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APRENDER A ESCREVER. Como ajudar as crianças a se alfabetizar no início da vida escola

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Academic year: 2021

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APRENDER A ESCREVER

Como ajudar as crianças a se alfabetizar no início da vida escola

Todos os anos, milhares de meninos e meninas do ensino fundamental de todo o país começam a trilhar um caminho que é um desafio para o professor alfabetizador que é o aprendizado da leitura e da escrita. Cabe ao professor alfabetizador apresentar ao aluno desafios que o levam a se lançar na aventura de descobrir como se lê e como se escreve. Intervenções instigantes do professor, que ajudem a criança a desenvolver a reflexão sobre o universo da leitura e da escrita, podem contribuir para o sucesso dela na alfabetização inicial.

No entanto, existem alguns obstáculos nessa trajetória. A criança que começa a ser alfabetizada não é uma folha de papel em branco. Ela vive em um mundo no qual a escrita está presente em toda parte, nas mais diversas manifestações do cotidiano; assim chega à escola já com algumas idéias sobre a escrita. Nesse momento, muitas vezes ocorre um choque: a escola tem uma proposta de alfabetização que não combina com o modo como a criança vem pensando a escrita. Essa contradição pode aumentar a dificuldade dela para se alfabetizar no inicio da escolaridade.

É importante que o professor alfabetizador compreenda como a criança pensa no começo do aprendizado da escrita e promova atividades que colaborem com o modo e pensar dela. Esse é um grande desafio do ensino da língua portuguesa nos primeiros anos do ensino fundamental.

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Desafios para ensinar e aprender

A grande dificuldade dos professores envolvidos com a alfabetização é que muitos não compreendem que as crianças já pensam sobre a escrita e elaboram algumas hipóteses sobre ela. Em geral, isso é decorrência do próprio modo como eles foram ensinados: apreenderam a escrever treinando bastante, copiando letras repetidas vezes. A verdade é que muitos permanecem presos a essas concepções e não compreendem que o trabalho da leitura e da escrita

Entretanto, muitos professores consideram melhor ensinar as unidades silábicas. Eles recorrem a métodos que reforçam o som das letras ou então ditam a palavras em pequenas partes, como se o problema do aluno fosse de escuta. Mas a verdade é que a criança escuta as palavras globalmente, e não por partes. E é justamente ao escrever que ela acaba entendendo que apalavras escrita tem partes, componentes.

Algumas importantes pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky mostram que a construção da escrita não se faz da sílaba para a palavra toda, mas sim no sentido inverso. Tais pesquisas evidenciaram que as crianças, mesmos antes de aprender a escrever, já têm muitas idéias sobre a escrita. Por exemplo:

 Pensam que sempre precisam usar muitas letras para escrever;

 Relacionam o tamanho do objeto ao tamanho da escrita (ou seja, acham que objetos maiores são escritos com mais letras do que objetos menores. Por exemplo, para escrever “boi” será preciso usar mais letras do que para escrever “cachorro”);

 No inicio da alfabetização, não reconhecem como escrita algo que tenha menos de três letras;

 Não consideram que algo possa ser escrito com letras repetidas.

Proposta de Atividades

Para ajudar a criança a se alfabetizar, o ensino não pode ir na contramão da aprendizagem. Se o aluno constrói por si só um caminho, e você aponta um trajeto oposto, acaba criando barreiras para o aprendizado. As propostas a seguir ajudam a superar esses obstáculos.

1. Identifique as hipóteses de escrita da criança e trabalhe com base nelas O primeiro passo é identificar em qual fase o aluno está. Isso orientará a intervenção do professor alfabetizador. Se um aluno está no 2ª ano, mas apresenta hipóteses de escrita são:

 No nível pré-silábico, a criança não sabe que existe uma relação entre o que é falado é o que é escrito, por isso não tem critérios para a seleção de letras que vão compor a palavra. Usa muitas letras e é incapaz de ajustar a escrita à leitura da palavra. Outras vezes, coloca um número de letras que julga compatível com o tamanho do objeto (por exemplo,

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entende que “bolo” deve ter mais letras que “ brigadeiro”). O principal desafio desse nível consiste em compreender que a escolha das letras que compõem uma palavra não é aleatória.

