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Módulo 4 As Origens do Pensamento Econômico

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Academic year: 2021

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Módulo 4 ­  As Origens do Pensamento Econômico 

As  escolas  de  pensamento  econômico  constituem  um  conjunto  sistematizado  de  idéias,  valores  e  princípios  teóricos,  mas  sempre  vinculados às  questões  políticas,  sociais  e  éticas.  Sendo  assim,  os  pressupostos  e  conclusões  de  cada  corrente  de  pensamento  econômico,  bem  como  os  resultados  de suas  investigações científicas  estão inteiramente condicionados por sua matriz ideológica. 

Durante  muito  tempo  a  economia  constituiu  um  conjunto  de  soluções  a  problemas  específicos  e  orientava­se  por  princípios  gerais  de  ética,  justiça  e  igualdade.  As  justificativas  dos  conceitos  eram  muito  mais  de  natureza  moral,  não  existindo,  até  Smith, um estudo sistemático das relações econômicas. 

4.1. O Pensamento Econômico na Antiguidade 

Na  Antiguidade  Clássica,  a  maior  parte  da  população  era  composta  de  escravos,  que  trabalhavam  em  troca  do básico  para a sua subsistência  (roupas  e  alimentos).  Todo  o  produto  excedente  a  essas  necessidades  básicas  dos  trabalhadores  era  apropriado  pelos senhores de escravos.  A  economia  era  eminentemente  rural  e as  cidades desenvolveram­se com o avanço das trocas comerciais. Estas cidades eram  politicamente  independentes umas  das  outras,  e  a  navegação  desenvolveu­se com  a expansão do intercâmbio comercial. 

Os  autores  da  Antigüidade,  tanto  na  Grécia,  quanto  em  Roma,  não  possuíam  um  pensamento  econômico  geral  e  independente.  Havia  o  domínio  da  Filosofia  e  da  Política sobre o pensamento econômico. 

Neste sentido, embora o termo “economia” (oikosnomos[1]) tenha surgido na Grécia,  a predominância da Filosofia sobre a sociedade não favorecia o desenvolvimento da  análise econômica. 

Existem  algumas  reflexões  de  ordem  econômica  em  Platão  (427­347  a.C.)  e  Xenofontes  (440­335  a.C.),  mas  muito  incipientes.  Aristóteles  apresentou  algumas  contribuições interessantes às teorias do valor, dos preços e da moeda, mas tratava  sobretudo de aspectos das transações comerciais e das finanças públicas. 

Os grandes  pensadores  gregos partiam  da  premissa  que  o  trabalho  era indigno  do  homem  e  que  deveria  ser  reservado  aos  escravos,  considerados  inferiores. Assim,

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Platão  e  Aristóteles  faziam  a  defesa  da  escravidão  argumentando  que  alguns  homens  eram  naturalmente  inferiores  a  outros.  Defendia­se  a  igualdade  entre  os  cidadãos  (homens  livres,  nascidos  na  Cidade­Estado  e  proprietários  de  terras)  e  havia  um  certo  desprezo  pela  riqueza  e  o  luxo.  Isto  dificultava  o  desenvolvimento  das  relações  econômicas,  e  assim,  portanto,  do  próprio  pensamento  econômico.  Sendo  assim,  na  Grécia  apareceram  poucas  idéias  econômicas,  fragmentadas  em  estudos filosóficos e políticos. 

O  pensamento  romano  também  não  deu  uma  grande  contribuição  ao  desenvolvimento das idéias econômicas. Os romanos não desprezavam a riqueza e  o luxo, e havia uma economia de trocas muito mais intensa em Roma que na Grécia,  com  o  desenvolvimento  de companhias comerciais  e sociedades  por  ações.  Mas  o  pensamento de Roma centrou­se nas questões da política, e o desenvolvimento da  sociedade  romana  estava  centrado  em  torno  de  objetivos  muito  mais  políticos  do  que econômicos, o que anulou a sua contribuição ao pensamento econômico. 

