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3 de dezembro de 2020

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Processo 11020/13.5YYLSB-A.L1-8 Data do documento 3 de dezembro de 2020 Relator Antonio Valente TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Execução > Morte do executado > Habilitação de

herdeiros > Renúncia à herança > Impossibilidade superveniente da lide

SUMÁRIO

- Tendo tido lugar habilitação de herdeiros com sentença que julgou procedente a habilitação, nada impede que, posteriormente venham os ditos herdeiros renunciar à herança.

- Junta aos autos a escritura pública de renúncia à herança, deverá a instância ser extinta por impossibilidade superveniente da lide, quanto aos sucessíveis que renunciaram à herança.

TEXTO INTEGRAL

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa

Veio nos presentes autos A , na execução que move contra B e outro, instaurar incidente de habilitação de herdeiros por morte da executada.

A 27/09/2019 foi proferida sentença que julgou habilitados como sucessores da falecida B, os requeridos C, D e F, para com estes prosseguir a execução,

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ocupando os mesmos a posição que anteriormente tinha a falecida.

Posteriormente, a 23/10/2019, foi proferido despacho de que citamos os seguintes excertos:

“A executada B faleceu no dia 06/06/2015.

Por isso, por sentença de 27/09/2019, ainda não transitada em julgado, foram declarados habilitados como universais herdeiros da executada acima identificada, os requeridos C ( cônjuge da falecida ) e D ( filhas da falecida ), sendo os mesmo admitidos a intervir nos autos de acção executiva, para em substituição da falecida a acção executiva prosseguir para todos os efeitos legais.

Já na contestação ao incidente os requeridos haviam alegado que iriam repudiar a herança.

Entretanto, em 01/10/2019, os requeridos acima identificados formalizaram através de escritura pública o repúdio da herança, declarando ainda D ter um filho, conforme documento junto aos autos.

Importa apurar, para já, se por terem repudiado a herança aberta por óbito do falecido primitivo executado, as pessoas acima melhor identificadas deixaram, ou não, de serem partes legítimas na acção.

Como é evidente, trata-se aqui do tipo de habilitação incidental por sucessão que tem, como se sabe, carácter indispensável e portanto obrigatório.”

Concluindo-se que:

“Em conformidade com o referido verifica-se que deve ser declarada extinta a execução em relação aos executados que foram julgados habilitados para substituir a parte falecida.

“Efectivamente, tendo sido repudiado o direito à herança, os bens que eventualmente pudessem constituir o seu acervo jamais serão transmitidos àqueles, frustrando-se desse modo, em relação aos bens que viessem a receber do autor da herança, o cumprimento dos encargos com a obrigação exequenda-artigos 2071° do CC e 827°, nº 1, do CPC.

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Nestes termos, decide-se suspender a presente instância, a que terá de se seguir nova habilitação, chamando-se aos autos os sucessores dos renunciantes.”

Inconformado, recorre A, concluindo que:

- O recorrido deduziu incidente de habilitação de herdeiros contra os recorridos, o qual veio a ser julgado procedente por sentença proferida em 27.09.2019. - Logo nesse dia, com a sua prolação, ficou esgotado o poder jurisdicional do Mmo. Juiz "a quo" (Art. 613º - 1 do CPC), poder esse que cessa independentemente da notificação às partes e do trânsito da decisão.

- Em 01.10.2019 os recorridos juntaram aos autos a escritura de repúdio da herança (celebrada nesse mesmo dia) e, com base nela, o Mmo. Juiz "a quo" proferiu em 23.10.2019 decisão a julgar improcedente a habilitação dos recorridos.

- Tal decisão é nula, ou mesmo inexistente, porque proferida por quem não detinha já poder para o fazer, incorrendo, assim o Mmo. Juiz "a quo" num excesso de pronúncia - Art. 615º - 1, alínea d) do CPC.

- E o seu fundamento é ilegal porque assente em documento que não podia ter sido admitido e, muito menos, atendido para decidir o incidente.

