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PAULO EDUARDO DO AMARAL NAVARRO TREINAMENTO DE VOOS SIMULADOS EM CENÁRIO DE COMBATE BVR E O PROCESSO DECISÓRIO NATURALISTA

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1 PAULO EDUARDO DO AMARAL NAVARRO

TREINAMENTO DE VOOS SIMULADOS EM CENÁRIO DE COMBATE BVR E O PROCESSO DECISÓRIO NATURALISTA

Trabalho de Conclusão de Curso – artigo científico apresentado à Comissão de Avaliação de TCC da Escola Superior de Guerra – Campus Brasília como exigência parcial para obtenção do certificado de Especialista em Altos Estudos em Defesa. Orientador(a): Prof. Dr. Darcton Policarpo Damião

Brasília 2019

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2 Treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR e o Processo Decisório

Naturalista

Paulo Eduardo do Amaral Navarro1 RESUMO

A evolução tecnológica das aeronaves e de seus sistemas ocasionou o surgimento de cenários de combate aéreo complexos. Esses cenários, caracterizados pela pressão de tempo e pelo elevado risco, exigem dos pilotos decisões rápidas e acertadas. A necessidade de adestrar os pilotos nesse tipo de arena acarretou a criação de centros de simulação de combate para o treinamento das tarefas mais complexas do voo. Este trabalho científico tem o objetivo de apontar as consequências advindas do treinamento de voos simulados em cenário de combate além do alcance visual - BVR (Beyond Visual Range), considerando a execução das manobras defensivas. A metodologia inclui pesquisa em fontes literárias referentes ao simulador de voo e sobre a tomada de decisões em ambiente naturalista. Os dados coletados, por meio da pesquisa documental, serviram para avaliar a percepção desses profissionais quanto à importância do treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR no processo de tomada de decisão para execução de manobras defensivas. Os resultados mostraram que os pilotos têm plena consciência sobre o beneficio que esse treinamento traz para o processo decisório. Tais resultados sugerem, como conclusão, que o treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR é extremamente relevante na capacitação dos pilotos para a tomada de decisões, pois lhes permite identificar uma situação como familiar e, assim, rapidamente, executar um curso de ação adequado.

Palavras-chave: Combate BVR. Treinamento. Tomada de decisão.

Simulated flight training in BVR combat scenario and the Naturalistic Decision Making Process

ABSTRACT

The technological evolution of aircrafts and their systems has led to the emergence of complex air combat scenarios. These scenarios, characterized by time pressure and high risk, require pilots to make quick and accurate decisions. The need to train pilots in this type of arena led to the creation of combat simulation centers to train the most complex flight tasks. This scientific work aims to point out the consequences of training simulated flights in Beyond Visual Range -BVR combat scenario, considering the execution of defensive maneuvers. The methodology includes research on literary sources related to the flight simulator and on decision making in a naturalistic environment. The collected data by documentary research were used to evaluate the perception of these professionals regarding the importance of simulated flight training in BVR combat scenario in the decision making process to perform defensive maneuvers. The results showed that pilots are fully aware of the benefit that this training brings to the decision making process. These results suggest, as a conclusion, that simulated flight training in BVR combat scenario is extremely relevant in enabling pilots to make decisions, as it allows them to identify a situation as familiar and thus quickly execute a course of action appropriate.

Keywords: BVR combat. Training. Decision making

SUMÁRIO: 1 Introdução – 2 Arcabouço teórico – 3 Análise dos dados – 4 Considerações finais

1 Coronel Aviador da Força Aérea Brasileira. Trabalho de Conclusão do Curso de Altos Estudos em Defesa (CAED) da Escola Superior de Guerra (ESG), Campus Brasília, 2019

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1 INTRODUÇÃO

A evolução tecnológica vem, nas ultimas décadas, apresentando a cada dia no mercado aeronaves de combate com sistemas de emprego muito mais complexos que aqueles apresentados pelas antigas aeronaves de caça. Atualmente, é comum os profissionais da área militar optarem por substituir a terminologia Aeronave por Sistema. Um exemplo dessa nova concepção é o conceito do Sistema Gripen.

Não obstante, alguns cenários de combate também evoluíram e tornaram-se igualmente complexos, permitindo que armamentos sejam lançados e defesas sejam realizadas, na maioria das vezes, sem que haja o contato visual entre as aeronaves que estão combatendo. Esse tipo de combate é denominado: além do alcance visual, traduzido do inglês Beyond Visual Range (BVR).

Nesse tipo de arena, os pilotos utilizam o radar de bordo da aeronave para localizar as aeronaves inimigas e o controlador de voo de combate, de sua console, complementa a detecção inicial feita e desenha o cenário inicial da batalha, auxiliando a criação, em todos os pilotos, da consciência situacional necessária para o correto julgamento e tomada de decisões no combate (BRASIL, 2014).

Torna-se interessante esclarecer que Endsley (1999), em seus estudos, conceituou a consciência situacional como sendo o processo pelo qual os pilotos buscam perceber os aviões do cenário, compreender seu significado e projetá-los num futuro próximo.

