Levantamento florístico das plantas espontâneas da área de cultivo de café
(Coffea
arabica), do campus IFMG – Bambuí – MG
Lorrany Horácio Penoni
(1); Frederico Pahlm Ribeiro Gonçalves
(1); Jéssica EliasReis
(2);
Valdeci da Rocha
(1); Antônio Vieira Filho
(2); Moacir Alves Andrino
(2); Ricardo Monteiro
Corrêa
(3)(1)Estudante de mestrado em Sustentabilidade e Tecnologia Ambiental, Instituto Federal Minas Gerais (IFMG) campus
Bambuí. Rod. Bambuí/Medeiros km 5. CEP: 38900-000. Bambuí-MG.
(2) Aluno (a) especial da disciplina Agroecologia do mestrado em Sustentabilidade e Tecnologia Ambiental. IFMG campus Bambuí.
(3) Professor Orientador. IFMG campus Bambuí.
RESUMO - Na agroecologia as plantas espontâneas além de serem fundamentais para a produção
agrícola podem ser comestíveis e/ou apresentar propriedades medicinais. Este trabalho tem como
objetivo de levantar as espécies espontâneas calculando suas frequências absoluta e relativa e
também identificar as comestíveis e/ou medicinais. O dados foram levantados no Laboratório de
Fruticultura e Cafeicultura do IFMG campus Bambuí nas entrelinhas do cultivo de café. Através do
método do “quadrado inventario” catalogaram-se 188 indivíduos em 17 espécies dentro de 9
famílias onde a mais abundante foi a Asteraceae e a espécie mais abundante foi Mané-turé
(Leonurus sibiricus) com freqüência absoluta de 25,5%. A maior parte das plantas identificadas
tiveram propriedades medicinais (e óleos essenciais) e pouco menos da metade são comestíveis
mostrando a importância destas como novas fontes de renda e de investimentos em pesquisas.
Palavras-Chave: Agroecologia, Plantas Medicinais, Plantas invasoras, Plantas comestíveis.
INTRODUÇÃO
O termo “plantas invasoras” ou “ervas daninhas” são usados na agricultura convencional
para “toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada” (Pereira e Melo, 2008).
Na agricultura convencional, as plantas daninhas podem apresentar fatores que limitam a
produtividade, competindo diretamente com as plantas a serem cultivadas, interferindo no seu
crescimento (Pereira, 2015).
Ao contrário da agricultura convencional, na agroecologia o termo “plantas invasoras” ou
“ervas daninhas” é substituído pelo termo “plantas espontâneas” que significa “espécies de plantas
que originam nas áreas de cultivo, podendo ser espécies nativas ou exóticas” (Pereira e Melo,
2008). Estas têm um papel fundamental para a manutenção do solo, controlando a erosão e a
ciclagem de nutrientes, além de auxiliar agente controlador de pragas (Genária, 2012) reduzindo o
uso de insumos agrícolas tornando a produção mais economicamente viável, impactando menos o
meio ambiente e a saúde dos trabalhadores (Lana, 2007); podendo ainda ser utilizada como
alimento e como produto para fármacos diversos.
Desta forma o objetivo deste trabalho foi levantar as espécies espontâneas numa área com
plantio de café no IFMG campus Bambuí.
MATERIAL E MÉTODOS
O local onde foi realizado o levantamento situa-se no Campo experimental de cafeicultura
do Instituto Federal de Minas Gerais campus Bambuí, sob coordenadas geográficas 20º02’25,21’’S
e 46º00’30,07’’ W. Foi selecionada uma parcela de 3.620,39 m² contendo cultivo de café (Coffea
arábica).
O levantamento florístico foi feito através do método do quadrado inventário
(Braun-Blanquet, 1979), que consiste em jogar aleatoriamente um quadrado feito de madeira de 1,0 x 1,0
m. Foram demarcadas 10 áreas amostrais.
Foram quantificadas e identificadas as espécies (em campo, sem sua retirada), o total de
indivíduos por espécie e as famílias, calculando as frequências absolutas e relativas seguindo o
método de Mueller-Dombois e Ellenberg (1974).
Em sequência foram identificadas as plantas comestíveis e medicinais para fins de
comparação com as demais plantas espontâneas identificadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram catalogadas e identificadas 188 indivíduos num total de 17 espécies dentro de 9
famílias nos 10 lançamentos realizados.
