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Notas e estudos sobre a peste no Nordeste do Brasil, problema nacional

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Academic year: 2017

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DO BRASIL, PROBLEMA NACIONAL1

Pelo Dr. DECIO PARREIRAS

Ex-Director Geral do Departamento de Saude Publica de Pernambuco

A minha permanencia em Pernambuco, durante cerca de tres annos, e a natureza dos servicos que dirigia, no grande Estado nordestino, conflrmaram a impressão que experimentava, desde alguns annos, acerca da extensão da peste nessa região do Brasil; a sua endemicidade sempre ameapadora das capitaes mais proximas, e, quiyá, da metropole do paiz, sem que merecesse a attencão de qualquer organizacão sanitaria federal por isto que, desde 1930, se extinguira, o Servico de Prophylaxia Rural nos Estados.

Impõe-se urna actuacão conjunta e centripeta, numa area de cerca de 1,280,OOO km2, comprehendendo os Estados do Cea& Rio Grande do Norte, Parahyba, Pernambuco, Alagôas, Sergipe e norte da Bahia, com urna populacáo approximada de 10,300,OOO habitantes e que, excepto em Pernambuco, nao dispõe de trabalhos anti-pestosos regular- mente conduzidos, o que hoje ainda se verifica (quadros 1 e II).

0 recente apparecimento de casos de peste, bubonica na capital cearense trouxe, de novo, á baila, esse problema quasi secular, que vem compromettendo varias administracões sanitarias, as quaes, antes, se comprazem em tomar medidas de resultado duvidoso, relegando a plano secundario os de caracter eminentemente nacional, como o da erradi- cacão de doencas transmissiveis, hoje de prophylaxia seguramente positivada.

0 problema de erradicacão da peste no Nordeste é um problema nacional, pela interdependencia de factores na solucão do mesmo e, sem que tenhamos unidade de commando, em oito desses Estados e con- sequente uniformidade de actuagão, simultaneamente no combate e recursos financeiros, melhormente fornecidos pela União, estaremos a perder tempo. E é tanto mais necessaria urna actuapão federal, conjunta e uniformemente dirigida, quanto de pouca valia seria a desratisacão em zonas limitrophes de determinados Estados, se os mesmos nao tiverem elementos e nao se propuzerem a agir em sentido identico.

Com o incremento da produccão algodoeira no nordeste, com a creacão dos paióes para a guarda do producto e beneficiamento do caropo de algodão, lucrou e se desenvolveu a populacáo murina. Os fardos da fibra preciosa, transportados em trens e caminhões, atravéz

1 Archhm de Hygiene, Directoria Nacional de Saude e Assistencis Medico-Social, Rio de Janeiro. 44, (Junho, 1935).

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430 OFICINA SANITARIA PANAMERICANA [Mayo

longas distancias, facilitaram a propagapão do rato e roedores. E outra origem nao teve a infestacao da capital cearense.

Contrariando Peryassú, quando admitte que a peste chegou ao Brasil pelo porto de Santos, em outubro de 1899, estão os dados fornecidos por Octavio de Freitas que a regista em Pernambuco desde 1896, annotando ll casos neste anno, 13 no immediato, 10 em 1898, 7 em 1899,26 em 1900,15 em 1901, e ll em 1902. E, no relatorio de Amadeu Fialho, recentemente concluido, é mais recuada a data da introduccáo de pestosos no Estado do Ceará, onde em 1878, 1879, 1880 e 1881, ter- se-iam verificado casos da doenca em estudo.

Ha, pois, mais de 55 annos que a populacão nordestina vem soffrendo as consequencias dessa endemia. Ella se vem alastrando e ganhando terreno e, só no Estado do Ceará, hoje, o seu grande fóco, citam-se, nos ultimos decenios, os surtos de Jardim, em 1924, com cerca de 80

NO.