4.2. O pensamento econômico na Idade Média 

Com  o  declínio  do  Império  Romano  e  as  invasões  bárbaras,  surgiu  o  feudalismo,  cuja base era o trabalho dos servos nas terras dos senhores. Apesar do servo não  ser  livre,  por  estar  ligado  à  terra  e  a  seu  senhor,  não  era  propriedade  do  senhor,  como o escravo na Antigüidade. 

Existia  também  uma  hierarquia  dentro  da  classe  de  senhores  feudais.  Um  senhor  devia lealdade a um senhor mais poderoso, e este a outro, e a outro, até chegar ao  rei.  Os  vassalos  recebiam  a  terra  de  seus  senhores  para  cultivá­las  em  troca  de  dinheiro,  alimentos,  trabalho e  lealdade  militar.  Em  contrapartida,  o senhor  oferecia  proteção militar a seu vassalo. 

Ao  longo  da  Idade  Média  há  um  amplo  desenvolvimento  das  trocas  nas  cidades,  ampliando­se a atividade econômica regional e inter­regional através do surgimento  das  feiras  periódicas.  O  avanço  das  trocas propiciou  o  desenvolvimento  da  divisão  do trabalho: surgem as corporações de ofício e ocorre uma ampliação crescente das  trocas  entre  as  áreas  urbanas  e  rurais.  Com  as  Cruzadas  expande­se  o  comércio  através do Mediterrâneo, fazendo surgir grandes centros comerciais como Gênova,  Veneza, Pisa e Florença. 

Assim  como  na  Antiguidade  Clássica,  o  pensamento  econômico  medieval  não  constituía  um  corpo  teórico  independente  e  sistematizado,  e  tinha  um  caráter  eminentemente  prático.  Ao  invés  de  estar  pautado  por  questões  filosóficas  e  políticas, a moral cristã orientava e subordinava o pensamento econômico na Idade  Média, através da dominação exercida pela Igreja Católica em todas as dimensões  da sociedade. 

Neste  sentido,  a  teologia  católica,  ao  subverter  a  ética  do  trabalho,  não  apenas  defendendo a dignidade do trabalho, mas o colocando como meio de expiação dos  pecados do homem, revoluciona as relações econômicas, dando a elas um grande  impulso de desenvolvimento.

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A ética paternalista cristã, no entanto, condenava a aquisição e acumulação de bens  materiais.  A  Igreja  condenava  a  busca  desenfreada  pelo  interesse  individual,  e  tentava  moralizar  as  ações  econômicas  dos  indivíduos  e  a  conduta  humana,  inclusive com a instituição de leis paternalistas, como a Lei dos Pobres. Permitia­se  a  propriedade  privada,  mas  esta deveria ser  usada com  moderação.  Surge  a  partir  desta  idéia  de  moderação  dos  agentes  econômicos  a  concepção  de  justiça  nas  trocas, onde buscava­se o “justo preço” e o “justo salário”. 

E  o  que  vinha  a  ser  o  justo  preço?  Seria  o  preço  baixo  o  bastante  para  que  o  consumidor pudesse comprar, sem extorsão, e aquele elevado o suficiente para que  o  vendedor  tivesse  interesse  em  vender  para  poder  viver  de  maneira  decente.  O  justo  salário  seria  aquele  que  permitiria  ao  trabalhador  e  sua  família  viver  dignamente. Havia também a noção de justiça nas trocas, onde o lucro não deveria  permitir aos comerciantes enriquecer (já que a riqueza era condenada), mas apenas  viver  de  forma  decente.  Dessa  concepção  de  justiça  nas  trocas  advém  também  a  condenação do empréstimo a juros, já que o dinheiro reembolsado ao emprestador  seria maior que o dinheiro tomado emprestado. 

No  entanto,  com  o  desenvolvimento  do  comércio  e  das  trocas,  e  com  o  desenvolvimento das atividades manufatureiras, estas concepções caem por terra, e  a  subordinação  da  economia  à  teologia  é  substituída  pela  busca  desenfreada  de  acumular metais preciosos.  4.3. O Mercantilismo  A partir do século XV, uma série de transformações intelectuais, religiosas, políticas  associadas ao desenvolvimento das trocas e do comércio e à expansão ultramarina  e aos grandes descobrimentos impulsionaram o avanço da atividade econômica de  forma significativa. 

