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O bairro de Santana se desenvolveu na Região Norte, nas proximidades da zona. rural e às portas de entrada da cidade de São José dos Campos.

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CAPÍTULO 5

5.1.O BAIRRO DE SANTANA

(...) O perímetro urbano abrangia uma pequena parte do platô da área central, além da significativa aglomeração distante, quase uma outra cidade, Santana. Era um misto de residência e comércio local, onde se distinguia, com alguma dificuldade, tais estabelecimentos fabris. (A. SANTOS, 2006)

O bairro de Santana se desenvolveu na Região Norte, nas proximidades da zona rural e às portas de entrada da cidade de São José dos Campos. Ponto de passagem para os distritos de Buquira, Patrocínio, S. Francisco Xavier, e para o sul de Minas Gerais possuía localização estratégica para a instalação de pequenas propriedades rurais apresentando intensa movimentação de pessoas e negócios já no inicio do século XX.

Nas diversas chácaras que circundam o bairro, cultivam-se o café, canna, feijão, milho, arroz, mandioca e quasi todas as variedades de plantas fructiferas. Dentre essas destacam-se as dos snrs.

Irmãos Veneziani e a do snr. Francisco Pereira Barreto, aquella com cerca de 80.000 e esta com cerca de 25.000 cafeeiros, há ainda as chácara-pomares salientando-se nestas as dos srs, Nuno de Mello Vianna, “Chacara Sant`Anna”, do sr. João Bertolotti, especial em uvas, “ Chacara Baptista”, “Chacara Boa Vista” e outras.

O P a rq u e d a C id a d e R o b e rt o B u rl e M a rx

(2)

A indústria de lacticinios tem algum incremento. Há diversas leiterias com uma produção mensal de 15.000 litros de leite, sendo todo elle consumido na cidade....A criação do gado vaccum, devido á industria do leite, é bastante desenvolvida. Nas grandes pastarias que se extendem por todos os lados existem cerca de 1.000 rezes sendo a maioria da raça caracú, havendo, entretanto alguma zebu, hollandeza, jersey, etc(...)

(MONTEIRO, 1922 apud E. SANTOS, 2002,p.40)

Oficialmente assim nomeado por ocasião da construção da Igreja de Sant’Ana do Paraíba

1

em 1869 por moradores da margem do Paraíba, tornou-se um bairro economicamente ativo e bastante atraente para a instalação de indústrias pela grande presença de mão de obra desempregada em virtude da crise da cafeicultura. Ao passo que um maior número de indústrias se deslocava para a região, as oportunidades de trabalho assalariado também aumentavam, atraindo famílias inteiras para o bairro.

Nos idos dos anos 1920, este era um bairro dinamizado não só pela instalação das indústrias têxteis bem como por sua vida cultural e mesmo social. Saraus poéticos, manifestações teatrais e clubes literários representavam os ares de

“civilidade quase européia” do bairro

2

.

1

Padroeira do bairro.

2

O Grupo Dramático Sant`Annense fundado em 1900 foi um desses movimentos que obtiveram

notoriedade. Durou por cinco anos, onde um grupo de respeitáveis senhores e senhoritas

brindavam a comunidade com “excellentes noitadas onde os dramas e comédias eram

interpretados com a pose de verdadeiros artistas”. MONTEIRO (1922) Apud E. SANTOS (2002).

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Segundo E. Santos (2002), estas manifestações demonstram a importância do período do café para a constituição da paisagem da vida urbana em São José dos Campos, mesmo que estas tenham influenciado mais as elites, proporcionando- lhes certo refinamento e urbanidade. Santana, também, apresentava dinâmica urbana bastante intensa especialmente devido ao notável desenvolvimento do diversificado comércio.

(...) esse comércio contava com treze casas de secos e molhados, quatro lojas de tecidos, um açougue, um bar e bilhar e dois salões de barbeiro. (MONTEIRO 1922 apud E. SANTOS, 2002, p.40).

O deslocamento da estação “Central do Brasil“ (1925) (Figura 01),como conseqüência de modificações de percurso do trem, fizeram com que o bairro ficasse cada vez mais integrado à cidade e a partir daí vários empreendimentos fabris instalaram-se em Santana, afinal, o bairro possibilitava associar o uso das águas do Rio Paraíba do Sul ao acesso à ferrovia. A condição de bairro industrial foi oficialmente anunciada pelo inicio das atividades da Tecelagem Parahyba em 1927.

Primeiro a Tecelagem Parahyba, especializada em cobertores,

logo seguida da Malharia Alzira, fabricante de meias. A região do

Vale do Paraíba Paulista possuía 4% das fábricas têxteis

brasileiras no final da década de 1920.(SESC, 2007 p.5)

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Figura 01- Implantação da Estação Central do Brasil, ao fundo a Tecelagem Parahyba.

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo - DPH

O bairro adquiria cada vez mais o perfil de Bairro Industrial, que foi reafirmado a

partir do primeiro Zoneamento de Funções criado pela Prefeitura Sanitária de

Francisco José Longo em 1933, quando, com o objetivo de localizar as indústrias

em direção oposta às Zonas Residencial e Sanatorial, várias destas foram

transferidas para o bairro. Inúmeras fábricas também se instalaram no bairro a

partir de então como: a Cooperativa de Laticínios Central (atual Cooper) em 1935,

a Cerâmica Conrado e Bonádio, (1936 -1958) a Cerâmica Weiss (1943 a 1995), a

Rhodosá de Rayon - Rhodia (1946), a Zanine Pontes e Cia. Ltda ("Móveis

Artísticos Z") de Zanine Caldas e Sebastião Pontes (1948-1962), a Fecularia

Rennó (1948-1972) e a Fábrica de Bobinas Electra Ltda. (1955).

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Com o desenvolvimento da indústria em Santana houve um crescimento econômico progressivo, o que levou ao aumento significativo da população do município

3

e à modificação de sua paisagem. São José dos Campos havia atraído as atenções da população regional e Santana passara a ser o referencial de quem vinha “Serra abaixo”. Com isso, foram percebidas, mudanças na vida social, econômica e cultural do bairro, todavia não ocorreram grande mudanças urbanas significativas nesta época.

Apesar do crescimento impulsionado pela instalação da Tecelagem Paraíba (1927), os caminhos de Santana não se ampliaram muito na década de 1930.(OLIVEIRA, 1999, p.62). A mudança na paisagem veio do crescimento populacional causando um aumento no número de habitações que preencheram os vazios existentes nos caminhos já definidos. Mais tarde, com a instalação da Rhodia em 1946 todo o quadro sócio - econômico do município e de Santana, foi influenciado ,alterando substancialmente a estrutura espacial do bairro:

Multiplicaram-se as pensões e sempre “deu-se um jeito de caber mais”. Muitos utilizaram-se de hospedagem de conhecidos familiares e amigos – e gradativamente , foram se fixando de forma mais eficaz em Santana.(OLIVEIRA, 1999, p. 71-72)

3

Estima-se que a população no inicio do século XX era de 18.122 habitantes chegando ao inicio

da década de 20 aos 30.681 habitantes.(A. SANTOS, 2006, p. 60)

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Neste quadro, ocorreu um crescimento urbano no município, sendo que o bairro de Santana foi um dos únicos núcleos que manteve o equilíbrio entre o número de equipamentos públicos e o número de habitantes. Tornou-se o lugar ideal para a população de baixa renda, pois além do acesso ao trabalho nas indústrias, havia o acesso às escolas e hospitais.

