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DESAFIOS E PROPOSTAS PARA A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA CIDADE DE SÃO PAULO

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PUC-SP

NEI MÁRCIO OLIVEIRA DE SÁ

DESAFIOS E PROPOSTAS PARA A

EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA

CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

(2)

PAULO

PUC-SP

NEI MÁRCIO OLIVEIRA DE SÁ

DESAFIOS E PROPOSTAS PARA A

EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA

CIDADE DE SÃO PAULO

MESTRADO EM TEOLOGIA PASTORAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Teologia Pastoral, sob a orientação do Prof. Dr. Tarcísio Justino Loro.

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COMISSÃO JULGADORA

________________________________________

_________________________________________

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- Aos meus amados pais,Maria Apparecida Serapilho de Sá e Bráulio Oliveira de Sá, por todo amor, carinho, exemplo, educação, proteção e dedicação, concedidos a mim, em toda a vida;

- Aos meus amados irmãos, Marcos Oliveira de Sá e Silvana Oliveira de Sá, pelo amor, cuidado, companheirismo, amizade e torcida, desde sempre;

- Ao meu querido pároco, Pe. Ubaldo Steri, por seu exemplo de Pastor dedicado à edificação de uma comunidade adulta na fé, a serviço de uma Igreja atenta aos sinais dos tempos, comprometida com o Evangelho e com a real valorização do laicato;

- Aos meus amigos bispos: Dom Antônio Celso Queiroz, pelo incentivo, confiança, ensinamentos e acolhimento em diversos momentos de minha história pessoal e pastoral. E a Dom Pedro Luiz Stringhini, Dom Gil Antônio Moreira e Dom Tarcísio Scaramussa, sdb pela confiança e parceria na missão realizada no Setor Juventude da Arquidiocese e pelo trabalho incansável e dinâmico à juventude;

- Aos queridos padres, José Maria Herreros Robles SJ, amigo e protetor, exemplo de santidade pessoal e modelo do verdadeiro Assessor de Pastoral da Juventude; Jorge Bernardes, pela amizade, companheirismo, conselhos e sabedoria e Jorge Boran Cssp,

por seu amor, conhecimento e dedicação à missão evangelizadora no meio juvenil;

- Aos meus amigose irmãos de caminhada na Pastoral da Juventude e Setor Juventude da Região Ipiranga e Arquidiocese de São Paulo, especialmente: Luciano de Azevedo Farias Ferreira, Rúbia Mara Oliveira, Cláudio Costa da Silva e tantos outros.

- À querida amigaRuth Maria de Carvalho, leiga consagrada da Arquidiocese de São Paulo, pela amizade, carinho e exemplo de fé, dedicação pastoral e dinamismo.

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cuidado e de quem tive o privilégio de receber as instruções necessárias para a elaboração desta Dissertação de Mestrado.

À Equipe de Direção, professores, colegas e funcionários da PUC-SP e Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de forma especial, na pessoa do Prof. Dr. Matthias Grenzer; pelo apoio, acompanhamento e incentivo no processo de elaboração deste trabalho.

Aos membros da banca de qualificação desta Dissertação de Mestrado, Prof. Dr. Pedro Iwashita, Cssp e Prof. Dr. Sérgio Conrado, pelas observações e sugestões que contribuíram para a articulação e gestação deste trabalho.

À Adveniat, pela colaboração com a bolsa de estudos, durante um dos períodos do curso.

À Companhia de Jesus, por compartilhar com a Igreja os “Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola”, verdadeira metodologia para o discernimento espiritual e encontro com Jesus Cristo, para mim e milhões de pessoas em todo o mundo.

Aos queridos jesuítas e educadores do Colégio São Luís; pela amizade, incentivo, apoio, acolhimento, formação e com quem tenho, diariamente, a oportunidade de dividir a Missão educativa e evangelizadora de centenas de jovens e suas famílias.

Ao Prof. Bartolomeu Colacique, pela revisão e correção do texto e à Profª. Vanessa Fernandez Pagnocca, pela disponibilidade em traduzir o resumo deste trabalho.

À comunidade da Paróquia Nossa Senhora das Graças, minha família na fé: pelas orações, compreensão, carinho, torcida e incentivo durante toda a vida.

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CEBRID Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

CEBS Comunidades Eclesiais de Base

CELAM Conferência Episcopal Latino-Americana

CCJ Centro de Capacitação da Juventude

CCJRC Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso

CDL Curso de Dinâmica para Líderes

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CONJUVE Conselho Nacional da Juventude

DMJ Dia Mundial da Juventude

DNJ Dia Nacional da Juventude

DR Domingo de Ramos

DWVD Disponível em: <http://www.vatican.va/gmg/documents/gmg_parole-hf_po.html> Extraído em 23 mai. 2010. Significado pormenorizado da sigla: D = Disponível; WV =

www.vatican.va; D = Documentos do Santo Padre à Juventude.

DWVEPE Disponível em: <http://www.vatican.va/gmg/hf_youth/index_mee_po.html> Extraído em 25 mai. 2010. Significado pormenorizado da sigla: D = Disponível; WV = www.vatican.va; E = Extraído; P = Português; E = Encontros do Santo Padre com a Juventude.

DWPCL Disponível em:

<http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/laity/index_po.htm> . Extraído em 23 mai. 2010. Significado pormenorizado da sigla: D = Disponível; W = www.vatican.va ; PCL = Pontifício Conselho para os Leigos.

DWDJ Disponível em http://www.vatican.va/gmg/documents/gmg_docs_po.html. Extraído em 20 mai. 2010. Significado pormenorizado da sigla: D = Disponível; W =

www.vatican.va ; DJ = Documentos das JornadasMundiais da Juventude.

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

GMG Giornate Mondiale della Gioventù

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

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IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

JAC Juventude Agrária Católica

JEC Juventude Estudantil Católica

JIC Juventude Independente Católica

JOC Juventude Operária Católica

JUC Juventude Universitária Católica

JMJ Jornada Mundial da Juventude

PENSE Pesquisa Nacional de Saúde do Estudante

PCL Pontifício Conselho para os Leigos

PJ Pastoral da Juventude

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

OEI Organização dos Estados Ibero-Americanos

RCC Renovação Carismática Católica

SDTS Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade

SERMIG Servizio Misionario Giovanile

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

SNJ Secretaria Nacional de Juventude

SUS Serviço Único de Saúde

UBES União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

UMES União Municipal dos Estudantes Secundaristas

UNE União Nacional dos Estudantes

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UNICEF United Nations Children’s Fund

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DESAFIOS E PROPOSTAS PARA A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA CIDADE DE SÃO PAULO

A presente pesquisa tem como objetivo refletir a evangelização da juventude da cidade de São Paulo, apresentando as principais questões que envolvem sua realidade na megalópole paulistana e os desafios para um abrangente trabalho pastoral na sociedade hodierna.

A reflexão deste tema é essencial pois, na atualidade, muitos pais, educadores e agentes de pastoral estão perplexos com a dificuldade em estabelecer um diálogo evangelizador com os adolescentes e jovens e entender seu mundo, costumes, valores e necessidades. Além disso, o trabalho com a juventude é a base para o desenvolvimento da sociedade e das instituições, incluindo a Igreja.

Utilizando-se do método Ver-Julgar-Agir e contando com o apoio de variada bibliografia, parte-se dos aspectos antropológicos e psicossociais da juventude, realizando a análise conceitual dos principais termos utilizados em sua discriminação e analisando sua presença na complexa dinâmica de funcionamento da megalópole paulistana. Constata-se a existência de várias realidades de juventude na cidade, que necessitam de respostas específicas e requerem novas estratégias pastorais, diferenciadas e concomitantes.