- Com efeito, a junção da dita escritura em 01.10.2019, já depois de proferida a sentença, é extemporânea (ultrapassa todos os limites temporais fixados no Art. 423º do CPC).

- Não tendo sido alegada e provada pelos recorridos qualquer circunstância impeditiva da sua junção em momento anterior, designadamente, a prevista no nº 3 do Art. 423º do CPC.

- De salientar que a escritura de repúdio podia ter sido celebrada desde 06.06.2015, data do falecimento da executada, e mesmo depois de citados para o incidente (em maio do corrente ano), os recorridos tiveram bastante tempo para o fazer (ainda que não a tivessem junto com a contestação, poderiam ter protestado juntá-la o que também não fizeram).

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- Por outro lado, estão demonstrados nos autos alguns fatores que, considerados no seu conjunto, permitem concluir com toda a certeza que os recorridos aceitaram a herança (e quiseram fazê-lo) antes do seu repúdio.

- Realizaram a escritura de habilitação de herdeiros em 16.11.2015;

- Só a repudiaram em 01.10.2019 (mais de quatro anos após a morte da executada) e já depois de citados / notificado para o presente incidente.

- Por aqui se vê que a verdadeira vontade dos recorridos é a de aceitação da herança, o que fizeram, pelo que sendo esta irrevogável (Art, 2061º do CC), o repúdio formalizado no dia 01 de outubro do corrente ano é inválido e de nenhum efeito.

- Mesmo que assim não fosse, ocorreu em momento posterior à decisão proferida sobre o incidente, pelo que os recorridos continuam a ser parte legítima na ação como habilitados da falecida executada.

- Por fim, o incidente da habilitação trata, apenas, de chamar ao processo os sucessores do falecido com legitimidade para o substituir no mesmo, e não de apurar quem é herdeiro.

- Pelo que dúvidas não existem de que os recorridos têm legitimidade para suceder à primitiva executada nos presentes autos.

- A decisão proferida no dia 23.10.2019, já após a prolação da sentença, e em sentido contrário desta, violou, assim, os Arts. 353° 1 e 2, 423º, 613° e 615° -1, alínea d) do CPC, bem como os Arts. 2056° - 2 e 2061° do CC.

Nestes termos, deverá ser declarada a nulidade da decisão de 23.10.2019, mantendo aquela que foi proferida em 27.09.2019.

Os requeridos contra-alegaram sustentando a bondade do despacho recorrido. Cumpre apreciar.

Alega o recorrente que, com a sentença proferida a 27/09/2019, deferindo o incidente de habilitação de herdeiros, ficou esgotado o poder jurisdicional do juiz, nos termos do art. 613º nº 1 do CPC.

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improcedente a habilitação dos recorridos, tal decisão é nula ou até inexistente nos termos do art. 615º nº 1 d) dp CPC.

A nosso ver a sequência de actos praticados pelo Mº juiz a quo é algo diferente da referenciada pelo recorrente.

No âmbito do incidente de habilitação, foi proferida sentença em 27/09/2019, que julgou habilitados os aí requeridos, como sucessores da falecida B, para com eles prosseguira execução, ocupando a mesma posição que anteriormente tinha a falecida.

Em 01/10/2019 os requeridos (habilitados) formalizaram através de escritura pública o repúdio da herança.

Junto tal documento aos autos, o Mº juiz a quo proferiu o despacho ora recorrido.

A 23/10/2019 foi proferido despacho julgando extinta a execução relativamente aos executados que foram habilitados para substituir a parte falecida.

Ou seja, o despacho recorrido não se pronunciou novamente sobre a sentença de habilitação. Pronunciou-se quanto à escritura em que os requeridos habilitados declararam repudiar a herança, já após a sentença de habilitação de herdeiros.

Em nosso entender, não houve qualquer violação do art. 613º nº 1 nem foi cometida a nulidade prevista no art. 615º nº d), ambos do CPC.

