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FLORILEGIO

DE

SAOJOSÉ

Breves meditac;ões para o mez de marso

Missus est angelus Gabriel ad Virginem desponsatam viro cai nomen erat Joseph et no· men Virginis Maria. (S. Lucas, I, 26 e 27),

-�

S. PAULO

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Approvanbo e abançoanbo o "Flon1egio de S.

josé", fructo bas piebosas meõitações be um bos nossos amabos biocesanos, concebemos cem bias be inbulgencia, na forma costumaba ba E:greja, a tobos os fieis que o lerem com a intenção be hon' rar ao glorioso patriarcl)a, cuja bevoção besejamos caba ve3 mais popularisaba nesta Arcl)ibiocese.

S. Paulo, 21:! 1le Agosto de 19ll, festo. de S. Agos­

tinho.

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FLORILEGIO

de Sao José

•••

A devoção a ·s. José, que a Egreja tem se desvelado em promover cada vez mais, cresceu e propagou-se por toda parte desde que Pio IX pro­ clamou o Santo Patriarcha Padroeiro universal da Egreja catholica (1) Novo augmento adquiriu ainda depois que Leão XIII, com sua palavra e auctorida· de, a recommendou á piedade dos fiéis, dizendo que •importa muitíssimo ao povo christão, quando in­ vocar a Virgem Mãe de Deus, acostumar-se a invo· car tambem S. josé, seu castissimo esposo, com especial devoção e confiança. (2)>

Nas vinte cinco invocações da ladainha de S. José, approvada por Pio X, o actual Pontifice (3), se acham compendiados todos os attributos, privile­ gios e virtu :les que adornaram na terra a pessoa do Santo Patriarcha e formam no céo a sua corôa de gloria. Se da Virgem Santíssima, Mãe de Deus, nunca será bastante quanto se disser ou escrever em seu louvor (4), de S. José, considerando-se a alta

(1) Decreto de 8 de Setembro de 1870,

(2) Enc. sobre o culto de S. José, de 15 de Agosto de 1Be9 (3) Decreto de 18 de Março de 1909.

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dignidade em que foi constituído, como esposo cas­ tissimo da Mãe de Deus, guarda da sua virgindade e defensor do seu divino filho, podemos quasi di­ zer outro tanto. Na ordem da graça e da santidade, Maria occupa o primeiro Jogar entre todas as crea­ turas; mas depois della nenhuma outra se avantaja aos meritos e dignidade de S. José.

Se Maria foi honrada com o singular privilegio de ser escolhid1 para Mãe do Verbo Incarnado, que ella concebeu por obra e graça do Espírito Santo, conservando intacta a sua virgindade, ao seu castis­ simo esposo, o Patriarcha S. José, coube tambem a honra insigne de ser o Pae adoptivo do filho de Deus, confiado á sua guarda como Chefe da Sagra­ da familia.

Assim, se não ha na lingua_gem humana louvo­ res que possam glorificar a excelsa Mãe de Deus, quanto ella merece, tambem seria difficil reunir em devoto ramalhete, todos os meritos, todas as virtu­ des, todas as grandezas do seu virginal esposo S. José. Todavia nas ladainhas com que invocamos o seu valioso patrocinio e intercessão, se acham reu­ nidos os principaes títulos com que a Egreja o re­ commenda á devoção_ dos fieis, e que va:nos con­ templar em breves meditações. (1)

(1) Aos vinte cinco titulas da ladainha, addiclonamos seis, que vão marcados com um asterisco, para completar o nume­ ro correspondente aos 31 dias do mez de Março, consagrado ao Santo Patriarcha.

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1. ª Invocação

São José

Santo, é o primeiro titulo com que invoca­ m.os o glorioso Patriarcha. A santidade é com­ mum a todos os bemaventurados que r<:inam

com Jesus Christo no céo, coroados de gloria; mas S. José tem a preeminencia a que lhe dão direito os seus meritos singulares e ex­ traordinarios: elle é o primeiro e o maior dos Santos, como esposo da Santissima Virgem e pae adoptivo do Filho d.e Deus. Recommen­ dando aos fiéis o culto de S. José, diz o Pa­ pa Leão XIII, na sua terceira encyclica sobre a devoção do Rasaria :

«E' tão sublime a dignidade de Mãe de Deus, que nenhuma outra cousa maior pode haver, Mas, porque entre S. José e a Santissima Virgem subsistiu o vinculo do matrimonio, não ha duvida que elle mais do que ninguem se approximou da excelsa dignidade pela qual a Mãe de Deus sobresae immensamente a to­ das as naturezas creadas.

Se Deus deu S. José por esposo á Vir­ gem, certamente lh'o deu para que fosse não sómente companheiro da vida, testemunha da virgindade, protector da honestidade, mas

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tam-8

bem part1c1pante da sua excelsa dignidade, mediante o vinculo conjugal.

Egualmente é elle o unico que se avan­ taja a todos os homens em sua dignidade au­ gustíssima, porque foi por disposição divina, guarda do Filho de Deus, e, na opinião dos homens, tido por seu pae ( 1) »

Ora, se foi S. José quem mais se appro­ ximou da dignidade de Maria como Mãe de Deus, se até participou dessa dignidade, e me­ receu exercer sobre seu divino Filho, corno guarda e protector, uma auctoridade quasi paternal , que virtudes, que merito, que gran­ deza, que santidade pode haver egual á sua entre os bemaventurados do céo ?

Ainda mais: «Dessa auctoridade de pae adoptivo, continúa Leão XHI, resultou que o Verbo de Deus estivesse modestamente sujeito á José, lhe obedecesse e prestasse toda a honra que necessariamente devem os filhos a seu pae ( 2) >> Elle, Jesus Christo, Deus e Homem, e co­ mo Deus, eterno, immenso, omnipotente, cre­ ador do céo e da terra , soberano Senhor do universo, Elle, a Magestade infinita, esteve sujeito a um homem a quem obedeceu e hon­

rou como a seu pae !

Ora esse homem para ter a suprema dig­ nidade de merecer a sujeição e a obediencia

(11 Encyc. 15 de Agoeto de 1889,

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do Filho de Deus, devia ser, depois de Maria Santisi;ima, incomparavelmente Santo.

Se Maria como filha de Deus Padre, Mãe de Deus Filho e Esposa do Espírito Santo, é o templo da Santíssima Trindade, S. José que foi o guarda desse templo, deve ter a preeminencia sobre todos os Santos.

Meditando sobre os outros títulos que lhe confere a Egreja, e sobre a:; eminentes vir­ tudes que o exaltam, mais arraigado ficará em nossos corações este sentimento que nu­

trimos sobre a inexcedível grandeza de S. José, depois de M::iria Santíssima, entre todos os Santos.

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2.ª lnvoc�ção

Illustre descendente de David

Desde Abrahão, que foi o pae do povo escolhido para conservar na terra a verdadei­ ra religião,· e ao qual Deus promettera que de sua progenie nasceria o Me.ssias, contam­ se até Jesus Christo, segundo o Evangelho ( 1 ), quarenta e duas gerações.

O povo escolhido, governado a principio pelos Patriarchas e depois pelos J uizes até Samuel, teve como seu primeiro. rei Saul.

Depois deste foi sagrado rei um pastorinho de Belêm, chamado David, da tribu de Judá, que viveu setenta annos, tendo reinado q11a-· renta, dos quaes sete em Hebron e tres em Jerusalém.

· «Nenhum monarcha, diz o abbade Brioux (2), deixou no espirito do seu povo, maio­

res e mais, gloriosas recordações do que Da­ vid.

A Sagrada Escriptura está cheia do seu nome como do de Abrahão : s imples pastor ao principio, depoi� valente soldado, chegou

(1) 5. Matheus, 1, 17.

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II ao supremo poder, passando de alguma sorte por todos os graus da hierarchia social.

Suas victorias alcançaram -lhe os mais bri­ lhantes elogios ; e, pela bravura e pelo genio, foi o mais notavel dos reis de Israel.

Os despojos que arrebatou ás nações ini­ migas lhe deram taes riquezas como nenhum outro rei do Oriente as possuiu : mas este excesso de opulencia lhe foi prej udicial e el­ le chorou amargamente no psalmo 11/iserere

as faltas que as suas paixões lhe fizeram com­ metter. »

Passou tambem por muitas tribulações, e da varia fortuna, ora prospera ora adversa, nos deixou o Propheta-Rei a commovente e

arrebatadora expressão nos Psalmos que a

Egreja faz constantemente repetir nos seus divinos officios, verdadeiros potmas que por sua belleza enlevam a mente e arrebatam o coração.