A implantação da Rhodia (1946) foi um marco na modificação da dinâmica de Santana, pois, foi a partir daí que o bairro não mais suportaria sediar a instalação de grandes plantas por falta de espaço. A construção da Rodovia Presidente Dutra confirmou a tendência de expansão do município, possibilitando fácil acesso às capitais do Rio de Janeiro e São Paulo. A evolução do transporte rodoviário facilitou e acelerou o envio e recebimento de matéria prima e de produtos das indústrias. Assim, as fábricas começaram a se instalar às suas margens, pois com evolução da tecnologia fabril, não seria mais necessário estar próximo à ferrovia ou ao Rio Paraíba.

Apesar de seu caráter de bairro industrial ter se esvaído com os passar das

décadas, Santana desenvolveu uma certa autonomia, possibilitada pelo acesso

fácil aos bens de serviço, mas principalmente pela contínua identificação cultural

de seus habitantes. O bairro criou uma identidade própria, favorecida pela ligação

dos moradores com suas origens do campo e pela presença maciça de “mineiros”.

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O distanciamento geográfico em relação aos outros bairros, além do tradicional e diversificado comércio existente também foram pontos positivos para o bairro. De acordo com Oliveira (1999, p. 76) esta “autonomia” de Santana, que viabilizava condições para as atividades comerciais, industriais, institucionais e habitacionais em seu próprio espaço, durou até a década de 1970 quando aos poucos a mancha urbana foi se aproximando cada vez mais do centro, ou seja, quando a expansão da Cidade englobou bairros adjacentes.

Quanto às indústrias, duas grandes empresas responsáveis pelo inicio da grande transformação urbana do bairro como a Rhodia (1946) e a Tecelagem Parahyba (1927), foram, respectivamente, transformadas em um condomínio industrial ocupado por várias empresas, e no Parque da Cidade Roberto Burle Marx.

Enquanto a grande maioria restante foi à falência

4

, deixando para trás complexas instalações fabris, resquícios de vilas operárias, memórias de um tempo de riqueza e glória do bairro.

4

A partir dos anos 1960, com incentivos do governo federal grande parte das indústrias criadas em

São José dos Campos focava a produção bélica e aeronáutica. A criação do CTA (1947) propiciou

esta modificação de panorama econômico- industrial do município.

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5.2. DE TECELAGEM A PARQUE PÚBLICO – A HISTÓRIA DO PARQUE BURLE MARX

Criada em 14 de Março de 1925 a Tecelagem Parahyba iniciou sua construção apenas em 18 de setembro de 1926, logo após a concessão da isenção de impostos por 25 anos. Foi a terceira grande indústria a se instalar em São José dos Campos. E devido à demorada burocracia para a liberação do maquinário

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só iniciou suas atividades efetivamente em 1927. A fábrica original totalizava 7.491 m² e produzia unicamente brim, tecido utilizado para confecção de vestuário. O empreendimento integrava a Vila Operária com 26 casas.

Com a “quebradeira” decorrente da crise econômica mundial de 1929 aparecem dificuldades para a fábrica. Dentro deste contexto, um comerciante e agricultor experiente, residente em São Paulo e com propriedades em Guaratinguetá, é chamado para fazer uma espécie de consultoria: Olivo Gomes. O comerciante faz uma avaliação dos ativos fixos da empresa visando créditos para a ampliação do capital social da empresa. Assim, em julho de 1930 é convidado para assumir a gerência da fábrica, e em meados de 1933, já na condição de acionista, substitui Ricardo Severo à frente da companhia, um dos fundadores e o principal dirigente.

5

Havia uma política de uso de incentivos fiscais para importação de equipamentos industriais,

todavia, o processo era lento e burocrático.

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Figura 02- Portaria Tecelagem, final dos anos 30.

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo-DPH

Recuperada das dificuldades enfrentadas no inicio da década de 1930, a Tecelagem assume grandes dimensões a partir da metade da década. Em 1938 registrava cerca de 1200 funcionários, o que correspondia a 8% dos 14.474 habitantes da zona urbana do município

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, com uma produção mensal de 170.000 cobertores e 180.000 metros de brim. (Figura 02).

6

Já neste período os dirigentes da Tecelagem, em especial Olivo Gomes, iniciavam uma

preocupação social que marcaria os futuros empreendimentos da empresa.Esta se demonstrava

através do incentivo aos estudos, haja vista haver, já nesta época, duas escolas de ensino

fundamental funcionando dentro da área pertencente à fábrica.

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No inicio dos anos 40, em função da Segunda Grande Guerra há um aumento no lucro com as exportações, além da afirmação da marca Cobertores Parahyba no mercado interno. Tal crescimento pode ser percebido principalmente ao final da década quando a fábrica chega a uma produção anual de quatro milhões de cobertores. Com o capital necessário, Olivo Gomes começa a investir no setor agrícola e pecuário, adquirindo, neste período, a primeira fazenda, da família: a Sant’ana do Rio Abaixo, na divisa das cidades de Jacareí e São José dos Campos.

A partir daí, o industrial inicia uma busca pelo aperfeiçoamento científico da

produção agropecuária e da agricultura. Viagens aos EUA trazem novidades, que

não somente eram aplicadas na fazenda como na própria Tecelagem. Adquire

mais terras, a maioria localizada às margens do rio Paraíba. Assim, o rio Paraíba

ocupa lugar de parceiro estratégico na propriedade dos Gomes, pois através da

potencialização de suas várzeas para a produção de alimentos criar-se-ia a base

de um projeto agroindustrial. Propunha-se usar a vazante natural do rio e o regime

de suas cheias periódicas seria controlado por meio de um sistema de pôlderes

(muros). Assim, seria possível dirigir a água por canais que irrigavam áreas de

cultivo e solos empobrecidos pela cafeicultura.

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Nas décadas de 50 e 60 a acelerada industrialização do Vale do Paraíba provocou um grande crescimento da produção da Tecelagem Parahyba. Abrangendo uma área total de 150.000 m² a fábrica liderava nessa época o mercado nacional de cobertores e mantas, correspondendo a 70% desta produção. Com um crescimento sem precedentes desde a sua fundação, a fazenda da Tecelagem atingiu destaque em produtividade, despertando até mesmo a atenção da Fundação Rockfeller e passando a sediar vários eventos internacionais como feiras comerciais da área têxtil.

Atribui-se este crescimento a uma campanha publicitária pioneira, que usava de forma inovadora o chamado “market agressivo” com a veiculação de peças publicitárias no radio, cinema e TV. Assim, eternizava-se a imagem do boneco, o desenho de uma criança de pijama, que seria então incorporado à marca dos cobertores, tornando-se um símbolo da própria Tecelagem Parahyba.(Figura 03).

A partir daí, a produção de cobertores é diversificada e, por meio do pagamento

de royalties, passa a fabricar cobertores desenhados por marcas mundialmente

conhecidas como Pierre Cardin e Walt Disney.

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Figura 03 - Campanha Publicitária dos Cobertores Parahyba, 1961.

Fonte: Acervo Fundação Cultural Cassiano Ricardo - DPH

5.2.1.O Complexo na história

Paralelamente ao desenvolvimento econômico provocado pela instalação do complexo, o bairro de Santana, onde se encontrava instalada a Tecelagem Parahyba, foi espectador de mudanças no aspecto social e cultural. A população de São José dos Campos crescia especialmente a do bairro de Santana, em função do êxodo da zona rural do município e sua base produtiva era modificada.