Contando com a contribuição da reflexão teológica, embasada na Sagrada Escritura, no Magistério da Igreja e nas indicações feitas pelos principais documentos e planos de pastoral da atualidade, nesta Dissertação avalia-se o trabalho realizado no atual contexto e apresentam-se diversas propostas de ações para uma eficaz ação evangelizadora da juventude na cidade de São Paulo.

Palavras-chaves:

Jovens

Pastoral da Juventude Realidade da juventude Setor Juventude

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Challenges and proposals for the youth evangelization in the city of São Paulo

This research has the objective to reflect on the youth evangelization in the city of São Paulo, presenting the main questions that involve their reality in the megalopolis and the challenges to make a broad pastoral work in the current society.

The reflection on this theme is essential because, nowadays, many parents, educators and pastoral agents are taken aback by the difficulty in establishing an evangelizing dialog with adolescents and young people and in understanding their world, habits, values and needs. Besides, the work done with the youth is the basis to the development of the society and of the institutions, including the church.

Making use of the method See-Judge-Act and counting on the support of the varied bibliography, One starts from the anthropological and psychosocial aspects of the youth, realizing the conceptual analysis of the main terms that are utilized in its discrimination and analyzing its presence in the complex dynamics of work of the megalopolis. There are many realities of youth in the city, which need specific answers and request new pastoral strategies, differed and concomitant.

Counting on the contribution of the theological reflection, based on the Scriptures, on the Teaching of the Church and on the indications done by the main current pastoral documents and plans, in this Dissertation the work done in the current context is evaluated and many proposals of actions to an effective evangelizing action of the youth in the city of Sao Paulo are presented.

Key-words:

Young people

Pastoral of the Youth Reality of the Youth Youth sector

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Pesquisa DNA Paulistano – Índices Gerais da vida da população residente na cidade de São

Paulo...48

Mapa da Juventude de São Paulo Tabela 1 - Índice Composto Juvenil por Distrito da capital paulista...53

Mapa 1 – Zonas Homogêneas Juvenis...55

Tabela 2 – Entrevistados por Zona Homogênea...57

Tabela 3 – Jovens pela Cor Auto-referida...58

Tabela 4 – Jovens por Cor Auto-referida nas Zonas Homogêneas...58

Tabela 5 – Percentual de Estudantes por Zona Homogênea...59

Tabela 6 – Períodos de Estudo...60

Tabela 7 – Natureza do Estabelecimento de Ensino Frequentado...60

Tabela 8 – Período de Estudo por Sexo...60

Tabela 9 – Período de Estudo por Zona Homogênea...61

Tabela 10 – Natureza de Estabelecimento de Ensino Frequentado por Cor Auto-referida...61

Tabela 11 – Natureza de Estabelecimento de Ensino Frequentado nas Zonas Homogêneas...61

Tabela 12 – Inserção no Mercado de Trabalho por Zona Homogênea...62

Tabela 13 – Setor em que trabalha por Zona Homogênea...62

Tabela 14 – Inserção no Mercado de Trabalho Formal por Zona Homogênea...62

Tabela 15 – Fonte de Renda...63

Tabela 16 – Fonte de Renda por Cor Autorreferida...63

Gráfico 1 – Uso da Internet pelos jovens...64

Gráfico 2 – Percentual de Utilização da Internet por Zona Homogênea...64

Tabela 17 – Locais de Acesso à Internet por Zona Homogênea...65

Gráfico 3 – Realização de Atividades de Lazer por Sexo...65

Tabela 18 – Atividades de Lazer Realizadas por Sexo...66

Tabela 19 – Atividades de Lazer Realizadas por Zona Homogênea...67

Tabela 20 – Equipamentos de Lazer Utilizados por Zona Homogênea...67

Tabela 21 – Espaços de Lazer Utilizados por Zona Homogênea...68

Tabela 22 – Estilos Musicais Preferidos...69

(11)

Tabela 26 – Equipamentos de Lazer Demandados...72

Tabela 27 – Situação Familiar por Zona Homogênea...73

Tabela 28 – Estado Civil por Zona Homogênea...74

Tabela 29 – Entrevistados com Filhos por Zona Homogênea...74

Tabela 30 – Autoavaliação sobre informação sobre AIDS por Zona Homogênea...75

Outros indicadores sociais da juventude residente na cidade de São Paulo Tabela 31 – Taxas de desemprego de jovens de 16 a 29 anos por Subprefeitura...92

Tabela 32 – Taxas percentuais e números absolutos de alunos que abandonaram a escola no Ensino Médio, por Subprefeitura...93

Tabela 33 – Taxas percentuais de alunos com dois ou mais anos de defasagem em relação à idade ideal para as séries do Ensino Médio nas redes pública e privada...94

Tabela 34 – Taxas percentuais de nascidos vivos cujas mães tinham 17 anos ou menos Sobre o total de nascidos vivos por Subprefeitura...96

(12)

INTRODUÇÃO...14

CAPÍTULO I – ELEMENTOS E DESAFIOS PARA O CONHECIMENTO DA REALIDADE DA JUVENTUDE... 19

I - Principais características da juventude...20

1.1 - Conceituação de puberdade, juventude e adolescência...20

1.2 – Delimitações da idade e perspectivas de vida...24

1.3 – Algumas considerações antropológicas, sociológicas e psicológicas a respeito da juventude...29

1.4 – Reflexos das transformações culturais nos jovens...34

II – Juventude na cidade de São Paulo...43

2.1 – Contexto geral da cidade de São Paulo...43

2.2 – A situação da Juventude na cidade de São Paulo...49

2.2.1 – Leitura dos dados obtidos no Mapa da Juventude de São Paulo...50

2.2.2 – Análise da Pesquisa “Valores dos jovens de São Paulo”...75

2.2.3 – Resultados da Pesquisa Datafolha: “Jovens brasileiros” ...77

2.2.4 - O Jovem em situação de vulnerabilidade social...85

2.2.5 – A situação de violência vivida pela juventude em São Paulo...98

2.2.6 – Participação política e social da juventude ...104

2.2.7 – Políticas Públicas para a Juventude...111

2.2.8 - Ações Governamentais e atendimento social da juventude...115

2.3 - Situação religiosa da juventude...117

2.3.1 - Considerações sobre contexto religioso no Brasil e no Mundo...117

(13)

III – A Novidade da Juventude na Sagrada Escritura, no Magistério

e na ação evangelizadora da Igreja...132

3.1 – Deus confia nos jovens para seu Projeto de Salvação da Humanidade...132

3.2 - Jesus de Nazaré: a novidade de Deus no contexto judaico-romano...137

3.3 - A juventude também é dom do Espírito Santo...143

3.4 – Igreja: comunidade dos discípulos-missionários de Jesus Cristo...146

3.5 - Uma Igreja em relação com o mundo e que é sacramento de salvação...148

3.6 - Igreja: Povo de Deus em Missão...149

3.7 - Uma Igreja seguidora de Jesus e servidora da humanidade...150

3.8 - Uma Igreja que vai ao encontro dos jovens com uma mensagem a eles...151

3.9 - A juventude como lugar teológico...163

3.10 - Pronunciamentos do Episcopado Latino-Americano...165

3.11 -Pronunciamentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ...172

3.12 – Igreja em Missão na cidade de São Paulo...176

CAPÍTULO III – LUGARES E PROPOSTAS PARA A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA CIDADE DE SÃO PAULO...197

IV: Lugares e Propostas para a evangelização da juventude na cidade de São Paulo...198

4.1 – Articulação e organização do trabalho de evangelização da juventude para a formação de discípulos-missionários jovens...198

4.2 – Evangelizar a juventude nas diversas realidades eclesiais...205

4.2.1 – Na Família...205

4.2.2 - Nos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades...206

4.2.3 – Na Pastoral da Juventude...210

4.2.4 - Em outras pastorais, movimentos e serviços da Igreja...215

4.2.5 - Nas instituições educativas...216

(14)

4.3.1 – Renovar as estruturas de acompanhamento dos jovens...222

4.3.2 - Promover uma atitude missionária junto à juventude...224

4.3.3 - Intensificar o trabalho de Formação da juventude...227

4.3.4 - Proporcionar o aprofundamento espiritual dos jovens...231

4.3.5 - Desenvolver uma pedagogia específica para o trabalho de evangelizaçãoda juventude...236

4.3.6 - Formar assessoria qualificada para o trabalho com a juventude...239

4.3.7 - Evangelizar a juventude nos espaços acadêmicos e escolares...242

4.3.8 - Promover ações para a Defesa da Vida e Direitos da Juventude...245

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...250

(15)

O tema desta dissertação nasce da experiência como participante ativo na Pastoral e no Setor Juventude, em diversas instâncias de articulação: paroquial, setorial, regional, arquidiocesana, estadual e nacional. Como agente de pastoral, dediquei-me ao trabalho de evangelização da juventude em várias equipes de coordenação ou assessoria, nos últimos 15 anos.