Uma das maiores dificuldades encontradas em uma arena BVR é a identificação correta da situação em que se encontram as aeronaves ali desdobradas. Não é fácil saber durante uma ação inicial para o engajamento de combate se uma aeronave está ofensiva ou defensiva e isso envolve vários aspectos. Assim, é importante que se entenda que em cenário de combate BVR as decisões devem ser rápidas, as condições são dinâmicas, a coordenação deve ser eficaz, os riscos são altos e a consciência situacional deve ser elevada (BRASIL, 2014).

Dessa forma, em função do elevado risco nos combates BVR, ocasionados principalmente pelos lançamentos de mísseis por parte das aeronaves inimigas, um dos objetivos buscados durante os treinamentos é a eficácia nas Threat Reactions (reação às ameaças). As Threat Reactions são manobras defensivas realizadas por aeronaves em reação às ameaças representadas pelos incursores e defensores inimigos. Essas manobras têm como objetivo o acréscimo no potencial de sobrevivência por parte da aeronave sob ataque (BRASIL,2014).

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É necessário evidenciar que em uma arena BVR deve-se sempre realizar as Threat Reactions. O combate, a autodefesa, o recolhimento e o reposicionamento dos meios representam um ciclo que está intrinsecamente relacionado com o emprego das Threat Reactions (BRASIL, 2014).

Em função da complexidade e dos altos riscos envolvidos na arena de combate BVR, países, como a Suécia, criaram verdadeiros centros de simulação de combate para o treinamento das tarefas mais complexas do voo, como é o caso do combate BVR. Esses centros, além de buscar o adequado adestramento das equipagens, tem o objetivo de treinar e desenvolver táticas de combate BVR, bem como simular cenários mais complexos que os encontrados nos grandes exercícios internacionais.

Faz-se essencial aclarar que o emprego de simuladores já está inserido na rotina de treinamento do Comando da Aeronáutica (COMAER) há bastante tempo. Contudo, o uso dessa ferramenta sempre teve como objetivo principal a formação básica do piloto e a sua manutenção operacional em missões básicas. O foco são as tarefas de menor complexidade, como a realização de procedimentos normais de um voo, treinamento de procedimentos de emergência e treinamento de procedimento de aproximação para pouso por meio dos instrumentos da aeronave.

A simulação é efetiva e eficiente. Ela fornece meios para experimentar condições críticas que, provavelmente, nunca serão encontradas em voo, assim como uma oportunidade para qualificação inicial e requalificação de pilotos (GARLAND, 1999, p. 358).

No entanto, com a inserção do cenário de combate BVR nas missões da Força Aérea Brasileira (FAB), a partir de 2008, abriu-se a necessidade de treinamento de voo simulado muito mais complexos. Todavia, não consta no acervo da FAB simulador de voo capaz de realizar missões nesse tipo de arena.

Assim, em 2014 o Comando da Aeronáutica enviou para a Suécia 13 pilotos para realizarem treinamentos no centro de simulação daquele país, com um objetivo claro de, dentre outros, “aumentar a eficiência nas reações às ameaças (Threat Reactions) [...]” (BRASIL, 2014b, p. 3, grifo do autor). Esse objetivo foi definido em função de o índice de sucesso relacionado às manobras defensivas serem considerados baixos na avaliação do, então, Comando Geral de Operações Aérea (COMGAR). Segundo inferências da época, os baixos índices foram ocasionados, principalmente, por dois fatores: o primeiro foi a demora dos pilotos em compreender que estavam sendo perseguidos por um míssil; e o segundo foram as reações atrasadas ou equivocadas, por parte dos pilotos, que ocasionaram manobras

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ineficazes. Nos dois fatores apresentados, os pilotos demonstraram ineficácia no processo decisório e foram abatidos.

Por tudo que foi anteriormente exposto e em função de o autor deter conhecimento na área de tomada de decisão em ambiente naturalista, foi possível identificar semelhanças nas características entre os ambientes de combate BVR e o naturalista.

Em um ambiente naturalista, os decisores se deparam, invariavelmente, com a pressão de tempo e riscos elevados (KLEIN, 1998).

Assim, surgiu o tema do presente trabalho: Treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR e o Processo Decisório Naturalista.

Na delimitação do tema, deixa-se clara a ideia de que, nesta pesquisa, será verificada unicamente a influência do treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR no processo decisório dos pilotos e no que tange a execução das manobras defensivas.

O escopo também se restringiu a analisar a questão sob a ótica da decisão naturalista. Vale ressaltar que, nesse tipo de processo decisório, a exiguidade de tempo para se tomar uma decisão, assim como a experiência dos profissionais que a tomam, são condições essenciais da decisão naturalista. (KLEIN, 1998).

Para tanto, pegou-se como fundamento teórico o Modelo da Tomada de Decisão da Primeira Opção Identificada (TDPOI) desenvolvida por Gary Klein, em sua obra ¨Fontes do Poder¨. Assim sendo, enfoques de processos decisórios analíticos não foram examinados.

