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I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências Sociais na Educação Básica 06 e 07 de novembro de 2015

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes Um estudo sobre currículo de Sociologia: comparação entre os atuais programas do Colégio Pedro II, do CAp-UERJ e o Currículo Mínimo da SEEDUC

Walace Ferreira Doutor em Sociologia. Professor na SEEDUC. Ex-Professor das Práticas de Ensino em Ciências Sociais da UERJ, e de Sociologia do CAP-UERJ e do

Colégio Pedro II. E-mail: walaceuerj@yahoo.com Jéssica Almeida Baiense Mellis Graduanda de Ciências Sociais (UERJ). E-mail: mellisjessica@gmail.com

Introdução

Neste trabalho apresentamos uma primeira análise1 acerca de semelhanças e diferenças entre três importantes e atuais currículos de Ensino Médio de Sociologia do Rio de Janeiro: O do Colégio Pedro II2 (em vigor desde 2012 no ensino regular), o do Colégio de Aplicação da UERJ (CAp-UERJ), também formulado em 2012, e o Currículo Mínimo da SEEDUC, cuja versão atual é de 2012.

Em todos eles observamos a tentativa de seguir as estratégias recomendadas pelas Orientações Curriculares Nacionais do Ensino Médio (OCN) de Sociologia (2006), assim como a preocupação em apresentar aos estudantes instrumentos que os permitam ver e compreender as constantes transformações que ocorrem na

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Primeira análise pois desejamos dar continuidade a esse trabalho, melhorando-o conforme sugestões e mais pesquisa.

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Deixamos de lado, na nossa análise, os currículos do Colégio Pedro II referentes ao Ensino de Jovens e Adultos, chamado PROEJA, quando a Sociologia se insere no terceiro ano do Ensino Médio; e os de Cidadania do Sétimo Ano, e Ciências Sociais do Oitavo Ano e do Nono Ano do Ensino Fundamental. Pretendemos incorporar a análise desses programas do Colégio Pedro II num trabalho futuro, mas por ora optamos por nos ater apenas ao Ensino Médio regular.

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sociedade contemporânea, inclusive oferecendo-lhes suporte para interpretar o Brasil e o cotidiano.

1. O currículo do Colégio Pedro II

O currículo do CPII objetiva estimular a reflexão crítica dos estudantes, munindo-os de teorias e conhecimentos que os permitam analisar a sociedade ao seu redor. A proposta visa desenvolver o pensamento sociológico por meio do “estranhamento” e da “relativização” de certos fenômenos, desconstruindo preconceitos e pensamentos do senso comum. Nos programas das três séries, dá-se destaque ao diálogo entre o saber acadêmico e científico, além da cultura popular e da tradição social, permitindo que o ensino da sociologia seja útil em outras áreas de conhecimento, inclusive sendo de fundamental contribuição às Ciências Humanas como um todo.

Percebemos ali a preocupação em se discutir estratégicas para a formação de estudantes mais conscientes e interessados numa cidadania ativa dentro do espaço escolar e social. Assim sendo, o caráter dialógico e crítico da metodologia adotada se expressa em sala de aula por meio de argumentações e debates sobre os temas propostos. Exemplo disso são os temas motivadores distribuídos por cada trimestre, os quais remetem aos conteúdos centrais do período - também chamados de “pontos nodais” - ao mesmo tempo que os aproxima da realidade social.

Nesse sentido, observamos que a densidade do currículo do CPII visa um caminho duplo, em que: 1) Associa-se às demais Ciências Humanas, fornecendo subsídios para os alunos aproveitarem seu conteúdo em redações de vestibulares e Enem, assim como para a elaboração de provas dessa área de conhecimento mais amplo; 2) propõe um ensino sociológico efetivo, com características próprias dessa ciência, estabelecendo relevante articulação entre uma visão crítica do mundo e os conteúdos lecionados.