Eis o tronco illustre donde vieram em li­ nha recta até Jacob os antepassados do nosso Santo Patriarcha.

« E Jacob, diz o Evangelho, gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus que se chama o Christo. ( I) »

Na regia estirpe de David conta-se uma longa serie de reis, alguns notaveis como o sabio e magnifico Salomão, o piedoso

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as e outros até a extincçilo do reino de Judá, e depois um grande numero de Patriarchas que governaram o povo de Deus até a con­ versilo da Judéa em provinda romana, pouco antes do !ld::.cimento de Christo.

S. José descendia, portanto, da nobre, an­ tiga e real familia de David, e esta illustre ascendencia ainda mais realça a simplicidade, a pobreza e a humildade a que elle chegou, por disposição divina, para ser o castíssimo esposo da Virgem e o Pae adoptivo· de Jesus Christo, que devia nascer na indigencia,

po-bre e humilde. '

Potentados do mundo qne vos orgulhaes da vossa altiva e nobre linhagem, do fausto e grandeza de vossos tectos, do esplendor da vida que levaes, vinde contemplar o des­ cendente dos poderosos e opulentos reis Da­ vid e Salomilo, na sua modesta officina de Nazareth, despresado de todos, a curtir a8 amarguras da pobreza e do trabalho, e apren­ dei com S. José a manter o decoro nos in­ fortunios e a heroica serenidade de animu na decadencia do poder e da fortuna.

Lembrae-vos tambem que Deus derriba os poderosos para elevar os humildes.

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3.ª Invocação

Lume dos Patriarchas

Entre os descendentes de Seth e dos outros filhos de Adã.o, os velhos paes de numerosa progenie ficavam á frente das tribus forma­ das pelas familias dos filhos e dos netos ; e­ ram os seus principes, juízes e sacerdotes.

Dá-lhes a historia o nome venerando e ho­ norifico de Patriarchas. A Providencia conce­ dia-lhes uma longa vida para que elles po<les· sem transmittir á posteridade a religião reve­ lada e, guardando fielmente a tradição das

promessas divinas, preparar a fé no futuro Messias. Os mais notaveis Patriarchas foram Adão , Noé, Abrahão, o pae do povo e,;co­ lhido, Isaac, Jacob e outros. Todos elles fo­ ram chefes de numerosas familie1s, que con­ servaram sempre o culto do verdadeiro Deus e a fé no Salvador promettido ao genero hu­ mano, depois da queda original. S. JoEé que devia encerrar a lista dos patriarchas da An­ tiga Lei, foi de todos o mais favorecido.

Destinado pela Providencia para ser o castís­ simo esposo e guarda da virgindade de Maria e pae adoptivo do Filho de Deus humanado, se n<l orclem natural não deixou clescendentes,

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mereceu a honra insigne de ser o Chefe da familia sagrada, como esposo de Maria e con­ siderado, na opinião dos homens, pae de Jesus

Christo, que na verdade lhe prestou a obe­ diencia, respeito e amor que os filhos devem aos paes. Mas, na ordem da graça� uma outra quasi paternidade lhe estava reservada, que o eleva acima de todos os Patriarcha,s.

« A divina familia que José ·governou com

poder quasi paternal, .diz Leão XIII ( 1 ), en­ cerrava em si o principio da Egreja nascen­ te. A Virgem Santíssima assim como é Mãe de Jesus, assim tambem é Mãe de todos os christãos, porque os gerou no monte Cal vario, entre os ultimas e maiores tormentos do Re­ demptor; e do mesmo modo Jesus Christo é como. que o primogenito dos christãos, que pela adopção e pela Redempção são seus irmãos. Daqui dimana a rasão porque S. José tem como recommendada a si proprio de um mo­ do especial a multidão de que se c0mpõe a Egreja, essa familia innumeravel e esparsa por todos os cantos da terra, sobre a qual, por ser Esposo de Maria e Pae adoptivo de Jesus Chris­

to, tem uma auctoridade quasi paternal ».

Eis a razil.o porque nós o invocamos com o titulo de Lume dos Patriarckas, não só por ser elle o Chefe da Sagrada Familia, sen1!.o

(1) Encyc. sobre o culto de S. José, de 15 de

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15 tambem por haver sido declarado Padroeiro da Egreja catholica, constituido de àlgum modo como Pae tambem dessa familia universal. A todos os Patriarchas da Antiga Lei sobresae S. José com brilho e fulgor, pois foi elle quem abrigou sob seus tectos e defendeu contra to­ dos os perigos o Auctor da Lei Nova, que nos devia reunir como filhos de Deus, na mesma fé e obediencia, não já· pelo temor mas pelos vinculas da caridade e do amor, que formam o maior , e, para assim dizer, o nnico preceito

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4.ª Invocação

Esposo da Mãe de Deus

Para realizar-se o ineffavel mysterio da Incarnação do Verbo e fazer-se homem o Filho de Deus, que segundo a prophecia de Izaias, devia ser concebido e dado ao mundo por uma virgem, diz o Evangelho qtte « foi por Deus

enviado o anjo Gabriel a uma virgem despo­ sada com um varão, que se chamava José, e o nome da Virgem era Maria. ( 1) »

Eis o titulo donde procedem toda as gran­ dezas de S. José esposo de Maria, esposo da Virgem immaculada, que pela virtude do Altíssimo e graça do Espírito Santo, devia conceber e dar á luz, sem quebra ·da sua virgindade o Verbo de Deus humanado. Esposei da Mãe de Deus, da Rainha do céo ; esposo castíssimo que foi o guarda da virgindade de Maria, que recebeu em seus braços o seu di -vino Filho, que foi o primeiro a contemplar,

o Messias promettido, o Salvador do mundo, que outro esposo mereceu jamais tão alto pri­ vilegio ? Transportemo-nos em espirito áquclla humilde casa de Nazareth, para oQde volta·

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ram os dois esposos depois da viagem á Belém, trazendo comsigo o precioso thezouro da nossa Redempção. Na partida eram dois Maria, a sentir os enlevos da maternidade pensando no Filho prestes a nascer : José, a rodeai-a de cuidados para que nada a molestasse.

Na volta eram trez: Jesus radiante de bel­ Ieza j unto âo seio puríssimo de Maria; e José

a meditar naquelle mysterio ineffavel, preoccu·

pado com o encargo de nutrir, defender e guiar os pnmeiros passos áquelle infante, que na opinião dos homens era seu filho, mas que elle sabia ser Filho de Deus.

Estava, pois, constituida a Sagrada Fami­

lia, da qual S. José era o chefe, e ali sob aquel­ le tecto humilde de Nazareth, emquanto Je­ sus crescia em sabedoria, edade e graça dian­ te de Deus e dos homens ( 1 ), Maria Santíssi­

ma, toda entregue aos cuidados do seu lar, desvelava-se no cumprimento dos seus deve­ res de Esposa extremosa e Mãe amantíssima, S. José, pobre e humilde, trabalhava na sua modesta officina, para grangear com o suor do seu rosto, o sustento da familia; e nessa ineffavel communnhão de vida e de amor, tinha elle um só coração e uma só alma com Maria

e ambos o coração e a alma no coração de

Jesus.

E' no meio da Sagrada Familia, na singeleza.

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desse convivio retirado e occulto, que nos apraz contemplar a S. José como Esposo da Mãe de

Deus, porque foi alli que sobresahiu a eminente santidade da sua vida conjugal. E para concluir, diremos com Leão XIII «Üs paes de familia têm em S. José o mais apurado exemplo de pa· terna) vigilancia e providencia; as esposas um. perfeito modelo do amor, da unanimidade e da. fidelidade conj ugal; as donzellas um espelho e um tutor da virginal inteireza (z) » Todos em•

fim de qualquer estado cu condição que se• jam, devem invocar com inteira confiança, pe­

lo valimento que elle tem , corno Esposo da Mãe

de Deus, o patrocínio de S. José.