Chocavam-se os valores de uma população de tradição agrário-comercial com os

valores de um novo núcleo urbano-industrial em crescimento.(Figura 04)

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Com a existência cada vez maior de população assalariada no bairro houve um crescimento no setor comercial e de prestação de serviços. O acesso ao consumo de determinados bens e artefatos propiciou a consolidação de estabelecimentos comerciais na área.O crescimento econômico e as modificações urbanas eram motivados através da doação de materiais, empréstimo de equipamentos e até de dinheiro pela Tecelagem, numa forma paternalista de administração.

Figura 04 – Foto aérea da Tecelagem-década de 30

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo - DPH

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Visando fortalecer a integração entre funcionários e empresa, a Tecelagem promovia festas e comemorações para os operários e suas famílias. Durante estes festejos o espaço da fábrica era o centro de todas as atividades do bairro. Um bom exemplo é a tradicional Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora (padroeira da fábrica), que ocorria todos os anos na data de oito de Dezembro.

Esta era realizada no Galpão de Máquinas e Equipamentos

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, onde se realizava a missa, em frente ao painel de Burle Marx (1960). Logo após havia um churrasco, onde participavam todos os funcionários, além de membros da família Gomes.(Figura 05)

Figura 05- Foto da Festa da Imaculada Conceição dentro do pátio da fábrica, anos 60.

Fonte: Acervo Fundação Cultural Cassiano Ricardo - DPH

7

Chamado também de Galpão Gaivota.

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Com a instalação de indústrias de médio e grande porte e o crescimento do bairro, a vida recreativa e de lazer da população local acontece ora de maneira privada - em suas residências ou residências de vizinhos, ora nas ruas de maneira pública.

Na ausência de espaços livres públicos coletivos como praças e parques, a família Gomes proprietária da Tecelagem Parahyba cedia algumas de suas instalações, como o Galpão Gaivota, os pátios do entorno da Tecelagem e parte dos Jardins para festejos populares.

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O futuro parque torna-se espectador da ascensão da família nos meios políticos e econômicos do país, e participante ativo das ações praticadas no bairro que o abriga. Assim, alternam-se festas da alta sociedade paulista e festas populares (Figuras 06 e 07) em suas instalações. Há ainda a presença constante de crianças da própria família, bem como os filhos de operários da fábrica e de moradores do bairro que conviviam, principalmente no período de férias escolares, quando as instalações da família (jardins, antiga residência e piscina) serviam de espaço para a Colônia de Férias.(Figura 08)

É, ali naquele, no espaço ali onde você vê que tem, em volta da piscina de criança, ao lado da entrada principal da casa, por muito tempo foi utilizado aquele espaço prá festas. E, onde tem o teatro de arena, também, era um espaço que eles utilizavam muito prá festa aquele espaço.

8

Festas juninas e de Carnaval.

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Em outros momento, dependendo da ocasião também usava muito a própria casa dele. Então as pessoa que era amigas, conhecidas, assim, então sempre tavam em festa deles, eles faziam muita festa na própria casa, reveillon, coisa assim, e curioso que não era só o pessoal deles não, era a gente, os funcionário mais ligado, em todas as festa eu participava, tava lá, realmente tava junto.(...).( PEREIRA, 2000)

Figura 06- Festa da sociedade paulista, anos 1940.

Fonte: Acervo Fundação Cultural Cassiano Ricardo-DPH

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Figura 07- Festa para os operários, anos 50.

Fonte: Acervo Fundação Cultural Cassiano Ricardo - DPH

Figura 08- Colônia de Férias, anos 60.

Fonte: Acervo Fundação Cultural Cassiano Ricardo - DPH

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5.2.2. Rino Levi, Burle Marx e os Gomes: A ampliação do Complexo

Concomitantemente ao crescimento da Tecelagem, a família Gomes aumentava, e tais fatos despertavam a necessidade de rever as edificações que estruturavam o Complexo. O projeto da residência é o primeiro a ser solicitado. O arquiteto Carlos Millan, amigo próximo da família - principalmente dos filhos de Olivo, Clemente e Severo Gomes - é chamado para executar o projeto, que não se sentindo preparado para tal, sugere Rino Levi. O arquiteto, conhecido das reuniões do Clube dos Artistas dos quais os Gomes participavam, aceita o desafio e convida Burle Marx, parceiro de vários outros projetos, para planejar o paisagismo.

A parceria desenvolvida entre Rino Levi e Burle Marx na residência Gomes resulta num projeto totalmente integrado à paisagem no qual a casa, situada nos limites da várzea do rio Paraíba, se debruça sobre a paisagem e se torna parte dela através dos painéis de vidro. (Figuras 09 e 10).

A casa é idealizada para usufruir quanto possível o panorama

através de um primeiro plano de jardim, com o qual se mantém em

ligação (LEVI apud FUNDAÇÃO, 2000)

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Neste projeto modernista há uma forte integração entre arquitetura e paisagismo.

Isto ocorre como consolidação de uma fase da arquitetura e paisagismo modernos cuja característica principal estava baseada na “transparência e visibilidade da residência e na formalização do jardim da família”.(MACEDO, 2003, p.3)

Observa-se a intenção do paisagista em conduzir o olhar do observador através do uso de cores, e de contrastes de luz e sombra. As cores vivas dos painéis casam com as escalas de massas de vegetação havendo uma hierarquia para a observação dos elementos de interesse: a casa, o grupo de guapuruvus, o jardim frontal. Os painéis se destacam através do espelho d’água que reflete a residência como foco principal. (Figuras 11, 12 e 13)

Figura 09 –Residência Olivo Gomes

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

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Figura 10–Residência Olivo Gomes Foto Vinie Pedra Jorge, 2006.

Figura 11 - Jardins da Residência Olivo Gomes

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

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Segundo Anelli (2001) no projeto da residência dos Gomes, realiza-se o melhor exemplo de síntese das artes:

Nada é supérfluo: desde o paisagismo e os painéis de azulejo e mosaico e a iluminação, tudo se articula organicamente, desempenhando alguma função na realização do partido do projeto (ANELLI ,R; GUERRA, A & KON, N. 2001)

Figura 12– Jardins e Residência Olivo Gomes

Foto Vinie Pedra Jorge, 2006.

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Figura 13– Jardins e Residência Olivo Gomes Foto Vinie Pedra Jorge, 2006.

Apesar de Rino Levi e Burle Marx terem planejado a residência e paisagismo

conjuntamente, os jardins só foram elaborados em sua totalidade uma década

após as obras da residência terem se iniciado. A construção da residência foi

realizada entre os anos de 1951 – 1958 e o projeto dos jardins da residência

elaborado por Burle Marx, foi executado em duas fases: nos anos 50 (ÁREA 1) e

nos anos 60 ( ÁREA 2), delimitadas na figura abaixo (Figura 14). Já na ÁREA 3

(executada dos anos 1970 até 1993) houve a participação “informal” do paisagista

, mas não existe documentação na forma de desenhos ou relatórios que comprove

este fato. Podemos contar como documentação, apenas com fotografias

publicadas em livros ou com o Banco de Fotos do arquiteto Haruyoshi Ono sócio

de Burle Marx e co-autor de inúmeros projetos.

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Da década de 1970 a 1993 acompanhamos muitos inúmeras visitas nas quais Burle Marx e o Sr Clemente Gomes ao andarem pelos jardins acertavam algumas alterações de localização de espécies vegetais, acréscimo de indivíduos e subtração de outros.

Infelizmente nada foi desenhado nem relatado por escrito.

