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SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO (SRT): UM AVANÇO NO PROCESSO ANTIMANICOMIAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA.

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SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO (SRT): UM AVANÇO NO PROCESSO ANTIMANICOMIAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA.

Josiane F. Lozigia Carrapato1 Sueli Cavicchioli Azevedo2

INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

A Saúde Mental vem evoluindo gradualmente de um modelo hospitalocêntrico para um modelo ambulatorial de atenção diária, no qual ocorreu a criação de CAPS-Centro de Atenção Psicossocial, equipe de saúde mental na atenção básica, Centros de Convivência, Serviço Residencial Terapêutico (SRT), entre outros serviços.

O SRT é um espaço privilegiado na construção da autonomia de pacientes com longo período de internação psiquiátrica, sendo cotidianamente resgatadas a cidadania e sua identidade nas atividades diárias.

O SRT é uma estratégia para desospitalização e extinção dos Hospitais Psiquiátricos, pois muitos pacientes, devido institucionalização por muitos anos, romperam com os vínculos familiares e sociais, assim é necessário o acompanhamento por uma equipe interdisciplinar num processo de reabilitação psicossocial.

A questão do processo de reabilitação é muito complexa, pois exige da equipe paciência e conhecimento técnico em saúde mental. É através da reabilitação que o paciente resgatará o nível de autonomia no exercício de suas funções na comunidade, sendo possível neste processo a aquisição de habilidades sociais “adormecidas”, assim, o paciente exercerá escolhas, opiniões resgatando seu papel enquanto cidadão.

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Instituição: Prefeitura Municipal de Bauru/SP - Secretaria Municipal de Saúde 2 Instituição: Prefeitura Municipal de Bauru/SP - Secretaria Municipal de Saúde

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O referido artigo articula a história da política de saúde mental com o SRT, ressaltando a importância do rompimento com a lógica manicomial para reconstrução de identidades que sofreram a despersonalização, sofrimento biopsicossocial, bem como o abandono e muitas vezes o desprezo pela família e sociedade.

A Trajetória da Reforma Psiquiátrica

O movimento da reforma psiquiátrica contribuiu significativamente para mudança do modelo hospitalocêntrico como hegemônico.

De acordo com Amarante (1995) a respeito das psiquiatrias reformadas ocorreram a psiquiatria Institucional e as Comunidades Terapêuticas; a Psiquiatria de Setor e Psiquiatria Preventiva e a Antipsiquiatria e a Psiquiatria Democrática Italiana.

A Psiquiatria Institucional e as Comunidades Terapêuticas realizaram uma crítica ao Sistema Hospitalar Asilar, acreditavam que a pessoa com transtorno mental necessitaria de liberdade, espaço para realização de atividades diversificadas como oficina de cozinha, artes, lazer, entre outras, e acolhimento permanente. Ambas limitavam as reformas no âmbito asilar, ou seja, continuidade dos Hospitais com mudanças internas.

A Psiquiatria de Setor Francesa buscou dividir o hospital em vários setores, e em equipes que acompanharia os pacientes internados na comunidade.

O modelo norte-americano denominado Psiquiatria Preventiva foi muito importante, pois segundo Amarante (1995) possibilitou mudanças importantes explicitando não mais a doença, mas sim um novo objeto denominado saúde mental; um novo objetivo, não mais voltado somente ao tratamento, mas buscando a prevenção da doença mental; um novo sujeito de tratamento, não mais na individualidade, e sim na coletividade; um novo agente profissional, não mais centralizado em um único profissional, e sim as equipes comunitárias; um novo espaço de tratamento, não mais no espaço hospitalar, mas sim na

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comunidade e uma nova concepção de personalidade, considerando o “doente” como uma unidade biopsicossocial.

Percebemos que o modelo norte-americano influenciou não somente a saúde mental, mas também a saúde pública, pois na Declaração de Alma-Ata ficou explícita a prevenção na Atenção Primária à Saúde.

Já a Antipsiquiatria e a Psiquiatria Democrática Italiana sugeriam a demolição dos Hospitais Psiquiátricos, pois acreditavam que os hospitais deveriam ser fechados e automaticamente substituídos por serviços territoriais de atenção diária.

A Reforma psiquiátrica no Brasil iniciou com a “Crise da Dinsam” (Divisão Nacional de Saúde Mental) em 1978, na qual consolidou-se através de uma denúncia por profissionais residentes de medicina sobre as situações precárias dos hospitais, trabalho e a impossibilidade de tratamento digno aos pacientes com transtornos mentais.

Organizaram núcleos de Saúde Mental, sendo criado o MTSM – Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, com solicitação de formação de recursos humanos; política salarial adequada; mudança nas relações entre instituição, clientela e profissionais; modelo com condições de tratamento digno.

No Brasil realizaram-se muitos Encontros e Congressos com objetivo de possibilitar discussões e reflexões sobre a atenção em Saúde Mental. Criou-se um movimento social muito importante denominado de “Luta Antimanicomial”, sendo que o mesmo vai além da assistência, significa um avanço social muito importante que é a organização dos trabalhadores, usuários e familiares de saúde mental.

