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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Academic year: 2021

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RSE nº 0020580-32.2012.8.19.0000 (2ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 1 de 9

SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 0020580-32.2012.8.19.0000 ORIGEM: 19ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO

RECORRIDA: MARLA DOS SANTOS MELO

RELATOR: DES. CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME CONTRA O REGISTRO DE MARCA. ARTIGO 190, I, DA LEI Nº 9.279/96. DELITO QUE SE PROCEDE MEDIANTE QUEIXA. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM DEFLAGRAR A AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA QUE SE IM-PÕE. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

1. Recorrida que expôs à venda uma camisa com a eti-queta da marca “KYLHA”, ostentando um desenho se-melhante ao logotipo da marca “OSKLEN”, o que moti-vou o Parquet a oferecer denúncia com base no artigo 7°, VII, da Lei nº 8.137/ 90, que tutela as relações d e consumo.

2. A MMª Juíza considerou que os fatos imputados à acusada se amoldam ao tipo previsto no artigo 190, I, da Lei n° 9.279/96, cuja ação penal se procede median -te queixa, conforme o artigo 199 do aludido diploma le-gal.

3. Diante da ilegitimidade do Ministério Público para de-flagrar a ação penal de iniciativa privada, a denúncia foi rejeitada.

4. Em que pese a possibilidade de o consumidor ser eventualmente prejudicado com a exposição de tais produtos, indubitavelmente a conduta descrita na de-núncia atenta sobremaneira contra a propriedade indus-trial.

5. A própria detentora exclusiva dos direitos sobre o lo-gotipo da marca OSKLEN, a sociedade empresária “Terras de Aventura Indústria de Artigos Esportivos Lt-da”, comprova que já havia procedido ao registro do

re-CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR:000031934 Assinado em 28/01/2014 18:23:50

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ferido sinal no Instituto Nacional de Propriedade Indus-trial - INPI, bem como na Fundação Biblioteca Nacional. 6. Ao se submeter ao processo de industrialização, o logotipo OSKLEN passou a ostentar a qualidade de marca, espécie de propriedade industrial.

7. Com a exposição ou venda das camisas com um lo-gotipo similar ao da marca registrada, a maior prejudi-cada é a sociedade empresária detentora dos direitos exclusivos sobre a propriedade, cujo interesse particular se sobreleva ao do consumidor.

8. Ademais, como leciona JOSÉ GERALDO BRITO FI-LOMENO, no delito previsto no artigo 7º, VII, da Lei nº 8.137/90, “tem-se em conta o consumidor individual-mente considerado, e desde que tenha sido induzido em erro pela publicidade enganosa ou qualquer outro meio de comunicação”.

9. No caso vertente, o Ministério Público nem sequer ar-rolou um consumidor que tivesse sido prejudicado com a suposta conduta da recorrida, não havendo, pois, su-jeito passivo no tipo penal imputado pelo Parquet.

10. Fatos narrados na exordial acusatória que se sub-somem ao tipo previsto no artigo 190, I, da Lei n° 9.279/96, cuja ação penal se procede mediante queixa, o que impõe a rejeição da denúncia com fulcro no artigo 395, II, do Código de Processo Penal.

RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Re-curso em Sentido Estrito nº 0020580-32.2012.8.19.0000, em que figura como Recorrente o Ministério Público e como Recorrida Marla dos Santos Melo.

Acordam os Desembargadores que integram a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em negar provimento ao recurso ministe-rial, nos termos do voto do Relator.

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RELATÓRIO

Cuida-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo Ministério Público (e-doc 046), contra decisão da MM Juíza da 19ª Vara Criminal da Comarca da Capital (e-docs. 036 a 040), que rejeitou a denúncia oferecida em face de Marla dos Santos Melo, pela suposta prática do crime previsto no artigo 7°, VII , da Lei nº 8.137/ 90, ao asserto de que os fatos narrados na peça inicial acusatória não se subsomem à qualificação penal atribuída pelo Parquet, mas sim ao artigo 190, I, da Lei n°9.279/96, cuja ação penal s e procede mediante queixa.

Diante da ilegitimidade do Ministério Público para deflagrar a ação penal de iniciativa privada, a denúncia foi rejeitada com base no artigo 395, II, do Código de Processo Penal.

Em suas razões, alega o Parquet, em síntese, que os fatos relatados de modo expresso na denúncia se amoldariam ao tipo penal previsto no artigo 7°, VII, da Lei nº 8. 137/90, em face do “flagrante desrespeito às normas reguladoras da relação de

consumo”.

Aduz “que o produto exposto à venda poderia

facilmente induzir o consumidor a erro em virtude de afirmação falsa e enganosa acerca da qualidade e da natureza do bem”.

Assevera ainda o Órgão Recorrente que o material apreendido “ostenta desenho de brasão que faz referência a marca

OSKLEN, a qual teve o seu direito autoral violado, vez que reproduzido sem sua autorização, portanto, de modo ilegal”.