 No nível da escrita silábica, a criança já trabalha com um critério de quantidade. É comum, por exemplo, usar uma letra para cada sílaba. Em um primeiro momento, talvez ela não atribua valor sonoro e então use qualquer letra para representar as silabas. Depois, quando lhes atribui um valor sonoro, começa a fazer relações silábicas entre o que escuta e o que escreve e usa letras presentes na silaba para representá-la. O grande desafio desse nível é descobrir a ordem das letras na composição das palavras.

 Em seguida, o aluno conquista a escrita alfabética. Consegue escrever uma palavra quando a ouve pela primeira vez, embora cometa erros de ortografia. É um indício de que ele já tem um domínio razoável do sistema de escrita. O desafio é se tornar um verdadeiro e competente usuário dele.

2. Desenvolva atividades para que a criança escreva de verdade Ao descobrir a hipótese dos alunos, proponha atividades de escrita:

 Escrita de textos coletivos, que são ditados ao professor;

 Escrita individual de textos, como parte das atividades ligadas à rotina da sala: listas de nomes, textos que os alunos já sabem de cor, entre outras possibilidades.

Em suas intervenções nessas atividades de escrita, interaja com os alunos, dialogando com a forma como pensam a fim de gerar desafios e provocar dúvidas: “É assim mesmo que se escreve?”; “É realmente essa a quantidade de letras?”; “ É essa letra mesmo?”; “ É nessa ordem?” Com isso, o pensamento da criança vai avançando até ela chegar a uma escrita alfabética.

3. Crie oportunidades para que a criança entre em contato com textos escritos Agora que você já trabalhou com a escrita dos alunos, organize uma rotina pedagógica para que todos participem de:

 Rodas de leitura feita pelo professor: de textos narrativos, poéticos, informativos, instrucionais;

 Momentos em que os próprios alunos lêem sozinhos ou uns para os outros: parlendas, histórias em quadrinhos e trechos de livros, revistas ou jornais, articulando a leitura aos projetos desenvolvidos em sala.

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4. Promova discussões coletivas sobre como se escreve

Quando compreendem que a escrita tem estabilidade, que as palavras são grafadas sempre do mesmo modo, as crianças aceitam discutir entre si suas produções. Para dar inicio a essa atividade, você pode dizer a elas, por exemplo, “Vamos escrever a lista de frutas que vai ser usada na nossa salada de frutas? Vai abacaxi, maçã, banana, goiaba, pêra e uva.”

As crianças devem escrever a lista, conforme você solicitou. No final, pergunte a elas: “ E então? Como vocês escreveram “abacaxi”?

Quando você mostra ao grupo as diferentes formas como essa palavra foi escrita, isso leva as crianças a refletir, porque elas já sabem que a palavra deve ser escrita de um jeito só. Desse modo, ao instaurar a dúvida, sua intervenção é produtiva, porque o objetivo não é chegar à escrita convencional da palavra, mas dar à criança instrumentos próprios para que pense em como se escreve.

5. Construa e siga um quadro de rotina para a alfabetização inicial

Planeje o trabalho diário de sala de aula a fim de incluir com freqüência algumas propostas de escrita. O modelo abaixo é um bom exemplo. Ele permite perceber o leque de situações de leitura e escrita (individual e coletiva) que você pode oferecer a seus alunos

DICA

A escrita com letras moveis maiúsculas é aconselhável nessa fase inicial da alfabetização. Tenha sempre várias caixinhas com as letras do alfabeto soltas e coloque-as à disposição dos alunos. Esse tipo de letra agiliza as operações mentais dos alunos e facilita o aprendizado.

A escrita de mão é entendida como uma tecnologia de escrita. Ela serve para escrever mais rápido, de modo que a mão acompanha a velocidade do pensamento. Não é o caso de utilizá-la na alfabetização inicial, quando a criança está pensando sobre a escrita e escrevendo devagar. Deve-se introduzi-la quando o aluno já estiver produzindo os próprios textos e precisar de agilidade para escrever.

DICA

Alguns professores insistem: Mas a cartilha não funcionava antes? Por que a gente não volta a usá-la” A resposta é que a cartilha não funcionava tão bem assim. Tanto que os índices de reprovação no 1ª ano eram altíssimos. Com a cartilha, a criança demora mais tempo para ser alfabetizada, porque ela não faz a relação entre as partes da palavra e a palavra toda.

