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Estudos sobre a população e a família em Porto Alegre no século XVIII: registros paroquiais como fonte de informações históricas.

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Estudos sobre a população e a família em Porto Alegre no século XVIII:

registros paroquiais como fonte de informações históricas.

*

Marcelo Silveira Valadas**

Introdução

Os registros paroquiais existentes no Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre apresentam informações importantes e de grande valia para os estudos populacionais, referentes ao período colonial. As séries disponíveis neste arquivo começam em 1747 até o ano de 1900 para assentos de batismos e de óbitos1. E para assentos de casamentos os livros são de 1747 até atualmente. Estes assentos fornecem dados para análise em séries temporais do comportamento populacional e para reconstituição de famílias. Salienta-se isso por encontrarmos neste arquivo a maioria dos livros de registros paroquiais completos, tanto para população livre como para escrava, correspondente a todas as primeiras freguesias do Rio Grande do Sul, faltando um número muito pequeno dos registros correspondente ao total das localidades. Sendo assim, contamos com este acervo importante para os estudos sobre o comportamento demográfico da população rio-grandense.

Primeiramente, o estudo está direcionado para cidade de Porto Alegre, iniciando a análise com os registros paroquiais produzidos a partir de 1772, quando é fundada a capela de São Francisco do Porto dos Casais. Em 1773, a freguesia é elevada à paróquia, recebendo o nome de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. Vale lembrar ainda que neste último ano, a administração lusa da capitania, localizada em Viamão, foi transferida para Porto Alegre. Tal decisão foi tomada durante a guerra entre Espanha e Portugal (1763-1777), que disputavam o território do atual Rio Grande do Sul. Para o final do período de estudo sobre a dinâmica populacional de Porto Alegre fica pré-determinado até o período da Revolta Farroupilha (1835-1845). Os estudos populacionais e o levantamento desta documentação estão sendo desenvolvidos no projeto População e Família no Brasil meridional dos meados do século XVIII às primeiras décadas do século XIX, na UNISINOS, em São Leopoldo/RS. Este se encontra em fase inicial e financiado pelo CNPq. Além disto, este projeto está integrado ao Grupo de Pesquisa CNPq Demografia e História, que pretende inventariar as fontes paroquiais e organizar um banco dados referente à documentação do passado demográfico colonial brasileiro. O período da Revolta Farroupilha fica como limite para os estudos da dinâmica populacional da região, entretanto, pretende-se fazer um levantamento desta documentação e informações sobre a população além do período determinado, até próximo ao fim do século XIX, para que fique disponível neste banco de dados do Grupo de Pesquisa.

A presente comunicação abordará as características observadas nestes assentos de batismo, casamento e óbitos para paróquia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, fazendo uma reflexão sobre as informações arroladas e, na medida do possível,

*

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

**

Graduando em História na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), e Bolsista CNPq. 1

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compará-las com outros trabalhos relacionados ao assunto. Para tanto, serão utilizados alguns estudos que analisaram os registros paroquiais, destacando-se entre eles o trabalho da Maria Luiza Marcílio, A Cidade de São Paulo: Povoamento e População, 1750-1850, que utiliza os registros paroquiais para a Sé de São Paulo, bem como o estudo de Iraci del Nero da Costa, Registros Paroquiais: notas sobre os assentos de batismo, casamento e óbito, que apresenta informações importantes sobre os registros produzidos para a paróquia Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias, uma das duas paróquias de Vila Rica, em Minas Gerais, referentes ao período de 1719-1826. Paralelamente, analisaremos as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, que estabelecem as normas para a elaboração dos assentos de batismo, casamentos e óbito, conforme as diligências do Concilio Tridentino. Além da regulamentação para a elaboração destes assentos, esta referência também é de grande valia para entendermos a importância que representou esta documentação para a Igreja no período colonial.

Sendo assim, o objetivo desta comunicação será a avaliação da qualidade das informações que foram encontrados nos registros paroquiais para Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, confrontando os resultados dessa reflexão tanto com as normativas existentes, quanto com outros trabalhos que analisaram as mesmas fontes. Ainda pretende-se descrever um pouco sobre o método utilizado na coleta das informações nos aspretende-sentos.

