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AS RELAÇÕES DE AUTORIDADE NA ESCOLA E NA FAMÍLIA SEGUNDO OS ADOLESCENTES

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Academic year: 2021

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AS RELAÇÕES DE AUTORIDADE NA ESCOLA E NA FAMÍLIA SEGUNDO OS ADOLESCENTES

Elaine Aparecida Pereira

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PEPG em Educação: História, Política, Sociedade

Agência de Fomento: CNPq

Eixo Temático 2: Pesquisa e Práticas Educacionais

Categoria: Comunicação Oral

Introdução

Este artigo tem como propósito apresentar parte dos dados coletados na pesquisa “As relações de autoridade na escola e na família segundo os adolescentes” desenvolvida durante o mestrado.

O interesse pelo tema autoridade é decorrente da experiência como docente do Ensino Fundamental II em escolas públicas da rede municipal de São Paulo, onde a indisciplina apresentava-se como um problema relevante no cotidiano escolar, comprometendo o trabalho pedagógico das instituições. Situações de desrespeito às regras das instituições como agressões físicas e verbais entre alunos, a depredação de patrimônio público e os constantes conflitos entre professores e alunos expressavam a fragilidade das relações de autoridade no espaço escolar. A responsabilidade pela presença de tais comportamentos na escola era atribuída pelos docentes, principalmente, às famílias dos alunos, consideradas incapazes de impor regras e limites aos adolescentes. A constante queixa dos professores com relação à família dos alunos indicava que o problema da indisciplina era visto pelos docentes como consequência de algo externo à escola, sendo a instituição vítima e não causadora. Essa constatação contribuiu para que a pesquisa delimitasse como objeto as relações que os adolescentes estabelecessem com a autoridade não apenas na escola, mas também na família.

O estudo teve por objetivo analisar a relação que os adolescentes, do 9º ano de duas escolas da rede municipal de ensino de São Paulo, desenvolvem com a autoridade exercida sobre eles na escola e na família e a compreensão que expressam sobre autoridade. Além destes, pretendeu-se também descrever e examinar, por meio do que expressam os adolescentes, como se caracteriza sua experiência com a autoridade a qual estão submetidos. A pesquisa foi desenvolvida com base em duas hipóteses: 1) a autoridade exercida pelos adultos sobre os

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adolescentes é reduzida a expressões de autoritarismo, manifestadas nas exigências acríticas de observância e obediência às regras e na indiferença, por parte dos adolescentes, diante do que é imposto; e 2) a autoridade exercida pelos adultos não é capaz de desenvolver a autonomia nos adolescentes, mas se limita apenas à adaptação destes a realidade imposta pela estrutura social.

A pesquisa foi realizada em duas escolas da rede municipal de ensino de São Paulo, denominadas A e B, ambas situadas em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), porém com pontuações distintas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Os critérios estabelecidos para a escolha das escolas, colocação no IDEB e no IDH, estão relacionados ao interesse em selecionar alunos adolescentes pertencentes a contextos sociais com características semelhantes, porém, em escolas com características distintas. Utilizou-se como procedimento de coleta de dados o grupo focal, além da aplicação de questionário contendo questões abertas e fechadas. A opção por coletar dados a partir do grupo focal é resultante do próprio problema de pesquisa, pois se considerou que a dinâmica interacional do grupo poderia incentivar a participação dos membros, fazendo emergir informações, opiniões e impressões sobre a relação que os alunos adolescentes estabelecem com a autoridade na escola e na família com certo detalhamento e profundidade. Os sujeitos da pesquisa foram 12 alunos, seis meninas e seis meninos, do 9º ano do ensino fundamental, com média de idade de 14 anos.

A pesquisa tem como referencial teórico as ideias de alguns autores da teoria crítica da sociedade (Adorno, Horkheimer e Marcuse) que discutem a relação entre autoridade e formação, além das contribuições de Freud sobre o tema.