Cumpre ainda sublinhar que não se vislumbram elementos que permitam considerar que já tinha havido aceitação da herança pelos requeridos, mesmo que tácita.

Na contestação ao incidente de habilitação de herdeiros os requeridos não fizeram qualquer declaração que permitisse concluir por tal aceitação e, ao invés, anunciaram a sua intenção de repudiarem a herança – ver artigo 8º dessa contestação.

O facto de em 16/11/2015 terem outorgado a escritura de habilitação para efeitos fiscais é, a nosso ver, irrelevante. Tal habilitação é obrigatória no âmbito

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da legislação fiscal.

Como refere Castro Mendes, “Quid Juris se depois de habilitados certos sucessores, estes (todos ou alguns) repudiarem a herança? Se habilitados certos sucessores, estes por seu turno falecerem haverá lugar a nova suspensão da instância e habilitação. O repúdio da herança representa o desaparecimento – embora não físico mas jurídico – dos sucessores habilitados. É obrigatório comunicar esse repúdio no processo, seguindo-se a suspensão de instância e nova habilitação.”

Citemos a seguir o douto acórdão da Relação do Porto, de 18/11/2019, in www.dgsi.pt:

“O nosso ordenamento jurídico consagra o princípio da retroactividade de todo o fenómeno sucessório, estabelecendo o art. 2062º do Código Civil, quanto ao repúdio, que os seus efeitos se retroagem ao momento da abertura da sucessão, considerando-se como não chamado o sucessível que a repudia (...). “Nos termos do art. 30º do CPC, a legitimidade afere-se pelo interesse directo em demandar ou contradizer, exprimindo-se tal interesse, respectivamente, pela utilidade derivada da procedência da acção (autor) e pelo prejuízo que dessa procedência advenha (réu), prevendo a lei um critério subsidiário formal na determinação da legitimidade: apura-se pela relação controvertida nos termos em que o autor a configura na petição.

“A legitimidade consiste numa posição concreta da parte perante uma causa, não se traduzindo numa qualidade pessoal, mas numa qualidade posicional da parte face à acção, ao litígio que nela se dirime. Assistindo legitimidade processual a alguém, decorrente apenas da sua condição, no momento em que deixa de ter essa condição de herdeiro, com efeitos imperativos reportados à data da abertura da sucessão, não vemos como possa manter-se a causa relativamente a essa pessoa.

“Não havendo transmissão da posição do herdeiro repudiante, já que a declaração de repúdio reporta-se ao momento de abertura da sucessão, não

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ocorrerá a modificação subjectiva da instância, verificando-se, no entanto, a impossibilidade superveniente da lide relativamente ao sucessor habilitado que repudiou a condição de herdeiro que justificava tal habilitação.

“Na situação em que o sucessor habilitado repudia a herança, ocorre necessariamente, relativamente a ele, a impossibilidade superveniente da lide, devendo em consequência extinguir - se a instância, apenas quanto a ele, nos termos da alínea e) do art. 277º do CPC.”

Verifica-se assim que o despacho ora recorrido não visou alterar por qualquer modo a sentença proferida no incidente de habilitação, mas sim conhecer das implicações que a junção superveniente aos autos, da escritura de renúncia à herança, iria certamente causar. E nada obstava que essa renúncia fosse feita após a habilitação, tanto mais que nesta já os requeridos anunciavam a intenção de virem renunciar à herança.

Conclui-se assim que:

- Tendo tido lugar habilitação de herdeiros com sentença que julgou procedente a habilitação, nada impede que, posteriormente venham os ditos herdeiros renunciar à herança.

- Junta aos autos a escritura pública de renúncia à herança, deverá a instância ser extinta por impossibilidade superveniente da lide, quanto aos sucessíveis que renunciaram à herança.

Termos em que improcede a apelação, confirmando-se a sentença recorrida. Custas pelo recorrente.

LISBOA, 3/12/2020 António Valente Teresa Prazeres Pais Rui Vouga

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