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes 1.1. Análise específica das unidades dos programas de Sociologia

A Primeira Série do Ensino Médio traz a apresentação da disciplina, a relação entre indivíduo e sociedade, e dois temas caros à Sociologia: trabalho e estratificação. Distribuída em três unidades, correspondentes aos três trimestres do ano letivo – modo de funcionamento de todas as disciplinas nesse tradicional colégio -, as unidades seguem a referência do livro que era usado até 20143.

Os pontos nodais abordam, na Primeira Unidade, intitulada “A sociedade dos Indivíduos” a perspectiva de como se fazer sociologia a partir de um pensamento crítico e reflexivo; indivíduos e relações sociais pensados na teoria e nos exemplos históricos; além de como as formas de socialização implicam num tipo de controle por meio de valores e normas sociais. O tema motivador é amplo e abrangente, estimulando a reflexão. Ao propor as discussões “Ordem X Conflito, e Crime X Justiça”, o currículo reveste-se de um conteúdo teórico central das ciências sociais, que envolve autores clássicos da disciplina, com a intenção de inserir de imediato o alunado num perfil mais cientificizado da disciplina4.

A Unidade 2, “Trabalho e Sociedade”, marca uma intenção mais política do programa, já que trata das divisões no mundo do trabalho, suas relações de poder, as formas de dominação e, como consequência, as diferenças sociais. Dando maior foco ao trabalho na sociedade capitalista, o trabalho é visto como um mecanismo gerador de desigualdade, portanto com viés implicitamente marxista. Isso fica mais claro no destaque dado à organização dos trabalhadores e no desenvolvimento sindical, resultado do cenário de exploração e controle do sistema capitalista sobre o

3 Usava-se o livro “Sociologia para o Ensino Médio”, de Nelson Dacio Tomazi, sendo substituído, a

partir de 2015, pela obra “Sociologia em Movimento”, composto por 19 autores, dentre eles alguns professores do próprio CPII, como Afrânio Silva, Fátima Ferreira, Lier Pires, Martha Nogueira, Rogério Lima, Tatiana Bukowitz, dentre outros. O programa da Primeira Série se aproxima das três primeiras unidades do livro do Tomazi. Já na segunda e na terceira série não ocorre uma relação direta com a ordem encontrada no livro, havendo margem, inclusive, para a utilização de outros materiais didáticos por parte dos professores.

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Vale dizer que o aluno do Ensino Médio, em geral, apresenta dificuldade com conteúdos abstratos. No caso do CPII, essa proposta, logo no início do Ensino Médio, está assentada no aprofundamento do ensino do colégio, assim como no fato de as Ciências Sociais já terem sido trabalhadas por pelo menos três anos no ciclo fundamental.

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trabalho. Chama atenção, nessa unidade, a aproximação subliminar da Sociologia com a História e a Geografia Política, a despeito da particularidade da interpretação sociológica que é sempre basilar. O tema motivador “O trabalho traz felicidade?” relaciona o trabalho e as consequências trazidas por ele, tanto numa perspectiva individual como coletiva, abrindo margem para ampla reflexão por parte do alunado.

A Unidade 3, “A Estrutura Social e as desigualdades”, complementa o segundo trimestre, ao tratar das estratificações presentes em diversos modelos sociais, em especial a divisão por classes típica do capitalismo. Pensamos que essa unidade encontraria maior coesão caso viesse antes, ou seja, no segundo trimestre, uma vez que apresentaria a temática da estratificação e da desigualdade, de modo que a abordagem sobre o trabalho seria decorrente.

O tema motivador dessa terceira unidade, “Brasil: Um país de classe média?” é mais uma pergunta reflexiva e que traz à tona uma pauta recente da Sociologia brasileira5. Os pontos nodais, ao elencarem os pontos “exploração e pobreza” e “raça e gênero” dá espaço para um trabalho aprofundado por parte do professor dentro do complexo tema das desigualdades.