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QUADRO 1 Estados fócos de peste

Estados Popula@%

Piauhy ... 609,003 Ceará ... 1,319,228 Rio Grande do Norte. ... , .. 537,135 Parahyba. ... 961,106 Pernambuco. ... 2,154,835 AlagGas ... 978,700 Sergipe ... 477,064 Babia-Norte ... 3,334,465 Totaes ... 10,371,526 -

-

_ - -

Ama-Kmg

300,000 100,000 55,000 75,000 120,000 50,000 39,000 550,000 1,280,OOO

- -

-

Densidade da Popula~Eo

1.6 11.0 7.0 8.0 20.0 16.0 15.0 5.0 ..<...

casos, os de Quixeramobim, da Serra do Araripe, de Lavras, de Aurora, de Iquatiá, de Cedros, de Brejo Grande, de Ipú, de Sao Benedicto, da Serra do Baturité, de Santos Dumont, de Mulungtí, de Guaramiranga, de Pacoty e de Palmeira, o que mostra a extensão do mal a se distribuir em regióes sertanejas, nas planuras e montanhas, independendo da natureza do terreno e da especie de suas produccóes. Ultimamente, a peste attingiu a zona litoranea e chegou á Fortaleza, onde sao recon- hecidos, em fins de 1934 e comecos de 1935, cerca de 30 casos, com elevada mortalidade, pondo em sobresalto as autoridades maritimas e terrestres, nacionaes e estrangeiras.

Na Parahyba, conhecem-se epizootias e casos humanos em Campina Grande, Princeza e Villa do Sapê.

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2

-

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ll 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 - -

Cidades e nucleos

Fortaleza ... Macei ... I’hereaina. ... Natal. ... Joáo Pessba ... Recife ... Aracajú ... Salvador. ... Parahyba :

Princexa. ... Campina Grande . . Villa de Sapé. .... Ceará :

Jardim. ... Lavras. ... Aurora ... Iquatia. ... Cedro. ... Colonia ... Brejo Grande ... Ipú ... S. Benedicto ... Serra do Araripe . .

“ da Colonia . . Santos Drumont . . Mulungú. ... Guaramiranga ... Pacoty ... Palmeiras. ... Pernambuco:

Triumpho. ... Caruarú. ... Bom Jardim ... Bello Jardim ... Altinho ... Pesqueira. ... Panella. ... Vertentes. ... Beserros. ... Canhotinho. ... Garanhuns ... Bom Conselho. ... Bonito. ... Flores ... Ouricury ... Bodoc6. ...

- -_ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -

QUADRO II Ares infectada de peste

.AR?a ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 334 E 1,503 E 459 702 234 1,800 430 464 822 949 1,070 1,226 E

427 2,154 7,085 ... - -_ .4 .2 . . . . . . . . . . . 12 P 22 , . -

78,500 1879 a 1935 74,100 1925 a 1934 57,500 . . . 30,600 . . . 52,960 . . . _. . . 21,000 1896 a 192% 37,460 . . . . . 183,422 . . .

3,000 . 10,000 .

. . . . . . .

. . . . . . 1924

. . . . . . 1921

. . . 1921

.,.... 1921

.<.... 1921

.<.... 1925

. . . 1924

. . . 1933

. . . 1933

. . . 1934

. . . 1933

..,... 1934

. . . . . . . . . 1934 a 193E . . . 1934 a 193E . . . 1934

23,471 1927 e 1928 60,496 1927 e 1921 65,544 1927 e 1921 35,464 1927 e 192f 26,701 1928 53,055 1928 43,800 1933 35,042 1933 65,121 1934 47,725 1923 78,968 1923 66,132 1923 54,078 1922 27,800 1922 22,035 1922 . , . . . . 1922

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80 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 . . . . . . . . . . . . 3 . . 3 . . 4 . .

89 E 13 22 6 5 3 3 . 3 . . 3 . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .< - !j 3 -. . - Observa&a

Rel. Dr. Ama- deu Fialho

ReI. Dr. Octa- vio Freitas

Rel. Dr. Oscar de Britto

Rel. Dr. Decio Parreiras ,> >> >I 1,

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OFICINA SANITARIA PANAMERICANA [Mayo

- % - 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 -

T-

QUADRO II-Concluido

~- 4lag6as :

Quebrangulo ... 1929

Candar&. ... 1935

B6aVista ... Palmeirados Indios. ... 1929

Limoeiro ... 1929

Paulo. ... 1929

Agua Branca ... 1928

Paulo Affonso ... 1928

Sant’Anna do Ipanema ... 1928

Vijosa ... 1928

Uni%0 ... 1928

L.JosédeLages ... 1928

Anadia ... 1929

Iraipú. ... 1929

Arapiraca ... 1929

Muricy ... 1929

Mar Vermelho ... 1934

Coité ... 1935

-- --

24

24 9 Rel. Dr. J. Ca- 9 Rel. Dr. J. Ca- valcanti valcanti 5

5 . * . . * . Rel. Dr. Pon- Rel. Dr. Pon- . . . . .