O movimento da Luta Antimanicomial propõe o rompimento com a lógica manicomial em qualquer instituição, possibilitando consolidar uma ampliação da rede substitutiva, qualificar e capacitar as equipes na perspectiva antimanicomial e proporcionar maior articulação entre usuários, familiares e trabalhadores em saúde mental.

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A legislação em Saúde Mental

A política Nacional de Saúde Mental vem lutando pela diminuição dos leitos em Hospitais Psiquiátricos e criação de serviços intermediários e substitutivos à internação hospitalar.

A legislação nacional consolidada busca incentivar a criação de serviços para possibilitar tratamento adequado às pessoas com transtornos mentais.

A Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, denominada Lei Orgânica da Saúde dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde; a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.

A Portaria SNAS nº 224, de 29 de janeiro de 1992 é um marco importante à saúde mental, pois o secretário Nacional de Assistência à Saúde e o presidente do INAMPS acatam as idéias da Coordenação de Saúde Mental e regulamentam o funcionamento de todos os serviços de saúde mental. Esta portaria tornou-se imprescindível para regulamentar o funcionamento dos Hospitais Psiquiátricos que sabidamente eram, e alguns ainda são, lugares de exclusão, silêncio e martírio.

Outra portaria importante para romper com a lógica manicomial é a Portaria GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, na qual buscou ampliar a abrangência dos serviços substitutivos de atenção diária, estabelecendo portes diferenciados a partir de critérios populacionais, e direcionando novos serviços específicos para área de álcool e outras drogas e infância e adolescência..

Esta portaria possibilitou a criação de CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, serviços especializados a pessoas com transtornos mentais graves separando a demanda entre adultos, crianças e adolescentes e dependentes de álcool e drogas, como também possibilitou a normatização/regularização de serviços de saúde mental com essa finalidade e que já existiam anteriormente, como os NAPS, CERSAM, etc. Os CAPS podem ser de modalidades diferentes de acordo com a população do município, CAPS I população entre 20.000 e 70.000;

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CAPS II população entre 70.000 e 200.000 e CAPS III população acima de 200.000 habitantes.

A Portaria GM nº 106, de 11 de fevereiro de 2000 cria e regulamenta o funcionamento dos “Serviços Residenciais Terapêuticos”. Esse documento pontua:

[...] entende-se como Serviços Residenciais Terapêuticos, moradias ou casas inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores de transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social e laços familiares e que viabilizem sua inserção social. (BRASIL, 2004)

O rompimento do paradigma manicomial ocorre gradualmente, possibilitando a pessoa acometida de transtorno mental ser tratada em ambiente terapêutico, preferencialmente em serviços comunitários de saúde mental, buscando a reinserção e reabilitação psicossocial.

Serviço Residencial Terapêutico e o processo de autonomia

As Residências Terapêuticas são estratégias imprescindíveis para a desospitalização e disinstitucionalização de pessoas que passaram grande parte da vida dentro de um hospital psiquiátrico.

Muitas pessoas tem longos períodos de internação, fora do quadro agudo. Estes pacientes usam o hospital como moradia devido à falta de condições sociais, afetivas e/ou financeiras, no entanto, poderiam se beneficiarem de um tratamento extra-hospitalar como o Serviço Residencial Terapêutico.

No município de Bauru em 07.08.2005 foi implantado o Serviço Residencial Terapêutico-SRT, pois o Hospital psiquiátrico Sebastião Paiva em março de 2005 decidiu extinguir os lares abrigados que estavam atrelados ao mesmo.

As Residências Terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia para um grande contingente de pessoas que está internada há anos em hospitais

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psiquiátricos por não contar com suporte adequado na comunidade, sem vínculo familiar e social.

Cada residência pode abrigar de um indivíduo até no máximo oito pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional sensível às demandas e necessidades de cada um.

É importante ressaltar a necessidade de suporte de caráter interdisciplinar, pois o processo de reabilitação psicossocial deve buscar de modo especial a inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da comunidade.

Quando os pacientes saem dos hospitais psiquiátricos, depois de anos de exclusão, clausura e internação, percebemos a presença nos pacientes do que Gofman (1974) chamou de “mortificação do eu”, referindo-se à modificação da concepção que o paciente tinha de si ao longo período de internação e a perda dos papéis sociais, perda da aprendizagem do convívio social e da vida cotidiana fora do contexto hospitalar e muitas vezes a perda da própria identidade e sua família.

Muitos pacientes não tem documentos, não sabem o próprio nome e não possuem regras para conviver na comunidade, assim é imprescindível o trabalho de equipe interdisciplinar para construção da autonomia.