1 - Aspectos gerais

Os assentos de batismos, casamentos e óbitos, para a freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, estão organizados em livros numerados, todos completos. O primeiro livro de casamentos (livres e de escravos) é o que se encontra num estado mais precário de conservação, com as folhas totalmente soltas, estando preservado em lugar especial. Os demais, de um modo geral, apresentam a deterioração causada pela ação de insetos, mas em pouquíssimos casos isso dificulta a leitura.

Todos os livros apresentam os termos de abertura e encerramento, além de vistos das visitas dos Bispos. Estes livros estão divididos em séries, da seguinte forma:

Batismos para População Livre:

Livro 1: 1772 / 1792 (Livres);1772-1791 (Escravos) - 289 fls.; 2 Livro 2: 1792 / 1799 - 140 fls.; Livro 3: 1799 / 1809 - 304 fls.; Livro 4: 1809 / 1815 - 195 fls.; Livro 5: 1815 / 1820 - 191 fls.; Livro 6: 1820 / 1828 - 395 fls.; Livro 7: 1828 / 1831 - 290 fls.; Livro 8-9: 1832 / 1836 - 91 fls.; Batismos para População Escrava: Livro 2: 1797 / 1820 - 289 fls.; Livro 3: 1819 / 1831 – 241 fls.;

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Foi destinado aos registros de batismo para população livre da folha 1 até 198. E para população escrava da folha 199 até 289.

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Livro 4: 1831 / 1841 – 59 fls.; Casamentos para População Livre: Livro 1: 1772 / 1806 – 199 fls.; Livro 2: 1806 / 1818 – 146 fls.; Livro 3: 1818 – 1828 – 193 fls.; Livro 4: 1828 – 1839 – 284 fls.;

Casamentos para População Escrava: Livro 1: 1772 / 1856 – 292 fls.;

Óbitos para População Livre:

Livro 1: 1772 / 1795 (Livres); 1772 – 1801 (Escravos) – 249 fls.; 3 Livro 2: 1795 / 1812 - 205 fls.;

Livro 3: 1812 / 1821 – 167 fls.; Livro 4: 1821 / 1831 – 280 fls.; Livro 5: 1831 / 1836 – 145 fls.; Óbitos para População Escrava: Livro 2: 1801 / 1819 – 283 fls.; Livro 3: 1819 / 1835 – 283 fls.;

Devido à deterioração, o primeiro livro de casamento para livres e escravos, que é o que apresenta maiores dificuldades para seu manuseio e leitura. Entretanto essas dificuldades são superadas, pois já foram transcritos pela arquivista Vanessa Gomes de Campos4, que mantém a organização no acervo e a conservação destes e todos os documentos eclesiásticos, conforme os meios disponibilizados. Além do mais, a transcrição deste livro de casamento evita o contato com a fonte, pois contém todas as informações precisas e necessárias para os estudos populacionais, contribuindo para a conservação dos registros originais.

A origem dos registros paroquiais surge da necessidade da Igreja de controlar o comportamento da população católica. No espaço de domínio luso na América, eram as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia que determinavam os modelos para a elaboração dos assentos, que assim estavam definidos:

Batismos:

“Aos Tantos de tal mez, e de tal anno baptizei, baptizou de minha licença o Padre N. nesta, ou em tal Igreja, a N. filho de N. e sua mulher N. e lhe puz os Santos Óleos: foram padrinhos N. e N. casados, viúvos, ou solteiros, freguezes de tal igreja, e moradores de tal parte.” 5 (grifos nosso)

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Óbitos para população livre da folha 1 até 179. E para população escrava, da folha 180 até 244. 4

Deixo expresso a gratidão que temos a Vanessa Campos, pelo seu trabalho e atenção que vem concedendo em nossos estudos.

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Acrescentava ainda que “ao pé de cada assento se assinará o Pároco ou Sacerdote que fizer o Batismo.”

