• Nenhum resultado encontrado

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social MASCULINIDADES, VIOLÊNCIA E MÍDIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social MASCULINIDADES, VIOLÊNCIA E MÍDIA"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

MASCULINIDADES, VIOLÊNCIA E MÍDIA

Jadson Stevan Souza da Silva*; Faculdade Guairacá; Guarapuava-PR, Brasil. Rosemeri Moreira, UNICENTRO; Guarapuava-PR, Brasil

contato: awstevan@hotmail; rosemeri_moreira@yahoo.com.br Palavras-chave: Masculinidades. Violência homicida. Gênero.

A reflexão acerca das construções e representações sociais das masculinidades é algo relativamente recente nos estudos sobre relações de gênero. Discutiram-se, com o advento da História das Mulheres a partir da década de 1970, “[...] como as experiências masculinas passaram a ser as únicas representativas da história humana [...]” (PINSKY, 2009, p. 161) o que desencadeou os estudos das relações e construção social das diferenças entre os sexos.

Estabelecido o termo gênero que remete aos “[...] aspectos culturais relacionados às diferenças sexuais [...]” (PINSKY, 2009, p. 162) e não estritamente ao aparato biológico, tratou-se de pensar a experiência masculina para além de categorias neutras. O “papel sexual masculino” foi criticado e notado em sua natureza social e a noção de múltiplas masculinidades foram propostas, com a possibilidade de se reconhecer masculinidades hegemônicas, como expõem Carrigan, Connell e Lee no artigo “Towards a New Sociology of Masculinity” de 1985. Medrado e Lyra (2008, p. 824) esclarecem que não se trata de formas binárias entre uma masculinidade hegemônica e outra subordinada, ”tais formas dicotômicas baseiam-se nas posições de poder social dos homens, mas são assumidas de modo complexo por homens particulares, que também desenvolvem relações diversas com outras masculinidades.”

A noção de masculinidade hegemônica reafirmada por Connell e Messerschmidt (2013, p. 245) se baseia na distinção de outras masculinidades, a qual “[...] incorpora a forma mais honrada de ser um homem”. Tal hegemonia é mais complexa do que aparenta, afinal, as masculinidades não são apenas diferentes entre si, mas também abertas a mudanças históricas, mas as justificativas de masculinidades socialmente dominantes se encontram no “[...]

(2)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

consenso cultural, a centralidade discursiva, a institucionalização e a marginalização ou a deslegitimação de alternativas [...]” (CONNELL e MESSERSCHMIDT, 2013, p. 263)

Outra ideia interessante que vai de encontro com o debate proposto é a “Dominação

Masculina”, descrita por Pierre Bourdieu (2007) como violência simbólica, reproduzida pelos

sujeitos da sociedade sem a devida consciência de maneira sutil e reconhecida tal qual pelo dominante e dominado.

Com a devida explanação sobre o conceito de masculinidades, afirmamos nossa abordagem do conceito de gênero como categoria de análise, proposta por Joan Scott (1989), o que nos permite tratar do conceito como “[...] elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos [...] e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. [...]” (SCOTT, 1989, p. 21) afinal, em consonância com esse pensamento, o gênero é um saber a despeito diferenças sexuais, e o saber está nivelado às relações de poder.

Interessados em refletir a construção das masculinidades (e feminilidades) a partir das perspectivas referentes ao corpo e gênero enquanto categoria de análise de modo que as identidades de gênero e os usos sociais da violência sejam discutidos, propomos a discussão sobre as práticas socioculturais que constroem e reconstroem os espaços simbólicos, tais como as masculinidades e feminilidades a partir da análise dos dados estatísticos sobre a violência homicida e os enunciados produzidos sobre ela no Jornal Diário de Guarapuava entre os anos 2010 e 2014.

Para isto, propôs-se a análise da construção das estatísticas contemporâneas sobre a prática da violência homicida, feminicida, nacional, regional e local, assim como a discussão sobre a construção das masculinidades e das feminilidades na sociedade contemporânea ocidental. Os meios de comunicação seguem como importantes espaços de representações, de produção e reprodução das práticas sociais e culturais, e para tal aspecto será feita a análise dos enunciados jornalísticos concernentes ao tema proposto presentes no Jornal Diário de Guarapuava por meio de suas edições alocadas no acervo da Biblioteca Municipal de Guarapuava assim como no Sítio on-line do jornal.

