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Pereira, Maria Helena Rocha Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos. URI:

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Academic year: 2021

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[Recensão a] Robert Böhme - Orpheus. Das Alter der Kitharoden

Autor(es):

Pereira, Maria Helena Rocha

Publicado por:

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos

Clássicos

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26268

Accessed :

25-Jul-2021 21:47:28

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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA INSTITUTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

H V M A N I T A S

VOLS. II E III DA N O V A S É R I E (VOLS. V E VI DA SÉRIE CONTÍNUA)

C O I M B R A MCMLIII-IV

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XI

Robert Böhme,

Orpheus, Das Alter des Kitharoden.

Weidmannsche Verlagsbuchhandlung, Berlin, 1953. 140 pp.

Entre os muitos enigmas que nos apresenta a Antiguidade, o orfismo detém, sem dúvida, um lugar proeminente. E porque a sua influência se fez largamente sentir, em religião tanto como na literatura, não esmorece o interesse em dilucidar o problema. O livro que vamos seguidamente analisar é mais uma tentativa nesse sentido, mas urna tentativa que pretende libertar-se de muito do que se tem dito até aqui.

Para o A., a figura de Orfeu teria tido existência histórica, seria o autor de um género de poesia religiosa, cujo continuador foi Terpandro (pág. 84), logo influen- ciado também pela epopeia. Considera-o de origem eólia, baseando־se na indi- cação de Plutarco no De Musica, 5, 1132 F, de que Terpandro imitou Orfeu nos

μέλη e Homero nos επη e na lenda de a cabeça ou a lira do poeta terem vogado para

Lesbos: tudo isso seriam pontos de ligação entre este e a lira eólia (págs. 86, 87, 88). Acresce a estes argumentos a representação da métopa de Delfos, cujo fundo his- tórico é logo analisado na primeira parte do livro (cap. I, págs. 15 a 19).

Para descobrir na literatura grega vestígios do canto de Orfeu (não dos órficos, à maneira de Kern), procura o A. estabelecer o confronto entre Homero e Hesíodo principalmente, em busca de uma fonte comum que a ambos tivesse dado elementos.

As interpolações órficas de Homero são já por demais conhecidas e citadas, para ser necessário aludir a elas. De Hesíodo, porém, crê-se geralmente que o seu texto serviu de base a muito poeta órfico (cf., entre outros, o artigo de M. P. Nilsson,

Early Orphism and Kindred Religious Movements in Harvard Theological Review,

Vol. 28, n.° 3, July 1935). O A. inverte, porém, os dados do problema, apresentando a hipótese de haver restos da poesia de Orfeu em Homero e Hesíodo (assunto, res- pectivamente, dos cap. II e III), para depois induzir, do confronto entre ambos, a fonte comum.

Analisemos primeiramente o caso dos poemas homéricos. O A. vai buscar novamente para a discussão duas notícias tardias acerca da imitação de Orfeu por Homero: a que é dada pelo Ps.-Justino (Kern, fr. 48) e a Exegesis in Iliadem de Tze- tzes, acerca da famosa entrada da Ilíada:

Μήνιν αειδε, Θεά, Πηληϊάδεω Άχιλλήος

considerada como uma imitação de

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Segundo o A., pode deduzir-se do contexto da Ilíada a qual dos versos per- tence a prioridade (pág. 21). Para isso confronta diversas invocações introdutórias de passos destacados da epopeia, confronto esse que nos parece inútil, desde que a tese luminosa de Milman Parry veio esclarecer que as «repetições» homéricas não eram mais do que empregos vários de um formulário necessàriamente inerente à técnica oral (Cf. Milman Parry, Studies in the epic technique of oral verse-making.

I. Homer and the Homeric Style, in Harvard Studies in Classical Philology, Vol. XLI,

1930). Chega assim à conclusão de que o verso inicial da Ilíada é apenas uma adap- tação pouco dextra do começo do antigo hino religioso. Principal entre os argu- mentos apresentados é, a nosso ver, um de ordem linguística: o significado basilar de μήνις, palavra que tem sido últimamente muito discutida.

Declara o A. que o conceito de μήνις como cóler a de um ser humano é estra- nho às chamadas partes antigas da Ilíada, pois só aparece em / 517 e T 35, 75; nou- tros lugares diz-se ερις e χόλος (.Σ 107 seqq.). Pondo de parte o que há de con- troverso nessa questão de passos antigos e de passos mais recentes, bastará consi- derarmos que um derivado de μήνις, o verbo μψίω, surge num verso insuspeito para descrever o estado de espírito de Aquiles (A, 421-2):

άλλα συ μεν νυν νηυσί παρήμενος ώκυπόροισι μήνι יΑχαιοϊαιν, πολέμου (Υ άποπαύεο πάμπαν.