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Em cada dia da semana, você deve realizar tudo o que consta nesse quadro, além, é claro, dos demais conteúdos previstos para aquele dia. Essas atividades devem ocupar, no Maximo, 1h30 do dia de aula.

Ao longo do ano, você desenvolverá variados projetos. A idéia é que os utilize para criar situações de escrita. Por exemplo, se o projeto refere-se à pesquisa de brincadeiras em outros lugares do país, os alunos podem escrever a lista dos nomes das brincadeiras.

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Quadro de Rotina para Alfabetização Inicial

2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Leitura pelo Professor (Sugestão: textos narrativos)

Leitura pelo Professor (Sugestão: textos poéticos)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

narrativos)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

informativos ou

instrucionais)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

narrativos)

Leitura pelos alunos

(Sugestão: textos memorizados, poemas, parlendas, quadrinhas)

Leitura pelos alunos (Sugestão: leitura de listas)

Leitura pelos alunos (Sugestão: situações articuladas aos projetos)

Leitura pelos alunos (Sugestão: histórias em quadrinhos)

Leitura pelos alunos (Sugestão: pequenos trechos de histórias) Escrita individual (Sugestão: atividades ligadas a projetos desenvolvidos em sala de aula) Escrita individual (Sugestão: produção de textos) Escrita individual (Sugestão: atividades ligadas a projetos desenvolvidos em sala de aula) Escrita individual (Sugestão: produção de textgos) Escrita individual (Sugestão: atividades ligadas a projetos desenvolvidos em sala de aula)

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Sugestões adicionais

 Faça sempre uma Avaliação inicial para saber o que as crianças pensam sobre a escrita e só então monte o seu planejamento de aula. Você pode se surpreender com a quantidade de hipóteses que elas já têm sobre a escrita. Com base nessa avaliação, você terá pistas sobre o que realmente pode ser desafiador para o grupo.

 Peça que as crianças expliquem em voz alta como pensaram para escrever e o que está escrito em cada pedaço de determinada frase que produziram. Ao falar em voz alta, elas criam uma oportunidade de rever suas idéias iniciais. Além disso, a explicação permite que você acompanhe o processo de pensamento delas.

 Espera-se que até o 2ª ano o aluno use a escrita com certa autonomia para dar conta de todas as suas tarefas cotidianas na escola, você deve insistir nas atividades do inicio da alfabetização, preocupando-se em identificar como as crianças pensam sobre a escrita e intervindo com base nisso.

 Além de lápis, ofereça também letras móveis, pois elas facilitam o trabalho da criança na hora de reescrever uma palavra.

Como saber se o aluno aprendeu

Realize periodicamente a sondagem, um procedimento de avaliação montado e organizado segundo um critério especifico.

 Dite às crianças uma lista contendo palavras polissílabas, passando para trissílabas, dissílabas e monossílabas, e coloque no final uma frase que contenha pelo menos uma das palavras anteriores. A lista parte das polissílabas para as monossílabas justamente para colaborar com o modo próprio de o aluno pensar. Organize-a conforme um campo semântico: alimentos, nomes de animais etc. isso garante que as crianças saiba sobre o que vão escrever. Observe se elas escreveram da mesma forma na frase final e na lista as palavras que constam em ambas.

 A sondagem pode ser aplicada de três em três meses e deve ser feita individualmente, para que você mantenha um registro sistemático do modo como a criança escreveu, que relações ela fez. Para que isso seja possível, você precisa ter uma certa organização, porque não vai conseguir registrar em um único dia a escrita de todas as crianças. Assim enquanto a sala desenvolve outro tipo de proposta dentro da rotina escolar, reúna um pequeno grupo de crianças e faça essa avaliação. No dia seguinte, repita o processo com outro grupo de alunos, e assim por diante. Ao longo do ano deve haver uma progressão no modo de escrever.

 Em relação às crianças que deixam claro o que sabem, a sondagem é dispensável, pois a melhor forma de verificar o aprendizado delas é acompanhar a escrita que fazem ao longo do ano.

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Fonte: Língua portuguesa: solução para dez desafios do professor: 1ª ao 3ª ano do ensino fundamental/ Débora Rana, Silvana Augusto; 1, Ed.- São Paulo: Atica Educadores, 2011.

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Referências

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