SOROCABA/SP JULHO/2018
Leo Victorino da Silva - Uniso - leo.silva@prof.uniso.br
Rosimeire Moreira Vizentim - PUC-SP - vizentim@gmail.com
Tipo: Relato de Experiência Inovadora (EI) Categoria: Métodos e Tecnologias
Setor Educacional: EDUCAÇÃO SUPERIOR, EDUCAÇÃO CONTINUADA EM GERAL
RESUMO
O presente artigo relata o surgimento da oferta de MOOCs em uma Universidade Comunitária em um município no interior do estado de São Paulo. Através do relato de experiência, apresenta conceitos e classificações referentes aos MOOCs e situa a experiência no contexto atual desde sua concepção, como o modelo se transformou e se organizou ao longo do tempo e finaliza indicando as tendências para continuidade da oferta dos MOOCs nesta Universidade.
1 Introdução
Uma Universidade Comunitária – UC, enquanto uma Instituição de Ensino Superior – IES, tem como premissa o compromisso, além para com a educação, com serviços sociais e com a comunidade, sobretudo através das ações de extensão, e são caracterizadas como instituições sem fins lucrativos, ainda que seus recursos sejam oriundos de mensalidades.
Assim, a atuação de uma UC assume a responsabilidade de apresentar à sociedade oportunidades de desenvolvimento intelectual, moral, ético e cidadão, na forma do ensino, da pesquisa e da extensão.
Muitas são as ações desenvolvidas no propósito da extensão, que especialmente representa a função social de uma UC, articulando a relação da IES com a comunidade onde atua por meio da integração dos saberes acadêmicos e populares através, por exemplo, de manifestações artísticas, oferecimento de assistências em serviços sociais, oferecimento de formações variadas, intervenção em preservação ambiental, assistências de saúde, desenvolvimento de tecnologias etc.
Neste sentido, a oferta de formação para competências e habilidades que a sociedade contemporânea tem exigido das pessoas passa a ser de grande impacto social. A partir disso, cursos rápidos e específicos nas mais variadas áreas do conhecimento se destacam por serem vistos como aprimoramento das formações já obtidas ao longo da vida, independente do nível formativo das pessoas.
Nessa linha de ações, surge e expande-se a oferta de cursos que, por intermédio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) mais avançadas, permitem alcançar um número massivo de pessoas, atraídas por uma formação contínua. Neste contexto, os Cursos Abertos Massivos Online (Massive Open Online Courses – MOOCs), passam a atrair olhares das instituições comprometidas a dar respostas às necessidades da sociedade, de forma escalável por intermédio da internet, uma vez que estes cursos são desenvolvidos para um número indeterminado de alunos.
O presente artigo tem o objetivo de relatar o surgimento de MOOCs em uma UC localizada no município de Sorocaba, SP, a Universidade de Sorocaba - Uniso.
O histórico de atuação desta Universidade no âmbito da Educação a Distância - EaD demonstra o envolvimento com o desenvolver desta modalidade de ensino no Brasil. Criado em 2002, o Centro de Educação e Tecnologia - CET é o setor responsável pelas
atividade de EaD e apoia as iniciativas de pesquisa, inovação e implementação de tecnologias no processo de ensino-aprendizagem, tanto no ensino presencial como na EaD.
No rol das atividades desenvolvidas pelo CET, estão a formação de professores para Educação a Distância, manutenção do Ambiente Virtual de Aprendizagem, oferta de componentes curriculares nos cursos presenciais, conforme previsto em lei, e apoio e gestão à oferta de cursos a distância nos diversos níveis e atuações da instituição. Entre as últimas ações promovidas pelo CET, está a oferta de cursos para um número massivo de alunos através dos MOOCs.
Além das ações de inserção das tecnologias no âmbito escolar, no ensino e na pesquisa, os quais competem à Universidade, as ações de extensão naturalmente também se destacam dentre as atividades desenvolvidas por esta instituição, pautadas pelo exercício da troca de saberes acadêmicos e populares, exercitando a cidadania e favorecendo sua função social.