Casamentos: 6

“Aos tantos de tal mez, de tal anno pela manhã, ou de tarde em tal Igreja de tal Cidade, Villa, Lugar, ou Freguezia, feitas as denunciações na forma do Sagrado Concílio Tridentino nesta Igreja, onde os contraentes são naturaes, e moradores, ou nesta, e tal, e taes Igrejas, onde N. contraente é natural, ou foi, ou é assistente, ou morador, sem se descubrir impedimento, ou tendo sentença da dispença no impedimento, que lhe sahio, como consta da certidão, ou certidões de banhos, que ficão em meu poder, e sentença que me apresentarão, ou sendo dispensados nas denunciações, ou differidas para depois do Matrimonio por licença do Senhor Arcebispo, ou Provisor N., e sendo presentes por testemunhas N. e N., pessoas conhecidas, (nomeando duas, ou três das que se acharão presentes) se casarão em face da Igreja solenemente por palavras N. filho de N., e de N., natural, e morador de tal parte, e freguez de tal Igreja, com N. Filha de N., ou viúva que ficou de N. Natural, e morador de tal parte, e Freguezia desta, ou de tal Parochia: (e se logo lhe der as bênçãos acrescentará) e logo lhe dei bênçãos conforme os ritos, e ceremonias da Santa Madre Igreja, do que tudo fiz este assento no mesmo dia, que por verdade assignei.” 7(grifos nosso)

Determinava também que “assinará com as testemunhas nomeadas ao pé de cada termo o pároco, ou Sacerdote que assentiu o Matrimônio, (...)”. Quanto ao trecho sublinhado acima, é importante citar que, para Maria Luiza Andreazza,

“O conteúdo desses campos expressa que os nubentes provaram ser quem eram e, como tais, detinham condições adequadas às exigências eclesiásticas para celebração conjugal o que, do ponto de vista jurídico, significa que os contraentes arcaram com ônus de provar estarem habilitados à contração pretendida. (Andreazza, 2007, pág. 9)

No arquivo histórico da Cúria de Porto Alegre, existem diversas habilitações matrimoniais que podem ser estudadas, visando entender como era o desenvolvimento como esses processos que atestaram a aptidão para celebração conjugal. Além disso, possibilita encontrar mais informações sobre a população de Porto Alegre. A única dificuldade será de leitura, pois esta documentação encontra-se muito danificada pela ação de insetos e maus cuidados ao longo do tempo.

Óbitos:

“Aos tantos dias de tal mez, e de tal anno falleceo da vida presente N. Sacerdote Diaconno, ou Subdiaconno; ou N. marido ou mulher de N. ou viúvo, ou viúva de N., ou filho, ou filha de N., do lugar de N., Freguez desta ou de tal Igreja, ou forasteiro, de idade de tantos annos, (se commodamente se puder saber) com todos, tal Sacramento, ou sem elles: foi sepultado nesta, ou em tal Igreja: fez testamento, em que deixou se dissessem tantas Missas por sua alma, e que fizessem tantos Officios, ou morreo abintestado, ou era

6

Maria Luiza Andreazza, no texto “Cultura Familiar e registros paroquiais”, discute a importância de cada informação e porque dela ter sido estabelecida pela igreja nos assentos de matrimônios.

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notoriamente pobre, e por tanto se lhe fez enterro sem se lhe levar esmola”.8 (grifos nosso)

Além destas diligências, era exigida a assinatura dos Párocos na numeração em cada uma das páginas. Também era obrigatório o termo de abertura e de encerramento de cada livro.

Antes de analisar as informações dos registros paroquiais para Madre de Deus de Porto Alegre, citou-se a forma como se exigia a elaboração dos assentos, dispostos nas Constituições Primeiras. Com isso, as informações encontradas, de forma geral, nos assentos de batismos, casamentos e óbitos, tanto de livres quanto de escravos, para Madre de Deus de Porto Alegre, são:

Batismo:

Data do Batismo; Local do batismo; Nome do batizado; Data do nascimento; Nome dos pais; Naturalidade dos pais; Nome e naturalidade dos avós paternos e maternos (menos para população escrava); Nome dos padrinhos e Assinatura do Vigário

Casamentos:

Data; Local do matrimônio; Horário; naturalidade dos noivos; Condição de legitimidade; Pais dos noivos (poucos casos para escravos); testemunhas e Assinatura do Vigário

Óbitos:

Data da ocorrência; Nome do falecido; idade do falecido; causa morte; naturalidade; Pais; cônjuges ou proprietário; se deixou testamento ou não; testamenteiros; herdeiros e Assinatura do Vigário

2 - Assentos de Batismos

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Em assentos de batismos para a paróquia Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, os nomes de avós das crianças batizadas são freqüentes para a população livre e inexistente para população escrava. Entretanto, analisando as disposições das Constituições Primeiras, percebe-se que não era exigido constar nos assentos o nome dos avós das crianças batizadas. Mas estas informações existentes contribuem para os estudos sobre as relações de parentesco desta população. Além disso, aparece frequentemente a naturalidade dos pais e dos avós, sendo uma informação de grande valia para os estudos de mobilidade geográfica. Para população escrava, a elaboração dos assentos segue o padrão estabelecido sobre as informações necessárias, conforme as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.