Durante a elaboração deste estudo, pude também fazer memória de muitos encontros, cursos, retiros, reuniões, assembléias em que tive a oportunidade de participar e que me enriqueceram na formação pessoal, na espiritualidade, na constituição de várias comunidades de amigos e assessores que fiz no decorrer de quase duas décadas e, sobretudo no amor à construção do projeto do Reino de Deus.

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a Pastoral da Juventude na cidade de São Paulo a fim de que consiga responder aos apelos e questionamentos de fé colocados pelos jovens. A reflexão teológico-pastoral é sempre sinal de esperança para a Igreja. Queremos também responder ao pedido expresso no Documento nº. 85 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, “Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais”, que propôs a reflexão sobre o projeto pastoral para a juventude em nível local, identificando as necessidades e os desafios específicos em cada diocese, cidade e ambiente. 1

Para este estudo, utilizaremos o Método Ver-Julgar-Agir, amparado por instrumentais teóricos e práticos, apresentados em livros, subsídios, pesquisas realizadas pelos grandes institutos de estatísticas e outros subsídios que oferecerão dados para refletirmos os diversos rostos da juventude que vive na cidade e analisar sua interlocução com a Igreja e com a sociedade.

Nenhuma Igreja pode deixar de investir nos jovens. A juventude é importante por vários motivos. Estatisticamente, a juventude é um grupo muito significativo. Segundo dados do IBGE, 47 milhões de brasileiros têm entre 15 e 29 anos de idade.2 Na cidade de São Paulo,

(16)

48% da população possui idade até 34 anos. Desses, metade tem idade entre 16 e 24 anos, o que corresponde a mais de 2,6 milhões de pessoas. 3

A juventude é o momento das grandes decisões na vida do ser humano. É a etapa das escolhas sobre estudos, carreiras, valores a serem seguidos, projeto de vida, vocação,etc. A fase da puberdade e da adolescência é tempo de descoberta de si mesmo e do próprio mundo interior; é o tempo dos planos generosos, dos ideais; o tempo do desejo de estar junto com os outros; o tempo de uma alegria particularmente intensa, ligada à inebriante descoberta da vida. Entretanto é, simultaneamente, a idade das interrogações mais profundas; das indagações angustiadas, de certa desconfiança em relação aos outros, acompanhada do desejo de debruçar-se sobre si mesmo, do autoconhecimento; é a idade, por vezes, dos primeiros fracassos e das primeiras amarguras. Trata-se da fase da vida humana em que a personalidade pode ser moldada com mais facilidade para a tendência ao bem ou ao mal. O futuro de qualquer instituição depende de sua capacidade de atrair e envolver os jovens para dar continuidade aos seus objetivos. O desafio de encontrar uma pedagogia para evangelizar os jovens é decisivo para o futuro da Igreja e para o crescimento dos próprios jovens.

A evangelização da juventude é um dos grandes desafios para a Igreja neste início de século. Para formular propostas pastorais para este grupo é preciso entender a mudança de mentalidade em relação às décadas anteriores. Podemos dizer que houve uma mudança de paradigmas, sobretudo na área cultural: a década de 1980 se caracterizou pela centralidade da cultura moderna, pela razão, pelo envolvimento em causas coletivas e a década seguinte pelo fortalecimento da cultura pós-moderna, pela subjetividade, pelas emoções e pelo individualismo. Hoje, vários autores consideram que há uma convivência de características destas duas culturas. 4 Aprofundaremos esta questão no primeiro capítulo desta Dissertação.

Para desenvolver um processo de educação na fé, que também eduque para a cidadania e para a formação da consciência crítica, visando a um despertar para o compromisso com a sociedade, é imprescindível compreender o contexto cultural em que os jovens estão inseridos. O contexto cultural influencia diretamente a maneira de pensar e de se

3 Cf. INSTITUTO DATAFOLHA. DNA Paulistano. A mais abrangente pesquisa de opinião sobre a relação dos

paulistanos com sua cidade. São Paulo: Publifolha, 2009. p.34.

4 Cf. BEOZZO, José Oscar. (Org.). Curso de Verão Ano XXI. Juventude: caminhos para outro mundo possível.

(17)

comportar dos jovens. É preciso, portanto, utilizar diferentes enfoques e estratégias que atendam às características do momento para um bem-sucedido trabalho de evangelização da juventude.

Quando pensamos na reflexão sobre os desafios e propostas para a evangelização da juventude na cidade de São Paulo, precisamos entender o funcionamento da dinâmica desta megalópole. São Paulo possui características específicas, sendo marcada pela existência de grande pluralidade cultural, social e religiosa, resultado de um crescimento geográfico desordenado e que, até hoje, atrai populações de várias outras regiões do Brasil, esperançosas de vida digna.

Se, por um lado, São Paulo é uma cidade de esperança e de riquezas, que oferece serviços, empregos, indústrias e promessas, por outro é marcada pelo não-acolhimento, pelo ritmo frenético por resultados financeiros, pela exclusão social e pela violência. Um pequeno passeio por seus bairros pode revelar faces, muitas vezes contraditórias, da maior cidade do Brasil.

Com o auxílio de instrumentos de pesquisas, como o “Mapa da Juventude da cidade de São Paulo”, “DNA Paulistano”, “Valores dos Jovens da cidade de São Paulo” e “Jovens Brasileiros”, além de outras contribuições, afirmamos que a juventude é o grupo mais socialmente vulnerável da cidade. A juventude sofre os efeitos da disparidade de renda, do restrito acesso à educação de qualidade, do desemprego e a difícil inserção no mercado de trabalho, por falta de qualificação, do envolvimento com drogas lícitas (álcool e tabaco) e ilícitas, da gravidez na adolescência, da desagregação familiar, da violência cotidiana, das mortes por causas externas (homicídios, acidentes de trânsito, suicídios) e o limitado acesso às atividades de lazer e aos benefícios para seu bem estar: educação, moradia, trabalho, esporte, arte e condições de saúde.

Boa parte da população juvenil não possui perspectivas de vida. Um editorial do jornal Folha de São Paulo 5 apontou:

5 FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 14/05/2007.

(18)

Nada existe nada mais perverso, em matéria social, do que relegar a juventude à ausência quase completa de perspectivas. No Brasil, essa vinha sendo a realidade vivida por boa parte das gerações nascidas em décadas passadas, especialmente nas grandes cidades.

Trata-se portando de uma bomba de efeito retardado que começa a explodir em diferentes da vida social do país. A violência é um dos sintomas mais evidentes. O jornal também aponta para pesquisas que indicam que o prolongado ciclo de abandono esteja próximo de uma reversão com o Governo Lula, que começa a investir em políticas para a juventude e a priorizar a educação. As mudanças são ainda tímidas e apenas são incentivos para intensificar nosso esforço de investir mais neste importante setor da população.

