VII ENCONTRO INTERNACIONAL DO
CONPEDI/BRAGA - PORTUGAL
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
HUMANOS II
ELISAIDE TREVISAM
IRANICE GONÇALVES MUNIZ
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D597
Direito internacional dos direitos humanos II [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/ UMinho
Coordenadores: Elisaide Trevisam; Iranice Gonçalves Muniz; Maria De Fatima De Castro Tavares Monteiro Pacheco –Florianópolis: CONPEDI, 2017.
CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________ Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-479-2
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Interconstitucionalidade: Democracia e Cidadania de Direitos na Sociedade Mundial - Atualização e Perspectivas
1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Internacionais. 2. Liberdade. 3. Constituição. VII Encontro Internacional do CONPEDI (7. : 2017 : Braga, Portugual)..
VII ENCONTRO INTERNACIONAL DO CONPEDI/BRAGA -
PORTUGAL
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS II
Apresentação
Dentre as várias reflexões tratadas no Grupo de Trabalho Direito Internacional dos Direitos
Humanos II, que ocorreu no VII Encontro Internacional do CONPEDI, na Universidade do
Minho (UMinho), na cidade de Braga, em Portugal, foi levantada a necessidade de discutir-se
o estupro como crime de guerra no âmbito internacional em período de guerra. Após um
levantamento das situações de estupro vivenciadas em vários conflitos internacionais,
principalmente na África, concluiu-se que a prática de tal crime assume contornos de
dominação e de humilhação mais do que por motivações de ordem sexual em si mesmas.
Ficou registrado que no âmbito interno os Estados devem prever e tipificar os crimes
atentatórios da dignidade humana, nomeadamente aqueles que atentam contra a integridade
sexual dos cidadãos – situação especialmente gravosa no quadro da república do Brasil.
Quanto à problemática da universalização dos Direitos Humanos, buscou-se elucidar a
dificuldade da legitimação da perspectiva ocidental na conceptualização desses direitos. Com
efeito, os problemas da diversidade cultural e religiosa implicam questionar a imposição de
um direito universal. A busca de uma solução dos dissensos mediante o balanceamento entre
o respeito pelas identidades e o respeito incondicional da dignidade humana, que está na base
de todos os direitos humanos e na base de qualquer organização política, deve a dignidade da
pessoa humana ser o valor-limite contra as situações de aniquilação existencial e vivencial do
ser humano, pois ela tem um valor próprio que baseia o princípio antropológico inerente a
todos os direitos fundamentais e humanos. Deve, portanto, a dignidade humana ser o bem
jurídico específico que exige respeito e proteção universal. Sobre a justiça indígena em países
da América Latina, foi feito um percurso sobre o poder judiciário e o sistema carcerário na
América Latina, propondo-se um combate ao sistema da ditadura de privilégio
questionando-se como o estado de coisas inconstitucionais pode mudar o sistema carcerário e a
mentalidade social sobre tal sistema e, no que tange a situação desumana nas prisões
brasileiras, se fez referência às necessidades de reformas para humanizar o sistema atual.
Com o avanço da crise migratória na União Europeia, delimitou-se, como objeto de reflexão,
as implicações das medidas adotadas pela União Europeia (UE) sobre os Direitos Humanos
dos indivíduos. Sendo certo que a solidariedade humana implica que a protecção dos
refugiados esteja ligada à proteção internacional dos Direitos Humanos, refletiu-se sobre a
proibição das expulsões coletivas, prevista no art. 4.º da CEDH, e o princípio da
“não-repulsão”, o que demonstra que a União Europeia honra os compromissos decorrentes do
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.Sob um outro aspecto dos Direitos
Humanos, foi discutido o tema da tradição, cultura e civilização, analisando as premissas
religiosas que formam a cosmovisão da cultura judaico-cristã. Ainda que afirmando que os
direitos fundamentais devem ser intrinsecamente neutros, sustentou-se que os preceitos
cristãos fundamentaram os princípios consagrados na Declaração Universal dos Direitos do
Humanos, de 1948, e os direitos consignados no Pacto de Direitos Civis e Políticos, de 1966.
Sendo a liberdade de religião uma liberdade negativa que consiste em professar ou não uma
religião ou mudar de religião, tal significa que tal liberdade é uma liberdade de defesa frente
ao Estado. A liberdade religiosa sob a visão da União Europeia foi situada na complexidade
do cosmopolitismo e nas consequências da supressão de fronteiras europeias sobre os direitos
fundamentais, em especial sobre o exercício da liberdade religiosa. Mencionando que a
liberdade religiosa tem por fonte o art. 9.º, n.º 1, da CEDH e as tradições constitucionais
comuns dos Estados-membros da União Europeia e partindo do fato que a proteção na União
Europeia deve ser pelo menos igual à garantida pelo Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem, se trata de um direito pessoal universal.
Diante das necessárias e relevantes reflexões apresentadas nos artigos desse livro, o que deve
ser salientado é que se trata de assuntos que são bases para a construção de um novo
pensamento sobre o Direito Internacional dos Direitos Humanos, indispensáveis para a busca
de uma vivência mais justa e democrática. Os artigos aqui apresentados tem o escopo de
auxiliar os leitores e pesquisadores a estarem atentos, de forma dinâmica, às problemáticas
enfrentadas na área dos Direitos Humanos.
Boa leitura a todas e a todos!
Profa. Dra. Elisaide Trevisam (EPD e UNINOVE)
Profa. Dra. Maria de Fatima De Castro Tavares Monteiro Pacheco (UMinho)
Profa. Dra. Iranice Gonçalves Muniz (Centro Universitário de João Pessoa)
Nota Técnica: Os artigos que não constam nestes Anais foram selecionados para publicação
na Revista CONPEDI Law Review, conforme previsto no artigo 7.3 do edital do evento.
1 Mestrando em Ciências Jurídicas, área de concentração: Direitos Humanos, pelo Programa de Pós-graduação 1
ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL E SISTEMA CARCERÁRIO NA AMÉRICA LATINA: UMA PROPOSTA DE COMBATE À DITADURA DO
PRIVILÉGIO?
UNCONSTITUTIONAL STATE OF AFFAIRS AND PRISON SYSTEM IN LATIN AMERICA: A COMBAT PROPOSAL OF PRIVILEGE DICTATORSHIP?
