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Precisamos de coragem para viver!

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Academic year: 2021

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Editorial

Precisamos de coragem para viver!

Todos precisamos de muita coragem para viver, porque a vida é muito difícil! Sou muito grata por ter vivido até aqui. Embora tivesse passado por muitas dificuldades, consegui superá-las, agradeço a vida que tive!

Rosa (85a)

Janeiro de 2011! Inicia-se um novo ano, não só no calendário, marcado datado – o tempo Cronos – que corre acelerado, e nos mantêm em constante estado de ansiedade e alerta! Sob Pressão! Inicia-se também um novo ano interno que contém todo o tempo passado e as sementes dos tempos futuros – Kairós – tempos vividos e a viver!

Tempo de novos projetos, realização de desejos... Quantos planos fazemos a cada novo ano! Como cumprir, pelo menos parte deles?

Talvez instaurando um “novo tempo” que consiga equilibrar a velocidade externa com a necessária “calma” interna. Muitos dirão – Impossível!

Ousamos sugerir – Por que não? Vamos tentar?

Neste “novo tempo” poderemos pensar em necessárias transformações pessoais e sociais! Diante de tantas mudanças qual é nosso papel e nossa responsabilidade para esse novo tempo de melhor qualidade? Menos pressão, menos cobranças, menos preconceitos, menos consumo...

Mais solidariedade, mais ação, menos expectativas em relação aos outros, ao status. Pensar naquilo que realmente necessitamos! Pés no chão!

E nos vem à mente uma frase do escritor José Saramago: “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir” (1998:237).

Ela traduz, de forma clara, o objetivo que temos buscado alcançar nestes muitos anos de atuação na área Gerontológica – ação responsável!

Objetivo que nos guiou também na implementação da REVISTA PORTAL de Divulgação que alcança neste mês de janeiro o seu sexto número. Em seu primeiro Editorial (agosto, 2010) afirmamos a Revista como:

“Um espaço virtual destinado à divulgação sobre o que se está pensando, fazendo e pesquisando sobre o envelhecimento, a velhice e a longevidade, a

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viver esta etapa da existência humana, sempre na perspectiva do ser que envelhece. Como seu caráter é de divulgação, seus artigos são mais simples, curtos e de maior entendimento à população em geral. Pretende ser um ótimo veículo de comunicação e dar voz às práticas sociais e pesquisas, sem a aridez das revistas técnicocientíficas”.

Essa responsabilidade de informação democrática é uma realidade que fundamentou e se concretizou, inicialmente, com a implantação do Portal do Envelhecimento, e que agora se amplia com a REVISTA PORTAL de Divulgação. Nela a proposição do Editorial nº 4 (novembro 2010) É urgente construir uma cultura da longevidade chama a todos e reforça o compromisso e responsabilidade individual e coletiva na busca, por meio da informação e formação continuada, por ações construtivas para vida longa e equilibrada. Neste contexto temos publicado interessantes e esclarecedores artigos na área da odontogeriatria, uma especialidade ainda pouco conhecida pela maior parte das pessoas, e que tem um papel fundamental na busca de um envelhecimento de qualidade, mesmo em fases de perdas muito acentuadas, como nos descreve o artigo Doença de Alzheimer: características e orientações em Odontologia.

Quando abordamos o tema envelhecimento e longevidade, ou seja, os muitos anos que se anunciam depois dos 60 – idade legal para a mudança de status – os medos relativos às futuras e invitáveis perdas, naturais ao processo de envelhecimento, se mostram de muitas e variadas maneiras, sendo que um dos maiores “fantasmas” é a doença de Alzheimer, ainda de diagnóstico difícil e controverso, e sem cura, que impacta, no mais das vezes de forma dramática, o próprio idoso, seus familiares e cuidadores.

Muitos são os que buscam “rotas de fuga” ante as perdas, incluindo a da “beleza”, como nos indica o artigo A relação entre o envelhecer e a demanda pela beleza jovial dificultando a velhice. Nele as autoras buscam explicitar qual o conceito de beleza que prevalece em nossa sociedade - “menor porcentagem de gordura corporal possível, nádegas e seios grandes e empinados, músculos definidos, pele bronzeada, lábios grossos, ausência de celulite, de estrias, de qualquer mancha ou espinha na pele (por menores que sejam), e de qualquer característica que denote idade, como rugas, vincos no rosto, marcas de expressão e flacidez”.