Ora, segundo ο A., o uso de μήνις para designar a cólera de Aquiles, «muss des Onomakritos Werk sein» (pág. 52). O mesmo Onomácrito, trabalhando por dar uma redacção definitiva aos poemas homéricos, por ordem dos Pisístratos, teria assim forjado todo o proémio da Ilíada, à imitação de versos de Orfeu e das Ciprias, para atingir uma maior solenidade religiosa na expressão.

Estranho nps parece admitir que ninguém desse pela alteração. Numa época ־ em que algumas pessoas sabiam de cor toda a Ilíada, não é difícil acreditar que a maior parte dos helenos conhecia pelo menos a entrada do poema, como ainda hoje acontece aos estudantes de grego, e olharia indignada a alteração nesse grande livro do saber nacional. Por outro lado, Alceu, ao cantar num bem conhecido frag- mento (Diehl, Suppl. 10) Aquiles e Tétis, fala em

...τέκεος μανιν.

Se o poeta lésbio é contemporáneo de Sólon ou dos Pisístratos, é também um ponto mais que controverso. Mas, ainda que nos baseemos no testemunho de Heródoto, em V, 95, que o coloca nesta última época, bem podemos admitir que Alceu fora educado no conhecimento da versão antiga dos poemas homéricos, por

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XIII

cuja linguagem não é menos influenciado do que qualquer outro dos grandes vates helénicos.

De passagem, registemos que o A. considera o poema da cólera como um motivo de estruturação posterior («nachträgliches Strukturmotiv», pág. 111). Esta- mos bem longe dos tempos em que se tentava reconstituir o poema primitivo, nuclear, da «Cólera de Aquiles»....

Mas há mais passos atribuídos pelo critério do A. a Onomácrito, sem ser o começo da Ilíada. Um deles é, nem mais nem menos, a Νέκνια de λ\ (1)

Muito se tem escrito acerca da estrutura desse canto da Odisseia, e não é nosso intuito reacender aqui a discussão. Mas não podemos aceitar que o catálogo das heroínas e os versos que é tradicional designar por «interpolação órfica» sejam da mesma origem que o resto da composição. E não são só as conhecidas incongruên- cias de lógica, expressas pela diferença dos verbos empregados (ήλθεν... ïôov), como a própria análise estilística da descrição que disso nos convence.

Porém não é preciso entrar na análise dos problemas da Νέκνια para o caso que nos ocupa. Muitas são as divergências entre os críticos quanto à sua compo- sição, mas todos admitem que a primeira parte, dos versos 1 a 224 (àparte o episódio de Elpenor), tem aquelas características de emoção, grandiosidade, fina observação psicológica, sobriedade descritiva, que são a própria definição da poesia épica na sua mais alta expressão. Por isso V. Bérard chegou ao ponto de excluir tudo o mais do Canto XI, como apócrifo. Ora estas qualidades, que até aqui ninguém negou a esses versos, são incompatíveis com a autoria de Onomácrito, que o pró- prio A. declara não ser um poeta no mais alto sentido da palavra («Dichter im höhe- ren Sinne sind die Onomakritos und Zopyros nicht mehr», pág. 123).

A segunda Νέκνια é atribuída também a Onomácrito (pág. 37, n. 2), o que não contestaríamos, seguindo este último critério. Mas não podemos aceitar tal autoria, desde o momento em que ela seja a mesma da primeira parte de λ.

Entre os versos que o A. usa para as suas comparações, afim de induzir daí uma fonte comum — Orfeu — conta o 427 de A, do qual diz que de modo nenhum pode destacar-se da Νέκνια (pág. 37). Pela nossa parte, somos dos que consideram autêntico o encontro com os heróis, e por isso nada temos a objectar. Mas não nos parece que o facto de haver um conceito similar, expresso por palavras não muito diferentes, em Hesíodo (Erga, 702) e em Simonides de Amorgo (fr. 6) e de Clemente de Alexandria atribuir um verso parecido a Orfeu (Strom. VI, 2, 5, 3) sejam razões suficientes para aceitar a prioridade deste último. Dá-nos antes a impressão de

(1) «...Dass vom Orphikos Onomakritos nicht der eine oder andere Vers in der Nekyia stammt, sondern sie selbst», como se lê a pág. 37.

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X I V

que esse conceito devia ser um daqueles aforismos que eram bem comum de todos os autores.

O mesmo confronto é feito, a propósito de κ 86, com Parmenides (fr. 1) e, Hesiodo (777. 748). Quanto ao verso homérico, ainda que não aceitemos a identi- ficação geográfica proposta por V. Bérard (estreito de Bonifácio), também não pode- mos afirmar com o A. que faz parte do conjunto da paisagem do Hades (pág. 38). Em Parménides, fala־se de dia e de noite com um sentido inteiramente diverso; aí o poeta faz a viagem de uma para a outra região. O passo de Hesíodo, que alguns consideram interpolado, carece de uma discussão especial. Pelo que cremos que seriam necessários argumentos mais fortes para provar esta hipótese.