Antônio Ítalo Hardman Vasconcelos Almeida 1
Resumo
Conforme o pensamento do professor Emílio Santoro, é possível notar a utilização do cárcere
como instrumento de padronização social e controle civil para o alcance de determinados fins
denominados “democráticos”. O presente trabalho coloca em debate a utilização do Estado
de Coisas Inconstitucional como ferramenta de combate ou sustentação deste modelo
carcerário. Tendo em vista o recente posicionamento do Supremo Tribunal Federal brasileiro
sobre o tema, o Estado de Coisas Inconstitucional é instrumento de combate ao padrão
carcerário fundado na ditadura do privilégio? Tendo por hipótese de que uma declaração de
“ECI” pode estabelecer uma transformação de tal modelagem carcerária.
Palavras-chave: Estado de coisas inconstitucional, Ditadura do privilégio, Sistema carcerário
Abstract/Resumen/Résumé
According Professor Emilio Santoro's works, it is possible to note the use of jail as an
instrument of social standardization and civil control for the achievement of certain so-called
"democratic" purposes. The present work puts in debate the use of the Unconstitutional State
of Affairs as tool of combat or sustentation of this prison model. According to the recent
position of the Brazilian Supreme Court about the theme, the Unconstitutional State of
Affairs is an instrument to combat the prison standard founded on the privilege dictatorship?
Having by hypothesis that "ECI" can establish a transformation of such prison model.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Unconstitutional state of affairs, Privilege dictatorship, Prison system
1. INTRODUÇÃO
Determinadas problemáticas e desafios partilham de um interesse comum de variadas
disciplinas, conforme seu particular e apropriado olhar, na composição de possíveis soluções
ou ao menos respostas. Direito, História, Sociologia e Filosofia, não raramente, entram em um
interessante círculo dialógico que se propõe a ultrapassar fronteiras e quebrar paradigmas,
fomentando um espaço novo de discussão e ampliação dos debates. Tratamos assim, e segundo
esta conjuntura, de um grande e velho problema que assola a ciência jurídica.
O sistema carcerário, leia-se, corrupção institucional, superlotação, desrespeito a
direitos humanos básicos, é um avultado empecilho ao alcance das finalidades do Direito em
uma sociedade, ao menos, preocupada na formatação de uma pax social. O efeito borboleta
causado, ou seja, a série de eventos e consequências resultantes de um sistema carcerário,
sabidamente falido, é sentido na contraprestação dos mais diversos tipos de direitos. Das muitas
crises que hoje vivemos, talvez a carcerária seja a mais permanente, penosa e profunda (e por
que não dizer, a que se tem menos vontade político-social de resolver), visto que a solução
ainda tende a ser discutida segundo apenas um ponto de vista e conforme um obsoleto modelo
de segurança pública baseado na repressão.
No presente artigo entendemos que a discussão começa e termina segundo um
panorama totalmente contrário a tudo isto. Sistema carcerário não é problema apenas de
operadores do Direito, muito menos a responsabilidade de uma solução está concentrada apenas
nas mãos destes. É conforme esta percepção que vamos da história, passando pela filosofia e
sociologia para adentrar no debate de um novo instrumento jurídico de combate a deficiência
que assola o nosso sistema de reintegração social.
Neste diapasão, os trabalhos e estudos sociológicos do professor Emílio Santoro serão
o grande substrato de identificação de uma problemática transcendente das portas do cárcere.
De logo, defendemos que a bancarrota carcerária começa em uma falência da própria sociedade,
bem como em um estratagema estatal na imposição de um modelo de cidadania. A masmorra,
neste contexto, serve a um sentido muito específico e intencional obliterado dos holofotes
públicos do debate sobre cárcere. Tal escuso propósito passa pela ideia de uma “ditadura do
privilégio”, conceito advindo dos estudos de Santoro e que melhor discutimos no decorrer do
Consoante esta ampliação da percepção disciplinar e dialógica da crise do sistema
carcerário, fazemos também um recorte geográfico para melhor interação entre os conceitos e
visualização do foco que pretendemos conceder. Nesta esteira, a América Latina é o espaço
escolhido para analisarmos mais a fundo o quão o desafio de uma reformulação carcerária passa
por uma (re)identificação do impacto social sobre aquela, bem como, é conforme a doutrina e
a jurisprudência latino-americana que notamos um engrandecimento e evolução no manejo
dispositivos proporcionadores de uma solução ou, ao menos, mitigação dos efeitos. É assim que
trazemos o Estado de Coisas Inconstitucional para o texto, notando sua prática, de certa forma
já tradicional, pelo judiciário colombiano e seu recente desembarque no judiciário brasileiro.
Portanto, trata-se de fenômeno naturalmente latino-americano pensado e proposto para os
problemas latino-americanos.
É deste ponto que iniciamos o artigo, identificando o Estado de Coisas Inconstitucional
e suas origens históricas quando teve por objeto o sistema carcerário. O capítulo seguinte é
dividido em duas partes. Em uma primeira hora, enfatizamos o caráter teórico da chamada
“ditadura do privilégio” de Emílio Santoro e a interdisciplinariedade implícita na discussão. Em
segunda parte, enfrentamos a realidade empírica do problema conforme um complexo
carcerário brasileiro que, por suas particularidades, foi enfrentado pela jurisprudência
internacional. Nesta linha, o presente estudo tenta exercer uma ponte entre o discurso de Emílio
Santoro e as proposições de um Estado de Coisas Inconstitucional sobre o sistema carcerário
na América Latina, perguntando se é possível que tal instrumento realmente mitigue o problema
em sua raiz, ou seja, não apenas dentro das prisões e suas condições materiais como também
no lado de fora, na recepção social de tal solução.
Conforme os critérios metodológicos exigidos para uma perfeita caracterização dos
procedimentos a serem utilizados na formação do presente estudo, optamos por seguir uma
linha básica formativa dos trabalhos concentrados em análises bibliográficas. Neste diapasão,
a caracterização do problema passa pela consolidação e dos institutos que o cercam passa pela
análise da bibliografia que cerca o objeto principal do artigo, qual seja, o Estado de Coisas
Inconstitucional. A pesquisa de raiz qualitativa é essencial para uma perfeita compreensão da
problemática e sua conformação aos temas de direitos humanos. Um trabalho comparativo é
necessário, porém, tomando parte entre os ordenamentos brasileiro e colombiano na
bem como a ampliação dos limites e objetivos do “ECI” perante os ordenamentos jurídicos
latino-americanos.