A autoridade na sociedade moderna

Na sociedade ocidental moderna a autoridade é associada à ideia de autoritarismo, de coerção e violência, por isso, discutir autoridade exige o reconhecimento do seu caráter dialético e, portanto, contraditório, conforme aponta os autores da teoria crítica da sociedade. Nesse sentido, de acordo com Horkheimer (2008), a relação de autoridade, entendida como dependência aceita, pode tanto significar uma situação de autoritarismo, quando a sujeição dos homens a uma instância alheia contraria os seus próprios interesses, como também pode significar o atendimento ao interesse real e consciente de indivíduos e grupos. Dessa forma, a autoridade como elemento constitutivo das relações sociais pode fundamentar tanto a submissão cega e servil quanto a disciplina do trabalho necessária em uma sociedade em ascensão.

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Ainda de acordo com os autores da teoria crítica da sociedade, a concepção de que autoridade e liberdade se encontram em contraposição é decorrente da filosofia burguesa e do próprio conceito de indivíduo formulado por ela. O conceito de indivíduo, desde o seu aparecimento, conforme apontam Horkheimer e Adorno (1973), quis sempre designar algo concreto, fechado e autossuficiente. Essa concepção foi enunciada com clareza, pela primeira vez, por Leibniz por meio da teoria das mônadas. De acordo com essa teoria, o indivíduo se caracterizaria como “um centro metafísico de força, fechado em si mesmo, dissociado do resto do mundo, uma mônada absolutamente solitária, reduzida a si mesmo por Deus” (Horkheimer, 2008). Desse modo, o indivíduo passou a ser considerado como um ser responsável por si mesmo, pelo seu destino e sua felicidade, dependente unicamente da sua própria vontade e, também, da divina.

Essa concepção de indivíduo, segundo Horkheimer (2008), foi defendida pela filosofia burguesa em oposição à autoridade da tradição, isso no contexto em que o regime de produção feudal e a burocracia religiosa e civil se mostravam incapazes de atender as necessidades das massas populares na cidade e no campo, que cresciam desde o final da Idade Média. Assim, ao considerar o indivíduo como um ser perfeito em si, dependente apenas da sua vontade e razão, dissociado das condições de existência na sociedade, e, portanto, também da natureza, o pensamento burguês admitiu a possibilidade de realização, mesmo que interior, da sua liberdade por meio da oposição à autoridade.

Embora se reconheça a importância do conceito de indivíduo, tal como defendido pela filosofia burguesa, os autores da teoria critica da sociedade rejeitam a crença na independência radical do indivíduo em relação à sociedade e à natureza, pois, para eles, não é possível considerar os indivíduos como seres absolutos em si posto que “a vida humana é, essencialmente e não por mera casualidade, convivência” (Horkheimer e Adorno, 1973, p.47). Assim, antes mesmo do homem ser um indivíduo, na relação com outros homens ele é um semelhante. Sobre esse aspecto os autores apontam que:

Se o homem, na própria base de sua existência, é para os outros, que são os seus semelhantes, e se unicamente por eles é o que é, então a sua definição última não é a de uma indivisibilidade e unicidade primárias, mas, outrossim, a de uma participação e comunicação necessárias com os outros. (Horkheimer & Adorno, 1973, p. 47)

No que se refere à crença na possibilidade de liberdade decorrente da oposição à autoridade de tradição, Horkheimer (2008) aponta ainda que as autoridades foram derrubadas apenas aparentemente, pois o lugar do despotismo não foi ocupado pela liberdade, mas pela autoridade econômica. A liberdade no âmbito do

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processo de produção capitalista significou, em primeiro lugar, que os homens foram abandonados aos mecanismos de exploração, pois a liberdade que ambas as partes da relação trabalhista (patrão e empregado) parecem ter não se confirma, posto que as condições para entrar nessa relação não são as mesmas. Assim, ao se sujeitar à vontade particular do empresário, o trabalhador está admitindo a autoridade dos fatos econômicos. Contudo, essa autoridade econômica é mascarada na medida em que a “diferença entre rico e pobre é condicionada socialmente, imposta e mantida pelos homens e mesmo assim apresenta-se como se fosse necessária por natureza, como se os homens em nada pudessem modificá-la” (Horkheimer, 2008, p. 205).