(ONO & GOMES, 2004, p.2)

A V . O L

IV O G O

M E S A V

. R U I B A

R B O S

A

2 1 3

3

3

3

Área 1- Projeto executado na década de 50 – jardins da frente da casa e espelho d’água

Área 2- Projeto executado na década de 60 – jardins da parte de trás da casa, anfiteatro, piscina.

Área 3 – Projetos executados de 1970-1993 - São alterações que tiveram a consultoria de Burle Marx, todavia não existe documentação que comprove este fato.

Figura 14 -Croqui da área dos jardins e residência Olivo Gomes

Autor: Fundação Cassiano Ricardo - DPH

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A primeira fase de projetos paisagísticos de Burle Marx para a propriedade dos Gomes, que se tem registro, é um projeto de 1950, no qual, Burle Marx elabora o primeiro traçado dos acessos principais da propriedade, desde a entrada, próxima a uma estrada de ferro, passando pela fábrica e pela residência principal, e indo até a parte de trás, cerca de 400m de distância da residência. O segundo projeto, que remonta da mesma data, trata dos jardins de entorno da residência principal.

O terceiro desenho é um projeto de jardim com zoneamento da área de aproximadamente 500.000 m² e inclui localização de estradas secundárias e caminhos tanto na parte de trás como na frente da residência. (ONO & GOMES, 2004)

Além do paisagismo, Burle Marx também projetou três painéis mural para a residência (1950) (Figuras 15, 16 e 17) e outro painel para o Galpão Gaivota (1960) (Figura 18). Projetou uma piscina

9

de formato assimétrico que no jardim se destaca como uma ilha (Figura 19) e um anfiteatro de arena em concreto armado.

(Figura 20).

9

A piscina é revestida de cerâmica azul 2cm x 2cm e tem com profundidade constante de 38cm.

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Figura 15 – Painel externo face sul / Burle Max Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

Figura 16 – Face norte da parede interna da sala de estar/ Burle Max

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo – DPH, 2000.

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Figura 17 –Painel externo face norte Residência/ Burle Max Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

Figura 18 – Painel no posto de Gasolina do Galpão Gaivota /Burle Max

Foto: Akemi Hijioka, 2007.

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Figura 19 –Piscina/ Burle Max Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

Figura 20 -Anfiteatro/ Burle Max

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

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De acordo com Macedo (2003) pode-se dividir o processo de formação da arquitetura paisagística moderna em 3 etapas distintas que recobrem um período de 53 anos. O parque da Cidade Roberto Burle Marx é um exemplo de parque projetado da segunda etapa (1950 – 1960) quando há um aumento da demanda por projetos paisagísticos modernos, e da terceira etapa (1960-1989), quando o paisagismo eclético inspirado nos moldes europeus é banido e a atividade criativa passa a ser ponto focal na produção de novos espaços tanto públicos como privados.

10

Com a obra da nova residência da família Gomes por Rino Levi (1951-1957) e dos jardins por Burle Marx (1961) há o inicio de uma relação de amizade entre o arquiteto, o paisagista e a família culminando numa série de novos projetos que se sucedem, entre eles: o projeto para o complexo industrial da Tecelagem Parahyba que abrangia: o Mercado

11

(1951) e o Conjunto Residencial para Operários (1951 e 1953)

12

, o Posto de Gasolina (1953), o Estádio de Futebol (1957), o Galpão para Máquinas (1953-1957), a Usina de Leite Parahyba (1963- 1965), o Hangar para aviões (1965) e o Depósito de produtos acabados (1973).(SERAPIÃO, 2001)

10

O paisagismo elaborado para este projeto marca uma fase de transição de jardins pictóricos e de formas abstratas e sinuosas para formas designadas como um jardim concretista, ou jardim construtivo. Esta fase contrapõe-se às formas amebais de fases anteriores com o uso de linhas retas e é marcada pelo uso de espelhos d ’água, pelo desenho de canteiros regulares e amplos gramados. Segundo Marcondes& Katsuki (2005) esta é a primeira obra de transição para uma nova fase, considerada de grande relevância na obra de Burle Marx.

11

O Mercado para Funcionários (1951) foi o primeiro mercado que aplicava o sistema “pegue- pague” onde o cliente escolhia e pagava por sua compra. Considera-se tal Mercado o primeiro Supermercado do país.Destruído por um grande incêndio em 1953 foi substituído em 1957 por outro – projetado por Rino Levi – integrava com o Galpão para maquinas agrícolas (1957) formando todo um conjunto pensado pelo arquiteto.

12

Com creche, jardim da infância, centro de saúde e igreja.

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5.2.3.O Paisagismo de Burle Marx e os Gomes

A família Gomes possuía uma forte ligação com a questão ambiental. Por ser uma família que participava dos movimentos de vanguarda, passou a seus filhos e netos a preocupação em estabelecer áreas de reflorestamento em suas fazendas, e a paixão por paisagismo.(FUNDAÇÃO, 2004). Havia grande curiosidade por plantas e outras formas de vegetação e sempre que possível Olivo Gomes fazia seus filhos participarem do processo de plantio de diferentes mudas, geralmente trazidas de outras fazendas da família. Assim cresceram os filhos Severo e Clemente Gomes que com o passar do tempo tomaram rumos em diferentes profissões

13

:

Clemente Gomes foi o filho que mais desenvolveu seu talento natural por paisagismo, participando de todas as decisões referentes ao plantio de novas espécies e na manutenção dos jardins plantados pela família. Tornou –se um grande amigo de Burle Marx e a curiosidade e engenhosidade herdadas do pai levaram-no a ser um paisagista nato. Burle Marx viu em Clemente um amigo atento a detalhes e disposto a aprender.

13

Severo tornou-se advogado e ingressou na política chegando ao cargo de senador da república

pelo estado de São Paulo. Clemente tornou-se engenheiro e foi o principal administrador da

Tecelagem Paraíba seguindo os passos de seu pai.

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Em virtude desta forte amizade com os Gomes. Burle Marx continuou a fazer visitas freqüentes à propriedade, mesmo após a execução dos projetos dos jardins da residência. Estas visitas tanto de amizade, quanto de trabalho, serviam também como uma espécie de ”consultoria informal” do paisagista. Tal fato pode ser ilustrado através das entrevistas de Saulo Dias Pereira

14

para a Fundação Cassiano Ricardo, como no trecho abaixo.

(...) na área de fábrica é, como ele sempre tinha também as opiniões dele, né, lógico. E a gente também queria isso dele, né, um parecer dele. Então nas visita dele, que ele andava por isso tudo, então ele acabava vendo alguma coisa, acabava sugerindo alguma coisa também...também dá uma idéia: “Ah, se colocasse aqui, não dá, isso aqui fazê assim também melhora bastante”. Isso a gente aproveitava também, qualquer oportunidade eu mesmo não perdia, não perdia oportunidade prá tá sempre “arrancando”

alguma coisa dele, às vezes até coisa que... em áreas que não era do projeto dele. “A gente plantô isso aqui, ou tá pensando em plantá, tá uma opinião, tá uma ajuda prá gente”, então era sempre assim. No que era possível, a gente acabava também pegando a experiência dele, a visão dele prá...auxiliá. (PEREIRA, 2000)

14

Saulo Dias Pereira – Técnico Agrônomo responsável pela manutenção dos jardins do Parque e

da Fábrica de 1975 à 1992. Trabalhou nos projetos de Burle Marx para a família Gomes, tanto em

São José dos Campos como em Areias.

