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GEOLOGIA DA REGIÃO DA GROTA FUNDA, RIO DE JANEIRO, COM ÊNFASE EM SUA ZONA DE ENCLAVES.

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GEOLOGIA DA REGIÃO DA GROTA FUNDA, RIO DE JANEIRO, COM ÊNFASE EM SUA ZONA DE ENCLAVES.

CAIO VINÍCIUS GABRIG TURBAY¹ RUBEM PORTO JUNIOR² ANDRÉ ESTEVES³ ABSTRACT: TURBAY, C. V. G., PORTO JR., R.; ESTEVES, A. A. Geology of the grota funda region, Rio de Janeiro, with emphasis in their enclave zones. Revista Universidade Rural, Série Ciência Exatas e da Terra, v. 21, n. 2, 2002, p. 115-129. The studied area is located at the Grota Funda region, Rio de Janeiro city. The area is inserted in the Pedra Branca granitic Complex, and it is characterized by the presence of a meta- morphic megaxenolite, wrapped in a megaporphyritic granite, with enclaves zones in the interface among them. The whole group is segmented by younger basic and alkaline intru- sions. The enclaves are deformed, exhibiting reaction border with the granite. The foliation and fold axis are concordants with the regional trend, evidencing few movement of the bodies. The characteristics observed in the enclaves allow to characterize them as epixenoliths.

INTRODUÇÃO

A região da Grota Funda, Recreio dos Bandeirantes, situa-se na porção sudoeste do município do Rio de Janeiro, sendo constituída por uma pequena serra de mesmo nome, limitada a leste pela Baixada de Jacarepaguá (figura 01), e a oeste pela localidade de Guaratiba.

A geologia da região foi caracterizada pela presença de expressivo volume de granitos em associação com ortognaisses (HELMBOLD, et al, 19651), pertencentes ao Complexo Granítico Pedra Branca (PORTO Jr.,19942). Rochas gabróicas e diques de rochas alcalinas mais recentes completam o quadro geológico.

A presença de zonas de enclaves associadas ao granito Pedra Branca nas imediações da Grota Funda já foi registrada por outros autores (PORTO Jr. & VALENTE, 19883 , JUNHO et al. ,19884; CORREA NETO,19905; PORTO Jr.,19942). Tal feição

é característica de regiões de borda de corpos intrusivos, refletindo o caráter de sua interação com as respectivas rochas encaixantes.

A pesquisa aqui apresentada teve por objetivo a caracterização dos litotipos presentes na região, suas relações estruturais e estratigráficas, bem como a identificação e caracterização dos enclaves.

Para isto, foram realizados perfis geológicos na região, ao longo da Av. das Américas, tendo por base a folha topográfica em escala 1:10.000 (Folha SF 23-Z-C-III-2-NE-b; Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro). As litologias aflorantes foram, desta forma, caracterizadas sobre o aspecto petrográfico e estrutural, com coleta de amostras e localização dos pontos de descrição e amostragem na base cartográfica.

¹ Mestrando em Análise de Bacias e Faixas Móveis, Faculdade de Geologia/UERJ

² Msc. Prof. Departamento de Geociências – IA/UFRRJ

³ Estagiário em pesquisa. GEP / Departamento de Geociências – IA/UFRRJ

KEY WORDS: Magmatism; Enclaves; Granite.

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A GEOLOGIA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

HELMBOLD et al.(1965)1 produziram um mapa geológico para o antigo Estado da Guanabara, posteriormente município do Rio de Janeiro, em escala 1:50.000, onde foram definidas duas seqüências gnáissicas principais, de idades tidas como pré-cambrianas, cortadas por granitos de idade paleozóica, diques básicos e intrusivas alcalinas plutônicas e hipoabissais meso-cenozóicas. Estas seqüências gnáissicas foram denominadas Série Inferior e Série Superior. A Série Infe- rior, de características ortoderivadas, é constituída por material de composição básica a intermediária, metamorfizadas em grau anfibolito alto, associado a anatexia localizada. São gnaisses contendo hornblenda e titanita associados com migmatitos de estruturas variadas, com predominância dos tipos estromáticos e nebulíticos. A Série Superior foi inicialmente proposta como correspondendo a um

conjunto estritamente paraderivado, englobando gnaisses quartzo-feldspáticos- granatíferos (leptinitos), biotita-gnaisses, cordierita-sillimanita-granada-biotita gnaisse (kinzigito) e gnaisse facoidal.