Tais interesses são reflexos da preocupação com alguns dados nacionais sobre a violência, concernentes às últimas décadas. Tomemos como exemplo o Estado do Paraná, que

(3)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

atualmente é considerado um dos novos pólos da violência homicida segundo o mapa da violência de 2012 (WAISELFISZ, 2011). A capital Curitiba e a região metropolitana, diferentes da maior parte das demais capitais, tiveram altas elevadas no período 1980-2010. Curitiba passou de 200ª para a 6ª capital no ranking da violência homicida, com o índice de 55,9 mortes para cada 100 mil pessoas. No município de Guarapuava, o índice geral da violência homicida foi de 35 assassinatos para cada 100 mil habitantes, segundo o mapa da violência de 2012 (WAISELFISZ, 2011). Dentre todos os municípios do país, Guarapuava está na 346ª posição nesse ranking. Em relação aos jovens (15 a 24 anos de idade), o município apresenta o índice de 52,3 mortes para cada 100 mil pessoas, para o mesmo período.

Um dos aspectos importantes a se notar na presente pesquisa se encontra nos estudos mais recentes acerca da violência. Dubet (1995) citado por Waiselfisz (2011) aponta o espaço urbano como representação da “civilização e da barbárie moderna”, mas as verificações na distribuição dos homicídios entre 1993 e 2002 no estudo do Mapa da violência fizeram com que sua edição de 2004 trouxesse a tese da interiorização, pois se notou que a partir de 1999 a taxa de crescimento da violência das capitais foi superada pela taxa do interior. (ANDRADE; DINIZ, 2013)

Essa nova situação é apontada por Waiselfisz (2011) como o ponto chave ao trazer a necessidade de trabalhar também com os municípios do país não apenas por um dinamismo novo, mas pelo fato da informação em nível municipal tornar-se demanda imperativa para evidenciar os novos pólos da violência do país e, consequentemente, as possibilidades de enfrentamento.

É preciso que se perceba então que havia até 1996 um crescimento de homicídios que se centravam nas capitais e regiões metropolitanas com grande conglomerado, e entre 1996 e 2003 estes espaços estagnam enquanto impulsores da violência e transferem o fenômeno da violência homicida para municípios do interior dos estados.

Se até 1996 o crescimento dos homicídios centrava-se nas capitais e nos grandes conglomerados metropolitanos, entre 1996 e 2003 esse crescimento praticamente estagna e o dinamismo se transfere aos municípios do interior dos estados. Outro fenômeno é notado ao passo que a partir de 2003 as taxas médias nacionais das capitais e regiões metropolitanas se

(4)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

encolhem enquanto as taxas do interior crescem com um ritmo mais lento, uma espécie de disseminação. (WAISELFISZ, 2011)

Ainda segundo Waiselfisz (2011) a disseminação é produzida a partir das quedas de grande significado de estados com forte peso demográfico e de grande impacto nas estatísticas nacionais e de aumentos em um número maior de estados com menor significado estatístico.

A ideia contida nesta tese é de que a disseminação atuou de maneira que espalhou a violência homicida para todas as regiões do país. Waiselfisz (2011) defende este fenômeno como uma espécie de “reequilíbrio hidrodinâmico dos vasos comunicantes” que perpassam dos estados mais violentos para os menos violentos.

Importante salientar que em relação ao gênero, a vitimização da violência homicida é preponderantemente masculina. Segundo o Mapa da Violência de 2012, 91,4% dos homicídios registrados pertenciam ao sexo masculino. Frente a esses dados, longe do feminicídio ser minimizado, as considerações vão em direção às análises sobre os espaços da vitimização, nos quais a esfera privada é predominante de vitimização das mulherese e o espaço público é o lugar predominante da violência homicida entre os homens (IPEA, 2013).

No que diz respeito aos veículos de informação, pensar como os sujeitos envolvidos nos atos de homicídio são representados nos permite refletir tanto as relações de gênero, quanto a violência e a própria mídia. A mídia é quase onipresente na sociedade atual, na qual os indivíduos são bombardeados por informações a todo o momento. Nesta perspectiva os meios de comunicação alteram a maneira que os indivíduos vêem o mundo. (MIGUEL, 2000) Entretanto, a mídia não apenas forma a opinião pública, como alertou Rodrigues (1968) citado por Luca (2005), mas, por vezes, expressam a opinião pública, tornando-a impassível de neutralidade em sua produção.