(31)

Por razão da ausência de registro formal de todos os projetos de Burle Marx para o Parque da Cidade, não se pode afirmar com precisão a respeito da abrangência do traçado do paisagista. Assim, confrontaram-se informações fornecidas pelo escritório de Burle Marx e pela Fundação Cassiano Ricardo, além de dados coletados em livros. Desta análise resultou o mapeamento do conjunto de projetos de paisagismo para a propriedade, localizando-se, tanto as áreas que foram executadas pelo paisagista como as que tiveram apenas sua interferência. (Figura 21)

Figura 21- Mapeamento paisagístico do Parque Roberto Burle Marx

Base: Google Earth (Desenho: Vinie Pedra Jorge)

(32)

O Bosque

Constituído por um maciço arbóreo de pequeno e médio porte localizado nas proximidades da Casa da Ilha e dos lagos da propriedade.

O Viveiro de Mudas

15

foi criado para a manutenção da exuberância dos jardins da residência, com flores e plantas sempre iguais do mesmo tamanho e porte.

Chegava-se a atender a demanda de até 300 mudas de diferentes espécies de plantas

16

. O viveiro foi criado para garantir sua reposição. Próximo ao grande lago, o viveiro foi se formando aos poucos com mudas, ora cedidas por Burle Marx, ora trazidas de outras propriedades da família. Segundo Pereira, com o tempo havia um intercâmbio de mudas entre Burle Marx e a família Gomes.

(...)...era uma produção até, até razoável, mas só com essa finalidade, prá atendê a demanda do projeto, né, prá, de outros projeto também da, da família e até prá ele mesmo, até prá ele mesmo, de repente ele não tinha ainda no sítio dele, ele mesmo não tinha uma quantia de muda, a gente acabava levando.

15

O viveiro de mudas foi transferido para lá a partir de 1970. Este local anteriormente costumava ser uma casa da farinha, onde se produzia farinha para consumo interno da Fazenda São José.

16

O viveiro chegou a possuir uma criação de vitórias – régias no lago maior para reposição do

espelho d’água da residência. Burle Marx chegou a pegar algumas mudas de vitória –regia para

seu sitio, pois as dele haviam sofrido de uma praga.

(33)

Coisa que ele não tinha, a gente levava prá ele, coisa que a gente desenvolvia, que a gente multiplicava aqui, acabava, acabava levando prá ele, a gente trazia e mandava também, então era um intercâmbio de mudas, do nosso viveiro com o dele, né(....) (PEREIRA, 2000).

Figura 22- Vista aérea da Tecelagem Paraíba, anos 1960.

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo - DPH

Após a morte de Clemente Gomes, em 1993, os problemas financeiros se

agravaram e o viveiro foi abandonado. As mudas plantadas cresceram sem

manutenção, transformando o local num bosque.

(34)

Alinhamento de Palmeiras Imperiais

Configura-se num conjunto de palmeiras, com mais de 100 anos de existência, alinhado à entrada do Parque ligando a Escola da Tecelagem a Tecelagem Parahyba e alinhado nos fundos da Tecelagem delimitando a área da propriedade.

Com a avaliação de fotos dos anos 1930 pertencentes ao arquivo fotográfico da família Gomes confirmou-se que a existência da linha de Palmeiras Imperiais é anterior à administração de Olivo Gomes. Acredita-se, entretanto que o mesmo tenha aproveitado o traçado em “linha” para abrir uma nova avenida paralela à propriedade ligando a Escola da Tecelagem à Fábrica do Complexo Têxtil. Pode- se afirmar que Burle Marx não teve participação nesta área do projeto paisagístico da propriedade.(Figuras 23 e 24)

Figura 23 – Linha de Palmeiras Imperiais aos fundos da Tecelagem Paraíba/ anos 30

Fonte: Acervo da Fundação Cassiano Ricardo

(35)

Figura 24- Alinhamento de Palmeiras Imperiais à frente da Tecelagem Paraíba.

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

(36)

Gramados

Constitui-se nas áreas de forração pisoteável existentes no Parque principalmente à esquerda do acesso principal da propriedade.

Desde a fundação da Tecelagem (1927) e durante todo o período de expansão da área agrícola e pastoril da propriedade, o experiente agricultor diversificava seus investimentos de acordo com a demanda do mercado.

Uma das formas de investimento foi na aquisição de Chácaras próximas à área da Tecelagem que mais tarde formaram a Fazenda São José

17

onde havia a criação de animais, beneficiamento de arroz e café, produção de tijolos para consumo da fábrica, entre outras atividades.

Os Gomes desenvolveram inovadores sistemas de reprodução para a área pecuária e para a ordenha de leite

18

Grande parte da produção leiteira da Fazenda São José era vendida para a Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos e após aproximadamente 30 anos de existência sua instalações foram transferidas para a Usina de Leite (1960) projetada por Rino Levi.

17

Chamada por Fazenda São José apesar de ter seu nome registrado como Fazenda Santana do Rio Abaixo.

18

Construíram um sistema moderno de ordenha mecânica e até mesmo um departamento de

inseminação artificial e reprodução.

(37)

A Usina funcionou até os anos 1980 quando foi desativada devido aos problemas financeiros da tecelagem. Sendo assim, a área de gramado localizada à esquerda do acesso principal do Parque também já existia quando Burle Marx iniciou seus trabalhos

19

. (Figura 25)

Figura 25 – Gramados no Parque da Cidade Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

19

Nesta mesma área que se deu a criação de gado leiteiro da Fazenda São José. (

(38)

Lagos artificiais - Lago das Capivaras e Lago da Casa da Ilha

Constituem-se em dois lagos localizados no Parque: um no entorno da Casa da Ilha, outro, menor, localizado em frente da residência principal da propriedade.

Ambos estão localizados em áreas de alagamento onde há um acentuado declive.

Apesar da proximidade do Rio Paraíba do Sul não há ligação direta com este.

A Fundação Cassiano Ricardo através de levantamento fotográfico comparou e analisou a história a área. Constatou-se que antes da década de 60 existia um pequeno lago e que nesta mesma década foi ampliado, abraçando a residência já existente (atual casa da ilha) o que acabou por transformar a área em uma ilha.

Não há conhecimento do autor do projeto paisagístico, acredita-se que membros da própria família tenham desenhado e acompanhado a obra.(Figura 26)

Os lagos foram reestruturados por volta de 1987 com a participação informal de Burle Marx. O paisagista sugeriu a criação de um lago menor que serviria de caída para o poço artesiano da fábrica e equilibraria os lagos em volume

20

.(Figura 26)

O lago atrai e mantém a fauna do Parque. À sua volta encontramos: capivaras, marrecos, patos, jabutis, garças, além dos diversos peixes.

20

O Lago menor chegava a quase secar na época de estiagem, por isso a sugestão de Burle Marx.

(39)

Figura 26 - Localização de Lago na propriedade, 1960.

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo – DPH

Figura 27 - Vista de Lago na propriedade.

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

(40)

Jardins da Casa de Hospedes e da Casa da Gerência

Maciços arbóreos de pequeno e médio porte, com predominância de árvores frutíferas. Apresenta forração pisoteável e não pisoteável em seu entorno com a presença de maciço arbustivo.

Localizados entorno da antiga residência dos Gomes, já existiam antes do primeiro contato de Burle Marx com a propriedade, entretanto acredita-se que o paisagista tenha influenciado de forma indireta na escolha de plantas destinadas à sua manutenção. Segundo Pereira (2000)

21

, a alameda de figueiras e o pomar de jabuticabeiras, por exemplo, já existiam antes das primeiras visitas do paisagista e foram plantados pela família nos anos 1940.(Figura 28)

Figura 28 -Jardins da Casa de Gerência e Casa de Hospedes.