O problema de pesquisa foi, então, desta maneira formulado: em que medida o treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR afeta a tomada de decisão na execução das manobras defensivas realizadas pelos pilotos?

Assim sendo, o objetivo geral definido foi o de apontar as consequências advindas do treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR, considerando a execução das manobras defensivas.

A fim de atingir esse objetivo geral, foram delineados os seguintes objetivos específicos:

Explicar como os pilotos tomam suas decisões em cenário de combate BVR;

Verificar a frequência anual de treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR; e

Analisar a percepção dos pilotos quanto à eficácia do treinamento de voos simulados realizados em cenário de combate BVR, com foco na realização das manobras defensivas.

A Estratégia Nacional de Defesa (END) define que em qualquer hipótese de emprego a Força Aérea terá a responsabilidade de assegurar superioridade aérea local (BRASIL, 2012).

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Dessa forma, torna-se inequívoca a necessidade de as equipagens estarem adequadamente adestradas. Pelo exposto, comprova-se a relação direta do assunto proposto com o tema Defesa, evidenciando a relevância da pesquisa.

No que se refere ao método aplicado durante a realização do trabalho, como o foco adotado na investigação é ainda pouco estudado dentro do Comando da Aeronáutica, a presente pesquisa foi categorizada como exploratória.

A pesquisa exploratória apresenta como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2007).

Dessa forma, inicialmente os dados foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica, cuja finalidade é de identificar o estágio atual de conhecimento do tema, bem como o de fornecer uma sólida fundamentação teórica ao trabalho. Esses dados foram coletados de fontes primárias como livros, artigos científicos, etc.

É imperativo esclarecer que segundo Gil (2007), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

O trabalho também foi fundamentado em documentos que não sofreram tratamentos científicos, documentos de cunho doutrinário e de cunho histórico, o que, segundo Gil (2007), permite afirmar que, quanto aos procedimentos técnicos, a pesquisa seja classificada como documental.

Para Gil (2007), a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.

Em consonância com o pensamento de Gil, Vergara (2004, p 28), elucida que “a pesquisa documental é aquela realizada em documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas”. A autora detalha que “a pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral”. (VERGARA, 2004, p 28).

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Como os resultados das informações levantadas apresentaram dados direto da realidade, foi possível agrupá-los em tabelas e posteriormente transformá-los em elementos para serem expressos de forma percentual.

Faz-se mister esclarecer que os dados coletados se referem a todos os pilotos que realizaram o treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR, abarcando, assim, todo o escopo proposto para a pesquisa.

Seguidamente, os dados foram interligados com a finalidade de estabelecer qual a interferência, em um cenário de combate BVR, que o adestramento em voos simulados exerceu na capacidade de tomar decisões dos pilotos, atingindo, dessa maneira, as metas sugeridas para o trabalho.

A fluidez das ideias desenvolvidas pelo autor em um trabalho científico é primordial para o adequado entendimento do tema. Dessa forma, em seguida a esta sucinta introdução, a segunda seção é destinada a uma breve contextualização da simulação de voo, bem como ao estudo dos pensamentos teóricos relacionados aos fundamentais aspectos concernentes à decisão naturalista, sob a luz do modelo da Tomada de Decisão da Primeira Opção Identificada (TDPOI) desenvolvida por Gary Klein. Na seção 3, com base nos dados coletados dos pilotos, são feitas análises e interpretações dessas informações. Finalmente, a quarta seção expõe as considerações finais da pesquisa.

Passamos então à segunda seção, a qual nos dará toda capacidade de conhecimento para a segura sustentação científica do presente relatório.

2 ARCABOUÇO TEÓRICO

Para desenvolver uma pesquisa científica, não basta o desejo do pesquisador. É fundamental ter o conhecimento do assunto a ser pesquisado. Assim, na presente seção mostraremos uma contextualização da simulação de voo, a fim de relacionar a importância do treinamento para a tomada de decisão em ambiente naturalista, bem como a fundamentação teórica sobre os aspectos principais da decisão naturalista, considerando o modelo da Tomada de Decisão da Primeira Opção Identificada (TDPOI).

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2.1 SIMULAÇÃO DE VOO

A complexidade dos atuais vetores de combate inseriu definitivamente a simulação de voo nos planejamentos de treinamentos dos pilotos, buscando reproduzir com elevado grau de fidelidade todas as possibilidades que podem aparecer em voo real.

Para Cardullo (1994, apud GARLAND, 1999, p. 355), “a simulação de voo é essencialmente a representação do voo da aeronave e das características dos sistemas com variados graus de realismo”.

Importante esclarecer que a principal característica que o simulador deve apresentar é a fidelidade. Esta terminologia expõe o grau de correspondência entre o conjunto ambiente/objeto que está sendo simulado e o conjunto equivalente na vida real, observando seu comportamento e sua aparência.

Em se tratando de simulador de voo, para Hays e Singer (1989, apud GARLAND, 1999, p. 361) a fidelidade é o grau de similaridade entre a situação de treinamento e a situação operacional que está sendo treinada.