Portanto, ao trabalhar com os meios de comunicação há de se pensar nas múltiplas relações e particularidades contextuais dessas fontes. Essa sentença pode ser uma justificativa do receio de pesquisadores em usar os periódicos como fonte de pesquisa, visto que sua utilização só começou a se dar nos anos 70 do século XX, como aponta Luca (2005) Glénisson (2002) apud Luca (2005) pondera a dificuldade em saber que influências ocultas exerciam-se num momento dado sobre um órgão de informação, qual o papel desempenhado,

(5)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

por exemplo, pela distribuição da publicidade, qual a pressão exercida pelo governo. Por essas e outras razões há uma profunda importância na atenção aos aspectos que envolvem a materialidade dos impressos, visto que eles nada têm de natural. (LUCA, 2005)

A leitura de reportagens sobre violência homicida no jornal Diário de Guarapuava permitiu perceber algumas padronizações. As matérias a respeito dos atos homicidas são pautadas rotineiramente no enfoque de notícia, com a precisão de relato, mas sem a elaboração de análise. Essa maneira de elaborar a notícia só se altera quando o caso registrado carrega um teor de maior comoção, seja pela violência de características incomuns ou personalidades de maior destaque no meio social, o que nos leva a relação com o conceito de masculinidade hegemônica manifesto na representação da condição hegemônica dos variados sujeitos e seus contextos.

Ao considerar a atribuição das matérias aos órgãos oficiais, como a Delegacia Municipal, se faz importante pensar também o papel que tais órgãos exercem na atribuição a valores aos atos a partir da relação de gênero, como é o caso do feminicidio informado como crime passional ainda hoje pelos redutos oficiais.

O presente estudo nos permitiu um maior esclarecimento sobre os temas propostos e a compreensão da necessidade de maior visibilidade às reflexões acerca dos espaços simbólicos da produção e reprodução das representações das práticas sociais e culturais.

Referência:

ANDRADE, L. T; DINIZ, A. M. A. A reorganização espacial dos homicídios no Brasil e a tese da interiorização. Rev. bras. estud. popul. vol.30, supl.0, São Paulo. 2013, Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-30982013000400011>. Acesso em: 13 ago. 2014. BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. CONNELL, R. W; MESSERSCHMIDT, J. W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 241-282, jan./abr. 2013.

Disponível em: <

(6)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

LUCA, T. R. de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, C. B. (Org.) Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

MEDRADO, B; LYRA, J. Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre homens e masculinidades. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, v. 16, n. 3, p. 809-840,

set./dez. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n3/05.pdf> Acesso em: 10

fev. 2015.

MIGUEL, Luís Felipe. Retrato de uma ausência: a mídia nos relatos da história política do Brasil. Rev. bras. Hist., São Paulo , v. 20, n. 39, 2000. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882000000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: Out. 2014

PINSKY, C. B. Estudos de gênero e História Social. Revista Estudos Feministas,

Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 159-189, jan./abr.2009. Disponível em: < Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n3/05.pdf> Acesso em: 20 jul. 2014.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Tradução: Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila. Texto original: Joan Scott –Gender: a useful category of historical analyses. Gender and the politics of history. New York, Columbia University Press.

1989. Disponível em:

<http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAner o-Joan%20Scott.pdf> Acesso em: 24 ago. 2014

WAISELFISZ, J. Mapa da violência: Mapa da violência 2012: os novos padrões da violência homicida no Brasil. São Paulo: Instituto Sangari, 2011.

Referências

Documentos relacionados

5- Sem prejuízo do disposto no número 3 da cláusula 65.ª, o trabalho suplementar pode ser prestado até um limite de 200 (duzentas) horas por ano, não se considerando para este

*eu nome] &amp; he ddgraça.1 •^lros. LadIam fehaverá comigo no tempo dc • Pite hc o fentido que fazem eftas palavras, fe- C iij guindo.. guindo efta expofrção tão douta ,

Promover a compreensão dos conceitos de machismo, feminismo e violência de gênero; Promover a reflexão sobre como a masculinidade normativa e as desigualdades de gênero afetam

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O MITO E A LITERATURA: FORMAÇÕES DO INCONSCIENTE VÍNCULADOS.. AO CONCEITO

Os órgãos de proteção de crédito (SPC, SERASA e CCF), conforme já exposto no primeiro capítulo, nasceram com objetivo de aperfeiçoar custos para o empresário

gerenciamento por cada um dos papéis, foi atingido, pois o sistema desenvolvido possibilita a troca de informações entre os envolvidos no processo de manutenção, permitindo que

No final de sua fabricação, para melhorar a sua qualidade e trabalhabilidade, tanto na pré-tração como na pós-tração, os aços para Concreto Protendido são submetidos a um

7. 25/01/2010 - Homologa a acta de análise de propostas do procedimento por ajuste directo, para o fornecimento de tinteiros para impressoras e a exclusão das propostas