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

21

Saulo Pereira encarregado da manutenção dos jardins que Burle Marx projetou para a família

(inclusive da Fazenda de Areias) tais exemplares de arvores já existiam antes das primeiras visitas

do paisagista à propriedade.

(41)

5.3 O PARQUE E A CIDADE

Declarado como Zona Especial de Preservação (ZEP), em 2004, através da Lei n°

6493/04, está localizado em uma área considerada Zona Especial de Proteção Ambiental 3 - ZEPA 3 (Figura 21) que em conjunto com ZEPA 2 e 4 formam a Área de Proteção Ambiental IV no perímetro da Macrozona Urbana.

Na APA em que se encontra localizada há alta vulnerabilidade e fragilidade, além de vários problemas de drenagem pela proximidade do lençol freático na superfície, resultando em condições sanitárias criticas e restritas no que se refere à implantação de atividades urbanas. Além disso, cruzando os dados da Lei Complementar n° 165/97

22

sobre as zonas de usos existentes e suas atividades urbanas e a planta de situação do Parque, percebe-se que o mesmo se encontra situado em uma ZEPA 3 o que caracteriza uma área de patrimônio ambiental e paisagístico.

O Parque da Cidade está localizado no bairro de Santana, à noroeste do município e ocupa cerca de 516 mil metros quadrados – aproximadamente metade do Parque Ibirapuera, o mais importante da metrópole paulistana. Faz divisa com o rio Paraíba do Sul ao norte, parte da Fazenda Sant’Ana do rio Abaixo à leste, à oeste com área decretada de utilidade pública e ao sul com as instalações da antiga Tecelagem Parahyba. Insere-se na malha urbana à sudoeste exatamente no ponto de encontro entre as ruas Sebastião Gualberto e Olivo Gomes.

22

Lei publicada no Diário Oficial em 15 de dezembro de 1997.

(42)

Há dois acessos possíveis ao Parque da Cidade, via Anel viário, que faz parte da Macroestrutura Viária do Município, e via bairro de Santana (sentido Centro - Santana). (Figura 29). Está localizado em um bairro de origem industrial cujo uso de solo se caracteriza primordialmente por residencial, porém com intenso comércio e serviços.

Av. Sebastião Gualberto Av. Olivo Gomes

Figura 29- Acessos ao Parque da Cidade Roberto Burle Marx

Base: Google Earth (Desenho: Vinie Pedra Jorge)

(43)

As principais avenidas Olivo Gomes e Sebastião Gualberto que margeiam o

parque apresentam tendência a verticalização, uma tipologia construtiva nova para

o bairro que apresenta maioria de residências unifamiliares. O surgimento de

novos empreendimentos imobiliários na região próxima ao Parque tem mudado

esta característica e atraído um tipo de população economicamente superior.

(44)

5.3.1 A Arquitetura do Parque da Cidade

Importantes exemplos da arquitetura moderna e industrial se encontram localizados no Parque da Cidade Roberto Burle Marx. Vários destes são de autoria de Rino Levi, outros não.

Diferentemente dos projetos de paisagismo, não há dúvidas à respeito da autoria dos projetos edificados, em virtude da maioria ter sido registrada pelo escritório do próprio arquiteto. Por isso, podemos afirmar que as edificações abaixo fazem parte do conjunto de obras realizadas para a família Gomes de 1950 a 1970 pelo arquiteto Rino Levi:

• Residência Olivo Gomes (1951-1957) (Figura 30)

• Mercado para Funcionários (1951)

23

• Conjunto Residencial para Operários (1951 - 1953)

24

• Galpão para Máquinas (1953-1957) (Figura 31)

• Estádio de Futebol (1957)

25

.

• Usina de Leite Parahyba (1963- 1965) (Figura 32)

Hangar para aviões (1965) (Figura 33)

• Depósito de produtos acabados (1973)

23

Foi destruído, não há registro fotográfico.

24

Não há registro fotográfico.

25

Não há registro fotográfico

(45)

Figura 30- Residência Olivo Gomes (1951-1957) Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

Figura 31- Galpão Gaivota

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

(46)

Figura 32- Usina de Leite, anos 60.

26

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo

Figura 33- Hangar, anos 60.

Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo

26

A Usina de Leite está localizada dentro do perímetro do Parque, todavia o Hangar se encontra

nas áreas de fazenda da família no quadrante leste.

(47)

Com relação aos outros equipamentos existentes na área do parque segundo a Fundação Cassiano Ricardo acredita-se na hipótese de terem sido construídos antes da gestão de Olivo Gomes ou pela iniciativa da própria família.

(FUNDAÇÃO, 2000) Abaixo, descriminam-se:

Casa da Gerência

Segundo Inventário (2004) feito pela Fundação Cassiano Ricardo, esta casa foi construída por volta de 1926 por Vicente de Finis, também responsável pela construção da Tecelagem em sua fase primeira. Sua função inicial era a de abrigar o gerente da fábrica, sendo chamada de Casa da Gerência. Em 1933, quando Olivo Gomes assumiu a administração da Tecelagem, ele e sua família para lá se mudaram. A família Gomes morou na mesma casa até a metade dos anos 50 quando a nova residência ficou pronta. (Figura 34)

Figura 34-Casa da Gerência.

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

(48)

Casa de Hóspedes

Esta casa era utilizada para acomodar os hóspedes da família Gomes. Por possuir tipologia construtiva semelhante à da Casa da Gerência - com estrutura em madeira, telhas cerâmicas e tijolo aparente, acredita-se que ambas tenham sido feitas na mesma época pelo mesmo autor.(Figura 35)

Figura 35-Casa de Hóspedes (ao fundo), s/data Fonte: Acervo Fundação Cassiano Ricardo

Casa da Ilha

Há registros que afirmem que este local era a Casa de Colonos onde os operários

da fábrica moravam anteriormente à administração de Olivo (FUNDAÇÂO, 2000)

Foi reformada em 1970 para abrigar Malu Gomes e depois utilizada pelos filhos de

Clemente Gomes. (Figura 36)

(49)

Figura 36-Casa da Ilha Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

Nos anos 80 Malu Gomes retornou à residência onde viveu até 1995 quando entregou a casa para a prefeitura como parte do pagamento de dividas da família.

A Casa da Ilha é um Centro de Pesquisas Ambientais que dá suporte à Secretaria de Meio Ambiente também localizada no Parque.

Piscina em alvenaria

Localizada ao lado da casa de hóspedes, durante as férias escolares era muito

utilizada pelas crianças da família, de operários e de amigos da família. Não se

tem registro da autoria do projeto, porém fotos comprovam sua existência.(Figura

37)

(50)

Figura 37-Piscina em Alvenaria Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

Galpão de Beneficiamento de Arroz e Café

Onde a família produzia o café e o arroz para consumo interno. Funciona atualmente como Secretaria do Meio Ambiente. (Figura 38)

Figura 38-Antigo Galpão de Beneficiamento de Arroz e Café

Foto: Vinie Pedra Jorge, 2006.

(51)

Figura 39-Localização dos equipamentos no Parque da Cidade

Fonte: Secretaria de Planejamento

(52)

5.3.2 De Jardim à Parque: Um Parque Legalmente Público

Devido às sucessivas crises econômicas no país e à não renovação de seu maquinário fabril, entre outros fatores, a Tecelagem inicia um processo de falência a partir da década de 80. Em 1983, pede concordata, todavia, em cerca de 10 anos a dívida aumenta progressivamente, agravando-se ainda mais com a morte de seus dirigentes, Severo e Clemente Gomes,

27

filhos de Olivo Gomes.