Em função do avanço tecnológico, o grau de fidelidade dos simuladores atingiu elevados padrões, proporcionando o treinamento das equipagens em praticamente todo espectro de missões possíveis.

Figura 1: Simulador fixo do caça Gripen.

Fonte: Centro de simulação de combate da Suécia (2019).

Atrelado ao progresso do grau de fidelidade dos simuladores, caminhou a necessidade de reproduzir, por meio de simulação, cenários de elevada complexidade e alto risco, como são as arenas de combate BVR, a fim de proporcionar o adequado treinamento às tripulações.

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Dessa forma, como já comentado anteriormente, alguns países, criaram centros de simulação de combate para o treinamento das tarefas mais complexas do voo. Esses centros têm a capacidade de simular cenários mais multifacetados que os encontrados em exercícios reais.

Figura 2: Centro de simulação de combate.

Fonte: Centro de simulação de combate da Suécia (2019).

Para Klein (1998), a concepção dos cenários é crucial, pois o objetivo é mostrar muitos casos comuns, de modo a facilitar a identificação da tipicidade, juntamente com diferentes tipos de caso raros para que os pilotos também estejam bem preparados para esses.

Klein (1998) esclarece que o treinamento é peça fundamental para a formação de padrões familiares e que proporcionam a identificação do curso que a ação tomará, ocasionando, assim, a tomada de decisão pela manutenção da ação ou não.

Desse modo, identifica-se uma relação direta entre o treinamento em cenário de combate BVR realizado nos centros de simulação e o processo decisório naturalista proposto pelo Dr. Klein.

Após uma breve explanação sobre a simulação de voo e a importância desse treinamento para a tomada de decisão naturalista, no tópico seguinte, é apresentada a teoria escolhida para dar sustentação à análise dos dados desta pesquisa.

2.2 TEORIA DA TOMADA DE DECISÃO EM AMBIENTE NATURALISTA

Em 1984, o governo dos Estados Unidos da América (EUA), por meio do U.S. Army Research Institute for the Behavioral and Social Sciences (Instituto de Pesquisa do Exército dos EUA para as Ciências Sociais e do Comportamento), responsável por estudar o lado

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humano no equilíbrio no campo de batalha, publicou uma nota pedindo propostas de investigação para estudar a forma como as pessoas tomam decisões sob pressão. O objetivo final deste estudo era fazer com que a qualidade geral das decisões tomadas por comandantes, em um cenário de incerteza e pressão de tempo, fosse elevada.

Com a escolha da proposta apresentada pelo Dr. Klein e seus colaboradores, iniciou-se os estudos que anos depois consolidou a Teoria da Tomada de Decisão em Ambiente Naturalista, por meio do modelo da Tomada de Decisão pela Primeira Opção Identificada (TDPOI).

Segundo Orasanu e Connolly (1993, apud KLEIN, 1998, p.31), as características que ajudam a definir o ambiente de tomada de decisão naturalista são a pressão de tempo, os riscos elevados, os decisores experientes, a informação inadequada (informação em falta, ambígua ou errada), os objetivos mal definidos, os procedimentos mal definidos, a aprendizagem por sugestão, o contexto (por exemplo: objetivos mais elevados e o stress), as condições dinâmicas e a coordenação em equipe.

Considerando o entendimento supracitado de Orasanu e Connolly, a partir de 1986, Klein (1998), a fim de entender como as pessoas tomam suas decisões em ambientes naturalistas, deu inicio as suas investigações, tendo como ponto de partida os decisores em seus ambientes de trabalho sob pressão temporal e alto risco.

Passados anos de pesquisa no campo da tomada de decisão, Klein (1998) e seus colaboradores descobriram que as pessoas se baseiam num amplo conjunto de capacidades que foram, por eles, chamadas de fontes de poder. As fontes de poder convencionais incluem pensamento lógico-dedutivo, análise das probabilidades e métodos estatísticos. Todavia, as fontes de poder necessárias em ambientes naturalistas não são, por regra, analíticas – o poder da intuição, da simulação mental, da metáfora e de contar histórias. O poder da intuição possibilita-nos avaliar rapidamente uma situação. O poder da simulação mental deixa-nos imaginar o curso que uma ação poderia tomar. O poder da metáfora permite que nos baseemos na nossa experiência, sugerindo paralelos entre a situação atual e algo que já vivemos. O poder de contar histórias ajuda-nos a consolidar as nossas experiências, de modo a torná-las disponíveis no futuro, quer para nós próprios, quer para outros.

Ademais, Klein (1998) esclareceu em seus estudos que a experiência é a base para as fontes de poder. Assim, é evidente que o treinamento exerce papel fundamental na tomada de decisão em ambiente naturalista.

Segundo Klein (1998), a decisão naturalista se baseia em como as pessoas utilizam sua experiência para tomar decisões no terreno.

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Zakay e Wooler (1984, apud KLEIN, 1998, p.15) descobriram que, mesmo quando os indivíduos são treinados para utilizar estratégias de decisão analítica, não as aplicam quando dispõem de um minuto ou menos para tomar uma decisão.