A Segunda Série do Ensino Médio, atipicamente, traz apenas duas unidades a serem desenvolvidas nos três trimestres. A primeira, intitulada “Ideologia e Cultura”, sugere vários temas que se articulam com teorias e conceitos, tal como recomendado pelas Orientações Curriculares Nacionais (2006). Desse modo, os pontos nodais são: Cultura, Etnocentrismo, Relativismo Cultural, Ideologia, Hegemonia e Indústria Cultural. O tema motivador, “Da sociedade do espetáculo à sociedade em rede: liberdade ou coerção?”, mais uma vez instiga o professor a uma ampla possibilidade de aprofundamento dos pontos trabalhados, ao mesmo tempo que exige do aluno um aprofundamento não simples do conteúdo. Se, num primeiro momento, poderíamos pensar que essa unidade teria mais sentido na Primeira Série do Ensino Médio, até mesmo porque esses temas já apareceram no currículo do oitavo ano do Ensino Fundamental, a densidade sociológica com a qual é proposta

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Autores importantes que têm estudado o tema são Jessé Souza, Marcelo Neri, Márcio Pochmann, dentre outros.

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aqui nos faz aceitar sua presença na segunda série, quando os alunos já possuem maior embasamento.

A Unidade 2, “Poder, Política, Estado e Movimentos Sociais”, tem pontos nodais abrangentes, aproximando-se da Ciência Política e da História. São eles: Poder; Estado e Nação; Eleições e Partidos políticos; Relações de poder no Brasil; Coronelismo e clientelismo; Movimentos sociais. Trata-se de uma agenda com forte viés político e que apresenta um tema motivador clássico da sociologia brasileira, inspirada na obra de Roberto Da Matta, “Você sabe com quem está falando?”. Ela tem uma característica reflexiva de aproximar o aluno de temas histórico-sociológicos que abordam diversas interpretações acerca do Brasil6.

Por fim, a Terceira Série apresenta três unidades, com uma temática ainda mais densa. A primeira se chama “A cidade como construção social”, com pontos nodais que envolvem diversos aspectos que giram em torno das cidades modernas, tais como o desenvolvimento, a segregação, a violência e os movimentos sociais urbanos. O tema motivador é “Favela e controle social no Rio de Janeiro”, aproximando a temática estudada da realidade do nosso cotidiano.

A Unidade 2, “Mudança Social”, tem por foco questões em torno do capitalismo, como reforma e revolução, modernização e desenvolvimento, a crise social do século XXI, a estrutura de poder e o controle político existente, assim como as forças integradoras e desintegradoras da globalização, numa das unidades mais densas de todo o currículo do Colégio Pedro II. A teoria sociológica também deve ser abordada no que tange às explicações para as mudanças sociais contemporâneas. O conteúdo, mais uma vez, dá margem para o aprofundamento por parte do professor, desenvolvendo a argumentação e o pensamento crítico dos alunos. Visualizamos essa possibilidade ao olharmos para o tema motivador: “Desemprego e crise social no século XXI”.

Complementando, a Unidade 3 procura dar conta do título “Mudança e Transformação Social no Brasil”, apresentando uma leitura sociológica de uma

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Além de Roberto DaMatta, essa unidade abre espaço para se trabalhar autores clássicos como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Oliveira Vianna, Caio Prado Júnior, Joaquim Nabuco, dentre outros.

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realidade, algumas vezes, também estudada pela História do Brasil. Assim, aborda-se a modernização conaborda-servadora, a disputa pela terra, a reestruturação urbana e as lutas sociais, assim como as novas práticas culturais. São itens que envolvem um grande problema do cenário político-social brasileiro, constituindo-se em lutas pautadas dentro de um cenário complexo de reivindicações. O tema motivador é “Individualismo e solidariedade diante das tecnologias contemporâneas”, elementos ricos para se pensar os pontos abordados nessa unidade e frutíferos para o desenvolvimento de novas pesquisas.

2. O Programa do CAp-UERJ

Ao contrário do que acontece no Colégio Pedro II, o primeiro contato que os alunos do CAp-UERJ têm com a Sociologia ocorre no Ensino Médio. Segundo nossa análise do Plano de Curso deste colégio, a disciplina procura conscientizar os alunos sobre a maneira como a sociedade se organiza, munindo-os de ferramentas para criticar, refletir e expor seus pensamentos de maneira mais aprofundada e menos imediatista. Entendemos tratar-se de um currículo denso, que também articula temas, teorias e conceitos, que ao mesmo tempo se aproxima de outras disciplinas da área de Humanas, e que também abre margem para o desenvolvimento de variadas estratégias pedagógicas durante sua aplicação.