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5.ª Invocação

Guarda da Virgem pura

A, virginal puresa de Maria pairava já na mente. do Eterno, quando depois da queda o­ riginal, .prometteu a nossos primeiros paes um Salvador ; foi annunciada pelo propheta Izaias, quando disse que uma virgem conceberia e da­ ria á luz o Redemptor ; brilhou na fronte au­ gusta da Mãe· de Deus, isenta de toda a ma­ cula, e pelo mais estupendo dos seus privile­

gios acompanhou a sua maternidade santissima. Virgem nos insondaveis designios do Omnipo­ tente ; virgem na visão prophetica de lzaias ; virgem no serviço do Templo ; virgem na vida conjugal ; virgem na maternidade ; Rainha das virgens, coroada no céo ! E essa Virgem puris­

sima, obra prima do Creador, reflexo da belleza immortal, Thesouro em que a mão de Deus accumulou todas as graças, formosura e san­ tidade, Templo augusto em que devia habitar a Trindade Santissima, essa Virgem, esse pri­ mor, essa belleza, esse thesouro, esse templo, o primeiro em que habitou o Verbo de Deus fei­ to homem, foi confiada na terra á guarda do Patriarcha S. José. O Santo, o Esposo da Mãe

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defensor da virginal pureza de Maria ; e todos estes privilegios elevam S. José a um .grau tão alto de merecimento e dignidade, que de­ pois da Trindade Santissima e da Virgem lm­ maculada, elle tem a preeminencia entre to­ dos os Santos. S. José, não obstante a sul!­ descendencia dos reis de Judá, foi um pobre artista, singello e humilde, que grangeava q sustento com o fructo do seu trabalho, com o suor da sua fronte, e passando por todas as prÍ� vações, mereceu sentar-se num throno de glo­ ria ao lado de Maria sua esposa, da Rainha dos anj os, porque no reino do céo são exalta­ dos os humildes e os pobres cumulados de bens.

Grandeza immensa, gloria immortal, rique­ za eterna estavam reservadas ao mais pobte e humilde dos homens, a quem Deus confiára a guarda do seu thesouro na terra: Maria San­ tissima e seu Filho unigenito. Invocando, pois, a S. José como Guarda da Virgem pura, pro­ curemos imitar a castidade e a pureza, de que elle proprio foi o modelo, e que o tornaram dig­ no de tão alta missão junto de Maria Santis­ sima . E como o Santo Patriarcha, posto que descendente àe sangue real e esposo da maior e mais santa das creaturas, viveu pobre e hu­ milde na terra para ser opulento e glorioso no céo, terminemos ainda com as palavras de Le­ ão XIII : « Os de nobre sangue tomando por modelo a S, José, aprendam a manter o

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de-21

coro até nos infortunios, e os ricos aprendam quaes são os bens que mais que tudo impor·

ta appetecer e com todas as forças ajuntar. E

todos os que vivem do salario do seu traba­

lho .manual cobrem alento, pensando em S.

f osé, que soffreu com resignação e constancia,

as tribulações inherentes áquella sorte de

vi(.ia. ( 1 ).»

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6.ª Invocação

Tutor do Filho de Deus

Tendo Deus resolvido em seus altos desí­ gnios que Jesus Christo seu amado Filho assumisse a natureza humana, para soffrer e padecer, como homem, na Redempção do genero humano, permitçiu que Elle participas­ se 0desde o seu nascimento, com excepção do peccado, de todas as nossas fraquezas. O Sal­ vador podia appartcer no mundo sem passar pela contingencia de nascer, como nós, de

uma mulher, porque nada é impossível 'á

omnipotencia do Eterno Pae .

«Não poderia Deus, pergunta Pio X, dar-nos por outra via, sem ser por M;:iria; u reparador da

huma::iidade ? Mas já que aprouve á eterna Providencia que o Homem Deus nos fosse dado pela Virgem, que o trouxe realmente no seio, que resta senão que recebamos Jesus das mãos de Maria? ( r )" »

Estas palavras do actual Pontif1ce tendo por fim demonstrar que não ha caminho nem mais facil nem mais seguro, por onde os homens

(1) Encyc. de 2 1le Fevereiro de 1904, sobre o J'u­ bileu lia lwm. Conceição.

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possam chegar a Jesus Christo, serv�m tambem para o nosso argumento.

Assim, querendo Deus que o Redernptor nascesse da mulher, que nos fosse dado por ella e passasse, incolurne na sua santidade, ·por todas as phases da nossa existencia, desde a infancia até a virilidade, soffrendo como n6s a fome, o frio, a dor, devia predestinar-lhe na terra um tutor, um pae adoptivo, que lhe desse alimento, agasalho e protecção, :lté que Elle chegass� á edade de poder entrar na vida publica para cumprir a sua missão.

Jesus Christo que, como Deus, era o Crea­ dor e o soberano Senhor do universo, irn­ menso na sua grandeza infinita, forte na sua omnipotencia, corno Homem, nasceu po­ bre, pequenino e fraco, carecendo de amparo e protecção de um outro homem, que o de­ fendesse na sua fraqueza, lhe desse o alimento e lhe gúiasse os primeiros passos no caminho da vida.

Quem foi essa creatura privilegiada, esse ho­ mem predestinado, a quem Deus confiou na terra o sustento, a guardá e a defeza de ·seu Filho upigenit_o que Elle muito amava e no qua.J punha todas as suas complacencias ? ( 1)

Esse homem foi S. José, ao qual coube por disposição divina, a missão augusta, sublime, incomparavel em dignidade e grandeza

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de sP.r o pae adoptivo do Filho de Deus, optimo Tutor de Jesus.

«Como esposo de Maria Santíssima e Pae adoptivo de Jesus, diz Leão XIII, o glorioso Patriarcha veio a ser não só o guarda da fa­

milia a que presidia, mas tambem seu legitimo

e natural curador e defensor ( r) »

E como desempenhou elle a sua missão? Responde o mesmo Pontífice: « Esses devert!s e

encargos exerceu elle realmente emquanto viveu. Esmerou-se em defender a Consorte e o Divino Filho com extremos de amor e uma assiduidade diaria; forneceu-lhes o necessario para o sustento e trato da vida; evitou-lhes o perigo de vida, tramado pelo rei por inveja, procurando abrigo em lagar seguro ; e nos

incommodos do caminho e asperezas do

desterro, foi perpetuo companheiro e consola­ dor da Virgem e de Jesus.»

Colloquemo-nos tambem. ·sob a tutela de S. José, invocando sempre com inteira confiança o seu auxilio e protecção.

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7.ª Invocação

Zeloso defensor de Christo

Jesus Christo, Filho do Rei immortal, do Senhor dos exercitos, do Triumphador eterno; Jesus Christo que venceu o mundo e ha de sempre triumphar dos seus inimigos, precisaria ja­ mais de alguem que o defendesse na terra ?

Sim; era preciso que na sua infancia e adolescencia, emquanto retirado e occulto, se preparasse para o desempenho de sua missão; era preciso que a sua humanidade san­ tíssima se conservasse illesa. Eram tantos os perigos, desde a inveja de Herodes, que via n'Elle um rival, até o odio concentrado dos phariseus que devia explodir mais tarde, por não quererem reconhecer n'Elle o Messias, nem acreditar na sua divindade, tão arriscada estava a sua vida, que Jesus, emquanto não chegasse a virilidade, devia ter um guarda e defensor que o preservasse de qualquer cilada dos seus inimigos. Quem seria o defensor de Jesus? Essa missão estava naturalmente reser­

vada a S. José, constituído por Deus na su· prema dignidade de Pae adoptivo do seu di­ vino Filho. Mas, de que força,· de que meios podia dispor, para tão grave encar�o, o pobre

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carpinteiro de Nazareth, que não tinha vali­ mento algum entre os homens ? Da pruden­ cia, da humildade, da confiança em Deus, que são as armas do fraco e o segredo de suas

victorias. Demais o santo Patriarcha, depois das revelações que lhe foram feitas, bem sabia ·que não era mais do que um instrumento da di­ vina Providencia para a guarda e defeza de J e­ sus, e que do Alto lhe viriam as luzes e auxílios necessarios para cumprir a sua doce, porem , ardua missão. No meio dos cuidado.s, carinhos e affectc.s com que exercia a aucto­ ridade paternal de que se achava investido so­ bre a pessoa do divino Filho de Maria, com que sobresalto recebeu elle o aviso do Anjo que lhe disse : « Levanta-te, toma comtigo o Meni­ no e sua Mãe, e foge, porque Herodes o procu­ ra para lhe dar a morte ! (1) ».