É a partir do método indutivo que faremos tal abordagem, utilizando o “ECI” como
uma resposta hipotética ao problema do sistema carcerário apresentado basicamente como
instrumento de perpetuação de uma ditatura do privilégio. Logo, o Estado de Coisas
Inconstitucional pode ser relacionado como possível ferramenta de fundamental transformação
sócio-jurídica. Os dados utilizados são de matriz secundária passando por uma análise
descritiva da hipótese.
A pesquisa tem como marco a recepção do Estado de Coisas Inconstitucional pelo
Supremo Tribunal Federal brasileiro, a partir deste fato é que iniciamos um estudo teórico sobre
o impacto deste evento em fatores jurídicos e sociológicos, tendo especial vinculação com a
sociologia jurídica de Emílio Santoro e suas percepções sobre encarceramento. Portanto, a
pesquisa inicia-se por uma construção da doutrina do Estado de Coisas Inconstitucional,
trazendo sua raiz jurídico-colombiana, seu conceito e finalidades; posteriormente somos
conduzidos a uma percepção do encarceramento e do próprio sistema carcerário como meio
para um fim, a padronização social e, por fim, analisamos o sistema carcerário brasileiro, a
2. ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL: UM HISTÓRICO E UM CONCEITO
O chamado Estado de Coisas Inconstitucional é fenômeno relativamente recente
no contexto da doutrina e da jurisprudência dos Tribunais latino-americanos. No Brasil,
no entanto, sua história ainda está sendo construída e é ainda mais recente. Tendo em
vista os objetivos do presente estudo, teremos enfoque maior nas declarações de ECI
efetivadas conforme a temática do sistema carcerário sem, no entanto, descuidar de
demonstrar um curto histórico sobre a utilização deste instituto conforme outros temas e
assuntos (sendo portanto comprovada uma outra faceta do ECI: sua maleabilidade aos
anseios de um ativismo judicial1 cada vez mais imponente).
Em apertada síntese, o ECI nasce na jurisprudência colombiana como uma
resposta ao desmandos e erros sistemáticos cometidos pelo Estado na garantia de direitos.
E não é surpresa nenhuma a nacionalidade originária desta espécie de ativismo
sumamente latino-americano. Demonstra-se que, apesar de todo o contexto de
permanente crise, seja ela econômica, política ou social, o judiciário colombiano tem se
colocado, há muito, como o protagonista na uma busca da transformação da cultura
jurídica de inefetividade institucional na defesa de direitos humanos. Como ressalta
Manuel José Cepeda (2010, p. 583):
Ningún país de América Latina goza de una tradición de control de constitucional tan antigua, ininterrumpida, amplia e, inclusive, en ocasiones activista. Con razón se ha hablado de un déficit de constitucionalismo democrático en América Latina y se ha resaltado que una institución crucial para superar dicho déficit es un poder judicial que asegure la efectividad de los derechos.
Em 1997, a Corte Constitucional Colombiana anunciou sua primeira declaração
de Estado de Coisas Inconstitucional. Em pauta estava a garantia de uma série de direitos
previdenciários a professores do serviço público. A SU-559 de 1997 (Sentencia de
Unificación 559) é explicada por Cesár Rodriguéz Garavito (2009, p. 441):
El incumplimiento de la obligación de afiliar a docentes de centros educativos públicos al Fondo Nacional de Prestaciones Sociales del Magisterio (Sentencia SU-559 de 1997). En esta decisión, la Corte declaró el primer ECI y ordenó la afiliación de los demandantes al Fondo. Además, al encontrar que la situación
1 O jurista brasileiro Lênio Streck é um dos principais críticos da utilização do ECI no contexto do
de extendia a un buen número de docentes y tenía origen en una falla estructural de políticas públicas, le ortogó a la administración pública un plazo prudencial para hacer los estudios y las apropiaciones necesarias para subsanarla.
Na Colômbia, foram 8 declarações de ECI circundando 5 temáticas diferentes,
desde garantia de direitos previdenciários, passando pelo combate ao deslocamento
populacional forçado e, finalmente, o sistema carcerário. Em dissertação de mestrado,
Vítor Costa Oliveira (2016, p. 80) coloca que: “A corte colombiana, ao declarar o estado
de coisas inconstitucional de todo o sistema carcerário, apontou para a completa omissão
de todos os poderes do Estado em dar conta da situação de ilegalidade”.
A Sentencia de Tutela nº. 153 de 1998 (chamada T-153) recepcionou tal
declaração sobre um sistema carcerário caracterizado pelo desrespeito a direitos humanos
e consolidação da omissão do Poder Público quanto a grupos vulneráveis. “A
superlotação e o império da violência nas penitenciárias eram mazelas nacionais, de
responsabilidade de um conjunto de autoridades” (VIEIRA JÚNIOR, 2015, p. 17). A
partir da identificação da responsabilidade solidária de um conjunto de autoridades
públicas, adicionada à omissão destas quanto a um direito já consolidado e garantido no
âmbito interno (bem como muitas vezes reforçado por uma obrigação internacional
assumida pelo próprio Estado) e, por último, com a ineficiência do Estado na restauração
do status de legalidade por reiteradas vezes, então estaremos de frente a um possível caso
de Estado de Coisas Inconstitucional.
Ainda no âmbito do ordenamento jurídico colombiano, Garavito identifica dois
momentos na implantação do ECI. Em primeira hora, o instituto não obtinha uma estrita
e afirmada fórmula de aplicação e reconhecimento, sendo quase que intuitivamente
aplicado como resposta a casos de generalizado desrespeito a direitos. Posteriormente,
passou a obedecer determinado rito metodológico-jurídico estabelecido segundo as bases
da jurisprudência e da doutrina. É assim que Rodríguez Garavito (2009, p. 444) posiciona
a decisão T-025 de 2004, abordando o deslocamento forçado:
Importa resaltar que en la primera fase de la jurisprudencia sobre ECI (1997-2003), la Corte aplicó la figura sin hacer un trabajo cuidadoso de sistematización de los requisitos para declarar la existencia y la superación de un ECI. Esta tarea vendría a ser hecha en la Sentencia T-025/04.