Um corpo perfeito! Corpo virtual! Sabemos que este “ideal” não é atingido, mesmo pelas pessoas mais jovens, mas é neste espelho que se reflete toda a sociedade atual, incluindo os indivíduos mais velhos!

Esse estudo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada com profissionais da área da estética e que tinha por objetivo “demonstrar o retrato do medo da velhice” como descrito por esses profissionais. Os resultados devem servir de base para uma ampla reflexão sobre os valores a serem amplamente cultivados, buscando, especialmente na fase do envelhecimento,

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outra beleza, para além da aparência física com uma estética “jovem”, de consumo.

Os valores para o “bem viver” amplo, incluem cuidados com a saúde física e emocional que se refletem no corpo – nossa casa, para além de sua materialidade. Esses valores, que ultrapassam a simples aparência, podem ser desenvolvidos nas redes de relacionamentos solidários, promotoras do convívio, partilhas, (re) conhecimentos, alcançados, entre outros, por meio das atividades de lazer, resultado indicado no estudo O que pensam os idosos frequentadores do Centro de Atenção Integral a Saúde do Idoso (CAISI) em São Luís (MA) sobre o lazer, tendo como exemplo a frase de um dos depoentes “Melhoram nosso corpo como um todo, cabeça, corpo e alma”. O ideal do “bem viver”, para a maior parte dos idosos, implica em vida independente e, preferencialmente, com apoio afetivo da família, lugar nobre para o desenvolvimento dos contatos intergeracionais - momentos de trocas fundamentais para a manutenção dos vínculos fundantes das identidades e historicidades dos sujeitos. No entanto, outros espaços se mostram propícios para o estabelecimento destes laços, na perspectiva da inclusão e de uma aprendizagem ao longo da vida – todos tem o que ensinar, todos tem o que aprender – como se verifica no interessante relato Intergeracionalidade e a construção do conhecimento.

As autoras relatam uma experiência, comemorativa ao dia do idoso, no qual foram discutidos dois documentos importantes – os idosos tiveram oportunidade de conhecer o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, e as crianças, por meio de uma atividade lúdica, o Estatuto do Idoso. Afirmam que: “É nessa troca inter-relacional e intergeracional, em que os conhecimentos são partilhados, que a aprendizagem acontece”.

Este é um conceito e um exemplo a ser difundido e multiplicado, pois na maior parte das vezes o ideal do “envelhecimento digno” e do “bem viver” parece uma utopia, ou mais um sonho! Sabemos das muitas dificuldades, para uma grande parcela dessa população, para assim viver.

Fatores financeiros, de estrutura familiar, fragilidades psicofísicas e sociais impedem a realização deste “sonho”, e o oposto deste “ideal” é um pesadelo – o asilamento!

Se o idoso já está concretamente à margem da sociedade, a exclusão se completa no “não-lugar” oficial – o asilo! O imaginário social está repleto de relatos e cenas cultivadas ao longo da história – o asilo como lugar de velhos e loucos - o que torna o artigo Asilamento justificado: Inclusão de velhos surdos e deficientes auditivos, uma exceção instigante, pois traz outra visão desta realidade com o estudo de um caso específico. Este é também exemplo das muitas faces do viver e envelhecer, sempre nos alertando para o equívoco das definições e ações generalizadoras.

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Após interessante e esclarecedora abordagem sobre o tema exclusão, as autoras abordam os “duplamente excluídos’ trazendo os depoimentos de pessoas idosas surdas e deficientes auditivas que vêem de forma positiva o asilamento como “um espaço exclusivo para viverem suas velhices”, expresso nas palavras de R.F (76a):

“Na necessidade de uma casa de repouso para deficientes auditivos, o problema de idosos surdos que não entendem a comunicação com idosos ouvintes”.

