REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
ACORDA.O N. 0 404/2016
PROCESSO N° 504-A/2016
(Recurso Extraordincirio de Inconstitucionalidade)
Em nome do povo, acordam em Conferencia, no Plencirio do Tribunal Constitucional:
I. RELATORIO
Clementina Jose da Silva, com os demais dados de identificac;ao nos autos, interp6s recurso extraordinario de inconstitucionalidade, nos termos da alinea a) do artigo 49.° da Lei n.O 3/08, de 17 de Junho, Lei do Processo Constitucional
"LPC" com as a1terac;5es introduzidas nos termos da Lei n.o 25110, de 3 de
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Dezembro, do despacho que indeferiu 0 recurso da Sentenc;a n.o 02115, proferidapelo Tribunal Provincial do Bengo, alegando fundamentalmente que:
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1. E1a Recorrente foi condenada no ambito do Processo n.o 461-A/2013-
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Acc;ao de Restituic;ao de Posse, em que era Autor 0 Senhor Domingos~
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Agnace Manuel Mendonc;a e e1a, aqui Recorrente, Re, por, tendo sido
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-Lcitada, nao ter apresentado contestac;ao.
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2. No ambito do processo supramencionado foi proferido 0 Despacho
Saneador-Sentenc;a n.o 02115, considerando confessados os factos
constantes da Petic;ao Inicial apresentada pelo Autor, atendendo
a
falta decontestac;ao da ora Recorrente, ali Re.
3. 0 Saneador-Sentenc;a proferido negou
a
Recorrente a oportunidade deapresentar a sua defesa e exercer 0 contradit6rio, 0 que toma 0 mesmo
ilegal e inconstitucional.
4. Do Saneador-Sentenc;a, interp6s recurso extraordinario de revisao, com
fundamento na alinea f) do artigo 771.
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do C6digo de Processo Civil(CPC).
5. A citac;ao nao obedeceu aos pressupostos do artigo 242.° do CPC porquanto nao the foi feita a advertencia, de que a falta de contestac;ao importa a confissao dos factos articulados pelo Autor.
6. Constitui uma falsidade a certidao de citac;ao de fls. 17 dos autos, pois nao
lhe foi
a
data fomecido sequer 0 numero do processo.7. Nos termos do artigo 198.° do CPC e nula a citac;ao, 0 que motivou a
Recorrente a interpor recurso extraordinario de revisao da sentenc;a
pedindo a anulac;ao de todo 0 process ado e a consequente repetic;ao da
citac;ao, com observancia das formalidades legais exigidas.
8. 0 requerimento de recurso foi indeferido pelo Tribunal a quo, sem no
entanto, terem sido apresentados quaisquer fundamentos de facto e de direito, nos termos do artigo 158.° do CPC.
9. Ao indeferir 0 pedido de recurso 0 tribunal a quo violou 0 Principio do
Contradit6rio, manifestac;ao expressa do principio da tutela jJurisdicional efectiva, previsto no artigo 29.° da Constituic;ao da Republica de Angola
(CRA), 0 que consubstancia uma violac;ao grave da Constituic;ao e da lei.
A Recorrente conclui as suas alega~oes requerendo que:
1. Seja 0 processo remetido para 0 Tribunal Supremo, em obediencia ao principio da precedencia obrigat6ria e hi seguir os seus ulteriores termos;
11. Seja declarada nula a cita~ao par ter violado 0 direito da Recorrente
a
informa~ao e consulta juridica e ainda por incumprir com as formalidades essenciais da cita~ao, nos termos do artigo 242.0 do CPC, culminando com a nulidade prevista no artigo 198.0do CPC;
lll. Sejam declarados sem efeito todos os actos praticados nos presentes autos
e ordenada nova cita~ao.
ll. COMPETENCIA DO TRIBUNAL
o
presente recurso foi impetrado nos termos e com os fundamentos da alinea a) do artigo 49.0da LPC, norma que estabelece 0 ambito do Recurso
Extraordinario de Inconstitucionalidade, para 0 Tribunal Constitucional, de
"sentenras dos demais tribunais que contenham Jundamentos de direito e decisoes que contrariem principios, direltos, liberdades e garantias previstos na Constituirdo da
Republica de Angola" . '
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No caso sub judice, vemos que a Recorrente, inconfonnada com 0 despacho que
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indeferiu 0 seu pedido de recurso, sem para tal, ter apresentado a de vida \)
fundamenta~ao
nos termos do c6digo do processo civil, intentou de imediato&~
recurso dirigido ao Tribunal Constitucional, quando preliminannente deveria ter
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dirigido ao Tribunal Supremo, de forma a garantir 0 cumprimento do principio~
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do previo esgotamento dos recursos ordinarios cabiveis, tendo a Recorrente,
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inclusive, em sede dealega~oes
de recurso, reconhecido 0 seu lapso.?