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Constituições Primeira, Livro IV, Titulo XLIX. 9

Sobre a importância do batismo na vida religiosa, além de analisarem alguns aspetos da dinâmica religiosa de Vila Rica (MG), entre 1712 a 1719, destaca-se o trabalho de Renato Franco e Adalgisa Arantes Campos, titulado como “Notas sobre os significados religiosos do Batismo”, publicado na Revista Varia Hitoria, n° 31 de 2004.

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Observando outros trabalhos, percebe-se que esta informação sobre os nomes dos avós não era freqüente aparecer como nos registros de batismo, como ocorreu para Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. No trabalho de Iraci del Nero da Costa, referente a notas sobre o registros paroquiais para Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias, é destacado a baixa freqüência de indicação da naturalidade para os pais das crianças batizadas, o que é “eventualmente assinalado”. E para naturalidade e nome dos avós, assinalou para uma “minoria de crianças” (Costa, 1990, pág. 50). Já Maria Luiza Marcílio, que apresenta as informações arroladas nos assentos de batismos para a paróquia da Sé em São Paulo, não assinala a referência à naturalidade dos pais ou nomes dos avós (Marcílio, 1973).

3 - Assentos de Casamento

Os assentos de casamentos de livres e de escravos, para a paróquia Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, apresentam informações básicas e coerentes com as estabelecidas nas disposições das Constituições Primeiras. Existem nestes assentos diversas observações que indicam, por exemplo, o local em que foi realizado o matrimônio, em alguns casos ocorridos em oratórios particulares. Em assentos para população escrava, apenas os que estão no livro para população livre, em poucos casos, aparecem o nome dos pais e/ou da mãe. Geralmente, os casamentos de negros ou pardos que aparecem nos livros referentes a livres, pelo menos um dos cônjuges são forros, poucos casos os dois, salvo aqueles em que o padre registrou de forma equivocada. Entretanto, existe um fato curioso no primeiro livro de casamentos livres em que se registra 14 matrimônios de escravos, pertencentes a João Inácio Teixeira e José Inácio Teixeira. Para isso, por enquanto, não se levanta hipótese.

Assim como Maria Luiza Marcílio, identifica que nos assentos de casamentos para a paróquia da Sé de São Paulo não assinalam a idade dos cônjuges, para Porto Alegre isso também foi identificado.

Por outro lado, Marcílio também destaca que casais de famílias dominantes na região tinham assentos mais bem elaborados, o que não se evidência nos assentos para paróquia Madre de Deus de Porto Alegre. Ela descreve que, para pessoas de maior nível social, o nome dos avós era assinalado, junto com suas respectivas naturalidades (Marcílio, 1973, pág 66). Até mesmo, “toda a página era-lhes, geralmente, reservada” (Marcílio, 1973, pág. 67). Nos registros para Madre de Deus de Porto Alegre, através das ocupações indicadas, é possível presumir o estado social dos indivíduos assinalados. Para exemplificar, transcrevem-se dois registros:

1 Aos trez dias do mês de Agosto de mil oito centos eseis annos nesta Matriz de Porto Alegre, as quatro horas da tarde, depois de feitas as diligencias doestilo, enão havendo impedimento al gum conforme o Sag. Concil, e Conil., e por Provisão do Reveren 5 do Vigario daVara daComarca Jozeph Ignácio dos Santos Pe

reira, se receberão em matrimonio com palavras de presente em que expressarão seu mutuo consentimento Manuel José; filho legitimo de Antonio Joseph, e de Anna Joaquina, Natural, ebaptizado na Villa de Peniche do Patriarcado de Lisboa, com 10 Ludovina Roza de Oliveira; filha legitima de João da Gama, e de

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do Rio Pardo deste continente: receberão Bênçãos sendo teste testemunhas os que abaixo assignarão; e para constar fiz este assento.