Assim como o CPII, o CAp-UERJ possui três trimestres, dois tempos de aula semanais, e um programa que envolve temas motivadores ao final de cada unidade trimestral. O currículo possui algumas diferenças, porém muitas semelhanças com o anteriormente analisado, o que pode ser explicado pelo fato: 1) de até 2014 também utilizar a obra “Sociologia para o Ensino Médio” como livro didático; 2) por possuir, no período da sua elaboração, professores que também atuavam no Colégio Pedro II7. Segundo nosso entendimento, na sua totalidade, o currículo do CAp-UERJ é um

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Destacam-se os Professores Rogério Mendes de Lima, Rodrigo de Souza Pain e Afrânio de Oliveira Silva.

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pouco menos complexo que o anterior – provavelmente pelo fato de as Ciências Sociais não terem sido trabalhadas anteriormente.

2.1. Observando os conteúdos próprios de cada ano do Ensino Médio

O conteúdo do primeiro bimestre é bastante extenso, misturando temas clássicos da Sociologia e da Antropologia. No Primeiro Ano8 do Ensino Médio, a unidade 1 tem como título “A Sociologia como ciência”, destacando-se a sociedade como fenômeno de estudo científico, o que inevitavelmente remete à Durkheim. Além disso, esta unidade procura apresentar as teorias sociológicas clássicas logo nas primeiras aulas, o que nos soa complicado levando-se em conta que se trata do primeiro contato dos estudantes com a disciplina. Ao se abordar o contexto de surgimento da Sociologia junto às transformações do século XVIII e XIX, ocorre a necessidade de um apanhado histórico como suporte às aulas.

Outra inconsistência, ao nosso ver, consiste no terceiro ponto desta primeira unidade, que sugere o tratamento da desigualdade como uma questão social e pede a explicação da desigualdade nas sociedades capitalistas com base na teoria sociológica. Entendemos que se trata de um tema complexo para ser tratado como uma mera etapa da primeira unidade, sendo necessária uma unidade inteira para que as desigualdades sociais fossem trabalhadas da forma apropriada. O tema motivador deste primeiro trimestre, “A construção e a reprodução das diferentes formas de desigualdade na cidade do Rio de Janeiro” é frutífero, aproxima os estudantes da realidade que nos cerca, mas depende de o tema “desigualdade” ter sido bem trabalhado ao longo da unidade. Daí a nossa conclusão de que deveria ser deslocada para uma unidade à parte.

A Segunda Unidade baseia-se no título “Cultura e Sociedade”, sendo dividida em duas etapas: A primeira chamada “Cultura como resolução de problemas das sociedades humanas” é discriminada em quatro subitens: Construindo o conceito de

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No CAp-UERJ chama-se de anos as etapas do Ensino Médio, ao passo que no CPII chama-se de séries.

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cultura; Cultura material e simbólica; Cultura e a explicação entre diferenças entre os homens (etnocentrismo, relativismo e diversidade cultural); e Uma análise crítica do processo de construção da cultura. Observa-se que esses itens são estruturados de forma a montar conceitos e definições teóricas sobre o tema. Já a segunda etapa, “A cultura na sociedade Ocidental” apresenta cinco subitens: Um modelo específico de organização cultural; Cultura capitalista; Processo de socialização nas sociedades capitalistas; Cultura erudita, cultura popular e cultura de massa; Cultura, ideologia e indústria cultural; e Os meios de comunicação de massa e a consolidação do capitalismo. Aqui observa-se primeiro uma contextualização histórica a respeito da organização cultural e da forma como se desenvolve a cultura capitalista. O tema motivador dessa unidade é “Indústria cultural e controle social no Brasil”, trazendo uma reflexão crítica sobre os mecanismos sociais estipulados pelo capitalismo, que abraçou a cultura como foco de negócio. Mais um espaço para o aprofundamento crítico do tema, e a abertura para o uso de recursos pedagógicos múltiplos e embasados em pesquisas.