Considerando aspectos históricos e concepções que o caracterizam, segundo Felippe et al (2013, p.9), a prática extensionista deixou o enfoque exlucivamente de difusão do conhecimento para um "enfoque de inserção na realidade socioeconômica, política e cultural do País [...] e oferecendo, por meio de suas ações, respostas que contribuíssem para a transformação social", e considera, ainda, que a Extensão Universitária
constitui-se em um conjunto de ações de caráter interdisciplinar e multidisciplinar, articulando os saberes produzidos na vida acadêmica e na vida cotidiana das populações, para compreensão da realidade e busca de resposta aos seus desafios. Assim, promove a disseminação do conhecimento acadêmico, por meio do diálogo permanente com a sociedade (FELIPPE et al, 2013 , p.15).
2 Histórico de MOOCs na UNISO
Em 2010, com a iminente oferta de um curso de Especialização Lato sensu em Gestão Ambiental, na modalidade a distância, a Universidade buscou no oferecimento de um curso de curta duração online gratuito com o tema “Sistemas de Gestão Ambiental”, a possibilidade de experimentar o modelo do material didático desenvolvido, além de divulgar o curso em questão, em âmbito nacional. O resultado desta ação foram aproximadamente mil pessoas, distribuídas em todo território nacional e até de outros países, inscritas para este curso de curta duração.
À época, este curso e o curso de “Metodologia de Pesquisa Científica” foram disponibilizados publicamente e gratuitamente através da iniciativa do OpenCourseWare Consortium - OCWC, consórcio que prevê o compartilhamento de conteúdos desenvolvidos pelas Universidades de todo o mundo. A característica técnica de publicação destes cursos, no entanto, não permitiu mensurar, além desta turma de Sistemas de Gestão Ambiental, o alcance da participação deste consórcio, que
fora encerrada em 2011.
Assim, pode-se dizer que o surgimento de Massive Open Online Courses - MOOCs na Universidade de Sorocaba - Uniso aconteceu de forma despretensiosa.
Seis anos após a oferta destes cursos, em outubro de 2016, um curso de Planejamento Financeiro Pessoal foi desenvolvido pelo professor Dr. Rogério Augusto Profeta, através do CET.
A ideia inicial não remetia ao planejamento de um curso aberto e massivo, mas à oferta de um curso de extensão comum. A primeira oferta, em Dezembro de 2016, para uma turma, inicialmente, de 20 colaboradores da própria instituição, retornou críticas positivas a respeito do conteúdo abordado e da forma de abordagem. Dos 20 inscritos, 16 concluíram o curso.
Outra edição com as mesmas características da turma inicial foi realizada na sequência. Em janeiro de 2017, 46 colaboradores da instituição se inscreveram para o curso, com carga horária de 20 horas aula distribuídas em aproximadamente 25 dias. O resultado da segunda edição, levou a instituição a ampliar a oferta a um grupo específico de alunos.
Na terceira edição, 490 calouros dos cursos de graduação do primeiro semestre de 2017 se inscreveram para realizar o curso. O número de inscritos exigiu a adaptação das atividades propostas. Dos 490 alunos inscritos inicialmente, 40 desistiram do curso antes mesmo do curso começar e outros 147, embora não tenham formalizado a desistência, sequer acessaram o curso. Finalizaram esta edição 84 dos 303 alunos que iniciaram o curso.
A quarta edição do curso foi ofertada aos demais alunos da Uniso. De um total de 527 inscritos, 298 iniciaram o curso e 101 alunos concluíram.
Identificada a proporção que o curso alcançara, o curso foi remodelado e passou a ser compreendido com um MOOC. A divulgação e oferta do curso em âmbito público atingiu, nas 3 edições seguintes, 2752 inscritos com 617 alunos concluintes. A quinta edição, caracterizada pelo lançamento oficial da proposta de oferta do curso como um MOOC forneceu, através de um questionário de
autoavaliação, informações importantes para as adaptações futuras e melhorias para a continuidade deste curso e de outros que passariam a ser ofertados.
A experiência das sete edições do curso de Planejamento Financeiro Pessoal culminou na
formatação de um modelo padrão de cursos a serem ofertados pela Uniso. A proposta da instituição consistiu no desenvolvimento de um MOOC por curso de graduação da instituição, com as
seguintes características básicas padronizadas: Carga horária: 20h;
Organizado em 5 aulas; Temas de interesse público.
Os primeiros cursos a serem desenvolvidos após a experiência com o Planejamento Financeiro Pessoal foram: “O que é resistir?”, “Química do dia-a-dia” e “Direito do trabalho e Reforma trabalhista”. Os temas propostos, respectivamente, pelos colegiados dos cursos de Geografia, Engenharia Química e Direito, além do próprio curso Planejamento Financeiro Pessoal, ilustram a percepção de abordar assuntos muitas vezes complementares à formação das pessoas, independente do nível e da área de suas formações.