Evangelizar a juventude da cidade de São Paulo supõe o conhecimento de sua realidade. Não existe uma única juventude. Há “juventudes”: das periferias, dos bairros das classes média e alta, dos ambientes de degradação, das favelas e dos cortiços. Há a juventude que está cursando a universidade e outra que nem sequer terminou o Ensino Fundamental. Há jovens empreendedores, ocupando seu espaço no mercado de trabalho e há jovens desempregados, vivendo de “bicos” e do narcotráfico. A situação não nos permite generalizações. Os jovens vivem em contextos sociais, econômicos, culturais e religiosos bem diferentes na mesma cidade. E a ação evangelizadora deve levar isso em conta.

A Igreja Católica está organizada na cidade em 4 (Arqui) dioceses: a Arquidiocese de São Paulo, com suas 6 Regiões Episcopais - Belém, Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana e Sé - e as Dioceses de Campo Limpo, Santo Amaro e São Miguel Paulista. Todas as Regiões Episcopais que formam a Arquidiocese de São Paulo e as Dioceses vizinhas ocupam extensos territórios, ocupados por grande número de bairros, paróquias, comunidades, escolas e faculdades, centros sociais, serviços, comércios, indústrias e outros locais os jovens estão. É partir da realidade local que se deve pensar a ação pastoral.

(19)

e do Brasil e como a Arquidiocese de São Paulo tem realizado sua missão evangelizadora junto à juventude, nas últimas décadas. A Igreja tem muitas coisas a dizer para a juventude e também muitas coisas a ouvir do que Deus fala através dos jovens.

As várias organizações da Igreja devem, portanto, identificar os rostos de suas juventudes e responder às suas necessidades, através de um trabalho pastoral bem organizado, investido e acompanhado, que valorize os jovens como protagonistas da missão evangelizadora. A ação da Igreja deve permear três grandes âmbitos: 1) Ser presença solidária junto aos jovens marcados pela exclusão social, numa atitude pastoral presente nos poderes públicos, atendendo à evangélica opção preferencial pelos pobres; 2) Acompanhar e oferecer formação integral aos adolescentes e jovens presentes nas comunidades, promovendo sua evangelização, tornando-os artífices da ação missionária junto aos outros jovens na cidade; 3) Assumir uma real atitude missionária, indo ao encontro dos jovens afastados da vivência eclesial, nos vários ambientes: escolas, faculdades, clubes, quadras esportivas, mundo artístico e cultural, através de novas estratégias, oferecendo a eles acolhimento e o caminho para uma experiência de fé.

No terceiro e último capítulo desta Dissertação trataremos dos principais lugares e das Propostas para a evangelização da juventude na cidade de São Paulo. Analisaremos as experiências realizadas nas várias realidades eclesiais, apresentando suas lacunas, fortalezas e potencialidades. Inspirados pelo jeito de ser da juventude atual, e pelas indicações dos principais documentos da Igreja, na atualidade, traremos propostas e pistas de ação para a evangelização da juventude na cidade de São Paulo, em vários campos de abrangência.

(20)

CAPÍTULO I – ELEMENTOS PARA O CONHECIMENTO DA

REALIDADE DA JUVENTUDE

“Conhecer os jovens é a condição

para evangelizá-los.

Não se pode amar nem evangelizar

a quem não se conhece”.

(21)

I

Principais características da juventude

1.1- Conceituação de puberdade, juventude e adolescência

A conceituação de juventude pode ser desenvolvida a partir de vários pontos de partida: como uma faixa etária, um período da vida, um contingente populacional, uma categoria social, uma geração... Mas todas essas conceituações se vinculam, de algum modo, à dimensão de fase do ciclo vital entre a infância e a maturidade. Há, portanto, uma correspondência com a faixa de idade, mesmo que os limites etários não possam ser definidos rigidamente; é a partir dessa dimensão também que ganha sentido a proposição de um recorte de referências etárias no conjunto da população, para análises demográficas. 6

Na sociedade tradicional, os papéis das idades são definidos claramente. Na sociedade moderna, os papéis são mais fluidos. Quando falamos de “adolescência” e de “juventude”, por exemplo, certamente nos referimos a uma etapa intermediária entre infância e idade adulta. Entretanto, ao conhecermos os conceitos, verificaremos que, simplesmente, colocar os dois termos, como sinônimos, pode nos levar a enganos, pois, se utilizados em contextos diferentes, poderão apresentar significados bem diversos. 7

Do mesmo modo, a noção de geração remete à idéia de similaridade de experiências e a questões dos indivíduos que nasceram num mesmo momento histórico e que vivem os processos das diferentes fases do ciclo de vida sob os mesmos condicionantes das conjunturas históricas. É esta singularidade que pode também fazer com que a juventude se torne visível e produza interferências como uma categoria social. Assim, mesmo não sendo suficiente, ou mesmo central, para todas essas abordagens, a noção de fase do ciclo vital pode ser um bom começo para a discussão.

6 Cf. FREITAS, Maria Virgínia. Juventude e adolescência no Brasil. Referências conceituais. p. 15

7 Cf. Id. Juventude: mapeando a situação. In: BEOZZO, José Carlos (org.) e outros. Curso de Verão XXI.

(22)

Este período intermediário, entre infância e vida adulta, tal como genericamente definido na sociedade moderna ocidental, começa com as mudanças físicas da puberdade (de maturação das funções fisiológicas ligadas à capacidade de reprodução), com as concomitantes transformações intelectuais e emocionais e termina, em tese, quando se conclui a inserção no mundo adulto. Na concepção clássica da Sociologia, tal inserção, que marca o fim da juventude, abarca, de modo geral, cinco dimensões: terminar os estudos; viver do próprio trabalho; sair da casa dos pais e estabelecer-se numa moradia pela qual se torna responsável ou co-responsável; casar e ter filhos. Estas cinco condições são uma tradução moderna para os fatores que, em todos os períodos históricos, definem a condição de adultos: depois do período de preparação, estar apto a produzir e reproduzir a vida e a sociedade, assumindo as responsabilidades pela sua condução. 8

No entanto, se esse período se alonga na sociedade moderna, ele pode comportar durações e ritmos bastante diferentes de acordo com os contextos sociais e também com as trajetórias de cada indivíduo. Mais ainda, estas condições que assinalam o término da juventude podem ser relativizadas e, isoladamente, não bastam para caracterizar um ou outro estágio da vida. A perda de linearidade deste processo é um elemento que caracteriza hoje a condição juvenil, como veremos adiante.

A etimologia das palavras certamente contribui para uma melhor percepção das experiências fundantes9 que estiveram no germinar da semântica dos termos. “Puberdade”, por exemplo, anuncia a “saída da infância”. Na infância (in + fari = não falar), a criança não fala ainda a “palavra própria”. Assim pensavam os antigos forjadores do termo. No entanto, no mundo atual, as crianças precocemente experimentam e expressam seus desejos, vontades, projetos a ponto de surpreender os adultos. Entretanto, a etimologia trouxe também o sonho da inocência (in + nocens = sem mancha) da criança que acolhe, acata, ouve a voz do adulto para formar-se.

O púbere (pubes = pêlo) já sente em si as mudanças do corpo. Não é mais um infante, sente-se iniciado na autonomia. A palavra “puberdade” tem a ver com a palavra “república”. República (res, coisa + publica – pubes, pêlo). Esbarram na mesma etimologia. O púbere romano era encarregado de levar as armas. Participava do direito ao voto. Primeiro defendia a

8 Cf. Ibid., p. 36.

(23)

pátria para depois exprimir seu sufrágio. Aptos para o serviço, aptos para o debate. O povo era formado pelo agrupamento das classes de idade mobilizáveis, desde a puberdade até os homens mais velhos. A pertença à república supunha submissão aos ritos e participação aos cultos. Aos 16 anos, o jovem romano vestia a toga viril, que o introduzia na cidadania. A partir daí, participava das cerimônias religiosas, dos sacrifícios e refeições públicas. É nessa etapa, da puberdade, que passava da religião doméstica, das orações em família à religião do Estado com os cultos públicos.