A Unidade 3 do Primeiro Ano aborda uma temática ausente no Ensino Médio do Colégio Pedro II, mas lá trabalhado ao longo do 9º ano do Ensino Fundamental durante a disciplina Ciências Sociais. Esta unidade intitula-se “A Sociologia e a compreensão de uma sociedade em transformação”. Aborda-se como as transformações contemporâneas estão focadas na revolução virtual, de modo que a era digital é debatida explorando-se como ela criou redes de relacionamentos utilizando-se da cultura como principal mecanismo conector. É um momento menos conteudista, com abertura para um debate crítico a respeito de cultura, transformação e virtualização da sociedade contemporânea. O tema motivador dessa unidade é “Redes sociais online e tribos urbanas: novas formas de expressão da juventude brasileira”, cujo foco está nas transformações culturais advindas das novas identidades adquiridas no século XXI por meio de uma maior inserção social na era digital.

Chegando ao Segundo Ano, o currículo do CAp-UERJ apresenta três unidades para serem desenvolvidas nos três trimestres, de maneira que o tema “Estado”

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atravessa todo o período. O foco da primeira unidade é “Estado e relações de poder”, abordando-se a estruturação do Estado, suas vertentes teóricas, a relação com o governo e a sociedade civil. Existe, aqui, grande aproximação junto à Ciência Política e à História, mas com uma interpretação que não perde de vista as relações de poder erigidas a partir do Estado, tanto que o tema motivador é “Estado e relações de poder no Brasil”.

A Unidade 2 é “Formas de representação da sociedade civil”, com o tema motivador “Estado e Direitos Humanos na cidade do Rio de Janeiro”. A partir desta motivação, o Estado é trabalhado na sua relação com a democracia, os partidos políticos, a construção histórica dos direitos (civis, políticos e sociais), a cidadania, os direitos humanos e os movimentos sociais. Abrange, por exemplo, as múltiplas formas de representação da sociedade civil por meio dos mecanismos jurídicos, legislativos e executivos que o Estado Moderno oferece aos cidadãos. Desenvolve-se como esDesenvolve-ses mecanismos agem tanto no entendimento social como na sua aplicação prática. Por isso, entender o que é uma democracia e um regime constitucional garante aos estudantes uma abrangência sob como funciona os poderes e as ações do Estado.

Na Unidade 3, intitulada “Participação política, cidadania e direitos humanos na sociedade do século XXI”, ocorre um aprofundamento dos pontos abordados no trimestre anterior, abrindo um leque de temáticas correlacionadas. É o caso de se tratar dos Movimentos de juventude, da relação entre os meios de comunicação em massa e a participação eleitoral no Brasil, dos novos movimentos sociais, das ações afirmativas, assim como temas políticos complexos, como a crise da democracia, o neoliberalismo, e a crise do Estado Moderno. Aponta-se, portanto, para uma maior reflexão da cidadania e da participação política no século XXI, e como a democracia torna-se um agente precursor desse mecanismo de ação. O tema motivador, mais uma vez, aproxima a disciplina da realidade do Rio de Janeiro, dando margem para trabalhos pedagógicos que procurem dar conta da aplicação desse complexo arcabouço de temas misturados com conceitos e interpretações político-sociológicas à realidade desta juventude que está em sala de aula.

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O Terceiro Ano do Ensino Médio apresenta um currículo mais enxuto e menos denso que aquele observado neste mesmo nível no Colégio Pedro II. A Unidade 1 é intitulada “Mundo do Trabalho e Cidadania”, de forma que procura-se dar conta de uma larga abordagem teórica, conceitual e histórico-sociológica. Demonstra-se como o trabalho influencia as formas de atuação social e reprodução material da sociedade. O principal foco aqui é a sociedade capitalista, observada tanto numa aproximação com a História e com Geografia Política, ao se estudar o fordismo, a reestruturação produtiva, o novo mundo do trabalho e a nova organização das relações de produção, como embasado na teoria sociológica. Um segundo objetivo é aproximar o tema da vida dos alunos, o que é estimulado pelo tema motivador “Mundo do trabalho e reprodução social no Rio de Janeiro” e por alguns itens previstos nesta primeira unidade, como trabalho formal e informalidade, a precarização das relações de trabalho no campo e na cidade, além da reprodução da desigualdade influenciada pelo mundo do trabalho.

