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Educação e organização do espaço agrário: a criação de um SIG para a análise de conflitos

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Academic year: 2021

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Educação e organização do espaço agrário: a criação de um SIG para a análise de conflitos

Rayme de Barros Braga Graduando em Geografia. Bolsista PIVIC/CNPq-UFPB.Membro do CEGeT/PB raymedebarros@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Neste artigo apresentaremos resultados parciais da pesquisa de iniciação científica em andamento intitulada Analise territorial do ensino no campo na região semi-árida da

Paraíba, que forma parte do Projeto de Pesquisa Geografia: um instrumento para a educação do /no campo das linhas de pesquisa Cidade e campo: espaço e trabalho e Ensino de Geografia do Programa e Pós-graduação em Geografia do Departamento de

Geociências da UFPB.

A Geografia tem como objetivo analisar e apreender os processos que configuram a complexidade do espaço, como também compreender os mecanismos e dinâmicas de funcionamento.O uso das geotecnologias, a exemplo do Sistema de Informações Geográficas (SIGs), nos fornece poderosas ferramentas para tratar de assuntos geográficos, permitindo organizar a informação sobre uma determinada região, área, território ou lugar, em um conjunto de mapas, cada um deles representando uma informação singular a respeito do espaço em análise. Utilizando esse recurso, apoiado em fundamentação teórica, nossa pesquisa visa realizar uma análise territorial sobre a educação e o acesso ao ensino no espaço agrário da região semi-árida na Paraíba e a sua relação com os conflitos fundiários em curso.

Em um primeiro momento apresentamos um breve debate sobre o uso do SIG e as suas possibilidades na interpretação do espaço e a conflitualidade social que o gera. Na sequência descrevemos os passos dados para a elaboração do SIG de Educação e Conflitos Fundiários no Sertão da Paraíba e a seleção dos dados georreferenciados. Em seguida, apresentamos os resultados cartográficos do SIG onde representamos a relação existente entre níveis educativos e estrutura fundiária. Finalmente analisamos as desigualdades territoriais representadas á luz da história de ocupação do território agrário paraibano e as políticas

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públicas de educação para o campo no estado. Selecionamos, dentro da região semi-árida do estado, a mesorregião do Sertão por ser hoje o local de maior número de incidências de conflitos por terra, ao tempo, de contar com as taxas de analfabetismo por município mais altas do estado da Paraíba.

BREVE DISCURSO SOBRE O GEOPROCESSAMENTO E O USO DO SIG

Como ponto de referência inicial para que possamos compreender as finalidades do Geoprocessamento e consequentemente do uso das geotecnologias, como o SIG, apresentamos o debate sobre o entendimento do Geoprocessamento como um conjunto de tecnologias voltadas para a coleta e tratamento de informações espaciais visando um objetivo específico. Deste modo, as atividades que envolvem o Geoprocessamento são executadas por sistemas específicos para cada aplicação. Esses sistemas são comumente tratados como um SIG, ou seja, o Geoprocessamento denota um conceito mais amplo, onde se integram diversas técnicas, como por exemplo, o SIG, dentre outros. Um SIG é “um conjunto organizado de hardware, software, dados geográficos e pessoal, destinados a eficientemente obter, armazenar, atualizar, manipular, analisar e exibir todas as formas de informação geograficamente referenciadas” (ESRI, 1990: pág. 24).

Como ponto de partida para a compreensão de um SIG, deve-se entender o significado literal desta sigla que significa: sistema - conjunto de partes que se coordenam entre si para um fim comum; informação - significado que o ser humano atribui a um determinado dado utilizando um processo pré-estabelecido de interpretação, e por fim geográfica - diz respeito às relações com o espaço terrestre, considerando-o como um corpo em forma de globo. A informação geográfica, ou seja, o dado que será processado para gerar uma informação pertinente à pesquisa, será qualquer elemento identificado em sua forma bruta. Compreende-se então que um SIG constitui um conjunto de ferramentas computacionais composto de aparelhamentos e programas que por meio de procedimentos, integra dados (das mais diversas fontes), pessoas e instituições. De forma a tornar oportuno a coleta, o armazenamento, a apreciação e a disponibilização, a partir de dados georreferenciados, de