Observou-se que as famílias mais frequentes foram a Asteraceae com 84 indivíduos seguida
por Lamiaceae com 48 indivíduos e Amaranthaceae com 37 indivíduos, totalizando 9 famílias
(Tabela 1).
A Asteraceae é a família botânica com maior número de espécies dentro do grupo das
angiospermas (Jeffrey, 2007). Esta família é cosmopolita e tem distribuição principalmente em
regiões tropicais, tendo maior preferência por ambientes secos e abertos (Panero e Crozier, 2008). O
principal fator para o grande sucesso na abrangência das Asteraceaes são as formas de dispersão das
sementes, variando entre pápus plumosos, apêndices e estruturas de aderência (Judd et al, 2007).
Tabela 1 – Plantas espontâneas encontradas em área experimental de cafeeiro no IFMG Campus
Bambuí
Nome comum (regionalizado) Nome científico Família Amendoim-bravo Euphorbia heterophylla Euphorbiaceae
Beldroega Portulaca oleracea Portulacaceae Carrapichinho-do-mato Alternanthera tenella Amaranthaceae Caruru-de-espinho Amaranthus spinosus Amaranthaceae Caruru-de-mancha Amaranthu sviridis Amaranthaceae
Jurubeba Solanum paniculatum Solanaceae
Losna branca Parthenium hysterophorus Asteraceae
Mamona Ricinus communis Euphorbiaceae
Mané-turé Leonurus sibiricus Lamiaceae
Maria-preta Solanum americanum Solanaceae
Mastruço Lepidium virginicum Brassicaceae
Physalis Physalis angulata Solanaceae
Picão-preto Bidens pilosa Asteraceae
Serralha-brava Emilia fosbergii Asteraceae
Trapoeraba Commelina benghalensis Commelinaceae
Vassourinha Sida rhombifolia Malvaceae
As espécies mais abundantes encontradas nos lançamentos foram Mané-turé (Leonurus
sibiricus) com 48 indivíduos, seguida da Losna-branca (Parthenium hysterophorus) com 43 e o
Picão-preto (Bidens pilosa) com 38 indivíduos contabilizando respectivamente 25,5%, 22,9% e
20,2% de todos os 188 indivíduos distribuídos em 17 espécies (Tabela 2).
Tabela 2 – Frequência absoluta e relativa de espécies levantadas em cultivo de café no IFMG
campus Bambuí.
Espécie (nome comum regionalizado) Frequência relativa (%) Frequência absoluta
Amendoim-bravo 0,53 1 Assa-peixe 0,53 1 Beldroega 0,53 1 Carrapichinho-do-mato 2,6 5 Caruru-de-espinho 6,9 13 Caruru-de-mancha 10,1 19 Jurubeba 0,53 1 Losna branca 22,9 43 Mamona 0,53 1 Mané-turé 25,5 48 Maria-preta 2,1 4 Mastruço 0,53 1 Physalis 0,53 1 Picão-preto 20,2 38 Serralha-brava 1,06 2 Trapoeraba 3,7 7 Vassourinha 1,06 2
A L. sibiricus assim como Parthenium hysterophorus apresentam grande abundância, pois
encontram no Brasil condições adaptativas excelentes, tanto pelo solo quanto pelo clima, já que
estas são exóticas (Duarte e Lopes, 2005).
Foram encontradas espécies medicinais e comestíveis, sendo 13 espécies medicinais e 7
comestíveis, indicando respectivamente 76,5% e 41,2% (Tabela 3). Dentre as espécies medicinais
podemos destacar o Mané-turé (L. sibiricus) como a mais abundante, utilizada como calmante
natural principalmente pelo seu efeito regulador da pressão sanguínea (Lorenzi, 2008); o
Picão-preto (Bidens pilosa), assim como o Caruru-de-mancha (Amaranthus viridis) utilizados como
diuréticos (Lorenzi, 2008); e a Mamona (Ricinus communis) utilizada como anti-inflamatório e
purgativo natural (Carmo et al, 2015).
Tabela 3 – Frequências absolutas e relativas de espécies medicinais/não medicinais e
comestíveis/não comestíveis em levantadas em cultivo de café no IFMG campus Bambuí.