Dessa forma, embora os indivíduos acreditem que são independentes e que, por isso, podem agir livremente, suas relações, segundo Horkheimer (2008), se caracterizam como relações de dependência pautadas na diferença de propriedade. Portanto, embora exista a crítica a qualquer forma de autoridade, transferida também para o âmbito da vida privada, se desconsidera que a verdadeira autoridade, a autoridade econômica, está presente em todas as relações sociais e é determinante.

Autoridade e educação

A concepção de que existe uma contraposição entre a liberdade do indivíduo e a autoridade está presente também no âmbito privado da vida e, portanto, interfere tanto no que se refere à educação oferecida pela família quanto na educação formal oferecida pela escola. Os autores da teoria crítica da sociedade, com base no pensamento de Freud, reconhecem a autoridade como um elemento essencial na formação do indivíduo. De acordo com Freud (2011), no processo civilizatório, que possibilitou a vida em comunidade, a autoridade foi responsável por reprimir a tendência do homem em tentar satisfazer de forma irrestrita todas as suas necessidades instintuais que colocavam em risco a civilização e o próprio homem.

Nesse sentido, Horkheimer (2008) afirma que a subordinação a uma autoridade pode ser do interesse do próprio subordinado quando ela se apresenta como uma condição para o desenvolvimento das faculdades humanas. Sendo assim, a submissão da criança a uma boa educação é do próprio interesse dela. Segundo o autor ainda, a educação, como um processo civilizatório milenar, é responsável pelo desenvolvimento de cada ser humano, desde o homem primitivo, e nesse processo não foi possível prescindir da coerção, uma vez que por mais racional que seja o comportamento subjetivo do pai, “sua posição social diante da criança implica que cada medida educativa, por mais racional que ela seja, deve lembrar pão doce ou chicote” (Horkheimer, 2008, p. 223).

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De acordo com Adorno (1995a), embora a autoridade seja necessária ao processo de formação do indivíduo, no entanto, não é qualquer forma de autoridade exercida sobre a criança que deve ser aceita, tampouco se a finalidade do seu exercício se limitar à adaptação a sociedade tal como ela é. O objetivo da educação, segundo o autor, seria educar o indivíduo para se posicionar e lutar contra a barbárie. A formação, para Adorno (1995b), portanto, deve ser direcionada para a autorreflexão crítica, desenvolvendo no indivíduo a capacidade de pensar criticamente sobre si próprio e suas ações, e para o esclarecimento geral, capaz de produzir um clima intelectual, cultural e social que não permita a barbárie ou o retorno e desenvolvimento do fascismo e do totalitarismo. Dessa forma, a educação, para o autor, não significa a modelagem de pessoas a partir do exterior tampouco a mera transmissão de conhecimentos, mas o desenvolvimento de uma consciência verdadeira que possibilite ao indivíduo superar a heteronomia, a dependência às normas e mandamentos que não são assumidas pela sua própria razão, mas que lhe são impostas.

A conquista da autonomia pelo indivíduo, decorrente da superação da heteronomia, no entanto, para o autor, não ocorre por meio da ausência da autoridade, mas depende de uma autoridade esclarecida. Segundo Adorno (1995a), sobretudo na primeira infância – momento no qual, de acordo com os conhecimentos da psicologia se forma o caráter do indivíduo – é necessário o contato da criança com manifestações de uma autoridade esclarecida, ao mesmo tempo em que é indispensável que se dissolva qualquer tipo de autoridade não-esclarecida, cuja característica é a reprodução da barbárie. Tal contato é necessário na medida em que, para Adorno:

Determinadas manifestações de autoridade, que assumem um outro significado, na medida em que já não são cegas, não se originam do princípio da violência, mas são conscientes e sobretudo, que tenham um momento de transparência inclusive para a própria criança; quando os pais “dão uma palmada” na criança porque ela arranca as asas de uma mosca, trata-se de um momento de autoridade que contribui para a desbarbarização. (Adorno, 1995a, p.167)