A Unidade 2 procura dar conta do estudo da “cidade” como construção social e passível de uma análise sociológica. O título da unidade é “Relações Sociais, Culturais e Políticas no Espaço Urbano”. Apresenta-se a “cidade” como o principal cenário das construções sociais, tanto do legal como do ilegal. A Sociologia é chamada a analisar a “cidade” do século XXI, com suas desigualdades, modernidade, políticas públicas, violências, formas de controle, segregações, como espaço público, e também com espaço para uma abordagem das questões ambientais. O tema motivador, um pouco genérico, é “A reorganização do espaço urbano e cidadania na cidade do Rio de Janeiro”, o que é positivo na medida em que abre espaço para o desenvolvimento de vários trabalhos dentro da temática.

Por fim, a Unidade 3, “Questões Centrais de uma Sociedade Globalizada”, não delimita itens a serem tratados, mas é aberta à debates e discussões sobre esse tema atual e não menos complexo. Por não possuir itens, dá dilatada margem de trabalho ao professor.

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes 3. O Currículo Mínimo do Estado

O Currículo Mínimo elaborado pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro serve como referência à todas as escolas estaduais, apresentando competências e habilidades que devem estar nos planos de curso e nas aulas. Destina-se a orientar os itens que não podem faltar no processo de ensino e aprendizagem em cada disciplina, respeitando indicações vindas dos Parâmetros Nacionais Curriculares e das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCNs) (CURRÍCULO MÍNIMO SOCIOLOGIA, 2012).

No caso específico da Sociologia, assim como ocorre nos currículos do CPII e do CAp-UERJ, aborda-se conteúdo das três áreas constituintes das Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia e Ciência Política. Segundo o próprio documento elaborado pela Seeduc (2012), o currículo assume o objetivo de levar o aluno do Ensino Médio a desenvolver o tipo de raciocínio peculiar às Ciências Sociais, desnaturalizando as ralações sociais, estranhando o que lhe é familiar e desenvolvendo o que Wright Mills chamou de “imaginação sociológica”9

. Também se utiliza em muitas escolas estaduais, até hoje, o livro do Tomazi, a despeito de o livro “Sociologia em Movimento” já estar sendo usado em muitos outros colégios desde o início de 2015.

Ao contrário do CPII e do CAp-UERJ, que possuem três trimestres por ano letivo, os do Estado preveem quatro bimestres, o que altera o formato do currículo.

3.1. Analisando os conteúdos

O programa da Primeira Série do Ensino Médio começa, no primeiro bimestre, com o tema “O conhecimento sociológico”. O objetivo é apresentar o papel da Sociologia como a ciência das relações sociais, e o indivíduo como um ser social. Nesse sentido, o começo é semelhante aos outros currículos.

9 O sociólogo norte-americano Wright Mills cunho esse conceito na obra “A Imaginação Sociológica”

(1959), onde propõe o uso da sociologia como forma de entender o indivíduo e suas ações perante as transformações e estruturas sociais (OLIVEIRA, 2012).