Tremeu na sua fraqueza, mas confiando em Deus, levantou-se e partiu, levando comsigo Ma­ ria e seu filho, e no aspero caminho do dester­ ro e emquanto durou o seu exílio na terra do Egipto, foram a prudencia e a vigilancia , dia e noite, as armas com que defendeu o preci­ oso Thesouro cuja guarda lhe fôra confiada.

Deus velava do alto do céo sobre a Sagra­

da Familia e infundia a S. José o valor e a coragem para arrostar todos os perigos que rodeavam a infancia de Jesus, cuj a vida como

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Homem, depois de sahir do tecto paterno, se­ ria preservada pelo proprio Deus, até que che­ gasse a terrivel hora do abandono, para con­

summar-se a obra da nossa Redempção. S. José foi, portanto, durante todo o tempo em que Jesus esteve sob sua guarda, o Zeloso

defensor de Christo, como nós o invocamos, ti­ tulo pelo qual Pio IX declarou lambem o Santo Patriarcha Defensor da Egreja catholi­ ca, como seu especial e insigne Protector.

Aprendamos com S. José a tomar sempre a defesa do pobre, do fraco e do opprimido, que representam na terra a pessoa de Jesm; Christo, como Elle proprio declarou .

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8.ª Invocação

Chefe da Sagrada. Familia

J �sus Filho de Deus, Maria Mãe de Jesus, José seu Pae adoptivo, Esposo de Maria, to­

dos vinc11lad0s pelo amor mais puro e mais santo que jamais reuniu tres corações em um só, eis a Sagrada Familia, fóco de amor, inef­ favd convivia, união dulcissima, sobre a qual brilha um reflexo da Trindade Santíssima.

Destinado pela Providencia para ser o Che­ fe dessa familia bemdita, que abrigava em seu seio a Santidade infinita na pessoa de Jesus, sobre a qual devia exercer a auctoridade pa­ terna, que virtude, que pureza, que santidade não devia reunir o glorioso Patriarcha, para merecer entre os homens tão sublime digni­ dade, tão alto privilegio!

Que admiravel grupo, tão pequeno, pois eram só Ires e ao mesmo tempo tão grande que abrangia na pessoa de Jesus a humanida­ de inteira ! Contemplemos a Sagrada Familia na humilde casa de Nazareth, naquelle modes­ to interior onde se occultava aos olhos do mundo o 'llais bello espectaculo de uma vi­ da toda pa!lsada no recolhiniento, no trabalho e na oração.

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Maria Santissima, a mais terna das espo· sas, a mais extremosa das mães, era o mo· delo perfeito da solicitude, do amor e do ca­ rinho, conchegando ao seio seu divino Filho, servindo ao pobre artifice que moirejava no trabalho,. e attendendo a todos os encargos domesticas, fazia por suas proprias mãos os mais humildes serviços.

José, seu castissimo espos'o, que não tinha outros meios de prover a subsistencia da fami­ lia, a não ser o fructo do seu trabalho quo­ tidiano, paciente, resignado, curvava humilde­ mente a fronte na sua officina, com o p�nsamento em Deus e a paz no coração.

E Jesus, o S'lnto enlevo daquella ditosa familia, que fazia ?

Ah ! Jesus era o vinculo que prendia aquel­ les dois corações ; Je�us era a alma e a vida daquellas duas existencias,. de Maria sua Mãe, e. de José seu Pae adoptivo. Jesus que era Deus, esparzia naquelle ambiente o perfume da santidade, juntava novas flores á coroa de virtudes que adornava cada uma daquellas frontes e transformava aquelles dois corações em d ois derivativos do oceano de amor que era o seu.

Oh ! Santa Familia, modelo das familias christãs, onde estava em Maria o mc:delo das

mães, em José o modelo dos paes, em Jesus

o modelo dos filhos !

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no sagrado lar de Jesus, na escola de Naza­ reth, a santidade, a pureza, a castidade, o respeito, o amor, a obediencia a humildade e todas as virtudes que devem adornar a nossa vida, em qualquer estado ou condição em que nos collocar a divina Providencia. E da Sa­ grada Familia, que realizou na terra o ideal da perfeição, S . José foi o chefe, como nós o invocamos, titulo no qual se resumem todas as grandezas, todos os privilegios, todas as glorias do Bemaventurado Patriarcha. Todas as familias devem consagrar-se a S. José, como seu especial protector .

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9.ª Invocação

José justissimo

O Evangelho resume todas as virtudes de

S. José numa só palavra : elle era justo. Não se afflijam ::is almas devotas com esta parcimonia dos Evangelistas, deixando de men­ cionar outros attributos e predicados do san­ to Patriarcha, porque no Ev,angelho, apesar de sua simplicidade, tudo é grandioso.

Assim como no sol se concentra toda a luz que elle irradia, illuminando a terra, ou nu­ ma gemma preciosa, num diamante lapidado scintillam todas as cores do iris em seus inu­ meros cambiantes, assim na palavra justo de que usa o Evangelho, brilham todas as virtu­ des que adornam a coroa de gloria do nosso

Patriarcha.

Quando dissemos na primeira invocação que S. José, depois de Jesus Christo e de Ma­ ria Santíssima, é o primeiro e o maior dos Santos, ficou tambem dito que na mesma or­ dem, elle é o primeiro e o maior dos Justos, porque na santidade está essencialmente a j us­ tiça ; não poc:!e ser santo quem não é justo. Con­ sideremos agora S. José como ju!:'to na acccp­ ção propria do termo. Homem justo se diz

(31)

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do que observa toda a lei : religiosa, moral e social.

Quanto á religião, S. José que observavã a Antiga Lei, a de Moysés, logo que pela re­ velação do Anjo que o tranquillizára sobre a maternidade virginal de· Maria, começou a en­ trever os primeiros fulgores de uma Lei NO• va, de uma religião que vinha não revogar mas aperfeiçoar a primitiva, elle que já pos­ suia a fé e a esperança na vinda do Messias, e foi o primeiro dos homens que, cheio de caridade e de amor, se prostrou aos pés de Jesus para adorar a sua divindade, S. José foi tambem o primeiro dos crentes, que ob­ servou a religião de Christo. Quanto á lei moral, S. José considerado em si mesmo e na sua qualidade de Esposo da Virgem e Pae adop­ tivo de Jesus, S. José foi eximia na ob�rer­ vanda da lei, no cumprimento de todos os seus deveres : simples, modesto, cast1ss1mo, laborioso, obediente a Deus, ninguem jamais

o excedeu na pratica da virtude. Como Espo­

so de Maria foi o modelo dos esposos no amor, na fidelidade, na castidade, no respeito, na protecção, e no provimento, apezar da sua pobreza, de tudo quanto era necessario para a subsistencia e decoro da Santíssima Virgem. E como Pae adoptivo de Jesus, quem pode imaginar o desvelo de S. José pelo divino Filho de Maria, que elk amava e adorava com ineffavel amor, desempenhando para com Elle

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todos os deveres de um verdadeiro pae, em­ quanto Jesus permaneceu sob a sua guarda e vigilancia ? Finalmente quanto á lei civil e aos deveres sociaes, S . José nos deu tambem o exemplo da correcção, do respeito e da obe­ diencia, n:iquelle passo da viagem a Belém, tão penosa para a Santíssima Virgem, no esta­

do em que se achava, mas a que elle sujeitou­ se para cumprir a lei de 'Augusto, que orde­ nára o arrolamento de todos os subditos do seu imperio. Eis o homem justo em toda a

extensão da palavra, justo na santidade, j usto na pratica de todas as virtudes, no cumpri­ mento de todos os deveres, jose justíssimo,

como nós o invocamos.

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10. ª Invocação

José castissimo

A castidade é a mais bella das virtudes porque ella reflecte no corpo a pureza da al­ ma, e se quizermos contemplar essa belleza em todo o seu esplendor, onde poderemos en­ contrai-a no meio das creaturas? Primeira­ mente em Maria Santíssima, a Virgem das virgens, Immaculada desde a sua conceição, tão pura que se eleva acima de todos os an­ jos, de todos os santos.

