às situações econômicas de períodos políticos anteriores. Contudo, não parece aleatório o fato da avaliação da situação da economia no governo Lula estar em fator separado às avaliações da economia em governos anteriores. O Fator 1 indica a proeminência da avaliação do governo do momento nos seus vários aspectos, sobre as demais referências

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político-temporais. O Fator 3 é denominado instituições representativas, pois nele constam apenas as questões que afirmam a necessidade dos partidos políticos e do Congresso para a democracia, bem como a necessidade do Congresso para o Brasil, em específico. Não figuram nessa dimensão e em nenhuma outra duas questões relacionadas aos partidos políticos: se partidos são indispensáveis à democracia ou apenas dividem pessoas (a qual também não figurou na matriz do primeiro modelo), e a questão sobre a preferência em ter um presidente associado a partido político. É apenas no Fator 4, denominado Democracia, que emergem as questões sobre a preferência democrática, associadas às 2 questões que valorizam o exercício do voto. Estes dados repetem a associação entre democracia e eleições que encontramos anteriormente, mas neste segundo modelo essa relação tem força especial, pois esta noção de democracia não se altera quando ponderamos em conjunto as percepções sobre a economia do país nos governos Lula, FHC e os governos militares, tampouco as percepções sobre direitos humanos e corrupção nesses três períodos.

Finalmente, o Fator 5 de avaliação da corrupção, agrega as três questões de avaliação em todos os períodos políticos, inclusive no governo Lula, com a questão que aparece tanto neste Fator (com carga 0.601) como no Fator 1( com carga 0,594).

Este segundo modelo de análise do apoio à democracia aponta para quadro político imediato como a primeira referência que os cidadãos têm para estabelecer-se frente o sistema democrático. Neste caso, trata-se do peso do governo do momento, no caso o governo Lula e seu desempenho nas dimensões da economia e dos direitos humanos. A preferência pelo regime não está imediatamente associada a essas duas dimensões e, como já mencionamos, mantém-se relacionada ao voto. Mesmo emergindo em dimensão de menor peso explicativo, é importante reafirmar o papel das eleições na referência ao regime. Tanto a força das percepções sobre o governo do momento, quanto o impacto da comparação entre períodos políticos distintos, inclusive entre a democracia e a ditadura que vigorou no país, não alteraram a separação já constatada no primeiro modelo de apoio ao regime, entre a preferência pelo regime democrático e as concepções sobre o papel das instituições representativas (Fatores 3 e 4).

Finalmente, os dados sobre a percepção da corrupção e o tráfico de influência merecem maior análise. Afinal, as três questões que pedem a avaliação de sua situação no tempo, procurando medir os avanços resultantes dos processos políticos emergem juntas, no fator mais distante das referencias imediatas definidas para entender o apoio político (Fator 5).

Os estudos que abordam a corrupção com enfoque realista e crítico, como um fenômeno universal que atinge todos os países, apontam o seu impacto sobre aspectos que afetam a legitimidade do sistema democrático, como o apoio ao regime e a confiança nas instituições (SELIGSON, 2001 E 2002; POWER E GONZÁLES, 2003). A corrupção seria a causa e

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conseqüência do baixo desempenho do sistema, levando à redução da confiança dos cidadãos nas instituições, no governo e na sua capacidade para a solução de problemas, e afetando, portanto, o apoio ou a adesão ao regime. Nessa direção, Warren (2004) aponta que a corrupção tem efeitos significativos sobre a democracia, ela rompe com os pressupostos fundamentais do regime, como a igualdade política e a participação; reduz a influência da população no processo de tomada de decisões, seja por fraudes nos processos decisórios, como nas eleições, seja pela desconfiança e suspeita que ela gera entre os próprios cidadãos, e com relação ao governo e as instituições democráticas, e reduz a transparência das ações dos governantes.

Assim, tal como constituído no segundo modelo de apoio ao regime, o Fator 5 sugere a existência de um déficit de entendimento sobre o terreno normativo da preferência pela democracia, no qual a transparência e o império da lei são aspectos centrais. Por um lado, esse cenário nos ajuda a entender a crise política de 2005, em que os escândalos de corrupção não abalaram a avaliação do governo e do presidente, bem como a preferência pela democracia. Mas aponta, por outro lado, para um problema mais complexo, que é compreender as causas das dimensões independentes encontradas no modelo, em especifico, as motivações para que as percepções sobre as situações da corrupção de governos distintos sejam estabelecidas de forma relativamente isolada.