Vigr. Joze Ignacio Santos Pereira Agostinho Jose de San Payo

Albino Pinheiro Silva

1 Ao primeiro dia do mês de fevereiro de mil oito cen tos esette annos no oratório da brigadeira dona Jo zepha Eulalia Azevedo, ás sette horas datarde, de pois de feitas asdiligencias doestilo, e não haver impe 5 dimento algum conforme o Sag. Concil., e Conil., e por Pro

visão do Reverendo Vigario da Vara deComarca Jozeph Ignacio dos Santos Pereira, se receberão em matrimo nio, em minha presença, com palavras de presente em que expressarão seu mutuo consentimento o Doutor Luis Correa 10 Teixeira de Bragança, filho letimo do Doutor manuel teixeira

Bragança e de D. Joana Eufrazia Joaquina Correa Guedes, na tural ebaptizado na Freguesia de Sam Pedro da Villa Real co marca do Arcebispado de Braga, com D. Jozepha Eulalia de Azevedo, viúva do Brigadeiro Raphael Pinto Bandeira, 15 sendo testemunhas os queVão abaixo assignados; epara

constar fiz este assento.

Vigr. Joze Ignacio Santos Pereira

Agostinho Jose de San Payo Antonio Joze Azevedo (...)

No primeiro exemplo, não se assinala nenhuma informação que evidencie o nível social dos indivíduos na época do assento. No segundo, percebe-se que se trata de um matrimônio em que se assinalam títulos e ocupações consideradas de alto nível para época. Além do mais, Jozepha Eulalia de Azevedo é viúva do Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira e herdou propriedade do marido na cidade de Porto Alegre, se tornando conhecida como a “Chácara da Brigadeira”. A família Pinto Bandeira começa a se instalar no Rio Grande do Sul em meados da primeira metade de século XVIII. Rafael Pinto Bandeira nasceu em Rio Grande, por volta de 1740. Foi durante sua vida um grande proprietário de terras e comandante militar importante para coroa portuguesa. Já o Doutor Luis Correa Teixeira de Bragança, foi desembargador e o primeiro Juiz de Fora de Porto Alegre. Com isso, destacam-se exemplos de registro que apresentam informações coerentes com as estabelecidas nas Constituições Primeiras: data do matrimônio, local do matrimônio, nome dos cônjuges, nomes dos pais dos cônjuges e testemunhas. A diferença aqui é na falta de informação sobre a ocupação dos indivíduos do primeiro assento transcrito acima, pois, infelizmente, a maioria dos assentos de matrimônio para Madre de Deus de Porto Alegre não assinala a ocupação dos indivíduos (até porque isso não era exigido na Constituição Primeira). No entanto, diante da ausência de ocupação em tantos casos, é impossível imaginar que não existia para maioria dos indivíduos alguma!

As principais atividades ocupacionais no território do atual Rio Grande do Sul, durante o século XVIII e XIX, estavam ligadas à pecuária e a agricultura. O texto de Helen

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Osório, Estrutura Agrária e Ocupacional 10

, discute esta questão analisando dados de diversas freguesias do Continente do Rio grande de São Pedro, inclusive a da Madre de Deus de Porto Alegre. Além de outras fontes, destaca-se o levantamento de dados realizado a partir do documento “Relações dos moradores que tem campos no continente”. Trata-se de um senso nominativo, realizado entre 1784 a 1785, que apresenta diversas informações sobre propriedades existentes nas freguesias do Rio Grande de São Pedro. Com isso, Helen Osório discute a paisagem agrária que estava sendo construída pelos habitantes da capitania. E isso nos faz pensar no porque de muitos dos indivíduos não estarem assinalado com suas respectivas ocupações nos assentos de casamento, levando-nos a presumir que está é diferenciação existente na Madre de Deus de Porto Alegre, entre os matrimônios dos indivíduos de baixo e de alto nível social.

Os assentos referentes a matrimônios de escravos são os que faltam mais informações. Nesses casos, praticamente todos os assentos assinalam somente os nomes dos cônjuges e seus respectivos proprietários. De fato, para os assentos para Madre de Deus de Porto Alegre, não são evidentes os privilégios dados às famílias de alto nível social, como Maria Luisa Marcílio destaca em seu trabalho.

