Pós-Impressionismo
Pintura que se desenvolve a partir de 1886. reúne pintores de tendências diversas, como Vincent Van Gogh (1853-1890), Paul Gaugin (1848-1903), Paul Cézane (1839-1906), Henri de Toulousse-Lautrec (1864-1901), entre ouros, mas que não eram fiéis às normas impressionistas.
Os precursores da arte moderna: Paul Cézanne (1839-1906), Paul Gauguin (1848-1903) e Vincent
Van Gogh (1853-1890) são três grandes pintores
que influenciaram consideravelmente a arte do século XX.
Partindo da experiência impressionista, muito cedo tentaram ultrapassá-la, cada qual com a sua própria linguagem expressiva.
1- Cézanne: o estudo das
formas.
Paul Cézanne, Autorretrato, 1879 (Winthertur,
Coleção Oskar Reinhart).
Cézanne transformou a visão de vibrações luminosas e cromáticas do impressionismo em uma visão “mental” de formas plásticas, modeladas pela cor.
Ele “via” mais com o cérebro do que com os olhos.
Cézanne dizia que na natureza tudo é modelado segundo três formas fundamentais: a esfera, o cone, o cilindro. Nas suas obras, objetos e figuras têm formas simples, essenciais.
O quadro Casas em
Gardanne antecipa a
Casas de Gardanne, 1885-1886, detalhe (óleo sobre
1.1- A iconografia:
Cézanne passou toda a sua vida na sua propriedade de campo no Sul da França. Os seus temas preferidos eram os habitantes do lugar, camponeses, provinciais simplesmente vestidos. O jogo de cartas era um passatempo comum.
Na pintura Jogadores
de cartas, uma das suas obras-primas, a simplificação das formas é evidente.
Sob as figuras dos dois jogadores intuímos um esquema baseado em sólidos geométricos.
Jogadores de cartas, 1890-1892 (óleo sobre
1.2- A estrutura da composição do quadro de Cézanne e as formas geométricas na construção das figuras.
O ponto focal da pintura situa-se entre as mãos dos jogadores.
1.3- Composições de volumes:
Cézanne dizia com orgulho “com uma maçã quero maravilhar Paris”. Sabendo que também com temas humildes e
sem qualquer
relevância estética pode-se fazer a grande pintura.
Nas
numerosas
naturezas-mortas,
pintou os pratos de cozinha, a jarra
de água, um vaso de louça e muitas
maçãs. As maçãs de seu pomar.
Com
poucos
objetos
realizou
composições
que
parecem
monumentos pela forma plástica da
imagem, construída apenas com a
cor.
Natureza-morta com vaso verde, 1893-1894 (óleo sobre
Retrato de mulher com cafeteira, c. 1895 (óleo sobre tela, 130 x 96,5 cm, Paris, Museu d’Orsay). Retrata, provavelmente, a cozinheira do pintor, uma sólida camponesa provençal.
A figura é esquematizada segundo os módulos dos sólidos geométricos. A xícara e a cafeteira napolitana também são cilindros.
A partir dessa composição de volumes, construídos
com cores
complementares do azul e do ocre, terá início o cubismo de Picasso.
As grandes banhistas, 1898-1906 (208 x 249 cm,
O problema não está na reprodução de um conteúdo de costumes ou mitológico, ou na configuração de uma expressão psíquica peculiar às pessoas representadas, mas nos valores de cor das figuras, com os quais é “construída” uma forma, purificada de toda escória da matéria.
Todas as partes coloridas são ao mesmo tempo partes da forma, ligadas indissoluvelmente entre si. Consequentemente, os objetos são amplamente privados de sua tridimensionalidade e transformados em figuras planas, sem se tornarem fenômenos coloridos diluídos no sentido dos impressionistas.
A luz não decompõe e não coloca nada em movimento, ela não flui de fora para dentro, mas está de algum modo fixada como qualidade dos planos coloridos.
Espaço e atmosfera desaparecem como condições naturais para a existência das coisas. Existem tantas formas, tantas divisões do espaço, que se impelem umas através das outras de maneira singular.