Interessante destacar também que, segundo Klein (1998), a tomada de decisão naturalista está preocupada com o alto risco.

Assim, após mais de uma década de pesquisa, a fim de explicar as decisões naturalistas, Klein (1998) desenvolveu o modelo da Tomada de Decisão da Primeira Opção Identificada (TDPOI).

2.2.1 Modelo TDPOI

Klein (1998) constatou que o modelo da tomada de decisão da primeira opção identificada (TDPOI) reúne dois processos: a forma como decisores avaliam a situação, de modo a identificar qual é o curso de ação que faz sentido; e a forma como avaliam esse curso de ação, imaginando-o.

Klein (1998) elucida, ainda, que dentro desses processos, a simulação mental aparece como peça fundamental.

A simulação mental aparece em pelo menos três lugares no modelo TDPOI: diagnosticar para construir a consciência da situação, criar expectativas para ajudar a verificar a consciência da situação e avaliar um curso de ação. (KLEIN, 1998, p 111)

A simulação mental é a capacidade de imaginar uma sequência de ações, fazendo a ponte entre o estado inicial e o estado-alvo. Dessa forma, a simulação mental é fundamental na construção da consciência da situação e, consequentemente, na tomada de decisão identificada (KLEIN, 1998).

Contudo, era preciso explicar como esses processos aconteciam. Dessa forma, o modelo da TDPOI foi assim explicitado:

1. os decisores identificam uma situação como típica e, imediatamente, identificam, também, um curso de ação que é provável acontecer;

2. por meio da simulação mental, que é a ponte entre o estado inicial e o estado que se deseja, os decisores avaliam o curso de ação provável e obtém a consciência da situação;

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3. ao alcançarem a consciência da situação, os decisores identificam as situações mais críticas. Todo esse processo é viabilizado, também, por meio da simulação mental.

O principal objetivo ao identificar as situações mais críticas é encontrar formas de evitá-las. No entanto, se alguma situação crítica propiciar o impedimento do curso de ação provável, o decisor já passa para outro curso de ação. A finalidade não é definir prioridades e muito menos comparar opções. O propósito é encontrar o primeiro curso de ação que funcione;

4. não havendo interdição no curso de ação provável, os decisores decidem pela realização desse curso de ação (KLEIN, 1998).

Observando o esclarecimento dos processos relativos ao modelo da TDPOI, verifica-se a necessidade de rapidez nos passos para que a decisão seja oportuna.

Uma tomada de decisão identificada, por norma, decorre tão rápida e automaticamente que não estamos consciente desse processo. (KLEIN, 1998, p 112).

Faz-se mister explicar que, para Klein (1998), o modelo TDPOI descreve o modo como as pessoas podem tomar decisões sem comparar opções. É um exemplo de como as pessoas tomam decisões em ambientes naturalistas. Porém, o modelo TDPOI não retrata a única estratégia que é usada nesse tipo de ambiente.

Na visão de Klein (1998), o segredo dos decisores na tomada de decisão identificada é que a experiência lhes permite ver uma situação, mesmo uma não rotineira, enquanto exemplo de protótipo. Desse modo, sabem imediatamente o curso normal da ação.

Importante evidenciar que Klein (1998), após anos de pesquisa, percebeu que oitenta por cento das decisões, considerando incidentes não rotineiros, inserem-se plenamente na categoria de decisão por identificação. Caso as amostras fossem obtidas de episódios comuns, os resultados teriam sido mais extremos.

O modelo da TDPOI, de acordo com Klein (1998), apresenta como características-chave:

a) o foco está na forma de avaliar a situação e de apreciá-la como sendo familiar, não em comparar opções;

b) os cursos de ação podem ser avaliados rapidamente, imaginando como irão ser levados a cabo, não através de análise formal e comparação;

c) normalmente, os decisores procuram a primeira opção funcional que conseguem encontrar, não a melhor opção;

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d) dado que a primeira opção que consideram é por norma funcional, não têm que criar um grande conjunto de opções para se certificarem de que têm uma boa opção;

e) criam e avaliam uma opção de cada vez e não se preocupam com a comparação das vantagens e desvantagens das alternativas;

f) ao imaginar a realização da opção, conseguem descobrir os pontos fracos e encontrar maneiras de evitá-los, tornando assim a opção mais forte. Os modelos convencionais selecionam apenas a melhor, sem ver como pode ser melhorada;

g) a ênfase é colocada num agir equilibrado em vez de ficar paralisado até que as avaliações terminem.

Diante do modelo apresentado, Klein (1998) elucida que em ambiente naturalista a tomada de decisão envolve treino.

Se o propósito é treinar pessoas para decidir sob pressão de tempo, podemos exigir que o decisor responda rapidamente, em lugar de ponderar todas as implicações. Se podemos apresentar numerosas situações numa hora, várias horas por dia, durante dias ou semanas, devemos ser capazes de melhorar a capacidade do decisor em detectar padrões familiares. (KLEIN, 1998, p 46).