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Dando sentido a um eixo de continuidade, os três bimestres seguintes envolvem o tema “Cultura”, assim distribuídos: No segundo bimestre “Cultura e diversidade”, no terceiro bimestre “Cultura e identidade”, e no terceiro bimestre “Preconceito e discriminação”. Visam identificar o homem como ser histórico e cultural, compreender conceitos antropológicos importantes como etnocentrismo e relativização, estabelecer a relação entre a construção da identidade individual e o pertencimento a grupos e instituições sociais, estudar a construção dos estigmas e rotulação de grupos e sujeitos sociais, identificar diferentes formas de preconceito, discriminação e intolerância, assim como o caráter multicultural da sociedade brasileira, inclusive com suas implicações nas relações etnicorraciais e nas suas identidades regionais. Como se vê, o foco deste período é mais antropológico, mas sem um aprofundamento na teoria, até porque ela não é remetida explicitamente. Portanto, apesar de bem articulados, os temas demonstram um propósito menos denso que os currículos do CPII e do CAp-UERJ, provavelmente pensando-se no fato de as primeiras e segundas séries do Ensino Médio da rede estadual contarem com apenas um tempo de aula semanal, além de a primeira série do Ensino Médio representar o primeiro contato com a disciplina em toda a vida escolar.

Já a Segunda Série é mais diversa do ponto de vista temático, inclusive aproximando-se da História em alguns momentos. Começa com o título “Cidadania, direitos humanos e movimentos sociais” no primeiro bimestre, numa proposta que aborda o conceito de cidadania e a construção dos direitos civis, políticos, sociais e culturais como um processo em constante expansão, além de abordar os direitos humanos como fundamental para uma sociedade democrática, tal como o papel histórico dos movimentos sociais tradicionais e dos novos na construção da cidadania.

O segundo bimestre é intitulado “Trabalho, sociedade e capitalismo”, estudando-se as relações de trabalho em diferentes tempos históricos, em especial no modo de produção capitalista, inclusive abordando como essas relações trabalhistas impactam no padrão de acumulação capitalista. Decorrente desse tema, o terceiro bimestre tem como título “Relações de trabalho”, que envolve as

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manifestações de trabalho formal e informal no Brasil, chamando atenção para importantes realidades em nosso país, tais como as formas de trabalho precarizado, infantil, escravo, e análogo à escravidão. Chama-se atenção também para os processos de regulação e flexibilização das relações de trabalho no atual estágio do capitalismo brasileiro.

Por fim, o quarto bimestre procura dar conta do título “Estratificação e desigualdade”. Ao propor o estudo das diversas formas de estratificação e a dinâmica da mobilidade em diferentes sociedades, em especial o processo atinente ao caso brasileiro, assim como as consequências de uma sociedade desigual como a nossa, este currículo cai no mesmo erro do programa do CAp-UERJ, haja vista que ambos atribuem pouco tempo à um tema complexo e longo.

Se a temática referente à segunda série do Ensino Médio está vinculada à Sociologia, os pontos abordados pela Terceira Série mesclam Sociologia e Ciência Política. Os temas desta série, por sua vez, são mais abrangentes, pensados para dois tempos de aula semanais, o que, infelizmente, é privilégio apenas deste último ciclo10. Em decorrência desse maior tempo de aula, os temas propostos parecem carecer de maior abrangência.

O título do primeiro bimestre é “Cultura, consumo e comunicação de massa”, buscando-se construir uma visão crítica da indústria cultural, sua relação com o conceito de cultura de massa, além de uma compreensão do papel das novas tecnologias de informação e comunicação nas transformações da contemporaneidade e na criação de novas formas de sociabilidade.

Já os segundos e terceiros bimestres aproximam-se da Ciência Política. No caso do segundo, o título é “Poder, política e estado”, cujas habilidades e competências visam estudar as diferentes formas de poder e dominação, identificando os tipos ideais de dominação legítima, numa das poucas vezes em que o programa remete a um conteúdo teórico - no caso a teoria de dominação de Weber. Também se propõe a estudar a organização do poder no Estado, bem como

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Pensamos que dois tempos de aula semanais de Sociologia, para todas as series do Ensino Médio, seria o mínimo para o ensino apropriado da disciplina.

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as relações entre as esferas pública e privada no Estado Moderno, assim como o princípio da divisão dos poderes e a organização dos sistemas partidário e eleitoral do Estado brasileiro. Por fim, o segundo bimestre propõe um dos temas mais densos de todo o currículo, e que apenas superficialmente poderá ser tratado como apenas mais um de seus itens, que se trata de compreender o processo histórico e sociopolítico de formação do Estado brasileiro. Assim como no caso do CAp-UERJ, aqui também caberia o uso de vários autores conhecidos como intérpretes do Brasil.