Ao referirmos ao SRT, automaticamente pensamos na palavra cuidado, pois é muito complexo cuidar em saúde mental. Socialmente em saúde cuidar é fazer exames, receber um diagnóstico médico e após a consulta a prescrição de alguns medicamentos. Em saúde mental, ou melhor, em qualquer dimensão, na qual o foco seja a saúde e não a doença, cuidar significa olhar o ser humano como ser biopsicossocial em sua totalidade.

Ao cuidarmos de uma pessoa com transtorno mental em que ficou institucionalizada por muitos anos, no cotidiano o cuidado abarca a construção de projetos de vida, em contraposição ao reducionismo de uma intervenção voltada para a remissão de sintomas.

A equipe do SRT busca resgatar primeiramente a identidade do “paciente”, sendo que muitos não possuem nem a certidão de nascimento,

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consequentemente não são legalmente considerados cidadãos. Muitos não sabem do que gostam, não sabem cuidar de sua higiene pessoal e nunca foram passear para escolher e comprar seus objetos pessoais, assim possibilita-se a realização de atividades de vida diária – AVDs e atividades de vida prática – AVPs proporcionando gradualmente o desenvolvimento da autonomia.

A desinstitucionalização realmente ocorre tendo o processo da autonomia como proposta central do projeto terapêutico, recompondo a cidadania, reinserindo a pessoa com transtorno mental na sociedade e ao mesmo tempo desenvolvendo trabalho para ampliação da autonomia e criação de alternativas para sobrevivência.

A autonomia será viabilizada através do processo de reabilitação psicossocial, ou seja, programas e projetos que possibilitem a reinserção da pessoa com transtorno mental.

O SRT representa uma possibilidade de resgate da cidadania dos portadores de transtorno mental, buscando resgatar o retorno à vida da cidade e ao convívio social.

A questão do processo de reabilitação é muito complexa e Pitta (2003) relata que no sentido instrumental a reabilitação psicossocial representa um conjunto de meios que se desenvolvem para facilitar a vida das pessoas com problemas severos e persistentes. É através da reabilitação que o paciente resgatará o nível de autonomia no exercício de suas funções na comunidade.

O trabalho de reabilitação psicossocial de pacientes institucionalizados faz-se no interior das famílias de origem ou de acolhimento, ou no âmbito dos “Serviços Residenciais Terapêuticos”.

Habituados com a rotina hospitalar que massifica e despersonaliza, para muitos dos pacientes o grande desafio foi readquirir habilidades básicas e antigos prazeres que causariam espanto a qualquer pessoa.

É muito importante para esses sujeitos reaprender a fazer coisas básicas como ir ao supermercado e decidir o que deseja comprar, colocar as roupas na máquina de lavar e estender as mesmas no varal, fazer o café e as refeições,

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reaprender a usar o dinheiro, reinvindicar por roupas modernas, reaprender a tomar ônibus e andar na cidade.

OBJETIVO

Articular a teoria da reforma psiquiátrica com a prática cotidiana do Serviço

de Residência Terapêutica.

METODOLOGIA

Colocar em prática o conhecimento empírico/prática no Serviço de Residência Terapêutica e o conhecimento científico/teorias relacionadas à saúde mental.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

É necessário reinventar a maneira de conceber a questão da “loucura” cotidianamente, ou seja, ao invés da cura, cede-se espaço à emancipação, autonomia, cidadania ativa e desconstrução da relação de tutela.

Sabemos que devido os vários anos de internação e com a ausência ou fragilização dos vínculos familiares, os pacientes, ou melhor, os moradores das residências terapêuticas necessitam resgatar sua autonomia, sendo que somente com o auxílio dos técnicos de saúde mental é que será possível viabilizar esta ação.

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O SRT é um serviço que busca romper com o paradigma de clínica, de doença, busca-se deslocar a díade doença-cura evoluindo para uma relação existência-cuidado, consequentemente é levado em consideração a compreensão do homem em suas relações concretas, suas reais necessidades e de uma vida concreta.

Este serviço tem como perspectiva viabilizar o que há de legitimo na política de saúde mental, rompendo obviamente com o paradigma manicomial e com a visão da “loucura”.

É importante pensar a partir da relação do paciente com a realidade social, na circulação pela cidade, no resgate da autonomia, na diferenciação entre necessidade e desejo, das escolhas, entre outros, que todo cidadão necessita para sobreviver dignamente.

Concluímos que o SRT busca romper com o olhar reduzido a doença e procura em sua prática ampliar este olhar, efetivando ações voltadas para a existência da pessoa doente em sua totalidade, abarcando tanto as condições objetivas de vida (moradia, trabalho, condições sócio-econômicas), quanto àquelas ditas subjetivas (relações interpessoais, vivências internas).

Palavras-chave: Saúde Mental. Reabilitação Psicossocial. Reforma Psiquiátrica.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARANTE, P.D.C.(Org.) Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro:SDE/ENSP, 1995.

GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo:Perspectiva, 1074.

PITTA, Ana Maria Fernandes. O que é reabilitação Psicossocial no Brasil, hoje? In:______. Reabilitação Psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.

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