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informações produzidas por meio de aplicações, visando maior facilidade, garantia e rapidez nas atividades humanas atinentes ao monitoramento, planejamento e a tomada de decisão relativa ao espaço geográfico. (ESRI , 1990)

PASSOS DADOS PARA A ELABORAÇÃO DO SIG DE EDUCAÇÃO E CONFLITOS FUNDIÁRIOS NO SERTÃO DA PARAÍBA

Inicialmente realizamos a atividade de aquisição (entrada de dados) que compreendeu a elaboração dos materiais cartográficos e o levantamento de informações relativas á localização das áreas de reforma agrária na região semi-árida da Paraíba, recorrendo a diferentes órgãos oficiais como: o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outra fonte de dados secundários importante foi o Instituto Nacional de Pesquisa Educacional (INEP) que nos forneceu dados relativos á realidade educacional da região em foco. O censo agropecuário de 2006, publicado em 2009, também subsidiou a coleta de dados inicial, possibilitando o tratamento cartográfico posterior deles. Utilizamos, também, dados primários gerados durante os nossos trabalhos de campo junto os assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região e durante as entrevistas com lideranças na Secretaria Estadual do MST em João Pessoa.

Em seguida, efetuamos o processamento e o gerenciamento destas informações com a conversão do formato dos dados para o formato dos Softwares do SIG e a sua devida alocação no ambiente gráfico.

A manipulação destes dados buscamos confrontar os índices educacionais da microrregião geográfica do Sertão paraibano com os apontadores de concentração fundiária realizando a remoção de erros e atualização de conjuntos de dados e as operações envolvendo o uso de técnicas analíticas para responder questões específicas formuladas pelo usuário.

A finalização de todo este procedimento técnico de operacionalização do SIG dar-se na produção do material cartográfico que pode ser representado por relatórios estatísticos, gráficos e mapas de vários tipos. A criação deste SIG serve tanto para a verificação das desigualdades apontadas pela relação da educação e a concentração fundiária, como também municiará futuras pesquisas neste campo, a partir do banco de dados já existente.

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APRESENTAÇÃO E ANÁLISE PARCIAL DE RESULTADOS CARTOGRÁFICOS DO SIG

O uso de um SIG para a produção de ciência no que cerne a geografia crítica se apresenta não somente uma ferramenta facilitadora no trabalho com dados geográficos, mas também com um avanço na produção de conhecimento.

Os Mapas 01, 02 e 03 foram trabalhados no ambiente do SIG e confeccionados com base em dados obtidos em órgãos oficiais como o Instituto Nacional de Pesquisa Educacional (INEP). Os dados relativos á realidade educacional da região em foco são evidenciados na cartografia temática gerada na pesquisa, que mostram o que historicamente, nos municípios do interior do estado, se constitui como umas das desigualdades sociais que fazem com que jovens e adultos desistam de conseguir completar o segundo grau escolar, pois necessitam dirigir-se a escolas nas cidades, além da necessidade de trabalhar na agricultura capitalista.

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Fonte: INEP, IBGE, 2010 Org:Rayme de Barros Braga

Segundo dados do Censo 2009 houve um agravamento da concentração de terras, colocando o Brasil como segundo colocado na lista de país com maior concentração de terra no mundo, atrás apenas do Paraguai. O estado da Paraíba, principalmente a microrregião do sertão, é um exemplo típico desta desigualdade como também seus índices de escolaridade apresentam graves problemas e estruturais e dificuldade no acesso ao ensino formal oferecido gratuitamente pelos poderes públicos.

Selecionamos, dentro da região semi-árida do estado, a meso-região do Sertão por ser hoje o local de maior número de incidências de conflitos por terra, ao tempo, de contar com as taxas de analfabetismo por município mais altas do estado da Paraíba.