Por derradeiro, pugna pela reforma do decisum ora recorrido, a fim de que os fatos imputados à acusada sejam classifi-cados nos termos da denúncia, determinando-se, por conseguinte, o seu recebimento.

Contrarrazões ao presente recurso (e-docs. 063 a 067), em prestígio à decisão hostilizada.

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Em sede de juízo de retração, a decisão impugnada foi mantida por seus próprios fundamentos (e-doc 084).

A douta Procuradora de Justiça, Drª Paula Mello Chagas, opinou pelo desprovimento do recurso (e-doc 087).

É o relatório. Passo a decidir.

Segundo se infere da exordial acusatória, a recorri-da, de forma livre e consciente e no exercício de atividade comercial, expôs à venda uma camisa com a etiqueta da marca “KYLHA”, osten-tando um desenho semelhante ao logotipo da marca “OSKLEN”, o que induziria em erro os consumidores. Confira-se:

[...].

Em data que não se pode ao certo precisar, mas, no ano de 2011, na Rua Uruguaiana 0, Quadra "D", Box 99, "Camelódro-mo", Centro/RJ, a denunciada, de forma livre e consciente, no exercício de atividade comercial, induziu os consumidores a er-ro por via de indicação falsa sobre a qualidade de bem, utili-zando-se da boa-fé daqueles, bem como do prestígio e credibi-lidade da marca OSKLEN, para expor a venda e vender, uma camisa ostentando o logotipo da marca KYLHA desenho seme-lhante ao da marca OSKLEN ("BRASÃO") (laudo de exame de material n° 12421).

[...].

Por essa razão, concluiu o Parquet que a recorrida teria praticado o delito previsto no artigo 7º, VII, da Lei nº 8.137/90, in

expressi verbis:

Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: [...].

VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indi-cação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer mei-o, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária;

Em 02 de setembro de 2011, a douta magistrada considerou que os fatos imputados à acusada se amoldam ao tipo

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previsto no artigo 190, I, da Lei n°9.279/96, cuja ação penal se procede mediante queixa, o que motivou a rejeição da denúncia pela ilegitimi-dade do Ministério Público.

Assim dispõe o aludido artigo da lei que regula os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial:

Art. 190. Comete crime contra registro de marca quem im-porta, exim-porta, vende, oferece ou expõe à venda, oculta ou tem em estoque:

I - produto assinalado com marca ilicitamente reproduzida ou imitada, de outrem, no todo ou em parte;

Ademais, reza o artigo 199 da referida norma, que “nos crimes previstos neste Título somente se procede mediante queixa, salvo quanto ao crime do art. 191, em que a ação penal será pública”.

Com isso, percebe-se a instauração de um conflito aparente de normas, em que o Parquet pugna pela aplicação de uma regra protetora das relações de consumo, em detrimento do entendi-mento da MM Juíza, que considera aplicável à hipótese uma norma que tutela a propriedade industrial.

Não assiste razão ao Órgão Recorrente.

Em que pese a possibilidade de o consumidor ser eventualmente prejudicado com a exposição de tais produtos, indubi-tavelmente a conduta descrita na denúncia atenta sobremaneira con-tra a propriedade industrial.

A própria detentora exclusiva dos direitos sobre o logotipo da marca OSKLEN, a sociedade empresária “Terras de Aven-tura Indústria de Artigos Esportivos Ltda”, comprova que já havia pro-cedido ao registro do referido sinal no Instituto Nacional de Proprieda-de Industrial - INPI, bem como na Fundação Biblioteca Nacional.

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Portanto, ao se submeter ao processo de industria-lização, o logotipo OSKLEN passou a ostentar a qualidade de marca, espécie de propriedade industrial.

Com a exposição ou venda das camisas com um logotipo similar ao da marca registrada, a maior prejudicada é a soci-edade empresária detentora dos direitos exclusivos sobre a proprie-dade, cujo interesse particular se sobreleva ao do consumidor.

Confiram-se sobre o tema os seguintes arestos do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

OITAVA CÂMARA CRIMINAL. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 2009.050.02623. APELANTE: FRANCISCA TAVARES DE ARAUJO. APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO. ORIGEM: JUÍZO DA 16ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA CAPI-TAL. RELATOR: DES. MARCUS QUARESMA FERRAZ.