A SATISFAÇÃO E APOIO AO REGIME DEMOCRÁTICO

Nas democracias consolidadas, boa parte do apoio à democracia sustenta-se no processo de longo termo de socialização dos cidadãos com os valores democráticos; nas democracias recentes, por sua vez, o apoio ao regime sustenta-se inicialmente na expectativa sobre o novo período, ou ainda, na rejeição ao regime anterior, mas o desempenho do regime é um fator central que o apoio normativo se sustente (ROSE AND MISHLER, 1999; 2007). O novo regime deve mostrar-se capaz de prover os bens coletivos almejados e, nesse sentido, o apoio torna-se, em boa medida, contingente ao desempenho econômico.

Apoio ao regime democrático e satisfação com o funcionamento da democracia são fenômenos distintos (GUNTHER E MONTERO, 2003), dizem respeito, respectivamente, a aspectos valorativos e avaliativos e implicam medidas distintas. Nessa direção, constituímos um construto sobre o desempenho do regime baseado na satisfação com a democracia existente no país e aspectos que permitem avaliar o desempenho do sistema, como a avaliação governamental difusa e a avaliação dos serviços públicos.

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Quatro conjuntos de questões foram definidos para mensurar a crítica do cidadão ao estado de coisas em que vive o país. O primeiro coloca em avaliação o próprio desempenho do regime, através da medida de satisfação com o funcionamento da democracia, o grau de completude do regime e a validade dos processos eleitorais. O segundo conjunto aborda a economia nas suas dimensões sociotrópicas retrospectiva, presente e futura; a avaliação da situação econômica pessoal e familiar, presente, retrospectiva e prospectiva, além da avaliação da capacidade do salário. O terceiro conjunto baseia-se na hipótese de que a avaliação do desempenho do regime está associada ao desempenho governamental e, especificamente, com relação aos serviços públicos, dado que esta é uma relação cotidiana direta dos cidadãos com o Estado (LISTHAUG, 1998). Finalmente, o quarto conjunto é composto de uma única questão com avaliação múltipla de itens que avalia o desempenho de instituições públicas e privadas. Dimensionar a capacidade das instituições exercerem sua função de intermediários entre os cidadãos e o sistema é central para avaliar o desempenho do regime.

A distribuição simples dos dados para essas variáveis mostra uma percepção crítica majoritariamente negativa sobre quase todos os fatores indagados nas 13 questões selecionadas (Tabela 6). Apesar da preferência majoritária pela democracia, observada nas medidas normativas sobre o regime analisadas no item anterior, os cidadãos são insatisfeitos e críticos sobre o seu funcionamento no país: apenas 21% são satisfeitos com a democracia, mais de 70% consideram que a democracia brasileira tem grandes problemas, e pouco mais de 55% consideram que as eleições são limpas. Este último é um dado a destacar, afinal, nessa variável reside grande parte da legitimidade do sistema. A percepção negativa atinge a avaliação da atuação de boa parte das instituições, notadamente o Congresso, os partidos e as leis do país. Destacam-se as avaliações positivas das instituições privadas, como a Igreja e a televisão mas, sobretudo, cabe salientar a percepção positiva da atuação das Forças Armadas, com mais de 75%. É fato que ao longo dos 21 anos de democratização, as Forças Armadas foram desvinculadas da política e associadas aos temas ligados à gestão da segurança e defesa no mapa de referências dos cidadãos; mesmo assim, com um passado relativamente recente marcado pela ditadura militar, é curiosa a sua posição no conjunto de instituições avaliadas positivamente.

Com relação à economia, a percepção sobre seu desempenho é positiva em geral, e destacam-se as perspectivas otimistas declaradas tanto com relação à situação geral do país, quanto à situação pessoal, assim como a avaliação positiva retrospectiva. Finalmente, a avaliação positiva dos serviços públicos indica um déficit importante das respostas do estado frente às demandas da gestão do cotidiano dos cidadãos, com boa parte das avaliações positivas menores que 50%.