Depois, como nenhuma outra creatura se avantaja em pureza e castidade ao seu virgi­ nal Esposo, é na pessoa do Patriarcha S; Jo­ sé que mais refulge a belleza da castidade .

«Meditando, diz um egregio Prelado, me· ditando attentamente as virtudes de Maria Santíssima, o Jogar que lhe coube na redemp­ ção da humanidade, o heroísmo das virtudes que a puzeram acima de todos os anjos e santo� do céo, havemos de dizer afoitos e seguros da verdade : - se esta mulher deve ter um esposo, ha de ser como ella, puro, adornado de angelicas virtudes, eminentemente casto, soberanamente santo ( 1 )». Tal foi S.

(l '• D. Duarte Leopoldo, Patrocinio de S. Jose,

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José o castissimo esposo de Maria, o modelo de castidade, apresentado ao mundo, que não sabe comprehender essa virtude, mas a viu res­

plandecer na fronte augusta de S. José, na pes­ soa de todos os santos e eleitos do Senhor, que sempre existiram e hão de existir neste mundo. Qual é o segredo desse devotamento he· roico de tantas virgens consagradas a Deus, dessa abnegação sublime de tantos apostolas que desdP. verdes annos tudo abandonam : pa­ tria, familia, posição, fortuna e glorias munda­ nas, para se dedicarem exclusivamente ao ser­ viço de Deus e ao bem do proximo ? Oh ! a castidade não é só a mais bella das virtudes moraes ; é tambem a geradora dos g-randes devotamentos, dos acto5 heroicos, e dessa lim­ pidez d'alma e coração, sem a qual ninguem poderá ver a Deus, porque Elle é a pureza,

a santidade infinita. Em S . José, a castidade

elevou-se ao mais alto gráu, porque elle foi o Esposo da Virgem Santissima, o guarda da sua virgindade, e neste mundo foi o primeiro dos homens que não sómente viu, mas teve em seus braços, apertou ao coração, o Filho de Deus humanado, e se não podia vel-o na

sua divindade senil.o com os olhos da fé, sa­ bia pela fé que n:i pessoa de Jesus Christo estava o proprio Deus, e por isso foi tambem o primeiro que prostrado o adorou.

Mas S. José não foi sómente o Esposo da Virgem por excellencia, da Rainha das virgens,

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razão de sobra para o· invocarmos com o ti­ tulo de castissimo ; elle foi tambem o Pae adoptivo de Jesus. Ora, esse homem que de­ via estar em contacto intimo com o Filho de Deus, ter nos braços e apertar ao peito a pu­ reza e a santidade infinita, esse homem devia ser purissin:io, ca�tissimo, Esposo virgem de

uma Esposa virgem.

Oh ! Familia Sagrada, dulcíssimo enlevo das almas santas, ineffavel delicia dos cora­ ções puros : Jesus o Filho, a santidnde infini­ ta; Maria Santíssima a Virgem Mãe; José o Pae adoptivo, santo, virginal, castíssimo !

Que belleza , que exemplo !

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11.ª Invocação

José prudentissimo

A prudencia é a primeira das virtudes car­ deaes. Se na liuguagem commum chamamos prudente ao homem cordato, cauteloso e dis­ creto, quer no evitar os perigos, quer em es­ colher o que convem praticar no trato da vi­ da, na linguagem da religião a prudencia tem por objecto o conhecimento e a gloria de Deus; é a virtude que nos faz conhecer e escolher os meios de chegar a Deus e procurar a sua gloria . Num e noutro sentido, S. José foi o modelo da prudenci_a . c·omo esposo de Maria, sem estar ainda iniciado no .mysterio da In­ carnação, diz o Evangelho que ao perceber na Santíssima Virgem os signaes da materni­ dade « como era justo, e não a queria infa­ mar, resolveu deixai-a secretamente, » ao que logo acudiu o anjo do Senhor para tranquilli­ zal-o : « José, não temas, porque o que nella se gerou, é obra do Espirito Santo (1) »

Quando chegaram os magos do Oriente para adorar a Jesus, diz ainda o Evangelho;

que nos braços de Maria o encontraram, ca_. lando todavia o nome de José .

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«Não ser d. porque a prudencia o afastava desses homens, incapazes ainda de comprehen­ der o mysterio da Incarnação em toda a sua verdade ? ( 1) »

Na fugida para o Egypto, aconselhado pe­ lo anjo que sempre o assistia, não deu tam­ bem o santo Patriarcha uma prova de sua grande prudencia, levantando-se sem perda de tempo, para tomar comsigo a Virgem e o Me­ nino, e seguir cauteloso, pela calada da noite o caminho do exilio ?

E depois da morte de Herodes, reinando na J udéa Archelau seu filho, não foi ainda prudente em afastar-se daquella região para ir morar na Galiléa, na pequena cidade de Nazareth, sob um tecto quasi occulto no de­ clive do monte, como attestam os viajantes, para melhor preservar o Menino Jesus dos perigos que corria sua vida ?

E quando pelas revelações do anjo e pe­ las palavras de Simeão no Templo, não po­ dia mais vacillar sobre a divindade e a mis­ são de Jesus Christo como Salvador do mun­ do, imaginemos quão circumspecto, avisado e

prudente não devia ser o Santo Patriarcha, sentindo todo o peso da sua responsabilidade na guarda do divino Filho de Maria, do pre­ cioso Thesouro da nossa redempção.

Tomando agora a prudencia no sentido

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verdadeiramente christão, se ella consiste em procurar os meios de chegar a Deus e contri­ buir para a sua gloria, quem foi mais emi­ nente nessa virtude do que o bemaventurado S . José ? Se na economia da religião, o ca· minho mais seguro para chegar a Jesus é Maria, e para chegar a Deus é o proprio J e­ sus Christo, por ser Elle o mediador entre Deus e os homens, S. José gue fui sempre devotado a Maria Santissima, que por toda a parte a seguia, elle que tambem acompa­ nhou� Jesus, emquanto viveu, que o teve nos braços, que o amou com ternura, S. José que nunca se desviou de Maria e do seu di­ vino Filho, foi o homem que mais soube man· ter-se no caminho que conduz a Deus e con­ correr para sua gloria .

Aprendamos, pois, com elle a verdadeira prudencia, a prudencia christã.

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12.ª Invocação

J Oflé fortíssimo

A fortaleza de animo com que S. José ar­ rostou e venceu todas as difficuldades da sua missão, a firmeza com que resistiu a todos

os combates da adversidade e affrontou todos os perigos, mostram que tambem entre os mansos e humildes podem existir a coragem, a força e a firmeza de caracter.

Elle foi o Santo das tribulações : a pobre· za, as perseguições, o despreso, a humilhação, a repulsa, o desterro, as injustiças, cahiram so·

bre elle como as ondas negras do alto mar se arroj am de encontro á rocha solitaria.

E assim como esta resiste impavicia ao furor das ondas, tambem elle, rochedo de for· taleza, em pleno oceano de tribulações, arros· tou com animo sereno todas as penas e ad· versidades da vida, superou todos os obsta· culos que se oppunham ao cumprimento dos seus deveres.

Esta é a fortaleza christã que devemos todos guardar no meio das provações, para tudo supportar antes do que offender a Deus E' a fQrtaleza dos martyres pela qual preferi· am soffrer todos os tormentos á renegar a sua fé

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Na vida occulta que passou na terra, da qual nenhum dc,cumento historico nos dá no­ ticia, a não ser o Evangelho, e esse mesmo

limitando-se a uma ou outra referencia, S. Jo­

sé foi entretanto um forte, como se deprehen­ de do pouco que delle sabemos. Forte na fé, pois acreditou sempre na divindade de Jesus; ainda que o visse nascer na fraqueza, na hu­

mildade e no abandono; forte na esperança que sempre nutriu, como todos os Patriarchas, na vinda do Messias promettido e no cum­ primento das prophecias ; forte na caridade e no amor com que acolheu a Jesus, adop­ tando como seu o divino Filho de Maria, e arrostando todos os perigos para sal vai-o da perseguição e da morte ; forte na lucta com a pobreza, o desamparo e as adversidades da vida, sem nunca se deixar vencer pelo desa­ nimo.