LEONARDOS Jr. (1973)6 subdividiu a Série Superior em duas seqüências estratigráficas distintas: o Grupo Pão de Açúcar, representando uma seqüência molássica mais antiga, composta por leptinito, gnaisse facoidal e biotita gnaisse, e o Grupo Sepetiba, representando uma seqüência mais jovem, composta por pelitos, carbonatos e arenitos quartzosos que, metamorfisados, geraram os tipos kinzigíticos, com presença de rochas calcissilicáticas e quartzitos interestratificados.

Em relação às rochas graníticas ocorrentes nos limites do município, as mesmas começaram a ser estudadas com maior nível de detalhe a partir da década de oitenta. PIRES et al. (1982)7 caracterizaram a existência de duas séries Figura 01 - Localização da

Serra da Grota Funda Figura 01 - Localização da Serra da Grota Funda

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de rochas graníticas ocorrentes nos limites do município. A mais antiga (Older Gran- ites Series), é composta pelo Tonalito Grajaú, pelo Granodiorito Governador, e pelos granitos Suruí e Utinga.

A mais jovem (Younger Granites Se- ries), é composta pelos granitos Favela, Rosa e allanita granito. Um terceiro conjunto (Ancient Granites) seria composto por rochas graníticas mais antigas, gnaissificadas e metamorfisadas.

PORTO JR. (1994)2 ,estudando os aspectos de campo, petrográficos e geoquímicos das rochas graníticas das serras da Pedra Branca (CGPB) e Misericórdia, identificou a presença de quatro unidades litológicas relacionadas aos tipos graníticos ocorrentes na área do município: Unidade Tonalítica, Unidade Granito Pedra Branca, Unidade Biotita Granito e Unidade Leucogranito.

Os litótipos que compõem a Unidade Tonalítica variam, em termos composicionais, desde gabros-dioritos até tonalitos-granodioritos.

A Unidade Granito Pedra Branca é composta pelo Granito Pedra Branca. Trata- se de granito megaporfirítico, rico em megacristais de microclina pertítica em meio a uma matriz monzogranítica. Este litotipo predomina em área nos limites do Complexo Granítico Pedra Branca (PORTO Jr., 19942). Para esta unidade foram individualizadas quatro fácies. A facies média homogênea é caracterizada por grande homogeneidade textural, apresentando-se rica em megacristais de microclina pertítica envoltos por uma matriz rica em quartzo, plagioclásio e microclina de composição monzogranítica. A fácies bandada é constituída pelo mesmo conjunto mineralógico mas apresenta um característico bandamento magmático, resultante da ação de fluxo magmático, marcado pelo alinhamento planar dos megacristais de microclina em associação a enclaves microgranulares, xenólitos e schlieren de biotita oriundos da segregação e acumulação pela ação do fluxo

magmático. A fácies pegmatítica é formada por diques e bolsões pegmatíticos posicionados subconcordantemente às estruturas das rochas encaixantes. A fácies hololeucocrática ocorre como bandas interestratificadas na fácies média homogênea sendo composta por um litotipo essencialmente equigranular félsico.

Quando comparada aos granitos definidos por PIRES et al. (1982)7, a Unidade Biotita-granito corresponde ao Granito Favela, que por sua vez, é correlacionável ao Granito Andorinha (PENHA et. al. 19808). Trata-se de um granito de cor cinza, equigranular média, composto, predominantemente, por microclina, plagioclásio, quartzo, biotita, titanita, apatita e rara hornblenda. É um granito de posicionamento tipicamente pós tectônico, aflorando sob forma de diques e sills.

A Unidade Leucogranítica é formada por diques subverticais de pouca espessura, hololeucocráticos, de cor bege a rosa e textura equigranular, podendo ser correlacionada ao granito Rosa de PIRES et al. 19827.

ENCLAVES: SÍNTESE DOS CONHECIMENTOS

LACROIX (1890)9 definiu o termo enclave para se referir a pedaços estranhos de rocha no interior de um corpo eruptivo, mais tarde expandindo esta definição a todas as rochas de caráter magmático.

De maneira simples, podemos considerar os enclaves como sendo corpos rochosos englobados por material magmático, que possui composições distintas, além de formas e dimensões variáveis. O estudo dos enclaves é de grande importância para a definição de parâmetros referentes a gênese, evolução e colocação de corpos magmáticos. A tipologia dos enclaves pode ser definida a partir de critérios estabelecidos por DIDIER

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(1973)10 e WERNICK (1983)11 nos seguintes tipos:

a) Xenólitos - Pedaços da rocha encaixante que são englobados pelo magma durante sua ascensão e colocação.