Isso provoca o surgimento de um movimento independente da natureza e próprio apenas do quadro, que impregna a estrutura da superfície e consegue uma grandiosidade do aspecto do quadro que beira o monumental, que se manifesta também em paisagens, naturezas-mortas e retratos de Cézanne.
2- Gauguin: em busca de novas
emoções.
Paul Gauguin, Autorretrato-caricatura, 1889
(Washington, National Gallery).
Paul Gauguin foi, ao lado de Van Gogh, um
daqueles
artistas
inovadores
que,
incompreendidos pelo público e pela crítica,
tiveram uma vida muito difícil.
A paixão pela arte, que o fez abandonar uma
vida abastada, levou Gauguin até as longínquas
ilhas do Oceano Pacífico. Em busca de novos
temas de inspiração, realizou uma viagem
aventurosa pelas Ilhas Marquesas, que eram
colônias
francesas,
fixando-se
no
Taiti,
esplêndida
ilha
vulcânica
na
Polinésia
Meridional.
A obra de Gauguin foi definida pela procura de um novo sentido do mundo e da existência humana em uma sociedade e civilização falsa e tida como insuportável. Seguiu seus anseios por uma existência humana original e incorrupta que acreditava ainda existir entre os “primitivos”, indo viver entre os ilhéus dos mares do Sul. Foi um engano trágico pelo qual pagou caro, mas que lhe permitiu criar obras de misteriosa beleza.
Do impressionismo havia aprendido o valor do
colorido, mas que perdeu seu caráter como
manifestação dos objetos saturada de luz e foi
concentrado
em
grandes
planos
de
luminescência contida e esmaecida.
Todos os objetos são reunidos como em uma
tapeçaria, as imagens provocam uma impressão
irreal e onírica e em sua pureza e serenidade
pretendem ser
expressão de uma condição
humana simples e inalterada, ainda associada
de
corpo
e
alma
às
origens
míticas
da
humanidade. Na arte de Gauguin está contido
muito simbolismo.
Gauguin foi o primeiro a reconhecer o alto valor estético das artes consideradas primitivas e a querer estudar na sua realidade as obras dos povos dos trópicos.
Parau Api (O que há de novo), 1892, detalhe
(óleo sobre tela, 67 x 91 cm, Dresden, Staatliche
Kunstsammlungen).
2.1- A iconografia:
o quadro Arearea (Passatempo, também conhecida como Cão Vermelho) representa uma cena da vida cotidiana no Taiti.
Vemos duas jovens polinésias , com longos cabelos pretos e pele cor de âmbar; uma delas toca flauta. A distância, três mulheres se inclinam, em movimento de dança, diante de um ídolo gigantesco.
Arearea (Passatempo), 1892, detalhe (óleo
2.2- Estrutura expressiva:
As cores são aplicadas sobre a tela de modo quase uniforme, divididas em zonas. É uma composição de formas coloridas. A luminosidade e a intensidade das cores definem os planos do ambiente.
Os objetos, as plantas, as flores, os animais estão contidos em um mosaico de formas.
2.3- Mensagem:
A composição em seu conjunto transmite um senso de serenidade. Parece que o artista encontrou no ritmo calmo da vida primitiva a paz interior que sonhara.
Os verdes plácidos, as linhas onduladas das formas e o olhar da jovem atraem o observador em um sutil encantamento.
O som da flauta, que podemos somente imaginar, parece dominar cada presença.
2.4- Referências:
Gauguin se inspirou nos relevos do maior templo
do mundo, o santuário budista de Borobudur, em
Java.
Detalhe dos relevos do templo budista de
Borobudur.
3- Van Gogh: um artista
inquieto.
Vincent Van Gogh,
Autorretrato,
1887 (Amsterdã,
Rijksmuseum).
Autorretrato, 1888, óleo sobre tela. Um dos
muitos autorretratos em que o artista investigava
a si mesmo para encontrar a razão do próprio
desassossego.
3.1- Estrutura expressiva:
Usa a cor de modo novo, pinceladas marcadas, uma pasta cromática densa , tintas usadas muitas vezes no estado puro.
A pincelada constrói a imagem com traços vorticosos (que se move em espiral), às vezes feitos com o cabo do pinel.
A paisagem foi o tema preferido de Van Gogh.