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Também buscamos entender a articulação dessas variáveis na composição do construto do desempenho do regime, e procedemos novamente com a análise multidimensional. O resultado está exposto na Tabela 7.

Tabela 6. Variáveis de avaliação do desempenho do regime

Como considera a democracia no Brasil O Brasil é uma democracia plena 4.5% Uma democracia com pequenos problemas 18,9 Uma democracia com grandes problemas 70.9 O Brasil não é uma democracia 5.7

Como considera as eleições no Brasil Eleições são limpas 55.1

Eleições são objeto de fraude 44.9 Satisfação com funcionamento da democracia no

país

(muito satisfeito+satisfeito) 21.2

Avaliação da economia no governo Lula comparada ao período anterior

(melhor) 51.1

Avaliação da economia do país hoje (boa+muito boa) 42.7

Avaliação de economia do país daqui a um ano (muito melhor + pouco melhor) 70.1

Situação econômica pessoal e da família (boa+muito boa) 49.3

Situação econômica pessoal e da família daqui a um ano

(muito melhor + pouco melhor) 78.5 Situação econômica pessoal e da família

comparada há 10 anos atras

(melhorou muito + melhorou um pouco) 71.8

Capacidade do salário suficiente 38.7

Avaliação Partidos (ótima+boa) 19.3

Avaliação Congresso 28.9

Avaliação Igreja 88.0

Avaliação Forças Armadas 75.1

Avaliação Polícia 43.6

Avaliação Poder Judiciário 50.9

Avaliação emissoras de TV 78.5 Avaliação Sindicatos 44.7 Avaliação Empresários 37.9 Avaliação Governo 40.2 Avaliação Presidente 49.7 Avaliação Bombeiros 93.4

Avaliação Leis do país 35.9

Avaliação governo Presidente Lula (bom+muito bom) 49.5

Avaliação serviços Habitação (bom+ótimo) 44.2

Avaliação serviços Polícia 38.5

Avaliação serviços saúde 34.8

Avaliação serviços educação 49.0

Avaliação serviços transporte 50.7

Avaliação serviços seguro-desemprego 53.1

Avaliação serviços saneamento 39.2

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Encontramos uma solução com 6 fatores, que mostram que a avaliação do desempenho do sistema democrático depende, primeiramente, da avaliação das instituições que embasam o regime, que compõem exclusivamente o Fator 1, e da avaliação dos serviços públicos, que compõe exclusivamente o Fator 2. Este cenário indica que para os cidadãos a capacidade de gestão do sistema é avaliada segundo a gestão pública do cotidiano e as referências institucionais que conduzem o governo e a representação de interesses.

Neste conjunto de instituições do Fator 1 não figuram as Forças Armadas, que apenas aparecerão no Fator 4, o que sugere um efeito importante na formação das referências institucionais para o funcionamento efetivo do sistema democrático. Figura juntamente neste fator a avaliação dos bombeiros, indicando que se forma aqui uma referencia geral de avaliação institucional associada à segurança. Do total de instituições avaliadas, não figuram em toda a matriz a ‘Igreja’, a ‘Televisão’ e as ‘leis do país’. No Fator 3 estão as variáveis de maior carga de toda a matriz (maiores que 0.8) e tratam da avaliação do presidente e da economia do país, tanto retrospectiva quanto prospectiva, sendo que a dimensão econômica pessoal emerge em 2 questões apenas no Fator 5. A disposição dessas variáveis e a força de seu efeito sugerem a estreita vinculação das percepções sociotrópicas sobre a economia na percepção do desempenho político. Finalmente, apenas no 6º fator emergem as questões que medem a satisfação com a democracia e avaliam seu desempenho através dos processos eleitorais e dos problemas percebidos no país, A capacidade explicativa total do modelo elaborado, de α= 53,5%, está concentrada sobretudo nos 3 primeiros fatores (α=36,8%), que definem o desempenho do regime segundo os conjuntos de variáveis que agregam a avaliação da atuação de instituições, o desempenho dos serviços públicos, e a avaliação geral da economia, associada ao governo do momento. Esses dados sugerem a presença de um entendimento razoável das bases de funcionamento do sistema, em que as instituições e a gestão pública têm papel central. Entretanto, também sugerem que essas medidas têm primazia sobre a própria percepção da eficácia democrática, traduzida aqui na percepção dos processos eleitorais e na completude do regime.