Os decisores especializados (treinados) criam opções realizáveis, sendo estas as primeiras opções em que pensam. (KLEIN, 1998, p 203).

Stokes, Belger e Zhang (1990, apud KLEIN, 1998, p.203) descobriram que os pilotos experientes também tendem a selecionar a primeira opção que consideram, mesmo se examinarem outra.

Klein (1998) esclarece que o modelo da TDPOI foca em decisores experientes. Contudo, pode ser aplicado a pessoas com menor grau de proficiência, tendendo a se obter um menor percentual de uso do modelo apresentado.

Na próxima seção, serão avaliados, com base na Teoria da Tomada de Decisão Naturalista e no modelo TDPOI proposto por Klein, os dados coletados durante a pesquisa documental, a fim de explicar como os pilotos tomam suas decisões em cenário de combate BVR e, ainda, analisar a percepção dos pilotos quanto à eficácia do treinamento de voos simulados realizados em cenário de combate BVR, com foco na execução das manobras defensivas.

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3 ANÁLISE DOS DADOS

Nesta fase do trabalho, são apresentados e discutidos os resultados obtidos no levantamento dos dados, com o objetivo de verificar em que medida ocorre à influência do treinamento de voos simulados na tomada de decisão em cenário de combate BVR, no que se refere à realização das manobras defensivas.

As informações foram recolhidas das planilhas de controle produzidas pela célula de avaliação de desempenho operacional – CADO, pertencente atualmente ao Comando de Preparo (COMPREP).

Após a pesquisa documental relacionada à obtenção dos dados, foi constatado que os elementos que apresentavam registro fidedigno, considerando o objetivo desse trabalho, eram relativos ao ano de 2014.

Assim, o escopo inicial da análise ficou composto pelos 13 pilotos que realizaram o treinamento de voos simulados, na Suécia, no ano de 2014, e que haviam efetuado exercício operacional anteriormente. Contudo, apenas nove pilotos participaram de exercícios operacionais, após o treinamento simulado, que permitiram a comparação dos dados antes e depois do treinamento no centro de simulação de combate, constituindo uma amostra de 69,2% para este trabalho.

Para Yamane (1967, apud REA, PARKER, 2000), uma amostra de 50% já seria suficiente para fornecer a precisão necessária à pesquisa, considerando cálculos envolvendo populações fundamentalmente pequenas (inferiores a 100 mil).

Faz-se, ainda, indispensável esclarecer que os pilotos que fizeram o treinamento na Suécia realizaram diversas surtidas e que os dados obtidos receberam tratamento estatístico. Ademais, para que o objetivo desta pesquisa fosse atingido com confiabilidade nos resultados, adotou-se um nível de significância de 5% com intervalo de confiança de 95%. Por meio desse tratamento estatístico, obteve-se a média do desempenho individual e a média total do desempenho dos pilotos para o evento mensurado. A média individual foi obtida por meio do quociente entre a quantidade de observações e o total de observações de um mesmo evento; já a média total de um evento foi obtida por meio da média aritmética das médias individuais.

Com a finalidade de proporcionar melhor entendimento, os dados coletados foram apresentados em duas partes: a primeira que expressa a experiência dos pilotos e a segunda que apresenta a percepção desses profissionais.

Foi utilizada a forma gráfica para expor os dados, a fim de permitir uma melhor compreensão.

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3.1 EXPERIÊNCIA DOS PILOTOS

O objetivo nesse item é montar um perfil dos pilotos por meio da experiência, considerando o quantitativo de horas voadas durante a carreira na aeronave F-5, bem como o número de treinamentos simulados realizados em cenários de combate BVR.

O foco nos pilotos que pertencem ao quadro de tripulantes da aeronave F-5 é porque somente esses profissionais, atualmente, realizam missões em cenários de combate BVR.

É necessário esclarecer que os pilotos que constituem o universo do presente estudo possuem mais de dez anos de experiência na aviação de caça.

Na visão de Klein (1998), o foco nesses decisores mais experientes, ditos peritos (profissionais com mais de dez anos de experiência na atividade), tende a apresentar um maior percentual de utilização do modelo da TDPOI.

O gráfico 1 representa a experiência dos pilotos, em horas de voo na aeronave F 5.

Gráfico 1: Pilotos separados por horas voadas na aeronave F- 5. Fonte: Autor (2019).

O gráfico 2 mostra os dados relativos à quantidade de treinamentos de voo simulado em cenário de combate BVR realizados pelos pilotos.

0 10 20 30 40 50 60 70 250h a 500h > 500h 66,7 33,3

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Gráfico 2: Pilotos separados pelo número de treinamentos em voo simulado. Fonte: Autor (2019).

Segundo Klein (1998), decisores com diferentes níveis de experiência podem ter diferentes percepções da situação.

No entanto, quando os dados foram segmentados de acordo com os níveis de experiência e confrontados com os dados relativos à percepção, não foi observada variação (resultados heterogêneos) percentual em função dessa separação. Assim, a escolha deste pesquisador foi apresentar os dados quantitativos completos.