A estrutura das suas pinturas é dinâmica, ondulada; os céus não são serenos, mas vincados de nuvens vorticosas; o sol e a lua espalham a sua luz com raios de pura cor amarela.
O quarto de Van Gogh em Arles, 1889 (óleo sobre
Nessa pequena tela, o artista descreveu a pobreza da sua vida material. Ele usou amplamente as cores complementares laranja e azul, nas várias gradações.
As mesmas cores do autorretrato.
A pincelada é consideravelmente marcada. Sobre a parede é visível o autorretrato.
3.2- A mensagem:
Toda a obra de Van Gogh transmite uma mensagem forte e apaixonada: a carga expressiva da sua pintura revela os estados de ânimo do artista, a sua alegria ou a própria dor.
Os românticos comunicavam essas emoções com uma pintura ainda tradicional; Van Gogh o fez usando a cor, a técnica, o desenho de modo expressivo.
A mensagem artística, que caiu no vazio enquanto o artista estava vivo, foi recebida com entusiasmo pelos jovens pintores que viveram depois dele, no início do século XX.
Na pintura As Camponesas, o traço vorticoso da pincelada definida modela a imagem.
O quadro se refere às célebres Respigadoras de Millet, pintor socialmente engajado, que retratou os camponeses no seu duro trabalho no campo. Também Van Gogh, na sua extrema pobreza, participou da vida dos humildes.
François Millet, As Respigadoras, 1857 (óleo sobre tela, Paris, Museu d’Orsay).
Vincent Van Gogh, Camponesa Holandesa. Desenho a carvão.
O par de sapatos (óleo sobre tela, 1886), de Van
Gogh. Este par de sapatos revela a pobreza do seu dono e a riqueza de expressão do artista, além de proporcionar uma experiência única da beleza.
Van Gogh, A noite estrelada, 1889 (óleo sobre tela, Nova York, Museu de Arte Moderna).
“No coração da adormecida aldeia de A noite estrelada, há uma igreja holandesa, que Van Gogh transpôs para o sul da França. Seu interior é negro, a flecha da torre protetora é como uma lança; a igreja é intocada pelo mar de energia e de luz que jorra em espiral pela noite cósmica [...] os ciprestes fazem parte do céu. As estrelas estão em fogo e as árvores em chamas. Duas estrelas parecem oferecer-se à árvore como rodas ou olhos; uma terceira estrela rodopia sobre a ponta de uma árvore menor como se fosse uma bola na ponta de um dedo. Em A noite estrelada, a natureza, e não a igreja, é que foi tocada por Deus.”
Brenson, Michel. A presença da natureza. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 jul. 1990. Caderno Cultura, n. 521, ano VII (do Le Point).
4- Henri de Toulouse-Lautrec
(1864-1901)
O mais jovem entre os artistas que, a partir dos anos 1880, contribuíram decisivamente para a transformação da pintura. Também ele aprendeu com o impressionismo e orientou-se especialmente por Degas, desenvolvendo entretanto sua arte a uma bidimensionalidade próxima à de Gauguin, só que destituída de todo o conteúdo simbólico, embora com uma nova acentuação do conteúdo.
Como Degas, amava representações dos divertimentos das grandes cidades, porém, na maioria das vezes, optando por outros motivos: artistas de circo, prostitutas, cantoras e dançarinas dos teatros de variedades e cabarés, como La
Henri de Toulouse-Lautrec, La Goulue no Moulin Rouge, 1892 (Cartão, 80 x 60 cm, Nova York, Museum of
Das imagens, depreende-se que não havia intenções de crítica moral ou social associada a esta escolha.
Expressam uma apreciação incondicional destas formas de vida, nas quais via realizadas liberdade, independência e originalidade.
Também agia de forma semelhante a Gauguin, um ódio à civilização com um tipo de crítica indireta, porém Lautrec não busca a originalidade da vida nos “primitivos”, mas a encontra nas existências à margem da sociedade, desprezadas pela burguesia, embora prazerosamente utilizadas.
Para a realização de suas intenções não podia
mais servir-se do impressionismo esteticamente
orientado;
tampouco
podia
copiar
realisticamente o que via, visto que disso teriam
surgido apenas ilustrações de caráter anedótico
ou de reportagem.