No passado, a puberdade e a juventude se viam ligadas à política, na etimologia e na história. É uma situação diferente dos dias atuais em que a juventude, em muitos casos, se mostra mais fechada em horizontes curtos e alienada da vida política. O termo “jovem” traz outra etimologia. Jovem traz o adjetivo aiutans do verbo aiutare, ajudar. Jovem é, portanto, aquele que atingiu a idade de poder ajudar. Observamos, a partir deste exemplo, que antigamente, as famílias eram mais numerosas porque necessitavam da ajuda dos jovens para o trabalho. Hoje em dia, com o quadro de desemprego, muitos jovens trabalham para sustentar suas casas, pais e irmãos menores.

Adolescente vem do verbo adoleo, em forma intransitiva adolescens. Na raiz da palavra está: (ad + olo ou ad + alo). Por sua vez, remonta ao hipilhebraico heélah:fez elevar, levou para cima, subiu, ofereceu em sacrifício, holocausto, fazer que algo cresça, brote, se faça grande, engrosse, aumente, se fortifique. O termo se refere a coisas que serão queimadas em sacrifício aos deuses. Adolenda: divindade que presidia à queima das árvores pelo raio. Mais uma vez, a origem é religiosa, cívica de quem já está em condição de oferecer sacrifícios aos deuses. Deixou a infância, os lares. 10

Os sinais da adolescência são mais claros no início do que no fim: mudanças físicas, alterações corporais e hormonais de repercussões psíquicas. Envolvem componentes biopsíquicos e psicossociais, que afetam o desenvolvimento de interesses, comportamentos sociais, qualidade da vida afetiva, já marcada por experiências anteriores. 11

10 Cf. Ibid., p. 17.

11 Cf. ALBERTANI, H.M.Becher. Adolescência: transição ou plenitude? In: Revista de Educação AEC. (Artigo)

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O fim da adolescência e da juventude é mais social do que psicobiológico. Faz-se pela mudança na situação social: entrada estável no mundo do trabalho, constituição de uma família própria, encargos cívicos, etc. A dificuldade de inserção nessa nova condição social tem prolongado o tempo da juventude, fazendo com que os jovens permaneçam na casa de seus pais com conseqüências psicológicas. O quadro pode ser formulado na seguinte afirmação: é e não é adulto. Há muita dificuldade de exercer a própria autonomia da vida pelas mais variadas causas.

Se antigamente, nas sociedades tradicionais, o limiar entre adolescência e juventude era claro, na sociedade moderna e pós-moderna, é confuso. Apenas entrando na adolescência, muitas moças e rapazes procedem já como jovens e, em vários casos, até como adultos em certos comportamentos, especialmente sexuais, em força do desenvolvimento biológico acentuado e precoce, porém sem a maturidade psíquica e social correspondentes. Existem muitos debates a respeito da redução da responsabilidade criminal, já que certos adolescentes se comportam como adultos na prática do crime, em elaborações cuidadosas e frias.

Outra constatação que atualiza a noção de juventude é que mesmo compreendida como fase de transição, da qual pode advir uma situação de ambiguidade, dada pela coexistência de características das fases das duas pontas do processo, isto não significa que a condição juvenil não possa ser caracterizada de modo particular, que não tenha significados próprios. Muito pelo contrário; na sociedade atual, ela se reveste de conteúdos muito singulares e de grande intensidade social. 12

No decorrer do texto, poderemos ver com mais profundidade o modo como as diferentes disciplinas e correntes definem os termos da adolescência e juventude. Queremos, contudo, fazer aqui uma breve localização do uso corrente que têm assumido no Brasil. Normalmente, quando psicólogos vão descrever ou fazer referências aos processos que marcam esta fase da vida (a puberdade, as oscilações emocionais, as características comportamentais que são desencadeadas pelas mudanças de status etc.) usam o termo “adolescência”.

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Quando sociólogos, demógrafos e historiadores se referem à categoria social, como segmento da população, como geração no contexto histórico, ou como atores no espaço público, o termo mais usado é “juventude”. No entanto, no Brasil, na década de 1980 até recentemente, o termo “adolescência” foi predominante no debate público, na mídia e no campo das ações sociais e estatais. Os conceitos de adolescência e juventude correspondem a uma construção social, histórica, cultural e relacional que, através das diferentes épocas e processos históricos e sociais vieram adquirindo denotações e delimitações diferentes.

Disciplinarmente, tem sido atribuída à Psicologia a responsabilidade analítica da adolescência, na perspectiva de uma análise e delimitação partindo do sujeito particular e seus processos e transformações como sujeito; deixando a outras disciplinas das Ciências Sociais – e também das Humanidades – a categoria de juventude, em relação à Sociologia, Antropologia Cultural e Social, História, Educação, Estudos Culturais, Comunicação, entre outras. A partir de sujeitos particulares, o interesse se concentra nas relações sociais possíveis de estabelecer-se entre os mesmos e as formações sociais, na identificação de vínculos ou rupturas entre eles.13 Entretanto, em muitas ocasiões, existe a tendência de utilização dos conceitos de adolescência e juventude de maneiras sinônimas e homologadas entre si, especialmente no campo de análise da psicologia geral, e em suas ramificações, como a psicologia social, clínica e educacional, o que não ocorre com tanta freqüência nas ciências sociais.

1.2– Delimitações da idade e perspectivas de vida

Os marcos etários que são usados para abordar o período da juventude, referência usada para análises demográficas e definição dos públicos de políticas variam muito de país para país, de instituição para instituição. Mas, de forma geral, existe hoje uma tendência no Brasil, baseada em critérios estabelecidos pela Organização das Nações Unidas e por instituições oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de localizar tal franja etária entre os 15 e 24 anos, considerando a existência de profunda variação, de acordo com as situações sociais e trajetórias pessoais dos indivíduos concretos. 14

13 Cf. BEJOIT, Guy. Todo cambia. Análisis sociológico del cambio social y cultural em las sociedades

contemporâneas. p. 24.

(26)

Esta reflexão também é fruto de um importante movimento social, em defesa dos direitos da infância e adolescência, que ganhou corpo na sociedade brasileira e fez emergir uma nova noção social, centrada na idéia da adolescência como fase especial do ciclo de vida, de desenvolvimento, que exige cuidados e proteção especiais. O Estatuto da Criança e do Adolescente, legislação resultante desta reflexão, avança profundamente a compreensão sobre as crianças e adolescentes, como sujeitos de direitos e estabelece os direitos singulares da adolescência, compreendida como a faixa etária que vai dos 12 aos 18 anos de idade, quando então se atinge a maioridade legal. O ECA tornou-se uma ampla referência para a sociedade, desencadeando uma série de ações, programas e políticas para estes segmentos, principalmente para aqueles considerados em risco pelo não atendimento dos direitos estabelecidos. 15

A partir deste marco, boa parte das ações públicas e privadas, como, por exemplo, programas desenvolvidos tanto pelo Estado como por Organizações Não-Governamentais no campo da saúde, do lazer, da defesa de direitos, da prevenção de violência, de educação complementar e alternativa, passaram a definir seu público alvo desta maneira. Muitos movimentos sociais também passaram a incorporar em suas pautas bandeiras de defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

A juventude como hoje conhecemos é propriamente uma invenção do pós-guerra, no sentido do surgimento de uma nova ordem internacional que confirmava uma geografia política em que os vencedores impunham seus valores de vida e estilos aos outros. A sociedade reivindicou a existência de crianças e os jovens, como sujeitos de direitos e, especialmente, no caso dos jovens, como sujeitos de consumo.16

Em seus diferentes tratamentos, a categoria juventude foi concebida como uma construção social, histórica, cultural e relacional, para designar com isso a dinamicidade e permanente evolução/involução do mesmo conceito. É preciso levar em consideração que a conceitualização da juventude passa necessariamente por seu enquadramento histórico, na medida em que esta categoria é uma construção histórica, que responde a condições sociais específicas que se deram com as mudanças sociais que produziram a emergência do

15 Cf. Ibid., p. 7.

16 Cf. REGUILLO CRUZ, Rossana. Cuerpos juveniles, políticas de identidade. In: FEIXA, Carles; MOLINA,

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capitalismo, o qual outorgou o denominado espaço simbólico que tornou possível o surgimento da juventude. 17 Conjuntamente ao ponto anterior – pelo menos – a juventude é concebida como uma categoria etária (categoria sociodemográfica), como etapa de amadurecimento (áreas sexual, afetiva, social, intelectual e físico / motora) e como sub-cultura.