Segundo Gonçalves et al. (2015 p. 6),
aspetos tecnológicos parecem fornecer as condições necessárias para democratizar o acesso à informação e a equidade no conhecimento, naturalmente não descurando a importância dos aspetos pedagógicos, ao promover acesso a recursos de qualidade a custos cada vez mais reduzidos.
Observa-se que tanto a iniciativa de oferta quanto a opção por buscar e se matricular em MOOCs, evidenciam um demanda de formação em resposta às necessidades peculiares, nas variadas áreas de formação de cada pessoa, que vê neste modelo, a oportunidade de se desenvolver, independente da formalidade do processo.
Figura 1: portal de MOOCs da Uniso
Fonte: https://sistema.uniso.br/mooc/
O novo modelo de oferta também apresentou a característica de não se basear na formação de turmas. Assim, uma vez publicado, o curso pode ser escolhido pelos alunos que poderão iniciar as atividades propostas imediatamente.
3 Modelo dos MOOCs na UNISO
A definição de MOOC, de acordo Mauley et al. (2010) apud Bates (2016) é de um curso online, aberto, gratuito e massivo (oferecido a um elevado número de alunos). Não possui pré-requisitos para participação, nem a obrigatoriedade de emissão de certificação formal e está diretamente relacionado ao uso de recursos da Web 2.0, que contribuem para potencializar a interação entre os participantes.
Considerado por muitos especialistas como Pernias, Peco e Lujan-Mora (2013) e Blanco et al. (2013) apud Bates (2016) como uma revolução na educação, os MOOCs correspondem a uma modalidade de distribuição massiva de aprendizagem online. Os autores ainda consideram os MOOCs uma tendência tecnológica e pedagógica emergente, um fenômeno generalizado. Os MOOCs são, como indica Bates (2016, p.209), as mais revolucionárias entre as inovações tecnológicas usadas na educação superior, e, como resultado, são as mais controversas. Segundo o autor, eles podem ser vistos como uma grande revolução na educação ou apenas como um exemplo
do exagero que ocorre muitas vezes quando existe tecnologia envolvida, particularmente nos Estados Unidos.
Existem várias classificações referente aos MOOCs. Bates (2016) as dividem em duas categorias: cMOOC - c refere-se a “conectivista”, a teoria que os inspirou) são centrados nos contextos e tem vindo a ser utilizados pelos professores como parte integrante da sua atividade acadêmica e profissional nas universidades.
xMOOC – são centrados nos conteúdos e correspondem a versões online dos formatos convencionais de aprendizagem em plataformas com software próprio.
Já Donald Clark (2013), indica a seguinte taxonomia dos MOOCs:
MOOCs de transferência: cursos, presenciais ou online, que já existiam em outros formatos e são transferidos para o modelo massivo.
MOOC de autor: cursos inovadores, normalmente focados na qualidade do material e da estrutura didática.
MOOC a término: cursos com datas definidas, de início e fim.
MOOC assíncrono: sem datas previamente definidas e conteúdo disponibilizado em sua totalidade, ao mesmo tempo.
MOOC adaptativo: cursos mais personalizados, com escolha de conteúdos pelo estudante. MOOC grupal: foco na aprendizagem colaborativa, em pequenos grupos, com estilo de avaliação por pares e alta interação entre os participantes.
MOOC conectivista: interação como ponto principal para construção dos saberes. miniMOOC: curso de curta duração com poucas horas ou poucos dias.
Para cada classificação de MOOC, vale considerar as características e peculiaridades identificadas e ou pretendidas para garantir que os objetivos pedagógicos e formativos sejam alcançados. Entre as variáveis, destacam-se linguagem, recursos e as plataformas de distribuição.
A plataforma de distribuição de MOOC se refere ao ambiente virtual onde ele será disponibilizado por apresentar ferramentas que viabilizem sua oferta. Os principais fornecedores de MOOC são: Coursera, Udacity, edX, Udemy e Miríada X.