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Para esse ano de 2010 a tendência é que com a forte concentração de terras em mãos de latifundiários, a falta de acesso a educação, o descaso do governo, e o aumento da repressão aos Sem Terra, os conflitos sociais no campo continuem-se acentuando.

No Mapa 02 observamos a mesorregião do sertão paraibano subdividida em suas microrregiões e os valores numéricos que representam quantidade de escolas de ensino fundamental, por município, do sertão paraibano

Mapa 02: Quantidade de escolas de ensino fundamental, por município, do sertão paraibano

Fonte: INEP, IBGE, 2010 Org:Rayme de Barros Braga

Estes valores indicam uma aparente normalidade e presença da educação no campo, contudo, a partir da correlação deste, com o mapa que apresenta o número de escolas de ensino médio nesta mesma região, observaremos a disparidade e o desamparo público para com a educação no espaço agrário paraibano.

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Destacamos também, a importância de uma análise detalhada do que se entende por educação no campo, pois Caldart (2006) coloca que:

(...) o desafio que se impõe hoje aos sujeitos da Educação do Campo é o da práxis: avançar na clareza teórica e de projeto para poder dar um salto de qualidade na luta política e nas práticas pedagógicas produzidas até aqui. É preciso significar o nome que criamos, e constituir teórica e politicamente o conteúdo e a forma desta nova bandeira. Este desafio nos exige um permanente retorno a uma questão de origem: o que é mesmo a Educação do Campo e quais são os seus fundamentos principais? (pág. 18)

O desnível entre o número de escolas municipais de ensino fundamental e médio repercute tanto a falta de acesso a uma melhor qualificação por parte das famílias de trabalhadores rurais e camponeses, também na falta de procura dos mesmos por ver-se obrigados a desistir da escola na procura de trabalho, seja nas grandes propriedades da região, ou no êxodo para as grandes cidades.

Mapa 03: Municípios do sertão paraibano que possuem escolas de ensino médio

Fonte: INEP, IBGE, 2010 Org:Rayme de Barros Braga

Com base nestes dados iniciais apresentados já se pode caracterizar um processo desigual de acesso a educação. Outra importante parcela da sociedade que se encontra marginalizada por esta desassistência são as comunidades de assentamentos rurais, indígenas e quilombolas que como evidencia a Tabela 0, necessitam urgentemente do acompanhamento

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do estado e das politicas publicas a fim de prover não somente educacionalmente, mas também permiti-los o acesso à cidadania e recuperação da sua identidade cultural.

Tabela 1: Microrregiões paraibanas e número de escolas em assentamentos rurais, comunidades indígenas e quilombolas

Microrregiões Esc. Assentamento Esc. Indígena Esc. Quilombola Microrregião de Cajazeiras 2 0 0 Microrregião de Catolé do Rocha 4 4 0 Microrregião de Itaporanga 0 0 0 Microrregião de Patos 2 0 0 Microrregião de Piancó 2 0 2 Microrregião da Serra do Teixeira 0 0 0 Microrregião de Sousa 0 1 0 Fonte: IBGE, 2009.

Organizador: Braga, Rayme de Barros (2010).

Para o estudo da concentração fundiária na mesorregião do sertão paraibano inserimos no banco de dados do nosso SIG o Índice de Gini dos municípios que representa o grau de concentração de um atributo (renda, terra, etc.) numa distribuição de frequência. No Índice de Gini ("R"), que se insere no intervalo de 0 a 1, quanto maior for a concentração, mais próximo o Índice estará de 1 (um), valor este que representaria a concentração absoluta. Estes dados que são fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e subsidiam análises na desigualdade da distribuição da terra e a presença cada vez mais constante dos grandes latifúndios e as terras improdutivas no sertão paraibano, sendo este um empecilho ao desenvolvimento das populações e a possibilidade de que as famílias possam obter terras para trabalhar e produzir seu alimento.