O terceiro bimestre, intitulado “Cidadania, democracia e participação política”, é menos conteudista, e mais reflexivo, posto que visa estudar o papel da participação política e da sociedade civil para o exercício da cidadania e na construção de uma sociedade democrática, além de retomar a dualidade entre as esferas pública e privada, porém agora pensando-a no caso brasileiro – o que mais uma vez nos remeteria a importantes vertentes teóricas da Sociologia brasileira.

Por fim, o quarto bimestre retoma a vertente meramente sociológica ao tratar das “Formas de violência e criminalidade”. O objetivo consiste em compreender as diversas manifestações da violência, as disputas territoriais e os processos de exclusão e segregação socioespacial das cidades e os conflitos sociais, além de distinguir as diferentes formas em que se manifesta a violência no meio rural e urbano. Também se propõe a identificar o processo de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Com essa definição, o currículo toma nitidamente um viés politizado, o que não foi uma constante na formulação deste programa como um todo.

Conclusão

Os três currículos observados apresentam semelhanças e diferenças. Os programas do CPII e do CAp-UERJ são mais parecidos, uma vez que o Ensino Médio tem séries divididas em trimestres e dois tempos semanais de aula de Sociologia em todas elas. Nos colégios da rede estadual ocorre a divisão por bimestres, e, com exceção da terceira série, as outras duas possuem apenas um

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tempo de aula por semana. Decorre daí que a proposta curricular dos dois primeiros colégios é mais densa, e suscita maior envolvimento com a teoria sociológica e com seus conceitos do que o da Seeduc – apesar de estes elementos não estarem excluídos daqui.

Vários conteúdos estão presentes nos três programas, até porque todos seguem as recomendações das OCNs, de maneira que valorizam as três áreas das Ciências Sociais, aproximam-se em alguns momentos de outras disciplinas das Ciências Humanas, mas o que os diferencia substancialmente é nível de aprofundamento que propõem.

No caso dos currículos do CPII e do CAp-UERJ os temas motivadores são muito importantes para esse aprofundamento, a despeito dele já ocorrer na própria maneira como os conteúdos são propostos. No entanto, esses temas motivadores abrem espaço para uma multiplicidade de trabalhos pedagógicos a serem desenvolvidos com os alunos, como pesquisas, seminários, utilização de materiais didáticos lúdicos, dentre outros, o que consiste em aproximar o conteúdo estudado de casos específicos da realidade. Nesse ponto, cabe uma ressalva. Enquanto os temas motivadores do CPII tratam de questões diversas, envolvendo reflexões teóricas, abstratas, ou sobre a realidade global ou sobre o Brasil, no caso do CAp-UERJ vemos uma predominância de temas referentes ao Rio de Janeiro, o que ocorre em cinco das oito unidades existentes. No currículo do CPII apenas um tema é relativo ao contexto fluminense/carioca. Na ausência desses temas motivadores no programa da Seeduc, a variação pedagógica e a abertura de leques temáticos diante dos conteúdos centrais inevitavelmente fica mais restringida.

Por fim, o que não foi objetivamente o propósito deste artigo, ficando para um trabalho futuro, é que os currículos também devem ser pensados considerando-se o vínculo que possuem com seu público-alvo, haja vista que isso impacta, inclusive, na intensidade de teoria sociológica presente em cada um deles. O CPII e o CAp-UERJ são colégio tradicionais do Rio de Janeiro e conhecidos pela excelência do seu ensino, o que se reflete na densidade observada em seus planos de curso. A proposta da Seeduc, como o próprio nome diz, é desenvolver um currículo mínimo,

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deixando a cargo de cada realidade escolar o grau de aprofundamento de cada tema.

Bibliografia:

CURRÍCULO MÍNIMO SOCIOLOGIA. Seeduc. 2012. Disponível em:

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TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. 1.ed. São Paulo: Atual, 2007.

Referências

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