São muitas as formas de viver e envelhecer. Não existem receitas para viver bem a longevidade. Existem muitas “prescrições”: alimentação balanceada; atividades físicas regulares; convívio familiar adequado (o que será isto?); atividades de lazer também regulares; nada de fumo, álcool e drogas. Perfeito! Quem consegue atingir tantas e tão “puras’ metas? Não somos contra elas! Também as buscamos no nosso cotidiano, e parece tão fácil...Mas não é! Como afastar todo “o mal” colocado na transgressão destas ‘regras e ouro”? O que explica que alguns mais “comportados” tenham sérios problemas de saúde, financeiros e familiares, e outros mais “desviantes” vivam bem, sem maiores problemas? Existe um segredo?

A leitura de Será possível pensar na resiliência como processo de viver melhor a finitude? pode trazer pontos importantes de reflexão. As autoras, baseadas em 4 narrativas e na análise de dois depoimentos autobiográficos buscaram neles “a resistência aos problemas e como construíram o seguimento da vida”. Surge a partir deste estudo o conceito de resiliência “como conjunto de vínculos construídos pelas pessoas no decorrer da vida que ajuda a ultrapassar as grandes dificuldades”. Como mostram os depoimentos, a resiliência se traduz na capacidade de enfretamento e superação das inúmeras dificuldades que se apresentam ao longo da vida mantendo uma contínua vontade de apreender -: “Tive coragem de vencer, tudo neste mundo tem razão de ser e estar”. (Caboclo, 85 a.)

Resiliência que inclui o enfretamento da finitude, como no depoimento de Rosa, que abre este Editorial: “Todos precisamos de muita coragem para viver, porque a vida é muito difícil! Sou muito grata por ter vivido até aqui. Embora tivesse passado por muitas dificuldades, consegui superá-las, agradeço a vida que tive!”.

Todos nós precisamos de coragem para viver!!!!”

Deméter e a sua eterna busca pode completar a discussão anterior na medida em que se fala do tempo: que se esgota – o final do ciclo vital próprio a todo ser vivo – mas tendo como metáfora o mito de Deméter “deusa que cuidava da terra fértil, do plantio e da colheita”, que também representa o tempo da

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natureza - cíclico, do eterno retorno. Ela também representa a incessante dor da mãe que perde a filha, raptada por um capricho dos deuses.

Afirma a autora que “Procurar o que está perdido, como Deméter/Hécate, é uma profunda incumbência, especialmente para as pessoas que estão envelhecendo”.

Traz ainda das palavras de Yung a idéia de um “ego forte, capaz de suportar a verdade, capaz de enfrentar o mundo e o destino”.

Seria esta a característica comum denominada resiliência? Idéias inter-relacionadas? Deixamos aos leitores estes pontos à reflexão.

Encerramos este Editorial comemorativo do Novo Ano com um brinde! Um bom copo de vinho tinto!

Bebida que “ao longo de sua história e da história da humanidade, foi a única fonte de conforto e coragem, o único remédio e anti-séptico, o único meio do que o homem dispunha para recuperar o ânimo e superar o cansaço e a tristeza”.

Este é um trecho do interessante relato Vinho e Longevidade. Nele a autora apresenta os seus diferentes usos ao longo da história e seus benefícios, sempre alardeados, e mais recentemente estudados cientificamente, com sua comprovação. Alerta, no entanto, para a questão de limites na sua ingestão. Um pouco faz bem, o excesso faz mal.

Como em tudo, a busca de um saudável equilíbrio, num novo tempo! Como nos ensina o budismo - O caminho do meio!

E, assim, iniciamos este ano com um brinde à saúde e à paz!

Beltrina Côrte e Vera Brandão Editoras

Referências

SARAMAGO, José. Cadernos de Lanzarote. São Paulo: Cia das Letras, 1998 REVISTA PORTAL DE DIVULGAÇÃO. Editorial. Nº 1, agosto. São Paulo. Nº 1, 2010.http://portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php/revistaportal/issue/view/1

As Mais Belas Histórias Budistas – “O Caminho do Meio”. Disponível em:

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