São subdivididos em epixenólitos, quando os fragmentos da encaixante são capturados no nível em que se deu a cristalização do magma, adquirindo assim formas angulosas e pobres em sinais de corrosão e/ou reação; e hipoxenólitos, que são oriundos de rochas profundas, sendo incorporados ao magma durante sua ascensão e trazidos até a fase final de cristalização deste, assumindo formas arredondadas, indicativas de comportamento dúctil;

b) Autólitos - Porções cristalizadas e diferenciadas de um magma, englobadas pelo próprio líquido magmático do qual ele se originou. Os autólitos possuem afinidade genética com a rocha hospedeira. Tem textura magmática e formas e dimensões variáveis.

c) Restitos - Restos de rocha encaixante que resistiram ao processo de assimilação.

Em geral são constituídos por material refratário (micas, anfibólio, minerais opacos, etc), podendo apresentar textura metamórfica e, em alguns casos, tendo composições monominerálicas (enclaves surmicáceos).

d) Diques sin-intrusivos - Diques de composição básica, dilacerados e fragmentados durante o movimento ascensional do corpo magmático em estado plástico.

e) Enclaves microgranulares - Característicos por possuírem textura magmática, equigranular ou porfirítica, composição básica e formas que variam de arredondadas a fusiformes. Podem sofrer, em algum nível, assimilação, sendo comuns em granitos híbridos, evidenciando uma associação entre material crustal granítico, frio e hidratado e material mantélico quente e anídrico, representando uma mistura mecânica.

Enclaves são freqüentes na Região da

Grota Funda. Em geral estão associados à fácies bandada do Granito Pedra Branca.

JUNHO et al. (1988)4 explicaram as feições observadas na região como resultado de formação a partir de injeção de magma máfico no granito megaporfirítico, com formação de “gotas” de magmas básicos imersas em magma ácido.

CORREA NETO (1990)5 caracteriza esta região como pertencente a uma zona de enclaves estritamente xenolítica.

TURBAY et al (1999)12 descreveram os enclaves da Grota Funda como tipos hipoxenolíticos, tendo por base características de reação dos mesmos com o magma granítico circundante, além da deformação imposta pelo magma durante sua colocação.

RESULTADOS

# Geologia da Região da Grota Funda A região da Grota Funda encontra-se inserida no Complexo Granítico Pedra Branca (PORTO JR., 19942), com litologias variando de tipos essencialmente magmáticos, representadas por um granito megaporfirítico com variações faciológicas e diques básicos de idades mesozóica (HELMBOLD, et al., 19651), além de rochas metamórficas, gnaissificadas ou não, como o metagabro, anfibolito e plagioclásio gnaisse.

As unidades metamórficas, correspondentes às rochas encaixantes, afloram na porção superior da serra, formando um corpo ligeiramente inflexionado com mergulhos para SE (1550/ 440) e SW (2220/400), como que “imerso”

na massa granítica. Este corpo exibe duas zonas de contato com a massa granítica:

uma inferior, brusca e outra superior, gradacional, com injeção de material granítico ao longo dos litotipos metamórficos encaixantes (figura 02).

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A zona de contato inferior não possui enclaves propriamente ditos, mas prolongamentos da encaixante de até 4 m de comprimento, adelgaçados e deformados pela intrusão evidenciando o que pode ser o início da individualização dos corpos xenolíticos. As zonas de contato não possuem uma geometria uniforme e retilínea, e sim irregular.

Na zona de contato superior da rocha encaixante com o Granito Pedra Branca, algumas feições semelhantes as descritas por MOTOKI (1991)13 para Pedra da Gávea (figura 3A) foram caracterizadas. O autor acima citado, individualizou seis faixas sub- horizontais no contato entre a base de um corpo granítico e sua encaixante. Estas faixas foram caracterizadas do nível infe- rior ao nível superior respectivamente: 1) rocha encaixante não afetada, 2) rocha

encaixante fraturada com textura venular, 3) faixa agmática, formada pela mistura de rocha encaixante e granito de textura agmática, com xenólitos angulares e magma ocupando menos de 30% do vol- ume total, 4) Faixa de xenólitos, caracterizada por possuir xenólitos semi- angulosos de contornos arredondados imersos em 60 a 90% de material granítico, 5) faixa de enclaves, com enclaves de formas mais planares que as anteriores, deformação plástica e zonamento de biotita nas bordas, imersos em mais de 90% de material magmático granítico, 6) granito porfirítico. , excetuando-se as chamadas faixas agmática e de xenólitos.