Assim, conforme Adorno (1995a), não existe contraposição entre a autonomia e a autoridade, uma vez que a segunda é condição para a possibilidade da primeira. O autor aponta ainda que, de acordo com pesquisas empíricas, tais como as realizadas por Else Frenkel-Brunswik, nos EUA, a autonomia não reside no simples protesto contra qualquer tipo de autoridade. Ao contrário, constatou-se que “as crianças chamadas comportadas tornaram-se pessoas autônomas e com opiniões próprias antes das crianças refratárias (...)” (Adorno, 1995a, p. 177). Sobre essa questão, afirma, ainda, Marcuse (1970) que:

A partir da permissividade de todos os tipos à criança, à constante preocupação psicológica com os problemas pessoais do estudante, está em

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andamento um movimento em grande escala contra os males da repressão e a necessidade de ser o indivíduo ele mesmo. Frequentemente, afasta-se para o lado a questão de que deve ser reprimido antes que o homem possa tornar-se um tornar-ser, um ego. (Marcutornar-se, 1970, p.117)

Nesse sentido, Marcuse (1970), tendo como referência o pensamento de Freud, aponta para a necessidade de se distinguir a repressão libertadora da repressão destrutiva. Para o autor, a primeira é necessária, uma vez que “o potencial individual é, de início, negativo, parte do potencial da sociedade: agressão, sentimentos de culpa, ignorância, ressentimentos, crueldade que lhe viciam todos os instintos vitais” (Marcuse, 1970, p.117). Sendo assim, para o autor “se queremos que a identidade do ego seja mais do que a realização imediata desse potencial (indesejável para o indivíduo como ser humano) é preciso repressão, sublimação, transformação consciente” (Marcuse, 1970, p.117).

A autoridade segundo os adolescentes

Os dados coletados a partir do roteiro de perguntas relacionadas às expressões de autoridade na escola e na família apresentado aos adolescentes durante a realização do grupo focal foram organizados em quatro categorias: autoridade como organização; responsabilização; experiência e reação dos adolescentes frente à autoridade na escola e na família. A categoria autoridade como organização refere-se às expectativas da escola e da família com relação ao comportamento dos adolescentes expressas nas regras e limites impostos a estes. A categoria responsabilização apresenta como indicativo as atitudes dos adultos na escola e na família diante do descumprimento das regras pelos adolescentes. Já a categoria experiência expressa as relações estabelecidas entre os adolescentes e os adultos na família e na escola, assim como as manifestações de autoridade expressas por meio delas. Por fim, a categoria reação dos adolescentes frente à autoridade na escola e na família caracteriza a relação que estes desenvolvem com a autoridade.

No que se refere aos resultados da pesquisa constatou-se que os adolescentes encontram-se numa posição de heteronomia frente à autoridade exercida sobre eles tanto na escola como na família e que valorizam e anseiam pela autoridade mesmo quando esta se manifesta na forma de autoritarismo. A pesquisa mostrou que a autoridade exercida pelos adultos sobre os adolescentes, em ambas as instituições (escola e família), está pautada nas exigências e expectativas para que assumam determinados comportamentos considerados necessários à adaptação social, e se expressa por meio da imposição de regras e limites. A autoridade presente nas

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instituições é legitimada pelos adolescentes por ser considerada como um elemento importante para a sua formação e adaptação às exigências sociais.

O estudo revela que as hipóteses apresentadas foram confirmadas, uma vez que se constatou que as regras e limites impostos aos adolescentes pela escola e pela família, de acordo com as análises desenvolvidas por meio das categorias autoridade como organização e responsabilização, limitam-se a conduzir os adolescentes, de forma acrítica, à aceitação e ao cumprimento de determinados comportamentos considerados adequados e ordeiros. Observou-se, também, que a autoridade exercida pelos adultos sobre os adolescentes é reduzida a expressões de autoritarismo, embora em maior ou menor grau em cada escola ou família, e é incapaz de desenvolver a autonomia, limitando-se a adaptá-los a estrutura social. Identificou-se, ainda, que os adolescentes expressam incapacidade de refletir de forma independente e crítica sobre seus atos, assim como de dependem excessivamente de imposições externas para assumirem determinados comportamentos considerados favoráveis a sua formação. Além disso, constatou-se que embora os adolescentes, em determinadas situações, principalmente na escola, reajam de maneira contrária ao que se espera deles, não questionam as relações de autoridade, mas demonstram ter desenvolvido certa indiferença frente às determinações impostas sobre eles tanto na escola como na família. Essa submissão ativa dos adolescentes, diante da imposição de compromissos pelos adultos e do controle de seus comportamentos, os impede de viverem eles próprios as suas experiências e indicam a presença de um ego fraco e incapaz de se opor pressões externas.