Enquanto categoria etária, que também é válida primariamente para a adolescência, algumas considerações podem ser feitas de acordo com os contextos sociais e as finalidades com que se deseja utilizar esta dimensão sócio-demográfica. Convencionalmente, no Brasil, em nível das Políticas Públicas, tem-se utilizado a faixa etária entre os 12 e 18 anos para designar a adolescência; e para a juventude, aproximadamente entre 15 a 29 anos de idade, dividindo-se por sua vez em três subgrupos etários: 15 a 19 anos, de 20 a 24 anos e de 25 a 29 anos.

Em determinados contextos, para designar o período juvenil, a faixa etária se amplia para baixo e / ou para cima, podendo estender-se entre uma faixa máxima desde os 12 aos 35 anos, como se constata em algumas formulações de políticas públicas dirigidas ao setor juvenil, como no caso de Costa Rica em sua “Política Pública da Pessoa Jovem”. Inclusive e devido a uma necessidade de contar com definições operacionais como referentes programáticos no campo das políticas de adolescência e juventude, nos países ibero-americanos verifica-se uma grande diferença nas faixas etárias utilizadas. Por exemplo, entre 7 e 18 anos em El Salvador; entre 12 e 26 anos na Colômbia; entre 12 e 35 anos na Costa Rica; entre 12 e 29 anos no México; entre 14 e 30 anos na Argentina; entre 15 e 24 anos na Bolívia, Equador, Peru, República Dominicana; entre 15 e 25 anos na Guatemala e Portugal; entre 15 e 29 no Chile, Cuba, Espanha, Panamá e Paraguai; entre os 18 e 30 na Nicarágua; e em Honduras, a população jovem corresponde aos menores de 25 anos. 18

A categoria etária não é suficiente para a análise do adolescente e do jovem, porém é necessária para marcar algumas delimitações iniciais e básicas, mas não orientadas na direção de homogeneizar estas categorias etárias para o conjunto dos sujeitos que têm uma idade em uma determinada faixa. Inclusive em certas ocasiões têm-se utilizado denominações

17 Cf. MORCH, Sven. Sobre el desarrollo y los problemas de la juventud, el surgimiento de la juventud como

concepción sociohstórica.In: Jovenes. Revista de Estúdios Sobre Juventud nº1.p. 5.

18 Cf.CEPAL. Adolescencia y juventud em America Latina y Caribe: problemas, oportunidades y desafios em el

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diferentes para tentar romper com estas sobreposições entre adolescentes e jovens, por exemplo, com a definição como ‘a pessoa jovem’19; ou com a construção de modelos ou “tipos ideais” de juventude através da história, de acordo com os tipos de sociedades possíveis de identificar, onde nos encontramos.

O conceito de juventude adquiriu inumeráveis significados: serve tanto para designar um estado de ânimo, como para qualificar o novo e o atual, inclusive chegou-se a considerar como um valor em si mesmo. Este conceito deve ser tratado desde a diversidade de seus setores, onde caberia perguntar-se: desde quando começamos a construir uma definição de juventude, sem que as diferenças de classes sociais e os contextos sócio-culturais estivessem sobre as identidades das categorias de juventude?

Responde a socióloga Helena Abramo, assessora da Comissão de Juventude da Câmara Municipal de São Paulo e do Conselho Nacional de Juventude: 20

A noção mais geral e usual do termo juventude se refere a uma faixa de idade, um período de vida em que se completa o desenvolvimento físico do indivíduo e ocorre uma série de transformações psicológicas e sociais, quando este abandona a infância para processar sua entrada no mundo adulto. No entanto, a noção de juventude é variável. A definição do tempo de duração e significados sociais destes processos se modifica de sociedade para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e através de suas divisões internas. Além disso, é somente em algumas formações sociais que a juventude configura-se como um período destacado, ou seja, aparece como uma categoria de visibilidade social.

A juventude não é um “dom” que se perde com o tempo, e sim uma condição social com qualidades específicas que se manifesta de diferentes maneiras segundo as características históricas sociais de cada indivíduo. Um jovem de uma zona rural não tem a mesma significação etária que um jovem da cidade, como tampouco os setores marginalizados e as classes de altos ingressos econômicos. Por esta razão, não se pode estabelecer um critério de idade universal que seja válido para todos os setores e todas as épocas: a idade se transforma somente em um referente demográfico.

19 Cf. Ibid., p. 52.

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A definição da categoria juventude pode ser articulada em função de dois conceitos: o juvenil e o cotidiano. O juvenil nos remete ao processo psicossocial de construção da identidade e o cotidiano, ao contexto de relações e práticas sociais nas quais o mencionado processo se realiza, com fundamentos em fatores ecológicos, culturais e socioeconômicos. A potência desta ótica reside substancialmente em ampliar a visão sobre o ator, incorporando a variável sociocultural à demográfica, psicológica ou a categorizações estruturais que correspondem às que tradicionalmente têm-se utilizado para sua definição. Desta forma, se inclui a variável vida cotidiana que define a vivência e experiência do período juvenil para não cair na armadilha das análises em juventude que nos deixam, de um lado, com sujeitos sem estrutura e, de outro, com estruturas sem sujeitos.21

Este olhar permite reconhecer a heterogeneidade da juventude a partir das diversas realidades cotidianas nas quais se desenvolvem as distintas juventudes. Desta maneira, possibilita, por sua vez, assumir que no período juvenil têm plena vigência de todas as necessidades humanas básicas e outras específicas, motivo pelo qual se faz necessário reconhecer tanto a realidade presente dos jovens como sua condição de sujeitos em preparação para o futuro. Isto supõe a possibilidade de observar a juventude como uma etapa da vida que tem suas próprias oportunidades e limitações, entendendo-a não somente como um período de moratória e preparação para a vida adulta e o desempenho de papéis pré-determinados.