3.2 PERCEPÇÃO DOS DECISORES E ARGUMENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste tópico, os dados foram analisados buscando identificar a eficácia do treinamento de voos simulados na tomada de decisão em cenários de combate BVR, considerando a execução das manobras defensivas.

O gráfico abaixo mostra os dados relativos às defesas, que não foram eficazes, realizadas pelos pilotos. Nesse caso o míssil abateria a aeronave.

0 20 40 60 80 100 120 1 >1 100

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Gráfico 3: Percentual de manobras defensivas ineficazes. Fonte: Autor (2019).

No gráfico 4, são apresentados o valor percentual das manobras defensivas eficazes que foram realizadas pelos pilotos.

Gráfico 4: Percentual de manobras defensivas eficazes. Fonte: Autor (2019).

O objetivo do autor em apresentar os dados dos pilotos antes e depois dos voos simulados foi de averiguar se é crível, por meio do treinamento simulado, fazer com que os

0 10 20 30 40 50 60 70 Antes do treinamento simulado Após o treinamento simulado 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Antes do treinamento simulado Após o treinamento simulado 65 32,2 35 67,8

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pilotos alcancem rapidamente a consciência da situação e, por isso, obtenham a percepção das situações de maior risco.

Na visão de Garland (1999), a simulação fornece meios para experimentar condições críticas que, provavelmente, nunca serão encontradas em voo.

Ao analisar os gráficos 3 e 4, observa-se uma inequívoca melhoria na consciência da situação de perigo por parte dos pilotos, expressada pelo salto considerável na eficácia das manobras defensivas realizadas (32,8%).

O treinamento em simulador de voo proporciona aos pilotos formar a consciência da situação, por meio da simulação mental, permitindo a esses profissionais a identificação das situações mais críticas (KLEIN, 1998).

Segundo Klein (1998), a consciência da situação pode ser formada rapidamente, por meio da correspondência intuitiva de características, ou deliberadamente, da simulação mental.

No entanto, a pessoa que cria uma simulação mental precisa estar bastante familiarizada com a tarefa, pois pode ser difícil ou impossível construir uma simulação mental sem uma quantidade suficiente de experiência e conhecimento de fundo (KLEIN, 1998).

Na visão de Klein (1998), uma boa simulação (treinamento) pode, por vezes, fornecer mais treino do que a experiência direta. Uma boa simulação permite a uma pessoa parar a ação, recuar para ver o que ocorreu mal e agrupar bastante experiência para que ela possa desenvolver uma sensação de tipicidade.

Juntamente com seus colaboradores, Klein (1998) esclarece que os decisores, ao identificar uma situação como típica, também identificam um curso de ação que é provável acontecer.

Assim, ao confrontar os dados apresentados nos gráficos 3 e 4 com a revisão bibliográfica explorada, é concebível inferir que o treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR, além de proporcionar a construção da consciência da situação, também permite aos pilotos, identificar as situações de maior risco, por meio da simulação mental, levando-os a uma tomada de decisão identificada (TDPOI).

Pode-se inferir, também, considerando ainda os dados mostrados e os conceitos do Dr. Klein, que a experiência assegura aos pilotos a execução de uma adequada simulação mental sobre a situação, definindo, assim, o curso da ação a ser realizado.

Klein (1998) afirma que a simulação mental, que requer experiência, ajuda a criar expectativas fornecendo às pessoas uma visualização prévia de como os acontecimentos

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poderão desenrolar-se e permite-lhes executar um curso de ação em suas mentes, para que estejam preparadas.

Ao diagnosticar uma situação, as pessoas constroem simulações mentais de como os acontecimentos vêm se desenvolvendo e como continuarão a desenvolver-se. Quanto mais experientes são os decisores, mais definidas são as expectativas. (KLEIN, 1998).

O aspecto básico de uma tomada decisão identificada é que as pessoas com experiência conseguem apreciar a situação e avaliá-la como sendo familiar ou típica. Por norma, esta apreciação decorre tão rápida e automaticamente que não estamos conscientes desse processo. (KLEIN, 1998, p. 111-112).

Para Klein (1998), a simulação mental permite que as pessoas tomem decisões com perícia e resolvam problemas em condições onde as tradicionais estratégias analíticas de decisão não se aplicam.

Diante do apresentado, torna-se inequívoca a certeza de que o treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR influencia positivamente na percepção dos pilotos, pois lhes proporciona rapidez e eficácia na tomada de decisão para a execução das manobras defensivas. Por meio desse treinamento, os pilotos identificam uma situação como típica e executam um curso de ação.

Faz-se mister esclarecer que tanto os resultados dos dados obtidos, como as inferências do autor formaram a base para se chegar ao objetivo geral da pesquisa.

Findada a análise e interpretação dos dados, no próximo tópico serão mostrados os importantes aspectos apresentados nos capítulos anteriores, a fim de solidificar o presente trabalho.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução tecnológica inseriu no mercado aeronaves de combate com sistemas de emprego muito mais complexos. Essa evolução também migrou para alguns cenários de combate, como o combate BVR, tornando-os igualmente multifacetados.