Apesar da empresa ter conseguido se manter e superado as pequenas crises por mais de 65 anos, a soma das dividas com FGTS, ICMS, Imposto de Renda e IPTU totalizava 50 milhões de dólares na época. Além disso, a empresa que sempre havia prezado pela qualidade de vida de seus operários já não conseguia pagar seus funcionários, e cerca de 1300 empregados estavam com os salários atrasados.A solução seria vender a fábrica para saldar as dívidas e dividir o patrimônio restante entre aqueles que possuíssem ações da empresa.

28

27

Clemente morre em 1993 e Severo Gomes, na época deputado federal, vem a falecer um ano depois em um acidente aéreo juntamente com o presidente da câmara dos deputados: Ulisses Guimarães.

28

Com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do

Governo do Estado, que cede o espaço necessário para dar continuidade à produção – cerca de

20.000 m

2

por 20 anos - a Associação de Funcionários (Coopertextil) assume o controle da marca

como parte da dívida trabalhista, compra parte dos equipamentos da Tecelagem Parahyba e

retoma a produção. Com o tempo, a empresa vai crescendo novamente, e reconquistando o

mercado. Hoje em dia a Tecelagem funciona em galpões dentro do próprio Parque da Cidade e

tem uma produção mensal de 90 mil cobertores e 30 mil mantas mensais.

(53)

Sendo assim, em 28 de julho de 1992 é publicado no Diário Oficial o decreto de dissolução e liquidação da empresa e a família Gomes entrega parte das propriedades para saldar as dívidas com os novos credores. Com o Governo do Estado de São Paulo, negociam-se o terreno e o conjunto de edifícios da Tecelagem Parahyba totalizando uma área de 126.250 m² . Com o Governo Federal negocia-se que a área onde está situada a Residência Olivo Gomes, o Galpão para Máquinas e Equipamentos e outras edificações, totalizando cerca de 200.000 m

²

seja repassada ao INSS em troca das dívidas com a instituição.

A Prefeitura interessada pela área participa das negociações da família com o INSS - credor que ficaria com parte das propriedades e propõe que a municipalidade assuma a dívida da família Gomes junto ao órgão com o objetivo de preservar o patrimônio arquitetônico, ambiental e paisagístico. Para isso, acrescenta à área mais 316.000 m², adquirindo uma área total de 516.000 m².

Em 27 de Julho de 1996, data do aniversário de São José dos Campos, a área comprada pela prefeitura é aberta à população e surge oficialmente o Parque da Cidade Roberto Burle Marx

29

Após a desapropriação das edificações existentes no Parque e a transformação deste espaço livre privado em espaço livre público houve a necessidade de adaptá-los ao uso público.

29

Em 05 de Janeiro de 2004 a Tecelagem Parahyba e a Residência Olivo Gomes além de seus

jardins são considerados Setores de Preservação Especial pelo COMPHAC Conselho Municipal de

Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Paisagístico e Cultural do Município de São José

dos Campos através da LEI Nº. 6493.

(54)

Assim, as antigas instalações da Tecelagem pertencentes ao Governo do Estado e à Prefeitura Municipal, a partir daquele momento, transformaram-se em instalações de uso governamental além do espaço que continua funcionando como Tecelagem desde 1993, quando alguns de seus antigos operários fundaram a cooperativa “Coopertextil”. Localizadas nas antigas instalações da Tecelagem temos: a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, o Arquivo Público Municipal, o COMPHAC, a Cooper Têxtil, a Delegacia Regional de Cultura, a Secretaria de Esporte e Lazer entre outros.

Na antiga área destinada à residência de funcionários localizam-se atualmente:

Residência de alguns antigos funcionários da fábrica, Ambulatório Médico, Segurança, Manutenção Predial, Oficina Elétrica, Oficina Mecânica e Depósito para sobra de resíduos.

A Secretaria de Meio Ambiente tem como projeto o plantio de mais espécies no

Parque que se adaptem bem ao local. A Fundação Cassiano Ricardo elaborou um

dossiê com o objetivo de propor a restauração de obras de referência no parque

como a residência Olivo Gomes. Além disso, a prefeitura tem estudado a

possibilidade de transformar a residência em espaço cultural ou museu com a

intenção de aumentar a difusão cultural no bairro de Santana.

(55)

5.3.3 O Parque no século XXI

Segundo dados da Secretaria de Planejamento o Parque Roberto Burle Marx atualmente recebe cerca de 2000 pessoas para a visitação. A procura do Parque se dá geralmente nos finais de semana e feriados. Durante a semana a freqüência é dada principalmente por usuários que moram na região. As ações realizadas no Parque envolvem a pratica de esportes dentre outras abaixo descritas:

Prática de Esportes – O Parque possui uma longa pista de corrida de 1800km que é principalmente procurada por atletas ou pela população em geral para a pratica de caminhada e corrida.

Além disso, a Secretaria de Esportes e Lazer, situada nas instalações da antiga fábrica organiza aulas nas modalidades esportivas de basquetebol, dança de salão, dança livre educativa, futsal, ginástica para a 3ª idade, judô, natação.

Organiza ainda eventos de lazer e esportes para a comunidade como a semana do idoso ou os jogos municipais

Shows e Eventos de natureza musical – Geralmente acontecem em datas

importantes para a cidade, como seu aniversario (27 de Julho) ou feriados

nacionais comemorativos. Geralmente o resultado destes shows não é dos

melhores para o equilíbrio ambiental do parque, pois é produzida uma grande

quantidade de lixo, além da destruição de plantas e atos de vandalismo aos

equipamentos como bancos, placas de sinalização e lixeiras.

(56)

Um outro fato que foi notado pelos ambientalistas é a ausência de pássaros nas semanas que sucedem aos eventos de música ocorridos no Parque.

Passeios turísticos – Visitação ao Parque com enfoque na casa de Olivo Gomes - projeto de Rino Levi e nos jardins de Burle Marx. A Fundação Cassiano Ricardo organiza passeios para o Parque da Cidade com o objetivo de conscientizar crianças e jovens adolescentes da importância do Parque para a historia do bairro e da cidade, além do papel ambiental exercido pelo mesmo no município.

Auxilio à Pesquisa – DPH , Arquivo Municipal e Biblioteca - São espaços abertos à população acadêmica, ou apenas interessada em aprender sobre a história da cidade e da região do Vale do Paraíba. Contém documentos originais da Tecelagem Parahyba, e da construção da residência projetada por Rino Levi, além de documentação digital sobre o município e sua evolução urbana. Exposições são feitas freqüentemente, e abertas ao público de segunda à sexta das 8:00 às 18:00.

Cursos Livres – Organizados pela FCCR - Acontecem nas antigas instalações

Tecelagem no Espaço Clemente Gomes cursos de cerâmica de baixa e de alta

temperatura, desenho, gravura, história em quadrinhos, escultura, pintura, artes

plásticas, aquarela, pintura primitivista, mosaico, fotografia, história da arte, papel

artesanal, prática coral, viola caipira, acordeom, violão, musicalização infantil,

teatro intermediário, ballet clássico, sapateado e dança contemporânea.

(57)

Desenvolvimento de mudas de plantas - Secretaria de Meio Ambiente – Estão sendo plantadas mudas na área externa à Secretaria com o objetivo de usá-las para o projeto de Revitalização de Nascentes O Projeto visa a recuperação do fluxo e qualidade de água de nascentes pela recomposição vegetal em áreas de preservação permanente (APP). Além disso, são existe o projeto “Aulas no Parque

“ que visa a sensibilização dos visitantes , em sua maioria crianças, quanto a questões ambientais,. As aulas são desenvolvidas no parque através da vivência nos diferentes ambientes que este oferece.