Frequência absoluta Frequência relativa (%)
Medicinais 13 76,5
Não medicinais 4 23,5
Comestíveis 7 41,2
Não comestíveis 10 58,8
Também destacam-se como comestíveis as espécies Caruru-de-espinho (Amaranthus
spinosus) e Caruru-de-mancha (A. viridis), utilizadas em saladas verdes e como adicional nutritivo
devido à presença de vitaminas A, C e complexos B (Gonsalves, 2002); Maria-preta (Solanum
americanum) utilizada na culinária em muitos países para preparação de geléias e tortas (Kinupp e
Lorenzi, 2014); Fisalis (Physalis angulata) rica em vitaminas A, C e minerais é mais consumida in
natura, em saladas, podendo ser consumidas como geléia e outros condimentos (Rufato et al, 2013).
CONCLUSÃO
As plantas espontâneas encontradas em plantações e até mesmo em quintais, inicialmente
tidas como “pragas” e fonte de prejuízo a lavouras, podem ser amplamente exploradas como fonte
alternativa de renda, já que muitas destas apresentam propriedades medicinais e/ou comestíveis.
Algumas espécies estudadas e amplamente produzidas como a fisalis (P. angulata), a
Mamona (R. communis) dentre outras, deveriam ser mais exploradas, já que muitas destas são
pouco conhecidas, pesquisadas e muito “descriminadas”.
BRAUN-BLANQUET, J. Fitossociologia: bases para el estudio de las comunidades vegetales. Madri: H. Blume, 1979. 820 p.
CARMO, T. N.; LUCAS, F. C. A.; LOBATO, G. J. M. e Gurgel, E. S. C.; Plantas Medicinais E Ritualísticas Comercializadas na Feira da 25 de Setembro, Belém, Pará, Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; 2015
DUARTE, M. R.; LOPES, J.F.; Morfoanatomia foliar e caulinar de Leonurus sibiricus L., Lamiaceae. Acta Farm Bonaer. 2005; 24(1):68-74.
GERNÁRIA, R. Manejo agroecológico de plantas espontâneas na agricultura familiar. Disponível em: <http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/ programacao/2012/manejo-agroecologico-de-plantas-espontaneas-na-agricultura-familiar> acesso em 13/11/2015.
GOLSALVES, P. E. Livro dos alimentos. Book RJ Gráfica e Editora. MG. 2002.
JEFFREY, C.; Compositae: Introductionwithkeytotribes. FamiliesandGeneraof Vascular Plants, FloweringPlants, Eudicots, Asterales (J. W. Kadereitand C. Jeffrey, eds.). vol. VIII. P61–87. Springer-Verlag, Berlin, 2007.
JUDD, W.S., CAMPBELL, C.S., KELLOGG, E.A., STEVENS, P.F. PlantSystematics: A Phylogenetic Approach. Sinauer Associates, Sunderland, 2007.
KINUPP, V. F.; LORENZI, H.; Plantas alimentícias não convencionais no Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2014. 768 p.
LANA, M. A.; Uso de culturas de cobertura no manejo de comunidades de plantas espontâneas como estratégia agroecológica para o redesenho de agroecossistemas. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias - Florianópolis, 2007.
LORENZI, H.; Plantas daninhas do Brasil; 6ª ed. Nova Odessa; São Paulo, 2008.
MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLEMBERG, H. A. Aim sand methods of vegetation ecology. New York: John Wiley, 1974. 574 p.
PANERO, J.L., CROZIER, B.S.;Treeof Life – Asteraceae, 2008; disponível em: <http://www.tolweb.org/asteraceae> acesso: 10/11/2015.
PEREIRA, W. e MELO, W. F.; Manejo de plantas espontâneas no sistema de produção orgânica de hortaliças. Circular Técnico – EMBRAPA Hortaliças. Brasília – DF; Julho, 2008
PEREIRA, W.;Plantas espontâneas/Árvore do conhecimento – Cenoura. Ageitec/Embrapa. Disponível em:<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cenoura/arvore/CONT000gnhp6ryi02wx5ok0edacxlixv4e 7.html/> acesso em 16/10/2015.
RUFATO, A. R.; RUFATO L.; LIMA, C. S. M.; MUNIZ, J.;A Cultura Da Physalis. Série Fruticultura – Pequenas Frutas, CNPUV. 2013.