Na região da Grota Funda (figura 3B) observa-se uma faixa venular com veios aplíticos de dimensões de 0.6 a 8 cm, concordantes a foliação da encaixante ou

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mesmo perpendiculares a ela, além de bolsões graníticos de espessura métrica, injetados a partir do corpo magmático. Abaixo dela segue uma faixa de enclaves apresentando xenólitos deformados e fusiformes, exibindo contatos bruscos ou gradacionais com a rocha circundante, formando, na periferia dos enclaves bordas enriquecidas em biotita.

Três zonas de enclaves foram associadas a porção superior do corpo metamórfico. A primeira localizada na porção leste da serra, na subida em sentido à região de Guaratiba, a segunda em sua porção centro-oeste, e a terceira, a oeste, no início da descida para a Baixada de Guaratiba (figura 02).

As zonas de enclaves exibem litotipos metamórficos e seus correspondentes migmatizados. Os contatos dos enclaves com o granito variam, podendo ser bruscos, como no caso dos enclaves anfibolíticos, até gradacionais, como os observados nos enclaves dos tipos gnáissicos. As medidas para direção de seus eixos indicam uma ondulação, de SW-NW (2600/200 a 280o/ 240), para NE-SE (0800/250 a 1300/250), similar aos megacristais de microclina do Granito Pedra Branca. Os enclaves anfibolíticos apresentam-se, via de regra, adelgaçados e fusiformes, com as extremidades em forma de cunha, podendo ser cortados por veios aplíticos quartzo- feldspáticos e possuir bordas enriquecidas em biotita. Os enclaves gnáissicos exibem formas mais poligonizadas, apresentando em, geral, bordas de reação que

evidenciam um certo grau de assimilação de material pelo magma do granito Pedra Branca. Estas feições, entretanto, são localizadas e restritas em volume. Por vezes observa-se megacristais de microclina injetados para o interior dos enclaves gnáissicos, evidenciando um certo nível de plasticidade adquirido pelo enclave e caracterizando uma mistura mecânica de magmas representada pela presença do xenocristal e do enclave propriamente dito.

Medidas de planos de contato entre a parte superior do corpo metamórfico (aqui representado pelo plagioclásio gnaisse) com o Granito Pedra Branca, na porção leste, forneceram valores com mergulhos para SE e SW (1550/650 e 2280/400), concordantes com a foliação observada nos litotipos metamórficos.

Relações intrusivas e resquícios de

Perfis comparativos entre a Pedra da Gávea e a Serra da Grota Funda

Figura 03

A- B-

Perfis comparativos entre a Pedra da Gávea e a Serra da Grota Funda

Perfis comparativos entre a Pedra da Gávea e a Serra da Grota Funda

Figura 03

A- B-

1- rocha encaixante não afetada

2- Faixa Venular 3- Faixa agmática 4- Faixa de xenólitos 5- Faixa de enclaves 7- Granito megaporfirítico

1- Granito megaporfirítico

2- Megaxenólito 2a- Rocha encaixe não afetada 2b- Faixa venular

2c- Faixa de xenólitos 3- Granito megaporfirítico

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textura magmática evidenciam uma ortoderivação do conjunto de litotipos metamórficos, estando os mesmos desta maneira inseridos na Série Inferior de HELMBOLD et al. (1965)1.

O anfibolito (Tabela 01) é uma rocha de caráter isotrópico, eventualmente com um sutil bandamento metamórfico, o que lhe confere uma estrutura gnáissica, podendo estar inalterados ou parcialmente alterados.

Possuem granulometria variando de fina a

média, coloração escura e estrutura maciça, com resquícios de textura magmática granular, podendo por vezes conter até 38% de quartzo (tabela 01). Por vezes assume um caráter francamente venular, sendo injetado por veios aplíticos quartzo-feldspáticos e pegmatíticos provenientes do granito, preferencialmente junto aos planos de foliação, mas podendo também ser oblíquos a estes (figura 04).

Sua relação de contato com o plagioclásio

Figura 04 - Zona de contato do Granito Pedra Branca com a parte superior do megaxenólito, representado no local por rocha anfibolítica. Observar as inúmeras injeções graníticas ao longo do corpo, sob forma de veios aplíticos e bolsões. Esta feição pode ser comparada com a faixa venular de Motoki (1991), observada na pedra da Gávea.