. . . . . tes Babia tes Babia 10 3 ” ” ” ‘l 10 3 ” ” ” ‘l

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3 . . . >> >z 8, I> >> >z 8, I> 13 3 7, 12 >> 11 13 3 7, 12 >> 11 2, 11 ,f 1, 2, 11 ,f 1, ,. . . .

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mente, nos sitios, onde roedores sylvestres, de diversas especies, se apresentavam infectados. E’ a “febre do caroco,” mostrando-nos a modalidade gangliar da doenca de Kitasako-Yersin, felizmente pre- dominante no Brasil, embora um e outro caso tome a forma septicemica e, quem sabe, a pneumonica, com o seu elevado indice de mortalidade. Até 1927, apeste em Alagoas, se limitava aos municipios de Agua Branca, Paulo Affonso, Sant’ Anna do Ipanema, Palmeira dos Indios, Que- brangulo, Viposa, União e S. José do Lage, e, em 1928, a mesma se estendia aos de Anadia, Limoeiro, Traipú, Arapiraca, Muricy e Para- hyba. No decurso de 1929, só em Quebrangulo, registaram-se 24 casos, dos quaes 8 fataes e nos sitios Candará e Boa-Vista, 10 casos e 3 obitos. A incidencia da doenca, como nos demais Estados, notada em pequenas habitacóes de barro e taipa, sem pavimenta@0 e esparsas no meio da caatinga, torna extremamente trabalhosa a prophylaxia e a matanca do rato e outros roedores cada vez mais se vae difficultando com a penetra@0 e irradia@0 da doenca.

No Maranhão são boas as informacões colhidas, recentemente, e se afFuma a inexistencia da epizootia murina, desde a campanha chefiada, ha annos, pelo Dr. Raul de Almeida Magalháes, numa das commissões federaes enviadas ao norte do Brasil.

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melhores organizapões sanitarias do paiz, melhor se conhecem as invasóes e a endemicidade do mal que, de quando em vez, surge em determinadas localidades do interior, já que a peste se afastou da capital desde o anno de 1923, no comeco da administracáo Amaury de Medeiros. Sabem-lhe bem os pernambucanos os effeitos maleficos e cumpre salientar, no Recife, a actuacáo de Gouveia de Barros, durante cerca de um decenio, dando-lhe um combate definitivo; realcem-se os trabalhos da commissáo estadual, de que fizeram parte Joáo Rodrigues, Ramos Leal, Oscar de Britto, Lessa de Andrade, Aggeu Magalháes, entre outros. Os maiores focos actuaes sáo, seguramente, Vertentes, Caruarú, Canhotinho, Quipapa, Panellas, e, em annos anteriores, 0 mal se apre- sentou em Triumpho (onde, em 1931, occorreram cerca de 80 casos), em Bom Jardim, Bello Jardim, Altinho, Pesqueira, Bezerros, Garanhuns, Bom Conselho, Bonito, Flores de Pajehti, Ouricury e Bodocó.

Regularmente, ao Laboratorio Central do Departamento de Saude Publica, Recife, continuaram a ser enviados ratos apprehendidos na capital e nos municipios do interior: e a maior abundancia de capturas se refere aos Mus minutus, seguindo-se o

Mus

ruttus, todos accusando resultados negativos nas pesquizas levadas a effeito.

Dos 26,256 ratos capturados no triennio 1931 a 1933 nenhum se apresentou infectado. Casos humanos se verificaram, porém, em Bezerros, Vertentes, Pesqueira, Jurema e Quipapá.

A julgar pelos interessantes trabalhos de Oscar de Britto, feitos em 1927 e 1928, o indice pulicideano determinado em Bello Jardim, Recife e Triumpho, mostra a maior frequencia da Xenopsylla cheopis,

seguindo-se-lhe a X. brasilientis, e nada faz crer que os ectoparasitas do rato se differenciem dos dos Estados visinhos.

A relacáo entre a frequencia de pulgas e a temperatura e a humidade relativa, ainda no mesmo trabalho se evidencia : pelo menos em Pernam- buco, é nos mezes de julho a agosto que maior é o numero de ecto- parasitas, quando a temperatura varia entre 25 e 26” e a humidade relativa entre 73 e 76.

Recentemente, em comeco de 1935, as autoridades sanitarias de Alagóas voltam a registar novos casos de peste gangliar em Quebrangulo e localidades proximas. E’ o mal que ronda e se diffunde, ate que tomemos as medidas detitivas de prophylaxia.

Medickz social.-Voltando-se com desvelo para os factores materiaes do be-

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