Os dados analisados, por meio das categorias experiência e reação dos adolescentes frente à autoridade na escola e na família, indicam que a experiência dos alunos na relação com a autoridade é fundamental para a sua formação, uma vez que tendem a tomar como referência os modelos oferecidos pelos adultos. Isso pode ser observado na forma como os adolescentes reproduzem as ideias transmitidas pelos adultos, assim como o comportamento destes. Constatou-se, ainda, que os adolescentes possuem maior identificação com os adultos com os quais passam a maior parte do tempo, como a mãe, na família, e os professores com os quais permanecem durante anos na escola. Além disso, foi possível perceber ainda que principalmente os adolescentes da Escola B, não dispõem da presença de modelos de autoridade esclarecida no ambiente escolar e que tampouco possuem oportunidades para participar neste espaço. Assim, as relações de autoridade, em que estão presentes traços de autoritarismo, tendem a contribuir para a sua reprodução, além de produzir a obediência e a submissão, o que parece se tornar um obstáculo para os indivíduos na busca pela autonomia.

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Embora o objetivo da pesquisa não tenha sido comparar as escolas A e B, é importante observar que as relações de autoridade se expressam também na organização escolar. Nesse sentido, constatou-se diferenças significativas entre as escolas investigadas, embora estejam inseridas em contextos socioeconômicos semelhantes, quanto às relações entre adolescentes e adultos expressas na organização escolar e, portanto, no atendimento aos alunos. Assim, foi possível identificar que enquanto na Escola A, por meio do esforço em garantir que os adolescentes não desenvolvam comportamentos inadequados ao âmbito escolar, possui ambiente propício e favorável ao desenvolvimento do trabalho pedagógico e, portanto, à formação – ainda que prevaleça sua dimensão adaptativa –, o mesmo não ocorre com a Escola B, uma vez que esta parece apresentar poucas condições, principalmente em decorrência das relações conflituosas estabelecidas entre professores e alunos, até mesmo para garantir a adaptação dos indivíduos às imposições da estrutura social. Nesse sentido, a Escola B parece não contribuir para o desenvolvimento de um clima intelectual, cultural e social favorável à formação e capaz de evitar a barbárie, conforme aponta Adorno (1995b).

Quanto às relações de autoridade nas famílias, os dados coletados revelam que existe uma preocupação e empenho por parte dos adultos, independente do tipo de arranjo familiar no qual estão inseridos, com a formação dos adolescentes, expressos por meio de exigências e expectativas relacionadas ao comportamento destes, se aproximando das formas de autoridade presentes na Escola A. Contudo, observou-se que as expectativas dos responsáveis, tanto dos adolescentes da Escola A como da Escola B, com relação à sua educação não são claras e precisas (ou os adolescentes não as percebem com clareza e precisão), mas genéricas, o que indica a dificuldade de definição de objetivos educacionais afinados com aquilo que a formação pode proporcionar aos indivíduos. Verificou-se, portanto, que, embora a escola e a família demonstrem preocupação com a formação dos adolescentes, ambas apresentam traços de autoritarismo nas relações de autoridade e se limitam a adaptá-los à realidade objetiva de forma acrítica, o que revela forte influência da dinâmica social sobre tais instituições, mesmo que estas se caracterizem como espaços capazes de desenvolver a autonomia dos indivíduos, conforme aponta Horkheimer (2008).

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Referências

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