Violação de direito autoral. Artigo 184, § 2º, do Código Pe-nal. Condenação. Pena: 2 anos de reclusão e 10 dias-multa, na razão unitária mínima. Regime aberto. Substituição na forma do artigo 44 do Código Penal. Apelo defensivo pleite-ando a absolvição, sustentpleite-ando que a ré não tinha consciên-cia de que as mercadorias eram falsificadas, e, subsidiaria-mente, a fixação da pena no mínimo legal. A ré foi condena-da porque vendia em seu comércio 2 bolsas Louis Vuitton e 21 relógios Louis Vuitton, Christian Dior, Adidas, Fendi, Guc-ci, Chanel e Calvin Klein contrafeitos, tendo o laudo compro-vado várias características divergentes entre o material falsi-ficado e o original.Entretanto, tal conduta se subsume ao tipo descrito no artigo 190, inciso I, da Lei nº 9.279/96: "Comete crime contra registro de marca quem importa, exporta, ven-de, oferece ou expõe à venda, oculta ou tem em estoque: I: produto assinalado com marca ilicitamente reproduzida ou imitada, de outrem, no todo ou em parte".Por outro lado, o artigo 199 daquela mesma Lei de Propriedade Industrial dis-põe que a ação penal no crime praticado pela acusada se procede mediante queixa.Apelo provido, anulando-se o pro-cesso desde a denúncia, inclusive, e, diante da decadência do direito de queixa da empresa lesada, extingo a punibili-dade da ré. (0173860-93.2007.8.19.0001 (2009.050.02623) -

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APELAÇÃO. DES. MARCUS QUARESMA FERRAZ - Julgamento: 03/06/2009 - OITAVA CÂMARA CRIMINAL).

Recurso em Sentido Estrito. Rejeição da denuncia nos termos do artigo 43, III, do Código Penal. A denúncia im-puta ao indiciado, que e' "camelo", a prática do delito ti-pificado no artigo 184, par. 2. do Código Penal, sob ale-gação de estar comercializando fitas VHS contrafeitos, quando na verdade existe tipo penal inserido na Lei 9279/96, que trata de propriedade industrial, mais preci-samente dos delitos que são praticados contra registros das marcas. Dispõe o artigo 199, da Lei 9.279/96, ao tratar

das disposições gerais que: "nos crimes previstos nestes tí-tulos somente se procede mediante queixa, salvo quanto ao crime do artigo 191, em que a ação penal será publica. As-sim, o Ministério Publico e' parte ilegítima para a propositura da ação penal nos crimes que envolvem contrafação de marcas que e' justamente o caso destes autos. Recurso im-provido (0101579-47.2004.8.19.0001 (2005.051.00068) - RE-CURSO EM SENTIDO ESTRITO. DES. ALEXANDRE H. VAREL-LA - Julgamento: 03/05/2005 - SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL).

Nesse sentido, convém trazer à colação a seguinte ementa do colendo Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. VENDA NÃO AUTORI-ZADA DE CAMISETAS COM IMAGENS DE PERSONA-GENS INFANTIS. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE DI-REITO AUTORAL. IDEIA JÁ INCORPORADA AO PRO-CESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E REGISTRADA COMO MARCA PELO PROPRIETÁRIO. HIPÓTESE, EM TESE, DE CRIME CONTRA REGISTRO DE MARCA (ART. 190, I DA LEI 9.279/96). [...].

1. O inciso I do art. 190 da Lei 9.279/96 dispõe que respon-derá penalmente o individuo que tiver em estoque produto assinalado com marca ilicitamente reproduzida ou imitada de outrem, ou seja, se for verificada a usurpação de marca já existente. Para a configuração do tipo tem-se, portanto, que a marca reproduzida esteja de fato registrada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

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2. Depreende-se pela análise dos autos que os desenhos reproduzidos pelas pacientes foram registrados como marca pelo INPI, classificados como marca mista. Dessa forma, apesar de serem fruto da intelectualidade do seu criador, encontram-se incorporados ao processo de industrialização, sendo aplicável, portanto, o art. 8º da Lei 9.610/98, segundo o qual, não são objeto de proteção como direitos autorais o aproveitamento industrial ou comercial das idéias contidas nas obras.

3. O art. 199 da referida Lei afirma que para a apuração dos crimes previstos naquele Título somente se procede mediante queixa. [...].

4. Por todo o exposto, em consonância com o parecer mi-nisterial, concede-se a ordem, a fim de trancar a Ação Penal proposta em desfavor das pacientes.

(HC 145131/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2010, DJe 15/03/2010).

Por derradeiro, como leciona JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO, no delito previsto no artigo 7º, VII, da Lei nº 8.137/90, “tem-se em conta o consumidor individualmente consi-derado, e desde que tenha sido induzido em erro pela

publicida-de enganosa ou qualquer outro meio publicida-de comunicação” (Código

Brasileiro de Defesa do Consumidor. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Uni-versitária, 2004, p. 706).

No caso vertente, o Ministério Público nem sequer arrolou um consumidor que tivesse sido prejudicado com a suposta conduta da recorrida, não havendo, pois, sujeito passivo no tipo penal imputado pelo Parquet.

Logo, restou incontroverso que os fatos narrados pelo Ministério Público se subsomem ao tipo previsto no artigo 190, I, da Lei n° 9.279/96, cuja ação penal se procede medi ante queixa, o que impõe a rejeição da denúncia com fulcro no artigo 395, II, do Có-digo de Processo Penal.

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Diante do exposto, conheço do recurso e lhe nego provimento.

Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2014.

CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR

Referências

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