Resumo Expandido
Projeto:
Variação Linguística, oralidade e letramento em Teresina: práticas sociais, concepções e propostas de ensino de língua materna.
Subprojeto:
Investigando o processo de ensino-aprendizagem de leitura em turmas de pré-escolar, em Teresina-PI.
Orientando:Marcus Antonio de SOUSA FILHO Orientadora: Profa. Dra. Catarina de Sena Sirqueira Mendes da COSTA
Introdução
Tendo em vistas as diversas dificuldades enfrentadas por professores de língua materna, faz-se necessário pesquisar a forma como as práticas de letramento, oralidades e variação linguística se efetivam na atual conjuntura social. Para isso, foi preciso fundamentar-se a fim de desenvolver ideias remediadoras e promover discussões a respeito das práticas sociais linguageiras.
Sabe-se que a partir dos anos 50 (até os anos 80), o ensino de língua portuguesa foi bombardeado por diversas teorias e estratégias levantadas por inúmeros teóricos linguísticos. Neste sentido, os estudos que aqui nos interessam procura abarcar três itens de ordem vigente na esfera de ensino desde a metade do século passado: Oralidade, Letramento e Variedade Linguística. Apesar de terem seus apogeus/ápices em datas diferentes, estes convergem entre si em dois pontos principais: Linguagem e Diversidade.
A partir desses pontos a pesquisa toma forma, pois a linguagem e a diversidade culminam num corpo maior, que abrange toda a humanidade: a Cultura. E é neste ambiente que o material de estudo de estabelece enquanto matéria prima, pautado no dinamismo que confere a linguagem.
Dentre tantos embates a respeito do ensino de língua materna, Milanez (1993) traz reflexões imprescindíveis para os profissionais da área de Letras: o ensino da escrita em detrimento da oralidade, bem como a importância do saber ouvir para o desenvolvimento cognitivo e construção do discurso (do aluno); aborda, ainda, estratégias que possibilite o melhor emprego da pedagogia do oral.
É pertinente citar que a contribuição de Marcuschi para a pesquisa é excepcional, pois aponta a desmistificação do tradicionalismo como suporte ao ensino de língua portuguesa. Segundo ele, deve haver o aproveitamento da deixa a respeito do uso lúdico como subsídio mediador entre o conteúdo programático e a vivência do aluno. O que vem a ser corroborado por Costa (2011;2014) fundeando-se nos preceitos sociolinguísticos e de letramentos, ratificado, também, por Magda (2009) estipulando a diferença entre alfabetização e letramento, o que dá respaldo ao viés em questão: Investigação do processo de ensino-aprendizagem de leitura em turmas de pré-escolar em Teresina-PI.
Metodologia
Para que a pesquisa tomasse rumos mais específicos, aderimos por referência uma turma do segundo nível da pré-escola Centro de Educação Infantil Francisco de Assis, ou CMEI Francisco de Assis, situado na região norte de Teresina-PI, no bairro Mocambinho - setor e quadra 11. De ordem etnográfica, a esfera científica teve de estender-se até à comunidade, a fim de analisar o posicionamento da clientela, além disso, no ambiente intra escolar, houve uma investigação diagnóstica envolvendo a gestão, o corpo docente e, por fim, os alunos do segundo período do ensino regular infantil.
Respectivamente a pesquisa aconteceu: pelas observações sistemáticas em aulas de leitura, a fim de descrever todo processo de ensino/aprendizagem das atividades, identificando inclusive os fundamentos teóricos que orientam essa atividade; descrições de situações de leitura na creche, bem como de eventos de letramento mais recorrentes e significativos na comunidade social onde vivem as crianças da turma; realização de avaliações da participação das crianças em atividades de leitura e em eventos típicos da comunidade social; por fim, a partir dos resultados, avaliar a participação dos alunos, além de fazer intervenções de experiências por meio do exercício de prática social da leitura, de forma a colaborar para a efetivação e motivação da prática leitora, como uma contribuição pedagógica para o ensino.
Vale esclarecer que o olhar etnográfico abordado é correspondente à perspectiva teórico-metodológica da comunicação, segundo Hymes (1974), Saville-Troike (1982),
Erickson (1987), Bortoni-Ricardo (2008) e Street (1995). Trata-se de uma abordagem que parte da descrição e análise dos eventos de letramento definidos em ações interativas, nos processos comunicativos, para a investigação do significado dessas ações através da relação de unidades desses eventos com aspectos sociais dos falantes, em seus respectivos contextos sociais.
Resultados e Discussões
Influenciados pela honraria que a Instituição recebeu do município pela maestria de alfabetizar um grande número de alunos, adentramos nesta esfera a fim de descobrir como se dá o processo de ensino- aprendizagem da leitura. Partindo dos postulados teóricos, observou-se que há um grau acentuado de atenção à oralidade. A instituição proíbe que os profissionais peçam silêncio, ou seja, são conscientes de que os alunos enquanto cidadãos possuem o direito de voz.