Os MOOCs na Uniso, além da organização padrão de divisão e carga horária já apresentadas, são ofertados na plataforma Moodle e, para conclusão do curso, o estudante deve realizar todas as atividades apresentadas. Segundo a classificação proposta por Bates (2016), os MOOCs da Uniso são predominantemente xMOOCs, uma vez que são centrados nos conteúdos que abrangem, com pouca variação dos métodos tradicionais de ensino-aprendizagem, ainda que não sejam essencialmente transpostas as aulas convencionais para o ambiente virtual.
Analisando a taxonomia proposta por Donald Clark (2013), os MOOCs da Uniso são de transferência, assíncronos, e miniMOOCs, dada a existência destes cursos em outras instâncias, a não existência de datas pré-estabelecidas para avanço dos cursos, e pela carga horária ser de apenas 30h, respectivamente.
A conclusão das atividades de cada aula libera automaticamente os conteúdos e atividades das aulas subsequentes. A opção pela certificação do curso é feita no ato da inscrição. Embora o curso seja livre, caso o estudante deseje obter um certificado de conclusão, é cobrado um valor para a emissão. O certificado é disponibilizado automaticamente quando o estudante conclui todas as atividades. O conteúdo do curso - material didático e atividades propostas, é desenvolvido por docentes dos
cursos de graduação da instituição. Para que os professores compreendessem a proposta de forma mais efetiva, o Centro de Educação e Tecnologia - CET desenvolveu um curso no formato MOOC. O curso, com o título “MOOC sobre MOOC” apresentou definições, características, conceitos e exemplos do processo de desenvolvimento de material didático, além de modelos-base para a criação das propostas dos MOOCs na Uniso.
Figura 2: Tela do “MOOC sobre MOOC”
Fonte: http://moodle.uniso.br
Após o desenvolvimento do conteúdo-base de cada MOOC, os professores proponentes
encaminham o material e as atividades nos modelos padrões de cada parte do curso para o CET. A equipe do CET envolvida no processo de criação dos MOOCs é composta por um Designer Instrucional e um Designer Gráfico.
O processo de adaptação do conteúdo base para um MOOC é um trabalho conjunto realizado pelo professor proponente, pelo designer instrucional e pelo designer gráfico, em negociações e críticas em busca de melhorias, escolha de linguagens, adaptação dos textos, seleção e desenvolvimento das atividades, criação artística, avaliação e aprovação dos modelos etc. Entende-se que uma das principais etapas do processo é a validação do MOOC pelo professor proponente antes da publicação e início da oferta.
4 Considerações Finais
A experiência da transformação de um curso tradicional em um curso a distância possibilitou a identificação de características atribuídas a cursos massivos hospedados na Internet, chamados de MOOC.
Assim, observou-se que a oferta de MOOCs na Uniso não se construiu a partir das concepções da educação em massa, mas da oportunidade e da identificação de uma demanda existente por
conteúdos formativo que atendam aos desejos das pessoas em busca de formação, independente da formalidade do processo.
Esse fato corrobora a evidência alcançada por cursos dessa natureza a partir dos anos 2000, quando a internet passa a hospedar de forma mais significativa as iniciativas de educação em consonância com a disponibilização de ferramentas de autoria e colaboração apoiadas pelas tecnologias. Por fim, a avaliação da experiência e do modelo utilizado indicam possibilidades de melhorias nas linguagens utilizadas nos materiais e de demanda garantida para novos MOOCs de áreas ainda não exploradas na instituição.
Referências
BATES, A. W. (Tony). Educar na Era Digital: Design, Ensino e Aprendizagem. São Paulo: Artesanato Educacional, 2016.
CLARK, Donald. MOOCs: taxonomy of 8 types of MOOC. Donald ClarkPlan B, april 16, 2013. Disponível em: . Acesso em 18 maio 2018.
FELIPPE, Wanderley Chieppe et al (Org.). Extensão nas Instituições Comunitárias de Ensino Superior: Referenciais para a construção de uma Política Nacional de Extensão nas ICES. XX Encontro Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e Instituições Comunitárias, 2013.
GONÇALVES, M. F.; TORRES, E.; CHUMBO, I. A.; GONÇALVES, V. M. Massive open online courses (MOOC) na formação contínua de professores: um estudo de caso. Revista Onis Ciência, v. 3, n. 10, p. 5-21, 2015.
RAMOS, João Augusto et al. MOOCs: EM BUSCA DA QUALIDADE. SIED: EnPED - Simpósio Internacional de Educação a Distância e Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância, 2014.