Não obstante concordemos que a consolidação de uma “doutrina” sobre o ECI
Corte Constitucional Colombiana, nos cabe fazer um pequeno regresso para pleno
entendimento das motivações e objetivos implícitos na declaração que absorveu o tema
do sistema carcerário. Passamos, portanto, a uma incursão pela chamada decisão T-153
de 1998.
A decisão que carregou a primeira visualização do sistema carcerário conforme
as lentes do Estado de Coisas Inconstitucional, revelou o princípio de uma transformação
no modelo de julgar a responsabilidade estatal no cuidado daqueles sob seu encargo.
Segundo Garavito (2011, p. 1.693), dentre as medidas estavam a suspensão da renovação
de contrato envolvendo uma das maiores instituições carcerárias do país e a exigência de
um plano, em até 3 meses, para renovação do sistema carcerário e criação de novos
cárceres:
In T-153, the CCC adopted the strong-remedies approach by handing down detailed orders for the government to (1) immediately suspend a contract for the renovation of one of the largest prisons in Bogotá; (2) formulate, in three months, a comprehensive plan for the renovation of existing prisons and the construction of new ones, which was to be executed within a four-year period; and (3) put an end, in four years, to the confinement of detainees under trial in the same prisons as convicted detainees.
Uma notável característica da decisão em discussão é o seu alinhamento com a
normativa internacional em direitos humanos. Demonstra-se, portanto, a tendência
universalista na proteção de direitos humanos, principalmente quando está em pauta o
direito da pessoa presa. Tal jogo dialógico pode ser muito bem encontrado em um dos
pontos da T-153, determinando-se a separação entre detentos em julgamento daqueles em
cumprimento de condenação definitiva.
Vale lembrar que tal determinação é prevista em uma série de cartas
internacionais em matéria de direitos humanos. No sistema interamericano, a própria
Convenção Americana de Direitos Humanos (Decreto nº. 678/1992) faz a previsão, em
seu art. 5º, de que “os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de
pessoas não condenadas”. Dentro do sistema universal de proteção dos direitos humanos, as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos trazem em seu bojo
a previsão de que “as diferentes categorias de reclusos devem ser mantidas em estabelecimentos separados ou em diferentes zonas (...) os presos preventivos devem ser
Mínimas representam exemplo do chamado soft law, ou seja, regras internacionais sem
força vinculante mas que possuem peso interpretativo na consolidação de direitos e
garantias.
Entrementes, a T-153 é apenas o primeiro passo (ainda imperfeito) na
concretização das finalidades da declaração de Estado de Coisas Inconstitucional dentro
do tema sistema carcerário. Uma das grandes ausências sentidas na implementação da
153 foi a inserção de um órgão de monitoramento, posteriormente, decisões como a
T-760 de 2008 (relacionado ao direito à saúde) e a T-025 de 2004 (relacionado ao
deslocamento forçado) representaram um necessário avanço neste ponto. Como muito
bem ressalta Garavito (2011, p. 1.675): “(..) the T-760 court issued a set of structural
injunctive remedies and launched an ambitious monitoring process.”
Já sobre a decisão T-025, Manuel Iturralde (2013, p. 387) observa as rígidas
regras colocadas pela Corte Constitucional Colombiana objetivando as agências estatais,
inclusive inserindo a sociedade civil, implementando, portanto, políticas públicas para
combate da crise social em pauta, ressaltando ainda a permanência da competência
fiscalizatória da própria Corte Suprema sobre o assunto:
The Court issued several orders of procedure to state agencies, which also involve civil society, to design and implement public policies to confront this humanitarian crisis. In addition to issuing these orders, the Constitutional Court has retained jurisdiction over the case to oversee the implementation of its orders.
3. O ENCARCERAMENTO CONFORME EMÍLIO SANTORO: A DITADURA DO PRIVILÉGIO EM DEBATE
O sistema prisional é tema frequente nos trabalhos em torno dos direitos
humanos e há muito tempo vem sendo abordado não só por juristas como por filósofos,
sociólogos, historiadores e tantas outras disciplinas afins. Desde o utilitarismo de
Bentham, passando pelo célebre Vigiar e Punir de Michel Foucault, é fato que o
fenômeno do encarceramento, bem como as condições e finalidades de sua imposição, é
destacado tema na composição da Teoria da Pena e, por assim dizer, central na própria
concepção da importância do Direito na geração da pacificação social.
Muito influenciados pela produção estrangeira que cerca o tema, tendemos a
casos distante de nossa própria realidade idiossincrática. O professor Danilo Zolo (2002,
p.29) destaca que, “a questão da racionalidade das medidas de detenção é um tema
clássico da filosofia política e da historiografia europeias, de Tocqueville a Foucault, de
Ignatieff até as recentes análises de Loïc Wacquant”. Este último, em obra abordando o sistema carcerário dos Estados Unidos da América, conforme prefácio de Vera Malaguti
Batista, coloca que:
Como no Brasil, a prisão norte-americana traz as marcas da escravidão. O novo complexo institucional seria composto por vestígios do gueto negro e pelo aparato carcerário, ao qual o gueto ligou-se por uma relação estreita de simbiose estrutural e de suplência funcional. Ou seja, na nova ordem pós-industrial do capital vídeo-financeiro as estratégias de contenção social das classes perigosas se deslocam dos guetos para as prisões. (WACQUANT, 2003, p. 12)
O olhar de Emílio Santoro sobre a instituição carcerária está conforme este
contexto. Tanto quanto Wacquant, refere-se ao sistema carcerário como parte de um todo
muito mais profundo e propositalmente destinado a ser o centro de uma política pública
de perpetuação de valores e práticas. Porém, a análise do cárcere europeu segundo
Santoro leva em conta a construção de uma chamada “ditadura do privilégio”, nos cabe,
portanto, compreender um pouco mais sobre do que se trata esta ditadura e exercer um
comparativo para com a similar realidade latino-americana. Ademais, o próximo
subtópico tem por missão conceder um contexto jurídico-sociológico ao conceito de
“ditadura do privilégio”, demonstrando a amplitude do problema e a necessidade e a urgência de uma resposta.