A arena de combate BVR trouxe consigo a necessidade de reproduzir, por meio de simulação, cenários de alta complexidade e elevados riscos, a fim de proporcionar o adequado treinamento às tripulações.

Dessa forma, alguns países criaram centros de simulação de combate para o treinamento das tarefas mais complexas do voo, visando, não só, o adestramento de suas equipagens, mas também a simulação de cenários que dificilmente seriam encontrados em exercícios

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operacionais.

Assim, este trabalho buscou verificar de que maneira o treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR influencia na tomada de decisão para execução das manobras defensivas realizadas pelos pilotos.

Para que se pudesse alcançar o objetivo proposto para a pesquisa, foi indispensável fundamentá-la em literatura referente aos simuladores de voo, bem como a uma teoria consistente sobre tomada de decisões.

Com essa base teórica, foi possível realizar a coleta de dados, por meio de pesquisa documental, para compreender a real percepção dos pilotos quanto à influência do treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR na tomada de decisão para a execução de manobras defensivas. Para tanto, os dados levantados foram confrontadas com os elementos teóricos, constantes na ótica do processo de decisão naturalista.

Foi também explicado como os pilotos tomam suas decisões em cenários de combate BVR.

Verificou-se, ainda, que os pilotos realizaram os treinamentos de voos simulados em cenário de combate BVR em apenas uma oportunidade.

E, por fim, foi analisada a percepção dos pilotos quanto à eficácia do treinamento de voos simulados realizados em cenário de combate BVR, considerando, apenas, a realização das manobras defensivas.

Considerando que a Força Aérea tem a responsabilidade de assegurar a superioridade aérea local em qualquer hipótese de emprego, conforme apresentado na END, o adestramento de suas equipagens se torna peça fundamental para o cumprimento dessa obrigação, deixando luzente a relevância da pesquisa.

Reunidos todos os dados, estes foram analisados e interpretados com base no referencial teórico, sendo, a seguir, apresentadas as conclusões da presente pesquisa.

a) O treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR permite que o piloto, rapidamente, identifique a situação como típica e decida por executar um curso de ação;

b) Quanto mais treinado o piloto, mais rapidamente ele identifica a situação como típica;

c) O treinamento nos centros de simulação permite a obtenção da consciência da situação, proporcionando a identificação das situações mais críticas, por meio da simulação mental, e conduz os pilotos a uma tomada de decisão identificada (TDPOI); e

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d) A experiência advinda do treinamento nos centros de simulação proporciona aos pilotos realizar uma adequada simulação mental sobre a situação, definindo, assim, rapidamente, o curso da ação a ser realizado;

Dessa forma, conclui-se que, na percepção dos pilotos, a realização de treinamento de voo simulado em cenário de combate BVR influencia, de forma luzente, a tomada de decisão para a realização das manobras defensivas, pois lhes permite identificar uma situação como familiar e executar um curso de ação, por meio do modelo da TDPOI.

Assim, considerando a interdependência entre os resultados obtidos no levantamento e a fundamentação teórica, alcançou-se o objetivo geral do trabalho, tendo sido, assim, apontadas, à luz da teoria da tomada de decisões naturalista, as consequências advindas do treinamento de voos simulados em cenário de combate BVR, considerando a execução das manobras defensivas.

Cabe ressaltar que o término deste trabalho não esgota o tema. Dessa forma, recomendam-se, em função da complexidade do assunto, futuras pesquisas, pois as conclusões obtidas abrangem inúmeros aspectos que necessitam maiores investigações.

Por fim, cumpre constatar que o esforço despendido na realização deste trabalho não foi em vão, pois os conhecimentos obtidos com o estudo serão úteis para o aperfeiçoamento do processo de preparação dos pilotos para o exercício de suas funções, assim como serão válidos para outros pesquisadores e contribuirão para o desenvolvimento de novos trabalhos ligados ao tema.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Comando-Geral de Operações Aéreas. Manual de Combate Aéreo com Apoio de OCOAM (BVR). MCA 55-52. Brasília, DF, 2014a. Reservado.

______.______. Força Aérea Numerada 203. Ordem de Operações do Exercício Operacional BVR 3. Brasília, DF, 2014b. Reservado.

______. ______. Política Nacional de Defesa / Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2012a. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/arquivos/estado_e_defesa/END-PND_Optimized.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2019.

______.______. Terceira Força Aérea. Relatório de Missão – Treinamento de Combate BVR realizado no Centro de Simulação da Força Aérea Sueca. Brasília, DF, 2014c. Reservado.

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KLEIN, Gary. Fontes do Poder. 1. ed. Lisboa : Instituto Piaget, 1998.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas S.A., 2004.

GARLAND, D. J.; HOPKIN, D.; WISE, J. Handbook of aviation human factors: human factors in transportation. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1999.

KLAPPROTH, Florian. Time and decision making in humans. Cognitive, Affective, & Behavioral Neuroscience, 2008.

REA, L. M., PARKER, A. R. Metodologia de pesquisa: do planejamento à execução. São Paulo: Pioneira, 2000.

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