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Tabela 7. Dimensões do desempenho do regime

BREVES CONCLUSÕES

Que papel têm as instituições representativas na constituição do apoio de massa à democracia no Brasil? Levando-se em conta os resultados de nossas analises, esse papel é menor do que as teorias sobre a democracia representativa apontariam. Vimos que o apoio político ao regime, repetindo resultados de estudo sobre período anterior, emerge associado à dinâmica eleitoral e ao voto e, embora as referências normativas relativas aos partidos e ao Congresso

1 2 3 4 5 6

Aval. Poder Judiciário ,579

Aval. Polícia ,593

Aval. Congresso Nacional ,749

Aval. Partidos ,708

Aval. Sindicatos ,601

Aval. Empresas ,687

Aval. Governo ,667

aval. serviços públicos- habitação ,634

aval. serviços públicos -polícia ,570

aval. serviços públicos -saúde ,753

aval. serviços públicos –educação ,724

aval. serviços públicos transporte ,719

aval. serviços públicos – seguro-desemprego ,598

aval. serviços públicos – saneamento ,653

aval. serviços públicos – previdência social ,658

Avaliação governo Lula ,813

Aval. economia no governo Lula comparada ,811

Aval. Situação economica atual ,660

Expectativa sobre situação econômica do país ,601

Aval. Presidente ,640

Aval. Forças Armadas ,626

Aval. Bombeiros ,608

Aval. Situação econômica pessoal e familiar ,792

Aval. Capacidade do salário ,761

Satisfação com democracia no país ,629

Brasil é plena democracia ou democracia com problemas

,660

Eleições brasileiras são limpas ou fraudulentas ,596

Variância explicada 13.4% 12.8% 10.7% 6.2% 5.7% 4.8%

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constituam parte do entendimento sobre o funcionamento do regime democrático, elas não se articulam diretamente às medidas de eficácia e de atuação no sistema.

A comparação entre períodos de situações políticas diversas tem efeito relativo sobre o construto normativo do apoio ao regime. Provavelmente devido ao processo bem sucedido de implantação de mecanismos e procedimentos para o funcionamento democrático desenvolvido ao longo de mais de 20 anos no país, bem como da conquista de patamares positivos de crescimento econômico, efetivamente percebidos pela população, a comparação entre a situação presente e o regime autoritário terminado em 1985 perde força como referência para constituir a preferência e o apoio político à democracia, uma situação distinta do que se observou nas novas democracias no Leste Europeu no inicio dos anos 1990. No caso brasileiro, as percepções sobre o governo do momento nas várias dimensões analisadas constituem a principal referência para avaliação do desempenho do regime, o que por sua vez, condicionam em parte o apoio geral à democracia.

Embora as instituições representativas ocupem um terreno menos articulado às noções de apoio ao regime democrático, a avaliação das instituições em geral, incluindo partidos e congresso, tem papel primordial para o entendimento do desempenho do regime. As percepções sobre sua atuação, bem como da atuação do estado através da execução dos serviços públicos, são as principais dimensões constitutivas da satisfação com o desempenho do sistema.

Ainda sobre a satisfação com o desempenho da democracia, os dados sobre os efeitos da dimensão da economia devem ser ressaltados. A variável de avaliação da situação econômica do país tem presença permanente no mapa de referências sobre o sistema. Não se trata de referendar a relação unívoca que define o apoio político como resultante de considerações econômicas, mas sim, de levar em conta o peso central que essa dimensão tem na formação de posicionamentos sobre a política e sobre o apoio ao sistema em geral. É plausível sugerir que, de fato, as políticas econômicas do período democrático, em especifico, as mudanças promovidas pelo Plano Real exerceram um ‘efeito politizador’ sobre os posicionamentos políticos dos cidadãos, observados ao menos até 2006.

A aplicação de conceitos e a busca de referências valorativas em uma pesquisa específica em determinado período tem suas conclusões condicionadas às circunstâncias de sua realização (ROSE, 2007). A pesquisa de 2006 foi realizada pouco antes do início da campanha para as eleições gerais daquele ano, e o apoio ao governo do momento _ o primeiro governo Lula_ , marcado por altos índices de popularidade e com perspectivas sólidas de reeleição, constituiu um pano de fundo importante para as referências sobre o funcionamento do sistema em geral. Os achados desta análise devem observados à luz dos condicionantes daquele momento.