Feitas estas considerações, podemos assinalar que o processo de construção de identidade se configura como um dos elementos característicos e nucleares do período juvenil. O referido processo se associa a condicionantes individuais, familiares, sociais, culturais e históricos determinadas. Por outro lado, é um processo complexo que se constata em diversos níveis simultaneamente. Distinguiu-se a preocupação por identificar-se a um nível pessoal, geracional e social. Ocorre um reconhecimento de si mesmo, observando-se e identificando características próprias (identidade individual); este processo traz consigo as identificações de gênero e papéis sexuais associados. Além disto, busca-se o reconhecimento de um si mesmo nos outros que sejam significativos ou que se percebem com características que se desejaria possuir e que estejam na mesma etapa de vida. Isto constitui a identidade geracional. 22

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Também existe um reconhecimento de si mesmo num coletivo maior, em um grupo social que define e que determina, por sua vez, ao compartilhar uma situação comum de vida e convivência. A identidade refere-se obrigatoriamente ao entorno, o ambiente. Os conteúdos que originam a identidade geracional implicam modos de vida, particularmente práticas sociais juvenis e comportamentos coletivos. Também encerram valores e visões de mundo que guiam estes comportamentos. Neste contexto, as tarefas de desenvolvimento e, especificamente, do processo de construção de identidade juvenil, se entendem como desafios que, mesmo comuns aos adolescentes e jovens (ou à maioria), não se manifestam da mesma maneira ou de forma homogênea, ao contrário, a diversidade é sua principal característica. 23

1.3 – Algumas considerações antropológicas, sociológicas e psicológicas a respeito

da juventude

Devemos ter na área biológica o suficiente conhecimento para entender os fenômenos que afetam o desenvolvimento biossomático do jovem. Neste caminho, as modificações do corpo que afetam o adolescente são causadas pelos efeitos do desenvolvimento glandular e hormonal.24 O corpo torna-se o centro da preocupação, pois se aceleram o crescimento e a diferenciação sexual, tanto em sua capacidade generativa quanto nos caracteres secundários. Os jovens sofrem muito quando seu desenvolvimento físico não segue o ritmo e a forma dos colegas coetâneos. Nessa idade, defeitos físicos ou de caráter são altamente dolorosos. A visibilidade masculina ou feminina, quando ofuscada, diminuída ou exagerada, gera problemas de auto-identidade.

Estas mudanças, de maneira geral, colocam inseguranças em sua vida, repercutindo nas relações consigo mesmo, com os outros, com o mundo, com o transcendente. Pesquisas recentes sobre o sistema nervoso e a maturação cerebral indicam que, na fisiologia corporal, o adolescente se aproxima rapidamente do adulto, mas está mais próximo da criança no desenvolvimento cerebral. Faltam-lhe ainda conexões entre os neurônios que afetam a capacidade emocional, certas habilidades físicas e mentais. Os adolescentes têm dificuldades de organizar múltiplas questões ou idéias abstratas.

23 Cf. Ibid., p.32

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Uma mudança tumultuada no cérebro vai acontecendo, paulatinamente. No córtex pré-frontal, onde se formam os julgamentos, permanecem comandos adormecidos. Daí a dificuldade de forjar tais juízos. Por sua vez, no sistema límbico, com rápido desenvolvimento, as emoções imaturas, como raivas, são geradas. Os jovens têm dificuldade de interpretar expressões faciais, cometendo inúmeros erros nas relações de amizade, nos namoros, na família. O sistema de recompensa associa centros emocionais a outras partes do cérebro, produzindo prazer. Daí se justificam as buscas de prazer nas emoções fortes, nas drogas, nas excitações violentas que excitam a dopamina no cérebro dos jovens. Com a diminuição da serotonina os jovens sentem-se mais propensos a agir impulsivamente.

Medo e raiva são produzidos pelo florescer da amídala, parte do sistema límbico, responsável pela agressividade, pela irritabilidade. Esta é uma das últimas partes do cérebro a amadurecer e responsável pelo julgamento do som, pelas emoções desgovernadas. Muitas coisas na anatomia e no funcionamento do cérebro ainda precisam ser pesquisadas e descobertas para entendermos certos comportamentos juvenis que nos parecem anômalos. 25

Em se tratando de considerações psicoestruturais, podemos dizer que os jovens vivem um conflito básico: por um lado, desejam ser autônomos, têm necessidade de romper limites estabelecidos especialmente pela família e pela tradição para construir, dentro de si próprio, referências que lhe permitam ser autônomos. Por outro lado, só podem viver integrando-se num tecido social, que lhes impõem parâmetros de conduta. Esse limite conhecido, seguido, enfrentado, embora questionado, servem-lhes de paradigma para as decisões. Sem isso, crescem no vazio, fora da realidade, o que é nocivo para o amadurecimento.26 A fim de resolver este conflito fundamental, os jovens vivem duas fases: exploratória e projetiva – que não são sucessivas, mas em tensão sadia.

No dinamismo exploratório, os jovens buscam sua identidade. Trata-se de um momento difícil e complexo, que permeia as esferas biológica, familiar, afetiva, social. Surgem aí as dúvidas sobre a própria masculinidade ou feminilidade, que hoje têm mais condição de aflorar pela crescente tolerância social. As divisões familiares pelas separações, a freqüência alternativa ou exclusiva a um dos lados da família ou a ausência de uma família biológica interferem seriamente na construção da identidade. O jogo de inclusão e exclusão

25 Cf. Ibid., p. 21.

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estão presentes, assim como as possibilidades financeiras e culturais aos quais são submetidos.

Neste estágio, existe o grande perigo dos jovens estacionarem nesta fase, temendo sair para um novo momento de responsabilidade e compromisso. Existe a preferência de ficar sempre explorando novas experiências, sem medir as consequências futuras. As decisões são inconsistentes, transformando a vida numa sequência de tensões, emoções fortes, cuja resposta é a descarga emocional. Busca-se o sentido da vida nestas emoções, sem solidez para conseguir este resultado.

Rejeitando as obrigações e compromissos, refugam-se as autoridades que lhe são evocações da disciplina, de um pensar organizado, de um agir responsável. Há muita dificuldade em gerir as emoções e orientá-las em atitudes permanentes. As soluções tendem a ser regressivas ou autodestrutivas, em atitudes infantis. Autodestrutivas com a exposição da própria vida em aventuras perigosas, de esportes de risco, nas altas velocidades. Cria-se um superego sádico que se manifesta em querer sempre vencer, em anular a duração no instante, no acontecimento. Não há interesse na elaboração de um projeto, mas na repetição contínua do presente emotivo.

No dinamismo projetivo, 27 a elaboração de um Projeto de Vida corrige a fase exploratória, descrita acima. Neste momento, existe uma orientação da busca de experiências na direção de uma decisão significativa. Os jovens assumem prazos e processos, firmando-se numa vocação ou profissão. Jovens tímidos e deprimidos que sentiram dificuldade na fase exploradora conseguem neste momento elaborar seu projeto de vida e uma identidade consistente.

Na adolescência e na juventude, as relações sociais com iguais, sob a forma de amizade são valorizadas como necessidade de identificação, partilha e convivência. Despedindo-se da infância, momento forte de egocentrismo, que não põe em questão o próprio centro de si, o jovem sente a necessidade de encontrar modelos, “heróis” que ele se esforça em imitar e identificar-se. É interessante notar que, em tempos onde a religião detinha hegemonia cultural, os santos desempenharam papel importante nesta fase, como paradigmas

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de vida. Esta força impregnante dos santos permaneceu durante muito tempo. Colégios e instituições jesuítas, por exemplo, cultivaram entre os jovens a devoção a três santos: São Luís Gonzaga, São João Berchmans e Santo Estanislau Kostka. Os salesianos apresentavam o modelo de São Domingos Sávio. A vida de Cristo e de Maria também desempenhavam papel primordial neste tempo.28

A secularização atingiu este universo simbólico, afastando os santos, muitas vezes ridicularizados por causa de condutas consideradas exageradas e psiquicamente doentes. Psicólogos, historiadores, empresários valorizaram comportamentos que promoveram a beleza, o prazer, o gozo, o corpo e entraram em cena então, novos modelos de identificação: artistas de cinema, de TV, grupos musicais, ídolos do mundo do esporte.

Figuras como os Beatles, Elvis Presley e outros invadiram o imaginário juvenil. Encontros como “Woodstock”, com a presença desses mitos da juventude sinalizaram a mudança simbólica dos valores e paradigmas juvenis. Na década de 1960, personagens políticos e revolucionários como o jovem Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e outros provocaram o idealismo de jovens para a luta contra os regimes burgueses e militares do continente americano. Muitos jovens morreram na luta armada, nas prisões ou nas mãos de torturadores.