A  Reforma  Protestante abre  as portas  para o  individualismo,  ao exaltar  a atividade  econômica e o sucesso material, e ao justificar a busca do lucro, os empréstimos a  juros  e  o  enriquecimento.  Não  mais  se condenava  a  riqueza,  mas  o  pecado  agora  era a ociosidade. O enriquecimento era sinal da salvação de Deus e o trabalho não  era mais um meio de expiação de pecados, mas instrumento para alcançar a graça  divina e o êxito material.

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Há neste período o enfraquecimento dos feudos e a centralização da política com o  surgimento dos Estados Nacionais. O Estado passa a coordenar as forças materiais  e os recursos humanos, fazendo de cada país um organismo econômico integrado.  O  Estado nacional passa  a  assumir  o  lugar da  Igreja  de supervisionar o  bem­estar  da sociedade. 

É  neste  contexto  que  surge  o  mercantilismo,  considerada  por  alguns  estudiosos  como a primeira escola econômica, apesar de não representar um conjunto teórico e  técnico  homogêneo  e  sistematizado.  No  entanto,  o  mercantilismo  já  apresenta  algumas preocupações explícitas com acumulação de riquezas de uma nação.  Para  os  mercantilistas,  o  governo  de  um  país  seria  mais  forte  e  poderoso  quanto  mais rico ele fosse e esta riqueza seria tanto  maior quanto fosse o seu estoque de  metais preciosos (ouro e prata). 

No  sentido  de  garantir  um  aumento  no  saldo  de  ouro  e  prata,  os  mercantilistas  defendiam uma política de aumento das exportações, a proibição da saída de metais  preciosos  e  redução  significativa,  senão  a  proibição  da  entrada  de  mercadorias  estrangeiras em seu país. 

Para desenvolver a industrialização interna, exportar mais e reduzir as importações  ao  mínimo  possível,  os  mercantilistas  defendiam  uma  política  intervencionista  na  indústria  e  o  protecionismo  alfandegário,  efetivamente  implantados  em  alguns  países. Há também um controle e proteção das atividades de comércio internacional,  já  que  o  comércio  e  as  navegações  eram  as  principais  fontes  de  riqueza  nacional  neste  período.  Assim,  os  mercantilistas  eram  entusiastas  da  ampla  intervenção  do  Estado nos negócios privados e da imposição de barreiras ao comércio internacional  como forma de promover um saldo comercial positivo. 

A política colonial mercantilista também foi fundamental para o desenvolvimento da  economia mundial neste período. O “pacto colonial” entre as metrópoles européias e  suas  respectivas  colônias  no  além­mar  foi  estabelecido  para  elevar  o  saldo  comercial e o fluxo de metais preciosos para as metrópoles. As colônias só poderiam  consumir  produtos  da  metrópole,  só  poderiam  exportar  para  a  metrópole,  que  controlava também o transporte das mercadorias. Os níveis de preços dos produtos  a serem importados pelas colônias eram fixados pelas metrópoles em níveis os mais  altos  possíveis;  enquanto  que  os  produtos  exportados  pelas  colônias  tinham  seus  preços estabelecidos  em  níveis  bem  baixos. Isso  permitiu  um  aumento  significativo  dos  saldos  comerciais  das  metrópoles  e  uma  ampliação  do  fluxo  de  metais  preciosos. 

Embora  o  mercantilismo  tenha  uma  contribuição  pouco  significativa  para  a  constituição  da  análise  econômico­científica,  foi  fundamental  para  o  surgimento  do  capitalismo.  O  mercantilismo  teve  uma  contribuição  significativa  para  fortalecer  a  economia  nacional,  ampliar  as  relações  comerciais,  na  expansão  dos  mercados,  para  desenvolver  o  sistema  manufatureiro,  na  formação  dos  grandes  capitais  que  financiaram  a  revolução  industrial  e  no  surgimento  do  trabalho  assalariado.  Todos  esses elementos foram fundamentais para a consolidação posterior do capitalismo.  4.4. A Fisiocracia