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Tabela 2: Índice de Gini dos principais municípios da Mesorregião do Sertão paraibano

Municípios Índice de Gini

Souza 0,49 Aparecida 0,42 Brejo do Cruz 0,44 Patos 0,46 Piancó 0,44 Pombal 0,45 Uiraúna 0,44 Fonte: IBGE, 2009.

Organizador: Braga, Rayme de Barros (2010).

Com o uso de SIG, anexamos e calculamos os índices médios de concentração de terra nestes municípios e observamos que estas taxas são elevadas e representam uma situação de desigualdade na distribuição de terras e, consequentemente, dificultam que o cidadão do campo tenha seu espaço para dedicar-se a terra e assim prover a subsistência de sua família. O distanciamento desta relação entre a educação e o acesso a terra, deve ser tomado como uma causa e ou consequência do êxodo rural e da submissão do homem do campo a trabalhos que muitas vezes apenas beneficiam os grandes proprietários de terras.

QUESTÃO TERRITORIAL E EDUCACIONAL NA PARAÍBA

Podemos analisar a questão agrária em várias feições, violência, concentração fundiária, movimentos sociais do campo, agronegócio, educação do campo, entre outros. Contudo, a nossa proposta foi a de problematizar a questão agrária na Paraíba a partir da concentração fundiária no estado, relacionando a educação que emergem no seu contexto.

A origem da estrutura agrária paraibana está inserida no processo de ocupação e de estruturação do espaço agrário nordestino, lastreada na expansão da cultura canavieira e da pecuária extensiva. Ambas as práticas absorveram grandes extensões de terras adquiridas por sesmaria ou posse, no contexto do desenvolvimento do capitalismo comercial (VARELA, 2006).

A Educação do Campo como política pública e como inclusão social própria dos camponeses é eficaz para a sustentação dos mesmos no campo, pois aumenta, estando

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dentro da sugestão dos movimentos sociais do campo, uma política e acordo de classe através do trabalho realizado a partir da sua realidade encontrada e vivida no campo.

As reivindicações dos movimentos sociais “Por uma Educação do Campo” tem se tornado uma bandeira de luta a partir do entendimento de que é através do processo educativo, voltado para a compreensão do cotidiano e das relações sociais existentes no campo que a tomada de consciência de classe é concretizada e que, é através dela que o movimento pode chegar a sua hegemonia, conquistando assim, um novo modelo societário para além do capital (NOGUEIRA, A.F.P, 2010).

Com os resultados desta pesquisa pretendemos contribuir, por meio da geografia, com a Educação do/no campo, com as famílias de trabalhadores rurais que lutam por terra no estado e se organizam em movimentos sociais, com as escolas em áreas de Reforma Agrária, com a construção da pesquisa educacional no campo, a idealização de projetos que visem à melhoria do ensino nas secretarias de educação dos diferentes municípios da região em foco e com outras instancias e poderes locais. Entendemos que o acesso á terra e a educação são condições indispensáveis para o desenvolvimento territorial da região semi-árida da Paraíba, em especial, da região do Sertão por continuar marcada pela alta concentração de terras, a desigualdade social e o escasso investimento público em educação.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Por uma Educação do Campo – Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2004.

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais do que

escola. São Paulo: Cortez, 2000.

CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia escola e construção do conhecimento. Campinas: Papirus, 1998.

FRANCO GARCÍA, Maria. A luta pela terra sob enfoque de gênero: os lugares da diferença no Pontal do Paranapanema. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, 2004.

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MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. São Paulo: Livraria Ciências Humanas, 1979.

PRADO JUNIOR, Caio. A questão agrária no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1981. VARELA, Francisco. A Questão Agrária Nacional e Assentamentos Rurais na Paraíba. João Pessoa: Idéia, 2006.

THERRIEN, J. e DAMASCENO, Maria N. (Coords.). Educação e escola no campo. Campinas: Papirus, 1993.

TONET, I. Educação, cidadania e emancipação humana. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. www.ibge.com > Acesso em : 10/06/10

www.mda.gov.br > Acesso em : 14/05/10

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