Iraci del Nero Costa identificou em sua análise que para as testemunhas era assinalado a localidades das residências destes “e, eventualmente, a cor, estado conjugal e condição social das mesmas” (Costa, 1990, pág. 52). Além disso, o autor destaca alguns assentos que constam à assinatura dos noivos, até meados do século XVIII. Algumas destas informações não aparecem nos assentos de casamento para a Madre de Deus de Porto Alegre, pois as mesmas testemunhas, muitas vezes, aparecem em diversos assentos e raramente são assinaladas as ocupações ou o local das residências destes indivíduos. Outra informação interessante, referente às testemunhas, é de que, em alguns casos, aparece informado como “deram sinais”, presumindo-se que o individuo presente no matrimônio não sabia escrever e apenas fez um sinal abaixo do registro, como, por exemplo, um “X”.

4 - Assentos de Óbito

Analisando os assentos de óbitos para Madre de Deus de Porto Alegre, de modo geral, nota-se que a grande maioria seguia os padrões estabelecidos pelas Constituições Primeiras, tanto para livres quanto para escravos. No entanto, a falta de algumas informações, como pais, cônjuges ou estado conjugal, são as mais freqüentes, principalmente, quando se trata de soldados. Sobre a causa morte, percebe-se que não era exigida pelas Constituições Primeiras. Entretanto, Maria Luisa Marcílio destaca que, a partir de 1799, a causa morte começa a aparecer frequentemente nos assentos para as paróquias da Sé de São Paulo. Isso também se evidenciou nos assentos de óbito para Madre de Deus Porto Alegre, no entanto, não se identificou ainda o porquê desta ocorrência mais freqüente da causa morte a partir de 1799. O que aparece assinalado nos assentos para Madre de Deus de Porto Alegre, antes de 1799, são óbitos por “afogamento”, principalmente no rio da cidade ou casos em que se “morreu repentinamente”. Sobre esta ultima expressão, Iraci del Nero da Costa, ao analisar os assentos de óbitos para Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias, descreve que

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“Em muitos assentos de adultos anotou-se “morreu repentinamente” ou “de morte apressada”. A circunstância apontada diz respeitos à impossibilidade de serem ministrados os sacramentos da penitência e estrema unção, sem caracterizar realmente as condições físicas do passamento.” (Costa, 1990, pág. 50)

A idade de jovens e adultos, em registro de óbito para Madre de Deus se Porto Alegre, é indicada algumas vezes como “mais ou menos tantos anos”, em outros casos isso não foi assinalado.

Sobre os assentos de óbitos de crianças com poucos meses de vida, Maria Luiza Marcílio destaca que começam a aparecer nos assentos da Sé de São Paulo, notoriamente, “a partir de 1796” (Marcílio, pág. 65). Antes disso, poucos casos isolados foram evidenciados pela professora. Se comparado com o primeiro livro de óbito para Madre de Deus de Porto Alegre, existem assentos assinalando “inocentes” ou crianças com meses de vidas, principalmente a partir de 1780, antes disso poucos casos foram registrados.

Acrescenta-se ainda que o local de sepultamento foi indicado diversas vezes para os assentos de óbitos para população livre e também para população escrava da Madre de Deus de Porto Alegre. É possível saber, em muitos casos, informações sobre a condição social dos falecidos, como por exemplo, “sem testamento por ser pobre”, ou “sumamente pobre”. Nos casos em se indicou “fez testamento”, os nomes dos testamenteiros ou dos herdeiros foram assinalados.

Com esta reflexão, observa-se que existem algumas variações nas elaborações dos registros paroquiais entre as regiões aqui destacadas. Quanto a isso, presume-se que a elaboração deste documento dependia muito dos Párocos de cada Paróquia, pois eram eles os mediadores entre os assentos e as regulamentações dispostas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Muitas vezes os Bispos, em determinados períodos, fizeram adequações que diferem das regulamentações Constituições Primeiras, conforme as necessidades da administração eclesiástica. A paróquia da Sé de São Paulo pertencia à jurisdição do Bispado de São Paulo; Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias fazia parte da jurisdição do Bispado de Mariana e Nossa Senhora de Madre de Deus de Porto Alegre da jurisdição do Bispado do Rio de Janeiro.