A fortaleza de S. José lhe vinha do alto, e bem se lhe podem applicar as palavras que mais tarde proferiu S. Paulo : «Tudo pos­ so cum o auxilio d' Aquelle que me confor­ ta (r) »

Assoberbado com o peso e a responsabi­ lidade da missão que lhe fôra confiada de ser o guarda e defensor do Filho de Deus humanado, elle pobre, fraco e humilde, que poderia fazer, sem o soccorro divino, sem

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sa força que Deus infunde aos seus eleitos, quando devem arrostar tribulações e perigos para desempenharem os encargos que lhes confia neste mundo ?

E que outra missão mais grandiosa, mais ardua, mais difficil podia Deus confiar a um homem n:i terra, do que a de amparar e de­ fender o seu unigeníto Filho, que revestido da natureza humana para consummar a obra da Redempção, devendo combater o orgulho e todos os vicios, ficaria exposto a tantos pe· rigos, desde o seu nascimento ?

A S. José, portanto, como guarda, prote­ ctor e Pae adoptivo de Jesus, para que elle fosse o escudo contra qualquer ataque que ameaçasse a vida do Redemptor, devia ser communicado em alto grau o dom da for· taleza.

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13.ª Invocação

José obedientíssimo

A desobediencia foi o primeiro crime com­ mettido neste mundo, e teve para toda a hu­ manidade as mais desastrosas consequencia� . Foi a origem de todo o mal espiritual e temporal.

O peccado de Adão transmittiu·se a todos

os seus descendentes e, com excepção de Ma­ ria Santissima, todos n6s trasemos n'alma des­ de o primeiro instante da nossa existencia a mancha da culpa original , que nos torna ini­ migos de Deus, sujeitos á morte e a todas as m1senas.

S6 Maria, que já pairava na mente do Eterno, quando na sua infinita misericordia prometteu a nossos primeiros paes um Salva­ dor, s6 Maria Santíssima, da qual devia nas­ cer o Redemptor do mundo, foi preservada da macula original , proveniente do peccado de desobediencia . Puríssima, immaculada, ten­ do consagrado a Deus a sua virgindade, sem poder prever o singular privilegio que lhe es­ tava reservado, perturbou-se quando o anjo Gabriel lhe ann,unciou que ella cc;mceberia e daria á luz um filho ; mas logo tranquillizada

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pelo anjo que lhe falava em nome do Altís­ simo, exclamou : « Eis aqui a serva do Se­

nhor, faça-se e!D mim segundo a tua pala­ vra. ( 1) »

Se pelo crime de desobediencia entrou o mal neste mundo, por esse acto de submissão da Santissima Virgem começou a reparação do mal, iniciando-se o mysterio da Incarna­ ção.

O Santo Patriarchà que, por disposição divina, devia ser o virginal Esposo de uma Esposa Virgem, ignorando tambem o ineffa­ vel mysterio, turbou-se quando a viu com os signaes da maternidade e quiz deixai-a ; mas a elle tambem tranquillisou o anjo, dizendo-lhe que não a deixasse, porque ella concebera por obra do Espirito Santo, e José obedeceu tc.mbem ao mandado do anjo, recebendo sua Esposa ( 2).

Essas duas creaturas purissimas que vi­ veram sempre unidas na mesma communhão de vida, de pensamento e de amor, cujo cen­ tro era Jesus Christo, que foi obediente até á morte, deviam tambem, Maria como sua Mãe e José como s�u Pae adoptivo, ambos deviam iniciar a sua missão por um acto de obedien­ cia, que abrisse caminho á reparação comple­ ta da culpa original : a Virgem consentindo

(1) S. Luc&s, I, 21 & 38.

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na incarnação do Verbo em sua.i purissimas entranhas e José submettendo-se inteiramente á vontade do eterno Pae. Obedientissimo foi o santo Patriarcha, levando Maria e o Meni­ no Jesus ao Templo para o consagrarem a Deus, cumprindo a lei de Moysés.

Obedientissimo foi tambem ao poder civil, fazendo com sua Esposa a penosa viagem á Be­ lém para·se inscreverem no recenseamento pres­ cripto pelo edicto de Cezar. Obedientissimo á v6z do anjo que o mandou fugir com sua fa­

milia para o Egypto, afim de salvar a vida de Jesus, e voltar do exilio á terra de Israel

depois da morte de Herodes.

Humilde, submisso em tudo á von tade de Deus, na peregrinação, na pobreza, no traba­ lho e em todas as tribulações da vida, S. Jo­ sé nos dá o exemplo da obediencia, dessa vir­ tude hoje tão rara, e que é entretanto o fun­ damento da ordem e da paz em todas as re lações da vida.

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14.ª Invocação

J oeé :6.delissimo

A fidelidade com que S. José desempenhou a sua missão, a constancia e a firmeza que sempre mostrou no cumprimento de todos os seus deverc:s, constituem um dos mais bellos traços do seu caracter.

Como esposo da Sautissima Virgem, foi um perfeito modelo de fidelidade conj ugal ; nunca a deixou, viveu sempre a seu lado, con­ sagrando-lhe extremosamente o mais santo e devotado amor ; ainda que pobre forneceu-lhe o necessario para o sustento e trato da vida ; foi sempre o seu consolador e companheiro nos trabalhos e principalmente nas agruras do desterro. Como chefe de familia e na intimi­ dade da vida domestica , avaliemos o que foi o Santo Patriarcha ao lado de Maria sua Es­ posa, por estas palavras de Leão XIII «Eis­ nos em presença da casa <;!e Nazareth, o do­ micilio da santidade divina e terrestre ! Que perfeição de vida commum ! Que modelo aca­ bado de sociedade domestica ! Ali reina a can­ dura e a simplicidade ; uma perpetua concor­ dia ; uma ordem semprP. perfeita ; um respeito mutuo e um amor reciproco, não falso e men·

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tiroso, mas real e activo que, pela assiduidade de seus bons officios, arrebata os olhos dos simples espectadores. Um zelo previdente alí provê a todas as necessidades da vida, mas com o suor da fronte, a modo dos que saben­ do contentar-se com pouco, se esforçam menos em multiplicar seus havert:s do que em dimi­ nuir sua pobreza.

Acima de tudo, o que admira nesse lar domestico é a paz da alma e a alegria do es­ pírito, duplo thesouro da consciencia de todo homem de bem ( 1 ) »

Se da fidelidade domestica passamos a con­ siderar a constancia e a firmeza com que S. José cumpriu a sua missã.o neste mundo, ve­ mos como foi elle tambem fiel a Deus no cumprimento dos deveres que lhe impunha a sua dignidade de guarda, defensor e Pae adop­ ti vo de Jesus. Que extremos de amor, de pre­ videncia e de zelo pela sagrada pessoa do Filho de Deus !

Que diligencia para que nada lhe faltasse, que vigilancia para livral-o de todos os peri­ gos ! Logo que deu fé do mysterio que en­ volvia o nascimento daquelle Menino pelas revelações do anjo e recordando-se das anti­ gas prophecias e das palavras de Simeão no Templo, o Santo Patriarcha nã.o pôde mais duvidar da sua divindade e certo de que

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gava sob o seu pobre tecto o Redemptor do

mundo, sentiu todo o peso da sua responsa­ bilidade na guarda do precioso thesouro que lhe fora confiado.

Era a salvação do mundo que ali estava na santissima pessoa de Jesus, que elle devia nutrir, amparar e defender ! Entretanto, longe de se gloriar, concentrou-se ainda mais na sua humildade, e tudo. fez para corresponder a vontade de Deus, que o escolhera para tão alta missão, cumprindo fielmente os deveres dessa quasi paternidade sobre o Filho de Deus, como seu protector e defensor; e quando expi­ rou nos braços de Jesus e de Maria, tinha a consciencia tranquilla de haver cumprido a sua missão. Fiel esposo de Maria, fiel depositario d0 Thesouro da Redempção, sempre fiel a Deus, tal foi o Santo Patriarcha. Procuremos todos imitar · a fidelidade de S. José. invocan­ do sempre o seu Patrocinio.

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15.·ª Invocação

José potentissimo

Que diremos agora do seu poder ? Que contraste entre aquelle que foi na ter­

ra tão pobre, tão humilde, sem valimento al­

gum perante os homens e o que hoje occupa no céo um throno de gloria ao lado da Rainha dos anjos !

Ah ! é bem certo que Deus abate os po­ derosos para exaltar os humildes.