Tabela 01 - Composição modal dos principais litotipos (%):

Metagabro Granito Pedra Branca

Rochas Anfiboliticas

Plagioclásio Gnaisse

K-feldspato - 41 - 54 - 0 - 40

Plagioclásio 80 7 - 22 23 - 38 4 - 25

Quartzo 0.6 29- 35 3 - 38 54 - 73

Hornblenda 16 - 33 - 56 -

Biotita 0.9 4 – 7 0.5 - 4 1.5

Outros* 2.5 1.5 2 1

Inclui os minerais acessórios, opacos e secundários

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Figura 05 - Relação de contato entre o plagioclasio gnaisse e o anfibolito. Nesta foto, um pedaço de anfibolito é observado no interior do plagioclásio gnaisse, podendo indicar um dique metabásico adelgaçado e rompido no interior do gnaisse.

Figura 06 - Xenólitos de anfibolito, apresentando interação com o material magmático granítico circundante. O enclave inferior possui uma geometria fusiforme, com injeção de veios aplíticos.

gnaisse parece ser intrusiva (figura 05), com sills de até ½ metro de espessura, em alguns locais estirados e “boudinados”.

Podem, ainda, ocorrer sob a forma de enclaves em áreas restritas, ou em afloramentos de maior continuidade, ao

longo da parte mais elevada da Serra da Grota Funda. Os veios aplíticos podem, em certos casos, fragmentar os enclaves (figura 06) individualizando pedaços de menores dimensões, geralmente com formas quadráticas.

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Os anfibolitos maciços possuem textura granonematoblástica, com disposição preferencial dos grãos de hornblenda segundo um plano de foliação mal definido.

Sua composição mineralógica é dada por hornblenda, quartzo, plagioclásio e biotita.

A hornblenda perfaz cerca de 56% do seu volume (tabela 01) em grãos predominantemente xenoblásticos.

Núcleos de piroxenio preservados podem ser observados em alguns cristais de anfibólio. O plagioclásio possui contatos poligonizados. São grãos médios, geminados pela Lei da Albita ou por Carlsbad e representando 37% do volume da rocha. Podem apresentar crescimento sintaxial estando, em geral, saussuritizados. O quartzo é xenoblástico, ocorrendo em pouco volume. Titanita ocorre envolvendo grãos de minerais opacos, o que sugere que os mesmos possam ser uma ilmenita ou titano-magnetita.

Os anfibolitos bandados possuem textura granolepidonematoblástica inequigranular. O arranjo granoblástico é dada pelo quartzo e plagiocláso e o lepidonematoblástico pelos grãos de biotita e hornblenda. De ocorrência restrita tem- se minerais opacos e apatita. Os grãos de

hornblenda são predominantemente xenoblásticos, de cor verde oliva podendo chegar a tipos hipidioblásticos, contendo raras inclusões de apatita. A biotita possui volume variável neste litotipo, podendo, em certas ocasiões, estar completamente ausente, e em outras possuir quantidades superiores à hornblenda. Pode ocorrer formando grumos com o hornblenda e os minerais opacos.O plagioclásio possui contornos poligonais ou do tipo

“embayment” . Algumas vezes pode ser observada a presença de inclusões de biotita, apatita, minerais opacos, e, mais raramente, anfibólio. O quartzo é xenoblástico, intersticial, com inclusões de anfibólio. Os minerais opacos são hipidioblásticos ou xenoblásticos, podendo apresentar titanita em suas bordas. Esta litofacies apresenta uma porcentagem de quartzo e biotita maior que nos anfibolitos maciços. Em algumas porções, texturas granulares de origem magmática compostas por quartzo e plagioclásio (figura 07), encontram-se circundadas por texturas granoblásticas e granolepidonematoblástica, caracterizando uma feição magmática reliquiar.

Figura 07 - Fotomicrografia do anfibolito exibindo resquício de textura magmática granular.

Observar que os grãos de quartzo e plagioclásio encontram-se sem contatos triplos e pouco poligonizados. Este tipo de textura é observada em porções restritas nos enclaves do Anfibolito, geralmente circundadas por texturas metamórficas. Nicóis cruzados. Aumento de 33X.

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Ao microscópio observam-se como minerais acessórios apatita, zircão e minerais opacos. Sericita e saussurita ocorrem como produtos de alteração. A biotita quase sempre está associada aos minerais opacos, adquirindo, em certos casos, um caráter poiquilítico, incluindo grãos de apatita. O plagioclásio é xenoblástico, podendo variar para tipos hipidioblásticos. Em alguns casos observa- se crescimento sintaxial, com o cristal crescendo e englobando grãos de minerais adjacentes. O K-feldspato apresenta-se hipidioblástico. São grãos micropertíticos, ricos em inclusões de zircão e de quartzo

Figura 08 - Aspecto geral de uma banda leucocrática do plagioclásio gnaisse. Observar a textura granoblástica, os contornos poligonizados do quartzo e do plagioclásio e os contatos triplos entre os minerais. Nicóis cruzados. Aumento de 16X.