3.1 DA DITADURA DO PRIVILÉGIO E UM CONTEXTO INTERDISCIPLINAR E INTERNACIONAL
Santoro e Wacquant abordam as prisões europeias e americanas como
caracterizadas por aspectos comuns. O principal deles é a superpopulação ou a chamada
hiperinflação carcerária. Na realidade americana, talvez a que mais evidencie o espantoso
crescimento da cultura do encarceramento, a superpopulação síndrome em franca
expansão nas últimas décadas:
militar. Resulta daí que os Estados Unidos saltam hoje muito à frente dos outros países capitalistas em matéria carcerária (WACQUANT, 2003, p. 60).
Para Emílio Santoro, a superpopulação desenha a realidade do cárcere ocidental
e demonstra a expansão do poderio estatal em nome da segurança comum, conferindo às
prisões a finalidade de exercer um prático esquecimento dos indesejáveis: “Nos últimos
anos, o número de pessoas detidas ou a espera de julgamento cresceu rapidamente em
quase todos os países norte-ocidentais. Todas as democracias desenvolvidas têm se
dedicado à construção de novos cárceres (...)” (SANTORO, 2006, p. 159). Ademais, a
retórica que ronda o encarceramento moderno há muito que tem sido transformada, o
papel ressocializador, há muito, vem sendo progressivamente colocado de lado em nome
de uma pacificação social exequível pela incorporação da imagem do inimigo público.
Bom exemplo desta transformação jurídico-discursiva ocorre dentro do Direito
Penal, “o colapso do sistema punitivo atinge o Direito Penal por múltiplos fatores, que vão desde a perda de sua identidade, das bases de sua legitimação, de sua utilidade social,
até sua inadaptação ao novo modelo econômico” (MASI, 2014, p. 276). O Direito Penal, sob a face punitiva e encarceradora, é chamado a solucionar os conflitos que atingem o
âmago da paz social, e quando falha coloca-se em dúvida toda a estrutura institucional de
um Estado Democrático de Direito. A (in) eficácia moderna do Direito Penal coloca em
questionamento o papel das políticas realçadas por um vigor garantista em detrimento
daquelas políticas que visam meramente tornar determinados sujeitos como sub-cidadãos.
Como bem menciona Mariângela Gomes (2011, p. 246):
Essa larga utilização do direito penal tem um claro significado, qual seja, o e que a sociedade de hoje clama pela inocuização dos indivíduos que possam pôr em risco a estabilidade, com seus comportamentos contrários à ordem desejada. A primeira consequência, que consiste no fato de que quando presa a pessoa está impossibilitada de cometer crimes fora do estabelecimento penitenciário, traz a certeza e a tranquilidade à coletividade.
Em outras palavras, diante da crise do Estado social, a primeira medida a ser
tomada é a quebra de direitos e garantias como medidas de exceção, bem como a busca
de um padrão civil a ser imposto como o adequado, por assim dizer, a construção do
arquétipo privilegiado em contraposição ao desajustado. Nesta linha, surgem teorias na
defesa de uma divisão sócio-jurídico, estabelecendo uma fronteira entre incólumes e
O Direito Penal do Inimigo, doutrina nascida dos trabalhos do autor alemão
Gunther Jakobs, propõe uma bifurcação da disciplina. De um lado, o Direito Penal
garantido ao “cidadão de bem”, de outro, o Direito Penal reservado aos inimigos da sociedade. Porém, deve-se ter um especial cuidado na conceituação daquele que é
determinado como o inimigo. Como muito bem sinaliza Luís Martín (2007, p. 82)
O delito de um cidadão ‘não surge como um princípio do fim da comunidade
ordenada, mas só como desgaste desta, como deslize reparável’, e, por isso – conclui Jakobs –‘o Estado moderno vê no autor de um fato normal, não um inimigo que deve ser destruído, mas como um cidadão, uma pessoa que mediante sua conduta infringiu a vigência da norma e que por isso é chamada
– de modo coativo, mas enquanto cidadão (e não como inimigo) a equilibrar o dano à vigência da norma.
O inimigo não pode ser admitido no meio social visto que comporta-se como um
opositor público à própria estrutura societária comum. “Quem por princípio se conduz de
modo desviado, não oferece garantia de um comportamento pessoal. Por isso, não pode
ser tratado como cidadão mas deve ser combatido como inimigo” (JAKOBS, 2003, p.
49). Em nome da segurança a ser defendida para alguns, outros perdem seu próprio caráter
de indivíduos parte da mesma realidade sócio-jurídica, em outros termos, é a eliminação
subjetiva que determina a política criminal substanciada no chamado Direito Penal do
Inimigo.
Diante desta divisão entre cidadãos e inimigos, o Estado Democrática de Direito
encontra um incontestável ponto de enfraquecimento, visto que, principalmente, o
princípio da isonomia é mitigado sob o pretexto de conceder proteção específica a
determinados sujeitos.
A teoria jakobsiana instiga a sempre se ter em mente a formulação contratualista de aceitação ou não do contrato social: aqueles que não aceitavam o contrato social tal qual posto pela maioria dos indivíduos, seriam à margem deste considerados, e, por conseguinte, à margem da sociedade. (SIQUEIRA, 2008)
A tentativa de transformar a funcionalidade do Direito Penal, muito bem
representada pelo Direito Penal do Inimigo de Jakobs, é sintoma de uma patologia ainda
mais abrangente. Na raiz de toda utilização da pena e da punição institucional, ainda mais
incentivada pela obliteração daquilo que forma a idiossincrática identidade do apenado
como cidadão e sujeito de direitos, está uma mudança social em franca atividade.
Portanto, neste momento, deixamos o Direito Penal e adentramos à sociologia para
chamada “sociedade de risco”, nomenclatura colocada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, produto da globalização moderna, fundamenta o nascimento de novos instrumentos
na defesa de um corpo social cada vez mais apegado a medidas extremadas.
Em diálogo entre os doutrinadores Danilo Zolo e Ulrick Beck (ZOLO; BECK,
2002, p. 1), inicialmente a sociedade de risco, contextualmente, traz consigo o próprio
problema do conceito de modernidade. Segundo Beck:
Propus a distinção entre uma primeira e uma segunda grande modernidade. Caracterizei a primeira modernidade nos seguintes termos: uma sociedade estatal e nacional, de estruturas coletivas, com pleno emprego, rápida
industrialização e um aproveitamento da natureza não ‘visível’ (...). Afirmou -se na sociedade europeia, através de várias revoluções políticas e industriais, a partir do Setecentos. Hoje, no final do milênio, encontramo-nos diante do que
eu chamo de ‘modernização da modernização’ ou ‘segunda modernidade’.