Igualmente frágeis nos aparecem os que se apontam para o orfismo de Safo (cap. IV). Assim como estranhamos algumas afirmações dispersas pelo livro, como aquela contida na nota 2 da pág. 80, em que se acha uma inesperada comparação de Elêusis com Roma. A história dos começos da Igreya Cristã e a Bíblia são demasiado conhecidas para ser necessário insistir neste ponto.

Além da introdução, o livro contém quatro capítulos, de que já falámos inci- dentalmente (/. Orpheus auf der Metope in Delphi. II. Orpheus und Homer.

III. Orpheus und der Demetermythus. IV. Orpheus und Terpander). Segundo nos

informa o A., em nota preliminar, estas divisões deviam constituir a primeira parte do seu trabalho, cuja sequência não pôde ainda publicar. Em vez dela, acrescen- tou-lhe quatro apêndices, um Zu Homer, outro Zu Hesiod, o terceiro Von Orpheus

zur Orphik e o quarto Zum gros sen Goldring von Mykenä. Neste ultimo interpreta

o famoso anel como uma representação órfica da época micénica, o que é, pelo menos, contestável. O primeiro e o segundo ocupam־se com a enumeração e dis- cussão de passos dados como órficos nos respectivos autores, embora reconhe- cendo que não se podem reunir fragmentos de Orfeu, mas somente apontar exemplos (pág. 126, n. 2). No terceiro apêndice é que as teses do A. se encon- tram formu ladas (pág. 124):

1. «Para esclarecimento das concordâncias entre «Orfeu» e «Homero» há em princípio duas possibilidades: a) Homero plagiado pelos «Órficos», b) (redacção de) Homero e Órficos seguem uma só e mesma tradição poética proveniente de Orfeu. Se se reconhecer que a redacção é da época dos Pisistrátidas, está mais próximo aceitar Onomácrito como redactor do que negar uma tradição poética própria, proveniente de Orfeu, através da tese dos «plágios», em oposição com a opinião unânime dos antigos».

2. «Para esclarecimento das concordâncias entre «Orfeu» e Hesíodo há em princípio duas possibilidades: a) Hesíodo plagiado pelos «Órficos», b) Hesíodo e os Órficos seguem uma só e mesma tradição poética proveniente de Orfeu. Se houver para «Orfeu» um só verso que não possa ser plagiado por Hesíodo, mas de

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que Hesíodo também já teve conhecimento, temos — tanto quanto se pode, cien, tíficamente — de nos decidir pela segunda possibilidade. Existe esse verso: o verso das mulheres».

* 3. «Para esclarecimento das concordâncias entre Hesíodo e Homero há em princípio duas possibilidades: a) (a redacção de) Homero utiliza Hesíodo, b) (o redac- tor de) Homero e Hesíodo seguem uma só e mesma tradição poética proveniente de Orfeu. Se houver em Homero um só verso que não possa ter sido tomado de Hesíodo, mas de que Hesíodo já teve conhecimento, temos — tanto quanto se pode cientificamente — de nos decidir pela segunda possibilidade. Há este verso: o encontro do dia e da noite. (Note־se de passagem que está adstrita aos versos comuns uma especial antiguidade).»

«Que as três decisões também vão de par entre si, sem preconceitos (o Órfico como redactor de Homero, a sucessão estreita de Orfeu por Hesíodo, concordância em versos de origem órfica e qúe foram utilizados tanto por Onomácrito como tam- bém por Hesíodo) faz renunciar à tese de oposição de toda a antiga tradição dos órfi- cos que plagiavam «da maneira mais pérfida» e dos iniciados das seitas apenas «cria- dos» no século vi e deixa o caminho livre para uma recuperação do cantor da época micénica».

Da validade que atribuímos aos exemplos que apoiam estas teses, já demos nota atrás, ao tratar de λ 427 e de κ 86.

A obra do Prof. Böhme é sem dúvida alguma interessante e cheia de sugestões, mas ressente-se largamente dos perigos que se deparam a quem quer trilhar cami- nhos desconhecidos, onde a documentação é escassa, para não dizer nula. A nosso ver, o próprio Autor devia ter tomado como lema o que escreveu a pág. 112:

«In diesen Dingen muss jeder einzelne Fall für sich geprüft werden, es geht nicht an an einzigen beurteilbaren FäIlern ein Gesetz zu induzieren, und vielfach werden wir keine Mittel für eine einwandfreie Entscheidung haben».

Maria Helena Rocha Pereira

Chlon of Heraclea, a novel in letters

— edited with introduction and commentary by Ingemar Düring. Göteborg, 1951, 124 pp.

As dezassete cartas atribuídas a Quíon, discípulo de Platão, consideradas apó- crifas pelos estudiosos da filosofia grega, mereceram a Ingemar Düring um bem

Referências

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