O plagioclásio gnaisse (Tabela 01) possui finas bandas biotíticas intercaladas à bandas leucocráticas de espessuras variadas, geralmente centimétricas, formadas por plagioclásio, quartzo e microclina. Trata-se de um litotipo inequigranular com granulometria variando de fina a média. Sua textura é predominantemente granolepidoblástica (figura 08) a porfiroblástica, com megacristais de plagioclásio. Sua tonalidade geralmente é clara, mas também pode-se observar porções acinzentadas mais escuras.

em forma de gotas. Os minerais opacos constituem agregados granulares junto à biotita.

Os contatos do plagioclásio gnaisse com o anfibolito são bem definidos, marcando uma clara relação temporal. Sua zona de contato com o Granito Pedra Branca é irregular e marcado por interdigitações, ao longo da subida da serra, em direção à Guaratiba.

O metagabro observado na região (tabela 01) possui uma textura mosqueada, granoblástica, constituída por clots de biotita e hornblenda, com granulometria média a grossa. Aflora nas porções topograficamente mais baixas, a aproximadamente cem metros do entroncamento da Av. das Américas com a Estrada dos Bandeirantes. A rocha apresenta-se cortada por veios pegmatíticos, de composição granítica, dispostos segundo um padrão de fraturas de atitudes 320o/60o, 215o/62o e 078o/90o. Tais veios tendem a formar bolsões em sua porção basal, afinando em direção ao topo, até desaparecer. Suas bordas são enriquecidas em biotita e hornblenda, com o metagabro tornando-se francamente mais máfico.

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A composição mineralógica do metagabro dada por hornblenda, plagioclásio, quartzo e biotita, evidencia uma paragênese mineral em fácies anfibolito (WINKLER 1979)14. A hornblenda contém inclusões de biotita e exibe núcleos reliquiares de piroxenio. A biotita geralmente aparece associada à hornblenda, por vezes desenvolvendo-se a partir de seus planos de clivagem. Os grãos de plagioclásio contém inclusões de biotita, zircão, hornblenda e apatita. Grãos menores de plagioclásio, em geral, apresentam formas arredondadas com bordas corroídas, podendo figurar como inclusão nos grãos de maiores. Os minerais opacos são representados por finos grãos

Figura 09 - Fotomicrografia da fácies bandada do Granito Pedra Branca. Observa-se na parte direita o desenvolvimento de mirmequita. À esquerda observa-se grão de biotita e desenvolvimento de muscovita secundária. Aumento de 16X.

xenoblásticos, arredondados, inclusos em plagioclásio e hornblenda.

O granito megaporfirítico (tabela 01), ou Granito Pedra Branca (PORTO JR. &

VALENTE, 19883), predomina em área na Serra da Grota Funda. Trata-se da ocorrência da fácies bandada, correspondendo a um granito de coloração rósea denotada por megacristais de microclina pertítica dispostos segundo uma direção planar determinada pela ação de fluxo magmático. Esta litofácies (figura 09) apresenta uma matriz de coloração acizentada onde destacam-se os megacristais idiomórficos de microclina que variam de um a seis centímetros de comprimento.

A fácies hololeucocrática (figura 10) aflora em uma pequena porção da Serra, interestratificada à facies média- homogênea, no início da serra, em direção a Guaratiba. Apresenta uma textura equigranular, de aspecto sacaroidal, granulometria média, com grãos hipidiomórficos. É composta por microclina, quartzo, biotita e plagioclásio, além de acessórios comuns como zircão.

A biotita ocorre em menos de 7% em vol-

ume associando-se aos minerais opacos na formação de pequenos grumos.

Pequenas gotículas de quartzo são observadas inclusas em grãos de microclina, ou sob a forma de mirmequitas.

O zircão e a apatita geralmente estão próximos aos clots de biotita e minerais opacos.

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Figura 10 - Fotomicrografia da fácies hololeucocrática do Granito Pedra Branca. Observar a textura equigranular da rocha e a ausência de biotita. A microclina exibe geminação tartan e

difusa, enquanto que o quartzo apresenta-se fraturado. Aumento de 16X

Figura 11 - Fotomicrografia de um basalto do conjunto de diques básicos. Observar a textura sub-ofitica, denotada pelo arranjo dos cristais de plagioclásio. Nicóis cruzados. Aumento de

16X Na parte centro-oeste da serra observa- se uma intrusão leucogranítica, que corta os litotipos metamórficos e o próprio granito Pedra Branca. Esta intrusão é interpretada como sendo proveniente de fases magmáticas tardias, francamente ácidas, podendo tratar-se da ocorrência da Unidade Leucogranítica de PORTO JR (1994)2 ,na região.

