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Rev. CEFAC vol.11 suppl.2

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Academic year: 2018

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Rev CEFAC, v.11, Supl2, 135-280, 2009

Uma das aquisições mais importantes no desenvolvimento do ser humano é a linguagem. É ela que abrirá as portas para uma interação social dinâmica e eiciente e que será o veículo fundamental para a aprendizagem. Fatores biológicos, sociais e culturais estão presentes e atuam de forma intimamente relacionada para garantir esta evolução.

A linguagem também pode ser considerada como um grande sinalizador da qualidade do desenvolvimento. Quando ela se constitui dentro do tempo esperado, serve como indicador de um desenvolvimento adequado da criança, Contrariamente, quando não se manifesta, ou quando seu aparecimento é mais tardio, ou desviante, pode estar indicando problemas ou obstáculos no processo evolutivo infantil. Neste caso, desequilíbrios ou desadaptações podem ser esperados e tenderão a se manifestar com maior intensidade frente à forte demanda que os programas escolares impõem em termos de competências comunicativas.

Adquirir linguagem signiica desenvolver competências múltiplas, uma vez que ela apresenta, além de seu caráter social, que permite o relacionamento interpessoal, um caráter simbólico, que permite organizar e representar a realidade. Ter algo para dizer, ter razões para se comunicar, sistematizar estratégias dialógicas e dominar um código complexo de símbolos, em seus aspectos morfossintáticos, prosódicos, lexicais e fonológicos, são alguns dos desaios presentes em tal aquisição.

Por sua vez, os diferentes contextos de uso da linguagem poderão determinar diferentes graus de domínio ou de conhecimento desta mesma linguagem por parte do sujeito que se comunica. Por esta razão, precisamos pensar a aquisição da linguagem inicialmente em seu plano oral, inicial, com a criança desenvolvendo competências comunicativas para que possa compreender a linguagem a ela dirigida, da mesma forma que deve desenvolver competências para poder expressar o que sente, deseja, vive, conhece e imagina.

Porém, curiosamente, tal domínio ou conhecimento, que pode ser ativado ou posto em funcionamento de uma maneira predominantemente automática, poderá não ser suiciente frente a outras situações ou demandas de uso de linguagem. Neste sentido, existem ocasiões nas quais o saber falar não é, por si só, suiciente para dar conta de tal demanda: além de saber falar, a criança deverá compreender, de modo mais claro, profundo e consciente, propriedades ou características da linguagem que ela usa para se comunicar. Podemos, desta forma falar, por um lado, em habilidades linguísticas e, por outro, em habilidades metalinguísticas. Temos aqui a clássica oposição entre o fazer e o compreender.

A aprendizagem da linguagem escrita irá requerer, além de um domínio prático, um conhecimento reletido, ou seja, a tomada de consciência de processos fonológicos e morfossintáticos em um nível muito superior àquele exigido no uso da linguagem oral. Podemos falar, desta forma, em habilidades de consciência fonológica e consciência morfossintática, tão importantes no processo de alfabetização e domínio da linguagem escrita.

Enquanto o desenvolvimento normal pode ser concebido como um processo de constituição efetivo de tais habilidades, o desenvolvimento atípico ou alterado, pode ser visto como uma quebra, ruptura ou impedimento em tal processo e que se manifesta no nível da linguagem oral e da linguagem escrita. Para todos aqueles que, de alguma forma, trabalham com o desenvolvimento infantil, quer seja no nível da pesquisa ou na atuação direta com as crianças, compreender o processo de aquisição de linguagem, os vários níveis de sua constituição, assim como os mecanismos, cujos déicits podem gerar alterações, é de fundamental importância.

Um grande número de investigações tem sido realizado a respeito, porém nosso conhecimento ainda é limitado. Temos, ainda, um agravante, na medida em que a maior parte das pesquisas referem-se a línguas estrangeiras, principalmente a língua inglesa. Nosso conhecimento a respeito da aquisição do português é ainda, em muitos aspectos, incipiente.

Muito temos para pesquisar e aprender. Por esta razão, poder redigir este editorial representa, para mim, um momento de conquista. Esta publicação da Revista CEFAC, voltada para o universo da

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linguagem e também de seus desdobramentos no campo da aprendizagem e da educação traz artigos originais sobre temas avançados ligados ao desenvolvimento, avaliação, diagnóstico e intervenção em linguagem oral e escrita.

Este suplemento relete exatamente os passos irmes e fortes que muitos de nós, pesquisadores nacionais, estamos dando no sentido de compreender como nossas crianças adquirem linguagem. Ou, nos casos onde a alteração está presente, que mecanismos ou características elas apresentam em termos de competências comunicativas, o que é de extrema importância para que se possam desenvolver procedimentos de diagnóstico e de intervenção mais adequados.

Jaime Zorzi

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