«Eis porque S . Bernardo que á Maria San­ tíssima havia dado o titulo glorioso de Omni­ potencia supplicante, não se arreceia de con­ ferir a S. José poderes illimitados sobre os corações de Jesus e de Maria. São ordens as suas supplicas, e assim o pede a razão natural e o confirma a piedade dos luminares da Egre­ ja ( I )» Se, portanto, S. José tem o poder il­ limitado sobre os corações de Jesus e de Ma­ ria, que outro Santo mais poderoso do que elle ?

A quem havemos de recorrer, depois da Santissima Virgem, com mais esperança de ser attendidos,, senão a elle, nas nossas

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cessidades, tribulações e angustias ? Todos os outros titulos com os quaes o invocamos têm cada um sua razão de ser, seu motivo espe­ cial ; mas este, fundado no seu poder, é o que nos inspira maior confiança pelo sentimen­ to que temoB da nossa fragilidade, da nossa miseria, do nosso nada Jeante de Deus. Que seria de nós se não fôra a intercessão de Ma­

ria Santissima e as supplicas de S. José em nosso favor ?

Se Maria, por singular privilegio, tem as chaves do thesouro das graças, é a S. José seu Esposo que as confia para ahril-o e assim collaborar com ella na distribuição dos dons celestes, que por intercessão de ambos nos são concedidos. Quanta razão não te\'e o sa­ bio Leão XIII quando disse : «Cuidamos que importa muitissimo que o povo christão, quando invocar a Virgem Mãe de Deus, se acostume a invocar tam bem a S . José seu castíssimo Esposo, com especial devoção e confiança, o que por Cf'rtas razões j ulgamos que ha de ser do contentamento e agrado da propria Virgem . . ( 1 )» A união intima, a uniformidade de vistas

que existiu entre elles, o auxilio reciproco que, com tanto amor e dedicação prestaram um ao outro na terra, e a suave alegria em que con­ fundiam o seu desvelo pela sagrada pessoa de Jesus, continuam no céo, e é por io;so que,

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attendidos nas suas supplicas por Jesus que nada lhes nega, é do agrado de Maria que seu castissimo Esposo a auxilie na distribuição das graças. Invoquemos, pois, a S. José pelo poder que elle tem ao lado de Maria, e con­ fiados no seu patrocínio, nunca nos deixemos vencer pelo desanimo, por maiores que sejam as tribulações e penas que Deus nos enviar. Se nós as merecemos, a misericordia de Deus é infinita e por intercessão de Maria e S. Jo­ sé, solicitada com inteira confian<<::i, tudo al cançaremos.

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16.ª Invocação.

José amavel

De quanto temos dito sobre o Santo Pa­ triarcha, na pobresa de nossa linguagem, que mal exprime o que sentimos deante dessa phy­

sionomia serena e tranquilla, em que a arte chistã tem procurado imprimir o traço cara­ cterístico da doçura e da bondade, resulta ao menos um pallido reflexo das virtudes que fi­ zeram de S. José, depois de Jesus Christo, o mais amavel dos homens.

Se houve Santos que causaram espanto pelo heroísmo com que arrostaram o martyrio ; se

os houve que assombraram o mundo com a força prodigiosa do seu engenho, e outros que tambem captivaram os corações pela man­ sidão e pela doçura, S. José foi entre todos o mais doce, o mais terno, o mais amavel.

A natureza humana é feita de tal modo que, ainda apta para elevar-se á contemplação das grandes cousas, dos feitos heroicos, das acções gloriosas, das fulgurações do genio, se deixa, entretanto, mais facilmente vencer e le­ var pelo que lhe move o coração, pela sim­ plicidade, pelas impressões af(ectivas, pela at­ tracção elas virtudes occultas, que se fazem

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denunciar sem querer, como a violeta pelo aroma e a aurora pela frescura do ambiente. E' por isso que S. José, tão grande, tão elevado, tão subliir..e na sua dignidade, arre­ bata mais o coração pela modestia, pela pure­ za, pela humildade, pela doçura ineffavel do seu caracter, que o fizeram amabillissimo, tal como devia ser o virginal Esposo de Maria Santíssima e Pae adoptivo de Jesus.

E voltamos de novo á Sagrada Familia, pois não é possivel considerar S. José sem ser ao lado de Jesus e de Maria como vemos no Evangelho, porque sua existencia, sua mis­ são, suas virtudes, tudo que lhe diz respeito está tão intimamente ligado á vida de Jesus Christo e de sua Mãe Santissima, que não é possivel tratar delle separadamente.

E se nós o invocamos com o titulo de

josé amavel, não é só considerando as suas virtudes e qualidades pessoaes, a pureza a su­ avidade, a mansidão e a doçura, mas tambem, e, principalmente, pelo muito que lhe devemos. Assim, se Jesus nosso Redemptor, que nasceu, viveu e morreu por nós, é digno _de todo o nosso amor e gratidão, se Maria Vir­ gem, sua Mãe Santissima egualmente o me­ rece, como nossa Co-redemptora, S. José que tambem teve parte no mysterio da Redempção, como guarda e defensor de Jesus e de Maria, tambem elle merece o nosso amor e devoção. Eis flnalmente çomo tuc:lo se resolve pelo

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amor : Deus por infinito amor sacrifica por n6s seu proprio Filho; Jesus por uma sêde de amor acceita o sacrificio, derrama por nós todo o seu precioso sangue ; Maria, tres­ passada de dôr, constituida noss:i Mãe ao pé da Cruz, por amor nos acolhe no seu regaço como filhos, e a S. José como seu esposo po­

demos dar tambem o titulo de Pae amantís­ simo, ao lado de Maria porque elle tambem nos ama com amor de pae. Consagremos, pois, todo o nosso amor a Jesus Chri:;it1>, á Maria Santissima e ao Patriarcha S. José.

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1'7ª Invocação

José admiravel

Que admiração pode causnr um homem, cujo nome a historia apenas menciona, e o proprio Ev:mgelho en\'olve na penumbra, co­ mo para dar maior brilho e realce á figura de Jesus Christo, que apparece deslumbraute no limiar dos seculos, para ser a verdadeira luz do mundo, o Salvador do genero humano ?

José admiravel, porque ?

Entrae n'uma fabrica, n'uma officina ; vêde o pobre operario envolto na sua blusa de tra­ balho, coberto de turno e p6, a callejar as mãos no rude instrumento do seu officio ; que admiração pode incutir esse homem, que nin· guem conhece ?

Ora se S. José foi tambem um humilde ope­ raria, um modesto carpinteiro, retirado e oc­ culto na sua pequena officina de Nazareth, onde tudo respirava pobreza, onde não en­ travam os grandes do mundo e sómente os que precisavam do seu trabalho, que admira­ ção pode inspirar esse homem ?

Deixemos o que se passou na vida intima de S. José, no segredo do seu coração, quan­ do o anj o do Senhor lhe revelou em sonhos o

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mysterio da incarnação, e acompanhemos a Sagrada Familia ao Templo de Jerusalem, onde José e Maria, para cumprir a lei, iam apresentar o Menino Jesus e offerecer por el­ le o sacrificio.

Ali estava o santo velho Simeão, que to­ mando a Jesus nos braços, arrebatado, exclamou:

« Agora posso morrer, porque já meus o­

lhos viram o Salvador do mGndo, que ha de surgir ante a face de todos os povos, como a luz das nações para gloria de Israel ( r) »

Neste ponto diz o Evangelho: « E seu pae

e mãe estavam admirados daquellas cousas

que se diziam do Menino »

Agora começamos a comprehender a cau­ sa da nossa admiração pelo Patriarcha S. José.

Não é mais o pobre artífice de Nazareth que nos apparece na sua pessoa; é o descen ­ dente d a regia estirpe d e David, é o Esposo da Rainha dos anjos, é o Pae adoptivo de Jesus Christo no qual estava com a sua di­ vindade, o Rei immortal, o soberano Senhor do universo, a Magestade infinita.

Como o proprio S . José admirou-se das palavras de Simeão sobre o Menino Jesus que, na opinião dos homens era tido por seu filho, mas que elle na sua fé e no segredo do seu coração sabia que era Filho de Deus, nós tam­ bem ficamos arrebatados de admiração pela

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gnidade, pela grandeza do Santo Patriarcha chamado a substituir, a fazer as vezes do E­ terno Pae j unto á humanidade do seu divino Filho.