No acervo histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre, contamos com livros de registros sobre as Pastorais dos Bispos da mesma época, o que poderá ajudar a entender como algumas informações começaram a ser assinaladas nos registros paroquiais, referentes às freguesias, a partir de determinado ano, entre outras mudanças na administração eclesiástica. Também se encontra disponível no acervo da Cúria Metropolitana de Porto Alegre o livro intitulado “Capítulos de Visitas” dos Bispos, referente ao período de 1782 a 1860, que merecerá um estudo mais aprofundado, visando verificar se existe alguma penalidade ou alguma advertência sobre irregularidades na administração paroquial e também demais informações que constam neste documento.

O trabalho sobre os registros paroquiais para Madre de Deus de Porto Alegre iniciou pela ação de fotografar digitalmente estes documentos, referentes ao período de 1772 até meados do século XIX. As informações disponíveis estão sendo inseridas em um banco de dados informatizado, que permitirá organizá-las para o estudo sobre a dinâmica

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populacional11 da localidade no período. Estas informações, futuramente, poderão ser utilizadas para a aplicação da metodologia de reconstituição de famílias ou quaisquer estudos referentes à população.

Este armazenamento dos dados é realizado com a ajuda de um programa informatizado, chamado NACAOB, desenvolvido por Dario Scott. Este programa segue os parâmetros fundamentais para os estudos populacionais e, basicamente, a sua interface é de uma “ficha” em que são preenchidos os dados dos indivíduos, conforme o assento que estão sendo estudados. Os dados dos assentos ficam em arquivos gerados pelo programa, sendo possível converter para outros softwares e assim possibilitando a criação de gráficos. Também este programa possui o sistema de cruzamento nominativo e cada caso pode ser analisado pelo pesquisador antes de concluir os estudos, verificando falhas de transcrição ou problemas de nomes repetidos.

Com o banco dados concluído, será possível disponibilizar informações sobre a população de Porto Alegre, desde o período colonial até as primeiras décadas do século XIX, possibilitando aplicar os métodos de estudos da população, no âmbito da demografia histórica ou em outras abordagens históricas.

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Sobre estudos populacionais e como lidar neste campo com as fontes paroquiais, destaca-se os seguintes trabalhos:

- Bacellar, Carlos de Almeida. Prado. Viver e sobreviver em uma vila colonial: Sorocaba, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annnablume/Fapesp. 2001. 274p p.

- Nadalin, Sergio Odilon. História e demografia: elementos para um diálogo. Campinas: Associação

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Referencias Bibliográficas:

Marcílio, Maria Luisa. A cidade de São Paulo: Povoamento e População 1750-1850. São Paulo: Pioneira. 1973. 220p. p.

Costa, Iraci del Nero. Registros Paroquiais: nota sobre os assentos de batismo, casamento e óbito. LPH/Revista de História, n° 1, 1990. 46-54p.

CONSTIRUIÇÃO PRIMEIRA DO ARCEBISPADO DA BAHIA feitas e ordenadas pelo ilustríssimo e reverendíssimo senhor Sebastião Monteiro Vide. São Paulo: Tipografia 2 de dezembro, 1853.

Andreazza, Maria Luiza Cultura Familiar e Registros Paroquiais. Seminário NEPO - 25 anos. Campinas. 13/14 de junho, 2007.

Osório, Helen. Estrutura Agrária e Ocupacional. In: Camargo, F., I. Gutfreind, et al. Colônia. Passo Fundo: Editora Méritos, v.1. 2006. 338 p. (Coleção História Geral do Rio Grande do Sul)

Franco, Renato. e Campos, Adalgisa Arantes. Notas sobre os significados religiosos do Batismo. Varia Historia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004. 21-41 p.

FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 1992. 447 p.

Bacellar, Carlos de Almeida. Prado. Viver e sobreviver em uma vila colonial: Sorocaba, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annnablume/Fapesp. 2001. 274p p.

Bacellar, Carlos Almeida. Uso e mau uso dos arquivos. In: Pinsky, Carla Bassanezi (Org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. 302p.

Nadalin, Sergio Odilon. História e demografia: elementos para um diálogo. Campinas: Associação Brasileira de Estudos Populacionais - ABEP, v.1. 2004. 248p. (Coleção demographicas)

Referências

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