Diques de rochas basicas e alcalinas meso-cenozóicos (diabásios, basaltos, fonolitos e bostonito) cortam todos os conjuntos anteriores.

Os diques basálticos possuem espessuras variadas, de decimétricas a métricas. São rochas escuras, afaníticas, com textura ofítica a sub-ofítica (figura 11), ocorrendo em diques verticalizados que

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apresentam esfoliação esferoidal e capa de alteração ferruginosa. Devido à facilidade com que são intemperizados, geralmente condicionam a formação de drenagens. Ao microscópio observa-se textura ofítica a sub-ofítica, denotada pelo arranjo dos grãos de plagioclásio, clinopiroxênio e minerais opacos.

Os diques de rocha alcalina variam composicionalmente, mas há o predomínio dos tipos traquíticos, como o bostonito

CONCLUSÃO

As zonas de enclaves observadas ao longo da serra da Gota Funda evidenciam uma região de contato entre um corpo intrusivo, aqui descrito como o Granito Pedra Branca, e sua encaixante, representada pelos litotipos metamórficos.

As evidências da existência de duas zonas de contato entre o conjunto de rochas metamórficas e o corpo intrusivo, uma in- ferior e outra superior, podem indicar que o corpo metamórfico observado no local é um megaxenólito. Outra possibilidade plausível de discussão é que este corpo seja na verdade um teto pendente. A restrição em área da região mapeada, aliada à escala de trabalho (1:10.000) forneceram indícios

Figura 12 - Dique alcalino inclinado de bostonito (traquito), microfanerítico, cortando o granito megaporfirítico

(figura 12). Afloram em diques de menores dimensões (centimétricos a métricos), com coloração variando do marrom ao cinza. São tipos microfaneríticos estando, em geral, bem preservados.

A classificação segundo STRECKEISEN (1973)15 para os litotipos magmáticos e os metamórficos ortoderivados encontram-se exemplificados na figura 13.

para a caracterização local do megaxenólito, entretanto, mapeamentos efetuados em zonas mais abrangentes poderão elucidar melhor as questões aqui expostas. Tanto a presença de um megaxenólito quanto a estruturação de um teto pendente são indícios claros da proximidade da parte superior da câmara magmática.

As medidas de foliação e bandamento gnáissico nos litotipos metamóficos ( com máximos para ± 155o/42o e ± 226o /41o ) mostram uma inflexão na estrutura para SW, oposta ao padrão regional, com caimento para SE, indicando que a pressão exercida na encaixante durante a colocação da intrusão pode ter exercido tensão suficiente para deformá-la. As

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medidas de foliação e de eixos observadas nos enclaves mostram uma concordância com as existentes no megaxenólito indicando um posicionamento paralelo a sub-paralelo destes enclaves.

Magmas posicionados em regiões crustais medianas cristalizam-se com relativa lentidão, havendo tempo hábil para promover uma certa ductilidade nos en- claves, a partir do fornecimento de calor e pela pressão imposta pela movimentação e fluxo do material magmático, a ponto de tornar os enclaves fusiformes além de deformá-los.

A interação observada nas bordas dos enclaves, onde há assimilação de seus componentes pelo magma granítico circundante, poderia ter sido responsável pela formação de texturas de migmatização, deixando um resquício máfico refratário, representado pelas bordas enriquecidas em biotita e melanossomas de texturas migmatíticas, conforme observadas em alguns enclaves anfibolíticos.

a Quartzolito

1b Granitóides ricos em quartzo 2 Álcali-feldspato granito 3a Sieno-granito 3b Monzogranito 4 Granodiorito 5 Tonalito

6 Álcali-feldspato-sienito 6* Quartzo-álcali-feldspato-sienito 7 Sienito

7* Quartzosienito 8 Monzonito 8* Quartzomonzonito 9 Monzodiorito ou Monzogabro 9* Quartzo-monzodiorito ou Quartzo- monzogabro

10 Diorito ou Gabro com foid 10* Quartzo-diorito ou Quartzo-gabro

A P

Q

1a

1b

2 3a 3b 4 5

6* 7* 8* 9* 10*

6 7 8 9* 10

Streckeisen, 1973

Granito Pedra Branca Plagioclásio Gnaisse Anfibolito c/ alto quartzo Anfibolito

Metagabro

Figura 13- Classificação segundo Streckeisen (1973)15para os litotipos

magmáticos e metamórficos ortoderivados da Serra da Grota Funda. a Quartzolito

1b Granitóides ricos em quartzo 2 Álcali-feldspato granito 3a Sieno-granito 3b Monzogranito 4 Granodiorito 5 Tonalito