Que outro homem, que outro- Santo foi jamais investido de tão alto privilegio, de tão excelsa dignidade perante Deus e os ho­ mens ?

« Depois disto, concluiremos com os votos

do egregio Pr.elado a quem nos temos referi­ do ( 1 ) : só nos resta implorar á Santissima Virgem que faça raiar em breve o dia para sempre feliz, em que tenhamos de tributar ao seu virginal esposo um culto espeC'ial e á parte, como especiaes e singulares foram os seus privilegios na ordem da graça e da san· tidade >

São tambem os nossos votos.

(l) D. Duarte, Patrocinio de S. José.

1

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18ª. Invocação

José venera vel

Que uma vida illibada, um caracter sem mancha merece sempre o respeito e a vene­ ração, é um facto que nos mostra o valor e o prestigio da virtude, principalmente quando o homem em lucta com a adversidade se con­ serva inquebrantavel na linha do dever.

S. José, decahido por disposição da divina Providencia, das honras a que tinh� direito por sua descendencia Real, forçado pela po­ breza ao trabalho quotidiano na mais humil­ de das profissões, conformado com a sua mes­ quinha situação, sem invej ar a sorte dos que estavam acima delle, sempre honesto, correcto, puro, immaculado, como já vimos, só por is­ so é digno da maior veneração.

Se agora passarmos a considerar que pa· ra esposo de Maria Virgem e pae adoptivo de Jesus, que nos designios do Altissimo devia nascer . na pobreza e na humildade, foi tambem escolhido S. José, o mais puro e humilde dos homens, o justo como lhe chama o Evange­ lho, veremos que novos titulos o recommen­ dam á nossa veneração.

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pe-59

la Santissima Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe tambem, é quasi o mesmo que devemos tributar ao amavel S. José, seu castissimo es ­ poso, pon-1ue SP. na ordem da graça somos

filhos de Maria, tambem damos a S. José o titulo de Pae amantíssimo.

Mas o principal titulo que o tornou cre­ dor da especial veneração que lhe devemos, é o que lhe provem da sua dignidade de Pae adoptivo de Jesus Christo.

Se, como diz Leão XIII : « em virtude

dessa dignidade augustíssima, o Verbo de Deus esteve sujeito a José, lhe obedeceu e prestou toda a honra que nescessariamente de­ vem os filhos a seu pae ( 1 )», como não o ha· vemos de honrar e venerar, nós pobres crea­ turas que tanto lhe devemos por haver tomado parte no beneficio da nossa redempção, e que tanto carecemos do seu patrocínio ?

Recommendan<lo a devoção a S. José, dis­

se ainda o mesmo pontífice : « como é muito

importante que a veneração por elle penetre inteiramtnte nos costumes e µraticas catholicas, porisso queremos levar o fervor christão a este sentimento com preferencia pela nossa palavra e a1 1ctoridade ( 2 )

Assim, a tantos e tão elevados títulos pe­ los quaes o Santo Patriarcha merece por si

(1) Encyc. cit. sobre o culto de S. José. (2) Encyc. cit.

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mesmo a nossa veneração, vem juntar-se a vóz auctorizada de Leão XIII, querendo que essa veneração penetre em nossos costumes e praticas religiosas, entre outros motivos por ser ainda S. José o Padroeiro da Egreja Uni­ versal da qual tambem somos filhos. E' pois, com justa razão que lhe damos o nome de J'ae amantissimo, devendo portanto, tributar­ lhe toda a honra, todo o respeito e veneração que os filhos devem ao pae.

Com referencia especial á Maria Santissima, se as esposas da terra se comprazem com as honras deferidas a seus consortes, quanto mais agradavel não ha de ser á Santíssima Virgem no céo o culto que o povo christão prestar

ao seu castíssimo e dilecto Esposo ? Quando por outros titulos não fôra, e bastaria um para honrarmos a S. José o de ser esta ve­ neração do especial agrado a Maria.

(60)

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19.

ª

Invocação

Espelho de paciencia

Virtudes ha tão intimamente ligadas entre si, que a existir uma todas as outras se lhe vem juntar, como girando em torno della, donde lhes veio o nome de virtudes car­ deaes.

Neste· caso estão a caridade, a mansidão, a humildade, a doçura, a resignação e a pa­

ciencia.

Estas virtudes têm um attractivo singular: amaveis e communicativas, não só grangeam

o affecto dos corações bem formados, mas até

nos orgulhosos, endurecidos, asperos e violentos., produzem uma impressão que lhes desarma muitas. vezes a "lliruJencia do caracter.

Já vimos como era doce e humiÍde o Pa­ triarcha S. José, cheio de suavidade r! brandu­

ra ao fado de Maria Virgem, sua esposa, que elle tanto amava.

Vede-o no meio daquelle borborinho de forasteiros reunidos em Belem para cumprirem o edicto de Cezar Augústo ; afflicto, não tan: to · por . si , mas�pela Santíssima Virgem, no esc tado n;ielindroso em que .ella se achava, bateu

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ra aquella noite, e ninguem o recebeu, e todos

o repelliram com desprezo e crueldade. E elle sem proferir uma queixa, sem per­ der a serenidade de :mimo, sahiu da cidade com Maria sua Esposa e foi alojar-se no frio estábulo, onde a Santíssima Virgem deu á luz o Redemptor do mundo.

Com que paciencia supportou S. José as tribulações daquella noite, a fadiga da viagem, o soffrimento de Maria, o desdem com que foram tratados, a inclemencia de. uma noite de inverno, a fome e o frio !

Mas uma outra prova1fãO lhe estava ainda reservada, e essa foi a perseguição de Herodes,

que o forçou a fugir com a Santissima Vir­ gem e o Menino Jesus, para o livrar da morte.

Quem nos pudéra contar as penas e tra­ balhos dessa longa peregrinação, as amarguras do exilio, as privações de Maria, os perigos que ameaçavam a J est:s ?

E S. José tudo supportou com a mais he­ roica paciencia, resignado sempre com a

vontade de Deus.

Estabelecido em Nazareth e obrigado a sustentar sua familia com o rude trabalho de suas mãos, luctando sempre com a pobreza e o desconforto, elle o descendente dos reis de Judá, que outro modelo de paciencia e con· formidade poderiamos encontrar, para cultivar­ mos essas duas virtudes que tanto agradam a Deus ?

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S. José foi por excellencia o Santo das tri­ bulações. Ninguem, depois de Maria, soffreu

mais do que elle, e comtudo nada lhe pertur­ bou a serenidade de animo e a paz do seu coração sobre o qual repousou a fronte augus­ ta de Jesus.

Aprendamos, pois, com S. José a inteira conformidade com a vontade de Deus, a sof­ irer com paciencia as tribulações e adversida­ des da vida.

«Se o Santo Patriarcha, diz Montefeltro

1 ), tinha junto de si Jesus e em Jesus en­ contrava força e conforto, tambem nós o te­ mos junto de nós na Santíssima Eucharistia. »

E para melhor imitar a S. José, procure­ mos estar sempre unidos a Jesus na sagrada

Communhão, e á Virgem sua e nossa Mãe

por um vinculo de amor· e perpetua devoção.

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20. ª lnvoca(}ão

Amante da pobreza

A pobreza cvangelica, a renu1;cia volunta­ ria dos bens temporaes, de que nos deram tão bello exemplo os primeiros christãos, os

Santos e ainda hoje os verdadeiros discipulos de Jesus Christo, que tudo abandonam, para melhor servir a Deus e ao proximo, é uma virtude heroica que o mundo não sabe com­ prehender nem avaliar.

Procurar e amar a pobreza, quando o pri­ meiro cuidado, o maior empenho do homem tem sido sempre, não só prover-se do necessario, mas ainda accumular fortuna, enriquecer, melhorar sempre de condição, rodear-se de conforto e de ' abundancia, é cousa tão f6ra do commum que p assa até como loucura aos olhos do mundo. Cahir tambem por vicif>situdes da vida no estado de pobreza e com ella conformar-se, sem procurar sahir desse estado por espirita de humildade e renuncia dos bens temporaes, essa conformidade é tamb€ m uma grande vir­ tude, principalmente quando o homem de�a-1 hido de uma alta posição, não se queixa nem lamenta, 5ubmettendo-se com inteira resigna­ ção aos decretos da Providencia .

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