O Centro de Ensino trabalha com conteúdos programáticos enquadrados em sete competências diciplinatórias. A pesquisa aconteceu às quartas-feiras, no período das aulas de Língua Portuguesa/Literatura. Observa-se que o trabalho com a leitura segue um viés tradicionalista, mas além de consciente, a professora prefere usar de recursos diversos para ministrar suas aulas. Inevitavelmente o impacto visual toma a atenção. Há diversas informações nas paredes, como estratégia de fixação conteudista. Ali, estão presentes cartazes, adesivos e murais bem trabalhados, informando datas, nomes, grafemas, números e dados das disciplinas de geografia e história.
É perceptível a importância dada à língua materna, desde a recepção dos alunos até a inserção na sala de aula. Diversos livros estão sempre à disposição da turma, expostos na parede inferior, podendo levá-los para seus lares quando lhe aprouver.
De um modo geral, as práticas de letramento tornam-se visíveis ao passo que os alunos reconhecem a função da língua. Muito embora inconscientes esse alunos primam pela relação social e o diálogo, tendo, a princípio, como prescrição da professora, em seguida como hábito.
Partindo dos diversos sentidos do texto, foi proposta outra perspectiva de leitura para os alunos: o uso da multimodalidade. Recurso este que abrange os diversos materiais que exprimem sentido, como: som, cores, desenhos. Fugindo às regras tradicionalistas de decodificação de símbolos, sob a fundamentação de Koch (2003) e o material de Rennó (1996), obra “História de Amor”. Obteve-se maior rendimento dos alunos em duas semanas com o trabalho e sem titubear a professora aderiu à técnica.
No que concerne à comunidade que usufrui da Instituição, percebe-se que o grau de instrução dos responsáveis é mínimo e que o Centro Educacional precisa trabalhar a conscientização e recomendação de projetos de ensino para adultos, tendo em vista que
a escola tem tomado a responsabilidade dos pais/responsáveis por incompetência de escolaridade.
Mesmo em face desta deficiência, pode-se observar que os alunos tomam uma posição: ajudam seus pais na leitura de dados do cotidiano, como faturas, cartas e outros suportes que utilizam da materialidade textual. Segundo a diretora, é incrível observar o desenvolvimento dos alunos, mas intrigante mesmo é saber que mesmo não alfabetizados, muitos pais usam o transporte público (onde se detecta mais uma forma de letramento social- não sabem decodificar os símbolos linguísticos, mas descobriram a função da linguagem através de uma fórmula individual).
Pode-se considerar que, apesar da pouca idade, os alunos são indivíduos com uma bagagem cognitiva repleta de conhecimentos (que perpassam os universais, os linguísticos e os interacionais). O universo cujo estão inseridos os influencia de toda maneira, salpicando-os de valores, interesses, crenças e experiências, tudo isso movido pela linguagem e diversidade, culminando no que se conhece por cultura. E é nesse contexto que o professor deve atuar: aproveitando-se do que o aluno já dispõe, transformando ideias e adicionando habilidade de compreensão; além de incitá-los a busca pelas diversas percepções que a linguagem pode exprimir.
REFERÊNCIAS
COSTA, C.S.S.M. da Variação/diversidade linguística, Oralidade e Letramento: escola e comunidade. Teresina, EDUFPI, 2014.
COSTA, C.S.S.M. Olhares Sociolinguísrticos: Variação e Interação. Teresina, EDUFPI, 2011.
COSTA, C.S.S.M. FERREIRA LIMA. M.A. (Orgs.) Nas trilhas da linguagem. Teresina, EDUFPI, 2011.
MILANEZ.Wânia. : Condições básicas para o ensino da oralidade em língua
materna.In: Pedagogia do Oral: Condições básicas para sua aplicação no português. São Paulo-SP: Sama Editora, 1993.
MARCUSCHI. Luis Antônio. Oralidade e Letramento.In: Da fala para a escrita: atividades de retextualiação . São Paulo: Cortez Editora, 2003.
KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2ª. Ed.,2003.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler & compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
CAPE. Texto didático. O que é letramento e alfabetização. Belo Horizonte: MG, 2000.
SOLÉ. Isabel. Estratégias de leitura. O Ensino da Leitura. São Paulo: Sama Editora. 2004.
ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola. 2009.
STREET, B. V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad.: Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
DIONISIO, A. P. Multimodalidade discursiva na atividade oral e escrita
(atividades). In: MARCUSCHI, L. A. (Org.); DIONISIO, A. P. (org.). Fala e Escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.