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As  primeiras  tentativas  de  sistematização  da  ciência  econômica  remontam  ao  trabalho  dos  fisiocratas.  A  fisiocracia  é  um  movimento  econômico  que  surgiu  no  século  XVIII  como  uma  reação  às  distorções  do  mercantilismo:  a  excessiva  regulamentação  e  intervenção  do  Estado  nos  negócios  privados  e  o  abandono  da  agricultura em benefício da indústria. Sua principal preocupação era a circulação ou  distribuição do produto social.  A fisiocracia acredita que a economia, como o universo de Newton, é regida por leis  naturais, absolutas, imutáveis e universais estabelecidas por um ente divino para a  felicidade do homem. Caberia ao homem, por meio da razão, descobrir esta ordem e  trabalhar no sentido de respeitar as leis que regulam a ordem natural. Sendo assim,  os fenômenos econômicos deveriam fluir livremente, seguindo estas leis naturais.  Portanto,  os  fisiocratas  consideravam  desnecessária  e  até  mesmo  prejudicial  qualquer intervenção do Estado nas relações econômicas, pois criaria obstáculos à  ordem natural, inibindo a circulação de pessoas e de bens. A função da autoridade  governamental era entender esta ordem natural e servir de intermediário para que as  leis da natureza pudessem ser respeitadas e cumpridas. O Estado não deve intervir  na economia mais do que o necessário para assegurar a vida, a propriedade e para  manter a liberdade. 

Um  dos  grandes  pensadores  desta  corrente  de  pensamento,  François  Quesnay  (1694­1774),  defendeu  alguns  princípios  que  serviriam  mais  tarde  de  base  para  a  construção da análise econômica posterior. A principal obra deste autor é O quadro  econômico.  Quesnay  elaborou  o  princípio  utilitarista  de  busca  da  obtenção  de  máxima satisfação com um mínimo de esforço, que seria desenvolvido amplamente  pelos economistas da escola marginalista no século XIX. Ele é precursor também da  idéia  de  que  a  busca  do  interesse  individual  numa  economia  competitiva  originaria  uma compatibilidade de interesses pessoais, levando a sociedade à harmonia e ao  bem­estar  coletivo.  Além  disso,  Quesnay  evidencia  a  interdependência  entre  as  atividades econômicas, desenvolvendo pela primeira vez uma análise dos fluxos de  rendas e de bens de uma nação, e suas variações. 

Os  fisiocratas  não  acreditavam  que  a  riqueza  de  um  país  dependia  de  seus  estoques de metais preciosos, como defendiam os mercantilistas. Para a fisiocracia,  a  riqueza  de  uma  nação  dependia  de  sua  capacidade  de  produção,  mais  especificamente no setor agrícola.

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A  agricultura  era  a  única  atividade  realmente  produtiva,  pois  somente  a  atividade  agrícola  é  capaz  de  gerar  excedentes;  portanto  era  a  única  atividade  que  gerava  valor  – só  a  terra  tinha  capacidade  de  multiplicar  a riqueza.  Os  demais  setores  da  economia,  como  a  indústria  e  o  comércio  eram  apenas  desdobramentos  da  agricultura,  pois  apenas  transformam  e  transportam  bens.  Dependiam,  assim,  dos  excedentes  gerados  na  agricultura.  Portanto,  era  primordial  para  os  fisiocratas  o  incentivo à agricultura para elevar o produto social. 

Os  fisiocratas  propunham,  além da  redução da  intervenção  estatal  na  economia,  a  eliminação  das  barreiras ao comércio  interno  e internacional, tão características  do  mercantilismo,  uma  política  de  promoção  das  exportações.  Também  sugeriam  políticas de combate aos oligopólios (mercado controlado por poucos vendedores) e  o fim das restrições às importações. 

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[1]  Existem  controvérsias  entre  os  autores  da  História  do  Pensamento  Econômico  sobre quem  utilizou  pela  primeira vez  o  termo  “economia”.  Para  alguns,  este  termo  foi utilizado pela primeira vez por Xenofontes, se referindo aos princípios de gestão  dos  bens  privados.  Para  outros,  Aristóteles  teria  cunhado  o  termo  oidosnomos  em  seus estudos sobre aspectos da administração privada e sobre finanças públicas.

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