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---Esta obriga~ao esta bern patente na Lei do Processo Constitucional, ao dispor
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que, "0 recurso extraordindrio de inconstitucionalidade tratado na presente secrdo s6 podev~
ser interposto apos previo esgotamento nos tribunais comuns e demais tribunais, dos recursos ordinarios legalmente previstos", nos termos do paragrafo unico do artigo
49.°.
Os tribunais encontram-se hierarquizados para efeitos de recurso, sendo que, nos termos do artigo 29.° da Lei n.O 2115, de 2 de Fevereiro - Lei Organica sobre a Organiza~ao e Funcionamento dos Tribunais da Jurisdi~ao Comum:
1. Os Tn·bunais da Relafiio conhecem de todos os recursos interpostos das decisoes dos Tribunais de Comarca.
2. 0 Tribunal Supremo conhece dos recursos interpostos das decisoes proferidas pelos Tribunais da Relafiio nos termos da presente lei, da lei das alfadas e das respectivas leis do processo.
Da norma supra citada conc1ui-se que 0 Tribunal Constitucional apenas conhece,
no ambito do recurso extraordinario de inconstitucionalidade, dos recursos interpostos pelas partes para 0 Venerando Tribunal Supremo, por ser este 0
tribunal de ultima instancia da jurisdi~ao comum.
Ora, 0 desrespeito deste principio de hierarquia toma 0 Tribunal Constituciort-al
incompetente para apreciar 0 presente recurso.
A infrac~ao das regras da competencia em razao da hierarquia, determina a incompetencia absoluta do tribunal, nos termos do artigo 101.° do CPC, e constitui excep~ao dilat6ria, nos termos do artigo 494. ° do CPC, 0 que obsta a
que 0 Tribunal conhe~a do merito da causa e da lugar
a
absolvi~ao da instanciaou
a
remessa do processo para outro tribunal, issoa
luz do n.o 2 do artigo 493.°do Cpc.
Ora em sede de alega~oes, a aqui Recorrente, reconhecendo nao terem esgotados todos os recursos cabiveis, conc1uiu, pedindo a remessa dos presentes
Tribunal autos ao Venerando Tribunal Supremo, por ser, segundo ela, 0 Tribunal
competente em razao da hierarquia.
No entanto, nao podem ser os presentes autos baixados para 0 Venerando
Tribunal Supremo, pois 0 mesmo nao tern competencia para julgar urn recurso
extraordimirio de inconstitucionalidade, por ser uma competencia reservada ao Tribunal Constitucional, que resulta da conjugac;ao do disposto na alinea e) do artigo 3.° e do artigo 49.°, ambos da LPC.
Desta feita, devem os presentes autos ser remetidos ao Tribunal Provincial do Bengo, tendo a Recorrente a faculdade de ai, apresentar rec1amac;ao para 0
Venerando Tribunal Supremo, do despacho de indeferimento, nos termos artigo 688.° do CPC, porque em tempo, nos termos da alinea c) do artigo 44.°, ex vi do n.o 1 do artigo 52.°, ambos da LPC.
Refira-se, que ja existe jurisprudencia constitucional firmada sobre essa materia, nomeadamente, atente-se aos Ac6rdaos nOs 133/11 e n.0143/11, referentes aos Processos n.o 155/2010-A e n.o 68/2008, respectivamente, em que 0
Constitucional ap6s declarar-se incompetente em razao da hierarquia, ordenou, no caso do Ac6rdao n.o 133/11, a remessa do processo para 0 tribunal a quo.
o
processo foia
vista do Ministerio Publico e foram colhidos os vistos legais.DECIDINDO
Custas pela Recorrente (nos termos do artigo 15.0
da Lei n.o 3/08, de 17 de Junho, Lei do Processo Constitucional).
Notifique.
Tribunal Constitucional, em Luanda, aos 08 de Setembro de 2016.
OS ruIzES CONSELHEIROS
Dr. Americo Maria de Morais Garcia~~&.I!:::~~~I&.jI!~W~~~~~
Dr. Antonio Carlos Pinto Caetano de Sousa~=::===;t;l::s:;,#:=:6i:!;;,;..;-=";';~~F- Dr. Carlos
Magalhaes:::..~
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Dra. Guilhermina Prata (Relatora) --t--t.-~--L.3I~.fo.3..!~.lIL..Iooo<~-;---~Dr. Rui Constantino da Cruz Ferreira (Presidente) :..---...;..J++-rI---+=~-=~
Dra. Luzia Bebiana de Almeida Sebastiao~'--4---t-=-:---+~~~~..l-Jt:.:::-....14 Dra. Maria da Imaculada L. C. Melo_~~~!::5.l.!.~~L..&..A..L...f:~5!::QJ="L~~J04-/
Dr. Onofre Martins dos Santos,_-t:;~~~~~~:::::::::~_~_ _ __