É desta segunda modernidade, implicada nas problemáticas geradas pela
globalização, que a sociedade de risco toma forma como modelo paradigmático de
indivíduos que não mais se reconhecem integrantes de instituições que conformam o
pleno convívio social, “Beck argues that in the second modernity the individual has
become disembedded from social institutions without being re-embedded” (BECK, 2014,
p. 61). Esta desconfiança institucional termina por desestabilizar todo o seio social e
fomentar uma busca pela prevenção do dano. Assim, antes que determinadas reações
sejam sentidas pela sociedade diante da quebra do contrato social, busca-se prevenir a
ação.
Esta sociedade de risco, caracterizada pela utilização da tecnologia, o
determinismo dos efeitos globalizatórios nas relações interindividuais e pelo acúmulo
material, contrapõe-se a uma sociedade de escassez:
Há uma lógica positiva de apropriação de bens na sociedade de escassez – bens de consumo, renda, oportunidades educacionais, imóveis, são bens escassos cobiçados. Porém, na sociedade de risco, há uma lógica negativa de afastamento, que implica também em processos de rejeição, negação e reinterpretação, processos nos quais a ciência tem papel controverso e a mídia um papel determinante (HERCULANO, 2015, p. 1.951)
Conhecendo do que se trata quando falamos de “sociedade de risco”, voltamos
ao Direito Penal para entender o efeito desta sobre a determinação de um novo modus de
perceber o infrator. Conforme a necessidade de recorrer-se à prevenção dos danos sociais,
Direito Penal toma diferente finalidade segundo os contornos da “risk society”. Se de um
lado alguns promovem a imputação penal como a última solução, substancialização do
princípio da ultima ratio, devendo ser excepcionalmente utilizado na repreensão de
ilícitos e reparação de danos; “no outro extremo, há aqueles que defendem a ampliação
da tutela do direito penal, mediante a proteção do conjunto de riscos que amedrontam a
sociedade hoje em dia” (CAZÓN, 2016, p. 341).
Em resumo, a sociedade de risco e as incertezas geradas por ela geradas,
terminam por desenvolver efeitos das mais diversificadas maneiras. Uma das que
destacamos neste trabalho é a repercussão gerada sobre o Direito Penal, exemplificado
pela utilização do Direito Penal do Inimigo como um arquétipo do “agir antes, perguntar
depois”. Esta antecipação da repressão, em nome de uma suposta prevenção dos danos
possíveis, é evidente no sistema carcerário e no contexto da ditadura do privilégio gerada
com a generalizada prática de encarceramento fincada na doutrina do esquecimento do
sujeito, tanto quanto sua completa exclusão do usufruto de direitos comuns.
3.2 RAZÕES PARA FALAR DE UMA DITADURA DO PRIVILÉGIO À BRASILEIRA: O CASO DO COMPLEXO DO CURADO
O cárcere não apenas cumpre s explícita função de punir aquele que se contrapôs
à ordem geral de obediência, muito menos apenas serve de instrumento ressocializador e
provedor de uma reparação social mínima. Até porque, como pontua Zaffaroni (2010,
apud ANDRADE; FERREIRA, 2015, p. 118), no livro Em busca das penas perdidas:
“colocar uma pessoa na prisão e esperar que ela aprenda a viver em sociedade, é como ensinar alguém a jogar futebol dentro de um elevador.”
O complexo prisional tem objetivo muito mais escuso segundo a doutrina de
Emílio Santoro, compreendendo uma implícita padronização daquele que deve ser parte
de determinada sociedade e seus modelos e parâmetros pré-estabelecidos. Usando de uma
metáfora, o cárcere também é abrigo necessário e coercitivo daqueles que não foram
convidados para a festa pois não se vestem ou se comportam conforme a etiqueta exigida.
Santoro (2006, p. 191) reitera esta funcionalidade implícita em detrimento da usual noção
ressocializante:
cidadania social, de criar barreiras que definam o universo dos ‘cidadãos
consumidores’. E o cárcere está prontamente encarregado de responder a esta
demanda.
O Estado portanto possui um apetrecho hábil a exercer um controle civil e uma
própria seleção de seus súditos. Ademais, tal seleção pode ser feita com o aval de uma
boa parte da sociedade conforme o argumento de proteção e prevenção contra os perigos
do contemporâneo. Alta criminalidade, marginalização, vadiagem, são pretextos para que
se dê uma perigosa carta branca e um aceite integral ao que ao menos pareça ser uma
solução, tendo por horizonte a formação de uma utópica paz social capaz de proporcionar
padrão de vida adequado e digno a todos (ou quase todos). “Se for verdade que a paz
social depende de tirar da sociedade todas as pessoas que cometem crimes, então ou já se
teria alcançado o objetivo ou já estaria bem perto disso.” (ANDRADE; FERREIRA,
2015, p. 118)
Mas permanece uma pergunta: como se deu a decadência do papel
ressocializador do cárcere? Esta indagação é fundamental para entender o sujeito do outro
lado das prisões e, ainda mais, perceber de que forma este é excluído e esquecido mesmo
na era da garantia de direitos. Embora, conforme a teoria do Direito Penal do Inimigo de
Jakobs (tema este tratado no tópico anterior) transforme o sujeito em um inimigo apenas
excepcionalmente, a verdade é que a instituição carcerária tomou este critério como uma
regra geral para todos aqueles que adentram o irreversível mundo da subversão.
Neste diapasão, Santoro (2006, p. 195) explicita uma resposta para a pergunta
supracitada, tendo por referência a sociedade italiana e marcando a presença da imigração
hodierna, fator muito estimulado pela globalização:
Hoje a sociedade, dada a possibilidade ilimitada de recrutar a mão de obra que os imigrantes oferecem, e dada a obsessão da escassez de recursos utilizáveis para o fim social, decidiu não conceder uma nova possibilidade de vida social a quem cometeu um crime. Pouco a pouco o cárcere perde a sua função ressociabilizante.