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Anexo 1

Tabela 1. Valores sobre aspectos do sistema representativo e o presença dos militares Survey _As Eleições Brasileiras de 1982, IDESP

Obs: Pesquisa coordenada pelo IDESP (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo) nas eleições de 1982_ survey realizado em 7 capitais estaduais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza). Banco de Dados do CESOP: IDE/cap82_02603. Ver ainda Souza e Dentzien, 1983.

Uns dizem que: a melhor solução para o Brasil é o próximo presidente, que vai ser eleito em 1985, pelo povo, em voto direto. Outros dizem que: a melhor solução para o Brasil é a eleição indireta do presidente da República pelo Congresso. Qual é a sua opinião?

1 Concorda mais com o voto direto 80%

2 Concorda mais com o voto indireto 17.8

3. Discorda de ambas

2,2

Gostaria de saber sua opinião sobre a atuação do Congresso, isto é, dos deputados e senadores. O Sr.(a) acha que eles deveriam ter mais poder do que tem atualmente, que deve ficar como está ou que deveriam ter menos poder?

1 Deveriam ter mais poder 53.1

2 Deve ficar como está 37.4

3 Deveriam ter menos poder 7.1

4 Outras respostas 2.4

Se o voto não fosse obrigatório, o Sr. votaria assim mesmo ou não votaria?

1 Votaria 61.3

2 Não votaria 38.7

Uns dizem que: as discussões e os debates entre os partidos são inúteis, e que os partidos fazem mais mal do que bem ao país. Outros acham que: as discussões entre os partidos ajudam o povo a compreender muitos problemas e que portanto prestam um bom serviço ao país. Qual é a sua opinião?"

1. Concorda mais que os partidos são inúteis

27.2

2 Concorda mais que os partidos prestam bom serviço

65.8

3 Discorda de ambas 7.0

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Anexo 2. Questões utilizadas nas análises multidimensionais

1) Modelo 1- Apoio à democracia

1. O Sr(a) concorda ou discorda com a seguinte afirmação: A democracia pode ter problemas, mas é o melhor sistema de governo. o Sr(a) concorda ou discorda?

2. Gostaria que o Sr(a) me dissesse com qual dessas três afirmações o Sr(a) concorda mais a) A democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo.

b) Em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático.

c) Tanto faz se o governo é uma democracia ou uma ditadura.

3. Tem gente que acha que sem partidos políticos não pode haver democracia, outras pessoas acham que a democracia pode funcionar sem partidos políticos. O que você acha?

a) Sem partidos não pode haver democracia b) A democracia pode funcionar sem partidos 4.O que é melhor, um presidente da República que...?

a) Seja identificado com um partido político ou b)Um presidente que não dê importância para os partidos

5.. Na sua opinião, os partidos políticos são a)Indispensáveis à democracia

b)Só servem para dividir as pessoas c)Outras respostas

6. O Congresso Nacional é formado por deputados federais e senadores eleitos pelo povo. Tem gente que acha que sem Congresso Nacional não pode ter democracia, enquanto outras pessoas acham a) Sem Congresso Nacional não pode haver democracia

b) A democracia pode funcionar sem Congresso Nacional

7.. Você acha que o Brasil precisa do Congresso Nacional, isto é, da Câmara de Deputados e do Senado, ou nós poderíamos passar bem sem ele? a) O país precisa da Câmara dos Deputados e do Senado

b) Poderíamos passar bem sem a Câmara de Deputados e Senado

8) Se o voto não fosse obrigatório, você votaria nas próximas eleições para Presidente da República?

Sim Não

9.. Você acha que:

1 A maneira como as pessoas votam pode fazer com que as coisas

2 Não importa como as pessoas votam, não fará com que as coisa

2) Modelo 2 _ Apoio à democracia (questões adicionais)

1) Na sua opinião, o presidente Lula está fazendo um governo: 1 Muito bom 2 Bom 3 Regular 4 Ruim 5 Muito Ruim

2) E quanto à situação econômica do Brasil no governo Lula - desde janeiro de 2003 - Você diria que a situação econômica do país melhorou, piorou ou ficou igual ao que era antes?