Comércio informal - Venda de ambulantes – O parque não possui qualquer sistema de apoio aos visitantes gerando uma demanda por consumo de bebidas ou alimentos que não são vendidos – oficialmente – na área do Parque. Sendo assim, a venda informal destes produtos acontece na alameda principal, logo na entrada do parque. Enquanto, por um lado esta é uma iniciativa positiva, pois é feito o comércio e a área atrai movimento, por outro, esta ação gera maior quantidade de lixo que, se não fiscalizado, acaba sendo deixado ao longo do percurso do Parque.

A partir do ano 2000 iniciou-se um inventário das edificações existentes no Parque

- feito pela Fundação Cassiano Ricardo - na área da Tecelagem e na Fazenda

Sant’ana com o objetivo de catalogá-las e de analisar as necessidades de

melhoramentos de cada uma delas.

(58)

O mesmo foi feito sobre os jardins da residência de Olivo Gomes e sobre a área total do Parque sob a responsabilidade de Haruyoshi Ono, antigo sócio de Burle Marx. Durante as investigações de Ono (em 2000) chegou-se à conclusão que a obra principal de Burle Marx para o Complexo: o jardim da residência Olivo Gomes encontrava-se descaracterizado e necessitando de reparos. Constataram-se inúmeros problemas, dentre os quais se destacavam:

- O desaparecimento de diversos grupos de vegetação restando apenas alguns indivíduos isolados que denunciam sua antiga existência;

- A necessidade de se fazer o remanejamento de alguns indivíduos vegetais para que se adequassem ao projeto de paisagismo;

-A necessidade de eliminar alguns indivíduos por não constarem do projeto e não fazerem parte do rol de plantas usadas pela Burle Marx, principalmente da maneira como estavam plantadas na época, no Parque;

- Evidência de doenças e pragas na vegetação de modo geral;

- Deformação de diversas árvores por apresentarem seus galhos quebrados;

- Evidências de cupim no estrato arbóreo;

- Palmeiras e árvores mortas, cujos fustes e troncos ainda permaneciam no local;

- Inúmeros vasos de plantas colocados ao redor da casa principal, que interferiam negativamente na arquitetura;

- Utilização inadequada dos gramados com campo de futebol e áreas para jogos;

- Brinquedos implantados em área inadequada, adjacente aos gramados;

- Caminhos que haviam sido construídos inadequadamente;

(59)

- Havia um esguicho d' água - no espelho d’água da casa principal - que não constava nos projetos originais consultados e nem nas fotografias analisadas;

Observando-se as ações exercidas no Parque notaram-se problemas relacionados aos seus usos. A partir dos levantamentos executados pelo escritório de Burle Marx e do Dossiê criado pela Fundação Cassiano Ricardo, analisaram-se fatores importantes para a identificação de problemas no Parque estudado. Além disso, foram realizadas entrevistas com usuários do Parque a fim de identificar possíveis pontos de conflito entre usos e permanência de usuários, assim como para identificar o tipo de usuário deste espaço. Identificaram-se uma série de problemas que podem explicar a sub utilização de um parque de tal porte, único na cidade, dentre eles:

1) Falhas físico-sociais nas acessibilidades do Parque. Não existem facilidades no

acesso ao parque através do transporte público. Além disso, o parque apresenta

muitas barreiras físicas prejudicando o acesso de deficientes físicos. Pelo fato de

estar localizado em um bairro afastado e historicamente industrial, o parque

apresenta uma certa segregação com respeito aos tipos de usuários, sendo em

sua maioria, moradores do próprio bairro de Santana.

(60)

2) Sub-utilização e uso inadequado do Parque. Apesar deste espaço ter características primordialmente para a contemplação da natureza, há uma grande inadequação em seus usos, causada em parte pela também confusa definição de proprietários do Parque.

30

O espaço também se presta à realização de eventos que chegam a atrair cerca de 40.000 pessoas o que provoca o acúmulo de lixo e à expulsão (mesmo que temporária) de animais silvestres habitantes do Parque.

Além disso, as áreas protegidas pelo CONDEPHAT como a residência Olivo Gomes e os jardins projetados por Burle Marx deveriam estar isolados no parque limitando-se seu uso apenas à contemplação da paisagem.

3) O Parque apresenta problemas de drenagem em áreas de alagamento próximas aos lagos artificiais que surgiram a partir da criação dos lagos nos anos 1980.

4) Ausência de Equipamentos para suporte dos usuários do Parque como lanchonetes e sanitários em locais adequados.Ausência de pessoal capacitado no atendimento ao usuário. A ausência de suporte leva ao uso inadequado de certos equipamentos do Parque e à instalação de ambulantes que acabam poluindo visualmente o Parque além de também atrair pragas urbanas como roedores pombos e cães vira-lata.

30

Atualmente a área compreendida pelo Parque da Cidade é pertencente à Prefeitura Municipal de

São José dos Campos, entretanto temos na situação fundiária atual temos ainda oito áreas que

não são pertencentes à cidade. Tais áreas pertencem ao governo do estado de SP e a

particulares.

(61)

5) Vários equipamentos remanescentes da fase industrial ou da época em que ainda funcionava a Fazenda São José no local encontram-se abandonados e espalhados em vários lugares do Parque criando barreiras visuais e até mesmo permitindo o uso irregular. Há barreiras formadas por cercas e alambrados em volta de determinadas áreas que limitam o acesso livre ao Parque.

5.3.4 O Plano de Manejo do Parque da Cidade

A necessidade de se propor mudanças veio da preocupação com o futuro do Parque. Com o objetivo de reverter este quadro, surgiu uma parceria entre a Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria de Planejamento Urbano que juntas, após a análise de todos os levantamentos realizados pela Prefeitura elaboraram o:

Plano de Manejo e Ocupação do Parque da Cidade.

O Plano de Manejo e Ocupação do Parque da Cidade, apesar de ainda estar

sendo confeccionado, tem como principal foco a adequação do Parque da Cidade

à cidade de São José dos Campos contemporânea. Durante aproximadamente

cinco décadas o Parque foi utilizado e adaptado às suas novas funções, todavia

nunca houve uma proposta efetiva de valorização do maior Parque da Cidade.

(62)

Com o Plano de Manejo a Administração Municipal busca manter as características de um Parque contemplativo, abrangendo mudanças que possam vir a atrair maior freqüência ao parque. Percebe-se na proposta a preocupação em proporcionar um uso mais consciente das áreas em comum, preferencialmente das áreas consideradas patrimônio histórico e cultural para o Município ou áreas de proteção ambiental.(Figuras 40 e 42)

No Plano de Manejo notam-se propostas de instalação de novos equipamentos que não somente darão suporte ao usuário como atrairão novos tipos de usuário de outros bairros e regiões do Município. As acessibilidades deverão ser incrementadas através da integração de diversas regiões da cidade ao Parque através do acesso pelo Anel Viário.

Um grave problema diz respeito à ocupação do Parque, pois, como já mencionado

antes, há um grande número de proprietários de suas áreas adjacentes.Desta

forma, como vários dos equipamentos existentes no Parque pertencem aos

diversos proprietários, não há um controle quanto aos usos destes espaços,

permitindo-se todo tipo de uso, ou abandono.(Figura 41)

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