A ditadura do privilégio é formada a partir de tais fetichismos, o uso de
apologias, justificativas, desculpas e argumentos para que se faça aquilo que vai de
encontro à natureza de um Estado Democrático de Direito. E tal fetichismo é tão bem
construído e utilmente firmado no pensamento geral que, por fim, termina-se por sustentar
a própria defesa de direitos através daquilo que, isoladamente, pareceria kafkiano e
Porém, o panorama utilizado por Emílio Santoro não deixa de ser a realidade
jurídico-penal europeia, mais especificamente dentro do sistema carcerário europeu. Nos
cabe fazer uma inserção sobre a conjuntura brasileira e como está plenamente inserida e
enquadrada neste distópico painel de disfunção estatal no tratamento dos egressos. Assim,
esta mesma ditadura do privilégio, sobre a qual tão fortemente destacamos no horizonte
da sociedade europeia, tem os mesmos contornos quando analisamos a empírica situação
latino-americana. E nesta linha está fundada a maior hipótese deste trabalho, ou seja, a
utilização do Estado de Coisas Inconstitucional como um mecanismo jurídico de
alijamento da tirania social dos privilegiados.
Sem sombra de dúvidas, o Brasil é exemplarmente parte da caótica realidade de
anomalias no tratamento das pessoas sob custódia, bem como a impotência institucional
em dar-se uma solução razoável aos grandes empecilhos para uma cultura
ressocializatória. Superpopulação carcerária, altos índices de reincidência, violência e
desrespeito a direitos humanos no interior dos cárceres e o domínio paralelo de facções e
organizações criminosas dentro dos presídios, é apenas mostra dos muitos fatores que
terminam por demonstrar o quanto nossos complexos de detenção estão afastados de um
patamar, no mínimo, aceitável.
Tal crise não é recente, porém em muito agravada pelo reiterado descaso estatal
e por uma própria transformação da sociedade brasileira – representada pelo paradigma
da sociedade de risco sobre a qual afirmamos o surgimento e a expansão na modernidade.
Em dissertação de mestrado, Bizatto (2005, p. 47) destaca o período da Ditadura Militar
brasileira, em meio ao período da Guerra Fria, entre 1964 e 1985, como um dos períodos
demarcatórios de uma extrema carência no trato do sistema carcerário: “O sistema
prisional brasileiro ficou abandonado ao longo dos anos da ditadura em face da utilização
das unidades militares como locais de custódia e detenção, que priorizavam as ações de
repressão e vigilância.” A situação apenas piorou com o passar dos anos e dos mandatos, terminando por gerar situação apta a uma proposta de declaração de Estado de Coisas
Inconstitucional.
Os números advindos das avaliações oficiais sobre o número de presos e a
situação das prisões brasileiras coloca o Brasil dentre as 4 maiores populações carcerárias
O levantamento de presos feito em 2007, pelo Conselho Nacional de Justiça e Departamento Penitenciário Nacional (CNJ/DPN), o Brasil tinha 422.373 presos, número que subiu 6,8% (451.219) em 2008 e 4,9% (473.626) em 2009. Atualmente (2015) o país conta com quase 500 mil presos – seguindo esse ritmo, estima-se que em uma década dobre a população carcerária brasileira. (AZEVEDO et al., 2015, p. 2).
No âmbito internacional, o Brasil, no que se trata à população sob custódia
estatal, acumula recomendações dos órgãos internacionais de defesa dos direitos
humanos. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, “instituição judicial autônoma,
não sendo órgão da OEA, mas sim da Convenção Americana de Direitos Humanos”
(RAMOS, 2016b, p. 244), já exasperou medidas provisórias em relação a dois complexos
penitenciários brasileiros.
Um deles foi quanto ao centro Penitenciário Professor Aníbal Bruno, usualmente
conhecido como Complexo de Curado, no estado de Pernambuco. Os reiterados casos de
desmandos e cometimento de ilícitos, violências, rebeliões, falta de auxílio médico básico
entre tantas outras atividades incompatíveis com o ambiente ressocializatório de uma
instituição carcerária, terminaram por abrir os olhos das autoridades nacionais e
internacionais sobre a inadmissível situação de descaso quanto aos direitos fundamentais
de internos e de todos os que ali estivessem.
A situação chegou à Comissão Interamericana, diante da extrema omissão dos
organismos públicos responsáveis, através da união de organizações defensoras de
direitos humanos, dentre elas a Pastoral Carcerária de Pernambuco e a Clínica
Internacional de Direitos Humanos da Universidade de Harvard. O primeiro expediente
solicitado foi a intervenção do órgão internacional por meio de medidas cautelares. Tais
medidas, conforme André de Carvalho Ramos (2016b, p. 241), servem para prevenir
danos irreparáveis ou perecimento de direito e, por iniciativa própria ou a pedido da parte,
a Comissão poderá solicitar que um Estado adote medidas em relação a uma petição ou
caso pendente.
Em 4 de agosto de 2011, a Comissão IDH promoveu a chamada Medida Cautelar
199/11 (MC 199/11), enfatizando a necessidade de maior controle estatal na segurança
interna da prisão, além de atenção sobre os cuidados médico-hospitalares fornecidos pelo
complexo. Não deixou de ser notada a imprescindibilidade na redução da população
carcerária para pleno alcance de tais objetivos (OEA, 2011, p.1). Um dos fatos que mais
com tal atividade, ou seja, “presos designados pela administração do presídio para
desempenhar função de agentes de segurança e recebem autoridade para supervisionar e
controlar pavilhões inteiros” (PASTORAL CARCERÁRIA DE PERNAMBUCO et al, 2011, ps. 3-4).
Muito pouco foi feito diante das medidas cautelares e a relutante ausência estatal
apenas agravou a situação de alarmante desrespeito dos direitos mais básicos. Em
seguida, o procedimento chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte
IDH) através de submissão da Comissão IDH, no ano 2014. Foi feita uma “solicitação de
medidas provisórias com o propósito de que o Brasil adotasse as medidas necessárias para
proteger a vida e a integridade pessoal das pessoas privadas de liberdade.” (PAIVA;
HEEMANN, 2015, p. 289).