1 Melhorou 2 Ficou igual 3 Piorou

3)E durante o governo FERNANDO HENRIQUE - entre janeiro de 1994 e dezembro de 2002 - Você diria que a situação econômica do país melhorou, piorou ou ficou igual em relação ao que era antes? 4) E em comparação com os últimos 10 anos dos governos militares, no tempo dos generais Geisel e Figueiredo, Você diria que a situação econômica atual ... ao que era antes?

5) Falando dos direitos humanos, a situação, durante o governo de FERNANDO HENRIQUE ... em relação ao que era antes?

6) E no governo de Lula, você diria que a situação dos direitos humanos ... em relação ao que era antes?

7) E em comparação com os últimos 10 anos dos governos militares no tempo do generais Geisel e Figueiredo, a situação atual dos direitos humanos no Brasil ...:

8) Falando de corrupção e tráfico de influência: No governo FERNANDO HENRIQUE essas coisas ... ao que era antes?

9)E no governo Lula, falando de corrupção e tráfico de influência, as coisas ... ao que era antes?

era antes?

10) E em comparação com os últimos 10 anos dos governos militares no tempo dos generais Geisel e Figueiredo, à corrupção e tráfico de influência, as coisas ... ao que era antes?

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3) Modelo sobre avaliação do desempenho democrático

1) Você diria que está muito satisfeito, satisfeito, pouco satisfeito ou nada satisfeito com o funcionamento da democracia no Brasil?

2) Como você acha a democracia no Brasil? uma democracia plena, uma democracia com pequenos problemas, uma democracia com grandes problemas, ou o Brasil não é uma democracia1 O Brasil é uma democracia plena

a) Uma democracia com pequenos problemas b) Uma democracia com grandes problemas c) O Brasil não é uma democracia

d) Não sei o que é uma democracia

3) Na sua opinião, o presidente Lula está fazendo um governo: 1 Muito bom 2 Bom 3 Regular 4 Ruim 5 Muito Ruim

4) E quanto à situação econômica do Brasil no governo Lula - desde janeiro de 2003 - Você diria que a situação econômica do país melhorou, piorou ou ficou igual ao que era antes?

1 Melhorou 2 Ficou igual 3 Piorou

5) Você acredita que as eleições no Brasil são limpas ou são objeto de fraude?

1 As eleições são limpas 2 São objetos de fraude

6) Como você avalia a situação econômica do país hoje? 1 Muito boa 2 Boa 3 Regular 4 Ruim 5 Muito Ruim

7) E no próximo ano, a situação econômica do país será: 1 Muito melhor 2 Um pouco melhor 3 Igual 4 Um pouco pior 5 Muito pior

8) A sua situação econômica atual e a de sua família é:

1 Muito boa

3 Regular 4 Ruim 5 Muito Ruim

9) E nos próximos 12 meses, você acha que a sua situação econômica e da sua família será ... que a situação econômica que vocês tem hoje?

1 Muito melhor 2 Um pouco melhor 3 Igual

4 Um pouco pior 5 Muito pior

10)Pensando em sua situação econômica de hoje e comparada com a de 10 anos atrás, você diria que ela ... em relação ao resto dos brasileiros?

1 Melhorou muito 2 Melhorou um pouco 3 Permaneceu igual 4 Piorou um pouco 5 Piorou muito

11) O salário que você ganha e o total de rendimentos de sua família lhe permite cobrir satisfatoriamente suas necessidades? Por favor, me indique em qual das seguintes situações Você se encontra?

1 É suficiente, permite economizar

2 É suficiente, não tenho grandes dificuldades 3 Não é suficiente, tenho dificuldades

4 Não é suficiente, tenho grandes dificuldades 12)Como você avalia os serviços públicos do pais em ao relação serviço de (...) Você acha que é: Habitação Saúde Transportes Polícia Educação Seguro-desemprego Esgoto e saneamento Previdência social

13) Gostaria que você avaliasse a atuação de cada uma das seguintes instituições

Igreja Forças armadas Poder judiciário Polícia Congresso Nacional Partidos políticos Televisão Sindicatos Empresários Governo Presidente Bombeiros

Referências

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