6 Álcali-feldspato-sienito 6* Quartzo-álcali-feldspato-sienito 7 Sienito

7* Quartzosienito 8 Monzonito 8* Quartzomonzonito 9 Monzodiorito ou Monzogabro 9* Quartzo-monzodiorito ou Quartzo- monzogabro

10 Diorito ou Gabro com foid 10* Quartzo-diorito ou Quartzo-gabro

A P

Q

1a

1b

2 3a 3b 4 5

6* 7* 8* 9* 10*

6 7 8 9* 10

Streckeisen, 1973

A P

Q

1a

1b

2 3a 3b 4 5

6* 7* 8* 9* 10*

6 7 8 9* 10

Streckeisen, 1973

Granito Pedra Branca Plagioclásio Gnaisse Anfibolito c/ alto quartzo Anfibolito

Metagabro

Granito Pedra Branca Plagioclásio Gnaisse Anfibolito c/ alto quartzo Anfibolito

Metagabro

Figura 13- Classificação segundo Streckeisen (1973)15para os litotipos magmáticos e metamórficos ortoderivados da Serra da Grota Funda.

Desta forma, os enclaves podem adquirir feições plásticas e deformadas, características de enclaves hipoxenolíticos, oriundos de zonas crustais profundas. No entanto, sabe-se que os mesmos sofreram pouca movimentação, cujas maiores evidências são a similaridade com as encaixantes sobrepostas, e a estruturação subparalela à foliação das mesmas. Assim, considerando-se a classificação de DIDIER (1973)10 e WERNICK (1983)11, estes en- claves tratam-se de tipos essencialmente epixenolíticos, tendo sua disposição condicionada segundo a estruturação do megaxenólito.

Enclaves angulosos, quadráticos, são formados a partir da injeção de material granítico em forma de vênulas aplíticas e pegmatíticas, desmembrando os en- claves de maiores dimensões. A relativa concordância entre as medidas de foliação obtidas nos enclaves e litotipos do megaxenólito com as da encaixante evidenciam um comportamento passivo da encaixante, e pouca movimentação dos enclaves.

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REFERÊNCIAS CITADAS

[1]HELMBOLD, R.; VALENÇA, J.G. &

LEONARDOS, O.H. 1965. Mapa Geológico do Estado da Guanabara, esc. 1:50000. MME/DNPM. Três folhas.

[2]PORTO JR., R. 1994.Dissertação de mestrado, IG/UFRJ. 1222p.

[3]PORTO JR., R. & VALENTE, S.C. 1988.

Anais 350 Congress. Bras. Geol. Belém, 3, 1066-1079.

[4]JUNHO, M.C.B.; WEBER- DIEFENBACH, K.; WIEDEMANN, C.M.

& PENHA, H.M. 1988. Revista. Brasileira de Geociências, 17(4), 507-511.

[5]CORREA NETO, A.V. 1990. Relatório final de estágio de campo IV, IG/

UFRJ.107p.

[6]LEONARDOS JR., O.H. 1973. Ph.D.

Thesis. Univ. Manchester, England, 183p.

[7]PIRES, F.R.M.; VALENÇA, J.G. &

RIBEIRO, A. 1982. An. Acad. Bras.

Ciên, 54 (3), 563-574.

[8]PENHA, H.M.; FERRARI, A.L.;

RIBEIRO, A.; PETAGNA, F.; AMADOR, E.S. & JUNHO, M.C.B. 1980. Anais XXXI Congr. Bras. Geol. Camboriú, 5, 2965-2974.

[9]LACROIX, A.1890. C. R. Acad. Sci.

Paris, 111, 1003-1006.

[10]DIDIER, J. 1973. In: Granites e their en- claves. ELSEVIER, Amsterdam.

[11]WERNICK, E. 1983. Geociências, 2, 87-96.

[12]TURBAY C.V.G, ESTEVES, A.A. &

PORTO JR., R. 1999. Anais do VI Simp.

Geol. Sudeste. São Pedro, 1, 22.

[13]MOTOKI, A. 1991. Anais do II Simp.

Geol. Sudeste. São Paulo, 1, 155-160.

[14]WINKLER, H.G.F. 1979. Petrogenesis of Metamorphic Rocks. Springer- Verlag, New York.

[15]STRECKEISEN, A. 1976. Earth Sci.

Rev., 12, 1-33.

Referências

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