A determinação de medidas provisórias é prevista para casos de extrema
gravidade e urgência, e quando necessário para evitar danos irreparáveis às pessoas, sendo
conhecida por meio de pedido da Comissão quando o caso ainda não tiver sido submetido
à Corte (MAZZUOLI, 2016, 138). Grande avanço proporcionado pelas medidas
provisórias determinadas pela Corte IDH foi a ampliação da proteção subjetiva de direitos
no Complexo do Curado. Por assim dizer, “aumenta o escopo dos beneficiários das medidas provisórias, estendendo-as para qualquer pessoa que se encontre no
estabelecimento, incluindo os agentes penitenciários, funcionários e visitantes.”
(AMORETTI et al., 2016, ps. 82-83).
Curado, portanto, possui natureza idiossincrática na conjuntura da crise do sistema
carcerário brasileiro. Isto porque termina por evidenciar muito mais do que os usuais
reflexos do paradigma do cárcere em estado de perceptível falência generalizada. Foi, de
logo, recebido no panorama internacional conforme a extrema urgência das medidas que
ali deveriam ser adotadas e, por assim dizer, o caso do Complexo do Curado é
compreendido a partir das medidas cautelares e provisórias determinadas pelo Sistema
Interamericano de Direitos Humanos, e muito menos do que qualquer outra discussão de
mérito. Portanto, é faticamente enfrentado pelos juízes interamericanos em virtude de
perplexa e extraordinária omissão das autoridades brasileiras quanto à situação carcerária:
cautelares, da Comissão IDH; e quatro medidas provisórias, emitidas pela Corte IDH (LIRA, 2017, p. 12).
Na perspectiva da proteção internacional dos direitos humanos, e mesmo dentro
do âmbito de proteção regional em que estamos situados, a situação carcerária
latino-americana é particularmente frutífera a quebras sistemáticas e generalizadas de direitos.
De modo nenhum pensamos que isto seja uma singularidade do sistema interamericano,
tendo em vista que, hoje, este é e sempre foi um grande problema global. Entrementes,
neste artigo identificamos que a América Latina se encontra em ponto diferencial.
Primeiro, pela insistente omissão das autoridades públicas. Um dos pontos de
maior caracterização do ECI é também reflexo do sistema carcerário latino-americano
hodierno. Crises e instabilidades políticas, alto grau de corrupção e desconfiança pública
na classe política estão firmemente ligadas à situação carcerária, em vista do pouco
espaço público concedido para a discussão e planejamento de soluções. Diante de tal
desordem, grande parte da sociedade se vê atraída por discursos extremistas ratificadores
de uma ditadura do privilégio. E daí mesmo surge o segundo ponto caracterizador de um
status sui generis da crise carcerária latino-americana: a omissão da própria sociedade
civil e o preconceito integrado ao debate, ou seja, não se discute sobre sistema carcerário
por uma enorme falta de educação em direitos humanos.
4. CONCLUSÃO
Sem sombra de dúvidas a interdisciplinariedade é método de estudo e pesquisa
que deve ser cada vez mais incentivado no âmbito da ciência jurídica, é desta experiência
que temos como fruto a conclusão deste trabalho. Ao lançar um olhar diferenciado sobre
os problemas sociais, políticos e jurídicos, deixando de lado determinismos e
preconceitos, podemos experimentar a peculiaridade necessária para o enfrentamento de
adversidades tão igualmente idiossincráticas.
Nesta esteira, supracitamos obras decorrentes de estudos sociológicos e
históricos, propondo um discernimento que deve modelar os estudos jurídicos no
contemporâneo. O isolacionismo teórico nos parece tão perigoso quanto ludibriante, pois,
segundo a pretensão de conceder maior tecnicidade e acuracidade científica, olvida-se de
de uma convergência entre as áreas do conhecimento, acima de tudo quando a sociedade
e seus instrumentos de controle, pacificação e reinserção estão sob análise.
Ao tratar sobre o ECI segundo o ideal da ditadura do privilégio, a confluência
do Direito e da Sociologia nos permitiu cogitar uma nova seara de atividade daquele
instrumento jurídico. Originalmente, como explicado no primeiro capítulo, o estado de
coisas inconstitucional visa suprir uma omissão institucional reiterada com generalizado
e contundente efeito sobre as garantias de direitos humanos. Proposta, no Brasil, contra a
situação de extrema calamidade do sistema carcerário, terminou por representar uma
esperança de minoração da precariedade carcerária através da reparação dos efeitos
materiais da negligência estatal.
Não deixamos de considerar que este é, e vai continuar sendo, a principal
funcionalidade do ECI mas vamos além, acreditamos que pode também representar uma
modificação no imaginário social sobre o cárcere, e aí que notamos a principal
problemática. Como destacamos na primeira parte do segundo capítulo, Emílio Santoro
coloca em debate a chamada ditadura do privilégio tendo como uma de suas bases a
uniformização da cidadania, tal standard é concebido, em muito, pelo sistema carcerário
utilizado como um depositário dos indesejados. Portanto, privilegiados e desprivilegiados
têm como fronteira a prisão e a evidente decadência do seu papel ressocializador.
A sociedade compactua com a ampliação e repetição deste ideal conforme se
entrega aos discursos extremados em defesa da paz social segundo a eliminação e
desaparecimento do desajustado. Neste diapasão, o sistema carcerário se transforma em
uma espécie ostracismo social no centro da própria sociedade, financiado e estimulado
por falácias e embustes.
O questionamento feito pelo trabalho, conforme a identificação deste paradigma
funcional do sistema carcerário, seria a possibilidade do ECI determinar uma minoração
neste quadro subjetivo. Ou seja, a possibilidade de o estado de coisas inconstitucional
funcionar como um mitigador não só da debilidade material que assola o interior do
cárcere (fator esse que sem dúvida interfere fundamentalmente na intenção
ressocializadora) mas também do pensamento subjetivo em torno do cárcere. É o que
propõe novas soluções baseadas na interação entre as instituições públicas, pode sim
determinar uma guinada na perspectiva social em torno do sistema carcerário.
Ainda é muito cedo para dizer que tal funcionalidade pode ser sentida ou
percebida. Porém, a mera possibilidade de se projetar uma reviravolta sócio-jurídica
através de uma declaração de estado de coisas inconstitucional já concede uma
importância sine qua non nos debates e estudos sobre a temática. É fato que, uma série
de fatores ainda estarão entremeados da discussão e aceitação de um ECI até a
concretização de um novo pensamento social decorrente diretamente deste, porém, a mera
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