Outros movimentos como o Hippie”, “É proibido proibir”, “Tropicalismo” entre outros, buscavam contestar a sociedade vigente, procurando desmontar o formalismo das instituições. A busca da “sociedade alternativa” proclamada em canções de rock, o uso de drogas, a vivência do “sexo livre”, a rejeição à prática religiosa podem ser identificados por posicionamentos de contestação dos valores tradicionais. Paralelamente, a indústria fonográfica e cinematográfica sempre viu na juventude um ativo mercado consumidor de produtos, criando assim, movimentos musicais como a “Jovem Guarda”, produzindo filmes com atores e atrizes que suscitavam modas e comportamentos, associados às marcas de carros, cigarros, bebidas que influenciaram os valores de milhões de jovens pelo mundo. 29

Em tempos atuais, a ausência de modelos, sobretudo familiares, tem apontado grandes desafios aos jovens. Com a decadência da família e o número de separações aliados aos maus

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exemplos de vida moral, as dificuldades afetivas e as inseguranças causadas pelas instabilidades financeiras tem provocado um quadro preocupante de jovens sem condição de viver valores seguros e capazes de ajudá-lo na elaboração de seu Projeto Pessoal de Vida. 30 Não são poucos os jovens que têm nos traficantes seus exemplos e referências de vida. Em vários locais, portar armas de fogo significa receber status. Porém, em muitos casos, sentindo-se só, tímido e deprimido, os jovens têm dificuldade de enfrentar a realidade. Sobram as fugas da realidade.

No aspecto social, pressionados pela conjuntura socioeconômica, muitos jovens são marginalizados por estarem fora do mercado de trabalho, pela falta de oportunidade de estudos, pelo desemprego e frequente necessidade de especializações, restritas aos que possuem condição de financiá-las. Em contrapartida, há também um número significativo de jovens que mantêm suas famílias economicamente, exercendo responsabilidades estruturais.

Muitos jovens experimentam uma desordem externa e, principalmente, interna. Entregam-se à fuga do sono, dormindo muito além do necessário na sua idade. Afastam-se dos enfrentamentos, não conseguem dar passos necessários nos estudos, na convivência ou em outros casos, “sonham acordados”, povoando a fantasia com devaneios, ilusões, com paixões absorventes, na busca do dinheiro fácil e nas drogas, uma das fugas mais perigosas. Sobre este assunto aprofundaremos mais adiante.

A busca da felicidade, problema fundamental da existência humana, causa inseguranças. É preciso encontrar caminhos que ajudem os jovens a enfrentarem a realidade. A família, apesar de toda a fragilidade, é ainda um dos lugares privilegiados de socialização dos jovens, onde cria relações estáveis, afetivas, consistentes. Também os grupos de jovens constituem excelente espaço de socialização para bem ou para o mal. Sobre estes espaços falaremos mais adiante. Há grupos que fazem a introdução no mundo positivo de valores, outros promovem a marginalidade.

A vida em grupo ajuda a superar limitações físicas e psíquicas. O acompanhamento pessoal dos jovens é uma forma positiva de ajudá-los a trabalhar suas dificuldades, anseios e

30 Cf. TEIXEIRA, Carmem Lucia (org.). Marcando história: elementos para construir um Projeto de Vida. p.

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aconselhá-los para um caminho positivo. Muitas vidas são salvas com estes espaços que podem despertar valores, trabalhar a auto-estima e canalizar energias para ações benéficas.

Algumas características apontam para o final definitivo da etapa da juventude, segundo Roberto Daunis: 31

1) Alguns anos de experiência no trabalho, após o encerramento da formação profissional, em um emprego ou em uma atividade que possibilite independência econômica. A identidade profissional está fundamentada na escolha e no exercício livre ou suportável das tarefas do dia-a-dia, dentro de possibilidades reais e aceitáveis. Equilíbrio entre aptidão profissional e mercado de trabalho;

2) Moradia própria, eventualmente matrimônio ou relacionamento de parceria num convívio duradoura de responsabilidade mútua, com ou sem filhos. A identidade afetiva ou familiar da idade jovem adulta baseia-se, geralmente, numa escolha mais madura e consistente do que o namoro. O relacionamento de parceria duradoura e/ou matrimônio supõe a disposição de querer e a capacidade de poder assumir, no presente e no futuro próximo, a responsabilidade total por si mesmo e, se assim for decidido, pela procriação, educação e cuidado dos filhos.

3) Autoconsciência firme e percepção consistente da própria identidade pessoal, tendo o jovem-adulto já sido “identificado” por outros adultos como um “eu individual" no sentido de reconhecimento por parte de outrem. Trata-se da identidade como manifestação equilibrada da individuação de si mesmo.

1.4 – Reflexos das transformações culturais nos jovens

No processo de conhecimento da realidade da juventude, foco principal desta parte deste trabalho, é preciso levar em conta as diversas mudanças culturais e históricas que atingem toda a sociedade. Os jovens são fortemente atingidos por este processo de transformação social, que conjuga os valores da modernidade e da pós-modernidade.

Destacaremos, a seguir, algumas características das duas culturas, cujos valores convivem em nossa sociedade. Mais adiante, a partir dos resultados de pesquisas e de dados

31 DAUNIS, Roberto. Jovens: Desenvolvimento e Identidade.Troca de perspectiva na psicologia da educação.

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apresentados no Mapa da Juventude de São Paulo, poderemos aprofundar a reflexão das situações vividas pela juventude na cidade.

A modernidade abriu as portas do mundo para uma nova atitude do homem e da mulher face à vida, acentuando a centralidade na razão e na vivência de valores como liberdade, igualdade, técnica, fraternidade, etc. Mesmo que, em primeiro momento, a Igreja tenha se fragilizado às mudanças, com o Concílio Vaticano II, procurou ajustar-se às mudanças de paradigmas sociais.

A pós-modernidade não é uma nova cultura que se sobrepõe à modernidade.32 Constata-se sim, mudanças no cenário, com a revolução científica, a aceleração do desenvolvimento da informação e a rapidez na mudança do cotidiano com o advento de tecnologias e meios eletrônicos, que vêm penetrando fortemente no meio juvenil.

Entretanto, os valores da modernidade continuam sendo importantes aos jovens: democracia, diálogo, busca da felicidade, transparência, respeito aos direitos individuais, liberdade, justiça, sexualidade, igualdade, respeito à diversidade são questões que a Igreja precisa acolher e comunicar, para dialogar com a nova geração.33

Uma real evangelização também não pode prescindir do diálogo com os impactos causados pela pós-modernidade, que exercem grande influência nos comportamentos humanos. Dentre os muitos elementos da nova cultura pós-moderna que influem no processo de evangelização dos jovens e no fenômeno da indiferença de uma parcela da juventude em relação à Igreja, estão a subjetividade, as novas expressões da vivência do sagrado e a centralidade das emoções.

A subjetividade, no contexto pós-moderno, é um fenômeno complexo, que necessita maior aprofundamento. Trata-se de um fator que pode ser desencadeador da permissividade, do egoísmo, da identificação simples da felicidade com o prazer, da incompetência de lidar com a pluralidade de solicitações e ofertas.

32 Cf. BORAN, Jorge. Os Desafios Pastorais de uma Nova Era. Estratégias para fortalecer uma fé

comprometida. pp. 13-20.

Imagem

Tabela 1: Indicador Composto Juvenil (ICJ) – por Distrito da capital paulista
Tabela 3: Jovens pela Cor Autorreferida.
Tabela 6: Período de Estudo
Tabela 10:  Natureza de Estabelecimento de Ensino Frequentado por Cor Autorreferida  Cor Autorreferida  Público (%)  Privado (%)  Cooperativa (%)
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